AméricaEconomia Brasil - Edição 484

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SEM MEDO DAS LOW COST nº 484

www.brasilamericaeconomia.com.br

No 484 JUN/2018 R$ 20,00 ISSN 1414-2341

BRASIL

Germán Efromovich, da Avianca, critica privatização dos aeroportos e aposta no crescimento da companhia

VEM AÍ

UMA NOVA

CRISE? EXCESSO DE ENDIVIDAMENTO, SUPERVALORIZAÇÃO DE ATIVOS, PROTECIONISMO: PARA MUITOS ANALISTAS, O CENÁRIO PARA UMA RECESSÃO GLOBAL COMO A DE 2008 ESTÁ DESENHADO – MAS AINDA HÁ COMO SE PREVENIR

TRANSFORMAÇÃO DIGITAL MERCADO DE COMPRA E VENDA DE DADOS MUDA O VAREJO














Nesta edição NEGÓCIOS

58 62

Pague com criptomoedas Uma das maiores corretoras globais de moedas digitais chega ao Brasil e oferece mais de 50 ativos digitais

F 3R

12

ESPECIAL

42

Nova crise à vista?

Para muitos analistas, superendividamento, sobrevalorização de ativos, guerras comerciais, protecionismo e populismo criam condições de propiciar uma crise global como a de 2008 ENTREVISTA

18

Germán Efromovich, chairman da Avianca Holdings Para executivo, companhia é saudável e, mesmo com dívidas, vale muito mais do que dizem as especulações

TECNOLOGIA

34 50

Gestão do estoque Software da VTEX permite análise 3600 do negócio para integrar todos os canais do varejo

RELAÇÕES INTERNACIONAIS Porta de entrada para a União Europeia Secretário de Internacionalização de Portugal se reúne com empresários brasileiros para apresentar oportunidades de investimento no país

CIDADANIA

54

Cooperação para projetos de impacto Michael Nolan, diretor do Programa Cidades do Pacto Global da ONU, apresenta em São Paulo iniciativas envolvendo parcerias entre governo, setor privado e sociedade civil 14 | AméricaEconomia

Novos meios de pagamentos Novo sistema do Grupo EloPar permite pagamento em pedágios, estacionamentos e outros modais por meio de aplicativo no celular

EVENTO

66

Brasil e Argentina Seminário Internacional Líderes cria um espaço valioso para analisar e debater ideias e projetos nos setores público e privado dos dois países

INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA

70

“Acreditamos muito na região” Pablo Di Si, presidente e CEO da Volkswagen no Brasil, afirma que companhia se moderniza para aplicar inovações da Indústria 4.0

SOCIEDADE

74

Destino correto do e-lixo Segunda edição do Greenk Tech Show arrecada 77,8 toneladas de lixo eletrônico. Ação envolveu mais de 80 mil alunos das redes pública e privada

SEÇÕES

16 Editorial 26 Movimentos 30 Moderador 32 Tecnologia 36 Inovação – Roberto Wagmaister 40 Economia – Juan Jensen 53 Finanças – Mauro Miranda, CFA 72 Energia – Agostinho Pascalicchio 76 Página Verde – Jorge Pinheiro Machado 78 Opinião – José Renato Nalini



Editorial

AMÉRICAECONOMÍA INTERNACIONAL Publisher e Editor: Elías Selman C. Editor-Geral: Fernando Chevarría León Editor Executivo: Rodrigo L. Serrano Editores: Paulo Hebmüller (São Paulo), Jorge Cavagnaro (Guaiaquil), Lino Solís de Ovando (Santiago), Rery Maldonado (La Paz), Carolina Torres (Tegucigalpa). Editor-at-large: Samuel Silva Repórteres: Laura Villahermosa e Hugo Flores (Lima), Camilo Olarte (Cidade do México), Alejandro González (Bogotá), Hebe Schmidt (Madri) Colunistas fixos: John Edmunds, Jerry Haar, Susan Purcell Kaufman Designer: Sandra Florián AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE (Estudos e Projetos Especiais) Diretor: Andrés Almeida Pesquisadores Seniores: Fernando Valencia Analistas: Catherine Lacourt e Juan Francisco Echeverría Analista Peru: Carlos Alcántara AMÉRICAECONOMÍA.COM Subdiretor de Mídias Digitais: Lino Solís De Ovando Repórteres: Héctor Cancino, Fernando Zúñiga, Juan Toro, Cristian Yánez e Matías Kohler

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16 | AméricaEconomia

Paulo Hebmüller Editor-chefe

MARCOS SANTOS

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Lição aprendida?

A

redação de AméricaEconomia Brasil ficou em dúvida sobre como traduzir na capa o tema da principal reportagem desta edição – um alentado trabalho produzido para as edições internacionais da revista, que circulam nos países vizinhos da América Latina. Duas opções concentraram a maioria dos votos, e a vencedora acabou sendo a que mostra um cenário mais turbulento. Reproduzimos nesta página a segunda finalista, uma imagem que também expressa a ideia central da reportagem, embora traduzindo-a de maneira talvez mais amena. É uma situação que ilustra bem alguns dos dilemas com os quais o jornalismo é frequentemente confrontado. Uma de suas missões é a busca de oferecer aos leitores uma bússola para que se orientem da melhor forma possível num mundo que parece cada vez mais padecer de overdose informativa. Decifrar tendências, ouvir especialistas, escavar informação qualificada e oferecê-la sem descambar para o sensacionalismo e o catastrofismo ou, de outra parte, para um otimismo ingênuo e descolado da realidade: eis uma tarefa – sem dúvida difícil – da qual o jornalismo praticado com seriedade não pode se eximir. Julgamos que a reportagem de capa desta edição cumpre essa tarefa. A análise apresentada a partir de números, fontes qualificadas e dados de diversas ordens demonstra que a situação das finanças globais se assemelha àquela que desencadeou a crise de 2008. Há espaço, porém, para que governos e organizações corrijam o rumo – ou ao menos se preparem adequadamente para enfrentar a situação. As lições de 2008 foram dadas. Saberemos logo à frente se foram aprendidas. Boa leitura.

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DIVULGAÇÃO

Entrevista | Germán Efromovich, chairman da Avianca Holdings

18 | AméricaEconomia


“O fantasma das low cost não existe”

Executivo afirma que modelo das companhias aéreas de baixo custo não funciona em todos os mercados e que, mesmo com dívidas, a Avianca é saudável e vale muito mais do que dizem as especulações

Por Elías Selman Carranza, de Santiago do Chile

O

ano de 2018 é de consolidação para a Avianca, diz o executivo Germán Efromovich: a companhia negocia uma joint venture com a United Airlines e está montando uma nova frota no Brasil, onde detém 14% do mercado. Há também novos investimentos na Argentina e no México. Embora a situação financeira da empresa, de acordo com seus recentes balanços, não pareça das mais alentadoras, Efromovich garante que a situação da dívida está sob controle e que as perspectivas de crescimento para os próximos anos são boas. Nascido na Bolívia de uma família de judeus poloneses que deixou a Europa depois da Segunda Guerra Mundial, Efromovich viveu também no Chile, no Brasil – onde foi vendedor de enciclopédias, dublador de filmes e empresário do ramo do petróleo antes de entrar na aviação comercial – e na Colômbia. É alternando-se entre esses últimos dois países, dos quais também é cidadão naturalizado, que comanda a Avianca. Na entrevista a seguir, Efromovich diz que o modelo de privatização dos aeroportos é equivocado e vai colapsar – e explica por que ocupar a quarta

posição entre as quatro grandes companhias aéreas brasileiras não o incomoda: “não temos interesse em ser a maior, mas em continuar sendo a melhor”. AméricaEconomia – As perspectivas para o setor aéreo são muito promissoras. A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) estima que o tráfego aéreo na região será duplicado até 2034. Qual é a sua opinião? Germán Efromovich – É verdade, considerando que somos países chamados emergentes e que estamos a caminho do desenvolvimento. Os Estados Unidos transportam 870 milhões de passageiros por ano. Ou seja, cada cidadão faz em média 2,5 voos de avião por ano. Na Europa são 700 milhões de viajantes por ano, com 1,4 viagem per capita. Na América Latina temos 270 milhões de passageiros por ano, ou seja, menos de 0,5 voo per capita. Pode-se dizer que não vamos chegar ao nível dos Estados Unidos, porque é a economia que mais evolui, mas podemos alcançar a Europa, que tem seus problemas, como o Brexit e outros, e chegar a 1,5. Nesse caso, estamos falando de quase triplicar o número atual.

“Não temos interesse em ser a maior, mas a

melhor

Junho Julho 2018 | 19


Entrevista

“A privatização dos aeroportos tem

conf litos de interesses entre todas as partes”

20 | AméricaEconomia

Agora, isso pode acontecer? Primeiro, estamos passando por um momento político positivo. Nos últimos dois ou três anos, os resultados das eleições presidenciais em vários países têm sido muito favoráveis para o equilíbrio econômico e para uma política de crescimento. O momento populista já passou. Pode até voltar, como tudo, mas para os próximos dez anos as perspectivas são boas. Está chegando a nova classe média, a chamada nova classe C, e também o custo de voar tem diminuído de maneira impressionante. Esse mito de que a passagem aérea é cara é a maior imbecilidade que qualquer pessoa racional pode dizer.

conflito, o que se comprava num duty free? Perfumes, bebidas e chocolates. Hoje você pode comprar essas coisas mais baratas no supermercado. Isso acontece porque as marcas não conseguem pagar o aluguel. Os aeroportos se transformaram em grandes centros comerciais.

AE – As passagens já não estariam muito baratas? Em algumas empresas, particularmente na América Latina, a rentabilidade é muito mais baixa do que no resto do mundo. GE – Sem dúvida. A rentabilidade de uma empresa é de 7% a 9%, e na maior parte do tempo é esse o custo dos juros – a empresa trabalha para os bancos. É de fato um mercado algo ingrato, apesar de seus números significativos, e quem corre os maiores riscos são os operadores das linhas aéreas, os que menos ganham. E, em minha opinião, o modelo de privatização dos aeroportos na região é totalmente equivocado e vai colapsar.

AE – Falemos de 2018. Que novidades a Avianca Holdings planeja ainda para este ano? GE – Nosso 2018 é um ano a mais de consolidação. Temos que nos consolidar e nos preparar para o que vem pela frente. É sabido que estamos em negociações para uma joint venture com a United Airlines. Queremos concluir essa negociação, queira Deus que ainda neste ano ou no primeiro semestre de 2019. Estamos consolidando a operação no Brasil com uma frota praticamente nova e nos posicionando dentro de nosso nicho. Não queremos ser os maiores, mas sim os melhores. Hoje somos a menor das quatro companhias. Não temos interesse em ser a maior, mas em continuar sendo a melhor.

AE – Por quê? GE – Porque é um modelo no qual há conflito de interesses entre todas as partes envolvidas. A concessionária tem conflito com as companhias aéreas, com os passageiros e com o governo. O governo tem conflito porque, quando faz a licitação, lhe interessa aquele que coloque mais dinheiro em seu bolso. Quem ganha a concessão, também querendo mais dinheiro para pagar seu investimento, tem que cobrar uma taxa aeroportuária muito mais alta e, ao mesmo tempo, o custo dos serviços às companhias e ao público é exorbitante. Dou um exemplo: há quinze ou vinte anos, quando os aeroportos eram um serviço público administrado pelos governos e não havia esse

AE – O Panamá é um caso paradigmático. GE – Tenho que tirar o chapéu para o Panamá, porque é o único país que conheço em que as companhias, o governo e o aeroporto trabalham em conjunto – e funciona. Eles têm um mesmo objetivo. Trabalham muito alinhados e o Grupo Motta tem uma grande participação em tudo.

AE – Com uma participação de que tamanho? GE – Estamos com 14% no Brasil, e queremos começar na Argentina. Tivemos um atraso de um ano por um problema político e tivemos que ir à Justiça para resolvê-lo. Neste ano devemos começar a voar com jatos executivos na Argentina e consolidar nossa entrada no México. AE – Analisando o balanço da Avianca, chama a atenção que em 2017 as receitas chegaram a US$ 4,44 bilhões, com margem operacional de US$ 293 milhões, o que representa 6,6%. Mas a companhia pagou juros de US$


O AÇÃ ULG DIV

189 milhões, o que a deixa quase sem dinheiro para o capital da dívida, que no longo prazo é de US$ 3,75 bilhões. GE – A contabilidade é calculada. Quando há um pedido de aeronaves, é preciso fazer pre-delivery payments (PDP), porque o compromisso foi firmado. Isso tem que ser colocado no balanço. Contabilizo o que vou gastar com o avião, mas não posso dizer quanto ele vai trazer para se pagar. AE – Trata-se de uma grande dívida. Vamos supor que a empresa siga faturando para o futuro e que os juros não subam – o que não é verdade, porque já estão subindo... GE – Não, no nosso caso é o contrário. Uma parte dessa dívida foi contraída quando a empresa estava saindo do Chapter 11 [referência ao Código de Falências dos Estados Unidos], com um rating de 1. Inclusive uma boa parte das obrigações foi emitida antes de irmos à Bolsa, e isso

foi caríssimo. Hoje estamos financiando aviões e contraindo dívidas de 30% a 40% mais baratas. Financiamos aeronaves abaixo de 3%.

Dívida da empresa será refinanciada num valor mais baixo, diz Efromovich

AE – De acordo com nossa análise, a Avianca basicamente segue indo bem, mas está apenas gerando e pagando juros. Pelo volume pago hoje, vai levar de trinta a quarenta anos para pagar a dívida, o que é inviável. GE – Primeiro, estamos pagando a dívida. Em segundo lugar, essa dívida terá que ser refinanciada num valor mais barato agora, e teremos condição de conseguir isso e de pagar uma parte. Neste ano teremos um resultado líquido de US$ 96 milhões. AE – Quanto desse montante será destinado à amortização da dívida? GE – Vamos entregar a nossos investidores algo em torno de 20% de dividendos, como sempre temos feito, porque apostamos em nossos investidores. Em relação à sua pergunta, o enfoque da inJunho Julho 2018 | 21


DIVULGAÇÃO

Entrevista

Para o chairman da Avianca, viajar de avião não é caro

dústria de aviação é ser intensiva em capital. Não é saudável para uma companhia aérea não ter dívida. AE – Nisso estamos de acordo, mas também é pouco saudável ter a dívida que a empresa tem... GE – Fechamos 2017 com US$ 500 milhões em caixa. AE – E também US$ 600 milhões em passivos correntes a mais do que ativos correntes. Ou seja, o caixa também não vai bem... GE – Isso depende de como você vai atuar e o que está fazendo no momento. AE – Não se trata de converter esta entrevista num fórum entre o que nós pensamos e o que os senhores pensam, mas gostaríamos de ter respostas para as nossas perguntas. Alguém que olhe para o estado financeiro da empresa pode perfeitamente dizer: “o senhor Efromovich precisa vender essa companhia”, porque, se do resultado do ano sobram apenas US$ 30 milhões, essa dívida de quase US$ 4 bilhões

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nunca será paga. O senhor, no entanto, diz que os créditos serão renegociados, que as taxas vão cair... GE – Você se equivoca numa coisa básica. Esses quase US$ 4 bilhões envolvem o aumento da frota, e não só a troca de aviões. Isso significa aumento de receitas, o que por sua vez significa que no final do ano, em vez de sobrar 100, vão sobrar 300. Hoje, apenas o nosso programa para o passageiro frequente [LifeMiles] vale o que vale a companhia. Ela é totalmente líquida e quase não tem gastos. Se quisermos vender 30% dessa empresa, pagamos a dívida de curto prazo. AE – Então sua resposta é que a empresa tem ativos como esse que permitiriam de alguma maneira liquidar uma parte da dívida? GE – Se isso fosse o que nós quiséssemos. Mas entendemos que se for analisado o business plan da companhia, obviamente que no longo prazo, com crescimento conseguimos pagar a dívida. Ou seja, projeto que a companhia fature, em vez de US$ 4 bilhões, de US$ 8 bilhões a US$ 10 bilhões em cinco a seis anos, e então sobrariam não 100, mas 300 ou 400. AE – A empresa tem planos de emitir bônus? GE – Temos planos de fazer várias coisas, entre elas bônus, mas ainda não sabemos. AE – Qual é o plano financeiro? GE –O plano financeiro neste momento está em estudos porque apresenta várias alternativas. Não esqueçamos que temos uma empresa de turismo virtual em sociedade com a rede de varejo Éxito [da Colômbia], do Grupo Casino. Temos também uma empresa de serviços aeroportuários. Somente esse grupo de empresas mostra um volume que vale quase o dobro da companhia aérea. Então, há um grande plano que ainda não está concluído neste momento. Como já disse, não posso comentar sobre algo que não está concluído, porque isso pode ser tomado como uma informação oficial. Temos


várias alternativas dentro do Grupo Avianca Holdings que nos dão a tranquilidade de que estamos muito saudáveis e de que o mercado está reconhecendo o valor das ações, do nosso rating e dos bônus. A companhia teve resultados operacionais muito bons depois de atravessar a pior greve da história da aviação. No Brasil conseguimos sobreviver e crescer sem emitir bônus, sem que a China invista dinheiro na maior crise econômica da história do país e na qual entrou dinheiro por todos os lados nas companhias aéreas. Os chineses investiram na Azul, a Delta entrou com uma fortuna na Gol e a Latam fez o mesmo na TAM. Por isso digo que o mercado está reconhecendo o nosso desempenho, e isso demonstra que no mundo de hoje, mesmo com toda a tecnologia e a globalização, são as pessoas que fazem a empresa. E estamos fazendo bem. AE – Não queremos dizer que estão fazendo mal; pelo contrário, estamos impressionados. O que nos parece é que, a partir de nossa perspectiva, há problemas financeiros. GE – Digo uma coisa muito simples: no Brasil, a Avianca se fez a partir do zero. Não tinha ações, nem bônus, nem nada, cresceu e é considerada a melhor empresa da região. É preciso ter muito cuidado em termos práticos com o que realmente se vê num balanço, no qual há regras contábeis. Para nós, o que vale é aquela conta do padeiro: o que entra e o que sai. Então digo o seguinte: compro um avião e me endivido. Não importa qual seja a dívida, sei que vou gerar com isso o suficiente e um pouquinho mais para pagar essa dívida. Finito. AE – Há alguns meses circularam rumores de que o senhor estava batendo em várias portas para vender a Avianca. No final de 2016, o New York Times publicou que a Delta, a United e a Copa estavam interessadas na companhia. Isso procede? GE – Não bati em nenhuma porta. Houve

ofertas, inclusive algumas muito boas. Mas a Avianca não está à venda. Não quero vendê-la. AE – Quanto vale a Avianca? GE – Podem me oferecer o que quiserem, mas eu não quero vender. AE – Sim, mas quanto ela vale, na sua opinião? GE – Para mim, quatro vezes mais do que o mercado está dizendo.

