Revista da IX Semana Acadêmica de Geografia

Page 1

Anais eletrônico Semana de Geografia da Universidade Federal de Viçosa - MG


Corpo editorial

Comissão Científica Ana Claudia Honorio Nataly Rodrigues Marota Kenny Roger Vinícius Vieira

Viçosa, 2019


Where we are right now APRESENTAÇÃO

COMPANY HIGHLIGHTS

Esta publicação reúne trabalhos apresentados na seção de

comunicações orais da IX Semana Acadêmica de Geografia da Universidade Federal de Viçosa. Encontra-se aqui uma parte dos estudos realizados no laboratórios de pesquisa, relatos de experiências em estágios e projetos de extensão, além de ensaios acadêmicos independentes. O objetivo é promover o intercâmbio de ideias entre a comunidade acadêmica da Geografia a partir do reconhecimento das experiências de pesquisa, extensão e ensino que cada acadêmico produz e está envolvido.


ÍNDICE

Where we are right now

COMPANY HIGHLIGHTS

A IMIGRAÇÃO E AS RAÇAS: DETERMINISMOS E CONCEPÇÕES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DO FINAL DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO XX---------01

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DO CURSO DE GEOGRAFIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA--------05

ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA E EDUCAÇÃO DO CAMPO: UMA ANÁLISE DA ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA PAULO FREIRE-----10 EIV-ZM: VIVENCIANDO A LUTA CAMPESINA NA ZONA DA MATA-------------14 AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE RESÍDUOS DE ÓLEOS E GRAXAS PRATICADA EM VIÇOSA COM A PROPOSIÇÃO DE SOLUÇÕES INTEGRADAS-------------20 GEOGRAFIA DOS ALIMENTOS: NATUREZA DA NECESSIDADE BIOLÓGICA... ONDE ESTAMOS?--------24 O PONTO DE MUTAÇÃO NA GEOGRAFIA: OS AVANÇOS NA FÍSICA E A NOVA GEOGRAFIA NO SÉCULO XX-----------28 PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DO LITORAL SUL DO ESPÍRITO SANTO: CARACTERIZAÇÃO DA PAISAGEM E ANÁLISE DE ARQUEO-ANTROPOSSOLOS DE SAMBAQUIS NO MUNICÍPIO DE ANCHIETA (ES)----------------32 POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO E SEUS IMPACTOS NA FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO NO PERÍODO FHC – DILMA ----- 36 TENSIONAMENTOS DA PICHAÇÃO COM A ARTE E OS ESPAÇOS PRIVADOS NA CIDADE CONTEMPORÂNEA USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MUNICÍPIO DE VIÇOSA-MG A PARTIR DE IMAGEM SENTINEL-2 UMA CARTOGRAFIA TERRITORIAL NA/DA ESCOLA NACIONAL DE ENERGIA POPULAR (ENEP)------- 49


raça se tornou um fator essencial na

A IMIGRAÇÃO E AS RAÇAS: DETERMINISMOS E CONCEPÇÕES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DO FINAL DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO XX

01

constituição de um país, visto que ela definia a capacidade desses indivíduos de formarem uma sociedade civilizada. Houve um aumento da demanda por

Débora Maria Quintão Miranda

mão de obra estrangeira destinada a substituir o escravo já que, teoricamente, não haviam trabalhadores nacionais

FILTRO RACIAL: O IMIGRANTE

suficientes para tomar os serviços

DESEJÁVEL

deixados pelos cativos. Outro fator que

Durante o final do século XIX e o

influenciou a busca por imigrantes

início do XX, imigração era tida como

europeus foi a tentativa de fazer que a

o mais eficaz método de povoamento e

população brasileira passasse por um

desenvolvimento do sertão do Brasil.

processo de branqueamento e que

Os imigrantes eram os braços fortes,

isso o levasse a ser um país

laboriosos, que se dispunham a levar o

desenvolvido. Assim, um dos papéis

seu melhor para a nova nação a que se

exercidos pela imigração europeia

destinavam. A partir disso, eles eram os

era a “mudança da composição étnica da

ideais para desmatar o sertão, abrir

população – majoritariamente negra e

novos caminhos, estabelecer e

mestiça, e como elemento

disseminar novas lógicas e

(des)organizador da estrutura sócio

potencialidades naquela terra pouco

espacial do país” (MACHADO, 2000, p.

explorada pelos colonizadores. A

310-311).

