Uma história contada em décadas / UNISINOS

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Reconhecimento

Mudança de sede

O curso de Comunicação Social da Unisinos foi criado em 1972, mas apenas em 1977 conquistou o reconhecimento oficial pelo Ministério da Educação.Segundo o padre Pedro Gilberto Gomes – um dos primeiros alunos do curso e hoje Pró-reitor Acadêmico da universidade –, a Comunicação no início era dividida em duas partes: havia o tronco comum e a habilitação em Jornalismo, Publicidade e Propaganda ou Relações Públicas. “O curso precisava ser reconhecido e, para isso, precisava ser visitado”, recorda o ex-aluno. Um congresso no Rio Grande do Sul, que reunia pesquisadores católicos de diferentes pontos do Brasil, serviu de pretexto. “Era o momento certo para convidar alguém a conhecer o curso”. O padre Miron Alexius Stoffels, que na época era o Diretor Acadêmico da universidade, marcou com um importante pesquisador uma visita à Unisinos. Tudo tinha que sair perfeito. “Era um domingo de manhã, tudo ocorria bem”, lembra padre Pedro. Foi quando o convidado comentou: “Um suquinho de laranja viria bem agora...”. Conforme padre Pedro, padre Miron queria tanto agradar o sujeito que saiu correndo em busca de laranja e espremedor: “Foi engraçado”. Com ou sem suco, tudo deu certo. O curso de Comunicação foi reconhecido naquele mesmo ano.

O curso de Comunicação da Unisinos, no começo, funcionava na primeira sede da universidade, no centro de São Leopoldo, perto da rodoviária da cidade. A mudança para o bairro Cristo Rei ocorreu em 1983, mas não foi completa: entre aulas em um espaço e no outro, podia-se ouvir pelos corredores do chamado “novo campus” alunos que cantarolavam: “Eu não sou daqui...”. A professora de Jornalismo Luiza Carravetta conta que houve resistência por parte dos alunos: “Eles não queriam ir para a nova sede quando houve a mudança”. Com o tempo, se encantaram com o campus. José Reckziegel, egresso do curso de Publicidade e Propaganda da Unisinos e hoje professor da universidade, começou a estudar quando o novo campus ainda estava em construção. “Havia somente alguns barracões onde aconteciam as aulas do antigo tronco comum”. Francisco Bueno foi o primeiro egresso de Relações Públicas. Sua formatura aconteceu junto com alunos de Jornalismo, já que ele era o único a se formar no curso na época. Ele lembra que não chegou a criar intimidade com o novo campus. Recorda que fez apenas algumas das suas últimas disciplinas na nova sede. “Não era tão bonito como é hoje”, compara.

A Comunicação no início era dividida em duas partes: havia o tronco comum e a habilitação em Jornalismo, Publicidade e Propaganda ou Relações Públicas.

Matrículas Nos primeiros anos da Comunicação Social, as matrículas eram realizadas de forma manual. Filas imensas ocupavam os corredores da “antiga sede”, como hoje são conhecidos os prédios da Unisinos no centro de São Leopoldo. O ex-aluno Zé Reckziegel lembra que os professores e coordenadores dos cursos estavam sempre presentes: “Isso possibilitava aos alunos já conhecerem os respectivos responsáveis pelas suas áreas de estudo”.

“Havia somente alguns barracões onde aconteciam as aulas do antigo tronco comum”

Máquinas de escrever O relações públicas Francisco Bueno lembra a época em que ainda não havia laboratórios com máquinas de escrever na Comunicação da Unisinos. Como alternativa, os professores que ministravam as disciplinas de redação começaram a exigir que os alunos levassem suas próprias máquinas. “Nos dias em que ocorriam essas cadeiras era comum ver o pessoal, nos ônibus ou mesmo de automóvel, carregando no colo pesadas máquinas Underwood, Remington ou Olivetti, geralmente de propriedade de seus pais”, conta Francisco. Já existiam as máquinas portáteis, mais práticas, mas eram muito caras. “O professor ditava definições e conceitos e obrigava os alunos a escreverem à máquina”, recorda. “Esse método ortodoxo de praticar datilografia provocava choro e ranger de dentes!”. Pouco depois, foram escolhidas três salas para a prática de redação – ficavam no que corresponde hoje ao bloco 3C. Cada uma delas ganhou 30 máquinas de datilografia. “Era um diferencial da universidade”, sublinha o padre Pedro Gomes. “Nem todas as escolas tinham condições naquela época de oferecer aos seus alunos três salas com máquinas de escrever.” A professora Luiza Carravetta lembra bem da chegada das máquinas de escrever portáteis à universidade. “As víamos como hoje vemos o iPad”, compara. Padre Pedro, que começou o curso como aluno da Unisinos e concluiu na Universidade de São Paulo, lembra que, nos primórdios, as máquinas de escrever eram aparafusadas às mesas. “Para que não fossem roubadas”, explica.


