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ENTREVISTA TANIA COSENTINO, PRESIDENTE DA SCHNEIDER ELECTRIC BRASIL

nº 473

www.brasilamericaeconomia.com.br

O atraso da eficiência energética no Brasil e na América Latina

No 473 JUL/2017 R$ 20,00 ISSN 1414-2341

EFEITO DA CRISE CAUSA O RETORNO DE UM DOS MAIORES RESPONSÁVEIS PELO BOOM DO CRESCIMENTO ECONÔMICO DO BRASIL NOS ANOS DE 1990 – O CONSÓRCIO. VOLUME DE NEGÓCIOS EM 2017 CRESCEU 24,7% ULTRAPASSANDO R$ 36 BILHÕES EM CRÉDITO

A VOLTA DO

CONSÓRCIO NEGÓCIOS O CENÁRIO FAVORÁVEL DO SETOR DE FRANQUIAS








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Nesta edição

ENTREVISTA

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Tania Cosentino, presidente da Schneider Electric para América do Sul Executiva afirma que todos os países da América do Sul estão atrasados em eficiência energética e que o Brasil precisa colocar em pauta novas ações

NEGÓCIOS

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A arbitragem para grandes empresas Mecanismo aumenta a segurança jurídica de investidores estrangeiros e locais, atraindo a atenção de companhias que procuram rapidez e discrição

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Hora de empreender Segmento de franquias fatura bilhões e se transforma em porta de entrada para novos investidores que estão fora do mercado de trabalho

70 CAPA

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Mais planejamento A procura pelos sistemas de consórcios aumenta e ultrapassa o valor de R$ 36 bilhões em 2017. Clientes buscam opções mais econômicas para a aquisição de bens e serviços 8 | AméricaEconomia

TECNOLOGIA

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Aplicativos para otimizar a gestão Ferramentas para dispositivos móveis podem ser aliadas para o melhor gerenciamento de equipes e de empresas

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Tecnologia com sangue latino Cento e vinte startups da América Latina representam um valor total de US$ 37 bilhões e reforçam expansão do setor

Barbearias em evidência Mercado brasileiro masculino de cuidados fatura bilhões e impulsiona o sucesso das barbearias, que se reinventaram para proporcionar novas experiências a seus clientes

SEÇÕES

10 Editorial 18 Movimentos 20 Moderador 22 Tecnologia 30 Opinião – Juan Jensen 42 Opinião – Elmano Nigri 50 Opinião – Mauro Miranda, CFA 62 Opinião – Rafael Cortez 66 Opinião – Cor van Honk 68 Direito de Família – Ivone Zeger 76 Página Verde – Jorge Pinheiro Machado 78 Opinião – José Renato Nalini



Editorial PUBLISHER E EDITOR Agostinho Turbian - publisher@editorai.com.br CONSELHO EDITORIAL Jorge Pinheiro Machado, presidente Antonio Carlos Romanoski, Elmano Nigri, Desembargador Henrique Nelson Calandra, Jorge Pinheiro Machado, Mario Garnero, Romeu Chap Chap, Toni Sando e Wilson Levorato CONTEÚDO Editora-chefe: Bruna Lencioni - bruna@editorai.com.br Repórteres: Beatriz Santos - beatriz@editorai.com.br Felix Ventura - felixventura@editorai.com.br Marcelo Almeida - marcelo@editorai.com.br Diretor de Arte: Rogério Macadura - arte@editorai.com.br Tradução: Marcelo Almeida - marcelo@editorai.com.br COLABORADORES Cor van Honk, Ivone Zeger, Jorge Pinheiro Machado, José Renato Nalini, Juan Jensen, Mauro Miranda, CFA e Victor Hugo Carreño ASSINATURAS assinaturas@editorai.com.br AMÉRICAECONOMIA BRASIL DIGITAL www.brasilamericaeconomia.com.br Editores: Beatriz Santos - beatriz@editorai.com.br Marcelo Almeida - marcelo@editorai.com.br AMERICAECONOMÍA INTERNACIONAL Publisher e Editor: Elías Selman C. Editor-Geral: Fernando Chevarría León Editor Executivo: Rodrigo L. Serrano Editores: Bruna Lencioni (São Paulo), Jorge Cavagnaro (Guaiaquil), Lino Solís de Ovando (Santiago), Rery Maldonado (La Paz), Carolina Torres (Tegucigalpa). Editor-at-large: Samuel Silva Repórteres: Laura Villahermosa e Hugo Flores (Lima), Camilo Olarte (Cidade do México), Alejandro González (Bogotá), Hebe Schmidt (Madri) Colunistas fixos: John Edmunds, Jerry Haar, Susan Purcell Kaufman Designer: Sandra Florián AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE (Estudos e Projetos Especiais) Diretor: Andrés Almeida Pesquisadores Seniores: Fernando Valencia Analistas: Catherine Lacourt e Juan Francisco Echeverría Analista Peru: Carlos Alcántara AMÉRICAECONOMIA.COM Subdiretor de Mídias Digitais: Lino Solís De Ovando Repórteres: Héctor Cancino, Fernando Zúñiga, Juan Toro, Cristian Yánez e Matías Kohler

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Os textos assinados pelos articulistas não refletem, necessariamente, a opinião da revista AméricaEconomia

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Bruna Lencioni Editora-chefe

Corpos diferentes E

ntre as perguntas frequentes de hoje em dia está: “Mas cadê os batedores de panela, que agora não se manifestam mais?”. Entre as boas respostas, e talvez a psicanálise explique, está: “Cansadas da desilusão política, essas pessoas tocam a vida”. Outra, possível, seria: “Não saem mais às ruas porque o objetivo era tirar o PT do comando do país”. Sempre vai haver aquele ou este que discorde – paciência. O fato é que dentro desta discussão existe o Brasil de verdade, que trabalha, que precisa sobreviver, por isso procura e acha aquele esforço diário para trabalhar. É isso o que tem contribuído e, muito, para a retomada de alguns setores – o brasileiro é um empreendedor nato. Os números do segmento de franquias não deixam mentir: o brasileiro busca algo novo, observa o cenário e tentando encontrar novamente o seu espaço no mundo. A perda de milhões de vagas provocou medo e agora é possível afirmar que enxergamos a luz. É o que os dados mostram: a inflação está baixa, os juros estão caindo, o varejo registrou alta nas vendas e o número de vagas formais no mercado de trabalho aumentou. O que isso tem a ver com o governo? Parte disso tem a ver com o governo, em alguma dose, sim. Mas, com uma base de comparação muito ruim em função dos bons tempos que antecederam a crise instalada em 2013, fica impossível não dizer que está longe do ideal. É provável que o governo de Michel Temer tenha acabado quando você terminar de ler este editorial, mas também é possível que uma manobra tenha mudado tudo. A ver. O fato é que a agenda continua, apesar do governo. O governo continua governando, apesar de Joesley Batista. Os números da economia são bons – o que não justifica a permanência de um presidente mais do que suspeito de cometer ilicitudes. “Modéstia às favas”, como disse o ministro Gilmar Mendes em recente sessão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o brasileiro tem muitos méritos. O país está jogando o seu jogo e a economia parece andar em corpos separados com esta triste política brasileira. *** Rafael Cortez, doutor em Ciência Política pela USP e sócio da Tendências Consultoria, passa a escrever sobre economia e política na AméricaEconomia. *** Compõe a revista, a partir desta edição, uma coluna que deverá dar voz a consulados instalados no Brasil, através dos porta-vozes, em regra um cônsul-geral. A ideia é entender o que a política entre o Brasil e esses países, especialmente no que tange aos negócios. Siga a revista AméricaEconomia no twitter.com/brasil_ae, linkedin.com/company/brasil-americaeconomia e facebook.com/brasilamericaeconomia



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Entrevista | Tania Cosentino, presidente da Schneider Electric para América do Sul

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“Em eficiência energética, todos os países da América do Sul estão bastante atrasados” Presidente da Schneider Electric para América do Sul afirma que planos de eficiência energética no Brasil precisam entrar em pauta o quanto antes, visto que o país se comprometeu em inúmeras questões de sustentabilidade durante a COP 21, em Paris Por Beatriz Santos, de São Paulo

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ania Cosentino é técnica eletrotécnica e engenheira elétrica, trabalha desde os 16 anos na área. Hoje, ela é presidente da Schneider Electric para América do Sul, multinacional global de gestão de energia e automação. Em conversa com a AméricaEconomia, a executiva avalia a eficiência energética do Brasil e afirma que ainda há um longo caminho pela frente para que se chegue ao cenário ideal. Pouco foi feito até agora e o governo precisa elaborar medidas que acelerem o processo. Tania diz que a questão precisa entrar em pauta o quanto antes, visto que o país se comprometeu em inúmeras questões de sustentabilidade durante a COP 21, em Paris. E o cenário não é muito diferente na América do Sul. Ela também ressalta as políticas de inclusão e diversidade da empresa, e reforça que esta é uma agenda prioritária, bem como levar mulheres para cargos de chefia e eliminar a diferença de salário entre gêneros. “Mulher tem que saber o que quer, saber se planejar e

se projetar em posições grandes, é isso que nos falta”. Leia a entrevista. AméricaEconomia – Como avalia a eficiência energética no Brasil? Tania Cosentino – Nós podemos falar de potencial e podemos falar de realidade. AE – Como é o cenário nas duas situações? TC – O Brasil evoluiu bastante em ações voltadas para eficiência energética a partir do início dos anos 2000, quando sofremos o apagão. Desde então, aumentou-se a consciência para o tema de energia. Naquele período, várias empresas atualizaram seu projeto de iluminação, passando para lâmpadas LED, começaram a usar motores mais eficientes e equipamentos que tivessem o selo de eficiência energética. Hoje, quando avaliamos o potencial que o país tem de eficiência energética e o quanto ele é realmente aproveitado, vemos que existe um mundo de oportunidades pela frente. Eu fiquei

“Hoje, quando avaliamos o potencial que o país tem de eficiência energética, vemos que existe um

mundo de oportunidades pela frente”

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Entrevista

bastante esperançosa quando começaram as discussões para a COP 21 em Paris, onde os países apresentaram suas Intended Nationally Determined Contributions (INDCs), ou seja, suas intenções em relação à diminuição nas emissões de carbono. Naquele momento, o Brasil assumiu o compromisso de chegar a 10% de eficiência energética.

“O Brasil assumiu o compromisso de chegar a

10%

de eficiência energética”

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AE – Quais as medidas que devem ser tomadas para que o país avance? TC – Nós apresentamos para o Ministério do Meio Ambiente que o Brasil poderia buscar um plano mais ambicioso de chegar de 20% até 30% de eficiência energética. É bastante razoável, desde que tivéssemos um programa compreensivo que fosse lançado pelo próprio governo e que englobasse educação e conscientização, em primeiro lugar. É necessário trabalhar com todas as pessoas envolvidas, quer seja o público residencial, predial ou industrial, a começar pelo próprio governo, visto que o desperdício dentro dos prédios públicos é muito grande. É preciso estabelecer uma meta de redução. O governo diz que vai reduzir 10% do consumo de energia no país, e hoje ele pode até acreditar que chegou nesta meta em função da desaceleração econômica, porque nós estamos consumindo menos energia. Entretanto, isso acontece por conta de uma desaceleração brutal da economia e uma ociosidade brutal da indústria. Isso não pode ser considerado eficiência energética, porque na hora que retomarmos o crescimento, a energia passa a ser um fator crítico. O governo também deveria aproximar os agentes financiadores do tomador, pois todo projeto de eficiência energética requer um investimento, em maior ou menor grau, dependendo da situação da empresa ou da indústria. São essas discussões que nós temos levado ao governo em conjunto com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentá-

vel (CEBDS), que reúne executivos em torno de uma agenda sustentável com o objetivo de reduzir de forma efetiva as emissões de carbono e o aquecimento global, e o tema que eu tenho defendido é a eficiência energética. AE – O que já foi feito até agora? TC – Praticamente nada, porque estamos muito preocupados em resolver uma agenda política. Então toda a agenda de desenvolvimento econômico é secundária, infelizmente, e esse tema de energia não está sendo tratado. Talvez não esteja sendo tratado pela desaceleração econômica, visto que existe uma falsa impressão de economia de energia, o que não é o caso. AE – O Brasil tem potencial para ser eficiente energeticamente? TC – Existe um estudo da Agência Internacional de Energia que fala de potencial de eficiência energética dos países. O último estudo mostra que a Alemanha é o país que melhor usa o seu potencial de eficiência energética, chega a 65%. Quando analisamos o ranking, o Brasil está na 14ª posição, de um total de 15 países, e é o único país da América do Sul que está na lista. Isso significa que nós temos na nossa frente um potencial enorme para explorar. Estudos globais dizem que os edifícios podem chegar até a 82% de eficiência energética. A primeira coisa a se fazer é trocar a iluminação, às vezes trocar as janelas para ter uma melhora na isolação térmica ou na luminosidade. O grande vilão é a questão de aquecimento, ventilação e refrigeração. Se otimizar o ar condicionado, automatizar a iluminação, você garante conforto e eficiência. No mundo, a indústria tem um potencial que pode chegar em até 50% de eficiência. Pode-se começar a atingir esse potencial trocando os motores, as lâmpadas, os cabos, refinando e otimizando o processo.


AE – O Chile está mais avançado? TC –Todos os países da América do Sul, inclusive o Brasil, tem plano de inserção de renováveis. O Chile está mais avançado, começou a discussão antes com seus leilões específicos de eólico. Nós tivemos um grande avanço da fonte eólica no Brasil, também tivemos o leilão de solar. No ano passado não tivemos nenhum leilão de renovável no Brasil, mas tivemos o grande leilão das transmissoras, e eu acho que este foi um grande investimento no país, mas o Brasil precisa retomar, porque esta é uma questão que está dentro do plano apresentado nas contribuições comprometidas na COP 21. AE – O que é o imposto verde? Está funcionando no Chile? TC –O Chile lançou este ano um projeto que se chama Imposto Verde, que nada mais é do que precificar as emissões. No caso de uma empresa emitir um valor acima do permitido de CO2 equivalente, ela vai sofrer uma tributação adicional. Isso é de certa forma precificar o seu impacto e vai fazer, de forma indireta, com que as empresas busquem pro-

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AE – Como é o cenário na América do Sul? TC – Em eficiência energética, todos os países da América do Sul estão bastante atrasados. Nós não temos tantos planos concretos. A mesma coisa que está acontecendo no Brasil está acontecendo na Argentina, uma desaceleração econômica brutal levando as indústrias a uma ociosidade muito grande e, consequentemente, a uma redução de consumo. Só que a Argentina está sofrendo cortes de energia constantes, em uma economia que já não vai bem. A grande necessidade hoje do país é ter uma estabilidade, um melhor serviço e disponibilidade de energia, e a eficiência energética pode ajudá-los, porque ao consumir menos, gera-se um alívio imediato para que se dê tempo de fazer os investimentos necessários.

jetos de eficiência de operação e de eficiência energética. Não chega a ser um programa de eficiência energética, mas faz com que as companhias atuem neste sentido.

No mundo, a indústria tem um potencial que pode chegar em até 50% de eficiência energética

AE – E qual é a agenda do Brasil com as energias renováveis? A Schneider tem algum plano neste sentido? TC – O Brasil já é um país que tem uma matriz energética bastante verde, é praticamente bancado pelas usinas hidrelétricas. O país tem um compromisso com a inserção de energia eólica, solar e de biodiesel, e este último é um grande diferencial do nosso país. A Schneider não fabrica aerogeradores e placas solares, mas sim os equipamentos que vão conectar esses elementos geradores e a solução inteligente para navegar no grid. AE – Como a tecnologia pode ser utilizada para colocar em prática os planos de eficiência energética nas empresas e nas residências? Julho | 15


Entrevista

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TC – Uma coisa que nós temos discutido muito é como a tecnologia pode ajudar, quer seja no edifício, na infraestrutura ou na indústria. Com a internet das coisas e com o cloud tudo fica mais acessível. Vou te dar um exemplo, um grande hospital ou uma grande indústria pode ter sensores e dispositivos conectados em toda a instalação para ler em tempo real tudo o que está acontecendo. Pode ser um sensor de temperatura, um medidor de consumo de energia, um pressóstato, um medidor de consumo de água, enfim. A partir daí é possível ter uma leitura de tudo o que acontece na planta em tempo real. Então, eu levo essa informação para uma camada de controle onde eu posso operar e controlar o empreendimento de forma remota e ainda gerar informações através de softwares e aplicativos

analíticos. Com essas informações relevantes eu posso tomar decisões de negócios. Isso é o que hoje a Schneider chama de EcoStruxure™, que é uma plataforma aberta onde são conectados todos os dispositivos de controle e que leva essas informações para uma camada de controle e supervisão em softwares analíticos. Posso fazer todo o gerenciamento de ativos maximizando a tecnologia, inserindo realidade aumentada, inteligência artificial e tudo o que tem hoje de novo na tecnologia. AE – Vocês têm algum plano de investimentos agora para o país? TC – Nós temos investido em novas ofertas. Eu não posso falar em números, porque a gente não revela. A Schneider de forma global investe 5% do seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento todos os anos. Temos investido de forma brutal em produtos que consideramos green premium, ou seja, produtos verdes ou aqueles que, desde o conceito, consumem o mínimo de matéria-prima possível, que vão ser reciclável e que vão gerar um impacto positivo com a sua aplicação. Esses produtos também têm que ser conectáveis, para que se possa operar de forma remota. Esta é a forma como a gente está direcionando os nossos investimentos. AE – Como você avalia a entrada da China na geração e distribuição de energia no Brasil? TC – O Brasil hoje está atraindo investidores. Quando existe uma desvalorização da moeda, como nós estamos tendo nos últimos anos, o país fica mais barato sob a perspectiva do investidor global. É um país que passa por uma crise muito forte, mas é um país de grande potencial e é aberto a novos investimentos. Quem tiver dinheiro, apetite de risco e visão de longo prazo pode investir no nosso país. Não tenho nada contra investimentos estrangeiros, desde que eles desenvolvam a indústria local. Se a China vier para cá, vai gerar empregos no Brasil, e eu só tenho a agradecer.

