PROJETO ESQUENTA – POESIA O QUE É POESIA? “Não é com ideias que se fazem versos, é com palavras.” (Mallarmé, poeta francês)
“...a poesia está nas palavras, se faz com palavras e não com ideias e sentimentos, muito embora, bem entendido, seja pela força do sentimento ou pela tensão do espírito que acodem ao poeta as combinações de palavras onde há carga de poesia.” (Manuel Bandeira)
“Eu, que desde os dez anos de idade faço versos; eu, que tantas vezes sentira a poesia passar em mim como uma corrente elétrica e afluir aos meus olhos sob a forma de misteriosas lágrimas de alegria: não soube no momento forjar já não digo uma definição racional dessas que, segundo regra a lógica, devem convir a todo o definido e só ao definido, mas uma definição empírica, literária.” (Manuel Bandeira) Que é Poesia? uma ilha cercada de palavras por todos os lados. Que é o Poeta? um homem que trabalha o poema com o suor de seu rosto um homem que tem fome como qualquer outro homem. (Cassiano Ricardo)
“Poesia é palavra. É linguagem. Todo o gênio do poeta reside na invenção verbal. O poeta é poeta não pelo que pensou ou sentiu, mas pelo que disse. Ele não é criador de ideias, mas de palavras. Todo seu gênio reside na invenção verbal.” (Jean Cohen – professor e crítico literário francês)
Poesia é a “Arte de criar imagens, de sugerir emoções por meio de uma linguagem em que se combinam sons, ritmos e significados.” (Dicionário Aurélio) A poesia é a arte da palavra, da mesma forma que a pintura é a arte da cor e da linha e a música é a arte do som. Em outros termos: como o mármore, o ferro ou o bronze são os materiais da escultura, a palavra é a matéria-prima da poesia.
POESIA Do grego poiesis, poesia, no sentido etimológico, significa “produção artística” ou ainda “criar” e “fazer”. A poesia pode estar em tudo: em uma situação cotidiana, em uma paisagem, em uma fotografia, nas artes plásticas e em um poema. Isso significa que a poesia não é exclusividade da literatura, tampouco do poema. A poesia está associada a uma atitude criativa, e não a um gênero literário. É uma definição mais ampla, que pode estar presente em diversas manifestações artísticas. As poesias são caracterizadas pela utilização de recursos para expressar a linguagem, de forma especial e diferente do normal, e provoca diversos efeitos de sentido naqueles que recebem a mensagem. É esta forma de escrita que é responsável por dar sentimento ao conteúdo descrito pelas palavras em obras. Graças a ela, os textos possuem emoções e transpassam aos leitores. Dentre os recursos usados para causar efeitos e sensações em quem está lendo, estão os recursos sonoros, como por exemplo, o ritmo, a rima, a aliteração, entre outros, e o uso da linguagem para sugerir imagens, como as metáforas e as personificações, por exemplo. A poesia está ligada ao abstrato: aos sentimentos, às vivências humanas, ao estado de espírito alterado, à inspiração, às ideias, à criação, aos conceitos aceitos e à visão de mundo do poeta. Poesia não é a comoção diante de um pôr do sol ou diante de uma paisagem. Até pode haver poesia numa declaração de amor ou num poema que descreva o entardecer. A essência da poesia não está no próprio assunto, na expressão do sentimento, da comoção, do encantamento. Poesia é palavra. Poesia não é sentimento. Comoção. A expressão do amor. De uma saudade. De uma dor de amor. Não diga a sua amada que quer vê-la repousando num berço de rosas macias, ao som das cantigas que a brisa cicia, no doce balanço das ondas do mar. Que ela é o sol de sua vida, o pão com que você saciará sua sede de carinho. Seu ontem. Seu hoje. Seu amanhã. Seu sempre. Aliás, diga tudo isso, mas de forma poética, nova, original. Afinal, poesia é a arte de dizer. Da palavra. Nova.
