Preview As Regras de Moscou

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as regras de moscou



as regras de moscou Daniel Silva Tradução Fábio Fernandes


Título original em inglês: Moscow rules Copyright © 2008 by Daniel Silva Amarilys é um selo editorial Manole. Este livro contempla as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil. Capa Depto. de arte da Editora Manole Preparação, revisão, projeto gráfico e editoração eletrônica  Depto. editorial da Editora Manole

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)    Silva, Daniel    As regras de Moscou / Daniel Silva ; tradução    Fábio Fernandes. -- Barueri, SP : Amarilys, 2011.    Título original: Moscow rules.    ISBN 978-85-204-2967-9    1. Ficção norte-americana I. Título. 11-01587 CDD-813 Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura norte-americana 813

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, por qualquer processo, sem a permissão expressa dos editores. É proibida a reprodução por xerox. A Editora Manole é filiada à ABDR – Associação Brasileira de Direitos Reprográficos. 1ª edição brasileira - 2011 Editora Manole Ltda. Av. Ceci, 672 – Tamboré 06460-120 – Barueri – SP – Brasil Tel. (11) 4196-6000 – Fax (11) 4196-6021 www.manole.com.br / www.amarilyseditora.com.br info@amarilyseditora.com.br Impresso no Brasil Printed in Brazil


Para Jeff Zucker, Ron Meyer, Linda Rappaport e Michael Gendler, por sua amizade, sabedoria e orientação. E, como sempre, para minha esposa, Jamie, e meus filhos, Lily e Nicholas.



Não olhe para trás. Você nunca está completamente só. AS REGRAS DE MOSCOU



Parte 1

A convocação



Capítulo 1

COURCHEVEL, FRANÇA

A invasão começou, como de costume, nos últimos dias de dezembro. Eles chegavam em caravanas blindadas subindo a estrada cheia de curvas ao fundo do Vale do Reno, ou desciam de helicópteros e aviões particulares na traiçoeira pista de pouso nas montanhas. Bilionários e banqueiros, magnatas do petróleo e dos metais, supermodelos e crianças mimadas: a rica elite de uma Rússia ressurgente. Invadiam as suítes do Cheval Blanc e do Byblos e dominavam os grandes chalés particulares ao longo da rue de Bellecôte. Reservavam a casa noturna Les Caves para festas privadas que varavam a noite e saqueavam as resplandecentes lojas da Croissette. Tomavam para si os melhores instrutores de esqui e esvaziavam as lojas de vinhos de seus melhores champanhes e conhaques. Na manhã do dia 28, não havia um único horário disponível nos cabeleireiros da cidade, e o Le Chalet de Pierres, o famoso restaurante na colina, renomado por sua carne assada na


brasa, já havia parado de aceitar reservas para o jantar até meados de janeiro. Na véspera do Ano Novo, a conquista estava completa. Courchevel, o exclusivo resort de esqui nos Alpes Franceses, era mais uma vez um vilarejo sob ocupação russa. Somente o Hôtel Grand Courchevel conseguia sobreviver ao violento ataque do Leste. Um feito nada surpreendente, diriam os entusiastas, pois, no Grand, os russos, bem como todos aqueles que vinham acompanhados dos filhos, eram silenciosamente encorajados a procurar acomodações em outro lugar. O hotel tinha ao todo trinta quartos, de tamanho modesto e mobília discreta. Quem ia ao Grand não estava à procura de torneiras de ouro nem suítes do tamanho de campos de futebol. Quem ia ao Grand buscava um gostinho da Europa de antigamente; ia para bebericar um Campari no bar do saguão ou tomar um café sem pressa lendo o Le Monde no salão do café da manhã. Os cavalheiros vestiam paletó para o jantar e esperavam até depois do desjejum para vestir sua parafernália de esqui. As conversas se davam em murmúrios confessionais e com excesso de cortesia. A internet ainda não havia chegado ao Grand e os telefones eram temperamentais. Seus hóspedes não pareciam se importar muito com isso; eram tão requintados quanto o próprio Grand e se comportavam como se estivessem na Baixa Idade Média. Uma piada que circulava nos hotéis mais modernos do Jardin Alpin descrevia a clientela do Grand como “a excursão de uma casa de repouso”. O lobby era pequeno, muito arrumado e aquecido por uma bem cuidada lareira a lenha. À direita, próxima à entrada do salão de jantar, ficava a recepção, uma alcova estreita com ganchos de bronze para pendurar as chaves dos quartos e escaninhos para a correspondência e as mensagens. Ao lado da recepção, perto do velho e único elevador do Grand, ficava a mesa do concièrge, ocupada no início da tarde de dois de janeiro por Philippe, um ex12