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Espero que o Brasil seja um país que inspire confiança dos investidores estrangeiros, porque o que está fazendo falta atualmente para o nosso país são investimentos. Não tenho nenhum preconceito contra chinês, contra americano, contra a capital estrangeiro de uma forma geral, desde que seja um investimento de longo prazo e não oportunista, para desenvolver a indústria e a infraestrutura brasileira. AE – Recentemente vocês assinaram a carta compromisso de participação no Projeto de Empresas, Organizações e Sindicatos Comprometidos com os Direitos Humanos da população LGBTIQ. Vocês têm alguma política de diversidade dentro da empresa? Seguem alguma recomendação internacional? TC – Sim, a Schneider é uma empresa onde diversidade e inclusão fazem parte do DNA, estão dentro dos valores da companhia. Queremos ter um ambiente aberto, onde a gente respeita o outro. A Schneider é uma empresa de quase 200 anos e nós estamos presentes em mais de 100 países no mundo, já temos esse lado de possuir múltiplas nacionalidades, é muito natural para nós. Essa abertura traz uma riqueza muito grande para o nosso negócio. Agora, estamos buscando a diversidade de um modo mais amplo, estamos estendendo um pouco para outras minorias. Fizemos uma parceria aqui no Brasil, no Chile e na Argentina há duas semanas e formamos um acordo para o respeito ao direito LGBT. O que eu quero quando firmo um acordo como esse nada mais é do que respeitar todas as pessoas que trabalham dentro da minha empresa ou na minha cadeia. Eu tenho que oferecer as mesmas condições e as mesmas oportunidades. Isso parece básico, mas não é realidade em todas as empresas do mundo. Nós até tentamos ser uma voz do tema, eu tento ser uma voz e outros executivos tentam ser as vozes. Vamos trabalhar pouco a pouco, inserindo todas as minorias para que todos

tenham igual espaço e para que a empresa represente internamente a demografia igual à da região a qual ela está inserida. Um dos grandes temas que vamos trabalhar esse ano e dar um pouco mais de foco é o tema racial. Quando analisamos o Brasil, mais de 53% da população é negra e não percebemos isso refletido dentro das heranças das companhias brasileiras, inclusive da Schneider. Sim, diversidade e inclusão é um tema prioritário para nossa companhia. A gente acredita que isso é um tema de sustentabilidade para o negócio. Diversidade e inclusão trazem engajamento, inovação, atração de novos talentos e novas perspectivas. Evoluímos bastante e temos um plano muito sólido para diversidade de gênero. AE – Vocês também têm uma agenda forte na questão da igualdade de gênero. TC – A Schneider é uma empresa de tecnologia e, predominantemente, tem mais engenheiros homens do que mulheres. Em faculdades de engenharia, dependendo do país, o número de mulheres varia de 10% a 30%, apenas. Nós já há alguns anos assumimos um compromisso formal de trabalhar a diversidade de gênero. Esse foi um trabalho que começou de uma maneira mais forte e mais estruturada desde 2008. Começou por Jean-Pascal Tricoire, CEO global, que tem a agenda de gênero como uma prioridade dele. Eu posso te dizer que o tema da mulher está avançando bem e a gente tem uma série de ações em prática. É um plano coordenado onde temos a meta de incluir mulheres na liderança da companhia e o objetivo de eliminar a diferença salarial entre homens e mulheres. Na minha crença, se você tem foco, disciplina e capacidade de execução, você é capaz de ir longe. Nós, como mulheres, temos que saber o que queremos, saber se planejar, se projetar em posições grandes e ver qual caminho que temos para chegar lá, é isso que nos falta.

“Não tenho nada contra investimentos estrangeiros, desde que eles desenvolvam a indústria local. Se a

China vier para cá, vai

gerar empregos no Brasil, e eu só tenho a agradecer”

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Movimentos

Amazônia: adeus, foi bom enquanto durou O aumento do desflorestamento no Brasil, propiciado pelo governo atual, arrisca arruinar a economia do país em duas ou três décadas se o “efeito Austrália” de fato ocorrer

E

m fevereiro deste ano, usando os dados do The Monitoring of the Andean Amazon Project (Maap), a entidade ambientalista Mogabay registrou que o Peru perdeu 1,8 milhão de hectares de bosques amazônicos entre 2001 e 2015. Apesar da cifra enorme, é ainda pior a cifra referente ao aumento ao leste da fronteira peruana: em 2016 o desflorestamento aumentou 29% nessa região (8.000 km² ao ano) e, ao final de maio, o Senado brasileiro votou a favor de que 480 mil hectares da Floresta Nacional de Jamanxim, no Estado do Pará (que possui 1,3 milhão), com isso, perdendo sua condição de protegidas para passar a mãos privadas. Isso só não irá ocorrer se o presidente Temer vetar a lei, proposta por membro de seu próprio partido. Dos 480 mil hectares, 320 mil são, no entanto, apenas bosques, porque a reserva já estava em parte ocupada por latifúndios irregulares. Ocorre que as ocupações de terrenos em parques nacionais brasileiros aumentaram, diante da expectativa de novas desapropriações. A previsão é que outro meio milhão de hectares passem para mãos privadas no médio prazo. Por todo o Brasil, a aliança denominada “bancada ruralista”, de cerca de 150 a 170 deputados, os criadores de gado e as autoridades locais buscam desmontar a regulamentação e expandir a fronteira agrícola em toda a costa, mesmo com o compromisso anterior de não fazê-lo. No Estado de Mato

Grosso, por exemplo, o governo anunciou um estudo de dois anos para determinar se elimina, ou não, o Parque Estatal Serra Ricardo Franco, de 158 mil hectares, 25% dos quais já estão sem árvores e ocupados. O problema é que a reserva foi criada graças a um empréstimo do Banco Mundial, de US$ 250 milhões. Ela deveria ter 400 mil hectares. Ao final, acabou tendo apenas a metade. Deveria ser usada para pesquisa e compensar os ocupantes que já viviam em 20 mil hectares. Nada disso foi feito. Parece que o dinheiro simplesmente foi roubado. Atualmente, 240 mil cabeças de gado pastoreiam no parque virtual, como chamam os lugares que a gigante brasileira JBS estaria comprando. A companhia respondeu às acusações afirmando que suspendeu as aquisições assim que a denúncia formal foi feita e que faz auditorias com seus provedores. Por que tudo isso é relevante? Ao menos 20 milhões de toneladas de água são transpiradas a cada dia para a atmosfera pelas árvores da floresta amazônica e seus efeitos benéficos vão desde o sul da Colômbia e Venezuela até os arredores de Buenos Aires. O cientista brasileiro Antonio Nobre previu que, quando o desflorestamento superar certo nível, deve ocorrer um “efeito Austrália”. A América do Sul vai se converter em um grande deserto interior, com zonas costeiras úmidas de clima intenso e instável. O que fará a bancada ruralista brasileira, quando isso ocorrer? Talvez imigrem para os Estados Unidos, como pretende fazer a JBS. O resto de nós, sul-americanos, devemos ficar por aqui.

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O retorno ao caminho do crescimento

A recuperação das exportações na América Latina no primeiro trimestre é uma ótima mudança de tendência, mas é notável a dependência em relação à China

A

s exportações da América Latina e do Caribe cresceram 17% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2016. Não é pouco, ainda mais quando levado em conta que, no mesmo período de 2016, foi registrada uma queda de 2,9%. Dessa forma, teve fim “a mais longa recessão comercial na história recente da região”, de acordo com o último relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sobre o tema. Um dos principais motivos para a mudança foi o aumento dos preços de algumas matérias-primas, o que aponta para uma melhora do crescimento e da demanda da Europa, da força da economia dos EUA e da tração chinesa. Sem dúvidas, muitas nações da região agora dependem da demanda chinesa. Nas palavras de Paolo Giordano, economista principal do Setor de Integração e Comércio do BID e coordenador do relatório, “a China absorve ao redor de 40% da produção mundial de cobre e tem peso fundamental na determinação do preço desse metal. Chile e Peru fornecem mais de 50% desta demanda”. O lado bom desse gigantismo, diz Giordano, é que “a China está assumindo um papel cada vez mais importante nos mercados de maior valor agregado, como por exemplo o do vinho, no qual a região é competitiva. A nação asiática se tornou, recentemente, o maior consumidor mundial e o quarto maior importador global”. Também existe a possibilidade de que a região se beneficie de outra iniciativa chinesa: a Rota da Seda. “Trata-se de uma série de investimentos em infraestrutura que teriam efeitos expansivos nas economias asiáticas e, por tabela, na demanda e nos preços das commodities exportadas pela região”, afirma Giordano. A dependência deve se tornar maior na medida em que a América Latina não melhore o seu comércio interno e continue negligenciando a necessidade de sofisticar sua oferta de bens exportados, afirma o BID. Uma velha “lição de casa” que a região sempre acaba esquecendo. AméricaEconomia Internacional Maio | 19


Oferecimento:

Moderador

Notas & Notinhas

Livro

Retomada do Crescimento – Diagnóstico e Propostas

O livro traz textos assinados por 38 autores e foi organizado pelos economistas Fábio Giambiagi e Mansueto Almeida. É uma coletânea de reflexões sobre o Brasil no período atual e ideias para a superação dos seus principais problemas a partir de 2019, após as eleições. O ponto de partida do título é o período pós-impeachment, quando veio à tona a necessidade de o país colocar em prática a agenda das reformas. Levando em conta as incertezas nacionais e internacionais, os autores apresentam alternativas viáveis em várias áreas para o país superar o atual momento de estagnação e retomar o crescimento de forma sustentável e duradoura. Entre os especialistas que escrevem, Marcos Lisboa e Alexandre Scheinkman destacam, em capítulo sobre as causas da baixa produtividade no Brasil, a relevância da qualidade da educação para o aumento de renda do trabalhador, o crescimento econômico e ganhos de produtividade. Eles também ressaltam a necessidade de uma ruptura com a política nacional-desenvolvimentista, baseada na distribuição de subsídios e proteção setorial. O Príncipe - uma biografia não autorizada de Marcelo Odebrecht Marcelo Cabral Regiane Oliveira Editora: Astral Cultural

O livro escrito pelos jornalistas Marcelo Cabral e Regiane Oliveira traça o perfil do empresário, preso em 2015 na Operação Lava Jato. É retratado como uma pessoa discreta, avessa à ostentação, que deu emprego a quase 200 mil pessoas, pagou bilhões de reais em impostos e levou um dos maiores grupos empresariais do país a uma era de ouro. No título, os autores mostram que a vida do presidente do grupo Odebrecht é um desfile de paradoxos. O empresário respeitável, condenado como líder de quadrilha, amado pelos funcionários é também temido pelos políticos. Um príncipe que se sentia como o bobo da corte da República. A Crise das Esquerdas

Aldo Fornazieri Carlos Muanis Editora: Civilização Brasileira

Há uma crise da esquerda no mundo atual? O que significa ser de esquerda? Como a esquerda pode contribuir num cenário de instabilidade econômica e política no Brasil e no exterior? É para responder a essas e outras pertinentes questões que Aldo Fornazieri e Carlos Muanis organizaram "A Crise das Esquerdas", um livro que traz importantes e nem sempre consensuais reflexões sobre o mundo contemporâneo. Para Muanis, o desafio não é apenas da esquerda, embora atinja esse campo ideológico com mais força: "A crise é ideológica, política, ecológica, ética, de valores, lideranças e sentidos, ou seja, uma crise civilizatória".

20 | AméricaEconomia

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Fábio Giamgiagi Mansueto Almeida Editora: Elsevier



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Tecnologia

Transferência bancária via QR Code O A função batizada de “Pagar ou Receber” foi apresentada pela instituição no Congresso e Exposição de Tecnologia da Informação das Instituições

Financeiras 22 | AméricaEconomia

Banco do Brasil (BB) vai disponibilizar uma ferramenta para facilitar a transferência de recursos para a conta bancária de terceiros, capaz de enviar dados bancários por meio de códigos QR (padrões com informações lidas por câmeras fotográficas) e redes sociais. A função batizada de “Pagar ou Receber” foi apresentada pela instituição no Congresso e Exposição de Tecnologia da Informação das Instituições Financeiras, organizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em junho. O cliente que receberá os recursos entra no aplicativo do banco e informa o valor e a data da transação. O sistema vai gerar um código QR que pode ser fotografado por quem vai fazer o paga-

mento. O destinatário apenas digita a senha da conta corrente e confirma a transferência. Se as pessoas que forem realizar a transação não estiverem perto, o recebedor do dinheiro fará o mesmo procedimento, mas, em vez de o aplicativo gerar um código QR, vai gerar um link criptografado, que pode ser enviado ao pagante por SMS, aplicativo de mensagens ou redes sociais. Ao abrir o link, a pessoa que fará a transferência novamente digita a senha e confirma a operação. Inicialmente disponível em versão beta (de teste), a ferramenta está prevista para ser liberada a todos os correntistas do banco neste mês de julho. AméricaEconomia Brasil


Oferecimento:

BNDES quer impulsionar mercado de games O

mercado de games está aquecido no país, e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) quer impulsionar o segmento. No último mês de junho, o banco aprovou um financiamento de R$ 2,6 milhões para a empresa de tecnologia Sioux para expandir o mercado interno de serious games (jogos como dispositivos educacionais para quaisquer faixas etárias e situações diversificadas). O plano de investimentos 2016-2018 da companhia tem o valor total de R$ 5 milhões. O apoio do BNDES corresponde a 51% do investimento total. No Brasil, a base produtiva da indústria de jogos digitais é formada por micro e pequenas empresas, em sua maioria. Um estudo desenvolvido pela USP em 2014, com 133 empresas nacionais, apontou que 75% delas declararam receita anual inferior a R$ 240 mil. O projeto da Sioux ampliará em 50% os postos de trabalho na empresa, em áreas

como planejamento, design de jogos, projeção gráfica 3D, programação, suporte, gerenciamento de projetos e assessoria de imprensa, entre outras. AméricaEconomia Brasil

Nova função reportada à frente

U

ma nova função do aplicativo Waze, para o sistema iOS, permite que os usuários utilizem a própria voz nos comandos de navegação do GPS. Comandos como “mantenha-se à direita” ou “radar semafórico reportado à frente” podem ser gravados pelo aplicativo e utilizados como a voz padrão. Nas configurações, o usuário é guiado por todas as etapas para que as gravações sejam feitas. Agora, todo mundo pode ser a mulher do GPS. AméricaEconomia Brasil

Julho | 23


SHUTTERSTOCK

Tecnologia | Aplicativos

Cinco aplicativos para facilitar a vida empresarial

A

Por Beatriz Santos, de São Paulo

tecnologia dos aplicativos pode ser uma aliada na gestão das empresa e na execução de inúmeras tarefas. Tanto o smartphone quanto o tablet se tornaram ferramentas de traba-

lho no mundo corporativo. Selecionamos cinco aplicativos para dispositivos móveis que podem ajudar a vida dos empresários e a gestão das companhias.