Na poesia, a língua ultrapassa sua função meramente comunicativa e se torna, ela própria, a matéria-prima para a obra de arte. Dito de outro modo, na função poética, o esforço do autor incide sobre a estrutura da mensagem, sobre a forma de dizer. Na poesia, evidenciam-se as potencialidades da linguagem: a conotação, a metáfora, todas as figuras de linguagem, a sonoridade, o ritmo; em suma, a maneira peculiar, diferente, nova, artística, criativa de expressar. Escrever poesia não é tarefa fácil... não é algo que se produz num momento de inspiração. Implica trabalho. Esforço. Suor. Busca de originalidade. Da metáfora iluminadora. É uma dura estiva de desembarcar no papel e ideias novas, novas concepções de mundo. No rigor do termo, no entanto, "poesia" não é sinônimo de verso metrificado, rimado. A essência da poesia é a palavra. O trabalho com a palavra. O dizer o comum de forma incomum. O dizer poeticamente. De forma original. Inventando metáforas novas. Comparações inusitadas. Impactando. Oferecendo a palavra como espetáculo.
Sugestões para se fazer poesia: Não há receitas para se escrever, mas alguns passos podem ser seguidos, tais como: - o poeta deve explorar o que já tem armazenamento de sentimentos, vivências, pensamentos, ideias e conceitos, aprendizados n’alma; - o poeta precisa captar a energia física que paira no ar e está presente em todas as coisas, nos seres humanos, nos seres vivos, na vivência humana, suas criações e suas relações sociais, que o sensibiliza, toca-o profundamente e o chama à criação poética; - na fase do processo criativo, surge a inspiração, em que a poesia começa a tomar corpo e a se desenhar em palavras no papel; - para a poesia se transformar em poema, o poeta passa da fase de inspiração para a fase de transpiração, na busca pela palavra nova e pelos melhores; essa é uma fase mais racional, em que a inspiração primeira precisa ser burilada.
POEMA Poema é a manifestação concreta da poesia. É onde podemos ler, estudar e interpretar a poesia. É o que lemos no papel em forma de versos. O poema é um gênero textual que apresenta características que permitem identificá-lo entre os demais gêneros: é um texto composto em versos e estrofes, em uma oposição aos textos compostos em prosa (textos escritos em parágrafos, ou seja, em linhas longas).
Um bom poema geralmente está carregado de poesia, mas há também poemas que recusam qualquer lirismo. São recursos muito empregados no poema a musicalidade, a repetição e a linguagem metafórica, essa última responsável por conferir ao texto maior subjetividade. Os poemas são também poesias, mas usam a palavra como matéria-prima. Trata-se de obras em verso, composições poéticas, ou ainda se refere à arte de retratar no papel a poesia.
VERSO Verso é como chamamos cada uma das linhas que compõe um poema, independentemente de estarem agrupadas ou não. Nos textos em verso, as palavras são dispostas graficamente em linhas descontínuas chamadas versos. Por verso entende-se a sucessão de sílabas ou fonemas formando unidade rítmica e melódica, correspondente ou não a uma linha do poema. Também chamamos de verso a forma de escrita que não é a prosa. Os textos em prosa apresentam uma característica marcante: as linhas são contínuas e se agrupam em parágrafos. Quando se lê uma carta, uma crônica, uma notícia ou reportagem de jornal, um conto ou um romance, leem-se textos em prosa.
ESTROFE Uma estrofe é como chamamos cada uma das seções que constituem um poema. Esse é formado por alguns versos, e as estrofes são separadas em um poema por uma linha em branco. O conjunto de versos é denominado estrofe. Os versos estão organizados em grupos chamados de estrofes, que, por sua vez, são formados pela mesma métrica, ou seja, pelo mesmo conjunto de regras que dirigem a medida, o ritmo e a organização do verso, da estrofe e do poema como um todo. A estrofe equivale ao parágrafo da prosa, mas enquanto este não tem um limite ou extensão certos, a estrofe é uma convenção: há estrofes de apenas um verso, de dois, três ou dez versos. Com o advento do Modernismo e do verso livre (sem restrição métrica), a estrofação também se tornou livre e irregular, cabendo ao poeta definir quantos versos terá cada estrofe de seu poema.