“No Brasil, a Avianca se fez do

zero

AE – E quanto o mercado diz que ela vale? GE – Em torno de US$ 1,1 bilhão. Mas, para mim, vale US$ 5 bilhões. AE – É difícil ganhar dinheiro com a aviação comercial... Há negócios mais rentáveis. GE – De fato, mas estou aqui porque estou louco. AE – Fala-se em perspectivas muito boas para os negócios nos próximos anos. Mas as companhias low cost [de baixo custo] estão chegando à América Latina... GE – Para mim esse “fantasma” das low cost não existe. É um modelo de alta densidade de aviões. Então, o dono coloca 20% a mais de assentos e, nos mercados em que consegue chegar,

“PARA NÓS, O QUE VALE É AQUELA CONTA DO PADEIRO: O QUE ENTRA E O QUE SAI. ENTÃO DIGO O SEGUINTE: COMPRO UM AVIÃO E ME ENDIVIDO. NÃO IMPORTA QUAL SEJA A DÍVIDA, SEI QUE VOU GERAR COM ISSO O SUFICIENTE E UM POUQUINHO MAIS PARA PAGAR ESSA DÍVIDA. FINITO” Junho Julho 2018 | 23


Entrevista

DIVULGAÇÃO

Classe executiva: para Efromovich, tanto as companhias tradicionais quanto as low cost encontrarão clientes

pode cobrar 20% mais barato. Mas veja – e aqui está a diferença: elas fizeram um grande favor para as companhias tradicionais. As low cost chegam aqui novinhas, com aviões novos e dinheiro fresco. Passa a lua de mel e, quando precisam fazer manutenção dos aviões ou cobrir outros custos, elas se dão conta de que a vida real é outra. Então, no final das contas, as low cost se aproximam das tradicionais, porque os custos com os aviões, os pilotos e o combustível são os mesmos, com pequenas diferenças. E as tradicionais, justamente por conta dessa pressão que as low cost trazem, se tornam mais eficientes e seus custos e preços caem. O que vai acontecer? Penso que sempre haverá clientes para as duas. Sempre haverá alguém que vai pagar US$ 100 para viajar imobilizado e gente que não quer voar em posição fetal e vai pagar US$ 150 para ir sentado e comer um sanduíche.

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Além disso, tenho dúvidas se as low cost vão funcionar em alguns mercados. AE – Quais, por exemplo? GE – México e Chile. Isso se deve ao fato de que uma das vantagens do sistema low cost são os voos curtos. Na Europa, por exemplo, além de existir uma demanda maior por voos curtos, essas empresas utilizam aeroportos alternativos em que são pagas para aterrissar. Com isso, podem ter uma oferta mais eficaz. Aqui na América Latina ninguém te paga para aterrissar num aeroporto. As low cost não me assustam. Já as enfrentamos na Colômbia e graças a Deus nosso mercado se mantém. AE – Quais os planos para o Peru e o Chile? GE – A Avianca Peru está indo bem. Temos um plano de desenvolvimento sustentável. Não estamos fazendo loucuras e estamos esperando que a JetSmart entre com os 70 aviões prometidos no Chile [o grupo norte-americano Indigo Partners anunciou que destinará 70 aeronaves para a sua filial chilena low cost, a JetSmart, com o objetivo de colocá-la em primeiro lugar no mercado local e sul-americano]. Imagine: nem a soma dos aviões latino-americanos de todos os países chega a 70. Pode ser que dê certo, vá saber... É futurologia. Mas a lógica demonstra o contrário. Dou um exemplo: no Brasil a Gol começou com sistema low cost e tinha alta densidade, mas um dia se deu conta de que não vendia muitos assentos e voava com 60% de ocupação, enquanto nós voávamos com 85%. Eles carregavam um monte de peso em assentos vazios e queimavam combustível. O que fizeram? Pegaram as primeiras sete ou dez fileiras e as chamaram de Gol Plus, diminuíram a densidade e deixaram de se classificar como low cost. Veja o que acontece no México: se você não tem aeroportos alternativos que paguem para ir lá e não há demanda suficiente para encher o avião, o modelo não funciona.



Do you speak english? Menos da metade dos executivos brasileiros tem pleno domínio sobre a língua inglesa. A liderança latino-americana é dos mexicanos

A

falta de fluência em inglês pode impactar diretamente na produtividade e no aproveitamento dos talentos. Um estudo realizado pela empresa britânica Page Personnel com oito mil profissionais na América Latina indicou que menos da metade dos executivos brasileiros tem pleno domínio do inglês: a média nacional de diretores e gerentes fluentes no idioma é de 37%. Nas áreas de carreiras técnicas e de suporte, falar bem inglês é ainda mais raro: apenas 27% dominam a língua. Apesar de baixo, o índice de fluência entre executivos brasileiros é levemente mais alto do que na Argentina e no Chile, onde 35% dominam o inglês, mas muito inferior ao do México, com 52%. Na edição 2017 do EPI, o Índice de Proficiência em Inglês, aferido pela Education First (EF) em 80 países de língua nativa não-inglesa, o Brasil permaneceu estagnado na mesma posição dos cinco anos anteriores, em 41º lugar, classificado na categoria de proficiência baixa. Mesmo os grandes eventos esportivos realizados em solo brasileiro não foram suficientes para que a população em geral aprimorasse o seu conhecimento na língua inglesa. Dentre os 78 países de língua nativa não-inglesa analisados pela organização Global English, que mediu a habilidade com o idioma de mais de 200 mil funcionários de empresas 26 | AméricaEconomia

nacionais e multinacionais, o Brasil ficou em posição ainda pior – a 70ª, obtendo a nota 3,27 numa escala de 1 a 10. A média deixa o Brasil entre os índices “iniciante” e “básico”, bem atrás de outros emergentes como a China e de vizinhos como o Uruguai, ambos com nota 5,03. O ranking é liderado pelas Filipinas, com 7,95. A média mais baixa é a de Honduras: 2,92. Para o British Council, apenas 5% dos brasileiros falam realmente o inglês. O estudo realizado pela entidade britânica apontou ainda que há uma percepção clara entre mais de 95% dos entrevistados de que estudar a língua aumenta as chances de um salário melhor e de obter promoção. Outro levantamento, conduzido pela empresa local Foreign Affairs em parceria com a Universidade de Tilburg, da Holanda, ouviu 250 executivos brasileiros de multinacionais, dos quais 75% já cursaram inglês em duas ou mais instituições/cursos e/ou com professores particulares, e 22% completaram o curso. O valor médio de investimento total nesse tipo de aprendizado, por conta própria, oscila entre R$ 15 mil e R$ 20 mil. Ainda assim, 53% dos profissionais pesquisados julgam ter necessidade de aperfeiçoar o conhecimento do idioma. AméricaEconomia Brasil

FOTOS: 123RF

Movimentos


Confiança na lona

Cresce a desconexão entre os cidadãos latino-americanos e as instituições de governo

A

confiança dos cidadãos latino-americanos em suas instituições nunca foi muito alta – as pesquisas nos últimos anos mostram que mais da metade da população da região tem pouca ou nenhuma confiança em seu governo. Essa desconexão deu um salto recentemente, chegando a 75% em 2017, de acordo com o último levantamento realizado pelo Latinobarômetro. A diferença em relação aos dados de 2010 chega a vinte pontos percentuais. Esse significativo aumento é destacado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) em seu relatório Perspectivas econômicas da América Latina 2018 – Repensando as instituições para o desenvolvimento, que alerta para o fato de que essa desconexão crescente enfraquece o contrato social na região. O relatório afirma que a crescente insatisfação se deve em grande parte ao crescimento da classe média, que hoje representa um terço da população e tem maiores aspirações e exigências. A isso se somam o aumento do contingente da classe média vulnerável, que vive com US$ 4 a US$ 10 por dia, e a alta porcentagem da população na pobreza. “A desconexão entre a sociedade e as instituições também é motivada por um crescimento insuficiente e pela grande desigualdade que ainda persiste, num contexto doméstico e internacional de grande incerteza”, aponta o relatório. A OCDE insta os países a repensar suas instituições para promover um crescimento inclusivo e avançar na direção de um novo nexo entre Estado-cidadãos-mercado para responder melhor às necessidades e exigências da sociedade. AméricaEconomía Internacional

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123RF E DIVULGAÇÃO

Movimentos

Opiniões divergentes Com baixa aprovação popular em seu país, o presidente da Colômbia é o mais bem colocado entre analistas do continente – e Michel Temer também se sai melhor fora do que em casa

S

antos de casa parecem realmente não fazer milagre. Na Colômbia, enquanto o nível de aprovação do presidente Juan Manuel Santos – que entregará o cargo ao seu sucessor em agosto – não chega a 20%, por conta da percepção dos eleitores sobre a corrupção e do lento progresso econômico do país, os formadores de opinião latino-americanos lhe dão uma avaliação positiva de 79%. O dado é da Pesquisa de formadores de opinião da América Latina sobre a imagem dos presidentes, realizada pela Ipsos Public Affairs com 367 entrevistados, incluindo jornalistas de destaque de 14 países que difundem regularmente seus pontos de vista nos meios de comunicação da região. Muito próximo de Santos está Tabaré Vázquez, presidente do Uruguai, com aprovação de 78%, seguido pelo argentino Mauricio Macri (72%) e Lenín Moreno, do Equador (71%). Completa a lista dos 5 primeiros o chileno Sebastián Piñera, ainda no início de seu segundo

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mandato, também com 71%. Na parte baixa da lista está Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, cuja aprovação chega a apenas 8%. Outros que não alcançaram os 50% são Juan Carlos Varela, do Panamá, e Evo Morales, da Bolívia – ambos com 42% –, seguidos de Enrique Peña (México), com 37%, e do ex-presidente cubano Raúl Castro, com 32%. O brasileiro Michel Temer é o penúltimo colocado do levantamento, recebendo apenas 28% de aprovação dos formadores de opinião latino-americanos. Apesar de baixo, é um índice bastante superior ao concedido pelos brasileiros. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada no começo de junho, o governo Temer é considerado bom ou ótimo por apenas 3% da população, enquanto 82% afirmam que que sua gestão é ruim ou péssima. É a mais alta taxa de desaprovação desde a redemocratização do país. AméricaEconomía Internacional



Moderador

Complexidade financeira O

Brasil é o segundo país mais complexo do mundo quando se trata de declarações de compliance e fiscais – perdendo apenas para a China. Os dados são da pesquisa anual Financial Complexity Index 2018, realizada pela TMF Group com mais de 94 jurisdições diferentes sobre a contabilidade e obrigações fiscais locais. O fator decisivo para colocar o Brasil na segunda colocação foi a automatização de sistemas. Embora o eSocial não solicite dados diferentes das diversas declarações anteriores, o sistema se mostrou difícil de ser adotado pelas empresas. Outro fator bastante mencionado foi a EFD-Reinf, obrigação

fiscal que complementa o eSocial. Os dois sistemas em conjunto exigem mais qualidade e quantidade de dados compartilhados com o governo. América Latina O Brasil manteve a primeira posição no ranking da América Latina, região considerada a mais complexa do mundo pelo segundo ano seguido, com cinco países no top 10 mundial. No ranking regional, completam a sequência: Argentina, Bolívia, Colômbia e México, que estão em 5º, 7º, 8º e 9º lugares no ranking mundial, respectivamente.

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B3 (B3 S.A.) – Brasil, Bolsa, Balcão – juntamente com a China Investment Information Services Ltd (CIIS), subsidiária integral da Bolsa de Valores de Xangai, anunciou uma parceria na qual a CIIS atuará como administradora e distribuidora oficial de market data da B3 na China continental. “A Bolsa de Xangai é uma das mais importantes do mundo e a Ásia definitivamente faz parte de nossa estratégia de longo prazo. Acreditamos que o compartilhamento de market data com a CIIS impulsionará a marca B3 na China continental de forma abrangente”, afirmou Gilson Finkelsztain,

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CEO da B3, durante a visita a Xangai para firmar a parceria. “A parceria de serviços de market data deverá fortalecer a gama de produtos disponíveis aos investidores chineses e proporcionará mais oportunidades de investimento no mercado chinês”, disse Que Bo, presidente da CIIS e vice-presidente da Bolsa de Valores de Xangai. Com a parceria, a CIIS ficará responsável pelo licenciamento, comercialização e distribuição técnica dos produtos de market data da B3 na China continental.

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B3 se une à Bolsa de Xangai


Oferecimento:

Livros FOTOS: DIVULGAÇÃO

Valsa brasileira

Laura Carvalho Todavia, 192 págs., R$ 49,90

Professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP e colunista da Folha de S. Paulo, Laura Carvalho abre seu primeiro livro com uma pergunta provocativa: “Como a economia de um país continental evoluiu, em apenas sete anos [2004-2010], da euforia de um cenário de crescimento bem acima da média das últimas décadas, com vigorosa geração de empregos formais e alguma redução das desigualdades, para uma das maiores crises de sua história?” Para a autora, “a compreensão do vaivém da economia brasileira na última década pede diagnósticos que descartem o Fla-Flu político e as comparações simplistas entre economia nacional e economia doméstica”. A análise da professora concilia economia, política e história, fazendo uma defesa do aprofundamento da democracia e da ideia de uma agenda voltada ao conjunto da sociedade brasileira, sem temer investimentos públicos nem o Estado de bem-estar social. Todos os homens do Kremlin - Os bastidores do poder na Rússia de Vladimir Putin Mikhail Zygar Vestígio, 352 págs., R$ 54,90

Em 1999, com uma manobra política astuta, Boris Ieltsin garantiu que a sucessão do seu governo caísse nas mãos do então jovem e promissor Vladimir Putin. Quase duas décadas se passaram e, de “rei por acaso” e futuro salvador do povo russo, Putin se tornou um déspota que não hesita em tirar do caminho todos aqueles que se opõem a ele – a não ser que isso tudo seja só uma fachada. É essa a tese que o jornalista Mikhail Zygar explora no livro. Tendo como base uma série de entrevistas inéditas com membros do círculo de Putin, Zygar traça um panorama abrangente dos últimos vinte anos de história do país. O Putin descrito por Zygar não é mais um indivíduo, mas um coletivo, composto por políticos e oligarcas que inventam guerras e inimigos do Estado para justificar seus ganhos pessoais, e que se equilibra de maneira tênue por trás da figura forte do presidente. A última esquina do tempo Silvia Simone Anspach Scortecci, 139 págs., R$ 40,00

Coletânea de contos em prosa poética. Neles, a narrativa de Silvia Simone Anspach viaja pela tradição indígena, pelos segredos da Terra Brasilis, banha-se no Urucuia, nos mares vikings, atravessa os vitrais azuis da Sainte Chapelle em Paris, passa pela pequena cidade de Giessen, na Alemanha, por Oslo, pelas Torres Gêmeas no 11 de setembro, por São José dos Campos, pelos campos de guerra e pelos de extermínio, pelos quadros de Van Gogh e de tantos outros artistas, pela música e pela literatura em todas as suas formas, pelo mundo em seus grandes e pequenos cantos possíveis e impossíveis. Entre espaços e fronteiras, na esperança e no desespero, divisa-se a terceira margem do rio de Rosa – e daí, lança-se um convite à grande e corajosa travessia.