imigração foi um dos fatores que fez com que o conceito de raça se tornasse

A partir do ideário de que a raça branca

mais evidente, multiplicando as formas

era superior a todas as outras, o governo

de pensar e a abordagem desse tema

promoveu e facilitou a vinda de colonos

em sociedade. Com o passar do tempo,

europeus para o Brasil, na ânsia de

o enquadramento em uma

alcançar a ordem social enquanto

determinada 1 Trabalho fruto da pesquisa de Iniciação Científica financiada pela FAPEMIG (Processo APQ-00658-15). 2 Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa. E-mail: deboramqm@hotmail.com


elemento do progresso. A raça nacional era considerada como composta por seres degenerados, assustadoramente feios e incapazes de levar o país ao desenvolvimento. Isso colocou o Brasil em um patamar de inferioridade populacional perante os padrões internacionais, sendo impossível levá-lo a desfrutar dos valores do mundo civilizado (SOUZA, 2008). Em contraponto, os europeus eram vívidos, sadios e trabalhadores, sendo assim, eram ideais para despertar o espírito do trabalho no Brasil, fazendo com que este chegue a ser comparado com os níveis europeus (REBELO, 2007). O discurso do governo era realizado com o objetivo de buscar novos imigrantes. O seu imaginário e o das elites brasileiras da época levavam em conta a teoria da eugenia que foi incorporada aos projetos políticos que visavam buscar cada vez mais trazer imigrantes da Europa. Consideravam, que o imigrante desempenharia um papel importante na construção de uma outra realidade para o país, fazendo-o sair do atraso civilizacional vivido

02

(SOUZA, 2008). No periódico O Fluminense3 é possível observar que algumas notícias abordam questões relacionadas com os europeus e com a diferenciação que os pensadores nacionais e alguns políticos faziam da dita diferença existente entre as raças europeias. Um exemplo é o perigo da imigração alemã, pois Si sem ofensa á nação amiga, pôde o governo brazileiro incluir nos seus contatos a proibição da vinda de italianos do sul, é indiscutivel que poderá tambem sem quebra das relações amistosas com a Allemanha fechar os nossos portos a colonos dessa procedencia. Os allemães são fortes, probos, intelligentes e dedicados e nestes dotes está explicada, embora isto pareça um paradoxo, a causa porque podem elles perturbar a nossa vida política. 4

O Estado acabou fazendo distinções entre

os

países

de

origem

dos

imigrantes, pois a sua capacidade colonizadora seria diferenciada. O jornal

confirma

a

ideia

diferenciação

entre

raças

incapacidade

que

várias

e

de da delas

possuíam de colonizar o Brasil de forma desejada: “o estudo do assumpto

3 Foi fundado no dia 08 de maio de 1878 na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. 4 O FLUMINENSE. Immigração. O Fluminense, Niterói. Anno XIV, ed. 1952, p. 1. 29/03/1891. 5 O FLUMINENSE. Immigração. O Fluminense, Niterói. Anno XIV, ed. 1952, p. 1. 29/03/1891. 6 O FLUMINENSE. Actos Officiaes. O Fluminense, Niterói. Anno VIII, ed. 1088, p. 3. 13/05/1885.


2019 Annual Report

02

leva a estabelecer diversas restricções na

estavam alinhadas aos debates sobre

imigração, pois não devemos acceitar

raça e, portanto, compartilhavam da

em nosso gremio social nem o italiano

ideia de que nem o trabalhador nacional

do sul por seus relaxados costumes, nem e muito o chim por sua brutalidade, nem o

menos os negros eram considerados

africano por sua selvageria, nem o

capazes de impulsionar o país. Posto

allemão por seu fanatismo”5.

isso, delineava-se em suas reportagens

Segundo Carneiro (2003), os imigrantes

exemplos da diferenciação entre as

aqui preferidos eram os europeus

raças de acordo com o país de origem.

brancos e os países fornecedores de

Outra

mão-de-obra entre os anos de 1890 e

ilustração que é retratada no jornal é a

1899 foram a Itália, com quase 700

discussão sobre a presença do imigrante

mil pessoas, Portugal, responsável por

chinês e a possibilidade deles virem

219.653, a Espanha enviou 164.293 e a

para o Brasil. O chim é retratado pelo

Alemanha 17.084. A autora afirma que o

jornal com diversos adjetivos

“nacionalismo exacerbado, e a xenofobia pejorativos, principalmente quando foi serviram de elementos ivilizadores para

destacado a impossibilidade do mesmo

o debate mascarado pela interação de

de se constituir

garantir a integração étnica e a

como força de trabalho útil para esta

capacidade física e cívica do imigrante”

nação. Isso é demonstrado em uma

(CARNEIRO. 2003, p. 25).

reportagem que cita a fala do Senhor Doutor Salvador de Mendonça8, em

CHINS: AS “IMPUREZAS” DEIXADAS PELO FILTRO DA IMIGRAÇÃO O conflito entre raça e nacionalidade apareceu de forma mais predominante no discurso brasileiro ao se estabelecer, principalmente pelo Estado, na política imigracionista no final do XIX e início do XX . É observado que algumas das matérias d’O Fluminense

que:

O chim como uma machina, um instrumento de trabalho, e julgando-o desde já indigno de naturalização. [...] são suspeitosos, desleaes, mentirosos, não criam amor á terra para onde emigram, são comcupiscentes; a suspeita é neles quasi invencível; e precisam ser vigiados pois são dados ao latrocínio. [...] mais cedo ou mais tarde os vícios chinezes terão alterado ainda mais o caracter nacional, já bastante corrompido pelo exemplo do africano. [...] quem substituir o africano pelo chim, merecerá todos os títulos, menos os de estadista e patriota.9

7 O FLUMINENSE. Actos Officiaes. O Fluminense, Niterói. Anno VIII, ed. 1088, p. 3. 13/05/1885. 8 Foi um advogado, jornalista, diplomata e escritor brasileiro. 9 FERNANDES, L. Eccos Guanabarenses. O Fluminense, Niterói. Anno IV, ed. 499, p. 1. 24/07/1881.