Wrike

Software de gestão de trabalho em tempo real

O Wrike é uma ferramenta capaz de aprimorar o planejamento de projetos e a colaboração em equipe. Dentro do aplicativo é possível criar, atribuir e agendar tarefas, discutir o trabalho com a equipe de forma remota, ajustar a linha do tempo do projeto direto no dispositivo que estiver usando, anexar imagens e arquivos ao plano de projeto diretamente do telefone, Google Drive ou Dropbox, tirar fotos diretamente da visão da tarefa para anexá-las instantaneamente, verificar a lista de afazeres e manter-se atualizado com notificações automáticas personalizadas. O app está disponível para os sistemas iOS e Android, tem a opção de download gratuito e disponibiliza planos pagos mensais, de acordo com o tamanho da equipe. 24 | AméricaEconomia


NF Paulistana

Aplicativo de emissão de notas fiscais para smartphones

O aplicativo da Nota Fiscal Paulistana, da Prefeitura de São Paulo, permite a emissão de notas fiscais pelo celular ou tablet e pode ser utilizada tanto pelos prestadores de serviços quanto pelos tomadores. A ferramenta tem a opção de localizar os 309 mil estabelecimentos prestadores de serviços cadastrados no programa. É gratuito e está disponível para os sistemas iOS e Android.

B3 Cotações

Aplicativos para acompanhar as cotações de ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo

Com o app B3 Cotações, da B3 S.A. – Brasil, Bolsa, Balcão, é possível acompanhar as cotações de ações negociadas na Bolsa e todos os índices da B3, em tempo real. O usuário pode cadastrar seus portfólios e conferir as variações de suas carteiras de ações, salvar os portfólios e usá-los em outros aparelhos, acompanhar a variação histórica de ações e índices, visualizar a oscilação das ações, índices e derivativos por meio de novos gráficos interativos, comparar a variação histórica do Ibovespa com outros ativos da Bolsa, entre outras funções. Ferramenta disponível apenas para sistema Android.

Greengow – Tradutor de Ligações e Chat Internacional Aplicativo que faz a tradução simultânea de chamadas de voz

O Greengow é um aplicativo de voz com tradução de chamadas em tempo real. Também é possível fazer áudio conferência com mais de uma pessoa de nacionalidades diferente na mesma chamada, e o app fará a tradução para todos, além de poder enviar mensagens de texto, com o tradutor de texto já detectado de forma automática. Atualmente, o app traduz para dez idiomas: inglês, português (brasileiro), francês, espanhol, alemão, italiano, japonês, coreano, chinês e russo. O aplicativo é gratuito nas funcionalidades de tradução simples e chats. Ao utilizar o app, o usuário recebe “Greens” para traduzir ligações, e pode adquirir mais por meio de compra de pacotes. Disponível para iOS e Android.

Vexpenses Reembolsos

Aplicativo de reembolso e gestão das despesas de viagens corporativas

A ferramenta Vexpenses facilita a captura, o agrupamento, a aprovação e o reembolso de despesas de viagens corporativas. O processo é simples: fotografar e armazenar as notas fiscais de despesas corporativas. Também é possível organizar as despesas em centros de custos, relatórios e projetos, criar equipes e selecionar um ou mais aprovadores dentro da empresa, cadastrar limites para cada tipo de gasto, criando políticas diferentes para cada departamentos, aprovar reembolsos de despesas feita pelo celular e extrair relatórios personalizados. O app possui um plano de teste de 30 dias, e o usuário será cobrado apenas se decidir continuar utilizando o serviço. Disponível para Android e iOS. Julho | 25


Tecnologia com sangue latino Setor de tecnologia se expande na região. Cento e vinte empresas representam um valor total de US$ 37 bilhões

A 26 | AméricaEconomia

123RF

123RF

Negócios | Startups xxxxx

Por Victor Hugo Carreño

América Latina não é apenas um celeiro de commodities, ela também cria tecnologia… e tecnologia avançada. Empresas tecnológicas têm cruzado fronteiras na região nos últimos tempos. O primeiro relatório “Tecnolatinas, América Latina e o Tsunami da Tecnologia”, elaborado pelo fundo de investimento NXTP Labs e a consultoria Surfing Tsunamis, com o apoio do Fundo Multilateral de Investimentos (Fomin-BID), menciona 123 empresas que foram denominadas tecnolatinas pelo seu alcance internacional. De mais de 5.000 tecnolatinas identificadas durante a pesquisa, o relatório selecionou 123 que, juntas, valem US$ 37 bilhões. A escolha se baseou no fato de valerem mais de US$ 25 milhões e foram classificadas de acordo com o patamar em que se encontram (ver a lista e a metodologia). Entre as tecnolatinas estão Despegar, Mercado Livre, OLX, Linio, Open English e Easy Taxi, nomes já bem conhecidos na região.

Do total dessas empresas, 48% são brasileiras, 19% argentinas e 14% mexicanas. Colômbia e Chile aparecem com 7% cada um e o Equador, 2%. Segundo o relatório, as tecnolatinas têm aumentado seu volume nos últimos dez anos por causa do boom tecnológico. Das 123 empresas, 67% foram criadas neste período. Os baixos custos para desenvolver uma empresa do setor de tecnologia (em relação a uma com processos industriais ou serviços tradicionais), somados à necessidade de resolver problemas relacionados a transporte, educação ou segurança na informática, levou as tecnolatinas a um grande impulso na última década, aponta Marta Cruz, diretora do NXTP Labs e coautora do relatório. “Na década de 1990, para criar uma companhia tecnológica, apenas para comprar os computadores e iniciar os negócios estaríamos falando de cifras milionárias. Nunca ficava abaixo de


Os primeiros passos Embora as tecnolatinas avancem, a região segue distante de outros países. O relatório detalha que as startups latino-americanas faturaram US$ 600 milhões em 2015, enquanto as de Israel faturaram US$ 3,6 bilhões no mesmo período. “Ainda há muito a ser feito, sobretudo atrair capital e dinamizar o ecossistema de investimento; precisamos aumentar os investimentos”, afirma Marta Cruz, da NXTP Labs. Há talento latino, mas esse talento precisa de fundos para que suas ideias se materializem. Susana García-Robles, assessora sênior e líder de Fundos de Venture Capital no Fomin-BID, indica que na região faltam fundos de capital de risco (para financiar startups em fase de crescimento) que apoiem programas de empreendedores em diferentes etapas, desde capital inicial até fases posteriores.

LATAM AUTOS

E os próprios governos, afirma, devem implementar sistemas para investir nesses fundos. O Fomin-BID tem seus próprios planos para o fomento a startups. Cada ano são destinados de US$ 15 milhões a US$ 20 milhões para fundos de Venture Capital. A entidade investe há 23 anos em 70 fundos que já beneficiaram 660 empresas. Além disso, está fazendo empréstimos de forma seletiva se há um segmento estratégico grande e se o setor privado não pode proporcionar essas quantias. Já financiou companhias tecnológicas, agrícolas, educação, energia e saúde.

Faltam fundos de capital de risco para financiar

startups em fase de crescimento que apoiem programas de empreendedores

Do Equador para a região Embora ainda esteja longe dos outros países, o Equador aparece na lista das tecnolatinas com duas empresas que aproveitaram a oportunidade de cruzar fronteiras. A Latam Autos começou suas

O Radar das Tecnolatinas As empresas (de acordo com o patamar de valor) são apresentadas em ordem alfabética

MAIS DE US$ 1 BILHÃO

US$ 1 milhão. Por outro lado, se o modelo de negócio fosse provado e se a plataforma ficasse conhecida, os meios de comunicação disponíveis eram caros (revistas ou jornais). Hoje em dia os custos são menores por termos informação na nuvem e por causa da publicidade via Facebook ou Google”, explica Cruz.

US$ 50-100

EMPRESA

PAÍS

B2W Crystal Lagoons Despegar Globant Kio Networks Mercado Livre OLX Softtek TOTVS

Brasil Chile Argentina Argentina México Argentina Argentina México Brasil

Etermax Hotel Urbano Linx Netshoes Nubank Taringa UOL

Argentina Brasil Brasil Brasil Brasil Argentina Brasil

Patamar de valor das companhias, segundo o informe de tecnolatinas

Juan Esteban Sáenz, gerente da Patiotuerca, empresa equatoriana que faz parte da Latam Autos

DE US$ 500 MILHÕES A US$ 1 BILHÃO

milhões

Julho | 27


Negócios

Rendimentos da Patiotuerca chegaram a

US$ 8 bi , segundo dados da Latam Autos

operações em 2014, mas foi o resultado de uma iniciativa que começou há 10 anos como Patiotuerca.com (nome comercial que ainda se mantém no Equador). Neste site, o usuário pode encontrar carros à venda como se fosse uma seção de classificados. Em 2013, Patiotuerca.com passou a integrar o Grupo Céntrico e, um ano depois, os australianos Tim Handley e Gareth Bannan fizeram uma proposta a Jacobo Moreno, fundador do site, para expandir o Patiotuerca. Para isso, foi feita uma oferta pública (Initial Public Offering - IPO) na bolsa de valores da Austrália que permitiu obter um fluxo de capital para a compra de portais de vendas de automóveis no Argentina, Bolívia, México, Pa-

LOCATIONWORLD

US$ 25-50 milhões

Patamar de valor segundo o estudo de tecnolatinas

Antonio Morales Ortega, gerente-geral no Equador da LocationWorld 28 | AméricaEconomia

namá e Peru para que formassem uma grande corporação, explica Juan Esteban Sáenz, gerente da Patiotuerca. Esse fluxo de capital, que menciona Sáenz, foi de cerca de US$ 40 milhões, destinados ao início das operações em cada país, e assim foi formada a Latam Autos, onde Handleu é o presidente da diretoria de portais. Em 2015, os rendimentos da corporação chegaram a US$ 8 bilhões, segundo dados da Latam Autos. As receitas provêm da venda de anúncios nos portais. No caso do Equador, Saenz explica que existem três tipos de anúncios que variam de acordo com a sua localização: US$ 19,99, US$ 34,99 e US$ 59,99. Todos são ilimitados, até que o veículo seja vendido. O gerente também destaca que a Patiotuerca desenvolveu novos serviços, como o chat online, para que o comprador e o vendedor interajam em tempo real, e uma plataforma de automóveis usados em uma parceria com o Banco Pichnincha, que por sua vez faz um empréstimo (processado no mesmo site) para a compra do veículo. O aluguel como negócio Quatro anos após a Patiotuerca aparecer na internet pela primeira vez, a LocationWorld fez sua incursão. A empresa oferece produtos e serviços relacionados à geolocalização. Antonio Morales, gerente-geral no Equador, afirma que alguns sócios usaram seus próprios capitais para erguer a empresa em 2008. Dois anos depois, fizeram um novo levantamento de capital (o valor não foi divulgado). Entre os serviços da LocationWorld estão a geolocalização de pessoas, gestão de frotas e o mais recente é o aplicativo Carsync, que permite uma interação entre o proprietário e o seu veículo (localização do carro, passeios, pontuações derivadas de infrações, abrir portas de forma remota, bloquear o veículo, solicitar assistência rodoviária, etc). Em 2015, a empresa começou a exportar seus produtos e serviços para o Argentina,


Colômbia, México, Peru e Uruguai. “E estamos em processo de iniciar operações na Colômbia, no Peru e no México desde o fim do ano passado, para desenvolver o mercado em cada país, de forma direta ou com parceiros comerciais”, afirma Morales. O gerente confia nas oportunidades de crescimento da empresa. Ele cita que, na América Latina, 7 em cada 10 carros não estão ligados a um sistema de rastreamento e geração de dados. De acordo com a Superintendência de Empresas, a receita da LocationWorld chegou a quase US$ 3 milhões em 2015. Em relação às exportações de bens e serviços, o valor foi de US$ 185 mil. Os negócios na área de tecnologia movimentam milhões de dólares, mas não apenas isso: também resolvem problemas. Esse é o motivo de seu êxito. O relatório observa que as tecnolatinas se concentram na internet, mas muitas vão mais longe. “Elas focam em espaços onde há fricção local (ou seja, necessidade de distribuição, contratos e soluções de pagamento). Criam valor desenvolvendo inovações que serão usadas pelos players globais, acelerando a penetração de soluções na região”.

DE US$ 100 MILHÕES A US$ 500 MILHÕES

EMPRESA

PAÍS

EMPRESA

PAÍS

3D Robotics 99Taxis ArchDaily ASPEL Beleza Na Web BestDay Buscapé Dafiti Dress & Go Open English GuiaBolso iCarros Linio VivaReal Easy Taxi iFood IguanaFix Intelisis

México Brasil Chile México Brasil México Brasil Brasil Brasil Venezuela Brasil Brasil México Brasil Brasil Brasil Argentina México

Intergrupo InvertirOnline LANIX Navent Onapsis Pagar.me PedidosYa Pitzi Printi PriceTravel PSafe Qubit.tv Satellogic Scanntech YellowPepper Webmotors Zap.com.br

Colômbia Argentina México Argentina Argentina Brasil Uruguai Brasil Brasil México Brasil Argentina Argentina Uruguai México Brasil Brasil

• Para identificar as empresas tecnolatinas foram consultadas diversas fontes, incluindo Crunchbase, LAVCA, AngelList, DealBook, entre outras. Além disso, 20 especialistas e investidores da região foram consultados para identificar as empresas mais valiosas em seus setores.

METODOLOGIA

A LOCATIONWORLD COMEÇOU A EXPORTAR PARA O ARGENTINA, COLÔMBIA, MÉXICO, PERU E URUGUAI E DEVE INICIAR AS OPERAÇÕES NA COLÔMBIA, PERU E MÉXICO, SEGUNDO ANTONIO MORALES, GERENTE-GERAL DA LOCATIONWORLD NO EQUADOR

• Para calcular o valor de cada empresa, foi levado em conta o total de capital levantado na sua última rodada de investimentos divulgada publicamente à imprensa, a mesma que tem sido multiplicada por um número de acordo com o estado de desenvolvimento da empresa (quanto mais avançada a série, maior é o múltiplo, o que implica tipicamente menos sessão de equity da empresa). Quanto às receitas da empresa, foram aplicados critérios consistentes com o setor ao qual a empresa pertence. Posteriormente, a lista foi compartilhada com mais de vinte especialistas na região para sua devida validação. • Algumas empresas provavelmente não fazem parte deste radar. As informações no ecossistema de startups na América Latina frequentemente são escassas. Além disso, algumas empresas nunca tiveram de passar pelo processo de levantar uma rodada de capital de risco. Fonte: Relatório “Tecnolatinas, América Latina no Tsunami da Tecnologia” elaborado pelos fundos de investimento Surfing Tsunamis e NXTP Labs

Julho | 29


Opinião | Economia

A

meta de inflação no Brasil voltou a ser reduzida. Depois de 14 anos em 4,5% (de 2005 a 2018) a meta de 2019 foi fixada em 4,25% e a meta de 2020, em 4,0%. Num contexto de inflação baixa, dado que neste ano deve ficar abaixo de 4%, reduzir a meta em direção aos valores praticados nos demais países emergentes que adotam o sistema de metas é positivo, mas existem riscos importantes de não cumprimento no futuro. O sistema de metas de inflação foi adotado no Brasil em 1999, em substituição ao regime de bandas cambiais que entrou em colapso pela falta de reservas cambiais. Com uma meta inicial de 8% para 1999, o sistema de metas teve bastante êxito em evitar que um processo inflacionário crônico voltasse,

mas pecou ao tentar reduzir rapidamente a taxa de inflação. Cumprimos a meta em 1999 e 2000, mas não cumprimos nos três anos seguintes, com a inflação chegando a 12,5% em 2002, no contexto da forte depreciação cambial em função das incertezas com a eleição de Lula. O governo Lula manteve o sistema de metas de inflação, mas se contentou com uma convergência da meta e da inflação para 4,5%. Em 2006 a inflação ficou bem abaixo da meta, em 3,1%, e foi cogitada a possibilidade de voltar a ter um processo de redução da meta em direção a valores internacionais. A discussão não avançou e a meta foi mantida em 4,5% para os anos seguintes. No governo Dilma a meta também seguiu em 4,5%, mas o governo passou a usar a banda, permitindo que a inflação ficasse mais perto de 6,5%, o teto da banda, em toda a sua gestão. O governo Dilma também passou a controlar ou reduzir preços administrados, desvirtuando o sistema de metas de inflação, tratando de manter a taxa de juros artificialmente baixa. Mas desde 2015, temos uma correção e volta à nor-

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Redução da meta de inflação e seus riscos malidade no campo inflacionário. Em 2015 a inflação voltou a ficar elevada, em 10,7%, justamente pela correção nos preços administrados. Somente o item energia elétrica subiu em torno de 60% naquele ano.