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Tecnologia

Interrupção de voo pode gerar indenização E m média, quase 13 milhões de passageiros em todo o mundo têm direito a ser compensados anualmente pelas companhias aéreas por interrupção nos voos (overbooked, cancelado ou atrasado por mais de 3 horas) de acordo com a EC261, uma legislação europeia que protege todos os voos dos aeroportos da União Europeia (UE). No Brasil, isso vale para todos os voos de companhias aéreas europeias que saem do Brasil e aterrissam na UE ou partem dos aeroportos de lá e pousam no Brasil. Apenas 50% dos passageiros elegíveis no Brasil entram com pedido de compensação. Levando em consideração que cada ação vale até R$ 2,4 mil, isso significaria cerca de R$ 80 milhões em reembolso que deixam de ser restituídos todos os anos.

O principal objetivo da AirHelp, que recentemente desembarcou no Brasil, é lidar com esse processo em nome dos passageiros. A companhia estima que, desde 2015, mais de 66 mil brasileiros teriam direito legal à compensação com base na legislação EC261, mas apenas a metade o solicitou. O aplicativo AirHelp disponibiliza a função boarding pass scanner, com a qual os passageiros podem verificar sua elegibilidade para compensação diretamente no aeroporto e abrir uma reivindicação instantaneamente. Basta tirar uma foto do cartão de embarque no aplicativo para saber se existe o direito a uma indenização. AméricaEconomia Brasil

Novas atualizações do app GuiaBolso

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GuiaBolso, aplicativo de finanças pessoais mais baixado do Brasil, com mais de 4,1 milhões de usuários, passou por uma reformulação e oferece novas funcionalidades e telas para facilitar o entendimento das pessoas sobre as suas finanças. O redesign veio no sentido de simplificar ainda mais a compreensão dos usuários sobre o orçamento, visto que as finanças costumam ser associadas a algo complexo entre os brasileiros. “A nova versão Android ajuda o consumidor a entender melhor como foi seu comportamento até o momento com visões de histórico, e a partir daí planejar e acompanhar seus próxi-

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mos passos”, diz a diretora de produto e marketing do GuiaBolso, Paula Crespi. As principais mudanças implementadas foram no histórico, que permite acesso a dados mais completos; na estimativa de renda, para que o usuário tenha um planejamento mais inteligente de suas finanças; e na tela inicial, que agora reúne insights como quanto o usuário irá economizar no mês se seguir as estimativas e qual valor já economizou da meta, por exemplo. AméricaEconomia Brasil


Oferecimento:

TrustHub entra no mercado de subadquirência P

arte da multinacional brasileira SRM – gestora e administradora de fundos de investimentos –, a fintech de soluções financeiras TrustHub anuncia a sua entrada no mercado de subadquirência, com o lançamento do selo TrustPay, composto por um equipamento de checkout “bank in a box” e por três modelos de maquininhas para recebimento de cartão. Lançada em 2017, a TrustHub ganhou destaque por oferecer crédito a pequenas e médias empresas (PMEs) por meio do desconto de duplicatas, num processo que, entre a análise do perfil e a entrada do dinheiro na conta do empreendimento, leva menos de duas horas para ser concluído – tudo de maneira 100% digital e online. “Com as novidades, a TrustHub torna-se capaz de atender a todas as necessidades do empreendedor que procura por crédito, com soluções que vão desde o desconto de duplicatas, passando pelas maquininhas de cartão, até o conceito do ‘bank in a box’, um sistema de automação comercial que inclui vários serviços numa única plataforma”, explica o diretor de Meios de Pagamentos da fintech, Alexandre Góes. A TrustHub já liberou mais de R$ 20 milhões em crédito para PMEs apenas com desconto de duplicatas. “A expectativa é que, com as operações realizadas em nossos novos equipamentos, esse valor supere os R$ 100 milhões até o fim do ano, já que passamos a oferecer uma solução muito mais completa ao empreendedor que busca por crédito”, completa Góes.

AméricaEconomia Brasil

Agilidade para marketplaces

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Koncilia, primeiro software do mercado para a conciliação de pagamento dos marketplaces, foi desenvolvido pela DB1 Global Software e tem como objetivo trazer tranquilidade e agilidade para quem vende neles. O software verifica se há divergência nas comissões e descontos e controla se os pagamentos ocorreram conforme o contratado de maneira mais automatizada, reduzindo significativamente o esforço de pessoas para fazer esse trabalho. “Com a conciliação automática, além de agilidade e segurança para controlar os recebimentos, o vendedor pode baixar automaticamente os títulos no seu ERP, conectando nossa API”, explica Ilson Rezende, CEO e fundador da DB1 Global Software. Segundo Rezende, a ideia não é simplesmente encontrar erros dos marketplaces, mas de ambos os lados, inclusive reduzindo discussões infrutíferas e alto volume de atendimento que os marketplaces têm que fazer para esclarecer os pagamentos corretos. O Koncilia já possui mais de mil clientes, entre eles Livraria Cultura, Saraiva, L’Oréal, Technos e LePostiche, e é considerado referência de mercado, conectando empresas aos maiores varejistas online, como Amazon, Mercado Livre, Netshoes, Dafiti, Via Varejo, Walmart, B2W, Magazine Luiza e Carrefour, entre outros. AméricaEconomia Brasil

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Tecnologia | Comércio

Sistema facilita gestão do estoque Novo software permite análise 360o do negócio para integrar todos os canais do varejo

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Por Beatriz Santos, de São Paulo

VTEX, plataforma Cloud Commerce™ no mercado de varejo digital, lançou recentemente um novo módulo de seu sistema responsável pela exibição e gestão dos pedidos de lojas – o OMS (do inglês order management system, ou sistema de gerenciamento de pedidos). O lançamento aconteceu na sexta edição do VTEX Day, maior evento da América Latina e o terceiro maior do mundo no segmento de varejo multicanal (veja quadro). A plataforma Omnichannel vai integrar todos os canais do varejo – vendedor, comprador, loja online, loja física, entregador e clientes –, oferecendo ao varejista a otimização do seu estoque, uma única base de captação de dados do cliente e pedidos, geração de mais tráfego na loja física, menos rupturas, informações de navegação dos compradores e aumento de vendas, permitindo uma análise 360o de todo o negócio. “O VTEX OMS é mais do que dar a opção de realizar o pedido online e retirar na loja, ex-

perimentar o produto ao vivo, realizar a compra via internet e ter um atendimento personalizado com recomendação de produtos em lojas físicas com base nos dados obtidos online. Para que tudo isso funcione, é vital que haja uma visibilidade total do estoque da loja e uma gestão eficiente do pedido onde quer que ele aconteça ou seja entregue. Além disso, manter as informações dos clientes centralizadas e atualizadas é fundamental para entender seu comportamento, aumentar as vendas e gerir melhor os estoques”, explica Alessandro Gil, Chief Experience Officer (CXO) da VTEX. O módulo funciona da seguinte maneira: um consumidor compra um eletrodoméstico numa loja virtual e, com o uso do sistema, pode buscar seu produto na loja física mais próxima, sem precisar aguardar a entrega da mercadoria pelo correio ou transportadora. Já o lojista tem a possibilidade de gerenciar seu estoque, fazendo um giro


Alessandro Gil: manter as informações atualizadas é fundamental para entender o comportamento do cliente

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entre filiais e franquias. Por exemplo, se o consumidor comprar uma lata de tinta pela internet, diretamente no site do fabricante, pode retirar o produto em uma loja de bairro próxima à sua casa. A integração dos estoques online e offline também é outro diferencial do OMS. Os varejistas podem acompanhar em tempo real e de maneira centralizada todo o inventário disponível em sua área de atuação. Além disso, podem direcionar o pedido para a localização mais próxima do endereço do consumidor, permitindo a redução de custos e o tempo de entrega. “Fazer o estoque girar e organizar os produtos para que não fiquem parados meses num depósito trazendo mais custos é a principal dificuldade identificada hoje no varejo. Estoque é caro, o produto deprecia e isso imobiliza investimentos. Além disso, cerca de 54% dos consumidores que buscam na loja física realizam nova compra no momento da visita”, explica Gil.

Impactos dos dispositivos móveis O VTEX Day, realizado nos dias 14 e 15 de maio, reuniu quase 15 mil visitantes de mais de 20 países das Américas Latina e do Norte, além da Europa, 167 palestrantes das mais distintas nacionalidades e 154 expositores nos mais de 30 mil metros quadrados do São Paulo Expo. De acordo com Alessandra Hypolito, head do evento, a crescente importância da feira para as marcas participantes fica mais clara a cada edição. “Hoje, mais de 40% de nossos patrocinadores reservam seus grandes lançamentos para serem anunciados durante o VTEX Day”, diz. A edição 2018 trouxe palestrantes de peso. O público conheceu de perto as histórias de empreendedorismo do vocalista da banda Iron Maiden, Bruce Dickinson, e pôde entender como funciona uma das mentes que mudaram o mercado de entretenimento global – a do cofundador da Netflix Marc Randolph. O chairman da ASOS.com e ex-CEO da Amazon no Reino Unido, Brian McBride, falou para o público do evento sobre como o comportamento do consumidor tem sido cada vez mais impactado pelos dispositivos móveis. “Historicamente, o público varejista esteve carente de informação. Justamente para mudar este cenário, uma das missões do VTEX Day é prover nosso público com informação tanto no aspecto técnico quanto inspiracional, mostrando o que ele deve e não deve fazer para que seu negócio prospere, de modo a viabilizar que todo o ecossistema do e-commerce cresça”, afirma Alessandra.

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Inovação

O que vem depois da explosão da transformação digital

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período de grandes transformações disruptivas que vivemos será lembrado pelas próximas gerações como a Era da Inteligência Artificial, ou o início da supremacia das redes neurais, vencido o antigo paradigma que sempre desafiou a ciência e a tecnologia na eterna busca de se aproximar do cérebro humano. As ciências relacionadas ao comportamento humano começam a ter uma gravitação fundamental. Desta vez, caracterizadas basicamente pela disrupção causada pelos dados como os grandes protagonistas dessa revolução que

muda tudo. Há pouco tempo, 95% das empresas do mundo eram feitas de tijolo e argamassa (brick & mortar), que pensavam exclusivamente em como vender um produto, sob um vínculo produto/cliente. O conceito agora é de solução/ plataforma, que aborda questões muito mais complexas, tais como: do que meu cliente, com nome e sobrenome, gosta? O que ele compra? E mais importante: o que ele deixa de comprar? O cliente como entidade central ganha luz própria, graças à tecnologia, e a partir daí vai se descontruir a cadeia de valor. Todos os brick &


mortar que fabricam produtos terão que reelaborar sua cadeia de suprimentos e sua cadeia de valor, agora considerando a forma como compram, como manufaturam, como vendem e distribuem, sua logística. Não se trata apenas do canal digital, que ainda é pouco significativo, uma vez que o comércio eletrônico não supera os 15% do volume global de vendas, enquanto 85% dos consumidores ainda compram na loja física. O que importa não é quem vai vencer a guerra do comércio, mas quem vai conseguir obter a convergência de todos os canais (omnichannel). Dados são a nova moeda não apenas sobre o comportamento dos clientes: são decisivos na gestão da empresa. Todos os traços digitais (log de execução) são capturados pelas novas ferramentas, que reúnem um conjunto de soluções para gerenciar as informações. Os softwares de mineração de dados usam os traços digitais para reconstruir o que acontece numa organização. Mostram as variantes, desde o fluxo de processo mais comum até uma visualização completa de todas as operações em execução.

O melhor vem depois de automatizar e acompanhar em tempo real as operações. Ter processos adequados ajuda a melhorar o desenvolvimento das empresas para obter a maior produtividade, rentabilidade e clima laboral. A tecnologia aprende automaticamente como a empresa funciona e detecta as vulnerabilidades ocultas. Soam alarmes quando detectadas ineficiências e desvios do processo-alvo que geram custos ou prazos desnecessários para entregar e receber pela venda. Pode-se agir antes para corrigir o tempo perdido devido a estrangulamentos, desvios desnecessários e intervenções, ou onde surjam problemas de conformidade. A tecnologia analisa os tempos de processamento para detectar gargalos e mostra, de forma flexível, o tempo de processamento de todas as variantes de processo e as etapas individuais envolvidas. Ao capturar todas as informações da empresa num sistema único e escalável, a tecnologia ajuda a reduzir em até 70% o seu tempo de análise. Uma tendência irreversível: os dados passaram a ter valor intrínseco e fazem parte da cadeia de valor das empresas. Já existe um mercado de compra e venda de dados, além de empresas especializadas em utilizar as informações extraídas dos bancos de dados dos varejistas na montagem de estratégias para testar novos produtos de consumo, programas de fidelidade, ações de marketing etc. As grandes redes já fazem uso comercial dos dados. Mas a imensa maioria das empresas ainda nem sabe que pode capturar e consolidar esses dados e transformá-los em dinheiro por meio de um negócio paralelo ou programa específico. A monetização ocorre, por exemplo, quando o varejista vende informações úteis sobre sua base de clientes para outras empresas, interessadas em criar uma base de dados para montar programas de fidelidade, orientar os fabricantes de bens de consumo sobre produtos que não podem faltar para abastecer o mercado, quantidades, perfil de quem compra, regiões. Mais: es-

Dados são a nova

moeda não apenas em relação aos clientes, mas também decisivos na gestão da empresa

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Inovação

Já existem plataformas na

nuvem que auxiliam a decidir quais ações tomar para aumentar a rentabilidade 38 | AméricaEconomia

sas informações podem ainda ajudar a entender melhor as características do cliente para oferecer produtos adequados. Outra vertente surgiu com o advento de plataformas que utilizam tecnologias para analisar dados obtidos sobre a movimentação dentro das lojas pelo rastreamento do sinal wi-fi do smartphone, mais a combinação com informações do PDV e até de dados de navegação de aplicativos mobile, para cruzar dados e entender o que o cliente está buscando. Nos casos em que ele comprou, a tecnologia permite o oferecimento de novos produtos e aumentar o cross selling; nos casos em que não houve a compra, formata e envia promoções com os produtos que foram vistos ou que despertaram maior interesse, a fim de maximizar a conversão de vendas. Esses dados ficam todos armazenados num grande Big Data, permitindo novas ações comerciais no futuro. Hoje já temos todos os tipos de ferramentas que predizem o comportamento do consumidor e tendências imediatamente com base nos dados. O lado bom é que novos empregos são criados para pessoas que são capazes de desenvolver uma ligação bem-sucedida entre o mundo real e plataformas digitais, e as empresas serão mais sustentáveis. A economia passou a ser um Data Driven Business. De acordo com uma pesquisa do IDC, em 2019 uma em cada 10 empresas utilizará os dados como elemento central do serviço que presta. As empresas já podem recorrer às plataformas externas na nuvem para tomar decisões com base em dados mais precisos. A melhor maneira de prever o futuro, como ensina o consultor Peter Drucker, é criá-lo. Já existem ferramentas que tornam obsoleta a bola de cristal. Temos plataforma de serviço de análise de dados avançada na nuvem (BaaS - Business Analytics as a Service), a fim de auxiliar as empresas de diversos segmentos (indústria, varejo, bancos) a decidir quais ações tomar tanto para aumentar rentabilidade como para direcionar o negócio. Entre os benefícios inovadores es-

SABEMOS QUE NÃO É SIMPLESMENTE A COMPRA DE NOVAS TECNOLOGIAS QUE IRÁ SALVAR A EMPRESA. SERÁ PRECISO MUDAR O MODELO DE NEGÓCIO E O PRÓPRIO TRABALHO. É UMA MUDANÇA DE ATITUDE, HABILIDADE E ALINHAMENTOS tão acesso aos principais indicadores de negócio por setor; dados setoriais comparativos (benchmark); modelos preditivos prontos para serem instalados; integração com outros aplicativos e infraestrutura ágil e escalável. Convém perguntar: o que virá depois da atual explosão da transformação digital? Já sabemos que não é simplesmente a compra de novas tecnologias que irá salvar a empresa – e apenas digitalizar os negócios já não é mais suficiente. Será preciso mudar o modelo de negócio e o próprio trabalho. É uma mudança de atitude, habilidades e alinhamentos. Não é uma mudança fácil, uma vez que abrange pessoas, que são o ativo mais importante, envolve resistências e desafia sua capacidade de desenvolvimento e incorporação de novas habilidades. Por se tratar de uma mudança cultural, ela deve estar associada à cultura de cada organização – não funciona copiar a concorrência. Há ainda um forte agravante: a velocidade. Hoje os tempos de desenvolvimento de produtos caíram drasticamente, para apenas seis semanas. Embora a tecnologia disponibilize tudo muito rápido e isso seja uma oportunidade, é também uma ameaça, pois meu com-


para otimizar roteiros; lojas sem caixas, com o débito no cartão na saída; pizzarias robotizadas desde o pedido até a produção e entrega. O uso da telemetria praticamente coloca a empresa no piloto automático. Já temos redes neurais que permitem a previsão de demanda com base no uso inteligente de grandes volumes de dados de clientes em tempo real. A plataforma utiliza algoritmos matemáticos para executar grandes volumes de transações de dados do cliente e eventos externos, tais como previsões meteorológicas, concorrência de preços e campanhas promocionais, para sincronizar automaticamente a demanda em conjunto com os sistemas de planejamento, ajustando e otimizando a cadeia de fornecimento das plataformas de execução. Nesse contexto, o verdadeiro desafio consiste em transformar as pessoas e seus padrões de pensamento, e em como as organizações precisam avançar para tirar proveito de todas essas mudanças. Se tudo mudou, os negócios não podem mais ser conduzidos como antes. Não basta investir em novas tecnologias: é necessário fazer a integração da cadeia de valor de forma rentável e lucrativa. Há muita tecnologia no mercado – falta ganhar dinheiro com elas. Não existe mais a opção de ignorar o que precisa ser feito, como o redesenho organizacional que permita analisar os dados para tornar os negócios mais rentáveis. Estamos entrando no quarto grande ciclo de transformação da humanidade e do conhecimento, impulsionado pela aquisição e gestão de dados; mas é necessário modificar os sistemas de negócios para capitalizar a tecnologia disponível.