paraquedista francês de boa constituição física que usava as douradas chaves cruzadas do International Concierge Institute em sua lapela impecável e sonhava em deixar o ramo de hotelaria de uma vez e ir morar para sempre na fazenda de criação de trufas da família, em Périgord. Seu olhar sombrio e pensativo estava voltado para baixo examinando uma lista de chegadas e partidas. Ela continha uma única entrada: Lubin, Alex. Chegando de carro de Genebra. Reserva para o Quarto 237. Solicita aluguel de equipamento de esqui. Philippe lançou seu olhar experiente de concièrge sobre o nome. Ele tinha um pendor para nomes. E era preciso ter nesse tipo de trabalho. Alex... Diminutivo de Alexander, ponderou. Ou seria Aleksandr? Ou Aleksei? Ele levantou a cabeça e pigarreou discretamente. Uma cabeça impecavelmente penteada despontou da recepção. Era Ricardo, o gerente da tarde. — Acho que temos um problema — disse Philippe, com calma. Ricardo franziu a testa. Ele era um espanhol dos Países Bascos e não gostava de problemas. — O que foi? Philippe levantou a folha de chegadas. — Lubin, Alex. Ricardo digitou alguma coisa em seu computador com um indicador de unha bem feita. — Doze noites? Com solicitação de aluguel de equipamento de esqui? Quem fez essa reserva? — Acredito que foi Nadine. Nadine era a garota nova. Ela trabalhava no turno da madrugada e, pelo crime de garantir um quarto para alguém chamado Alex Lubin sem antes consultar Ricardo, continuaria trabalhando nesse turno por toda a eternidade. — Você acha que ele é russo? — perguntou Ricardo. — Declaro o réu culpado. 13


Ricardo aceitou o veredicto sem apelação. Embora fosse sênior no cargo, era vinte anos mais novo que Philippe e tinha plena confiança na experiência e no julgamento do mais velho. — Talvez pudéssemos jogá-lo para a concorrência. — Impossível. Não há um quarto sequer disponível daqui até Albertville. — Então, acho que somos obrigados a ficar com ele... a menos, é claro, que ele possa ser convencido a sair por conta própria. — O que você está sugerindo? — O Plano B, é claro. — É um tanto radical, você não acha? — Acho, mas é o único jeito. O ex-paraquedista aceitou as ordens com um aceno duro de cabeça e começou a planejar a operação, que teve início às 16h12, quando um Mercedes sedã cinza-escuro com placas de Genebra estacionou em frente ao hotel e buzinou. Philippe permaneceu em seu púlpito por dois minutos inteiros antes de vestir seu sobretudo com considerável tranquilidade e se dirigir lentamente para fora. A esta altura, o indesejado monsieur Alex Lubin — doze noites, com solicitação de aluguel de equipamento de esqui — já havia saído do carro e estava em pé, irritado, ao lado do portamalas aberto. Ele tinha um rosto cheio de ângulos agudos e cabelos louros claros penteados cuidadosamente ao redor de uma calva bem grande. Seus olhos estreitos estavam voltados para o porta-malas abaixo, para um par de sacolas grandes de nylon. O concièrge franziu a testa para as sacolas como se nunca tivesse visto tais objetos antes e depois cumprimentou o hóspede com uma cordialidade glacial. — Posso ajudá-lo, monsieur? A pergunta havia sido feita em inglês. E a resposta foi no mesmo idioma, com um distinto sotaque eslavo. — Eu tenho uma reserva. 14