2019, 2020 e os anos seguintes diz respeito ao quadro fiscal. Se o país não resolver seu atual desequilíbrio entre receitas e despesas, a solução mais simplista passa por voltar a ter emissão monetária. E emissão monetária

REDUZIR A META EM DIREÇÃO AOS VALORES PRATICADOS NOS DEMAIS PAÍSES EMERGENTES QUE ADOTAM O SISTEMA DE METAS É POSITIVO, MAS EXISTEM RISCOS IMPORTANTES DE NÃO CUMPRIMENTO NO FUTURO Hoje a inflação está bem mais baixa. Neste ano, o choque favorável nos preços dos alimentos juntamente com a impactos da crise econômica nos preços dos serviços vão permitir que a inflação fique abaixo de 4%. Uma dinâmica parecida se espera para 2018. Mas e depois? Sem choque favorável dos alimentos e com uma volta da atividade econômica, a inflação pode voltar a subir. Mas o maior risco quando se olha

gera um quadro de inflação crescente. Assim, é fundamental para o cumprimento das novas metas de inflação aprovar uma Reforma da Previdência que corrija os atuais desequilíbrios fiscais. Se este governo não aprovar ou aprovar uma reforma diluída, esta terá que ser feita em 2019. Se não for agora e nem depois, certamente voltaremos a ter uma conjuntura de não cumprimento das metas de inflação.

Juan Jensen - Doutor em economia pela USP, sócio da 4E Consultoria e professor do Insper (jensen@4econsultoria.com.br) 30 | AméricaEconomia





Mercado | Consórcios

Nos cinco primeiros meses deste ano, a procura pelos sistemas de consórcios aumentaram 24,7% sobre os resultados do mesmo período de 2016, ultrapassando o valor de R$ 36 bilhões. Sinais que enviesam a tendência de crescimento do setor estão relacionados com a mudança de comportamento dos clientes que buscam opções mais econômicas para a aquisição de bens e serviços

Menos imediatismo, mais planejamento 34 | AméricaEconomia


Julho | 35

RS TO CK

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Mercado

Os consórcios ressurgem como opções viáveis para quem pretende adquirir um bem de forma planejada, com custos menores e

prazos mais longos

36 | AméricaEconomia

a busca por alternativas para adquirir bens e serviços, os consumidores brasileiros que assistiram nos últimos anos o encolhimento e a seletividade para a liberação de crédito reconsideraram a maneira de como lidar com as questões do consumo imediato, fazendo alterações em seu comportamento financeiro frente às necessidades futuras. Neste contexto, os consórcios ressurgem como opções viáveis para quem pretende adquirir um bem de forma planejada, com custos menores e prazos mais longos. Uma das principais vantagens se dá pelo fato de não haver cobrança de juros e, sim, de uma taxa administrativa diluída ao longo do tempo de duração do grupo de consorciados, onde os custos finais são bastante inferiores à outras modalidades disponíveis no mercado. Segundo dados da Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios (Abac), de janeiro a maio deste ano, o acumulado de vendas de consórcios chegou a 912,5 mil ao crescer 7,8% sobre o total do mesmo período do ano passado, quando atingiu 846,3 mil. O fechamento de negócios em consórcios ultrapassou os R$ 36,30 bilhões, registrando aumento de 24,7% sobre os R$ 29,11 bilhões de 2016. O tíquete médio de R$ 40,7 mil em maio, um dos fatores da evolução dos negócios no mês, foi 10,6% superior aos R$ 36,8 mil contabilizado no quinto mês de 2016. A exemplo dos quatro primeiros meses deste ano, as adesões em maio voltaram a apresentar crescimento em cinco dos seis setores – veículos automotores leves e pesados, imóveis, serviços e eletroeletrônicos e outros bens móveis duráveis – com destaque para serviços, que manteve a liderança, com alta de 113,6%. Na sequência vieram eletroeletrônicos e outros bens móveis duráveis com 28,4%; veículos leves com 19%; imóveis com 12,7% e veículos pesados com 11,5%. Somente o setor de motocicletas manteve percentual negativo de 6,1%.

FOTOS DIVULGAÇÃO

N

Por Felix Ventura, de São Paulo

Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da ABAC

Na avaliação semestral do ano passado, as vendas no segundo semestre cresceram 24,5% em relação ao primeiro semestre, passando de 1,02 para 1,27 milhão de adesões. Os estados que mais somaram cotas comercializadas de consórcios em todos os segmentos foram São Paulo (SP) com 511.699, Minas Gerais (MG) com 197.578 e Bahia (BA) 161.517. “Com uma história de mais de 55 anos, o sistema de consórcios, uma criação genuinamente brasileira, tem tido papel importante na concessão de créditos para aquisição de bens ou contratação de serviços para milhões de brasileiros. Em primeiro lugar, é importante diferenciar consórcio de financiamento em razão de se tratar de mecanismos destinados a públicos com perfis distintos. Desta forma, podemos adiantar que consórcio é para que pretende adquirir um bem de modo planejado. No caso do financiamento, o consumidor é imediatista e deseja o bem ou o serviço rapidamente. Participar de um consórcio tem tudo a ver com educação financeira”, explica Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da Abac.


O boom dos serviços A crise econômica provocou nos bancos uma grande preocupação com a oferta de produtos aos clientes e atualmente a gama de modelos de consórcios atende a muitos tipos de consumidores, desde aquele que quer comprar um carro ou um imóvel, pensando no médio ou longo prazo, até àquele que está programando uma festa ou um procedimento cirúrgico. Este tipo de consórcio registrou alta bem acima dos mais comuns. O Banco do Brasil, por exemplo, que tem em sua carteira atual o valor de R$ 16,8 bilhões, onde a principal categoria de comercialização é a de automóveis (respondendo por cerca de R$ 13 bilhões), observou um aumento na busca pelos serviços. Nos cinco primeiros meses de 2017, em linhas gerais, foram vendidas aproximadamente 90 mil cotas, totalizando R$ 3,4 bilhões em volume de negócios e no comparativo com o mesmo período do ano anterior, onde foram vendidas 50 mil cotas, somando R$ 1,9 bilhão, indicando um aumento de 80% no resultado financeiro. Somente a performance do primeiro quinquemestre de 2017 representa 50% do resultado total do ano de 2016. Ainda no mesmo período, para a modalidade de consórcios de serviços, onde entram festas, procedimentos cirúrgicos e viagens, houve um acréscimo de mais de 100% com a contratação de quase R$ 19 milhões. As expectativas projetadas pela instituição para as vendas dos consórcios de serviços superam a margem de 400% de crescimento. Uma das estratégias para expandir a adesão aos consórcios está na diversificação, reformulação e desenvolvimento de novos produtos para atrair a atenção de outros públicos. De olho na expectativa do desempenho do agronegócio brasileiro, entre os grupos inovadores lançados de janeiro a maio deste ano está a modalidade Imóvel Rural, que trouxe a opção de pagamentos semestrais e anuais, se ajustando ao fluxo de caixa dos produtores que já rendeu R$ 30 milhões. O grupo Trator e Caminhão al-

cançou R$ 167,5 em rendimentos e, por fim, a categoria Motos Alto Valor, voltado ao público de alta renda como um dispositivo de oportunidade de mercado, acumulou R$ 6 milhões. As operações via mobile se destacaram como canal alternativo de transações pelo seu bom desempenho em seu lançamento no mês de maio deste ano, captando R$ 23 milhões em produtos de consórcio em geral, o que representa uma média diária de R$ 767 mil em vendas. O segmento com maior retorno financeiro neste canal digital é o de automóveis, com R$ 16,4 milhões comercializados, seguido pelo de imóveis (R$ 4,2 milhões), motos (R$ 1,5 milhão) e de serviços (R$ 900 mil). “Vejo que as pessoas estão aderindo aos sistemas de consórcios como forma de fazer um planejamento financeiro e não o en-

Paulo Ivan Rabelo, diretor comercial de consórcios do Banco do Brasil

Julho | 37


Mercado

caram como uma dívida, mais sim como um propósito, uma poupança. Em momentos mais economicamente favoráveis, onde puderem dispor de mais recursos, elas darão o lance para adquirir o bem que tanto desejam. O fator crise aumenta a cautela do consumidor diante dos gastos, mas evidencia as vantagens da adesão aos consórcios, principalmente diante das taxas administrativas consorciais que são muito inferiores em relação às altas taxas de juros praticadas pelo mercado” afirma Paulo Ivan Rabelo, diretor comercial de consórcios do Banco do Brasil.

Vagner Rodrigues, superintendente de consórcios do Banco Santander

Autos e imóveis Apesar de um entorno macroeconômico bastante complicado, em 2016, a área de consórcios do Banco Santander obteve resultados expressivos em seu quadro geral, fechando o ano com a comercialização de 70 mil cotas. Já o

O FATOR CRISE AUMENTA A CAUTELA DO CONSUMIDOR DIANTE DOS GASTOS, MAS EVIDENCIA AS VANTAGENS DA ADESÃO AOS CONSÓRCIOS, PRINCIPALMENTE DIANTE DAS TAXAS ADMINISTRATIVAS CONSORCIAIS QUE SÃO MUITO INFERIORES EM RELAÇÃO ÀS ALTAS TAXAS DE JUROS PRATICADAS PELO MERCADO primeiro quadrimestre deste ano sinalizou um crescimento de 25% em relação ao mesmo período de 2016. Os consórcios de automóveis e imobiliários representam 95% do volume comercializado pelo Banco Santander atualmente. Para Vagner Rodrigues, superintendente de consórcios da instituição, dois percalços guardam relação com o aumento da procura por consórcios. Fatores como a redução e seletividade dos bancos para a concessão de crédito, e também a mudança de conduta por parte dos consumidores quanto à busca de soluções mais econômicas, indicam que, ao decidir por uma compra planejada como sugere o sistema consorcial, opta-se por uma forma de aquisição com menor custo. “No final dos anos 1980, em função dos patamares de inflação e juros, tínhamos também uma menor alocação de recursos no financiamento e, com isso, menos alternativas para os clientes se financiarem. Ao longo dos anos 1990, a medida em que a conces-

38 | AméricaEconomia


são de crédito crescia, o consórcio manteve sua resiliência, mesmo no período de maior abertura de crédito entre 2000 e 2010, beneficiado principalmente pelo aumento da renda dos clientes. Já no contexto atual, as expectativas para 2017 são positivas. Pretendemos crescer 25%, mesma margem alcançada no ano passado”, conta.

Situação do crédito De modo geral, a participação do crédito na economia brasileira é muito baixa no comparativo internacional, representando 48% em maio deste ano, segundo o Banco Central, o que indica que há lugar para crescer. A ampliação do acesso das famílias e empresas ao mercado de crédito passa necessariamente pela resolução de questões estruturais, tais como os elevados spreads praticados no país, por sua vez, devido

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Uma boa alternativa No ano de 2016, a Bradesco Consórcios comercializou cerca de 480 mil cotas e nos cinco primeiros meses de 2017 registrou um total de 177 mil novas cotas, o que representa um crescimento de 17,3% em relação ao mesmo período de 2016, atuando com margens expressivas dentro dos segmentos de imóveis, automóveis, caminhões, máquinas e equipamentos. De acordo com os balanços positivos divulgados e também dados recentes do segmento, a divisão de consórcio do Bradesco conserva uma previsão otimista diante dos resultados de 2017, onde espera superar sua margem histórica de crescimento anual da ordem de 10%. “O consórcio é sempre uma boa alternativa para o consumidor, seja qual for o cenário econômico. É um produto de grande credibilidade e consolidado no mercado entre as formas mais econômicas para adquirir bens pelo seu caráter democrático, atende diversos perfis de públicos com parcelas acessíveis e possui planos atrativos e por isso registra adesão crescente ao longo dos últimos anos”, considera José Sérgio Bordin, diretor da Bradesco Consórcios.

José Sérgio Bordin, diretor da Bradesco Consórcios

a problemas como os muito substanciais índices de inadimplência, altos custos operacionais associados ao ambiente de negócios brasileiro; elevado volume de direcionamento compulsório de crédito e de subsídios creditícios e, ainda, ambiente competitivo no setor bancário. Todos estes fatores elencados são limitantes ao aumento do crédito tanto sobre a parcela bancarizada da população, quanto ao próprio processo de bancarização das famílias. “No curto prazo, espera-se que a melhora da economia reative as concessões, mas os volumes devem continuar muito abaixo dos praticados em anos anteriores. Nossas projeções para as concessões de crédito livre à pessoa física são de: +3,1% em 2017 e +5,5% para 2018. Para pessoa jurídica, as estimativas são de -2% em 2017 e de +10% em 2018. Ambas as projeções são em termos reais, descontando a inflação”, avalia João Morais, ecoJulho | 39


Mercado

Bons tempos

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No Brasil da década de 1960, nascia o sistema de consórcios. Embalado pela recente instalação da indústria automobilística em território nacional, quando a realidade da oferta de crédito era bastante escassa, funcionários do Banco do Brasil conceberam a ideia de formar um grupo de amigos com a finalidade de constituir um fundo de aquisição de automóveis para todos os que participassem da arrecadação de recursos. Em uma ação inovadora para os padrões da época, eles se uniram e cada um contribuiu com uma parcela do valor do carro e como solução mais justa, decidiram sorteá-lo. Estava lavrado, assim, um mecanismo de concessão de crédito isento de juros com o propósito da aquisição de bens e serviços. A origem do consórcio teve relação direta com a indústria automobilística e durante muito tempo este segmento foi o seu único produto. Em 1967, o sistema despertou o interesse do poder público que estabeleceu normas sobre depósito de recursos captados de consorciados devido à sua popularização. O mecanismo consorcial também atraiu a atenção de outros países e, em meados da década de 1960, começaram a surgir empresas de consórcios em diversos pontos da América Latina como Argentina, México, Paraguai, Peru, Venezuela e Uruguai. Ao longo da década de 1970, o sistema de consórcios ganhou tutela legal através da Lei 5.768/1971. Outros grupos de produtos surgiram nos anos 1980 como eletroeletrônicos, onde os televisores e videocassetes eram os itens mais desejados. Motocicletas e os chamados veículos pesados também foram acrescentados ao sistema. A partir de 1988, o mecanismo passa a ter sua importância econômica e social reconhecida na Constituição Federal e, em 1991, passa a ser fiscalizado e regulado pelo Banco Central do Brasil. Nos anos subsequentes, foi agregado entre os produtos consorciais o segmento imobiliário. Também neste período, o mecanismo chegou à Europa e, em países como Portugal, Espanha e o Leste Europeu – aqueles direcionados para a livre formação de mercado aos moldes capitalistas. Já em 2008, houve a edição do que pode ser considerado como marco legal do sistema de consórcios através da Lei 11.795/2008, voltada exclusivamente ao mecanismo. E por fim, o espectro contemporâneo é caracterizado pela gama altamente diversificada de produtos e serviços passando por caminhões, ônibus, embarcações, aeronaves, kits de casas pré-fabricadas, construção e reformas.

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João Morais, economista da Tendências Consultoria Integrada

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nomista especializado em crédito da Tendências Consultoria Integrada. Ao longo da última década, após acumular expansão, a situação de crédito no Brasil aponta uma expressiva desaceleração nos últimos anos. Em um processo que se iniciou em 2014, com a diminuição das operações para pessoa jurídica, dados de um exercício interno disponibilizados pela Tendências Consultoria Integrada a partir da compatibilização de diferentes séries históricas, apontam que as concessões de crédito livre para pessoa jurídica são as mais baixas desde 2000, desconsiderando concessões para financiamento imobiliário e desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – a avaliação é referente a valores de maio deste ano. Tais resultados, estão diretamente relacionados com a crise econômica e o excessivo endividamento no período anterior à crise, com efeitos sobre spread, inadimplência e propensão da demanda e oferta no mercado. Em 2017, as últimas informações econômicas apontam para recuperação das concessões à pessoa física, em especial para crédito pessoal e financiamento de veículos – o que evidencia o início de um processo de recuperação do consumo das famílias.


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Opinião | Recursos Humanos

Sucessão com sucesso

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eginaldo sempre gostou muito de algodão doce. Quando criança ficava observando os carrinhos que vendiam sua guloseima preferida. Fez amizade com todos os vendedores do bairro. Até que, na adolescência, tornou-se um vendedor daquilo que mais gostava de comer. Em pouco tempo, Reginaldo comprou seu próprio carrinho de algodão doce. Logo, já tinha mais de dez carrinhos espalhados pelo bairro. Ficou claro que Reginaldo além de gostar de algodão açucarado, gostava muito de empreender. E com seu tino para os negócios e uma visão bem intuitiva de administração, Reginaldo, se transformou em um empresário bem sucedido no ramo de doces. Depois de décadas de trabalho, o ex-vendedor de algodão

doce resolveu se aposentar e teria que passar a administração da empresa para seus filhos. Que experiência amarga. Com a falta de planejamento, tudo foi feito de maneira atabalhoada. Após a morte de Reginaldo, as coisas pioraram. E o despreparo na condução da empresa foi de tal ordem, que a falência foi inevitável. Acabou-se o que era doce. Histórias assim se repetem com frequência. A sucessão dentro das empresas nem sempre é feita da maneira correta. É necessário que haja o entendimento que sucessão é um processo e, por isso mesmo, deve ser planejado e executado com muita atenção. Um dos erros mais comuns é achar que liderança se transmite pelo DNA. Ter o mesmo sobrenome do fundador da empresa não é sinônimo de ter as mesmas competências do pai. Não basta ser filho, tem que ter o perfil de líder para gerenciar uma corporação. Analisar o perfil comportamental dos candidatos a assumir o controle de uma empresa é essencial para garantir uma transição bem sucedida.

