ARIANO SUASSUNA
(
)
O VALOR DAS RAÍZES POPULARES EM NOSSA CULTURA
ARIANO SUASSUNA
(
O VALOR DAS RAÍZES POPULARES EM NOSSA CULTURA
)
©2014 COSACNAIFY Rua General Jardim, 770 - 2º andar Vila Buarque - São Paulo / SP 01223-010 Tel.: 55 11 3218-1444 www.editora.cosacnaify.com.br Editor Amanda Nobre Coordenação Editorial Nair Soares Colaboração Google Design Amanda Nobre Produção Amanda Nobre Impresso no Brasil ISBN 978-3-8365-1900-7 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma ou meio eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópia, gravação ou sistema de armazanagem e recuperação de informação, sem a permição escrita do editor.
Sumario 5
APRESENTAÇÃO
Um poema
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O Movimento armorial
Cronologia
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~
~ Apresentacao
Ariano Suassuna é um dos grandes nomes da cultura nordestina. Exaltado principalmente pela atuação no teatro brasileiro, o escritor fundou o Movimento Armorial nos anos 70, que tinha como objetivo utilizar a cultura popular para formar um arte erudita. Além de teatrólogo, Suassuna é professor, romancista e advogado. Filho do político João Urbano Pessoa de Vasconcellos Suassuna com Rita de Cássia Dantas Villar, Ariano nasceu em João Pessoa, capital da Paraíba, mas passou a infância na Fazenda Acauhan em Taperoá, interior da Paraíba, e no Rio de Janeiro, onde seu pai foi assassinado em razão da atuação política – fora governador na Paraíba e estava como deputado federal no Rio.
“Uma Mulher Vestida de Sol” foi a primeira peça escrita. As mais conhecidas foram “Auto da compadecida”, de 1957, e “O Santo e a Porca”, de 1964, a primeira, inclusive, ganhou versões no cinema e na televisão. Na Academia Brasileira de Letras, Ariano Suassuna ocupa a cadeira número 32, que tem como patrono Araújo Porto Alegre. Ariano Suassuna pode ser colocado no movimento literário modernista, mas especificamente na 3ª fase, geração de 45. Mas a obra do escritor reúne elementos de diferentes movimentos, como o simbolismo, o barroco e a literatura de cordel, tão presente no nordeste. O nome do escritor é sempre atrelado ao teatro, principalmente pelo papel que desempenhou na modernização do teatro brasileiro. A produção teatral de Ariano Suassuna tem como característica a improvisação e o texto popular. O escritor coloca muitos elementos da cultura nordestina em suas peças.
"
~ nos damos por satisfeitos Nao senao quando sentimos que tais ~ agredindo os outros coisas estao , a primeira vista, de dentro de nossas obras.
"
,
Nos, nordestinos, , i nos preocupamos em sermos f eis , , , a, terra, aos ,mitos, as historias, ~ as formas e as cores da regiao.
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Suassura foi um dos fundadores do Movimento Armorial, que buscava criar a arte erudita através da cultura popular nordestina. O movimento inclui os diferentes tipos de arte, como dança, literatura, teatro, música e arquitetura. Ariano recebeu o apoio da Universidade Federal de Pernambuco e de vários escritores nordestinos, o Movimento Armorial foi lançado em 1970. Trabalhou como advogado enquanto escrevia suas peças. A de maior sucesso, “Auto da Compadecida”, foi escrita em 1955. Com o texto, Suassuna ficou conhecido nacionalmente e ganhou adaptações para o cinema e para televisão. Larga a advocacia de vez em 1959, quando passa a atuar como professor na Universidade Federal de Pernambuco, ministra as aulas de Estética. No mesmo ano, funda o Teatro Popular do Nordeste com o amigo Hermilio. Nesta época casou-se com Zélia de Andrade Lima, com quem teve seis filhos. Para se dedicar à carreira acadêmica, Suassuna se aposenta por um tempo da dramaturgia nos anos 60. Em 1970, começa o Movimento Armorial. Publica livros que classifica como “romance armorial-popular brasileiro”. O movimento surgiu no ambiente universitário e passou a ter apoio da Prefeitura de Recife e da Secretária de Educação do Estado de Pernambuco. Na Academia Pernambucana de Letras, ocupa a cadeira nº 18. Na Academia Brasileira de Letras, está na cadeira nº 32, cujo patrono é Araújo Porto Alegre, desde 1990 e na cadeira nº 35 na Academia Paraibana de Letras.