Nesse trecho é ressaltado o cunho

Aque eram considerados como

determinista, racista e preconceituoso para

“elemento superior”, acabariam

com os chineses e a visão deste como um

absorvendo os mais fracos, ou seja

imigrante indesejado e incapaz de

o trabalhador nacional pobre, o negro e

desenvolver o país. Outra passagem escrita

o índio.12 Em Minas Gerais, existia o

por Luiz Fernandes (1883), diz que “nós

receio de trazer a corrente imigratória

abrimos as nossas portas á onda negra,

advinda da China, pois poderia afastar a

que só espalha a ignorancia, a

imigração europeia, que representaria

uperstição e o servilismo,

uma vantagem no momento que a

estabelecendo o domínio da fé sobre a

introdução e permanência fossem

razão”10. Quando se refere ao chinês ele traz o exemplo de nações que permitiram a imigração chinesa e acabaram reconhecendo que ela era prejudicial aos interesses do país. Ele ressalta:

03

realizadas da forma correta. Apesar disso, era perceptível discursos que defendiam o chinês, ao dizerem que ele poderia ser a salvação para diversas mazelas que estavam sendo enfrentadas naquele período da história nacional, principalmente no campo

O chim [...] não póde fundir-se na nossa família pela sua raça e pelos seus costumes. Além d’isso, barateamento excessivamente o salário, porque as suas necessidades são insignificantes em relação ás nossas, elle trará pouco a pouco [...] a miséria das classes laboriosas do paiz. [...] com o jesuita e o chim a colonizarem o paiz, onde iremos parar? 11

Segundo o jornal, a colonização era uma realidade e estava operando diversas transformações no sistema de trabalho e para os fazendeiros, pois eles ainda estavam se adaptando ao regime de trabalho assalariado, que começara a ser implantado e os

econômico. Destacando uma dessas falas O Pharol cita o lorde Wolseley, que considera o chim: A primeira raça do mundo, [...] possue todos os elementos de uma grande nação. Tem a coragem, a força physica e um desprezo pela a morte. [...] A facilidade destes para aprender é tão prodigiosa que, se eu tivesse aqui soldados chinezes aos quaes dessem instrucção militar officiaes de infantaria inglezes, eu faria deles, em um anno, os melhores soldados do mundo. [...] Elle, porém, é sobretudo forte, por isso que, logo que se acha em terra estrangeira, tem o espirito de associação maravilhosamente desenvolvido. O chinez, logo que se expatria, comprehende a necessidade de uma associação estreita.13

imigrantes estavam desempenhando essa função. Para eles, aconteceria uma “seleção natural”, em que os migrantes, 10 FERNANDES, L. Eccos Guanabarenses. O Fluminense, Niterói. Anno VI, ed. 846, p. 1. 21/10/1883. 11 FERNANDES, L. Eccos Guanabarenses. O Fluminense, Niterói. Anno VI, ed. 846, p. 1. 21/10/1883. 12 S. O. de M. Interior. O Fluminense, Niterói. Anno VII, ed. 966, p. 3. 30/07/1884. 13 O PHAROL. Immigração Chineza.O Pharol, Juiz de Fora. Anno XXVI, ed. 176, p. 1. 30/06/1892.


04

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A idealização do Brasil como um país

CARNEIRO, Maria Luzia Tucci. A

branco ia, de certa forma, para além da Imagem do Imigrante Indesejável. racionalidade

Seminários – Imigração, Repressão e

e era apoiado por diversas teorias que Segurança Nacional, São Paulo: Arquivo classificavam outros povos como

do Estado/Imprensa Oficial do Estado de

inferiores, inclusive o

São Paulo, n. 3, p. 23-44, out. 2003.

nacional. Ainda hoje, século XXI, existem pessoas que se mostram

MACHADO, Lia Osório. Origens do

contrárias ao tratamento

Pensamento Geográfico no Brasil: meio

igualitário entre os seres humanos,

tropical, espaços

independentemente da cor da pele,

vazios e a ideia de ordem (1870-1930). In:

nacionalidade, gênero,

CASTRO, I. E. et. al. Geografia, Conceitos

opção sexual e/ou da classe social.

e Temas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand

Partindo de discursos racistas e

Brasil, 2000, cap.10, p. 309-352.

discriminatórios, pregam o ódio e acabam buscando formas de subjugar REBELO, Fernanda. Raça, clima e outros seres humanos a padrões

Imigração no Pensamento Social

ilógicos e mentirosos que

Brasileiro na Virada do

obedecem uma lógica dominante em

Século XIX para o XX. Filosofia e História

que boa parte da população fica à

da Biologia, v. 2, p. 159-177, 2007.

mercê dos poderosos. SOUZA, Vanderlei Sebastião de. Por Uma Nação Eugênica: higiene, raça e identidade nacional no movimento eugênico brasileiro dos anos 1910 e 1920. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 146-166, jul./dez. 2008.