RIMA A rima é um recurso estilístico muito utilizado nos textos poéticos, sobretudo na poesia, a qual proporciona sonoridade, ritmo e musicalidade. Ela ocorre nos versos, ou seja, nas linhas dos poemas, e designa a repetição de sons idênticos ou semelhantes no final dos vocábulos ou das sílabas poéticas. Os versos que compõem os textos poéticos e não apresentam rimas, são chamados de versos brancos ou versos soltos.
A rima, bem como as chamadas figuras de harmonia (aliteração, assonância, paronomásia), as anáforas e os efeitos de repetição (paralelismos, ecos, refrãos ou estribilhos), ao buscarem a homofonia, têm como função acentuar o ritmo e a cadência do poema. Rima é a coincidência de sons no fim de palavras ou versos. As rimas não estão presentes apenas nos poemas tradicionais. Elas aparecem com a mesma força também: nos provérbios: Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. na linguagem do dia a dia: Sol e chuva, casamento da viúva; chuva e sol, casamento do espanhol. na linguagem publicitária: Amor com Primor se paga. nos jogos e nas brincadeiras: Hoje é domingo, Teu pai é gringo, Mas vive na esquina fumando cachimbo. Teu pai é valente e bate no touro. O touro, mais valente, corre atrás da gente. Como a gente é fraco, cai no buraco. O buraco é fundo, Acabou-se tudo. nas trovas ou quadras populares: Tudo acaba... Tudo passa... Tudo quebra... Tudo cansa... Mas mesmo em uma desgraça Há sempre um fio de esperança. (Inocêncio T. Souto)
Esperanças são jangadas No porto de nossos dias: De manhã vão carregadas, De noite voltam vazias. (E. Sebastião Soares)
POESIA NAS ARTES MÚSICA A.Vivaldi, Violin Concerto in E, La Primavera (Spring) 1st mvt. - Erzsebet Pozsgai (violin)
Soneto (1725) La Primavera
A Primavera
Giunt’è la Primavera e festosetti La salutan gl’augei con lieto canto, E i fonti allo spirar de’Zeffiretti Con dolce mormorio scorrono intanto:
Chegada é a Primavera e festejando A saúdam os pássaros com alegre canto, E as fontes ao expirar dos Zéfiros (*) Com doce murmúrio correm entanto:
Vengon’ coprendo l’aer di nero amanto E lampi, e tuoni ad annuntiarla eletti Indi tacendo questi, gl’augelletti; Tornan’ di nuovo al lor canoro incanto:
Vem [um temporal] cobrindo o ar com negro manto E relâmpagos e trovões eleitos a anunciá-la Logo que eles se calam, os passarinhos Tornam de novo ao sonoro encanto.
E quindi sul fiorito ameno prato Al caro mormorio di fronde e piante Dorme’l caprar col fido can’ à lato.
Então sobre o florido e ameno prado, Ao caro murmúrio das folhas e plantas Dorme o pastor com fiel cão ao lado.
Di pastoral zampogna al suon festante Danzan ninfe e pastor nel tetto amato Di primavera all’apparir brillante.
Da pastoral gaita de foles ao som festejante, Dançam ninfas e pastores sob o abrigo amado Da primavera surgindo brilhante.
(*) Zéfiro, na mitologia grega, é o vento do oeste, o mais suave dos ventos, e considerado o “mensageiro da primavera”. Zeffiretti, no italiano, é o plural e diminutivo de Zéfiro, algo como Zefirinhos… ou seja, a mais leve das brisas. Texto retirado do site: http://euterpe.blog.br/analise-de-obra/vivaldi-a-primavera.