Elmano Nigri - Presidente da consultoria Arquitetura Humana 42 | AméricaEconomia

Também é necessário alinhar o perfil dos herdeiros com as pretensões empresariais da família. Isso pode reduzir, ou até mesmo eliminar, os conflitos na hora da sucessão. Se um dos herdeiros de uma empresa de cosméticos possui o talento natural para ser um chef de cozinha, é muito mais produtivo incentivá-lo a abrir um restaurante e assim expandir os negócios da família a tê-lo enxertado como um estranho no ninho, por exemplo, na área de marketing de cosméticos. A análise de perfil fornece informações exatas para que

cado que seja tecnicamente qualificado para gerir uma empresa. É melhor ter alguém que não pertença ao ambiente familiar, mas que saiba administrar a empresa do que ver os negócios naufragarem tocados por alguém da família. Outro cuidado fundamental: todo processo de sucessão deve ser embasado em sólido arcabouço jurídico para que não haja futuras surpresas desagradáveis.

SE UM DOS HERDEIROS DE UMA EMPRESA DE COSMÉTICOS POSSUI O TALENTO NATURAL PARA SER UM CHEF DE COZINHA, É MUITO MAIS PRODUTIVO INCENTIVÁ-LO A ABRIR UM RESTAURANTE haja o ajuste de expectativas e contribui para que se coloque a pessoa certa no lugar certo. Não se pode esquecer que, em muitos casos, o mais indicado é haver uma sucessão profissional, isto é, contratar alguém no mer-

Uma sucessão empresarial bem planejada e conduzida de maneira profissional pode contradizer o ditado popular “pai rico, filho nobre, neto pobre”. Que a sucessão na sua empresa seja leve e agradável. Como um algodão doce.


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Negócios | Compliance

A busca por novos

caminhos Meio de resolução de conflitos sem a participação do Poder Judiciário, a arbitragem movimentou mais de R$ 24 bilhões em 2016. Mecanismo aumenta a segurança jurídica de investidores estrangeiros e locais, atraindo a atenção de grandes empresas que procuram rapidez e discrição para solucionar disputas

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Por Felix Ventura, de São Paulo

eleridade e sigilo. Por estes termos, empresas de grande porte têm recorrido cada vez mais a um método bastante eficaz para a resolução extrajudicial de conflitos. A arbitragem é um meio privado de solucionar litígios onde as partes envolvidas irão ao juízo arbitral escolhido por elas sem a participação do Poder Judiciário e com a finalidade

de estabelecer acordos que contemplem os anseios de seus litigantes. Conforme pesquisa elaborada pela professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Selma Lemes, a soma de todos os valores transacionados em arbitragens nas seis câmaras arbitrais de maior representatividade nacional pesquisadas atingiu R$ 24,27 bilhões em 2016 e


Assuntos mais comuns Segundo a pesquisa elaborada por Lemes, é importante atentar para um certo perfil setorial assumido pelas câmaras de arbitragem quanto aos assuntos que a elas são submetidos. O Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CAM-CCBC) lidera em número e valores de arbitragens e tem como demandas mais comuns os conflitos societários, empresariais e com a administração pública. Já na Câmara de Arbitragem Empresarial – Brasil (Camarb), se concentraram os casos que envolvem a construção civil e de energia (46%). Na Câmara de Mediação, Conciliação e Arbitragem de São Paulo - Ciesp/Fiesp (CAM-Ciesp/ Fiesp), mais de 47% das disputas foram originadas de contratos de fornecimento de bens e serviços e contratos empresariais em geral. Para a Câmara de Arbitragem do Mercado (CAMBovespa), quase 71% da demanda são referentes a casos de conflitos societários.

Como funciona Ao optar pela arbitragem, os litigantes elegerão árbitros de sua confiança para o julgamento do conflito. A decisão tomada pelo árbitro tem a mesma relevância que a sentença de um juiz de Direito, constituindo uma determinação obrigatória e definitiva, sem a possibilidade de se recorrer da deliberação em instâncias superiores como ocorre na Justiça comum. Contudo, se houver a violação de certos direitos, o Poder Judiciário poderá anular a decisão do árbitro. No Brasil, a prática da arbitragem está regulada pela Lei nº 9.307/1996 que foi alterada pela Lei nº 13.129/2015, trazendo em sua última atualização aprimoramentos, como sua aplicação à administração pública, dando início a uma nova fase de desenvolvimento para a arbitragem nacional. “O uso da arbitragem vem crescendo, com resultados positivos. A doutrina jurídica a respeito se diversificou. Algumas câmaras, como a Brasil-Canadá e a da Fundação Getúlio Vargas, foram se consolidando. Há hoje uma lista de árbitros bastante respeitados e experientes. E há

Em 2016, as seis câmaras arbitrais mais representativas do país alcançaram

R$ 24,2 bi em valores transacionados, enquanto que em 2010, o montante foi de R$ 2,8 bi

Carlos Ari Sundfeld: “Há espaço para a arbitragem crescer mais”

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no comparativo com o montante registrado no ano de 2010 (R$ 2,8 bilhões), os resultados demonstram um crescimento exponencial de aproximadamente nove vezes. No intervalo entre 2010 e 2016, o total de valores apurados nas câmaras consultadas superou a marca de R$ 62 bilhões. Ainda em relação ao número de arbitragens iniciadas, em 2010 foram identificados 128 novos casos ante 249 do ano de 2016, o que representa um aumento de 95% no número de procedimentos entrantes. Ao avaliar o desempenho entre 2015 e 2016, o levantamento apontou uma elevação de 222 para 249 novos casos, respectivamente, aferindo um crescimento de 12%. Este percentual expressa reflexos significativos já que, em 2015, a monta alcançada pelas arbitragens foi de R$ 10,72 bilhões, enquanto que no ano seguinte chegou ao patamar de R$ 24,27 bilhões, ultrapassando o dobro dos resultados da performance anterior – sinal de que os novos conflitos faziam referência a contratos de grande porte.

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Negócios

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duzida pela lei de 2015, que sujeita ao princípio da publicidade as arbitragens envolvendo a administração pública. Outro ponto a ser considerado, versa sobre a lisura e transparência na escolha dos árbitros. A indicação de um profissional com relações impróprias pode ser impugnada pela outra parte. Além disso, existe uma atuação séria e eficiente das Câmaras, que têm muita agilidade para eliminar de seu quadro árbitros que tenham comportamentos inadequados” explica Sundfeld.

Paulo Nasser: “A arbitragem tem um viés de alta para o atual momento econômico do Brasil, principalmente porque o início de novas disputas decorre do clima de instabilidade”

muitos advogados especializados e respeitados na área. Por isso, há espaço para crescer mais”, diz Carlos Ari Sundfeld, professor da escola de Direto de São Paulo da FGV. Das vantagens e desafios A possibilidade de escolha de árbitros mais especializados e de confiança das partes em detrimento a juízes generalistas, a rapidez do processo que leva, em média, 18 meses e o sigilo que pode salvaguardar a reputação de empresas como em casos de disputas societárias são fatores que acentuam o interesse das companhias pelo procedimento arbitral. Existem, porém, questões limitantes como o alto custo empenhado para a realização do procedimento, o que dificulta a utilização da arbitragem em casos menores e também, alguns desafios relativos à publicidade dos casos envolvendo órgãos da administração pública. “Ainda não está muito claro como cumprir a norma, intro46 | AméricaEconomia

Segurança jurídica para investidores Uma das grandes questões sobre a utilização da arbitragem por grandes corporações que desejam investir em países onde as regras do poder público se apresentam morosas, e muitas vezes dúbias, diz respeito ao aumento da segurança jurídica determinado pela celeridade na resolução de controvérsias. Uma vez que os mecanismos arbitrais configuram uma forma mais ágil de dirimir conflitos, os investidores estrangeiros e locais sentem-se motivados a explorar esta alternativa. “A arbitragem tem um viés de alta para o atual momento econômico do Brasil, principalmente porque o início de novas disputas decorre do clima de instabilidade”, afirma Paulo Nasser, sócio da área de arbitragem do Miguel Neto Advogados. Atuação expressiva Em 1979, um grupo de advogados e professores da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) com o apoio da Câmara de Comércio Brasil-Canadá fundou o Centro de Arbitragem e Mediação (CAM-CCBC), considerada atualmente como a maior instituição arbitral do país que, em 2016, registrou R$ 13,85 bilhões em 98 disputas realizadas, respondendo por 57,10% do valor das arbitragens efetuadas, seguida pela Câmara de Arbitragem Empresarial-Brasil (Camarb) com quase 13% e, em terceiro lugar, a Câmara de Arbitragem da Fundação Getúlio Vargas


O MAIOR CENTRO DE ARBITRAGEM BRASILEIRO CUIDOU DE ATIVOS QUE SOMAM R$ 13,85 BILHÕES NO ANO PASSADO, EM 98 DISPUTAS REALIZADAS E É O RESPONSÁVEL POR 57,10% DOS CASOS NO PAÍS

As perspectivas apontadas por Forbes para o término de 2017 são de um crescimento que ultrapassará os 100 procedimentos arbitrais na instituição que dirige, bem como é esperado um aumento substancial dos valores em disputa que deve ser mantido pelos próximos dois anos e que serão caracterizados por litígios de maior complexidade. “Diante do contexto global, há países conhecidos pela forte atividade arbitral como os Estados Unidos (EUA) que, diferentemente do Brasil, também agregam pequenas causas; a Inglaterra que trata principalmente de casos relacionados ao comércio internacional; a França que sedia a maior câmara de arbitragem do mundo (International Chamber of Commerce – ICC) e, por fim, Hong Kong e Cingapura que constituem dois dos mais representativos polos asiáticos no exercício dos procedimentos arbitrais”, completa.

Carlos Forbes: “Nossos centros de prática arbitral são conhecidos por bem administrar o procedimento e este fator contribui para o desenvolvimento dos negócios tanto para o mercado interno como em escala mundial”

(CAM-FGV), com aproximadamente 9%. No acumulado da série histórica 2010-2016, as disputas realizadas somente pelo CAM-CCBC totalizaram R$ 33,87 bilhões. Como referência, a média por processo em valores computada pela instituição no ano de 2016 foi de US$ 60 milhões. “A comunidade internacional de arbitragem vê no Brasil um case de enorme sucesso, muito em razão do conhecimento geral sobre a aprovação da lei de arbitragem no país e de sua eficácia. Nossos centros de prática arbitral são conhecidos por bem administrar o procedimento e este fator contribui para o desenvolvimento dos negócios tanto para o mercado interno como em escala mundial. Do ponto de vista jurídico, estamos inseridos na comunidade internacional quanto a utilização das melhores práticas para a resolução de conflitos”, afirma Carlos Forbes, presidente do Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá. Julho | 47


Negócios

Congresso Pan-Americano de Arbitragem Com objetivo de fomentar discussões sobre as práticas da arbitragem, o Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CAM-CCBC) realizou o III Congresso Pan-Americano de Arbitragem em outubro de 2016, no Hilton Hotel, em São Paulo. O evento se tornou uma referência quando se trata de arbitragem na América Latina, contando com a participação especial do International Center for Dispute Resolution (ICDR), com 32 palestrantes distribuídos em oito painéis e um público estimado em 300 pessoas. Ao todo, oito debatedores de 15 nacionalidades diferentes participaram das palestras para abordar assuntos de grande relevância para profissionais da área jurídica com atuação em arbitragem internacional e doméstica, acadêmicos e estudantes, empresários em geral, profissionais e especialistas interessados nas práticas de arbitragem. Os

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Adriana Braguetta: “Princípios como a não intervenção estatal e de que o controle da arbitragem é sempre feito a posteriori pelo Estado se houver alguma irregularidade formal, são exemplos desta consonância”

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principais temas tratados durante o evento foram: “Táticas de guerrilha: quais os limites éticos?”, “Arbitragem e administração pública: uma realidade nos países da América Latina?”, “Jurisprudência e postura do Poder Judiciário”, “Árbitro de emergência: análise sobre a sua necessidade e a sua eficiência no Brasil e nos países Pan-Americanos”, entre outros. Referências históricas Considerada como um grande avanço por representar a solução de diversos problemas existentes na arbitragem internacional, a Lei Modelo da Uncitral instaurada em 1985 e elaborada sob os auspícios da Organização das Nações Unidas (ONU) foi um aprimoramento contemporâneo fundamental representando o resultado de esforços anteriores como o Protocolo de Genebra (1923), a Convenção de Gênova (1927) e a Convenção de Nova Iorque (1958), que simbolizaram contribuições significativas para a padronização da arbitragem internacional com o intuito de mitigar as incertezas das atividades comerciais em espectro mundial. O Brasil está alinhado ao sistema global regido pela Lei Modelo, embora apenas se inspire em seus preceitos, porém, mais de 70 países fizeram a sua adoção de maneira integral. “Princípios como a não intervenção estatal e de que o controle da arbitragem é sempre feito a posteriori pelo Estado se houver alguma irregularidade formal, são exemplos desta consonância. Vale ressaltar que a Lei Modelo é um padrão legislativo amplamente adaptável para cada país. A percepção do histórico da arbitragem é medieval e veio do Direito Público. Casos de fronteira entre países como Paquistão e Índia, logo após a Primeira Guerra Mundial, foram solucionados através do procedimento arbitral. Na verdade, o número de arbitragens do século XX tem um crescimento vertiginoso depois da Segunda Guerra Mundial”, explana Adriana Braguetta, advogada e sócia da área de arbitragem da L.O. Baptista Advogados.


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Opinião | Finanças

Promovendo a regulação por resultados

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esde que mercados financeiros e de capitais passaram a existir, de uma forma ou de outra, alguns de seus participantes buscam maneiras de tirar deles vantagem indevida, às expensas de suas contrapartes em operações financeiras e do público em geral. Uso de informações privilegiadas, operação com recursos próprios em detrimento de clientes e o emprego de práticas de negociação de ativos que lesam investidores finais são alguns dos expedientes conhecidos nos principais mercados mundiais (o nosso incluído). Fora do Brasil, casos envolvendo esses e outros tipos de crimes contra o mercado de capitais trazem punições severas. Nos Estados Unidos, a Securities and Exchange Commission

(SEC), regulador do mercado de valores mobiliários, impôs em 2016 multa de US$ 267 milhões a subsidiárias da área de gestão de riquezas do banco J.P. Morgan por deixarem de comunicar conflitos de interesse a seus clientes. Também no ano passado a SEC aplicou multa de US$ 415 milhões ao banco Merrill Lynch por violações a regras de proteção ao consumidor e por colocar em risco valores mobiliários de propriedade de clientes. Mas não apenas instituições financeiras recebem a atenção da SEC: em um caso de menor monta, com multa de US$ 1 milhão e envolvendo um apostador de Las Vegas, um golfista profissional e um membro do conselho de administração da Dean Foods, os ganhos obtidos por meio de operações no mercado financeiro utilizando informações privilegiadas da companhia tiveram de ser devolvidos – com juros. Deixar de observar regras de compliance também rende penalidades pesadas no exterior. No Reino Unido, a Financial Conduct Authority (FCA) aplicou ao Deutsche

Mauro Miranda, CFA - Presidente da CFA Society Brazil 50 | AméricaEconomia

Bank, em janeiro deste ano, multa equivalente a US$ 204 milhões pela falha em manter uma estrutura adequada de controle contra a lavagem de dinheiro entre 2012 a 2015 – a maior multa para esse tipo de infração já aplicada pelo regulador naquele país. E no Brasil? Até recentemente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central do Brasil (BCB) tinham à sua disposição um poder de fogo reduzido para combater malfeitos em suas respectivas esferas de atuação. A CVM poderia aplica multas de até R$ 500 mil apenas, ao passo que o BCB estava limitado a multas com valor máximo de R$ 250 mil. Com a publicação da Medida Provisória nº 784 no início de junho, a CVM passa a poder aplicar multas de até R$ 500 milhões e o BCB vê o valor máximo de multas elevado para

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R$ 2 bilhões. E isto é uma excelente notícia. Oferecer um enorme incentivo negativo para a prática de crimes contra o sistema financeiro ou contra o mercado de capitais, condizente com o tamanho dos ganhos ilícitos, é mais um passo na direção correta. Mas, como se diz, nenhuma boa ação passa impune. Detratores da MP 784 já surgiram aos montes e pululam por aí. Para os participantes do mercado que se interessam por um ambiente de negociação justo e livre de fraudes, golpes e similares, a MP 784 é muito bem-vinda. Ela reforça as iniciativas relacionadas ao que eu chamo de regulação por resultados: regras que tornem a regulação eficiente e que permitam aos reguladores atingir os objetivos de desenvolver o mercado e proteger clientes e investidores. Cabe agora à CVM e ao BCB empregar os novos limites de multa com firmeza e serenidade. Situações que requerem punição não estão em falta. As opiniões apresentadas nesta coluna não representam, necessariamente, a visão das entidades ao qual o autor está associado.