10 FERNANDES, L. Eccos Guanabarenses. O Fluminense, Niterói. Anno VI, ed. 846, p. 1. 21/10/1883. 11 FERNANDES, L. Eccos Guanabarenses. O Fluminense, Niterói. Anno VI, ed. 846, p. 1. 21/10/1883. 12 S. O. de M. Interior. O Fluminense, Niterói. Anno VII, ed. 966, p. 3. 30/07/1884. 13 O PHAROL. Immigração Chineza.O Pharol, Juiz de Fora. Anno XXVI, ed. 176, p. 1. 30/06/1892.


AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DO CURSO DE GEOGRAFIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA Heitor Carvalho Lacerda1; Humberto Paiva Fonseca2

apontar e refletir sobre o modo que a

05

avaliação da aprendizagem tem ocorrido nas escolas de ensino básico. É nesse contexto que foi elaborado na disciplina de Didática do curso de Geografia um projeto de pesquisa que pretende investigar o processo de avaliação da aprendizagem dos(as) docentes e discentes do próprio curso. O

1- INTRODUÇÃO A avaliação da aprendizagem é uma etapa do ensino-aprendizagem

presente trabalho busca apresentar a temática e delinear alguns pontos preponderantes do projeto realizado.

fundamental, pois aclara múltiplos aspectos, como a averiguação da aprendizagem dos(as) discentes, e análise da prática de ensino do(a) docente, a revisão dos conteúdos, a identificação de onde retomar o ensino e a famosa atribuição de nota para admissão na etapa educativa. Atualmente, é perceptível que considerável parte dos(as) docentes (se não a maioria) ainda adotam um modelo de avaliação da aprendizagem que não tem privilegiado a construção do conhecimento de fato. De modo escalar, entende-se que a formação dos(as) docentes possuem importante papel sobre a forma que os mesmos vão atuar com seus(as) discentes. Nessa perspectiva, entender a formação docente é pertinente para

2- FUNDAMENTO TEÓRICOCONCEITUAL A pedagogia tradicional tem como característica o método de exame como práxis avaliativa e o mesmo, como aponta Chuieiri (2008), é um instrumento adotado no contexto da ascensão da burguesia no século XVI e XVII, uma vez que nessa época o principal modo de ascensão social era pelo estudo ou pelo trabalho. Portanto, o exame qualificava o indivíduo que conseguiria o acesso as oportunidades ou o desqualificava de acordo com o resultado. Em concordância Perrenoud (1999) diz respeito à questão de como são entendidas a ideia de avaliações, na qual a mesma traz duas logicas dominantes

1 Graduando em Geografia da Universidade Federal de Viçosa, email: heitorcarvalho7@gmail.com 2 Graduando em Geografia da Universidade Federal de Viçosa, email: humberto.fonseca@ufv.br


06

aexcludente uma vez que muitos(as) 1no sistema de ensino atual. O primeiro é um modelo voltado para a classificação (e desclassificação) que não demonstra aspectos básicos da aprendizagem do aluno, pois se apresenta em um círculo fechado, no qual a avaliação é o início e a finalidade do ensino, formando alunos capacitados a prestar vestibulares e concursos, mas não capacitados a vida em sociedade. Por outro lado, o outro modelo, tem-se uma avaliação formativa, com um modelo modernista de se pensar a educação e, nesse caso, a avaliação serviria de método de auxílio do professor a um ajustamento das práticas de ensino individuais aos discentes. Anastasíou et al. (2009) dizem que a avaliação da aprendizagem não deve ser uma forma de punição para aqueles educandos que fogem da curva padrão

docente realizam o julgamento prévio de cada aluno(a), dizendo quem é melhor ou pior, ou até mesmo “quem não tem jeito”. Não há uma ação em direção ao acolhimento, que propiciaria o aprendizado significativo dos discentes.. Chuieiri (2008) postula que o processo avaliativo envolve uma sistematização e organização prévia que inevitavelmente refletem ideologias sociais e, consequentemente, pode estar servindo a manutenção ou à transformação das estruturas sociais. Dessa maneira, a profundidade dessa etapa do ensino-aprendizagem é muito maior do que se aparenta, apontado através da abordagem política pedagógica se o processo de ensinoaprendizagem está promovendo emancipação dos(as) discentes ou mantendo a reprodução da estrutura social.

de ensino, mas sim uma forma de se estabelecer um diálogo entre educador

3- ESTUDO DE CASO

e aluno em sala de aula. Luckesi (2000) postula que a avaliação por exames é classificatória e ainda adiciona que a mesma é excludente e não construtiva. Nessa perspectiva, o autor reforça que a avaliação se torna

Fonseca (2002) conceitua estudo de caso como uma investigação de algum fenômeno ou objeto bem definido, como uma instituição, um sistema educativo, um grupo social.