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petidor, seja grande ou pequeno, possui provavelmente o mesmo acesso que eu. Equipes colaborativas e multidisciplinares são fundamentais frente ao desafio da urgência e de ter respostas e novos conceitos ágeis e de small improvement; de entregar e melhorar sempre; de construir rápido e descartar com a mesma rapidez ideias que não tenham condições de ser bem-sucedidas. Com a rápida transformação digital dos negócios, os próximos três anos serão fulminantes para as empresas nascidas analógicas, muito mais do que tem ocorrido nos últimos 50 anos. Quem não se adaptar vai sair do mercado. E, contrariamente às mudanças anteriores, como a adoção da eletricidade ou ferrovias, a digitalização é baseada na evolução de vários componentes – entre eles semicondutores, redes de comunicação, computador, engenharia, análise de dados, dispositivos de acesso, robótica, inteligência artificial e sensores, com impacto determinante na produção de bens e serviços provocada pela incorporação massiva de novas tecnologias. Isso implica uma reestruturação das cadeias de valor mediante introdução de comunicações, aplicações, plataformas e conteúdo tecnológico, bem como do trabalho. O que vemos agora, com a combinação de diversas tecnologias disruptivas (internet das coisas, Big Data, cloud, analytics) é uma nova forma de pensar e, no fundo, uma revolução. A transformação digital – também chamada de digitalização da produção e da cadeia de valor ou internet industrial – pode ser definida como o conjunto das diversas mudanças associadas à adoção generalizada de tecnologias digitais nos processos produtivos, com a consequente mudança nos modelos operacionais e na dinâmica do funcionamento do mercado. Em breve, será comum haver produtos conectados, como se tivessem cérebros – como a cafeteira elétrica ter autonomia para fazer o pedido de reposição do café; caminhões sem motoristas para entregas com logística definida

Roberto Wagmaister Fundador e CEO do gA

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Economia

Os caminhoneiros e seus impactos na economia

e já não bastasse uma recuperação bastante gradual da economia brasileira, confirmada pelos números do PIB do primeiro trimestre, que mostrou alta de apenas 0,4% em relação ao último trimestre de 2017, o protesto dos caminhoneiros na segunda quinzena de maio vai deixar seus impactos sobre a economia. Em termos de atividade econômica, parte do que seria produzido e transacionado nos dez dias de manifestações foi perdido, reduzindo ainda mais o crescimento econômico deste ano, que estava migrando para perto de 2% e agora vai convergir para um número ainda mais baixo. As estimativas da 4E para o impacto econômico permanente da paralisação dos caminhoneiros são de 0,45

e devolução nos meses à frente. No ano o impacto será próximo de zero. Há também o impacto sobre as contas públicas. Não somente a menor atividade econômica reduzirá a arrecadação do governo, algo ao redor de R$ 10,5 bilhões, mas as concessões aos caminhoneiros custarão cerca de R$ 10 bilhões por ano ou mais, em estimativas ainda preliminares. Parte disso é despesa realocada, parte é tributação em outros setores, como a reoneração da folha de pagamentos, e parte será traduzida

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ponto de porcentagem do PIB, ou R$ 30,5 bilhões em valores monetários. As perdas foram maiores no setor agropecuário, na indústria de alimentos e em alguns segmentos de serviços. Nos dias de greve, o impacto sobre a economia foi ainda maior, mas parte disso se recupera com aumento de produção nos meses seguintes. Assim, o desempenho do PIB no segundo trimestre deve ser pífio. A 4E reestimou o crescimento no segundo trimestre de 0,9% para 0,1%. Para o ano, o impacto da greve levou a projeção do PIB de 1,9% para 1,4%. Tivemos também impactos em preços. Durante os dias de paralisação, vários alimentos tiveram seus preços majorados em função do desabastecimento. A batata e o tomate foram alguns dos destaques, com aumentos que passaram dos 200% ou até 300% em algumas localidades. Nesse ponto o impacto é apenas temporário. Com a normalização das entregas os preços voltarão aos seus patamares anteriores, com elevação na inflação de maio e possivelmente junho,

timou o movimento, respondeu de forma confusa, decretou sem sucesso e por mais de uma vez o fim da greve e ainda perdeu Pedro Parente da presidência da Petrobras. O atual governo sai menor do recente episódio, e candidaturas de centro, com ou sem apoio do MDB, seguirão enfrentando dificuldades. O movimento acaba favorecendo candidaturas de extremos, como de Bolsonaro e dos

PARTE DO QUE SERIA PRODUZIDO E TRANSACIONADO NOS DEZ DIAS DE MANIFESTAÇÕES FOI PERDIDO, REDUZINDO O CRESCIMENTO ECONÔMICO DESTE ANO, QUE ESTAVA MIGRANDO PARA PERTO DE 2% E AGORA VAI CONVERGIR PARA UM NÚMERO AINDA MAIS BAIXO em maior déficit primário. Como se diz em economia, nada é de graça. Por fim, a recente crise também terá impacto nas eleições. O governo subes-

candidatos de esquerda. E quanto mais incerta a eleição, maior a volatilidade de ativos financeiros, como câmbio e Bolsa, e menor o crescimento econômico.

Juan Jensen - Doutor em economia pela USP, sócio da 4E Consultoria e professor do Insper (jensen@4econsultoria.com.br) 40 | AméricaEconomia



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Especial | Sistema financeiro

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Em contagem regressiva? Superendividamento, sobrevalorização de ativos, guerras comerciais, protecionismo e populismo – para muitos analistas, esses ingredientes estão se juntando e criando condições de propiciar uma nova crise global como a de 2008 Por Camilo Olarte, da Cidade do México

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o dia 15 de fevereiro o índice Dow Jones apresentou sua maior queda desde 2011: retrocedeu 4,6%. As fortes perdas em Wall Street dispararam o alarme. Vários analistas, além de relatórios como os do Deutsche Bank e do Bank of America Merrill Lynch, anunciaram que as condições para uma crise financeira como a de 2008 estavam se repetindo. Com o passar dos dias confirmou-se que o retrocesso era mais um ajuste do que uma correção. Apesar disso, mesmo que a economia mundial cresça de maneira sustentável – a ponto de o Fundo Monetário Internacional (FMI) ter feito projeções de crescimento de quase 4% para 2018 e 2019 –, ficou no ar a lembrança da maneira silenciosa com que a crise financeira de dez anos atrás chegou, além dos diversos sinais semelhantes nos dias de hoje. Desde então, vozes de todo o mundo tentam descobrir quais são os sinais da tempestade perfeita: superendividamento global, supervalorização de ativos, o Brexit e seus possíveis efeitos, guerra comercial, o populismo e protecionismo de Donald Trump, conflitos geopolíticos.

Correlação entre dívida mundial e PIB está em

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Especial

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Donald Trump: estímulo fiscal agressivo e protecionismo

“Ninguém sabe quando será a próxima crise e quais serão as suas causas. A diferença desta vez é que existem bolhas sendo financiadas com capital e menos com crédito no Ocidente, e isso tem muitas implicações”, afirma o economista espanhol José Carlos Diez, autor de vários livros, entre eles o best seller Hay vida después de la crisis. A mais recente voz a anunciar a possibilidade de uma crise foi o próprio FMI. Em seu Relatório global de estabilidade financeira, divulgado no final de abril, o fundo advertiu sobre os altíssimos níveis de endividamento, os níveis muito baixos de aversão a risco por parte dos investidores e a inesperada alta da inflação nos Estados Unidos, consequência do agressivo estímulo fiscal lançado pelo presidente Donald Trump. “Tudo isso pode provocar fortes tensões financeiras globais ao forçar os bancos centrais a responder com firmeza”, avalia Tobias Adrian, diretor do Departamento de Assuntos Monetários do FMI. Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, o maior hedge fund do mundo, é mais pessimista e projeta que há em torno de 70% de

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chance de haver uma recessão antes de 2020. Perante esse cenário, os países emergentes e em desenvolvimento – como sempre – ficariam expostos às repercussões relacionadas a um ajuste acentuado das condições financeiras em termos globais. Com previsões desse tipo, cabe perguntar qual o seu nível de preparo para enfrentar essa situação passados dez anos da experiência de 2008. Injeção monetária As emissões gigantescas de liquidez geram um problema de excesso de endividamento global e, além disso, uma sobrevalorização dos ativos. Em 2007, a emissão total de dinheiro dos principais bancos centrais somava US$ 5 trilhões, e em 2017 chegava a quase US$ 20 trilhões – um aumento de 400% em dez anos. “Estamos diante de um crescimento artificial”, diz o economista Ricardo V. Lago, ex-integrante do Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento, Banco Mundial e BID. “A ideia inicial da política de injeção monetária depois da crise de 2008 era facilitar um processo de desalavancagem financeira paulatina, evitando-se cair numa recessão e dando-se tempo para colocar em marcha reformas fundamentais. Mas, com a abundância de dinheiro barato, não têm havido nem desendividamento nem grandes reformas”. Os números atestam o que Lago afirma. O endividamento global, privado e público, é cerca de 40% superior ao registrado antes da crise de 2008. A correlação entre dívida global contra o PIB está em 320%, quando no momento da crise era de cerca de 280%, de acordo com indicadores do Institute for International Finance (IIF). Por sua vez, o FMI advertiu em abril que a dívida disparou, apesar das manobras das entidades reguladoras bancárias das principais potências econômicas – 60% dessa dívida é privada, e 40%, pública. A metade dos US$ 164 trilhões da dívida global recai em três países: China, Estados


Unidos e Japão. “Sem sobra de dúvida, o endividamento global é um dos fatores de risco para uma nova crise, porque 40% desse aumento tem sua origem na China”, diz o economista Willy Zapata, ex-presidente do Banco Central da Guatemala e ex-diretor da Unidade de Desenvolvimento Econômico da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). “Isso se soma à possibilidade de um aumento na taxa de juros como resultado do crescimento das expectativas de inflação”. Obviamente o problema da crise não se limita apenas às economias avançadas. No ano passado, a dívida externa na América Latina, tanto privada como pública, subiu a US$ 1,47 trilhão – quase 80% a mais do que em 2009, de acordo com dados da Cepal. “Os setores privado e público necessitam urgentemente baixar os níveis de dívida para melhorar a resiliência da economia mundial e contar com uma maior capacidade de apagar incêndios, no caso de que as condições se tornem adversas”, diz o relatório do FMI. Vitor Gaspar, diretor de assuntos fiscais do fundo, criticou os Estados Unidos dizendo que são o único país avançado que não tem planos de reduzir a sua dívida, uma vez que os cortes fiscais mantêm o endividamento público elevado. “As políticas monetárias se encontram na armadilha do endividamento que ajudaram a criar”, escreveu William White, presidente do Comitê de Avaliação Econômica e Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), num artigo publicado no jornal Financial Times. “Continuar nesse caminho é ineficaz e crescentemente perigoso, mas retroceder também significa um grande perigo”. O que White diz coincide com o relatório do FMI: “Um abrupto processo de desalavancagem no setor privado pode ocasionar outra crise financeira no momento em que os tomadores de crédito apertarem o cinto simultaneamente. No caso de uma crise financeira, se a

Um recorde de US$ 237 trilhões A dívida global cresceu 42% em relação ao quarto trimestre de uma década antes (em US$ trilhões) Fonte: IIF

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Governo

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Sociedades financeiras

posição fiscal é débil, a profundidade e a duração da recessão resultante se intensificam, porque a capacidade de aplicar uma política fiscal contracíclica é limitada”. “Rapidamente vamos constatar a capacidade de resistência de algumas categorias de devedores frente ao novo cenário da subida das taxas de juros e normalização da política monetária”, diz Ricardo V. Lago. “Os elos mais frágeis da cadeia são o refinanciamento dos vencimentos de títulos sem grau de investimento no mercado de derivados financeiros, já que três quartos do total são derivados de taxas de juros. Então veremos as primeiras tensões”. Apesar disso, para outros analistas o panorama em relação à dívida não é tão catastrófico. “Não creio que estejamos à beira de uma nova crise de superendividamento global. Isso me parece uma visão catastrofista, como as teorias de conspiração”, afirma o mexicano Jonathan Heath, colunista do jornal Reforma e economista-chefe do México para várias instituições financeiras e consultorias globais. “O mundo fez

2017

Doméstico

Dívida externa da América Latina chegou a

US$ 1,47 tri em 2017, quase 80% a mais do que em 2009

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Especial

América Latina apenas iniciou sua recuperação e não está preparada para uma nova crise, diz professor da

UNAM

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bastante coisa a partir da Grande Recessão de 2008-2009 em termos de estudar os requisitos para a estabilidade financeira global e para implementar as medidas compatíveis”. Bolha generalizada De fevereiro de 2016 a 26 de janeiro de 2018, o índice S&P 500 subiu 57% nos Estados Unidos sem um elemento objetivo que sustentasse esse crescimento, de acordo com muitos analistas. Depois desse período baixou, mas permaneceu em níveis que não correspondem à realidade. “Estamos frente a uma nova bolha generalizada de ações, títulos, bens de raiz, obras de arte, criptomoedas”, afirma Ricardo V. Lago. Para Willy Zapata, o comportamento atual dos índices de preços das ações nas bolsas é resultado do excesso de liquidez global dirigido a commodities, títulos e empresas existentes. “O valor das empresas é reflexo dos fluxos de benefícios esperados. Hoje vemos um aumento de preços das ações que, em muitos casos, é apenas um reflexo de uma bolha especulativa”, afirma. “Em média, para alguns setores vemos preços em relação com lucros de até vinte vezes o rendimento anual, e isso não é sustentável, mas uma correção de preços na bolsa não necessariamente nos levará a uma recessão”. De acordo com alguns indicadores de valorização – como a Shiller-CAPE –, a bolsa só esteve tão cara como na atualidade em 1929 e 2000. “A queda nas bolsas, a crescente volatilidade dos mercados e as quedas de credit ratings são sinais premonitórios, e em dez ou quinze meses começarão os defaults”, diz Lago. “Não acredito que voltaremos a ver as cotações de janeiro durante bastante tempo. O mais previsível é que os índices percam 50% a 60% de seu valor quando se completar o ciclo de baixa”. A esses sinais de tormenta se somam outros, contra os quais as políticas monetárias podem fazer pouco. O relatório A próxima crise financeira, preparado pelo Deutsche Bank, enumera questões que têm preocupado muitos analistas

e também instituições como o FMI: o Brexit, no caso de que se rompam todos os laços com a União Europeia; e o Japão, que mantém uma dívida alta e crescimento baixo, e cujo colapso, por se tratar da terceira maior economia do mundo, poderia se tornar uma ameaça global. E há outra questão que cresce de importância a cada dia: a figura de Trump, que não passa despercebida nos mercados financeiros mundiais. “Embora as consequências do aumento recente do populismo ainda não tenham desestabilizado os mercados financeiros, esse crescimento seguramente aumentará os riscos para a ordem mundial atual”, explica o relatório. “O possível aumento das medidas populistas e nacionalistas, incluindo o protecionismo, pode causar uma guerra comercial e frear o crescimento global ao romper o funcionamento eficiente das cadeias de valor”, acredita Willy Zapata. “Hoje em dia indústrias como a automobilística e a eletrônica estão entrelaçadas em diferentes países. Até o momento esses aumentos de tarifa ainda não aconteceram e, ainda que haja expectativas negativas, podemos esperar que prevaleçam o senso comum e as negociações multilaterais”. Para José Carlos Diez, uma guerra comercial pode provocar um estouro desordenado da bolha da bolsa e imobiliária, e ativar de novo a crise bancária. “O maior risco seria um aumento da inflação que force o Fed a acelerar a elevação da taxa de juros”. Estamos preparados? “A região não está preparada”, diz taxativamente Juan Carlos Moreno Brid, professor titular da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM). “A crise de 2008 foi precedida por uma etapa de aumento na taxa de produtividade, avanços tecnológicos, redução de custos de transporte, tarifas e barreiras ao comércio, que incidiram num aumento sem precedentes da economia global. Na América Latina, a política macroeconômica, por sua parte, havia permitido superávits fiscais e a redução da dívida a


veitar de novo o crescimento do comércio mundial e a subida dos preços das matérias-primas. Mas pode ocorrer uma situação parecida com a de 2001, quando a crise tecnológica acabou provocando instabilidade financeira e afetando fortemente a região”, adverte. O analista mexicano Jonathan Heath é mais otimista sobre o aprendizado e as instituições criadas a partir da crise de 2008. “O BPI, o FMI e as demais organizações mundiais formaram o Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês), organismo internacional que persegue a eficácia e a estabilidade do sistema financeiro internacional, criado após a Cúpula do G20 em 2009. No caso específico do México, temos o Conselho de Estabilidade do Sistema Financeiro, que constantemente atualiza seus balanços de riscos. Esses relatórios concluem que estamos bem preparados para enfrentar qualquer risco endêmico”, afirma. “Na América Latina, as economias com menor dívida pública e maior posição de reservas