"TUDO,
QUE E
VIVO MORRE
"
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Um Poema
" Noturno"
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Têm para mim Chamados de outro mundo as Noites perigosas e queimadas, quando a Lua aparece mais vermelha São turvos sonhos, Mágoas proibidas, são Ouropéis antigos e fantasmas que, nesse Mundo vivo e mais ardente consumam tudo o que desejo aqui. Será que mais Alguém vê e escuta?
Diluídos na velha Luz da lua, a Quem dirigem seus terríveis cantos?
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Pressinto um murmuroso esvoejar: passaram-me por cima da cabeça e, como um Halo escuso, te envolveram.
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Sinto o roçar das asas Amarelas e escuto essas Canções encantatórias que tento, em vão, de mim desapossar.
. Eis-te no fogo, como um Fruto ardente, a ventania me agitando em torno esse cheiro que sai de teus cabelos.
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Que vale a natureza sem teus Olhos, ó Aquela por quem meu Sangue pulsa? Da terra sai um cheiro bom de vida e nossos pés a Ela estão ligados. Deixa que teu cabelo, solto ao vento, abra- se fundamente as minhas mãos... Mas, não: a luz Escura inda te envolve, o vento encrespa as Águas dos dois rios e continua a ronda, o Som do fogo. Ó meu amor, por que te ligo à Morte?
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Ariano Suassuna
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O Movimento Armorial
Ariano foi o idealizador do Movimento Armorial, que tem como objetivo criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste Brasileiro. Tal movimento procura orientar para esse fim todas as formas de expressões artísticas: música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura, entre outras expressões. Surgiu sob sua inspiração e direção, com a colaboração de um grupo de artistas e escritores da região Nordeste do Brasil e o apoio do Departamento de Extensão Cultural da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários da Universidade Federal de Pernambuco.
Teve início no âmbito universitário, mas ganhou apoio oficial da Prefeitura do Recife e da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco. Foi lançado oficialmente, no Recife, no dia 18 de outubro de 1970, com a realização de um concerto e uma exposição de artes plásticas realizados no Pátio de São Pedro, no centro da cidade. Seu objetivo foi o de valorizar a cultura popular do Nordeste brasileiro, pretendendo realizar uma arte brasileira erudita a partir das raízes populares da cultura do País. Segundo Suassuna, sendo “armorial” o conjunto de insígnias, brasões, estandartes e bandeiras de um povo, a heráldica é uma arte muito mais popular do que qualquer coisa. Desse modo o nome adotado significou o desejo de ligação com essas heráldicas raízes culturais brasileiras.
"Arte pra mim nao e, produto de mercado. <
Podem me chamar de romantico. , Arte pra mim e missao, vocacao e festa. 14
"
Mamulengos
O Movimento tem interesse pela pintura, música, literatura, cerâmica, dança, escultura, tapeçaria, arquitetura, teatro, gravura e cinema. Uma grande importância é dada aos folhetos do romanceiro popular nordestino, a chamada literatura de cordel, por achar que neles se encontra a fonte de uma arte e uma literatura que expressa as aspirações e o espírito do povo brasileiro, além de reunir três formas de arte: as narrativas de sua poesia, a xilogravura, que ilustra suas capas e a música, através do canto dos seus versos, acompanhada por viola ou rabeca. São também importantes para o Movimento Armorial, os espetáculos populares do Nordeste, encenados ao ar livre, com personagens míticas, cantos, roupagens principescas feitas a partir de farrapos, músicas, animais misteriosos como o boi e o cavalo-marinho do bumba-meu-boi. O mamulengo ou teatro de bonecos nordestino também é uma fonte de inspiração para o Movimento, que procura além da dramaturgia, um modo brasileiro de encenação e representação. Congrega nomes importantes da cultura nordestina. Além do próprio Ariano Suassuna, Antonio Madureira, Francisco Brennand, Raimundo Carrero, Gilvan Samico, Géber Accioly entre outros, além de grupos como o Balé Armorial do Nordeste, a Orquestra Armorial de Câmara, a Orquestra Romançal e o Quinteto Armorial.