07

O autor diz que o objetivo é entender

• Você teve contato, na graduação ou na

com profundidade essa unidade, como

pós-graduação, com a disciplina de

e os por quês e, ressalta, que essa

Didática?

unidade investigada contém aspectos

• O que significa para você avaliação da

únicos. Portanto, foi escolhido pelo o

aprendizagem?

curso de Geografia da Universidade

• Como você avalia o conhecimento

Federal de Viçosa, motivado

ensinado aos(as) discentes de Geografia?

pela proximidade locacional do

Concomitantemente, será aplicado

presente autor com o Departamento e

questionários aos estudantes de

pelo conhecimento prévio das

Geografia indagando sobre a temática. O

especificidades dos conteúdos que

questionário aplicado dará um

possibilita uma análise mais crítica e

panorama geral das opiniões e

ampla. O referido curso conta com

pensamentos sobre o assunto

nove docentes de diferentes áreas

investigado e, assim, oportunizará a

temáticas e com entrada de

realização de grupos focais com

aproximadamente cinquenta docentes

estudantes que possuem ideias opostas

por ano.

para o aprofundamento da pesquisa. Veja a seguir alguns exemplos das

4- ETAPAS DA PESQUISA

indagações levantadas no questionário:

O referido trabalho se pautará no

• As avaliações aplicadas pelos docentes

primeiro momento em analisar do

do curso de Geografia são coerentes

referencial teórico sobre a avalição da

com os conteúdos ensinado?

aprendizagem, que dará subsídios para

• Os docentes de Geografia possibilitam

a investigação. Após esta etapa a coleta

uma boa preparação para as avaliações?

de dados será empregada por método

• Os docentes de Geografia oportunizam

quantitativo-qualitativo, pelos

os feedbacks das avaliações?

seguintes instrumentos: entrevista

Por fim, através dos conhecimentos

semiestruturada e questionário. A

prévios sobre a temática acontecerá a

entrevista será realizada com os

análise dos conteúdos e um texto

docentes afim de apreender as

síntese.

informações sobre avaliação da aprendizagem, veja três exemplos:

5- A HIPÓTESE


08

A pesquisa não foi realizada por

discentes. Alguns poucos docentes, não

inviabilidade de tempo e, assim, está

veem a nota como um atributo que

arquivada esperando uma retomada.

representa o saber dos discentes.

Sabe-se que dificilmente em uma

De outro lado, uma parcela pequena de

pesquisa qualitativa é viável apontar uma

discentes procuram os(as) docentes

hipótese, porém o presente autor é

para verificação dos erros e lacunas

discente do referido curso e obteve

cometidas nas avaliações, afim de

(obtém) experiencias referentes a

aprenderem efetivamente o conteúdo

avaliação da aprendizagem com os

objetivado pelo(a) docente na prática

docentes e discentes a serem investigados.

de ensino. Alguns discentes já

Com isso, acredita-se que alguns

relataram medo de ir verificar as

apontamentos podem ser inferidos antes

avaliações com receio de marcação.

da concretização da investigação.

Apesar de maior parte dos docentes não rever a prova com os discentes

É observado por parte dos docentes que

após a avaliação em sala de aula, quase

os métodos avaliativos são de forma geral

nenhum docente solicita a correção da

tradicionais (excludentes) e, apesar de

prova em sala de aula. Por fim,

adotar diferentes instrumentos avaliativos

considerável parte dos discentes

(seminários, resenhas, provas com

reclamam que alguns docentes não

consultas, trabalhos, entre outros),

explicam todos os conteúdos que é da

somente os seminários são comentados

ementa da disciplina, escolhendo

ao findar da exposição, dando

outros assuntos para aplicar em sala de

direcionamentos e conselhos educativos

aula.

e, raramente, algumas provas são

Salienta-se, por fim, que os docentes

devolvidas com comentários construtivos

em sua maioria utilizam as categorias

e devolvidos aos discentes. Destaca-se

de análise (território, espaço, lugar,

que, majoritariamente, os docentes

paisagem, etc) da geografia para

adotam o modelo de exame, que classifica

explicação dos conteúdos específicos

e desclassifica (sendo uma é norma da

das disciplinas, condição sine qua non

universidade), porém não há retomadas

para análise a partir da ciência

de conteúdos para propiciar a

geográfica.

aprendizagem efetiva dos


09

REFERÊNCIAS ANASTASIOU, L. G. C.; ALVES, L. P. Estratégias de ensinagem. Processos de ensinagem na universidade. Pressupostos para as estratégias de trabalho em aula 3 (2004): 67-100. CHUIEIRE, Mary Stela Ferreira. Concepções sobre a avaliação escolar. Estudos em Avaliação Educacional, 2008, 19.39: 49-64. FONSECA, J. J. S. Metodologia da Pesquisa Científica. 2002. LUCKESI, C. C. O que é mesmo o ato de avaliar a aprendizagem. Revista Pátio, 2000, 12. PERRENOUD, P. Introdução. In: Avaliação: da excelência à regularização das aprendizagens: entre duas lógicas. Artmed: Porto Alegre, 1999.