Para Ricardo V. Lago, economista com passagem por várias instituições globais, há uma bolha generalizada de ações e títulos

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cerca de 36% do PIB. A desigualdade também tendia a se reduzir”. Hoje, afirma Moreno Brid, a situação é diferente. “A região está apenas iniciando sua recuperação (1,3% em 2017), e a dívida subiu a 38% do PIB. É uma situação de debilidade, já que não há espaço fiscal. Ainda que alguns países mostrem níveis altos de reservas, no âmbito estrutural a tarefa não foi concluída e não se aproveitou o momento para a geração de um mercado interno robusto”, diz. Para José Carlos Diez, a Europa é uma economia com baixo crescimento e com deficiências em sua política econômica para sair da crise – portanto, vulnerável –, enquanto a Ásia depende muito do consumo interno da China e da Índia e cada vez menos do consumo europeu e norte-americano. “A América Latina depreciou suas taxas de câmbio fortemente desde 2014 e os bancos não quebraram porque têm a maior parte dos depósitos e dívidas em moeda local, como acontecia nos anos 90. Isso permite apro-

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Especial

internacionais, como Peru e Chile, aguentarão melhor porque poderão enfrentar o temporal sem crises cambiais ou financeiras. Mesmo assim, a crise afetará todos os países”, diz Ricardo V. Lago. “A margem de manobra na região é bem menor do que antes. Os governos estão mais endividados, razão pela qual há menos espaço para políticas anticíclicas e resgates financeiros. Os bancos centrais estão descobertos e as taxas de juros seguem baixas”. Lago conclui que “o entusiasmo sobre o crescimento mundial que vivemos desde meados de 2016 deve ser efêmero. Estamos no final de um raquítico ciclo de alta que se iniciou em meados de 2009, e não no princípio de um novo. Em um ou dois anos os problemas financeiros descritos nos levarão a uma nova recessão mundial”. A dívida mundial quebra um novo recorde A maior parte da dívida mundial corresponde às economia avançadas, e o aumento recente é atribuído às economias dos mercados emergentes (Porcentagem do PIB mundial) Fonte: Mbaye, Moreno Badía e Chae; base de dados sobre a dívida mundial, e estimativas do pessoal técnico do FMI

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0 Economias avançadas

Economias emergentes

Países em desenvolvimento com baixo nível de renda

Nota: a dívida mundial se refere à soma da dívida bruta do setor público e setor privado não financeiro. A média ponderada é calculada usando-se o PIB nominal anual convertido em dólares para uma amostragem não equilibrada que corresponde a 190 países

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A RESPOSTA À PERGUNTA SOBRE SE HAVERÁ UMA NOVA CRISE PARECE SER UNÂNIME: SIM. O QUE NÃO SE SABE É QUANDO ELA CHEGARÁ E QUAL SERÁ A SUA ORIGEM Flerte perigoso A resposta à pergunta sobre se haverá uma nova crise parece ser unânime: sim, haverá. O que não se sabe é quando ela chegará e qual será sua origem. O sinal dado pelo FMI colocou em alerta os que desenham as políticas monetárias e fiscais. “O sensato é que os ministérios de Economia e os bancos centrais preparem desde já planos de contingência de políticas fiscal e monetária anticíclicas e também trabalhem cenários com os principais bancos e empresas para antecipar a origem dos problemas”, defende Ricardo V. Lago. “É preciso tomar medidas fiscais para prevenir bolhas imobiliárias e medidas microprudenciais para evitar um contágio da euforia nos balanços bancários”, diz Moreno Brid. “É preciso haver políticas de longo prazo na América Latina, especialmente de educação e inovação, para aumentar a produtividade e a renda por habitante, e melhorar os salários para evitar a instabilidade social e política que reduz a margem de gestão de crises”. “A ação decidida dos bancos centrais em 2008 evitou a profundidade de uma grande depressão”, considera José Carlos Diez. “Mas parece que de novo os investidores pensam que no caso de uma crise o Estado voltará a resgatá-los com a compra de dívida, e voltamos a ver excessos como antes de 2007. O crescimento mundial pode continuar por vários trimestres e o homem sempre tropeça na mesma pedra. Mas depois da Grande Recessão deveríamos ter aprendido que é perigoso flertar com ela”.



Relações internacionais | Comércio exterior

Porta de entrada para a União Europeia Secretário de Internacionalização de Portugal se reúne com empresários brasileiros para apresentar oportunidades de investimento no país, plataforma para um mercado de 500 milhões de pessoas Câmara Portuguesa de Comércio, teve audiência com o governador Márcio França (PSB), visitou a Embraer em São José dos Campos e participou de um seminário com investidores no Rio de Janeiro, onde também conheceu a Fábrica de Startups. “Essa agenda está centrada essencialmente na captação de investimento estrangeiro para

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ma intensa agenda de reuniões e contatos marcou a visita ao Brasil do secretário de Estado da Internacionalização do governo português, Eurico Brilhante Dias, de 15 a 18 de maio. Entre outros compromissos, Brilhante Dias reuniu-se com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e com associados da

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Por Paulo Hebmüller, de São Paulo

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Segurança Nos encontros com empresários e investidores no Brasil, o representante do governo português destacou as seis principais áreas nas quais o país oferece boas oportunidades: o setor químico e petroquímico; o agronegócio; a mineração (Portugal tem uma das maiores reservas mundiais de lítio, elemento fundamental para baterias de diversos equipamentos); as áreas imobiliária e de investimentos relacionados ao turismo; o ecossistema de startups, incubadoras e aceleradoras; e a possibilidade

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Portugal, mas também na promoção das exportações e do investimento português no Brasil”, disse o secretário em entrevista exclusiva à AméricaEconomia num raro intervalo entre os deslocamentos em São Paulo. “É também um desafio que temos lançado de preparar bem aquilo que gostaríamos que seja uma nova etapa do relacionamento econômico entre Portugal e Brasil depois do Acordo de Livre-Comércio do Mercosul com a União Europeia (UE)”. As negociações para a conclusão do acordo, como se sabe, vêm se estendendo há quase duas décadas, com longos períodos de interrupção. Foram retomadas nos últimos anos, e havia a expectativa de que finalmente a assinatura entre as partes ocorreria ainda em 2017, o que não se confirmou. Em audiência pública na Câmara dos Deputados no dia 13 de junho, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, disse que o acordo pode ser fechado antes das eleições de outubro. Para o secretário português, alguns dos principais entraves para a concretização do tratado estão ligados ao setor primário e às exportações de carne bovina do Mercosul para a UE, além de questões sobre laticínios e exportação de veículos da UE para os sul-americanos. “Penso que temos muito mais a ganhar do que a perder. Esse acordo tem em Portugal um grande defensor, e acredito que sua conclusão está mais próxima do que jamais esteve”, afirma.

de utilizar o país como plataforma logística para o restante da Europa. “Essas são áreas em que temos oportunidades, sem esquecer o setor automobilístico, em que Portugal tem quatro montadoras, e o aeronáutico, no qual já temos duas unidades da Embraer, um caso de grande sucesso”, ressalta o secretário. “São caminhos reais de negócios que permitem aos brasileiros olhar para Portugal como um lugar muito seguro do ponto de vista contratual, de proteção dos ativos – cotados numa moeda forte – e porque de fato é um dos países mais pacíficos do mundo”.

Brilhante Dias (no centro da mesa) participa de encontro na Câmara Portuguesa de Comércio ao lado de Fernando Carvalho (conselheiro da Embaixada de Portugal no Brasil), Paulo Lourenço (cônsul-geral em São Paulo) e Nuno de Sousa, da Câmara (em pé)

TRATADO DE LIVRECOMÉRCIO ENTRE MERCOSUL E UE DEVE ABRIR NOVA ETAPA NO RELACIONAMENTO ECONÔMICO. “ACORDO TEM EM PORTUGAL UM GRANDE DEFENSOR”, AFIRMA O SECRETÁRIO Junho 2018 | 51


GOVERNO DO ESTADO DE SP

Relações internacionais

Brilhante Dias com o governador Márcio França: diálogo para aumentar o intercâmbio

Agronegócio pode utilizar ligações marítimas sem pagar direito aduaneiro entre Portugal e os outros países da

UE

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Brilhante Dias faz questão de salientar que Portugal não deve ser visto apenas como um mercado doméstico: para além de um país com o qual o Brasil tem óbvias e profundas ligações históricas e culturais, trata-se da porta de entrada para um mercado de 500 milhões de habitantes dos países-membros da UE. Entre os exemplos já existentes, o secretário cita uma empresa brasileira que investiu na área do zinco e fez do país sua plataforma de distribuição para toda a Europa. “O agronegócio também pode se valer disso, utilizando as ligações marítimas e não pagando direito aduaneiro entre Portugal e os restantes mercados da UE”, diz. Já há um número significativo de empresas brasileiras de todos os portes que investem em Portugal. De acordo com Brilhante Dias, a estimativa desse stock fica em torno de US$ 3,4 bilhões – “mas é um valor claramente conservador, porque tem aumentado o investimento de brasileiros titulares de passaporte português”, ressalva. Há também aqueles que dirigem seus negócios no país a partir de outros territórios, como Luxemburgo ou Holanda, em função de

vantagens fiscais. O secretário diz que não há distinção em relação à origem do capital e que, por se tratar de uma economia aberta, o tratamento dado às empresas estrangeiras é o mesmo aplicado às portuguesas. Aprendizado A postura de apoio do governo luso ao comércio internacional se manifesta também nas negociações que envolvem o Acordo UE-Canadá (CETA) e nas relações bilaterais com países como Japão, México, Colômbia e Peru. Da mesma forma têm sido aprofundadas as conversas com governos africanos, especialmente da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês), da qual são membros Angola e Moçambique, ex-colônias de língua portuguesa. Reflexos dessa postura aparecem no montante do investimento estrangeiro direto (IED) em Portugal, com um crescimento de mais de € 800 milhões de 2016 para 2017. “Em cinco anos aumentamos em 10% o peso do IED no nosso PIB”, salienta o secretário. Ao mesmo tempo, Brilhante Dias reconhece que há bastante trabalho a fazer para a internacionalização das empresas portuguesas. “Sabemos que no passado houve investimentos em território brasileiro que não foram bem-sucedidos. Esse processo de aprendizado tem que se tornar útil para sermos mais eficazes”, diz. Uma de suas expectativas com a assinatura do Acordo de Livre-Comércio entre Mercosul e UE é que aumenta também o investimento de empresas portuguesas em outros países. Para o secretário, a visita ao Brasil correspondeu à sensação de que cresce o número de brasileiros que olham para Portugal como um bom mercado e uma oportunidade de entrada na UE – e a perspectiva é de que o movimento de trocas siga em ascensão. “É importante reafirmar que estamos aqui ainda antes do Acordo de Livre-Comércio, e depois da sua concretização estaremos mais do que preparados para aproveitar essas oportunidades”, conclui.


Finanças

A volta da volatilidade

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as últimas semanas, o mercado financeiro tem observado enorme volatilidade na taxa de câmbio entre o dólar e o real. A cotação da moeda norte-americana andou beirando os R$ 4,00, mas recuou após algumas intervenções do Banco Central, que buscou conter a depreciação do real por meio da colocação de swaps cambiais junto ao mercado, em volumes jamais vistos em tão pouco tempo. A volatilidade nos mercados voltou com força total, deixando mais evidente a situação nada confortável em que se encontra o Brasil atualmente. O movimento negativo no câmbio foi acompanhado por quedas acentuadas nos índices de ações e pelo aumento das taxas de juros dos contratos futuros de mais longo prazo.

Parte do problema, como já estamos acostumados a ver, vem do cenário externo. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve continua o processo de implementação de uma política monetária mais restritiva, o que faz com que o dólar se aprecie perante outras moedas. Na Europa, o Banco Central Europeu segue passos similares e já mira o fim do ciclo expansionista da política monetária. Para defender suas moedas, bancos centrais de diversos países emergentes, como Turquia, Indonésia e Filipinas, já promoveram altas das respectivas taxas de juros básicas. Mas o movimento é claro: o capital tem fluído das economias em desenvolvimento para as economias desenvolvidas nesta primeira metade do ano. Outra parte do problema, contudo, tem a ver com as nossas próprias mazelas domésticas. Primeiro, estamos pagando lentamente a conta do expansionismo fiscal verificado até pouco tempo atrás. Como país, não nos preparamos economicamente para o tempo de vacas magras. Também não nos posicionamos adequadamente para o

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tempo em que houvesse uma redução de liquidez no mercado internacional para economias emergentes (o que é o caso presente). Em segundo lugar, a incerteza em relação ao cenário eleitoral de outubro deixa os investidores – domésticos e estrangeiros – com o pé atrás em relação a manter ou acelerar seus investimentos no Brasil. E o cenário não é dos melhores: há grandes chances de termos um governo populista de esquerda ou de direita em 2019.

em 2018. O viés contracionista da política monetária no mundo desenvolvido, combinado com o confuso ambiente político-eleitoral a que estamos submetidos por aqui, continuará a ter como efeito o distanciamento do investidor e a consequente piora nos indicadores do mercado. Para conter o aumento da taxa de câmbio e a saída de capitais, o Banco Central poderá ter de iniciar um ciclo de alta nos juros em breve – mesmo que já tenha indicado que não o fará, já que não se trata

PARTE DO PROBLEMA VEM DO CENÁRIO INTERNACIONAL. O CAPITAL TEM FLUÍDO DAS ECONOMIAS EM DESENVOLVIMENTO PARA AS DESENVOLVIDAS. OUTRA PARTE, CONTUDO, TEM A VER COM AS NOSSAS MAZELAS DOMÉSTICAS. NÃO NOS PREPARAMOS ECONOMICAMENTE PARA O TEMPO DE VACAS MAGRAS O que podemos esperar dos próximos meses? Vaticinar é sempre um ofício perigoso, mas arrisco dizer que estamos longe de ver o pior momento da convulsão que se abate sobre os nossos mercados financeiros

de um problema de inflação. A manutenção dos juros no patamar atual pode se provar uma política equivocada. As opiniões apresentadas nesta coluna não representam, necessariamente, a visão das entidades às quais o autor está associado.

Mauro Miranda, CFA - Presidente da CFA Society Brazil Junho 2018 | 53


Cidadania | Desenvolvimento sustentável

Cooperação é o caminho para criar projetos de impacto Michael Nolan, diretor do Programa Cidades do Pacto Global da ONU, apresenta em São Paulo iniciativas envolvendo parcerias entre governo, setor privado e sociedade civil

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Por Paulo Hebmüller, de São Paulo

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“Não é possível imaginar essa agenda no

Goldemberg lembrou que a Rio-92 lançou os fundamentos do que viria a se chamar desenvolvimento sustentável. “Quase trinta anos depois, o processo de implementação daqueles ideais passou por vários estágios; alguns melhores, outros piores, mas finalmente a adoção dos 17 ODS é a coroação desse esforço que começou na conferência de Estocolmo em 1972, foi reforçado pela de 1992 e agora está em execução por meio de vários mecanismos”, disse.

Brasil

sem levar em conta a diminuição da desigualdade”, diz secretário de Meio Ambiente

Diversidade O palestrante principal do evento foi Michael Nolan, diretor do Programa Cidades do Pacto Global. Nolan apresentou vários exemplos de projetos criados no âmbito do programa em muitas cidades de diferentes países que mostram que o envolvimento do setor privado, dos governos locais e da sociedade civil produz resultados de impacto. O embrião da iniciativa surgiu em Melbourne (Austrália), a partir da reunião de representantes de diversos setores que procuravam soluções para a redução da pobreza e do número de moradores de rua da cidade. “Quando entraram na sala pela primeira vez, aquelas pessoas não queriam conversar umas com as outras. De fato elas GREGORY GRIGORAGI

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epresentantes dos municípios de Itu, Ourinhos e Santa Isabel, no interior paulista, assinaram manifestação de interesse em participar do Programa Cidades do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU). A assinatura ocorreu no evento Parcerias para a implementação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, realizado no dia 14 de maio na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco, em São Paulo. O Pacto Global é uma iniciativa criada pelo ex-secretário geral da ONU Kofi Annan com o objetivo de mobilizar a comunidade empresarial e demais stakeholders para adotar, em suas práticas de negócios, valores fundamentais nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. A Rede Brasil do Pacto Global completa 15 anos em 2018 e tem 751 empresas signatárias. Na abertura do encontro, a professora Patrícia Iglecias, superintendente de Gestão Ambiental da USP e diretora do escritório regional do Programa Cidades, salientou que, para avançar nos temas da Agenda 2030 e nos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) – fixados pela ONU em 2015 –, é preciso envolver os setores público e privado e também a academia. Maurício Brusadin, secretário de Meio Ambiente do estado de São Paulo, apontou que “não é possível imaginar uma agenda de ODS no Brasil sem levar em consideração a diminuição das desigualdades sociais”. Carlo Pereira, secretário-executivo da Rede Brasil, salientou que as metas estabelecidas são ambiciosas e, para serem cumpridas, será preciso dar ênfase ao ODS 17, que aborda a importância de fortalecer os meios de implementação e formar parcerias entre todos os setores da sociedade. Um dos convidados da mesa era José Goldemberg, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e ministro do Meio Ambiente na época da realização da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro em 1992.

