Boletim da ana edição 59

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Ano IV - Nº 59 - Junho de 2017

Conectados em Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes LGBTI

Do que sentir

orgulho? Por Irina Bacci Lésbica feminista, atualmente Ouvidora Nacional de Direitos Humanos.

No dia de hoje, 28 de junho, celebramos o dia mundial do orgulho LGBT, mas você sabe de onde vem nosso orgulho? E por que devemos nos orgulhar? Um evento importante de resistência LGBT é a conhecida Revolta de Stonewall, quando o dia 28 de junho de 1969 ficou marcado na história da luta pela cidadania. Nesse dia, lésbicas, gays e pessoas trans¹ resistiram à prisão e protagonizaram um cenário de guerra durante quase uma semana de resistência, de luta pelo direito de ser e marcado no calendário mundial como dia do Orgulho LGBT. Esse evento também conhecido como a resistência do movimento homossexual estadunidense que disse não, não à clandestinidade, não ao armário e não à vergonha

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imputada pela medicina psiquiátrica, que nos carimbava como desviados, foi o grito da liberdade, o grito da cidadania.

1 A participação de lésbicas e pessoas trans sempre foi negligenciada na história. Atualmente diversas pessoas tentam recontar a história.

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EXPEDIENTE COORDENAÇÃO Lídia Rodrigues SECRETÁRIA EXECUTIVA Suely Bezerra ASSESSORES DE CONTEÚDO Paula Tárcia

Rodrigo Corrêa Rosana França DIAGRAMAÇÃO Tatiana Araújo

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anos de movimento, à revelia daqueles que insistem em nos mandar de volta ao armário, seguimos conquistando direitos, direito ao casamento civil entre pessoas do mesmo gênero que desde o julgamento do STF em 2011 regulamentado pela resolução n° 75 de 2013 do CNJ, nosso amor não é mais ilegal ao Estado brasileiro e Hoje 48 anos depois, me pergunto o nossa cidadania foi igualada aos heterossexuais. que mudou? O chamado orgulho que se criou desde então é derivado da resistência à violência, portanto é o orgulho que vem da resiliência em existir, em não abaixar a cabeça e de nos orgulharmos de amar, desejar pessoas do mesmo gênero, ou simplesmente, amar, seja meninas ou meninos, sem vergonha e medo.

No Brasil, o movimento LGBT organizado completa 39 anos este ano e todos os dias vivemos dias de Stonewall, dias de gritar pela liberdade de ir e vir sem sofrer violência, dias de visibilidade, dias de continuar ocupando as ruas e resistindo. Resistimos as violências, resistimos aos retrocessos, resistimos ao ódio, resistimos porque amamos. Importante ressaltar que nossa resistência não foi em vão, em 39

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Direito ao acesso à saúde quando o SUS trata as pessoas LGBT com equidade e universalidade desde a implantação do Plano Nacional de Saúde Integral da População LGBT instituído em 2011.

Mas, infelizmente, ainda não temos o que comemorar ou celebrar conquistas no legislativo, pois apesar da Constituição Federal nos dizer que aquela casa é do povo, não é para o povo que parlamentares legislam, ainda é para uma minoria que teme o novo, o amor e a alegria, porque mesmo sem nenhum marco legal vindo daquela casa, mesmo quando muitas Dandaras, Luanas, Lucas ainda sangraram e morreram para que nós continuemos a lutar por direitos, eles não conseguem tirar nosso orgulho e alegria da ferveção de ser quem somos, de ocupar as ruas Imagem retirada da internet Direito ao nome social quando o com nossas paradas e caminhadas e Decreto n° 8727 de 2016 reconhece o de lacrar! uso do nome social e da identidade de gênero de travestis e transexuais na O ódio não vai nos calar! Viva o administração pública federal. nosso orgulho de ser e viver!

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MURALIDADE

Fique

por dentro A maioria dos brasileiros apoiam discutir gênero nas escolas Na contramão de projetos de lei que pregam a Escola Sem Partido, a maior parte dos brasileiros é a favor de discutir assuntos ligados a gênero em sala de aula. É o que revela pesquisa Ibope encomendada pela instituição Católica pelo Direito de Decidir. De acordo com a sondagem, feita em fevereiro e a qual o HuffPost Brasil teve acesso com exclusividade, 72% concordam total ou em parte que professores promovam debates sobre o direito de cada pessoa viver livremente sua sexualidade, sejam elas heterossexuais ou homossexuais. Já 84% concordam totalmente ou em parte que professores discutam sobre a igualdade entre os sexos com os alunos. O nível de apoio varia de acordo com algumas variáveis, como idade, escolaridade, classe social e religião.