— É mesmo? Não me falaram de nenhuma chegada marcada para esta tarde. Certamente foi alguma confusão. Por que o senhor não fala com meu colega na recepção? Tenho certeza de que ele será capaz de corrigir o mal-entendido. Lubin murmurou algo para si e subiu os degraus íngremes com passos firmes. Philippe pegou a primeira sacola e quase teve uma hérnia de disco ao tentar levantá-la. Ele é um vendedor de bigornas russo e trouxe uma sacola cheia de amostras. Quando conseguiu levar as sacolas até o lobby, Lubin estava recitando devagar seu número de confirmação para um Ricardo de olhar perplexo, que, por mais que tentasse, não conseguia localizar a reserva em questão. O problema finalmente foi resolvido – “Um pequeno erro de um membro de nossa equipe, monsieur Lubin. Vou ter uma conversa com ela” –, apenas para ser seguido por outro. Por um engano da equipe de camareiros, o quarto ainda não estava pronto. — Levará apenas alguns minutos — disse Ricardo, com sua voz mais sedosa. — Meu colega colocará suas sacolas no depósito. Permita-me mostrar ao senhor nosso bar do saguão. As bebidas não serão cobradas, naturalmente. Haveria cobrança sim, é claro – e um tanto salgada, na verdade – mas Ricardo planejava soltar essa pequena surpresa quando as defesas de monsieur Lubin estivessem em seu estado mais fraco. Infelizmente, Ricardo havia sido otimista ao achar que o atraso seria breve. Na verdade, mais noventa minutos passariam antes que Lubin fosse levado, sem bagagem, até seu quarto. De acordo com o Plano B, não havia roupão de banho para idas ao spa, nem vodca no frigobar, tampouco controle remoto para a televisão. O alarme do relógio na mesinha de cabeceira havia sido programado para as 4h15 da manhã. E o aquecedor fazia um barulho infernal. Philippe, discretamente, removeu a última barra de sabonete do banheiro e, em seguida, depois que não lhe foi dada gorjeta, saiu porta afora com a promessa de que as sa15


colas seriam levadas ao quarto dali a pouco. Ricardo esperava por ele quando saiu do elevador. — Quantas vodcas ele tomou no bar? — Sete — disse Ricardo. O concièrge trincou os dentes e soltou o ar com desprezo. Somente um russo poderia tomar sete vodcas em uma hora e meia e ainda permanecer de pé. — O que é que você acha? — perguntou Ricardo. — Mafioso, espião ou matador de aluguel? Não fazia diferença, pensou Philippe com tristeza. As paredes do Grand haviam sido violadas por um russo. Résistance era agora a ordem do dia. Recuaram para seus respectivos postos de combate, Ricardo para a gruta da recepção, Philippe para seu púlpito perto do elevador. Dez minutos depois veio a primeira ligação do Quarto 237. Ricardo suportou um esculacho stalinesco antes de murmurar algumas palavras apaziguadoras e desligar o telefone. Olhou para Philippe e sorriu. — Monsieur Lubin estava se perguntando quando suas sacolas chegariam. — Vou cuidar disso agora mesmo — disse Philippe, abafando um bocejo. — Ele também queria saber se algo poderia ser feito com relação ao calor no quarto. Ele disse que está muito quente, e o termostato parece que não está funcionando. Philippe apanhou o telefone e ligou para a Manutenção. — Aumente a temperatura do Quarto 237 — disse ele. — Monsieur Lubin está com frio. Se tivessem testemunhado os primeiros momentos da estada de Lubin, teriam certeza absoluta de que um vilão estava entre eles. De que outro modo explicar o fato de ele ter retirado todas as gavetas do armário e das mesinhas de cabeceira e desatarrachado 16