10

ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA E EDUCAÇÃO DO CAMPO: UMA ANÁLISE DA ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA PAULO FREIRE

aprincipais expoentes da resistência dos/as agricultores/as familiares contra uma racionalidade hegemônico de educação, que inferioriza o rural em detrimento do urbano, e desvaloriza seus saberes e territorialidades.

Lucas Ribeiro Gomes1 1- INTRODUÇÃO Ao longo da sua história, o ambiente escolar, enquanto um espaço de controle e construção do conhecimento, tem sido palco disputas desiguais entre diferentes grupos na busca da reprodução de suas

Este modelo tem origem na França, mas já se difunde no Brasil desde a década de 60, e tem como interesse central a conciliação entre a continuidade da formação escolar das juventudes do campo com o trabalho na agricultura familiar. Para isso, divide o calendário escolar em dois períodos, o tempo escola e tempo comunidade, pelos quais se busca, a

territorialidades. Esse processo fica nítido

partir dos instrumentos da pedagogia

a partir da emergência da sociedade

da alternância, uma integração entre

urbano-industrial, quando a escola inicia

família, comunidade e escola, saber e

seu processo de universalização e toma a

fazer agrícola, e a construção do

forma que a conhecemos hoje, como

conhecimento a partir da relação

espaço de disciplinarização em massa e de

prática, teoria e prática.(CALDARD, R.,

imposição de uma racionalidade

2002; RIBEIRO, M,. 2010; PINTO, M.,

hegemônica (VESENTINI, J., 1992; PINTO,

GERMANI, G., 2013)

K., CASTROGIOVANNI, A., 2012).

Entendendo a geografia, enquanto disciplina escolar, como um campo

Porem, o conhecimento não esta

estratégico para a construção de um

vinculado somente a uma instituição ou

olhar crítico sobre o contexto sócio-

um padrão escolar, surgindo, a partir dessa

espacial que estamos inseridos e as

imposição e da resistência de grupos

territorialidades que nos são impostas,

subalternos, uma grande diversidade de

a presente pesquisa busca refletir como

modelos de educação e escolas. Como é o

o ensino/aprendizagem de geografia se

caso da Educação do Campo que tem na

insere no modelo da EFA e da

modelo Escola Família Agrícola (EFA), e da

pedagogia da alternância. A busca por

Pedagogia da Alternância, uns dos

um

! Graduando em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa. E-mail: lucas.r.gomes@ufv.br


11

recorte espacial que pudesse nos

estrutura, ações e relações que ali são

revelar possíveis especificidades desse

desenvolvidas. Durante as visitas,

modelo alternativo de escola, bem

também foram realizadas entrevistas

como seu funcionamento na prática, se

semi-estruturadas com alguns

mostrou de Grande importância.

educandos(as) e educadores(as), sobre

Sendo escolhida, pelo seu histórico de

questões norteadores sobre o

lutas e resistência da agricultura

ensino/aprendizagem de geografia e a

familiar na zona da mata mineira, a

estrutura, o funcionamento e a história

EFA Paulo Freire (EFAP), situada no

da EFAP. Por fim, foi realizada a

município de Acaiaca (MG), que desde

sistematização das informações recolidas

2004 oferece o ensino médio e técnico

e das análises desenvolvidas ao longo da

agrícola para jovens ligados a

pesquisa, em forma de trabalho científico

agricultura familiar de vários municípios da região.

RESULTADOS Como resultados, pode-se

METODOLOGIA

observar o quão amplo é o entendimento

Para a operacionalização do trabalho,

sobre o que é geografia e como ela se

buscou-se a construção de um

apresentada e dialoga com realidade

entendimento, a partir de referenciais

segundo o olhar das/os estudantes da

teóricos, sobre temas referentes ao

EFAP. Apesar das diversas concepções

ambiente escolar, ao ensino-

relatadas, a geografia, enquanto

aprendizagem de geografia, e ao

disciplina escolar, não apareceu de forma

modelo da EFA e da Pedagogia da

panorâmica, nem tão pouco

alternância. Também foram realizadas

enciclopédica, como trazem os/as

visitas de campo na EFAP, entre os

autores/as, Resende (1986) e Moreira

meses de abril e maio de 2017, ao qual

(2008), aos quais buscou-se base teórica,

foram feitas observações participativas

mas com uma intima ligação entre os

dentro e fora do ambiente das salas de

conteúdos visualizados em sala de aula e

aulas e em períodos que não se

a realidade dos/as educandos. Alguns

restringiram somente as aulas de

pontos em comum, em relação à escola

geografia, buscando reconhecer os

convencional, também puderam ser

sujeitos inseridos naquele espaço, sua

levantados, tais como a semelhança entre os currículos, conteúdos e algumas


12

metodologias em sala de aula.

acompanhar e dialogar diretamente com

O que não impediu que diferenças nos

a família e comunidade do/a estudantes.