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dICIONÁRIO DE DIREITOS HUMANOS Homofobia: aversão irreprimível, repugnância, medo, ódio, preconceito que algumas pessoas, ou grupos nutrem contra os homossexuais, lésbicas, bissexuais e transexuais. Lesbofobia: é a homofobia praticada contra mulheres homossexuais.

notÍcias

da rede

A Liga Brasileira de Lésbicas foi criada e inspirada por mulheres lésbicas que ousaram e ousam falar do amor entre mulheres e da lesbianidade como uma das formas de orientação, expressão e identidade sexual e desta como um direito sexual e, portanto, um direito humano. A LBL foi fundada no III Fórum Social Mundial, em janeiro de 2003, na cidade de Porto Alegre, durante a realização do Planeta Arco-Íris, na Usina do Gasômetro, em uma Oficina de Visibilidade Lésbica, que contou com a participação de dezenas de mulheres lésbicas e bissexuais vindas de vários estados do Brasil. A LBL é uma expressão do movimento social, de âmbito nacional, que se constitui como espaço autônomo e não institucional de articulação política, anticapitalista, antiracista, não lesbofóbica e não homofóbica e de articulação temática de mulheres lésbicas e bissexuais, pela garantia efetiva e cotidiana da livre orientação e expressão afetivo-sexual. É um movimento que se soma a todos os movimentos sociais que lutam e acreditam em que um outro mundo é possível. A LBL é uma articulação de grupos, entidades, movimentos, lésbicas e bissexuais autônomas e independentes que dela participem. Fonte: lblnacional.wordpress.com

Olá pessoal, Você sabia que o dia 28 de junho, é o dia mundial do orgulho LGBT!!!

www.anamovimento.blogspot.com

Esse dia é um dia de luta contra todas formas de LGBTfobia.

Quem respeita o próximo, respeita também a sua orientação sexual. #todoscontraLGBTfobia.

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entrevista

Neste mês de junho a Campanha ANA conversou com Priscila Tomas. Priscila é mineira da cidade de Belo Horizonte com seus 26 aninhos, ela desde de sua adolescência vem militando pelos direitos humanos. É formada em pedagogia, atua como educadora social e carrega consigo muitos adjetivos: É Mulher, Jovem, Negra, Periférica, Lésbica, Atriz e se reconhece como muito mais que isso. Veja abaixo nossa conversa. Campanha ANA: Priscila, você é uma militante aguerrida. Desde quando as pautas em que você atua seja como militante ou profissional se tornou uma vivência efetiva na sua trajetória? E o que te motivou a levantar essas bandeiras? Priscila Tomas: Aos 14 anos de idade, após participar de vários processos de discussão e formação nos movimentos sociais e organizações, comecei a me identificar como sujeito de direitos e deveres. Desde essa época atuo na militância contra a violência sexual contra crianças e adolescentes. E atuar e defender os Direitos Humanos pelos vários espaços que participo e relações que vou tecendo seja elas de relações afetivas com amigos, família,

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comunidade ou nas relações profissionais e no próprio movimento vejo que essa militância não se separa, faz parte de mim. É por isso que por onde vou carrego essas bandeiras não só pelo enfretamento a violência sexual, como também contra o genocídio da juventude negra, o machismo e a LGBTfobia. Até por que me reconheço em várias destas lutas e por isso afirmo todas as questões que me fazem ser quem eu sou como me descrevi na pergunta anterior. C.Ana: Na sua concepção há motivos para se orgulhar de identidades LGBTS no Brasil? Quais fatores facilitam e quais dificultam? PrT: No nosso país, temos tido muita dificuldades de se orgulhar, várias pesquisa mostram como pessoas LGBTI sofrem vários tipos de violências física, psicológicas ou são assassinadas por demostrarem seu amor. Contudo, acredito que por mais difícil que seja, é possível se orgulhar. Há alguns fatores como algumas conquistas de direitos que nossa comunidade LGBTI tem conseguido, claro que ainda há muitas lutas para que tenhamos acessos que ainda são privilégios das pessoas heterossexuais. E o movimento como qualquer outro de defesa dos direitos enfrentam muitas questões, mas tem se fortalecido a cada ano, e isso ajuda a crescer e a criar uma cultura de respeito e também de orgulho. As dificuldades para se orgulhar é sistêmica, tem haver com a educação moralista que recebemos desde muito cedo... Que tem seus pilares no patriarcado e na heteronormatividade que há anos vem alimentando as desigualdades e os padrões sociais. C.Ana: No Brasil segundo levantamento do Movimento Gay da Bahia é um pais onde mais se mata pessoas LGBT. O que está por de trás de tanta LGBTfobia? PrT: A nossa sociedade não foi educada a conviver com a homossexualidade dentro da sua amplitude. Perpetuamos em nossas