todas as lâmpadas dos abajures e das luminárias? Ou o fato de ele ter desarrumado toda a luxuosa cama queen size e aberto a tampa do telefone PABX de dois ramais? Ou ainda o fato de ele ter derramado no vaso sanitário todo o conteúdo de uma garrafa de água mineral oferecida como cortesia e jogado dois chocolates Touvier de Genebra na rua cheia de neve? E, depois de ter completado seu ataque de vandalismo, ter devolvido ao quarto a aparência quase perfeita na qual o havia encontrado? Era por causa de sua profissão que ele tomava essas medidas um tanto drásticas, mas sua atividade não era nenhuma daquelas sugeridas por Ricardo, o recepcionista. Aleksandr Viktorovich Lubin não era mafioso nem espião, tampouco matador de aluguel, apenas praticante da profissão mais perigosa que alguém poderia escolher na admirável Rússia Nova: o jornalismo. E não era qualquer tipo de jornalismo: era o jornalismo independente. Sua revista, a Moskovsky Gazeta, era uma das últimas revistas semanais investigativas do país e uma persistente pedra no sapato do Kremlin. Seus repórteres e fotógrafos eram vigiados e importunados constantemente, não só pela polícia secreta como também pelos serviços de segurança particular dos poderosos oligarcas que eles tentavam cobrir em suas reportagens. Courchevel estava agora apinhada desses homens. Homens que não tinham o menor problema em espalhar transmissores e substâncias tóxicas em quartos de hotel. Homens que operavam com base no credo de Stálin: A morte resolve todos os problemas. Sem homem, sem problema. Certo, agora, de que ninguém havia mexido no quarto, Lubin discou mais uma vez para o concièrge para saber sobre sua bagagem e foi informado de que ela chegaria “iminentemente”. Então, depois de escancarar as janelas da varanda para o ar frio da noite, ele se sentou à escrivaninha e retirou uma pasta com um dossiê de dentro de sua velha e gasta maleta de couro. A pasta lhe fora dada na 17


noite anterior por Boris Ostrovsky, editor-chefe da Gazeta. O encontro acontecera não na redação da Gazeta – que, tinham ­certeza, estava abarrotada de escutas –, mas num banco na estação de metrô Arbatskaya. Só vou dar a você parte do quadro geral, dissera-lhe Ostrovsky ao entregar os documentos com uma indiferença ensaiada. É para sua própria proteção. Entendeu, Aleksandr? Lubin havia entendido perfeitamente. Ostrovsky estava confiando a ele uma missão que poderia matá-lo. Lubin abria agora o arquivo e examinava a primeira fotografia do dossiê. Nela se via um homem bem vestido de cabelos curtos cortados rente e um rosto másculo de lutador; ele estava em pé ao lado do presidente russo em uma recepção no Kremlin. Presa à foto, havia uma biografia minúscula – inteiramente desnecessária, pois Aleksandr Lubin, assim como todos os demais jornalistas de Moscou, sabia de cor cada pormenor da notável carreira de Ivan Borisovich Kharkov. Filho de um funcionário sênior da KGB... formado pela prestigiosa Universidade Estatal de Moscou... menino-prodígio do Quinto Diretório Principal da KGB... Com o desmoronamento do império, Kharkov deixou a KGB e ganhou uma fortuna em operações bancárias durante os anárquicos primeiros anos do capitalismo russo. Ele havia investido sabiamente em energia, matéria-prima e imóveis, e, no amanhecer do novo milênio, juntou-se ao grupo cada vez maior de novos multimilionários moscovitas. Dentre seus muitos empreendimentos, havia uma empresa de cargas aéreas e marítimas com tentáculos que se estendiam pelo Oriente Médio, África e Ásia. O verdadeiro tamanho de seu império financeiro era impossível de ser estimado por alguém de fora. Ainda relativamente recém-chegado ao capitalismo, Ivan Kharkov já dominava a arte das empresas de fachada e as trapaças do mundo corporativo.