Aquarela (Toquinho) (Compositor Ary Barroso - 1939) Numa folha qualquer Eu desenho um sol amarelo E com cinco ou seis retas É fácil fazer um castelo Corro o lápis em torno da mão E me dou uma luva E se faço chover, com dois riscos Tenho um guarda-chuva Se um pinguinho de tinta Cai num pedacinho azul do papel Num instante imagino Uma linda gaivota a voar no céu Vai voando, contornando A imensa curva norte-sul Vou com ela viajando Havaí, Pequim ou Istambul Pinto um barco a vela Branco navegando É tanto céu e mar Num beijo azul Entre as nuvens vem surgindo Um lindo avião rosa e grená Tudo em volta colorindo Com suas luzes a piscar Basta imaginar e ele está partindo Sereno e lindo E se a gente quiser Ele vai pousar
Numa folha qualquer Eu desenho um navio de partida Com alguns bons amigos Bebendo de bem com a vida De uma América a outra Consigo passar num segundo Giro um simples compasso E num círculo eu faço o mundo Um menino caminha E caminhando chega no muro E ali logo em frente a esperar Pela gente o futuro está E o futuro é uma astronave Que tentamos pilotar Não tem tempo nem piedade Nem tem hora de chegar Sem pedir licença Muda nossa vida E Depois convida A rir ou chorar Nessa estrada não nos cabe Conhecer ou ver o que virá O fim dela ninguém sabe Bem ao certo onde vai dar Vamos todos Numa linda passarela De uma aquarela que um dia enfim Descolorirá Numa folha qualquer Eu desenho um sol amarelo Que descolorirá E com cinco ou seis retas É fácil fazer um castelo Que descolorirá
Giro um simples compasso E num círculo eu faço o mundo Que descolorirá
Monte Castelo (Legião Urbana) (Compositor Renato Russo - 1989) Ainda que eu falasse A língua dos homens E falasse a língua dos anjos Sem amor eu nada seria É só o amor! É só o amor Que conhece o que é verdade O amor é bom, não quer o mal Não sente inveja ou se envaidece O amor é o fogo que arde sem se ver É ferida que dói e não se sente É um contentamento descontente É dor que desatina sem doer Ainda que eu falasse A língua dos homens E falasse a língua dos anjos Sem amor eu nada seria É um não querer mais que bem querer É solitário andar por entre a gente É um não contentar-se de contente É cuidar que se ganha em se perder É um estar-se preso por vontade É servir a quem vence, o vencedor É um ter com quem nos mata a lealdade Tão contrário a si é o mesmo amor Estou acordado e todos dormem Todos dormem, todos dormem Agora vejo em parte Mas então veremos face a face É só o amor! É só o amor Que conhece o que é verdade Ainda que eu falasse A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos Sem amor eu nada seria
PINTURA Adici onar à playlistTamanhoAACifraImpri mirCorrigir
Der Kuss (O beijo) do pintor austríaco Gustav Klimt (1907 e 1908). Representa o “Período de Ouro” do artista (em que utiliza folhas de ouro e retrata mulheres adornadas por pequenos objetos e formas geométricas).
ESCULTURA
É possível perceber a poesia na imagem de Jesus morto nos braços da Virgem Maria. A Pietà (1499) é uma das mais famosas esculturas de Michelangelo
LITERATURA No meio do caminho (Carlos Drummond de Andrade) No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra.
O sonho (Cecília Meireles) Sonhe com aquilo que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que quer. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passaram por suas vidas. Desencanto (Manuel Bandeira) Eu faço versos como quem chora De desalento... de desencanto... Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto. Meu verso é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração. E nestes versos de angústia rouca Assim dos lábios a vida corre, Deixando um acre sabor na boca. – Eu faço versos como quem morre. Soneto de Fidelidade (Vinícius de Moraes) De tudo, ao meu amor serei atento antes E com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa lhe dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure Os Poemas (Mário Quintana) Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti… Convite – José Paulo Paes Poesia é brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pião.