saltassem aos olhos, como a

Deles partem a motivação para se

possibilidade dos educandos(as) de

realizar a união da realidade com os

refletir a teoria na prática, e vice versa,

conteúdos escolares, da prática e da

a partir da ligação entre a realidade e as

teoria, possibilitando uma Educação do

aulas de geografia, nos tempos escola e

Campo que formem sujeitos conscientes

comunidade. Neste ponto, a partir do

e ativos na realidade que estão inseridos.

relato dos/as estudantes e educadoras, os instrumentos da pedagogia da

CONSIDERAÇÕES FINAIS

alternância, como o plano de estudo,

A EFAP enquanto foco de uma

viagens de campo, caderno da

territorialidade imaterial que resiste

realidade e do planejamento das

frente ao modelo do Campo

seções, se apresentam como centrais

modernizado e submisso a cidade,

no rompimento da barreira entre a sala

contrastando com o modelo da escola

de aula e o mundo, além de também se

convencional, se destaca pelo esforço

apresentarem como alternativas ao

realizado na junção da prática com a

livro didático para tratar questões

teoria. Esforço esse que é realizado

regionais.

principalmente a partir dos Instrumentos

Os/as monitores/as e educandos/as se

da Pedagogia da Alternância como o

mostraram como agentes

Plano de Estudo, as Viagens de Estudo, as

fundamentais para compreendermos a

Aulas Práticas, entre outros, que

EFAP e o ensino-aprendizagem de

permitem o educando visualizar na sua

geografia na educação do campo.

realidade os temas discutidos na EFAP, e

Apontando para uma educação

nesses a sua realidade.

investigava, no qual a pesquisa faz

A experiência da EFAP, assim como

parte da prática do/a educando/a, que

outras da educação do campo, pode

é incentivado a se apropriar dos

contribuir não só a Geografia escolar,

conhecimentos construídos durante o

como para tantas outras disciplinas, a

tempo e escola para conhecer e atuar

construir com o educando um olhar

melhor em sua comunidade, e também

crítico sobre a sua realidade que estão

do/a educador/a, que propõe

inseridos. Porem, deve-se considerar as

atividades de pesquisas durante o

diferentes realidades e especificidades de

tempo comunidade, além de

cada modelo escolar. No caso da EFAP,


13

Disponível

o total de alunos era pouco mais de

em:www.landaction.org/IMG/pdf/BERNAR

quarenta, número esse que, em muitos

DO_TIPOLOGIA_DE_TERRITORIOS.pdf

casos em escolas convencionais, é

20 de junho de 2010.

reunido em uma única sala de aula. Portanto, deve-se buscar valorizar propostas de ensino-aprendizagem que afirmem outras territorialidades, como caso das EFA’s, mas também deve-se realizar o esforço de transpor essas, e outras abordagens teóricometodologicas que se mostraram bem sucedidas, para espaço da escola pública convencional, onde estão grande parte

MOREIRA, Ruy. Para onde vai o pensamento geográfico? : por uma epistemologia crítica. São Paulo: Editora Contexto, 2008. OLIVEIRA, Alexandra Maria, A Escola Camponesa na Alternância e o Ensino de Geografia, Mercator, Fortaleza, v.12, n. 27, p. 171-187, jan/abr. 2013

dos sujeitos carentes de uma educação

PINTO, Kinsey, CASTROGIOVANNI,

libertadora.

Antonio, C. O (Sub)Espaço Geográfico Escola, Universidade Federal do Rio Grande

REFERÊNCIAS

do Sul. Porto Alegre, 2012

CALDART, Roseli Salete. Por Uma Educação do Campo: Traços de uma

PINTO, Manuela P. A., GERMANI, G. I. O

identidade em construção. Brasília, DF:

Território da Educação do Campo: As

Articulação Nacional Por Uma Educação

Escolas Família Agrícola. Universidade

do Campo, 2002. Coleção Por Uma

Federal da Bahia, Salvador, 2013.

educação do Campo, n°4. P.25-36.

RESENDE, Márcia Spyer. A Geografia do Aluno Trabalhador: caminhos para um

CAMACHO, Rodrigo Simão. A Geografia no Contexto da Educação do Campo: Construindo o Conhecimento Geográfico com os Movimentos Camponeses. Revista Percurso, Maringá v.3, n2, p.25-40, 2011 FERNANDES, Bernardo Mançano. Sobre a Tipologia de Territórios.

prática de ensino. São Paulo, Loyola, 1986. RIBEIRO, Marlene. Movimento camponês, trabalho e educação. Liberdade, autonomia e emancipação: princípios/fins da formação humana. 1°ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010. VESENTINI, José Willian. Por uma Geografia Crítica na Escola. São Paulo: Ática, 1992.