Negócios | Empreendedorismo

Hora de empreender Segmento de franquias fatura bilhões e se transforma, como nunca, em porta de entrada para novos investidores que estão fora do mercado de trabalho por consequência da crise econômica, que registra taxas históricas de desemprego. Diversidade de setores e tamanhos de operação flexibilizam valor a ser investido e chama a atenção por ter modelo de negócio já estabelecido no mercado

O 52 | AméricaEconomia

Por Beatriz Santos, de São Paulo

período da crise econômica não muda as necessidades básicas das pessoas, por isso, há um comportamento inerente ao ser humano: a sobrevivência. Na onda do desemprego surfam os empreendedores – gente que foi demitida, por exemplo, e quer recomeçar diferente. Portanto, ter o próprio negócio se transformou em opção para muitos brasileiros. O segmento de franchising tem se destacado para estes novos investidores, sejam aqueles com capital para uma grande rede ou para uma microfranquia. O setor apresentou um elevado desempenho em 2016 – fechou com faturamento de R$ 151,2 bilhões e crescimento de 8,3% em relação ao ano anterior. A projeção para 2017 é de um aumento de 7% a 9% na cifra. Hoje, no Brasil, são mais de 3 mil marcas franqueadoras, que gerem uma rede de 142,6 mil unidades franqueadas. Ao todo, fo-

ram criados 1,192 milhões de empregos formais somente no primeiro semestre de 2016, o que ajudou a minimizar o forte abalo do desemprego. O primeiro trimestre de 2017 já se mostra melhor sobre o mesmo período do ano anterior – o resultado foi de R$ 36,8 bilhões em faturamento, frente a R$ 33,7 bilhões no primeiro trimestre de 2016. Setores em alta O franchising brasileiro é multissegmentos. São inúmeras redes de alimentação, casa e construção, comunicação, informática e eletrônicos, entretenimento, hotelaria, moda, saúde, beleza e bem-estar, educação e serviços. Dentre todas as opções, algumas vêm se destacando e saltando aos olhos daqueles que pretendem abrir uma franquia.


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Negócios

Juarez Leão, diretor institucional da ABF: segmentos de serviços estão em alta

Um exemplo que Juarez Leão, diretor institucional da Associação Brasileira de Franchising (ABF), apresenta é o segmento de serviços. Para ele, as novas necessidades das pessoas geraram novas demandas de produtos e serviços. “Existe um crescimento muito grande neste segmento, e não é à toa. Com a mulher no mercado de trabalho, por exemplo, se fazem necessários alguns serviços de apoio, desde o transporte das crianças para colégio até mesmo a limpeza doméstica”, explica. A empresa Maria Brasileira observou este novo nicho de mercado ainda em 2013 e desde então segue a missão de facilitar a vida dos brasileiros.

A lista de serviços prestados é ampla: limpeza doméstica, jardinagem, limpeza de piscina, cuidador de idosos, baby sitter, dog walker, entre outros. “Percebemos hoje que a coisa mais escassa que a população tem é o tempo, e vimos que poderíamos ganhar dinheiro facilitando a vida das pessoas”, diz Felipe Buranello, sócio-proprietário da Maria Brasileira. Hoje, existem 169 estabelecimentos da empresa no Brasil, sendo duas unidades próprias e o restante franqueadas. A expectativa é chegar a 190 até o final de 2017. Após todo o processo de avaliação do candidato, aprovação e a assinatura do contrato para a abertura de uma unidade, o franqueado precisa fazer um treinamento de cinco dias na matriz, que fica em São José do Rio Preto. “É um período de capacitação em todos os aspectos, teórico, prático, de sistemas e operacionais, para que ele replique na ponta”, comenta Buranello. Embora a contratação dos serviços possa ser feita via aplicativo, e-mail ou telefone, todo franqueado precisa ter obrigatoriamente um ponto comercial. “Tem a nova geração que não quer ligar para contratar um serviço, em um clique quer ter o seu pedido registrado e atendi-

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DIVULGAÇÃO HOME ANGELS

Home Angels Investimento inicial: a partir de R$ 25 mil Taxa de franquia: a partir de R$ 10 mil Capital de giro: a partir de R$ 2 mil Royalties: a partir de R$ 500 Taxa de publicidade: a partir de R$ 250 Faturamento médio mensal: em torno de R$ 75 mil Retorno sobre investimento: 12 meses


DIVULGAÇÃO

Maria Brasileira Investimento inicial: a partir de R$ 47,9 mil Taxa de franquia: a partir de R$ 19,9 mil Capital de giro: R$ 15 mil Royalties: Fixos. São calculados sobre o Salário Mínimo Nacional Taxa de publicidade: Isento Faturamento médio mensal: A partir de R$ 30.000,00 Retorno sobre investimento: 12 a 14 meses

Felipe Buranello, sócio-proprietário da Maria Brasileira: previsão é ampliar o negócio este ano

do. Mas ainda tem um público mais tradicional, que gosta de conversar com algum atendente antes de contratar. Por isso é preciso montar a loja”, explica o diretor. O envelhecimento da população também gerou um novo mercado. “O cuidado em casa para idosos e também para pessoas que fizeram algum tipo de cirurgia tem aumentado. São demandas de novos serviços. É um segmento que está em franco crescimento”, comenta o diretor da ABF. A criação da Home Angels surgiu exatamente por esta necessidade. Marco Imperador, sócio-diretor da rede, conta que precisou dos serviços de uma cuidadora para sua avó e encontrou dificuldade na época. “Era difícil contratar alguém e, quando encontrava, eram despreparados, eu precisava sempre fazer uma supervisão. Podiam até ser bem-intencionados, mas eram despreparados”. Os atendimentos de home care oferecidos pela empresa são contratados por pacotes, de acordo com a necessidade dos clientes. Os cuidadores e supervisores são sempre, obrigato-

riamente, técnicos de enfermagem e a unidade franqueada oferece um treinamento técnico específico para cada necessidade dos pacientes e de acordo com sua limitação. Entretanto, o franqueado não precisa ser da área da saúde. “Do franqueado é exigido apenas a função de gestor, muita disposição e principalmente gostar do relacionamento humano. Afinal, nós entramos dentro da casa das famílias”, diz Imperador. Hoje são 177 unidades da Home Angels no Brasil e a expectativa é terminar o ano com 200. A meta para 2020 é chegar a 400 unidades. “Com as unidades que temos atualmente, nós conseguimos atender apenas 30% da demanda. Para cada dez pessoas que nos ligam do Brasil inteiro, precisamos falar para sete que não temos franqueados localmente. Em muitas cidades temos clientes em potencial e cuidadores já selecionados e cadastrados para trabalhar, mas falta a franquia para fazer a interface”, explica. Alimentação sempre foi e vai continuar sendo um importante segmento. E, dentro deste setor, algumas áreas registram um crescimento superior. Julho | 55


Negócios

“As pessoas estão cada vez mais em busca de uma melhor qualidade de vida. A alimentação especializada, que também não deixa de ser saudável, tem crescido, como os alimentos veganos e vegetarianos. Atualmente, temos um grande número de pessoas com intolerância a uma série de alimentos, como à lactose e glúten”, exemplifica Leão. De acordo com um estudo da agência de pesquisas Euromonitor Internacional, entre 2009 e 2014, o mercado de alimentação voltada à saúde cresceu 98% no Brasil. Em 2015, o mercado mundial do setor movimentou mais de US$ 27 bilhões e nos próximos anos deverá crescer cerca de 20%. “A alimentação saudável é uma tendência que já virou realidade no Brasil”, afirma Charles Martins, CEO do Mundo Verde. A rede teve um crescimento expressivo de 2015 para 2016 – 10% no faturamento e o número de franquias foi de 305 em janeiro de 2015 para 381 em janeiro de 2016. Atualmente o Mundo Verde possui 400 lojas distribuídas pelo país e a rede planeja abrir 62 outras até o final do ano. “Nosso objetivo Mundo Verde no momento é abrir mais Investimento inicial: R$ 300 mil e R$ 400 mil Taxa de franquia: R$ 65 mil (fixo) lojas no Brasil e consolidáCapital de giro: R$ 50 mil a R$ 90 mil -las”, comenta o CEO. Royalties: 5% do faturamento bruto

CELSO CONGÍLIO

Taxa de publicidade: 1,5% do faturamento bruto Faturamento médio mensal: R$ 48 milhões Retorno sobre investimento: Entre 24 e 36 meses

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Risco menor, mas não zero O risco ao se abrir um novo negócio precisa estar em pauta já no planejamento inicial. De acordo com o estudo “Sobrevivência das Empresas no Brasil”, divulgado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a taxa de mortalidade de empresas com dois anos de operação é de 23,4%. Na análise do segmento de franchising, o cenário muda um pouco. Segundo Leão, a taxa cai para 4% para unidades com dois anos de operação. “Temos uma condição de longevidade de negócio maior. Ao executar uma ideia e criar uma marca nova, sem ter reconhecimento de mercado, obviamente o risco é mais alto. Quando olhamos para o setor de franquias, encontramos marcas mais estabelecidas e, consequentemente, o nível de risco diminui e a taxa de sucesso aumenta”, afirma. O investimento inicial da rede varia entre R$ 300 mil e R$ 400 mil, valor que contempla a taxa de franquia, a montagem, os equipamentos, os treinamentos necessários e o estoque inicial, com retorno de investimento entre 24 a 36 meses. O faturamento mensal da rede é de 48 milhões e a taxa de royalties é de 5%. Ainda sobre qualidade de vida, o diretor da associação ressalta que o público está muito aberto e à procura de maneiras novas de se exercitar, como academias personalizadas, crossfit, yoga e pilates. No que tange o envelhecimento da população, estão começando a surgir empresas especializadas com produtos e serviços para a população da terceira idade. “Não é só cuidar do idoso. A quantidade de pessoas acima dos 60 anos que está superativa é cada vez maior. Não só estão tendo uma longevidade maior, mas es-


DIVULGAÇÃO GRUPO HABIB´S

Habib’s – Modelo Select

tão bem e com mais vigor, com capacidade de compra, porque elas se prepararam para isso”, ressalta Leão, da ABF. Para ele, quando se pensa na terceira idade “tem que ter o olhar bem amplo, porque quando se fala no assunto, a primeira coisa que todo mundo pensa é em um enfermeiro para cuidar do idoso em casa para não precisar ir para o hospital, apenas. É isso também, mas não somente”. Novos modelos e formatos Além de multissegmentos, o setor também engloba um leque de formatos para perfis variados de investidores. Recentemente, algo que tem chamado muito a atenção, principalmente daqueles que tem um capital pequeno, mas querem investir, são as microfranquias e os modelos home office. “Vale lembrar que o processo para uma microfranquia é igual ao de um modelo padrão, a única diferença é que o investimento total, incluindo a taxa de franquia

Espaço: a partir de 70 m² Investimento: a partir de R$ 800 mil Taxa de franquia: R$ 110 mil Royalties: 5% do faturamento bruto Taxa de publicidade: 4% do faturamento bruto Retorno de investimento: 32 a 48 meses

e a montagem da loja, não pode ser superior a R$ 90 mil”, explica Leão, da ABF. Dois fatores contribuem para a maior procura destes formatos. “Muitas redes desenvolveram este modelo para ocupar um espaço, por exemplo, que era de executivos que saíram das empresas e não conseguiram se recolocar no mercado de trabalho, que tinham um capital pequeno e queriam empreender em um negócio”, afirma o diretor da ABF. Uma destas redes que se adaptou foi o Grupo Habib’s. Otaviano Costa, gerente nacional de expansão da companhia, explica que, embora a excelência dos restaurantes Habib’s seja no formato completo, o investimento acaba sendo muito alto. “É onde o resultado é melhor, mas se partir com o investimento do Julho | 57


Negócios

Habib’s

zero, ela passa dos R$ 2 milhões”. Ao procurar outras soluções de mercado e chegar a outros pontos comerciais, desenvolveram o mesmo restaurante sem as opções de drive thru e delivery, e o investimento caiu para cerca de R$ 1,5 milhão. Um terceiro modelo é o Habib’s Select, que nada mais é do que uma loja menor, apenas com os principais produtos e com cardápio reduzido. “Eu consigo reduzir o espaço e o investimento para R$ 800 mil”, afirma o diretor. Nesta opção, o valor investido consegue ser 60% menor que a loja padrão. Costa ainda ressalta que o tratamento interno é dado de forma única, independentemente se o investidor vai abrir o modelo Select ou convencional. “O mais importante é que o Habib’s sabe onde quer estar. Temos um planejamento de expansão, já sabemos o modelo e lugar onde queremos implementar, e damos as diretrizes para o franqueado”. Outro motivo que impulsiona estes novos formatos é a ida para cidades menores. “An-

NYS Collection Eyewear – Modelo NYS Direct Investimento inicial: R$ 15 mil Taxa de franquia: R$ 5 mil Capital de giro: R$ 3 mil Royalties: 15% do valor das compras Taxa de publicidade: 2% do valor das vendas Faturamento médio mensal: R$ 4,5 mil Retorno sobre investimento: Entre 6 e 8 meses

Cristiane Capella, diretora na NYS Collection no Brasil 58 | AméricaEconomia

tes, as franquias iam para cidades acima de 200 mil habitantes com potencial econômico maior. Ao fazer uma análise de retorno de investimento para cidades de menor potencial, às vezes não cabia uma franquia. Com esses modelos, como o investimento é mais baixo, é possível entrar em cidade de menor porte”, explica o diretor da ABF. Este fator motivou a NYS Collection Eyewear, rede franqueadora americana de óculos, a se adaptar. A alternativa ao diminuir o tamanho da operação foi fazer um modelo diferente – o home based. “Pensamos em como conseguiríamos levar o nosso produto aos mais de 5 mil municípios brasileiros que não tem shopping. Abrir uma loja em uma cidade de 50 a 100 mil habitantes não vale a pena e também não tem o perfil da marca. Fizemos um estudo de como isso poderia acontecer e criamos a NYS Direct”, conta Cristiane Capella, diretora na marca no Brasil. O modelo é compacto e de venda direta, formatado em uma mala com capacidade para 50 peças. DIVULGAÇÃO

Grandes companhias adotam novos modelos de negócio para facilitar acesso a novos franqueados, como é o caso do



Negócios

Mércia Machado Vergili, consultora na área de franquias: investidor precisa decidir tamanho da operação que pode abrir

O investidor do modelo home based tem um treinamento de como chegar ao cliente, principalmente corporativo. “O material de transporte para poder levar tem uma exposição bem interessante, e o principal é que o franqueado não tem um custo fixo”, conta. A meta é fechar o ano com 50 unidades de franquia direta. Por onde começar? O modelo de negócio de franquias atrai pelo caminho relativamente mais curto, dado que o ‘pacote’ da empresa reúne basicamente tudo que é necessário para iniciar os trabalhos – cabe ao investidor o empenho para fazer dar certo. Mércia Machado Vergili, diretora da GSPP SP, consultoria especializada no segmento de franquias, orienta que o investidor saiba primeiramente o tamanho da operação que quer montar, de acordo com o capital que se tem em mãos. “É importante, porque existem muitos formatos, desde microfranquias até megafranquias”. O diretor da ABF orienta que o investidor dê o primeiro passo escolhendo um segmento que ele goste e tenha aptidão. “Tem gente que pergunta para nós qual é a franquia que dá mais dinheiro ou está na moda. Eu posso até falar para você o nome de uma empresa, marca ou segmento que você não tenha afinidade nenhuma, e a chance de você investir e não dar certo é grande”. 60 | AméricaEconomia

Leão conta que franquias consagradas no mercado, como O Boticário ou McDonald’s, por exemplo, já fecharam algumas lojas e, quando analisaram o porquê, identificaram que o franqueador abriu a operação sem realmente ter a aptidão para o segmento. Outra situação é quando a franquia é um plano B e o franqueado não se dedica integralmente ao negócio. Mais um critério que os investidores são orientados a adotar é a análise de quem é associado da ABF. Das mais de 3 mil marcas, apenas 1,1 mil são associadas. “Para admitir uma rede sócia na associação, nós fazemos uma série de avaliações. São documentos, serviços prestados pela rede, manuais de franquia, enfim. Essas redes que estão na ABF passaram por isso”, explica. Um segundo recorte é conhecer as redes associadas que têm o Selo de Excelência em Franquia. “Nós contratamos todo ano uma empresa de pesquisa que observa a satisfação do franqueado com a rede, se ele abriria de novo o mesmo negócio, se a lucratividade prometida é a mesma, como é a relação com o franqueador, se recebe o devido suporte. De acordo com as notas, acumula-se uma pontuação”.