Nolan: articulação de diferentes setores é poderosa, mas complexa Junho 2018 | 55


Cidadania

Goldemberg: adoção dos ODS representa continuidade de um esforço histórico

se detestavam, porque haviam tido experiências ruins anteriormente”, contou. “Criar confiança e colaboração para atuar em questões críticas, mesmo sem que uns gostem dos outros, faz com que seja possível ter impacto nessas questões”. A diversidade dos projetos é tão grande quanto a diversidade das cidades e de suas demandas, apontou Nolan. No Brasil, um dos projetos é o Angra Doce, que envolve 15 municípios dos estados de São Paulo e Paraná, na região de abrangência da Usina Hidrelétrica de Chavantes (SP), e busca criar uma área especial de interesse turístico com foco na conservação ambiental. Outro exemplo são as iniciativas de inclusão social e reassentamento de famílias em favelas em Porto Alegre.

FOTOS: GREGORY GRIGORAGI

Debate levou ao público informações sobre diversas parcerias

Otimismo Os projetos são definidos localmente a partir de questões críticas identificadas pelas prefeituras. Para o diretor do Programa Cidades, “a capacidade de o setor privado colaborar com governos e com a sociedade civil para criar projetos que não podem ser concretizados sem a ação

conjunta desses diferentes setores é uma coisa poderosa, mas complexa e difícil de fazer, e por isso não acontece sempre”. Entre os problemas apontados para a continuidade das iniciativas está o fato de que uma nova gestão municipal pode não dar sequência ao trabalho da anterior. “As cidades que levam isso a sério produzem não um, mas vários projetos de impacto”, diz. Ao mesmo tempo, continua, “o envolvimento do setor privado tem sido massivo”. “O Programa Cidades é a maior iniciativa de responsabilidade social corporativa do planeta”, define. À AméricaEconomia, Michael Nolan afirmou que “os projetos continuam a ter impacto por muitos anos” e que “as pessoas envolvidas aprendem novas formas de dialogar e de lidar com diferentes setores, o que é muito importante”. Nolan se define como um otimista em relação ao futuro. “Os desafios são grandes, mas as pessoas também são. Não são os negócios: são as pessoas nos negócios que provocam impacto”. O encontro teve ainda a participação de Manuela Prado Leitão, que apresentou o projeto Observatório do Futuro, do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, e de David Canassa, diretor da Reservas Votorantim, que falou sobre o Legado das Águas – reserva privada de 31 mil hectares de Mata Atlântica no Sul do estado de São Paulo. O Global Council of Sales Marketing (GCSM), presidido por Agostinho Turbian, publisher de AméricaEconomia, foi um dos organizadores da programação, que teve oferecimento institucional da Associação dos Registradores Imobiliários de São Paulo (Arisp). Para mais informações sobre o Pacto Global, acesse http://pactoglobal.org.br

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Negócios | Inovação

Qual é a forma de

pagamento?

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Criptomoedas – a resposta pode ser dada por mais de 1,5 milhão de usuários brasileiros que já fazem parte deste mercado. Uma das maiores corretoras globais chega ao país oferecendo mais de 50 ativos digitais Por Felix Ventura, de São Paulo

de moedas digitais com reais, negociando em caráter inédito em moeda local. “Dessa forma, os clientes desfrutarão da chance de expandir suas perspectivas em relação às moedas digitais numa plataforma segura e global”, completa. Conectar pessoas Todo o modelo de negócio é baseado no Human Centered Design, e a proposta é trazer inovações criadas junto aos seus clientes. “Uma corretora digital é uma plataforma que facilita a compra e venda de ativos digitais, como Bitcoin, Ripple, Ethereum e SmartCash, entre outros”, conta Jiang. “Disponibilizamos mais de 70 pares de moedas para compra e venda. Temos como meta trazer o maior número de possibilidades de negócios aos usuários, facilitando o acesso a tecnologias e tornando mais simples o uso dessas soluções no dia a dia das pessoas”. DIVULGAÇÃO

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o Brasil, a CoinBene, que recentemente iniciou suas atividades pedindo a opinião dos usuários antes do lançamento oficial da plataforma, já está aplicando otimizações propostas pelos clientes. A empresa, uma das trinta maiores corretoras globais de criptomoedas, está lançando em território brasileiro serviços que permitem a negociação de mais de 50 ativos digitais. A companhia possui operações na China, Índia e Malásia, além da matriz em Singapura, e inaugurou sua primeira unidade na cidade de São Paulo. Fundada em novembro de 2017, a startup já possui clientes em mais de 150 países, movimentando, diariamente, cerca de US$ 60 milhões, de acordo com dados do CoinMarketCap, portal que analisa a flutuação de valores das moedas digitais. De acordo com Youyang Jiang, diretor-geral da CoinBene Brasil, a empresa foi lançada em novembro de 2017 como uma iniciativa de três executivos vindos de grandes exchanges digitais chinesas, como a BTTC. “No Brasil, a história se inicia com a empresa ADF Brasil, que realizou diversos serviços ligados à tecnologia de ponta e, em 2018, se uniu a outros colaboradores locais e encontrou na CoinBene o parceiro ideal para evoluir sua atuação, usando suas experiências para trazer a plataforma global ao país”, explica. Na avaliação do diretor-geral da CoinBene Brasil, a companhia está crescendo em alta velocidade e já movimenta globalmente uma média de US$ 4 bilhões por mês, além de possuir 1,5 milhão de clientes ativos. Em sua primeira filial fora da Ásia, também disponibilizará a negociação

Youyang Jiang, diretor geral da CoinBene Brasil

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CARLOS ALBERTO TEIXEIRA

Negócios

Raul Colcher, da Questera: Brasil é o maior centro de transações com criptomoedas da América Latina

Desconhecimento do mercado e falta de regulação são alguns dos desafios para a popularização dos ativos

digitais 60 | AméricaEconomia

Ainda em junho, a empresa deve agregar à plataforma a SmartCash, uma moeda que possibilita qualquer negócio local aceitar pagamentos em criptomoedas sem mudar seu sistema de recebimentos. É importante ressaltar que as corretoras digitais, como a CoinBene, não negociam os ativos digitais diretamente, mas conectam pessoas que querem vender a pessoas que desejam comprar criptomoedas, assegurando que os compradores recebam seus ativos e que os vendedores recebam o dinheiro de forma segura e transparente. “Acreditamos que o mercado brasileiro das criptomoedas é bastante promissor. Além de existirem muitos brasileiros que compram e vendem ativos digitais (mais de 1,5 milhão), o uso tende a crescer, pois aqui encontramos um ambiente bastante favorável, onde estão vários desenvolvedores e uma comunidade muito ativa”, observa Jiang. A companhia pretende se expandir em breve e abrir novas filiais na Coreia do Sul e no México, segundo país fora da Ásia. A considerar o cenário global da criptoeconomia e suas transformações desde o seu surgimento, em 2009, a companhia mantém uma postura de otimismo em relação ao futuro e conserva a expectativa de quintuplicar até o final de 2018 os atuais US$ 4 bilhões que movimenta mensalmente. Crescimento Há indícios de que existe um movimento substancial e crescente de transações com criptomoedas no Brasil. Um levantamento recente, realizado pelo banco Morgan Stanley, indica que o país seria o sétimo com mais corretoras

transacionando com criptomoedas, embora o volume efetivamente negociado seja relativamente baixo (34º lugar). Segundo o CEO da consultoria Questera e membro sênior do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), Raul Colcher, há estimativas de que no final do ano passado o número de investidores em Bitcoin no Brasil ultrapassou o de investidores registrados na Bolsa de São Paulo. “Com base nas informações e levantamentos disponíveis, o Brasil é o maior centro de transações com criptomoedas dentre os países latino-americanos”, avalia. Para Colcher, alguns dos principais desafios para a popularização e uso massivo dos ativos digitais se traduzem pela volatilidade, ausência de um arcabouço regulatório, desconhecimento generalizado dos fundamentos e dos mercados e, recentemente, pela depreciação do câmbio. Numa explanação que considera o alinhamento brasileiro ao padrão mundial sobre questões ligadas à Indústria 4.0 e todas as tecnologias relacionadas a ela, o CEO da consultoria Questera comenta que a realidade brasileira ainda está em fase inicial dos processos de difusão de soluções tecnológicas e padrões associados ao desenvolvimento da Quarta Revolução Industrial. “Apesar disso, o interesse e a demanda por tais instrumentos parecem estar crescendo aceleradamente no país, em resposta à necessidade de criação ou manutenção de condições de competitividade para as indústrias, que necessitam internacionalizar-se e competir em âmbito global”, expõe.



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Negócios | Mobilidade

Integração entre transporte e meio de pagamento Novo sistema do Grupo EloPar permite pagamento em pedágios, estacionamentos e outros modais por meio de aplicativo no celular. Investimento pode chegar a R$ 300 milhões, e a expectativa é atingir 1,5 milhão de usuários até 2020

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Por Beatriz Santos, de São Paulo

cada dia, surgem janelas de evolução dos meios eletrônicos de pagamentos, seja a partir de saltos tecnológicos ou das constantes mudanças de comportamento e desejos dos nossos consumidores. Sendo assim, a integração entre a mobilidade urbana e os meios eletrônicos digitais torna-se uma evolução inevitável”: foi assim que Raul Moreira, presidente da Alelo, iniciou a coletiva de imprensa de lançamento da Veloe, nova marca de pedagiamento eletrônico e soluções de pagamentos digitais para mobilidade urbana e de transportes no mercado brasileiro. O

sistema foi desenvolvido pelo Banco do Brasil e pelo Bradesco, por meio de sua controlada Alelo, subsidiária do Grupo Elo Participações S.A. De acordo com o executivo, a Veloe nasce totalmente digital e voltada para valorizar a experiência do usuário no pagamento de pedágios, estacionamentos, postos de combustíveis e nos mais diversos modais de transportes no futuro. “Pretendemos estar presentes em tudo o que envolva integração entre um meio de transporte e o meio de pagamento. Nascemos com a força dos sócios e com a expertise e inovação da Alelo,


Cidade e estrada A ideia de criar a Veloe surgiu a partir de um novo desejo dos consumidores: pagar uma série de produtos e serviços sem sair do carro – como pedágio, estacionamento, posto de gasolina e drive-thru, e poder gerenciar isso por meio de um aplicativo. “O que observamos, nas pesquisas que fizemos, é uma tendência muito grande de as pessoas não quererem sair do carro e nem sequer sacar o cartão para fazer um pagamento. Se pudessem liquidar o pagamento pelo celular, aceitariam muito bem esse tipo de solução”, diz Maria Izabel Gribel de Castro, executiva da Elo Participações e responsável pela criação da Veloe. A ferramenta é uma conta digital de pagamentos baseada principalmente no celular, mas que pode ser acessada por diversos canais. Nesta conta é possível vincular TAGs físicas, que funcionam como ligação entre a conta de pagamento e o estabelecimento comercial. Elas ficam coladas no vidro do carro e devem estar associadas a uma placa de carro e um CPF. Uma TAG pode ser vinculada a apenas um CPF e uma placa de carro, mas é possível cadastrar mais de uma TAG dentro de uma conta da Veloe. A TAG pode ser entregue em casa. O usuário também pode retirá-la em outro ponto, decisão tomada no momento do cadastro digital, feito pelo celular. Embora seja uma solução da Alelo, o usuário não precisa ser necessariamente um correntista do Bradesco ou do Banco do Brasil para aderir. Inicialmente, a ferramenta vai funcionar exclusivamente em todos os pedágios do Rio de Janeiro e de São Paulo em período de teste, a partir de ju-

nho, com clientes convidados. Eles também irão colaborar com o processo evolutivo da marca. Após esse período será aberta a comercialização mais ampla. “Até o final do ano teremos a cobertura do movimento de cargas no Brasil em torno de 52 rodovias das 64 existentes, o que representa mais de 90% do tráfego”, afirma Maria Izabel. No final deste ano, a ferramenta também deve lançar uma operação de vale-pedágio para frotas pesadas. A intenção da companhia é avançar no segundo semestre com as soluções para cidades – que não envolvem apenas pedágios, mas pagamentos em shoppings, estacionamentos, postos de gasolina, drive-thru etc. Os pacotes dos planos vão variar de R$ 4,90 a R$ 19,90, disponíveis em diversas modalidades, tanto para pessoas quanto para empresas, e com características que envolvem o uso somente na cidade, uso na cidade e nas estradas, uso das empresas para suas próprias despesas ou para conceder benefícios para seus funcionários. “A nossa estratégia em relação a preço não é um fator determinante. Seremos mais competitivos porque entendemos que criamos uma plataforma mais eficiente, e nossos custos são mais eficientes. Nosso objetivo não é criar uma guerra de preço no mercado, mas agregar algo novo”, explica Moreira, da Alelo.

Até o final do ano, cobertura vai chegar às rodovias que concentram

90% do tráfego

“Observamos que as pessoas não querem sair do carro para fazer os pagamentos”, diz a executiva Maria Izabel Gribel de Castro

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que foi braço de outros importantes negócios do Grupo Elo Participações”, afirma Moreira. O objetivo da nova marca vai além do tradicional pedágio. “Queremos construir uma nova experiência em termos de pagamento, feita para pessoas e não necessariamente somente para carros, que seja flexível, com produtos e serviços com foco no usuário, seja uma pessoa ou uma empresa, e com uma solução de fácil uso”.

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Negócios

Em 2017, houve cerca de 1,8 bilhão de transações em pedágios,

45%

com pagamento eletrônico

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“Plataforma já nasce digital, customizada e passível de expansão e integração com vários modais de transporte”, afirma Raul Moreira, da Alelo

Potencial de mercado Para Maria Izabel, o mercado no qual a Veloe está entrando é muito grande, porém não totalmente identificado. “Hoje existem em torno de 4 milhões de TAGs de pagamento eletrônico em mobilidade urbana sendo utilizadas no mercado, mas acreditamos que o potencial é muito maior. No ano passado, foram 1,8 bilhão de transações em pedágios, e em torno de 45% delas o pagamento foi eletrônico, de acordo com a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR)”, diz. A meta da companhia é atingir 1,5 milhão de usuários até 2020. “Vamos focar tanto nos novos usuários quanto naqueles que já utilizam algum tipo de solução. A Veloe é uma conta digital com várias formas de utilização. Consequentemente, haverá novos participantes, além da eventual migração de usuários dos sistemas tradicionais para a Veloe”, explica o presidente da Alelo. Para Moreira, o foco não está no faturamento com o volume movimentado, como é o caso do mercado de cartões tradicional, mas na quantidade de usuários. O investimento na nova marca até o dia da apresentação da Veloe para o mercado, no final de maio, foi de R$ 110 milhões, e pode chegar a R$ 300 milhões até 2020. A EloPar é detentora de 100% do negócio por meio da Alelo. “Nós es-

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tamos bastante satisfeitos com o que conseguimos construir e com a perspectiva futura, que é muito melhor do que seria se tivéssemos optado por uma aquisição”, completa Moreira. Questionado sobre por que criar uma plataforma do zero em vez de adquirir uma solução já presente e consolidada no mercado, Raul Moreira explica: “Das possibilidades de aquisição que nós tínhamos em 2016, o melhor era fazer um novo investimento, que se mostrou menor e nos possibilitou a construção de uma nova plataforma que já nascesse totalmente digital, customizada e passível de expansão e ganhos exponenciais com a integração de vários modais de transporte”. Marcelo Noronha, vice-presidente do Bradesco e presidente do Conselho de Administração das empresas Alelo e Elo Participações, ressaltou a confiança no êxito do negócio. “Esse é mais um lançamento do Grupo EloPar, uma sociedade entre Bradesco e Banco do Brasil que dura mais de vinte anos. Nos últimos oito ou nove anos, acredito que seja o sétimo lançamento de linha de negócio, sem contar os negócios da Cielo. Na Veloe, vocês também contam com o compromisso do Bradesco”, disse. O último lançamento do Grupo Elo Participações, em junho de 2016, foi a Livelo, um loyalty program que atingiu seu breakeven em julho de 2017. “A Livelo, depois de dois anos de lançamento operacional, tem 16 milhões de clientes e é uma empresa lucrativa, com um caixa de R$ 1,4 bilhão”, aponta Noronha. Para Marcelo Labuto, vice-presidente do Banco do Brasil, vice-presidente do Conselho de Administração da Alelo e membro do Conselho de Administração da Elo Participações, “o Bradesco e o Banco do Brasil não entram num mercado com uma atuação marginal, mas para brigar sempre por liderança. É isso que marca o sucesso desse grupo de tantas iniciativas poderosas”. Labuto enfatiza também que a Veloe é uma iniciativa diferenciada por buscar a experiência do cliente e trazer inovação para esse mercado.