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FRANCISCO BRENNAND Todos sabem o quão pouco este país cuida da relevância em exaltar aqueles que de fato contribuem com seu esforço e seu talento, e até com renuncias quase religiosas, para construir a obra de uma vida inteira como a do pintor e escultor Francisco Brennand. Foi-se o tempo em que se dava a merecida importância aos museus e às instituições culturais dedicadas a preservar a memória da historia passada e recente do Brasil. Cada vez mais a chamada grande mídia, ocupada com os graves problemas que afligem o país, põe no limbo os aspectos culturais e artísticos que celebrem aspectos originais da nossa cultura e que se tornam cada vez mais significantes diante da grande contribuição de artistas e de homens que fizeram ou se fazem importantes na consolidação da identidade nacional.
"
~ perca a vontade de ter grandes amigos, Que eu nao mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas.
"
De sua personalidade e de sua obra muito já se escreveu, e também do seu atelier na Várzea no Recife, um grande espaço em que sistematicamente ele guarda tudo por ele produzido, mais ainda a monumental instalação nas ruínas da antiga fabrica da família: milhares de esculturas, painéis, murais, jardins, como o de Burle Marx, numa atmosfera única em meio à vegetação luxuriante da Mata Atlântica. Com isso Brennand faz um grande e generoso gesto para a preservação da mata original e ainda oferece aos seus visitantes a mais nova obra da arquitetura brasileira, a capela projetada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha sobre as ruínas da antiga casa-grande da fazenda.
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gilvan samico Nascido na capital pernambucana, Gilvan José Meira Lins Samico era o penúltimo de seis filhos de um casal de classe média do bairro de Afogados. Na adolescência, depois de dois empregos frustrados, o pai percebeu a aptidão do filho para a ilustração e o levou ao professor, pintor e arquiteto Hélio Feijó. Samico iniciou-se na pintura como autodidata, influenciado pelo expressionismo de artistas como Oswaldo Goeldi e Lívio Abramo, mas atualmente é conhecido por suas meticulosas xilogravuras, inspiradas na temática e estilo da gravura popular do nordeste do Brasil. Em 1948, começa a frequentar a Sociedade de Arte Moderna do Recife. Em 1952, funda, juntamente com outros artistas, o Ateliê Coletivo da Sociedade, idealizado por Abelardo da Hora. Em 1957, estuda xilogravura com Lívio Abramo, na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo. No ano seguinte, estuda gravura com Goeldi, na Escola Nacional de Belas Artes, na cidade do Rio de Janeiro. Em 1968, recebeu o prêmio viagem ao exterior no 17º Salão Nacional de Arte Moderna do MAM-RJ e permanece por dois anos na Europa. Em 1965, fixa residência em Olinda. Leciona xilogravura na Universidade Federal da Paraíba. Em 1971, convidado por Ariano Suassuna, passa a integrar o Movimento Armorial, voltado à cultura popular. Sua produção é particularmente pela recuperação do romanceiro popular e pela literatura de cordel. Suas gravuras são povoadas por personagens da Bíblia, de lendas e por animais fantásticos, com reduzido uso da cor e de texturas. Os quarenta anos de gravura do artista foram comemorados em 1997 com importante exposição no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. Samico tem obras no MoMA de Nova Iorque e participou duas vezes de Bienal de Veneza tendo sido premiado em uma delas.
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Cronologia
1942 - 1950
1930 - 1942
Com a Revolução de 1930, seu pai foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro. Sua família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade, Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma das marcas registradas também da sua produção teatral. De formação calvinista e posteriormente agnóstico, converteu-se ao catolicismo, o que viria a marcar definitivamente a sua obra.
A partir de 1942 passou a viver no Recife, onde terminou, em 1945, os estudos secundários no Ginásio Pernambucano, no Colégio Americano Batista e no Colégio Osvaldo Cruz. No ano seguinte iniciou a Faculdade de Direito, onde conheceu Hermilo Borba Filho. E, junto com ele, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol. Em 1948, sua peça Cantam as Harpas de Sião (ou O Desertor de Princesa) foi montada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. Os Homens de Barro foi montada no ano seguinte. Em 1950, formou-se na Faculdade de Direito e recebeu o Prêmio Martins Pena pelo Auto de João da Cruz.