Quanto investir Ao comprar uma franquia, deve-se levar em consideração alguns fatores para entender o valor total de uma unidade. O investimento inicial pode englobar a taxa de franquia, a montagem da loja e os equipamentos, uma possível reforma do imóvel onde será instalada, os treinamentos e o estoque inicial. Além disso, tem o pagamento dos royalties e a taxa de publicidade. Dentro do Portal do Franchising, da ABF, é possível encontrar franquias a partir de R$ 1,8 mil e redes que estão na casa dos milhões. A variação também ocorre dentro de uma mesma franquia, caso ela apresente modelos de negócios diferente, como loja e home office, por exemplo.



Opinião | Política e Economia

O

debate sobre a reforma política no Brasil resiste ao tempo. A busca pelo aperfeiçoamento institucional é uma constante da redemocratização do Brasil, tal como expressa na intensa agenda de mudança nas regras do jogo político desde a promulgação da Constituição de 1988. Foram inúmeras mudanças institucionais nas regras da competição política, que vão do estabelecimento do voto eletrônico até a proibição de doação de campanha por parte de pessoas jurídicas. Essa intensa agenda constituinte não diminui o apetite da classe política e da opinião pública por alterações na forma de realização das eleições. O desejo por mudanças no sistema eleitoral une Executivo, Legislativo e Judiciário, que expõem os remédios

para o aprimoramento da democracia brasileira, a partir da constatação de que o sistema político brasileiro faliu. A opinião pública, ávida por renovação das práticas políticas, é cada vez mais demandante “bala de prata” para salvar a democracia brasileira. A história dos sistemas eleitorais nas democracias mostra a antecipação de choques eleitorais por parte dos partidos dominantes. Dito de modo mais direto: políticos desenharam a estratégia de reforma do sistema político para evitar um desastre eleitoral para os grandes competidores. Na atual conjuntura, a fonte de risco eleitoral tem nome e sobrenome: Operação Lava Jato e as demais investigações judiciais. Os líderes partidários temem uma revolução pelo voto em 2018 em linha com a baixa credibilidade das legendas tradicionais e o elevado apoio da sociedade às ações de combate à corrupção. De fato, o país passa por um terremoto político no período (2015-2018) com efeitos negativos para a economia. O presidencialismo de coalizão foi incapaz de gerar as bases para uma or-

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Crise política e desenvolvimento sustentável

dem econômica virtuosa no longo prazo. A paralisia decisória travou a agenda, exacerbando a recessão econômica e seus nocivos impactos para o desenvolvimento econômico e social.

A CULPA DA CRISE NÃO SE ENCONTRA NA FRANJA DO SISTEMA, OU SEJA, NA ELEVADA FRAGMENTAÇÃO, MAS NO “CORAÇÃO” DELE: PT, PSDB E PMDB A principal razão para esse quadro tumultuado não se encontra no desenho institucional brasileiro, mas é um problema fundamentalmente político. Mais do que isso, a culpa da crise não está na franja do sistema, ou seja, na elevada fragmentação, mas sim no “coração”

Rafael Cortez - Doutor em Ciência Política pela USP e sócio da Tendências Consultoria 62 | AméricaEconomia

dele: PT, PSDB e PMDB. Os operadores do sistema é que foram incapazes de evitar essa competição fratricida pelo voto, resultando em engenharias cada vez mais exóticas para arrecadar recursos

de campanha à custa da gestão do Estado e do desenvolvimento do mercado no país. A elite política brasileira é que precisa restabelecer padrões mínimos de confiança de modo a permitir a estabilidade da formação de coalizões, contribuindo para o aprofundamento das reformas.



Informe Publicitário

Portugal: o momento certo para investir Portugal está se tornando um destino cada vez mais interessante para quem quer investir em habitação de alto padrão. A sua beleza ímpar, o clima ameno, a segurança e a qualidade de vida que proporciona são alguns dos atributos que fazem deste país um verdadeiro paraíso para viver

P 64 | AméricaEconomia

Por Patrícia Barão, Head of Residential JLL Portugal

ortugal está no radar, está sendo descoberto todos os dias por investidores internacionais. É hoje um dos melhores países para investir em habitação nas várias vertentes de compra e arrendamento. No caso dos brasileiros, são inúmeras as motivações para investirem em Portugal, além da obtenção do “Golden Visa”. A par da proximidade cultural entre os dois países e da vanta-

gem de falarem o mesmo idioma, os brasileiros valorizam a segurança, o clima ameno, a gastronomia, a elevada qualidade de vida em diversas áreas, incluindo a saúde e educação, e ainda a oportunidade de residirem num país europeu. A todas estas vantagens, somam-se ainda os preços muito competitivos, em comparação com os valores praticados em outras cidades eu-


ropeias, e a qualidade do imobiliário português. Temos uma oferta de habitação cada vez mais sofisticada nos centros das cidades, incluindo o centro histórico e zonas nobres, muitas vezes em antigos palácios e palacetes reabilitados com elevado valor histórico e arquitetônico. A procura de habitação de alto padrão em Portugal é atualmente dominada por estrangeiros, que representam mais de 65% das vendas da JLL Residencial, entre os quais se destacam os brasileiros.

Patrícia Barão, Diretora do Departamento Residencial da JLL Portugal

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Alguns dos nossos projetos mais emblemáticos nos melhores locais de Lisboa, Cascais e Porto

Ribeira 11 / Santos Design District (Lisboa) Localizado na zona ribeirinha de Lisboa, este projeto conta com 37 apartamentos, alguns com vista rio Tejo.

Orpheu XI / Chiado (Lisboa) Num bairro vibrante, o projeto preserva a fachada pombalina original e tem uma vista deslumbrante sobre a cidade de Lisboa e o Tejo. Tem dez apartamentos, com estacionamento privativo.

Contatos Lisboa +351 213 121 520 +351 916 027 140 jllresidentialpt@eu.jll.com Cascais +351 219 105 600 cascais@eu.jll.com

Vila Montrose / Monte Estoril (Cascais) A poucos metros da marginal, o condomínio recupera um chalé com 125 anos e integra um conjunto imobiliário moderno, num jardim privado com duas piscinas. São 23 apartamentos e uma moradia unifamiliar.

Aliados 107 / Av. Aliados (Porto) No centro da cidade do porto, este edifício emblemático oferece 23 apartamentos com amplos espaços e uma arquitetura contemporânea.

Porto +351 225 431 090 porto@eu.jll.com residential.jll.pt

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Relações Internacionais | Holanda

N

o início de junho, fui convidado a assistir à uma série de palestras sobre o futuro econômico do Brasil e da América Latina em um eminente think tank paulistano. Representantes do governo, da academia e empresários discutiram produtividade e competitividade, e as perspectivas a favor e contra o crescimento de ambas. Enquanto eu ouvia os argumentos para manter a proteção da economia, bem como para abolir todas as restrições comerciais, meus pensamentos foram ao encontro de Johan Cruyff, que afirmou ambiguamente que “toda vantagem tem uma desvantagem”. Sabemos que em uma economia com baixo nível de produtividade e um amplo “público cativo”, proteger-se é uma opção viável e permite criar um respiro

no qual a competitividade pode ser melhorada. Porém, se as margens adicionais criadas com ajuda do protecionismo não forem investidas, mas sim desperdiçadas em taxas ou dividendos, a oportunidade de aprimoramento se perde. Barreiras também impedem a exportação de valores agregados e a competição cada vez mais inteligente supera as barreiras. Lembram-se da Uber? Da Amazon, Airbnb e Netflix? Vindo de um país bem pequeno entendo o porquê de a Holanda ter escolhido exatamente a estratégia oposta. Queremos estar um passo à frente da concorrência. Temos atualmente a economia mais globalizada do mundo, uma das mais competitivas e a terceira mais inovadora. Essas três características andam de mãos dadas com a criação de valor agregado. O valor das exportações agrícolas brasileiras é bem menor que o valor das exportações agrícolas holandesas. A diferença se explica pelo valor agregado criado, que é muito superior nos Países Baixos. Por exemplo, a Holanda compra a

Cor van Honk - Cônsul-geral da Holanda em São Paulo 66 | AméricaEconomia

soja brasileira para produzir carne suína defumada que é vendida para a Itália. Outro dado surpreendente é que no ano passado 44,5 milhões de sacas de café brasileiro foram exportadas, mas não há uma única marca do delicioso cafezinho brasileiro conhecida no exterior. O Brasil não carece de possibilidades para quem investe na produtividade. A parte mais importante do meu papel como cônsulgeral da Holanda é identificar oportunidades no Brasil para criar valor agregado com tecnologias mais avan-

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Onde está a competitividade?

garantem a germinação das sementes, a Randstad profissionaliza o recrutamento, o Rabobank financia investimentos na agricultura moderna, a Vopak e o Porto de Roterdã otimizam a logística.

NO ANO PASSADO, 44,5 MILHÕES DE SACAS DE CAFÉ BRASILEIRO FORAM EXPORTADAS, MAS NÃO HÁ UMA ÚNICA MARCA DO DELICIOSO CAFEZINHO BRASILEIRO CONHECIDA NO EXTERIOR çadas e abordagens mais eficientes. As empresas holandesas estão fazendo exatamente isso aqui: buscando sinergias e parcerias de cocriação que gerem ganhos para ambos os lados: a Incotec, em Holambra, cria revestimentos que

E sim, essa parceria vai incomodar os concorrentes que não quiserem investir. Um conceito simples, que me remete novamente a interpretar (livremente) Johan Cruyff: “não é visível até que você queira ver”.



Direito de Família

O filho surpresa e a lei

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contece nas melhores famílias. Um belo dia, o ilustríssimo senhor e respeitável cidadão, que já constituiu sua prole dentro dos laços do sagrado matrimônio e acha que a vida não tem mais nenhuma surpresa a lhe reservar – a não ser, talvez, acompanhar com orgulho as proezas escolares de filhos, ou quem sabe netos – recebe uma inesperada visita do passado. Às vezes, a visita aparece sob a forma de uma ex-namorada, amante ou relacionamento casual, portadora de uma mensagem cujo resumo é mais ou menos o seguinte: “toma que o filho é teu”. Outras ve-

zes, o visitante é um perfeito estranho, que alega ter com o cidadão um dos laços mais íntimos que pode haver entre duas pessoas: o de pai e filho. O que fazer nessas situações? O suposto pai é obrigado a fazer teste de DNA? Ele tem que dividir seus bens com o filho “surpresa”? E, do outro lado, como uma pessoa pode provar que é filha de outra? Qual é o caminho para reivindicar seus direitos? Para esclarecer essas e outras questões, preparei um guia rápido sobre investigação e reconhecimento de paternidade. Aproveite para tirar suas dúvidas. Quem pode pedir a investigação de paternidade? O processo de investigação de paternidade de um menor de 18 anos deve ser aberto pela mãe do menor, representada por um advogado. Sendo maior de idade, a própria pessoa pode abrir o processo – mas também deve ser representada por um advogado. O suposto pai é obrigado a fazer o exame de DNA? Não. Nossa legislação não obriga ninguém a fazer exame de DNA, sob o princípio de que ninguém pode ser forçado a produzir provas contra si mesmo. O que acontece quando o suposto pai se recusa a fazer o exame de DNA? Se ele se recusar, passa a existir uma “presunção relativa” de paternidade. Isso significa que a recusa irá pesar contra ele, mas não basta para confirmar a paternidade. Ou seja, a pessoa que abriu o processo terá que apresentar outras provas, como por exemplo, evidências de que houve um relacionamento entre a mãe do requerente e o suposto pai, e do qual a gravidez poderia ter resultado. Mas isso nem sempre é fácil – prin-

68 | AméricaEconomia


cipalmente quando se trata de um relacionamento casual. Cabe lembrar que, o presidente Lula teria vetado um projeto de lei aprovado pelo Senado que tratava do assunto. A alegação da Presidência é que o veto ocorreu porque o projeto apenas repetia o que já estava previsto em nossa legislação – isto é, a “presunção relativa” da paternidade nos casos em que o pai se recusa a fazer o exame. O próprio relator do projeto de lei no Senado, Antônio Carlos Júnior (DEM-BA), admitiu que a matéria em pouco altera na lei em vigor, mas que funcionaria como um “reforço”. Se era apenas um reforço, por que se dar ao trabalho de criar a lei? Ou por que se dar ao trabalho de vetá-la? Mais um mistério de Brasília, caro leitor... Existe limite de tempo para ingressar com um processo de investigação de paternidade? Não. A investigação pode ser aberta a qualquer tempo. Se por exemplo, uma pessoa de 60 anos descobrir que uma outra, de 80 anos, pode ser seu pai, ela pode ingressar com a ação. E se o suposto pai já tiver falecido, ainda é possível realizar a investigação de paternidade? Sim. Nesse caso, os parentes sanguíneos mais próximos do falecido podem ser solicitados a fazer o exame de DNA. Mas vale o mesmo princípio: se eles não concordarem, não se pode obrigá-los a fazer o teste. Se o filho for reconhecido, ele pode usar o sobrenome paterno mesmo contra a vontade do pai? Se a paternidade for legalmente reconhecida, o pai não tem como impedir que o filho use seu sobrenome. A alteração na certidão de nascimento pode ser feita após o juiz expedir a sentença na qual a filiação é reconhecida, e isso independe da vontade do pai. Filhos reconhecidos mediante processos judiciais têm os mesmos direitos do que os filhos nascidos no casamento?

Com certeza. Os direitos são os mesmos, inclusive no que diz respeito à pensão alimentícia e herança. E se o pai tiver deixado um testamento que exclui o filho reconhecido na justiça? Essa possibilidade prevê duas situações diferentes. Na primeira, o pai ainda está vivo quando o processo de investigação de paternidade teve início e opta por excluir o suposto filho de seu testamento. Nesse caso, sendo a paternidade comprovada, o filho reconhecido terá direito à legítima – isto é, à parte da herança que cabe aos herdeiros necessários (como os filhos e o cônjuge) e que, por isso, não pode ser disponibilizada por meio de testamento. Na segunda situação, a investigação de paternidade é aberta após o falecimento do pai. Nesse caso, como ele desconhecia a existência desse filho ao fazer o testamento, o juiz poderá anular esse documento, dando ao filho reconhecido o direito de participar da partilhar de todos os bens do pai, e não apenas da legítima. Se o suposto filho tiver falecido, seus herdeiros podem ingressar com a ação de investigação de paternidade? Os herdeiros do filho falecido não podem ingressar com uma ação de investigação de paternidade em nome de seu pai. Podem, no entanto, dar entrada em uma ação de investigação de parentesco com seu suposto avô. Esse precedente foi aberto pelo Superior Tribunal de Justiça, ao julgar caso semelhante. No entender da relatora, ministra Nancy Andrighi, “se o pai não propôs ação investigatória em vida, a via do processo encontra-se aberta aos seus filhos”.

Se a paternidade for legalmente reconhecida, o pai não tem como impedir que o filho use seu

sobrenome Os herdeiros do filho falecido não podem ingressar com uma ação de investigação de

paternidade em nome de seu pai. Podem, no entanto, dar entrada em uma ação de investigação de parentesco com seu suposto avô

Ivone Zeger Advogada especialista em Direito de Família e Sucessão. Membro Efetivo da Comissão de Direito de Família da OAB-SP

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Negócios | Barbearias

Pelas barbas

do profeta

Em seis anos, o mercado brasileiro masculino de cuidados pessoais quase dobrou de tamanho e fatura, em 2016, cifras da ordem de R$ 19,6 bilhões. O crescimento impulsionou e consolidou o sucesso das barbearias, que se reinventaram para proporcionar novas experiências a seus clientes

N 70 | AméricaEconomia

Por Felix Ventura, de São Paulo

ão. Não é preciso mais disfarçar ou mesmo renunciar à vaidade masculina sob o pretexto de que não há locais para se estar à vontade num ambiente que reúna os principais itens que costumam atrair os homens. Os salões e barbearias evoluíram em estética e conceito. A decoração vintage é quase um elemento de sedução obrigatório para atrair a freguesia. É possível assistir confortavelmente a uma partida de futebol em

modernos aparelhos de TV enquanto se aguarda a vez de aparar os cabelos, a barba, entre muitos outros serviços. A trilha sonora também costuma se adaptar à clientela. Com direito a optar por tomar uma cerveja? Sim. E artesanal. Junte à tudo isso a possibilidade de se divertir em uma partida de sinuca ou com jogos eletrônicos. Pronto. Estes espaços já se tornaram ponto de encontro para homens que conversam sobre


to intensa a concepção de beleza masculina. Até em relação à metrossexualidade, termo bastante usado anos atrás para descrever homens vaidosos e que na época ganhou uma conotação pejorativa, cedeu espaço a uma nova concepção de homem mais consciente não só com os cuidados estéticos, mas também que se preocupa com a sua saúde e bem-estar, presenteando a si mesmo ao frequentar uma barbearia que valorize a experiência e o seu momento”, comenta Daniel Oliveira, gerente de inteligência de mercado da Abihpec. Barbearias em foco A reinvenção das barbearias se tornou um dos principais canais que estimulam o consumo de produtos de beleza entre homens. Em sintonia com o vigor de um mercado em ascensão, o Barber Week, evento realizado em meados de junho no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, recebeu quase 4.900 visitantes interessados em aprender e empreender no ramo da barbearia. O evento, distribuído em uma área de 3.500 m², trouxe cerca de 25

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política, mulheres, negócios e aproveitam também para fazer um happy hour. O Brasil é o segundo em consumo de produtos masculinos no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos (EUA). Segundo dados divulgados pela Euromonitor International, o mercado masculino de cuidados pessoais faturou R$ 19,6 bilhões em 2016, resultado 10,6% maior do que o realizado no ano anterior quando o valor atingiu R$ 17,71 bilhões. No comparativo de 2011, quando o faturamento registrou a marca de R$ 10,07 bilhões, com o valor apurado em 2016, o número quase dobrou, demonstrando um aumento de 94,4%. Além disso, de acordo com as projeções de crescimento anual, o segmento deve avançar cerca de 7,1% até 2019. Outra pesquisa encomendada pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) ao Instituto Qualibest, e direcionada ao público masculino, aponta que 43% dos entrevistados são supervaidosos e que 54% frequentam regularmente salões e barbearias. “A rotina do homem brasileiro moderno requer uma grande diversidade de produtos de cuidados pessoais para praticidade do dia a dia. A indústria está atenta e vem disponibilizando não somente produtos habituais, mas também novidades e inovações, a fim de atender às demandas de um consumidor cada vez mais exigente”, diz João Carlos Basilio, presidente executivo da Abihpec.