FABIAN MALAVOLTA

Evento | Cone Sul

União empresarial entre Brasil e Argentina Seminário Internacional Líderes, realizado em Buenos Aires, cria um espaço valioso para analisar e debater ideias e projetos nos setores público e privado dos dois países

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segunda edição do Seminário Internacional Líderes, promovido pelo Grupo Spring (Brasil) e Líderes TV (Argentina), foi realizado no dia 1º de junho no Palácio Duhau-Park Hyatt Buenos Aires, na capital argentina, e gerou uma corrente de perspectivas positivas para a região, apesar dos cenários difíceis. “Queremos reforçar o compromisso que os dois países têm com a economia regional. O seminário nasceu para

fomentar o potencial das negociações público-privadas bilaterais em diversos segmentos”, citou Cecilia Luchía-Puig, presidente do Grupo Líderes TV e organizadora do seminário. “A primeira edição ocorreu em São Paulo. Agora consolidamos um formato assertivo de encontro. Todos sabem que precisamos dizer algo forte e impactante”, sintetiza José Roberto Maluf, presidente do Grupo Spring e Líderes


TV Brasil. Mais de 150 convidados entre políticos, diplomatas, diretores e CEOs de grandes empresas estiveram presentes. Gabriela Michetti, vice-presidente da Argentina, afirmou que “as exportações cresceram no país”. “Mercados de outrora desapareceram. Estamos reabrindo todos novamente, além de outros como Marrocos, Austrália e Arábia Saudita. Sabemos que precisamos ter nosso produto como valor agregado, ou seja, tornar técnico o perfil exportador”, completou. O embaixador Pedro Villagra Delgado, sherpa do G20, comentou que Brasil e Argentina precisam de uma mudança profunda para formar uma nova geração. “Ambas as nações precisam pensar sobre a sustentabilidade da alimentação”, frisou. Sérgio Danese, embaixador do Brasil em Buenos Aires, apresentou diversos exemplos de parcerias bilaterais. “Nossas chancelarias estão colocando em prática uma iniciativa inédita: uma atuação conjunta durante a Copa do Mundo na Rússia. Ou seja, os cidadãos serão atendidos no mesmo endereço”, ressaltou o diplomata brasileiro. Painéis temáticos Temas como agronegócio e indústria ocuparam os debates. Agostinho Turbian, presidente do Global Council of Sales Marketing (GCSM) e publisher da revista AméricaEconomia, fez uma provocação aos participantes do seminário. “Estamos vivendo a 4ª Revolução Industrial, e isso é urgente. Temos que estar conectados em todos os setores. Nossas negociações com o mundo, especialmente a União Europeia, são vitais para sermos mais competitivos”, pontuou. Juan Pablo Trípodi, presidente da Agência Argentina de Investimentos, analisou o campo da competitividade do agronegócio. “Nosso país perdeu muitos mercados nos últimos anos, e com isso não tínhamos mais credibilidade. Agora voltamos a investir mais nas áreas avícola, suinocultura e aquicultura”, disse. Gustavo Grobocopatel, presidente do Grupo Los Grobo, afirmou que “as plantas serão o fu-

“DEVEMOS INVESTIR EM NANOTECNOLOGIA, INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, MEDICINA E BIOTECNOLOGIA. O MERCOSUL PODE OFERECER SOLUÇÕES INOVADORAS AO MUNDO”, DIZ GUSTAVO GROBOCOPATEL turo da humanidade. Devemos investir mais em nanotecnologia, inteligência artificial, medicina e biotecnologia. O Mercosul pode oferecer soluções inovadoras ao mundo”. Marisa Bircher, do Ministério de Agroindústria da Argentina, também participou do debate. Durante o painel sobre indústria, os debatedores apresentaram um cenário de crescimento de 2% a 2,5% para o Brasil e de 1% para Argentina em 2018. “Os parâmetros econômicos são bons, mas teremos muita volatilidade”, pontuou Pablo Di Si, presidente de Volkswagen para a América Latina. “Creio que o mercado brasileiro de automóveis se encaminha para uma venda interna entre 2,7 e 2,8 milhões de unidades, o que é uma excelente notícia”, completou Carlos Zarlenga, presidente da GM para a América Latina. Martín Berardi, presidente da Ternium Argentina, ressaltou que “o país está com variações das taxas de câmbio, subida das taxas de juros e uma variação para baixo das projeções de crescimento”. “Como as coisas estão, não esperamos que a recuperação seja superior a 2,5%. Por outro lado, o aumento do desemprego faz baixar a confiança do consumidor”, concluiu José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Di Si mostrou ainda o investimento da marca ao conceito da indústria 4.0 e apresentou um espectro do cenário regional com um investimento de US$ 7 bilhões no Brasil e US$ 800 milhões na Argentina nos próximos anos.

Agronegócio, indústria, economia e competitividade estiveram na

pauta do encontro

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Evento

em infraestrutura e uma burocrática legislação trabalhista”, finalizou Rattazzi. “Grandes nomes do primeiro time empresarial de ambos os países debateram em blocos diversas perspectivas para a região. Concretizamos um intercâmbio positivo e daqui surgirão muitos frutos”, concluiu José Roberto Maluf. Também estiveram na lista de palestrantes: Inés Weinberg de Roca, presidente do Tribunal de Justiça da Cidade de Buenos Aires, Guillaume Paupy, gerente-geral do Palácio Duhau-Park Hyatt Buenos Aires, e Gustavo Segré, diretor do Center Group. Patrocinaram o II Seminário Internacional Líderes o Banco Bradesco, Volkswagen, Grupo Andreani, Natura, Toyota, SMS Latinoamerica, Omint, Bodega Luigi Bosca, Llao Llao Hotel & Resort e Los Cauquenes Ushuaia. Apoiaram institucionalmente a Embaixada da Argentina no Brasil; Embaixada do Brasil em Buenos Aires; Foro de Integração e Desenvolvimento Argentino-Brasileiro; Sociedad Rural Argentina; Agência Argentina de Investimentos e Comércio Internacional; Grupo Brasil; Camarbra; Cambras; Visite São Paulo; Genesis e União Industrial Argentina. Foram media partners: Grupo Mañana Profesional, Perfil e as revistas Caras, Rolling Stone, AméricaEconomia e The Winners. AméricaEconomia Brasil FABIAN MALAVOLTA

José Roberto Maluf (Grupo Spring), Guillaume Pauppy (Park Hyatt Buenos Aires), Cecília Luchía-Puig, (Líderes TV), Gustavo Segré (Center Group), Jorge Fontevecchia (Grupo Perfil), José Ricardo Roriz Coelho (Fiesp), Agostinho Turbian (AméricaEconomia e GCSM), Pablo Di Si (Volkswagen), Cristiano Rattazzi (FCA Argentina), Oscar Andreani (Grupo Andreani), Cláudio Borsa (Grupo Brasil), Diego de Leone (Natura Argentina) e Octavio Lázari Jr. (Banco Bradesco)

Finanças e investimentos Octavio de Lazari Junior, presidente do Bradesco para a América Latina, salientou que “os dois países estavam em processo de recuperação, mas tivemos o problema da valorização do dólar, que acabou afetando as economias. Nós vamos ter que trabalhar mais agora. É um grande desafio, principalmente para a Argentina, por causa da dívida fiscal que tem que enfrentar”. Além dele, participaram do painel sobre finanças e investimentos Cláudio Borsa, presidente do Grupo Brasil, Enrique Cristofani, presidente do Banco Santander Río, e Diego de Leone, presidente da Natura Argentina. Finalizando a agenda oficial, Oscar Andreani, presidente do Grupo Andreani, Cristiano Rattazzi, presidente da FCA Argentina, e o jornalista Jorge Fontevecchia, presidente do Grupo Editorial Perfil, debateram sobre competitividade no último painel. “Gostaria de deixar uma mensagem mista. É certo que a popularidade do governo argentino põe em risco sua reeleição em 2019 e isso enterra uma grande quantidade de investidores. Os cenários eleitorais aqui em qualquer caso dão como ganhador um governo que não será populista”, expressou Fontevecchia. “A Argentina perdeu o rumo há muitos anos e tem cenários de ‘não-competividade’ como o arcabouço fiscal complicado, a falta de investimento

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Informe Publicitário

Era dos dados: normas regulatórias exigem fortalecimento da segurança da informação Com as novas regulamentações sobre armazenamento, uso e acesso aos dados, proteção e mitigação de risco ganham ainda mais importância em projetos de TI e negócios

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as discussões sobre transformação - seja ela digital ou de negócios -, dados é um tema que ganha cada vez maior destaque. Trata-se de um resultado natural da evolução tecnológica, já que o ambiente digital e automatizado permite o armazenamento e a análise em grande escala de diversas bases de dados - que podem (e devem) ser utilizados na viabilização de novos negócios e na melhoria dos processos. E é nesse cenário que a segurança da informação se torna ainda mais relevante. O aumento de dispositivos inteligentes e conectados da Internet das Coisas (Internet of Things, ou IoT) e ferramentas de big data e machine learning modifica completamente a forma como se recebem e se utilizam as informações. Ao mesmo tempo, soluções de Business Intelligence (BI) e analytics ganham destaque na busca por inovação, de forma a consolidar a jornada de transformação do negócio, em que a experiência do cliente é o foco de todas as ações. Para isso, a empresa precisa executar um planejamento de segurança da informação baseado em processos rígidos e estruturados. Além de proteger os dados da organização e do cliente, essa abordagem é cada vez mais exigida por governos de todo o mundo - e não tê-la pode até inviabilizar o negócio. O exemplo mais recente é o Regulamento Geral de Proteção de Dados (General Data Protection Regulation, ou GDPR), conjunto de leis adotado pela União Europeia,

que exige mais proteção aos dados de cidadãos europeus por parte de todas as empresas, independente do porte do negócio. Essas normas afetam empresas do mundo todo, pois companhias que têm negócios com a Europa também precisarão se ajustar às novas regras e aumentar os investimentos em cibersegurança. A infraestrutura corporativa deve passar, regularmente, por processos de revisão para garantir a segurança dos dados. Algumas ações ajudam nessa tarefa: • Controle do acesso à informação; • Perfis de acesso, rede e aplicações; • Controle de licenças e contratos. Ao garantir a adequação dos sistemas de segurança, a empresa minimiza riscos e incidentes e, assim, fica protegida de ameaças que prejudiquem seus clientes e sua credibilidade. A Lozinsky Consultoria acredita que a atuação no diagnóstico e na prevenção é uma maneira efetiva de evitar falhas que prejudiquem e paralisem atividades da empresa, além de ser o primeiro passo para o desenvolvimento de uma estratégia de negócios baseada em dados.

A empresa precisa executar um planejamento de

segurança

da informação baseado em processos rígidos e estruturados

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Entrevista | Indústria automobilística

“Acreditamos muito na região, independentemente da crise”

Volkswagen se moderniza para aplicar inovações da Indústria 4.0 e vai investir R$ 7 bilhões no Brasil, diz Pablo Di Si, presidente e CEO da empresa no país

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nvestimentos de R$ 7 bilhões, “que fazem parte da maior ofensiva de produtos na história da empresa no Brasil”: esse é o horizonte com o qual trabalha a Volkswagen, segundo Pablo Di Si, que desde outubro de 2017 é presidente e CEO da Volkswagen Região SAM (América do Sul, América Central e Caribe) e do Brasil. Di Si, 48 anos, é bacharel em Administração pela Loyola University of Chicago, possui título da Harvard Business School e MBA Executivo de International Management pela Thunderbird School of Management. Nesta entrevista exclusiva, concedida durante a realização do Seminário Internacional

Líderes, em Buenos Aires, Di Si fala dos planos da empresa especialmente para os mercados do Brasil e da Argentina. AméricaEconomia – Como a Volkswagen aplica os conceitos da Indústria 4.0? Pablo Di Si – Realmente temos destacado muita atenção à Indústria 4.0. A produção do novo Polo e do Virtus proporcionou à fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP), a introdução de novas tecnologias de Indústria 4.0, posicionando a unidade como referência nesse conceito, que cria fábricas inteligentes, conectadas e flexíveis. Com maior assertividade e agilidade no processo produtivo, estamos cumprindo nossas metas de fabricação dos novos modelos. A inovação tecnológica com conceitos da Indústria 4.0 já pode ser conferida em nossos carros, como é o caso do Virtus, que foi lançado em fevereiro e é o primeiro carro do mundo a utilizar inteligência artificial para auxiliar os ocupantes. O manual cognitivo, desenvolvido em parceria com a IBM, substitui o manual do proprietário do veículo. Quando lançado, o manual cognitivo respondia a quatro mil perguntas diferentes sobre o carro. Atualmente, após consulta aos consumidores, já responde


AE – Quais os investimentos da empresa no Brasil e na Argentina? Di Si – Acreditamos muito na região. Independentemente da crise nos dois países, sempre pensamos em investimento forte e de longo prazo. No Brasil serão investidos R$ 7 bilhões, que fazem parte da maior ofensiva de produtos na história da empresa no país, e na Argentina o investimento é de US$ 800 milhões. Do montante projetado, já utilizamos aproximadamente R$ 2,6 bilhões no Brasil. Na Argentina, onde somos líderes de mercado há 14 anos consecutivos, estamos com a perspectiva de inaugurar uma nova fábrica em Córdoba. Sobre lançamentos, teremos 20 modelos até 2020. Assim, queremos ficar muito mais próximos dos clientes e parceiros comerciais não só no Brasil, mas em toda a América do Sul. Lançamos o novo Polo e o Virtus, ambos produzidos na fábrica da Anchieta. Em fevereiro e abril deste ano, lançamos a Amarok V6 e o Tiguan Allspace, ambos veículos importados. Ainda em 2018, teremos o lançamento dos novos Gol e Voyage com transmissão automática. AE – Como estão as vendas em 2018 e as exportações de motores da fábrica em São Carlos (SP) para os Estados Unidos? Di Si – A Volkswagen vendeu 137.421 unidades entre janeiro e maio de 2018 – um crescimento de 34,7% em comparação ao mesmo período no ano anterior, enquanto a indústria automotiva (veículos leves) cresceu 17%. Nos cinco primei-

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a mais de oito mil questionamentos, e muitas são perguntas técnicas. Além disso, estamos transformando a experiência em nossa rede de concessionárias para algo mais dinâmico, onde o cliente já pode ter uma prova de seu futuro carro por meio de óculos de realidade virtual. Nosso investimento também abrange uma completa modernização na área de planejamento, infraestrutura, TI e logística, com foco na aplicação de inovações da Indústria 4.0.

Pablo Di Si: clientes podem ter prova do futuro carro por meio de óculos de realidade virtual

ros meses do ano, a Volkswagen responde por um market share de cerca de 15% e tem uma evolução da terceira para a segunda colocação de mercado, de forma sólida. Nossa fábrica de motores em São Carlos (SP) já exporta motores para muitos países. Atualmente, estamos enviando 300 mil motores 1.4 TSI, para equipar os modelos produzidos no México e que serão exportados para os Estados Unidos. É um passo importante para consolidar a expertise e a qualidade dessa unidade. AE – A Volkswagen tem um compromisso com a educação. Quais são os parceiros que apoiam a empresa com projetos bem-sucedidos no Brasil e na Argentina? Di Si – A Volkswagen é alemã, e não teria como ser diferente aqui em relação à experiência de ensino criada por lá. Sabemos que o modelo de conhecimento adquirido na escola e aplicado na prática numa indústria é muito assertivo. No Brasil, temos diversos parceiros, mas um que está conosco desde 1973 é o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Mais de 6,5 mil estudantes já passaram por nossas fábricas. Hoje, muitos de nossos colaboradores são ex-alunos do Senai. Na Argentina, atuamos fortemente com o Instituto Dr. Ferdinand Porsche, criado a partir de uma iniciativa conjunta da Volkswagen, Ministério da Educação e Universidad Tecnológica Nacional. AméricaEconomia Brasil