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1927 - 1930
Ariano Vilar Suassuna nasceu em João Pessoa, aos 16 de junho de 1927, filho de Cássia Vilar e João Suassuna. No ano seguinte, seu pai deixa o governo da Paraíba e a família passa a morar no Sertão, na Fazenda Acauã, em Aparecida, Paraíba.
Em 1956, afasta-se da advocacia e se torna professor de Estética da Universidade Federal de Pernambuco. Em 1957 foi encenada a sua peça O Casamento Suspeitoso, em São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso, e O Santo e a Porca; em 1958, foi encenada O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna; em 1959, A Pena e a Lei, premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro.
1956 - 1959
1950 - 1956
Entre 1951 e 1952, volta a Sousa, para curar-se de uma doença pulmonar. Lá escreveu e montou Torturas de um curacao em 1951. Em seguida, retorna a Recife, onde, até 1956, dedica-se à advocacia e ao teatro. São desta época O Castigo da Soberba (1953), O Rico Avarento (1954) e o Auto da Compadecida (1955), peça que o projetou em todo o país e que seria considerada, em 1962, por Sábato Magaldi “o texto mais popular do moderno teatro brasileiro”. Sua obra mais conhecida, já foi montada exaustivamente por grupos de todo o país, além de ter sido adaptada para a televisão e para o cinema.
1959 - 1967
Em 1959, em companhia de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste, que montou em seguida a Farsa da Boa Preguiça (1960) e A Caseira e a Catarina (1962). No início dos anos 60, interrompeu sua bem-sucedida carreira de dramaturgo para dedicar-se às aulas de Estética na UFPE. Em 1967 torna-se membro fundador do Conselho Federal de Cultura e em 1969 é nomeado, pelo Reitor Murilo Guimarães, diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE .
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1970 - 1990 22
Entre 1970-79, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) e História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão Ao Sol da Onça Caetana (1976), classificados por ele de “romance armorial-popular brasileiro”. Em 1976, na UFPE, defende sua tese de livre-docência, intitulada “A Onça castanha e a Ilha Brasil: uma reflexão sobre a cultura brasileira”. Ariano Suassuna construiu em São José do Belmonte, onde ocorre a cavalgada inspirada no Romance d’A Pedra do Reino, um santuário ao ar livre, constituído de 16 esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada, dispostas em círculo, representando o sagrado e o profano. As três primeiras são imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do município.
1967 - 1970
Em 1970, ligado diretamente à cultura, iniciou, em Recife, o “Movimento Armorial”, focado no desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão populares tradicionais. Convocou nomes expressivos da música para procurarem uma música erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento, lançado em Recife, em 18 de outubro de 1970, com o concerto “Três Séculos de Música Nordestina – do Barroco ao Armorial” e com uma exposição de gravura, pintura e escultura.
1990 - 1994
Desde 1990, membro da Academia Paraibana de Letras. Em 1993, foi eleito para a cadeira 18 da Academia Brasileira de Letras.
Em 2000, Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte . Em 2002, Ariano Suassuna foi tema de enredo no carnaval carioca na escola de samba Império Serrano; em 2008, foi novamente tema de enredo, desta vez da escola de samba Mancha Verde no carnaval paulista. Em 2013 sua mais famosa obra, o Auto da Compadecida será o tema da escola de samba Pérola Negra em São Paulo.
1998 - 2002
1994 - 1998
Aposenta-se como professor em 1994. Se torna Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo Miguel Arraes.
2002 - 2006
Em 2004, com o apoio da ABL, a Trinca Filmes produziu um documentário intitulado O Sertão: Mundo de Ariano Suassuna, dirigido por Douglas Machado e que foi exibido na Sala José de Alencar. Em 2006, foi concedido título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Ceará, mas que veio a ser entregue apenas em 10 de junho de 2010, às vésperas de completar 83 anos. “Podia até parecer que não queria receber a honraria, mas era problemas de agenda”, afirmou Ariano, referindo-se ao tempo entre a concessão e o recebimento do título.
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Ariano Suassuna