Só que bola, papagaio, pião de tanto brincar se gastam. As palavras não: quanto mais se brinca com elas mais novas ficam. Como a água do rio que é água sempre nova. Como cada dia que é sempre um novo dia. Vamos brincar de poesia? DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO De maneira geral, usamos as palavras com dois diferentes sentidos: o sentido literal (denotação) e o sentido figurado (conotação) DENOTAÇÃO Quando a linguagem está no sentido denotativo, significa que está sendo utilizada em seu sentido literal, ou seja, o sentido que carrega o significado básico das palavras, expressões e enunciados de uma língua. Em outras palavras, o sentido denotativo é o sentido real, dicionarizado das palavras. De maneira geral, o sentido denotativo é utilizado na produção de textos que tenham função referencial, cujo objetivo é transmitir informações, argumentar, orientar a respeito de diversos assuntos, como é o caso da reportagem, editorial, artigo de opinião, resenha, artigo científico, ata, memorando, receita, manual de instrução, bula de remédios entre outros. Nesses gêneros discursivos textuais, as palavras são utilizadas para fazer referência a conceitos, fatos, ações em seu sentido literal. Exemplos: O hibisco é uma planta que pode ser utilizada tanto para ornamentação de jardins quanto para a fabricação de chás terapêuticos a partir das suas flores. Amor: forte afeição por outra pessoa, nascida de laços de consanguinidade ou de relações sociais.
CONOTAÇÃO
Quando a linguagem está no sentido conotativo, significa que ela está sendo utilizada em seu sentido figurado, ou seja, aquele cujas palavras, expressões ou enunciados ganham um novo significado em situações e contextos particulares de uso. O sentido conotativo modifica o sentido denotativo (literal) das palavras e expressões, ressignificando-as. De maneira geral, é possível encontrarmos o uso da linguagem conotativa nos gêneros discursivos textuais primários, ou seja, nos diálogos informais do cotidiano. Entretanto, são nos textos secundários, ou seja, aqueles mais elaborados, como os literários e publicitários, que a linguagem conotativa aparece com maior expressividade. A utilização da linguagem conotativa nos gêneros discursivos literários e publicitários ocorre para que se possa atribuir mais expressividade às palavras, enunciados e expressões, causando diferentes efeitos de sentido nos leitores/ouvintes. Exemplo: Leia um trecho do poema Amor é fogo que arde sem se ver, de Luiz Vaz de Camões, e observe a maneira como o poeta define a palavra/sentimento 'amor' utilizando linguagem conotativa: (Luís Vaz de Camões, séc. XVI) Amor é fogo que arde sem se ver Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; É um andar solitário entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É um cuidar que se ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
A estrela (Manuel Bandeira) Vi uma estrela tão alta, Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo Na minha vida vazia. Era uma estrela tão alta! Era uma estrela tão fria! Era uma estrela sozinha Luzindo no fim do dia. Por que da sua distância Para a minha companhia Não baixava aquela estrela? Por que tão alta luzia? E ouvi-a na sombra funda Responder que assim fazia Para dar uma esperança Mais triste ao fim do meu dia.