Câmeras japonesas A cultura do rádio Cartazes com a pergunta: “Quem gosta de rádio?” foram presos nos murais da Área 3 nos anos 80. Um grupo de alunos procurava colegas para montar uma rádio dentro da própria Unisinos. Foi inventada, então, uma espécie de rádio pirata. “A partir daí, começou a se criar, dentro da universidade, a cultura do rádio”, conta Sérgio Endler, professor de Comunicação que já soma mais de 25 anos de docência na Unisinos. “O curso de Jornalismo começou a alugar horas nas rádios comerciais da região e depois decidiu desenvolver o que viria ser a Rádio Unisinos FM”, recorda Endler. Em 1989, foi criada a Fundação Padre Urbano Thiesen para que a universidade pudesse ter uma rádio educativa. Padre Pedro recorda: “O Congresso Nacional precisava aprovar a concessão e, embora um senador não quisesse, deu tudo certo”. Como não havia mais sinais disponíveis na região, coube à Unisinos o canal 103.3 de Novo Hamburgo. “Por isso que a nossa antena fica tão longe”, conta Padre Pedro. A Rádio Unisinos FM entrou no ar em novembro de 1995, com a ideia de ser uma emissora educativa focada no público jovem.

Francisco Bueno foi o primeiro e único aluno que se formou em Relações Públicas pela Unisinos em 1976. Ele lembra que, àqueles tempos, a Comunicação Social ainda era uma grande novidade que se propunha na universidade. Inicialmente, o curso pretendia habilitar alunos também em Turismo. Bueno lembra bem do laboratório fotográfico: “O que mais impressionou os alunos no início do curso foram as modernas câmeras Nikon, que vieram importadas do Japão”.

Galope no estúdio Em rádio, nos primeiros tempos do curso de Comunicação, não existiam maiores recursos na hora de gravar. “Tínhamos que imitar os sons de que precisávamos”, recorda o padre Attílio Hartmann. “Se fosse o barulho de um cavalo galopando, por exemplo, alguém tinha de bater na madeira: Clop! Clop! Clop!”

“O que mais impressionou os alunos no início do curso foram as modernas câmeras Nikon, que vieram importadas do Japão” “Tínhamos que imitar os sons de que precisávamos”

Aos tempos da ditadura

“Tentávamos fazer alguma coisa em vídeo, mas era algo bem artesanal,não havia a tecnologia de hoje”. A primeira câmera O padre Attílio Hartmann, que se formou em Jornalismo pela Unisinos em 1976, na primeira turma do curso, lembra que, na época, o suporte técnico ainda era escasso: “Tentávamos fazer alguma coisa em vídeo, mas era algo bem artesanal, não havia a tecnologia de hoje”. Nas aulas de TV, ainda na antiga sede, havia apenas uma câmera. “O professor, para explicar, mostrava o equipamento. Ele apontava: ‘Aqui é a lente, este é o botão para gravar, este é o botão para parar...’”, recorda Luiza Carravetta. “Para ver como as coisas mudaram bastante.” Hoje, os alunos podem pegar as câmeras e sair pelo campus em busca de pautas internas e externas.

Quando o curso de Jornalismo da Unisinos foi criado, o Brasil vivia ainda sob a ditatura civil-militar. Recorda padre Pedro Gomes que tão somente cursar Jornalismo era algo que já fazia do aluno um suspeito em potencial. “Para tudo havia um limite”, lembra. “Tínhamos que conhecer esses limites para continuar vivendo e estudando.” A professora Luiza Carravetta destaca que, naquele momento, ninguém se fazia indiferente diante das questões políticas. “Os estudantes, com certeza, sentiam a situação política da época”, conta. “Havia uma conscientização maior por parte dos alunos pelo fato de estarem na mira.” Para Sérgio Endler, foi um momento de muito desafio – um momento que ele considera, hoje, como “inimaginável” para quem não estava lá. “Era como respirar um ar paranoico”, ressalta. “Vale lembrar que nem todos os jornalistas eram contra os militares.” O padre e ex-aluno Attílio Hartmann evoca como exemplo de aguerrido engajamento político o colega Daniel Herz (1954 – 2006), formado pela Unisinos. “Ele foi um dos alunos mais importantes da década de 70 e um dos nomes que marcaram a democratização da comunicação”, valoriza. Herz é autor de A história secreta da Rede Globo, publicado em 1987, discutindo as relações de Roberto Marinho com a ditadura. Francisco Bueno não se lembra de limitações ao exercício da crítica. “Tínhamos professores que não deixavam de comentar coisas como senadores nomeados, interventores nos municípios considerados de segurança ou, mesmo, o golpe chileno que depôs Allende”, lembra o relações públicas, que ingressou na Unisinos em 1972, ainda nos anos de ditadura civil-militar. Na publicidade, a ditadura também teve influência. Segundo Zé Reckziegel, o currículo do curso era extremamente focado na área da criação, e esse fato pode ser relacionado ao momento político que o país vivia. “Iniciava-se o processo de desarticulação da ditadura militar para uma era mais branda, o que caracterizava a intensa atividade cultural nas universidades, no teatro e na música.” Nos anos 70, a criatividade da publicidade brasileira também estava começando a se expandir, sendo reconhecida internacionalmente por meio de festivais da época.