Fábrica de motores em São Carlos exporta para vários

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Energia

Investimento na infraestrutura brasileira: o caso do setor elétrico

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comum encontrarmos tabelas comparativas mostrando alguns aspectos defendidos pelos partidos dos possíveis candidatos à presidência da República, principalmente quanto às suas propostas para a Previdência Social, ajustes fiscais e outros itens como tributação e privatizações. Porém, poucos têm apresentado propostas para o desenvolvimento dos projetos de infraestrutura do país. O motivo parece ou pode ser simples: poucos conhecem esses setores – ou então são propostas e projetos que não são interessantes aos eleitores. São setores que requerem elevados investimentos, são geradores de emprego e possuem significativo impacto regional e nacional. Mui-

tos desses projetos estiveram relacionados na operação Lava Jato. São polêmicos. Talvez esse seja o motivo de exclusão desses itens das tabelas comparativas. É inegável que os investimentos em infraestrutura no país são essenciais para o desenvolvimento da nação. Mais ainda por reduzir o famoso custo Brasil, ou custo do país. Um pouco de déjà vu: o custo Brasil relaciona elementos estruturais existentes na economia que dificultam a competitividade dos bens produzidos pela nação. Esses elementos causam grandes perdas de produtos no transporte, mantêm os preços elevados pela qualidade de sua infraestrutura e justificam a baixa qualidade de diver-


sos bens, tanto os destinados ao mercado internacional quanto ao nacional. Desenvolver a infraestrutura brasileira colaborará na redução desses custos: da logística, da energia elétrica, dos combustíveis, do gás, da água potável e de outros insumos essenciais para a indústria, os serviços, o comércio e o agronegócio. Uma parcela significativa dos recursos do governo e da sociedade será direcionada a esses projetos. Não parecem ser segmentos, portanto, que não mereçam a atenção dos eleitores. O caso particular do setor elétrico mostra que muito se evoluiu – porém, os custos das tarifas ainda são elevados. O país, conforme a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), possui 6.736 empreendimentos de geração de energia elétrica em operação. É um sistema sofisticado. As hidrelétricas são responsáveis por 60% da potência ofertada, as térmicas por 26% e as eólicas atingem a maravilhosa participação de 8%. Novos empreendimentos estão sendo construídos ou em programação de construção, nos quais as fontes térmicas mostram significativa participação. O país deixa de possuir a expressiva participação de 80% de suas fontes de energia tendo como combustível a água. A sociedade ganha recursos se a tarifa de energia elétrica tiver um baixo custo. Os problemas para permitir uma significativa redução dessa tarifa e torná-la um elemento que contribua para o desenvolvimento da nação merecem a atenção dos candidatos para as eleições deste ano. Na geração de energia elétrica ainda existem questões sociais a serem resolvidas, como as que envolvem os desapropriados pelas barragens, mesmo que a fio d’água. Persistem questões relacionadas ao risco de racionamento, que ainda estão exemplificadas pela manutenção das bandeiras tarifárias, e às diversas e importantes restrições ambientais para todas as fontes de produção de energia. Na transmissão, levar a eletricidade das áreas de produção para os pontos de consumo, considerando as grandes distâncias e a enorme quan-

tidade de empreendimentos geradores, requer grandes desafios de gestão. Essa gestão tem sido realizada com sucesso; porém, as construções de novas linhas estão atrasadas ou paralisadas por questões legais diversas, e a carga elétrica gerada não encontra os consumidores finais. Na distribuição de energia, principalmente considerando os clientes cativos das distribuidoras de eletricidade, a política tarifária incorpora elementos de ganhos de produtividade que resultam em redução de receita para a concessionária. Não se estimulam a adoção de inovações ou as aplicações de novas tecnologias. Novos elementos de avaliação poderiam ser incorporados à tarifa de energia elétrica, reunindo o desenvolvimento de aspectos sociais que estimulassem o crescimento e desenvolvimento de uma região; elementos de estímulo à inovação refletidos no aumento do PIB regional e no aumento no emprego, mesmo que em determinados setores e que resultassem num maior consumo de energia e aumento de receita das concessionárias. A modicidade tarifária pode ser atingida por meio de técnicas em que são utilizados diversos outros instrumentos, principalmente os sociais. Existem, portanto, diversos itens dentro do setor elétrico que mereceriam a atenção não apenas dos candidatos à presidência da República, mas de todos os que estão concorrendo aos cargos públicos nesta eleição. Eles precisam ser relacionados e submetidos à apreciação dos eleitores.

Os problemas para permitir uma significativa redução da tarifa merecem a atenção dos candidatos às

eleições

Agostinho Pascalicchio Doutor em Ciências (USP), mestre em Teoria Econômica (University of Illinois at Urbana-Champaign, EUA), professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, responsável pela avaliação financeira de projetos na Comunidade Europeia

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MASSIMO FAILUTTI

Sociedade | Festival

Diversão, educação e sustentabilidade Segunda edição do Greenk Tech Show arrecada 77,8 toneladas de lixo eletrônico numa gincana ambiental que envolveu mais de 80 mil alunos das redes pública e privada

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segunda edição do Greenk Tech Show – realizada de 25 a 27 de maio no Anhembi, em São Paulo – arrecadou 77,8 toneladas de lixo eletrônico, recorde para um único evento no país. Nem os transtornos provocados pela greve dos caminhoneiros conseguiram diminuir a mobilização de jovens apaixonados por tecnologia, cultura nerd e meio ambiente: cerca de 17 mil pessoas visitaram o festival, que uniu tecnologia e sustentabilidade. O lixo eletrônico foi arrecadado a partir do envolvimento de 86 escolas das redes pública e privada de São Paulo que competiram no 1º Torneio Intercolegial Greenk – uma gincana ambiental que mobilizou mais de 80 mil alunos em competições de games, projetos de tecnologia e captação de e-lixo. Ao longo do final de semana do evento, parte do material passou por processo de remanufatura, transformando-se em novos computadores. A Escola Municipal Arquiteto Oscar Niemeyer, de São Caetano do Sul, foi a grande

campeã do torneio, com a impressionante marca de 15,6 toneladas. Em segundo lugar, ficou o colégio Guilherme Dumont Villares, da capital, com mais de 8 toneladas arrecadadas, e a terceira colocação ficou com a escola Liceu Coração de Jesus (Unidade 2 Salesiano) com mais de 7,5 toneladas. Com a vitória no torneio, a Escola Arquiteto Oscar Niemeyer recebeu vinte computadores, que irão compor seu novo laboratório de informática. “Sabíamos que não seria fácil competir com tantas escolas, especialmente as particulares. No entanto, usamos esse fato como forma de motivar a todos”, afirma Waldemar Puccini Filho, diretor do colégio. “O nosso histórico em participar de causas ambientais, inclusive descarte do lixo eletrônico, também foi fundamental para acreditar que poderíamos vencer o torneio. Sem dúvida, os computadores serão muito bem utilizados para potencializar o processo de ensino e aprendizagem de nossos alunos”.


e meio ambiente). A ideia é exatamente reunir diversas atrações do universo geek, como tecnologia, games, youtubers, cosplay, moda e música, para conscientizar as pessoas sobre o descarte correto do e-lixo. Todo o lixo eletrônico arrecadado foi recolhido e transportado por empresas certificadas e homologadas pela Green Eletron, entidade fundada pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) para promover a economia circular dos eletrônicos no Brasil. Depois de uma triagem, tudo o que estiver em condições de uso será encaminhado aos Centros de Recondicionamento de Computadores (CRCs) do MCTIC. Os equipamentos serão remanufaturados e doados para escolas públicas. Os produtos e peças fora de condições de uso seguirão para empresa ambiental certificada para reaproveitamento dos materiais na cadeia produtiva. Entre as iniciativas do Greenk estão ações educativas em parques e escolas. Recentemente, em parceria com a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da cidade de São Paulo, o movimento anunciou a implantação de 15 pontos públicos de coleta de lixo eletrônico nos principais parques do município. Uma iniciativa inédita, sem custo para os cofres públicos, graças ao patrocínio do principado de Mônaco. AméricaEconomia Brasil

CAIO MARCATTO

Economia circular Presente à abertura do Greenk, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, afirmou acreditar que é possível “zerar o lixo eletrônico”. “Veja a quantidade de toneladas que vocês arrecadaram com o coração. Imaginem com políticas públicas, com a adesão e o apoio dos meios de comunicação, com o engajamento de todas as escolas e todas as indústrias. O lixo eletrônico é um dos grandes males da humanidade nessas décadas do mundo digital e da tecnologia avançada, e cada vez será um mal mais acentuado”, disse Kassab. O MCTIC foi um dos parceiros da programação. Para Mauricio Eugenio, sócio do Greenk Tech Show, o festival superou todas as expectativas. “Batemos um recorde de arrecadação de e-lixo no país e, mais importante, com o apoio de nossos parceiros ambientais, como a Green Eletron e o Sinctronics, o MCTIC e o projeto Verdejando, da Rede Globo, conseguimos fechar o ciclo da economia circular ainda durante o evento, com a entrega de um laboratório de informática composto de equipamentos remanufaturados e certificados”, avalia. A edição do ano passado, realizada na Bienal do Ibirapuera, já havia alcançado o recorde de arrecadação de 2,7 toneladas de e-lixo, total multiplicado quase trinta vezes em 2018. “Apostamos na diversidade de atrações para chamar a atenção de toda a família para a importância do descarte correto do e-lixo. Em troca do descarte correto as famílias puderam conhecer o que há de mais interessante no mundo da cultura digital”, explica Fernando Perfeito, diretor do Greenk Tech Show.

Equipamentos serão remanufaturados e entregues para

escolas

Alunos de São Caetano comemoram a vitória (abaixo). Na página ao lado, a abertura da programação, com a presença do ministro Gilberto Kassab

CARLOS LINDSAY

Reaproveitamento O Movimento Greenk foi criado para chamar atenção a respeito da importância do descarte correto do lixo eletrônico, principalmente das chamadas linhas verde e marrom (computadores, smartphones, tablets, fios, baterias, carregadores, monitores e aparelhos de TV e rádio, entre outros). Greenk é a junção das palavras geek (apaixonado por tecnologia) com green (verde Junho 2018 | 75


Página verde

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E agora, brasileiros?

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udo bem que a política de preços diários da Petrobras com certeza é um erro. Todos sabemos que toda e qualquer empresa hoje em dia somente terá sucesso se preservar o equilíbrio socioeconômico-ambiental. Ter o governo federal como acionista majoritário e o monopólio no refino pode ter dado à gestão da Petrobras um sentimento de onipotência para menosprezar o consumidor de seus produtos. Entendo a necessidade de a empresa se recuperar depois do vendaval político que a atingiu nos últimos anos, ocasionando um prejuízo nunca antes visto na história deste país. Mas o resultado dessa aceleração bateu de frente com um muro chamado consumidor, e o embate resultou no que sofremos com a interrupção de fornecimento de alimentos,

combustíveis e remédios, entre outros. De início, a população apoiou integralmente o movimento dos caminhoneiros, apoio esse que foi se exaurindo quando o movimento passou para motivações políticas. Entretanto alguns pontos não ficaram despercebidos pela população, tais como: 1 - Pode um país continuar a ficar dependente de uma só modalidade de transporte em pleno século 21? 2 - Pode um país continuar a ficar dependente de combustível fóssil? Aqui alguém pode argumentar: mas nós temos o etanol. Perfeito, mas para levar o etanol aos postos dependemos do diesel. 3 - Pode o Brasil continuar a ficar dependente de uma só empresa para ter sua fonte de combustível utilizada para toda a logística aplicada no país?


A resposta para o primeiro questionamento só pode ser uma: não! Um país não pode de forma alguma ficar dependente de uma modalidade de transporte. Precisamos imediatamente e realmente diversificar. E precisamos diversificar as novas modalidades que utilizem combustíveis não fósseis. Isso, sim, se trata de um projeto de segurança nacional, mas não contra inimigos externos, e sim para dar segurança ao povo brasileiro contra o corporativismo que está impregnado na sociedade. Procurando responder à questão 2, primeiro devemos verificar o que está acontecendo no mundo hoje. Qualquer estudo energético digno de respeito direciona o combustível de carros e caminhões para duas vertentes: uma, a da eletricidade, que parece ser mais dominante. Hoje todas as montadoras estão desenvolvendo carros elétricos. Há também uma segunda vertente, mais concentrada em estratégia do governo do Japão, que leva seriamente em conta o hidrogênio como forma de combustível. Embora as pesquisas estejam avançando, ainda será necessário muito desenvolvimento para que a célula de hidrogênio possa ter a escala necessária para se transformar numa fonte de combustível mundial. O Brasil possui o etanol de primeira geração concentrado na fonte da cana de açúcar. Entretanto, essa fonte tem se mostrado viável somente para automóveis e alguns utilitários. Mesmo com os atuais subsídios que o governo oferece ao setor, ainda fica nebulosa a situação futura do etanol frente ao uso da eletricidade. Como fonte mundial de combustível, ele não será eficiente. Apesar do forte lobby do setor do etanol contra a eletricidade, esta deverá prevalecer como fonte. Por sinal, enquanto esta coluna está sendo escrita, o papa Francisco reúne-se no Vaticano com os CEOs das maiores empresas petrolíferas do mundo no sentido de sensibilizá-los a uma ação mais proativa na defesa da energia e de combustíveis não poluentes. A resposta à pergunta 3 é a mais óbvia possível. Um país de 200 milhões de habitantes não pode ficar na dependência de apenas uma empresa respon-

sável pelo refino de seu combustível mais usado. Duas correntes foram identificadas. A primeira é que a Petrobras não deve ter interferência política na sua gestão. Até chega a estar certa essa visão, porém uma empresa só pode mesmo assegurar que não terá ingerência política se for privada e se o setor em que ela opera quase não tiver dependência do governo. A Petrobras não é privada, e o setor em que ela atua é altamente influenciado pelo governo. Aí fica mesmo difícil que a realidade seja diferente. A segunda é a questão do monopólio da estatal em relação ao refino. Por lei, o mercado está aberto, mas na realidade ele ainda é monopólio da Petrobras. Isso tem que acabar – tanto o monopólio do refino quanto a Petrobras continuar a ser estatal. Politicamente falando, os populistas costumam dizer que a Petrobras é do povo. Nenhuma empresa estatal é do povo, mas sim dos políticos de plantão. Isso tem que acabar, e já. Sabedor desses pontos, quais serão as ações que o povo brasileiro adotará depois da paralisação dos caminhoneiros? Será que no dia 3 de outubro os brasileiros exigirão dos políticos que se tenha um plano de Estado, e não de governos, para a implantação de um plano logístico não dependente de uma só categoria, de um só combustível que seja fruto de uma só empresa e que seja não poluente? Como costuma dizer Arnold Schwarzenegger, ex-governador da Califórnia e fundador da Fundação R20 - Regions of Climate Action, os combustíveis fósseis matam milhões de pessoas por ano por conta da poluição que geram. Está mais do que na hora de os brasileiros se libertarem das amarras corporativistas que literalmente paralisam o Brasil!

Jorge Pinheiro Machado Diretor América Latina – Regions of Climate Actions – R20

Junho 2018 Abril | 77


Opinião | Justiça

alta franqueza e coerência à crescente comunidade jurídica do Brasil. É preciso alertar os jovens que se entregam ao bacharelado em Direito de que talvez o boom de êxito financeiro colhido por algumas estrelas desse universo forense não dure eternamente. Assim como ocorre com a economia, território em que ortodoxos e heterodoxos não se entendem, falta sinceridade na areia movediça em que navegam os profissionais do sistema Justiça. Judicializar a vida brasileira já se mostrou nefasto. O país precisa de atividade produtiva com urgência. Não acordou para os efeitos da 4ª Revolução Industrial, que extinguirá atividades e fará surgir outras, mas com habilidades que não têm sido convenientemente contempladas.

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É preocupante constatar que jovens empreendedores franceses já desenvolveram aplicativo que consegue resolver quase um milhão de dúvidas jurídicas em segundos, com índice de acerto superior ao da mente humana. É a inteligência artificial a serviço de detectar nossas preocupações, com algoritmos que nos conhecem melhor do que nós mesmos. A advocacia que se valeu de fenômenos sazonais e descobriu filões para aventuras judiciais às vezes bem-sucedidas está destinada a desaparecer. Se na medicina as cirurgias de grande risco e elevada precisão podem ser feitas a distância e por instrumentos guiados eletronicamente, por que procedimentos semelhantes não podem ocorrer na área jurídica, em que a urgência é sempre relativa? Impõe-se que a lucidez acorde e enxergue que “o rei está nu”: o dinheiro do governo não é infinito, as leis não criam riquezas e, se aparentemente elevam salários, esse adicional resultará em perda de outro setor, talvez até de maior relevância. Acreditar que todas as de-

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Lei não cria riquezas mandas encontrem satisfação no Estado é uma ilusão que só aprofunda a desigualdade e a injustiça numa nação que se propôs, na sua reinvenção democrática, a ser uma sociedade justa, fraterna e solidária. O mundo precisa de uma outra concepção do direito: instrumento de facilitação do convívio, ferramenta de pacificação, fórmula de simplificar os relacionamentos e de encontrar alternativas preservadoras do mais absoluto

JUDICIALIZAR A VIDA BRASILEIRA JÁ SE MOSTROU NEFASTO. O PAÍS PRECISA DE ATIVIDADE PRODUTIVA COM URGÊNCIA. NÃO ACORDOU PARA OS EFEITOS DA 4ª REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, QUE EXTINGUIRÁ ATIVIDADES E FARÁ SURGIR OUTRAS, MAS COM HABILIDADES QUE NÃO TÊM SIDO CONVENIENTEMENTE CONTEMPLADAS respeito ao supraprincípio da dignidade da pessoa humana. A formação jurídica para a guerra – pois o processo não é senão uma pugna que, embora dita “civilizada”, é capaz de mostrar as mais abjetas mesquinharias e vilezas dessa espécie tão criativa quando se cuida de engendrar o mal

José Renato Nalini - Reitor da Uniregistral, escritor, palestrante e docente da Uninove 78 | AméricaEconomia

alheio – já produziu seus efeitos. E eles não são os mais edificantes. É preciso repensar o direito. O sistema Justiça continua a necessitar de uma reengenharia. Os avanços que a ciência e a tecnologia propiciam não permitirão que ele continue ancorado em esquemas já superados. O planeta precisa de mais cuidadores do que de produtores de ações judiciais. A natureza reclama carinho – tanto a física, a biológica, as-

sim como a natureza humana, composta de emoções – mais do que exige decisões de tribunais. Acordemos antes de chegarmos à triste constatação de que, pelo número de processos em curso, atingimos o Estado hobbesiano da guerra de todos contra todos.




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