LINGUAGEM FIGURADA A linguagem poética é chamada de figurada porque faz uso de figuras de linguagem. Tais figuras são recursos que os poetas usam para criar efeitos de expressividade, ou seja, para emocionar o leitor. Dentre elas, podem-se citar: METÁFORA Metáfora deriva do grego e significa transporte para outro lugar, transferência. A metáfora é um tipo de comparação implícita, sem termo comparativo, estabelecendo uma relação de semelhança, usando termos com significados diferentes do habitual. Desencanto (Manuel Bandeira) Eu faço versos como quem chora De desalento... de desencanto... Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto. Meu verso é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa... remorso vão... Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração. E nestes versos de angústia rouca, Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca. - Eu faço versos como quem morre. ANTÍTESE A palavra vem do grego antíthesis. Anti quer dizer "contra" e thésis relaciona-se à afirmação. É uma figura de pensamento (categoria das figuras de linguagem) que consiste em opor a uma ideia outra de sentido contrário. O contraste pode tanto se estabelecer entre palavras, frases como entre orações À instabilidade das coisas no Mundo (Gregório de Matos) Nasce o sol, e não dura mais que um dia Depois da luz se segue a noite escura Em tristes sonhos morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o sol, por que nascia? Se é tão formosa a luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no sol e na luz falte a firmeza Na formosura não se dê constância E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância E tem qualquer dos bens por natureza E firmeza somente na inconstância. METONÍMIA A metonímia é caracterizada pelo uso de uma palavra no lugar de outra. Deriva do grego e significa mudança de nome. Consiste no emprego de uma palavra fora do seu contexto semântico normal, dada a sua contiguidade (e não a similaridade) material ou conceitual com outra palavra. Trata-se de uma substituição lógica de um termo por outro, mantendo-se uma proximidade entre o sentido de um termo e o sentido do termo que o substitui. A troca das palavras é feita respeitando-se uma relação objetiva que há entre elas, uma clara associação de ideias que é facilmente percebida. A laçada (Oswald de Andrade) O Bento caiu como um touro No terreiro
E o médico veio de Chevrolet Trazendo o prognóstico E toda a minha infância nos olhos. EUFEMISMO É uma figura de linguagem, que deriva do grego, e tem o objetivo de suavizar uma palavra ou expressão que possa ser rude ou desagradável. O eufemismo consiste na troca de termos ou expressões que possam ofender alguém por outras mais suaves, seja por serem indelicadas ou grosseiras. Normalmente o eufemismo é usado em frases que se referem à morte de alguém, com a intenção de não tornar o discurso sobre uma situação naturalmente dramática ainda mais desagradável. Anjinho (Álvares de Azevedo) Não chorem... que não morreu! Era um anjinho do céu Que um outro anjinho chamou! Era uma luz peregrina, Era uma estrela divina Que ao firmamento voou! Verdades que esqueceram de acontecer. (Trata-se de mentiras.) (Mário Quintana)
PROSOPOPEIA/PERSONIFICAÇÃO Personificação ou Prosopopeia derivam do grego e representam figuras de linguagem capazes de atribuir a seres irracionais ou a objetos inanimados, ações, qualidades e sentimentos que são próprios dos seres humanos. Isso envolve conceder um afeto, por exemplo, a algo que jamais poderá expressar um sentimento, porém esse ser terá condições de indicar emotividade a um humano. Congresso Internacional do Medo (Carlos Drummond de Andrade) Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, não cantaremos o ódio, porque esse não existe, existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro.
As borboletas (Vinícius de Moraes) Brancas Azuis Amarelas E pretas Brincam Na luz As belas Borboletas. Borboletas brancas São alegres e francas. Borboletas azuis Gostam muito de luz. As amarelinhas São tão bonitinhas! E as pretas, então... Oh, que escuridão!
HORA DE INTERPRETAR E DECLAMAR
Vamos declamar os poemas de Clarice Lispector e Cecília Meireles? Qual a mensagem que eles trazem para você?
Saudade (Clarice Lispector) Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
Motivo (Cecília Meireles) Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: — mais nada. REFERÊNCIAS CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Texto e interação: uma proposta de produção textual a partir de gêneros e projetos. São Paulo: Atual, 2000. Disponível em: http://pucrs.br/gpt/poesia.php. Acesso em: 05 fev. 2018. Disponível em: http://www.lalec.fe.usp.br/revistamelp/component/k2/item/34oficina-de-poesia. Acesso em: 05 fev. 2018.
Professora Regina Penachione