crianças que existem apenas homens e mulheres, ou seja, tudo o que for contrário a isso é anormal. E isso cria um cenário de permissividades. É aí nesse cenário onde a LGBTFOBIA encontra um terreno fértil, afinal somos educados a rejeitar e a eliminar tudo que consideramos anormal e é isso que está por trás de todos os assassinatos das pessoas LGBT. Falta amor, falta respeito, falta reconhecer que somos diversos na nossa forma de existir. C.Ana: Na sua concepção, onde devem ser feitas intervenções para erradicar a LGBTfobia? PrT: São muitos os lugares onde deve ser feito as intervenções, na educação seja ela na escola, seja ela dentro das várias configurações familiares; Nas religiões sobretudo a católica e protestante que pregam um modo de se relacionar e de amar heteronormativo; nas corporações policias, nos docentes, enfim são muitos lugares que precisam parar de enxergar as pessoas LGBTIs como minorias e começar a vê-las como uma grande massa que atua, consome, pensa, trabalha e que não é diferente de nenhum outro cidadão. C.Ana: Como podemos avançar para um maior reconhecimento das identidades LGBTs na instituições brasileiras? PrT: Avanços serão dados quando de fato a discussão sincera sobre sexualidade, identidades e LGTFOBIA for matéria obrigatória nos currículos escolares. Acredito que a educação é um caminho seja elas nas instituições formais, seja em outros processos educacionais. Outro caminho é que as pessoas LGBTIs sejam fortalecidas para assumir suas identidades sexuais e de gênero nos ambientes que frequentam. A indignação também é um outro caminho, pois é preciso que as pessoas de diferentes gerações, orientações sexuais e religiosidades sintam-se indignadas quando ocorrer uma violência contra pessoas LGBTIs seja qual for a forma. Aí sim penso que estaremos avançado.

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Fica dica

Livros Chutando Pedrinhas

Filmes Pariah Alike é uma garota de 17 anos que enfrenta problemas demais para a sua idade. Além de sofrer de baixa autoestima, a adolescente precisa decidir entre expressar sua sexualidade abertamente ou obedecer aos seus pais e seguir os planos que eles têm para ela. Entre assumir sua homossexualidade ou ser rejeitada pela família, ela verá sua vida se tornar cada vez mais caótica. A trama fala sobre dores, rejeição e o refúgio que mulheres lésbicas adolescentes buscam nessa fase da vida.

De gravata e unha vermelha “Nunca fui uma mulher, mas lógico que nunca vou ser um homem”. A frase de Bianca Soares dá uma mostra da discussão proposta pelo premiado documentário brasileiro, da psicanalista Miriam Chnaiderman. O filme traz entrevistas com diversas personalidades que, em suas histórias de vida, colocaram em perspectiva o modelo de identificação binário homem/mulher, e questionaram os estereótipos construídos para cada um dos sexos. São entrevistados o cantor Ney Matogrosso, a cartunista Laerte, a atriz Rogéria e o estilista Johnny Luxo, entre outros.

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O livro “Chutando Pedrinhas” aborda as especificidades da relação entre pai e filha e como os pais podem contribuir para uma educação equânime entre meninas e meninos. Enquanto caminham juntos, pai e filha conversam sobre os desejos e sonhos dessa menina que se descobre limitada por padrões sociais que reservam papéis específicos para homens e mulheres. Pela via do diálogo e do afeto, pai e filha vão desconstruindo velhos conceitos e construindo os pilares de uma educação baseada na igualdade e no respeito à individualidade.

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Realização

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Brasil

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Esta publicação foi produzida com o apoio da União Europeia. O conteúdo desta publicação é da exclusiva responsabilidade da Associação Barraca da Amizade e não pode, em caso algum, ser tomado como expressão das posições da União Europeia.

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