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Lubin virou a página seguinte do dossiê, uma fotografia impressa com alta qualidade do “Château Kharkov”, o palácio de inverno de Ivan na rue de Nogentil em Courchevel. Ele passa as férias de inverno lá com todos os outros russos ricos e famosos, Ostrovsky havia dito. Cuidado ao andar ao redor da casa. Os capangas de Ivan são todos ex-agentes da Spetsnaz e da omon. Está ouvindo o que estou lhe dizendo, Aleksandr? Não quero que você acabe como Irina Chernova. Irina Chernova era a famosa jornalista do principal concorrente da Gazeta e havia exposto um dos investimentos mais obscuros de Kharkov. Duas noites após a publicação do artigo, ela foi fuzilada no elevador do prédio onde morava em Moscou por uma dupla de assassinos de aluguel. Ostrovsky, por razões que só ele conhecia, havia incluído no dossiê uma fotografia do corpo dela, crivado de balas. Agora, como na época, Lubin virou a página rapidamente. Ivan costuma trabalhar a portas bem fechadas. Courchevel é um dos poucos lugares em que ele realmente anda em público. Queremos que você o siga, Aleksandr. Queremos saber com quem ele se encontra. Com quem ele vai esquiar. Com quem ele almoça. Tire fotos quando puder, mas nunca se aproxime dele. E não conte a ninguém na cidade para quem você trabalha. Os seguranças de Ivan podem farejar um repórter a quilômetros de distância. Então, Ostrovsky entregou a Lubin um envelope contendo passagens aéreas e reservas para o aluguel de um carro e acomodações em um hotel. Entre em contato com a redação a cada dois dias, dissera-lhe ele. E tente se divertir um pouco, Aleksandr. Seus colegas estão morrendo de inveja. Você vai a Courchevel se divertir com os ricos e famosos enquanto a gente morre congelado em Moscou. Depois de fazer essa observação, Ostrovsky havia se levantado e caminhado até a beirada da plataforma. Lubin enfiara o dossiê na maleta de couro e começara imediatamente a suar de encharcar

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as roupas, como suava novamente agora. Diabo de aquecimento! O quarto ainda estava um forno. Lubin já ia pegar o telefone para fazer outra reclamação quando finalmente ouviu as batidas na porta. Com apenas dois passos irritados, percorreu o pequeno hall de entrada e escancarou a porta sem se incomodar em perguntar quem estava do outro lado. Um equívoco, pensou logo em seguida, pois em pé na semiescuridão do corredor estava um homem de estatura mediana vestido com uma jaqueta escura de esqui, um gorro de lã e óculos espelhados. Lubin ainda se perguntava por que alguém usaria óculos de esqui dentro de um hotel à noite quando veio o primeiro impacto, um maldoso golpe com a lateral da mão, que pareceu esmagar sua traqueia. O segundo golpe, um chute bem aplicado na virilha, fez seu corpo se dobrar ao meio. Lubin não conseguiu emitir qualquer sinal de protesto enquanto o homem se enfiava para dentro do quarto e fechava a porta sem qualquer ruído. Tampouco foi capaz de resistir quando o homem o forçou a se deitar na cama e se sentou sobre os seus quadris. A faca que emergiu do interior da jaqueta de esqui era do tipo usado por soldados de elite. Ela penetrou seu abdome logo abaixo das costelas e precipitou-se em direção ao coração. Enquanto sua cavidade peitoral se enchia de sangue, foi forçado a sofrer a indignidade adicional de ver sua própria morte refletida nas lentes espelhadas dos óculos de seu matador. O assassino soltou a faca e, com a arma ainda alojada no peito do jornalista, levantou-se da cama e calmamente pegou o dossiê. Aleksandr Lubin sentiu seu coração bater uma última vez enquanto seu assassino se esgueirava silenciosamente para fora do quarto. O aquecimento, pensava ele. Maldito calor... Pouco depois das sete, Philippe finalmente retirou as sacolas de monsieur Lubin do depósito e as colocou no elevador. Ao chegar ao Quarto 237, encontrou o aviso de não perturbe pendurado na 20


maçaneta. Conforme as convenções do Plano B, ele bateu três vezes à porta com todo o vigor. Não obtendo resposta, retirou seu cartão-chave do bolso e entrou, apenas o suficiente para ver dois chinelos russos tamanho 44 pendendo alguns centímetros para fora da cama. Deixou as sacolas no hall de entrada e retornou ao lobby, onde relatou suas descobertas a Ricardo. — Desmaiou de bêbado. O espanhol olhou para seu relógio. — É cedo, mesmo para um russo. E agora? — Vamos deixá-lo dormir. De manhã, quando ele estiver de ressaca, iniciamos a Fase Dois. O espanhol sorriu. Nenhum hóspede jamais sobrevivera à Fase Dois. A Fase Dois era sempre fatal.

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