João Carlos Basilio, presidente da Abihpec

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Nova concepção A percepção sobre o hábito masculino acerca da aquisição de produtos específicos para as suas necessidades no Brasil se intensificou ao longo dos últimos seis anos, impulsionando a expansão das barbearias no país. “Ícones do futebol como David Beckham e Cristiano Ronaldo influenciaram de maneira mui-

Julho | 71


Negócios

tre a gama de exemplos, os estilos preferidos são o londrino, que segue uma linha mais old school europeia; o vintage, com elementos inspirados nos anos 1930 a 1960; o moderno, com referências tecnológicas; e o californiano, baseado na cultura lowrider dos anos 1940 e 1950. “As barbearias precisam dessa identidade para atrair e fidelizar o público, mas, antes de decidir, é muito importante saber muito bem quem é a sua clientela, além de levar em consideração fatores como localização, por exemplo, e, a partir daí, procurar elementos que sejam atrativos”, explica Mascarenhas.

A definição dos padrões estéticos e de decoração é fundamental para aumentar a atratividade e captação de

clientes 72 | AméricaEconomia

marcas, novidades para o setor e uma ampla grade de workshops com temáticas variadas sobre as inúmeras possibilidades do mercado profissional de barbearia. “Posso dizer com tranquilidade, já é o maior da América Latina voltado exclusivamente para o segmento de barbearia que vem crescendo vigorosamente ao longo dos últimos cinco anos, mas desde 2015 o interesse dos consumidores se tornou ainda mais evidente, o que impulsionou a indústria a dedicar boa parte de seus investimentos para eles. Acredito que esta não é simplesmente uma onda, mas sim, algo que vai se consolidar tanto quanto o mercado feminino”, diz Bernardo Mascarenhas, diretor educacional do Barber Week. Identidade adequada Quem decide investir, desfrutando o crescimento do mercado, deve ficar atento ao fator da escolha de uma identidade apropriada para o seu negócio. A definição dos padrões estéticos e de decoração é fundamental para aumentar a atratividade e captação de clientes. En-

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Bernardo Mascarenhas, diretor educacional do Barber Week (acima) e Marinaldo Oliveira, proprietário da Barbearia Bar

Barbearia Bar: um negócio de família O primeiro a entrar para o ramo foi o avô entre as décadas de 1920 e 1930. Vindo de uma família de cabeleireiros, o empresário e proprietário da Barbearia Bar, Marinaldo de Oliveira, lembra-se ainda de épocas passadas, histórias que remontam o início de seu atual projeto. Desde então, ele e seus irmãos, que também trilharam o mesmo caminho, dirigi-


ram uma rede de salões unissex e uma barbearia localizada no bairro da Chácara Santo Antônio, na capital paulista, com uma operação que remetia aos moldes antigos. Após anos de estudo intenso no exterior, Oliveira retornou para aplicar os conceitos absorvidos em sua barbearia e elaborou uma pesquisa com quase mil clientes sobre suas preferências em serviços. Como saldo, descobriu que a incorporação de elementos como música ambiente, degustação de cervejas e aparelhos de televisão com imagem em alta definição transmitindo partidas de futebol faziam parte dos anseios de grande parte dos frequentadores. “Aliado a isso e em conjunto com a consultoria de uma arquiteta, desenhei uma estética moderna com toques retrô para o ambiente. Nasceu assim, em 2015, a Barbearia Bar. Atendemos hoje cerca de 3.500 clientes por mês e crescemos 300% em 2016. A rede conta com mais uma unidade na Vila Olímpia que cresce a uma base de 17% mensais e estamos finalizando nossa primeira franquia na cidade de Jundiaí. Para 2017, esperamos uma expansão de 34%”, conta Oliveira. Beard Brasil: cosméticos específicos Ao perceber uma deficiência de mercado a respeito da produção de cosméticos voltados ao público masculino e particularmente para barba, surgiu em 2014, a Beard Brasil. A empresa registrou um crescimento de 72% entre os anos de 2015 e 2016. Ao comparar os resultados do ano passado com o final do primeiro semestre de 2017, houve um incremento da ordem de 60%. Dados da participação de mercado da companhia revelam que o gasto médio dos clientes com seus produtos está avaliado em R$ 120 mensais. “A partir de 2014, entendemos que a demanda por cuidados masculinos teve um aumento significativo. Em um mundo onde só existe tempo para o trabalho e pouco espaço para a quali-

Danilo Mendes e Lucas Storani, CEO e CFO da Beard Brasil

dade de vida, as barbearias tiveram a sacada e ofereceram novas sensações, um momento de descanso, lazer e bate-papo, vendendo o conjunto de uma experiência personalizada. Acreditamos que este ano irá superar todas as expectativas do que tínhamos até agora e esperamos encerrar com um aumento de 100% em faturamento”, avalia Danilo Mendes, CEO da Beard Brasil. Julho | 73


Negócios

Para cada item pago pelo cliente na Rede Garagem, ele ganha como cortesia uma cerveja

premium

Rede Garagem: perspectiva de fechar 2017 com mais cinco franquias

74 | AméricaEconomia

Rede Garagem: sofisticação em serviços Tem limpeza de pele, massagem, depilação e podologia? Sim. Dia do noivo com os convidados e o futuro marido se preparando juntos para a cerimônia? Sim. Os elementos acima podem fazer pensar que estamos falando de uma clínica de estética, mas são serviços incorporados às barbearias da Rede Garagem. A empresa foi fundada na cidade de São Paulo no ano de 2001 pelos empresários Fernanda Dib e Enrico Montes com seu primeiro salão no bairro de Moema. O carro-chefe ainda é a tradicional dupla cabelo e barba, mas o estabelecimento oferece um sofisticado menu de serviços e, para cada item pago pelo cliente, ele ganha como cortesia uma cerveja premium. A rede conta com nove unidades e está se expandindo através do sistema de franquias. “Sentimos um crescimento relevante a partir de 2009. Hoje, temos três lojas próprias e seis estabelecimentos franqueados com um tíquete médio de R$ 110. Em 2016, nosso faturamento atingiu a marca de 400% em relação ao ano anterior. Com o boom das barbearias, o perfil dos frequentadores se diversificou já que estão surgindo novos salões com todas as faixas de preços e que atendem homens de todas as idades e classes sociais. Nossa perspectiva é fechar o ano de 2017 com mais cinco novas franquias”, expõe Dib.

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Paulo Vieira, diretor comercial da Van de Velde

Van de Velde: estilo em movelaria Atuando no segmento de mobiliário para salões de beleza, spas, clínicas de estética e barbearias há mais de 20 anos, a Van de Velde, empresa totalmente nacional localizada na cidade de Limeira (SP), mantém um alto rigor em sua divisão de metalurgia na produção de itens estilizados e confirma uma demanda que avança progressivamente quando o assunto é a composição dos ambientes temáticos das barbearias. Sua linha requintada de poltronas vintage tem ótima aderência e aceitação nos mais diversos salões do país. Com dez lojas exclusivas espalhadas pelo Brasil, a empresa obteve um incremento de 21% em 2016 comparado ao ano anterior, principalmente puxado pelo lançamento de poltronas e móveis para salões masculinos e barbearias. “Em 2017, mesmo com a economia em retração, registramos até o momento um crescimento próximo a 30% em faturamento. Desde 2013, o mercado masculino começou a demonstrar interesse em locais próprios, bem decorados e com outros serviços disponíveis. Ao mesmo tempo, os homens voltaram a usar barbas e a se cuidarem mais. Neste universo, existem várias estratégias, mas de forma geral há uma grande preocupação com privacidade e comodidade. Além disso, muitas barbearias associaram seus locais a jogos, bares e até charutaria, de forma que os amigos possam se reunir e saborear momentos relaxantes e prazerosos”, afirma Paulo Vieira, diretor comercial da Van de Velde.



Opinião | Página verde

Bem-vinda, dona eficiência! SHUTTERSTOCK

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um país de abundância de recursos naturais, eficiência é algo que ainda engatinha no Brasil, apesar do conhecimento existente e de um enorme potencial para implementá-la. Temos o segundo melhor programa de eficiência energética do mundo, o Procel, reconhecido internacionalmente, e ainda

bastante desconhecido entre os brasileiros. No entanto, ainda desperdiçamos uma Itaipu por ano, ou seja, R$ 61 bilhões são jogados no ralo, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco). Em recente nota técnica, o Ministério de Minas e Energia deu sinais de que acordou para o assunto, trazendo-o para a prioridade que merece. Trata-se de uma proposta de aprimoramento do marco legal do setor elétrico.


É um impulso à geração distribuída, hoje considerada mundialmente uma realidade sem volta. Aliada à geração distribuída vem a questão do armazenamento que avança a passos largos mundo afora. Fábricas de baterias para uso residencial e carros elétricos estão se proliferando. O último anúncio foi feito pela Tesla, que construirá mais uma de suas fábricas no Sul da Austrália. No total, entre construídas e anunciadas já são três fábricas. Sabe-se que existe um grupo de estudo envolvendo várias esferas da sociedade na tentativa de trazer uma delas para São Carlos, no Estado de São Paulo. Oxalá consigam! São investimentos muito altos e de grande impacto sócio-econômico-ambiental local, em torno de US$ 5 bilhões. Somente durante a construção seriam US$ 2,5 bilhões em impacto econômico local. Essa escala é importante para trazer os preços dessas baterias cada vez mais acessíveis para os consumidores e assim cria-se um sistema virtuoso de eficiência. Elon Musk, o visionário fundador da Tesla, acredita que as baterias vão realmente contribuir para termos um custo de energia mais barata e um consumo mais eficiente. No modelo atual brasileiro, a ineficiência é incentivada, pois tem alta intervenção estatal, resultando em uma precificação irreal, o que não estimula as indústrias e nem mesmo os consumidores residenciais a implementarem equipamentos e sistemas que promovam a eficiência. Portanto, merece aplausos a nota técnica do Ministério de Minas e Energia de que pretendem estabelecer padrões concretos de uma precificação real, cujo caminho é de uma maior transparência e segurança ao setor. A grande barreira para avançar com a eficiência energética e o impulso à geração distribuída obviamente está nas distribuidoras, que têm altos investimentos no modelo atual e não querem ver seus ativos ruindo de maneira abrupta. E também não devemos promover

NO MODELO ATUAL BRASILEIRO, A INEFICIÊNCIA É INCENTIVADA, POIS TEM ALTA INTERVENÇÃO ESTATAL, RESULTANDO EM UMA PRECIFICAÇÃO IRREAL, O QUE NÃO ESTIMULA AS INDÚSTRIAS E NEM MESMO OS CONSUMIDORES RESIDENCIAIS A IMPLEMENTAREM EQUIPAMENTOS E SISTEMAS QUE PROMOVAM A EFICIÊNCIA isso. Para resolver basta um pacto estratégico consensual progressivo. Sabemos qual deve ser o rumo, basta estabelecer uma estratégia para atingi-lo de maneira gradual, responsável e que seja totalmente baseado em trazer os benefícios para a população, que deve contribuir exercendo o seu consumo de forma eficiente. O medo de apagão no Brasil fez com que os governos não estimulassem a educação da população para o consumo eficiente. Entretanto, é líquido e certo que o maior incentivo à eficiência energética virá com a adoção de uma precificação real. Nada como afetar o bolso para que a eficiência se torne premissa efetiva e duradoura. Portanto, vamos ao Brasil eficiente, ao menos no setor elétrico!

Jorge Pinheiro Machado Diretor America Latina – Regions of Climate Actions – R20

Junho Abril | 77


Opinião | Justiça

U

ma das mais recorrentes críticas à Justiça brasileira é a alegada falta de previsibilidade. Preocupação surgida na segunda metade do século passado, constou de inúmeros congressos patrocinados pelo Banco Mundial, FMI, OCDE e outros organismos interessados no tema “Reforma do Judiciário”. Por “imprevisibilidade” se costuma chamar o grau de incerteza das decisões judiciais, que tanto podem atender a uma parte, como à outra. E a pressuposição de um processo é de que haja controvérsia, antagonismo e pontos de vista completamente contrários. Alguém se preocupou com a explicação deste fenômeno? Ou seja: no Brasil, ninguém pode ter a convicção absoluta de que o destino de uma demanda será aquilo que o senso comum de Justiça

indica ser o certo. Influenciam o resultado múltiplos fatores: o procedimentalismo, o processualismo exacerbado, a fluidez e indeterminação da lei e, principalmente, o fato de nosso fundamento de validade – a Constituição – ser um documento dirigente e principiológico. O que isso significa? Uma Constituição Dirigente, nomenclatura consagrada por Canotilho, o constitucionalista português que arquitetou nova estrutura para a Carta Lusa, produzida após a queda de Salazar, é aquela que oferece um Projeto de Nação. Mais do que solidificar o arcabouço jurídico, a Constituição Dirigente é um parâmetro de políticas públicas. Um modelo a ser edificado no decorrer do tempo. Aponta para um horizonte de realizações rumo à consolidação de um plano completo de existência das pessoas e das instituições. A Constituição de 1988 é um texto suscetível de tantas leituras, quantas forem as mentes encarregadas de sua interpretação. A partir da consolidada concepção de que o princípio é mais importante do

que a lei, ambos representando a categoria de entidade normativa, não é difícil sustentar que se um texto legal contradiz ou é incompatível com o princípio constitucional, este é que deve prevalecer. Pois a Constituição da República é o fundamento de validade de toda a hierarquia normativa inferior. Tal cenário torna inviável a previsibilidade de considerável parcela da produção jurisprudencial. Tudo dependerá da visão hermenêutica do aplicador da lei. Texto, por si mesmo, quase sempre fluido e plástico, fruto do compromisso possível num Parlamento multipartidário.

SHU

TTE

RST

OCK

Justiça previsível: é possível?

ausente do debate. Primeiro, a formação jurídica deveria ser reformulada, para o estímulo à negociação, de preferência a litigância. Em seguida, os precedentes deveriam ser efetivamente prestigiados, para sinalizar à Nação o que se entende por Direito no foro. Também não faria mal desburocratizar o sistema judiciário, para que magistrados se preocupassem prioritariamente com a solução das controvérsias e menos em elaborar lições doutrinárias. Pouco está a indicar que tais preocupações estejam na agenda brasileira. Talvez o agravamento da crise venha a reclamar postura assertiva e

NO BRASIL, NINGUÉM PODE TER A CONVICÇÃO ABSOLUTA DE QUE O DESTINO DE UMA DEMANDA SERÁ AQUILO QUE O SENSO COMUM DE JUSTIÇA INDICA SER O CERTO. INFLUENCIAM O RESULTADO MÚLTIPLOS FATORES A perspectiva de previsibilidade das decisões judiciais, fator preponderante para tornar atraente o país ao investidor internacional, dependerá de muita vontade política, hoje aparentemente

afinada com as reais necessidades de um Brasil que só poderá crescer se vier a receber o capital de que o mundo dispõe, mas que não se arrisca às vicissitudes judiciais, pois dinheiro não aceita desaforo.

José Renato Nalini - Desembargador aposentado, ex-presidente do TJ-SP e do extinto Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo 78 | AméricaEconomia




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