Um auditório para Erico

Hoje, a Unisinos guarda outros planos para a área em que o auditório se encontra. Ele será transformado em um espaço de integração entre graduação e pós-graduação da universidade.

O Auditório Erico Verissimo foi inaugurado em dezembro de 1989. Ele já existia, mas ainda não havia sido “batizado”. O evento, que aconteceu no saguão do (hoje) bloco B, contou com a presença do escritor e jornalista Luis Fernando Verissimo, filho de Erico. “O auditório foi muito usado, para tudo. Todos os eventos e apresentações aconteciam nele”, conta a professora Luiza Carravetta. Hoje, a Unisinos guarda outros planos para a área em que o auditório se encontra. Ele será transformado em um espaço de integração entre graduação e pós-graduação da universidade. É previsto que em fevereiro de 2013 os alunos já possam utilizá-lo. Segundo Suzana Kilpp, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação, a sala será dividida em três ambientes, com direito a estúdio de gravação e ilhas de edição para materiais audiovisuais.

Na escada Alunos de Comunicação da Unisinos, da década de 80, posam para uma foto na escada que dá acesso às salas de aula do bloco B da Área 3. Em junhode 2012, durante a gravação de um lipdub, técnica audiovisual que combina trilha sonora e pessoas fazendo playback, em um único plano-sequência, sem cortes – uma das ações promovidas pela Agexcom como parte da campanha do aniversário do curso de Comunicação Social –, alunos que participaram das gravações posam, sem saber, para uma foto na mesma escada.

Primeira Impressão Hoje, Primeira Impressão. Nos anos 70, Sui Generis. A revista realizada por alunos de Redação Experimental em Revista e Projeto Experimental em Fotografia, com apoio da Agexcom, já está em sua 37ª edição. Seu primeiro nome, Sui Generis, foi proposto por um casal de professores de Comunicação da Unisinos da época. Deu certo. Mas, em sua 8ª edição, uma reviravolta exigiu que a revista trocasse de nome.Uma carta de São Paulo chegou à Unisinos em 1998. Nela, estava dito que uma revista paulista já havia sido batizada assim. A partir disso, foi feita uma votação com alunos e professores da universidade para decidir qual seria o seu novo nome. A 9ª edição da revista já chegou como Primeira Impressão.

“A partir de 2004, o Enfoque Campus virou Enfoque Vila Brás”

Enfoque O padre Attílio foi um dos fundadores do Enfoque, hoje produzido por alunos da disciplina de Redação Experimental em Jornal. A primeira edição do periódico saiu em junho de 1975. O Enfoque nº 1 trazia textos sobre o jesuíta Albano Trinks, o Presídio de São Leopoldo e a expansão da indústria automobilística – questionava se o Brasil estava preparado, naquele ano, para o “desenvolvimento motorizado”. Redação e diagramação ficavam sob responsabilidade dos alunos. Com o tempo, o Enfoque se transformou em Enfoque Campus, apresentando conteúdos sobre a própria Unisinos. A partir de 2004, o Enfoque Campus virou Enfoque Vila Brás, trazendo matérias preparadas pelos alunos a partir de visitas à conhecida vila de São Leopoldo. O jornal alcança atualmente a edição 135.

Leitura Nos anos 70, as aulas eram bastante ocupadas por debates. Padre Attílio Hartmann, então estudante, lembra que os professores eram mais exigentes em relação à leitura, e o campo de pesquisa era muito mais voltado aos livros, devido à tecnologia precária da época. “Vivemos nos perguntando, hoje, sobre o futuro da imprensa, mas o que realmente importa é que a leitura nunca vai morrer”, destaca. O professor de Publicidade Zé Reckziegel lembra que nos anos 70 as exigências em termos de leitura eram muito grandes. Segundo ele, palestras e eventos eram supervalorizados pelos alunos, já que, naquela época, os livros específicos sobre as áreas da Comunicação eram raros. “Isso foi uma característica marcante para o curso: a ênfase muito grande na prática, com profissionais atuantes no mercado ministrando as aulas e passando seu conhecimento empírico.” Os professores, desde então, cultivaram o costume de trazer à universidade muitos palestrantes relacionados à Comunicação e à classe artística, justamente por essa falta de arquivos de pesquisa. Encontros para as aulas eram marcados em teatros, cinemas ou casas de shows em Porto Alegre. A proposta era que os alunos assistissem aos espetáculos e depois debatessem sobre eles.



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