14

EIV-ZM: Vivenciando a luta campesina na Zona da Mata

mais importante dos 4 pilares é a parceria que propõe contato direto dos estudantes com a realidade das

Helena Joaquina Gomes de Barros Luan Abner Rodrigues de Britto Maria Isabel Branco Pinheiro O Estágio Interdisciplinar de Vivência da Zona da Mata de Minas Gerais existe há 22 anos no município de Viçosa. Configura-se como um projeto de extensão na

comunidades, através das vivências na casa de agricultores familiares e na construção teórica e metodológica da fase de preparação que compõe o estágio. É, no fim, para onde se destina o resultado do projeto. As parcerias existem com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais – STRs, Escolas de Família Agrícola –

Universidade Federal de

EFAs, Associações Quilombolas,

Viçosa, trabalhando com estudantes de

Organização de agricultores, entre outros

diversas instituições e comunidades

parceiros que dialogam com a proposta

rurais de vários segmentos no

do EIV-ZM.

território da Zona da Mata de Minas Gerais. O EIV-ZM tem como objetivo

O estágio é dividido em 3 etapas:

central a formação de militantes em

preparação, vivência e retomada. Na

virtude da luta campesina através da

preparação, os estagiários passam cerca

sensibilização em seus numerosos

de uma semana em regime de imersão

conceitos sob a parceria de uma rede

debatendo questões que cercam a

ampla de articulação dos movimentos

realidade das comunidades parceiras.

sociais populares e estudantis. Além

Logo após, são encaminhados para a

disso, são outros objetivos do estágio

vivência, onde cada participante é

propiciar novas percepções

destinado a uma família em alguma

pedagógicas de temas que a

dessas comunidades por um período de

Universidade não explora a fundo e,

também aproximadamente uma semana.

sob uma ótica holística, trabalhar valores humanos relacionados a interpretação dos participantes acerca da realidade social. Nesse sentido, o

A retomada é o momento de socializar as experiências e entender como cada estagiário enquanto profissional pode apoiar e somar forças para a luta campesina, direta ou indiretamente. As


15

fases de preparação e retomada

podem ser hierarquizados, pois são

acontecem na sede do Centro de

saberes diferentes. A proposta

Tecnologias Alternativas da Zona da

pedagógica de formação do estágio

Mata desde o surgimento do EIV-ZM

inclui, também, diversas formas de

em Viçosa, em 1996. Todas as etapas

percepção e aprendizado, para além do

do estágio são organizadas por uma

quadro de giz e da figura do professor

frente de construção, formada por

que é “guardião do conhecimento”.

estudantes que já passaram pela

Entende-se que todos têm algo para

experiência de estagiário. Este é o pilar

aprender e ensinar e que os sujeitos são

do protagonismo estudantil,

diferentes, portanto, é necessário o uso

priorizando a horizontalidade de

de diferentes métodos que trabalhem o

poderes. Os estudantes envolvidos

intelecto, todos os sentidos biológicos e

nesse processo podem ser de quaisquer

que façam jus ao verbo sentir, talvez

cursos, assegurado por outro princípio

outra definição para vivenciar. Somos

que é a interdisciplinaridade,

seres de afeto, sensíveis e capazes de nos

possibilitando uma rica interlocução

colocarmos no lugar do outro,

dos saberes.

características subestimadas e bloqueadas

Diferente de outros estágios nas universidades, o EIV-ZM propõe a perspectiva da não-intervenção, um outro princípio. Não é um estágio técnico, não há a intenção de exercer intervenções científicas e culturais no ambiente de vivência. Nesse sentido, entende-se que os estagiários estão em busca de (re)conhecer os saberes populares, bem como suas organizações. O EIV-ZM trabalha na perspectiva da Ecologia de Saberes de

pelo sistema do capital que rege grande parcela do globo. Helena Joaquina Participei do XX EIV-ZM em 2017 enquanto estagiária, fiz vivência no município de Goianá no Assentamento Denis Gonçalves do MST. Fiquei na casa de Dona Adenir, Seu Tião e Samuel, família que trabalha com gado de leite e se organiza politicamente no Assentamento. Pude perceber aspectos territoriais e culturais bem marcados

Boaventura Souza e Santos e nas

através das construções da antiga

propostas de Paulo Freire como os

Fazenda ( Fortaleza de Sant’Anna ) que

círculos de cultura. Dessa forma, os

pertencia à família da Baronesa de

saberes científicos e populares não

Sant’Anna .


16

As terras que pertenciam à fazenda

envolvimento me reconheci parte de um

possuem um marco das sesmarias; era

movimento: o Movimento de Resistência

uma fazenda típica do ciclo do café.

Puri, que articula os povos originários

Possuía um aqueduto para transportar

que ocupam

café até o porto, no litoral. Ainda

bem como a região da Zona da Mata

existem as construções, uma casa de

Mineira.

máquinas, capela, casa grande, senzala,

Construí o XXI EIV-ZM no ano de 2018.

cemitério, casas dos colonos que eram

O processo possibilitou um contato mais

os empregados, descendentes dos

próximo com os diversos parceiros ao

escravos da mesma família dona da

longo da Zona da Mata, que me trouxe o

fazenda, entre outros levantamentos.

reconhecimento e fortalecimento da

O território era previamente ocupado

minha cidadania.

pelos povos originários da etnia Puri. Hoje, é ocupado por cerca de 130 famílias. Depois de ter sido estagiária do EIVZM, tive um engajamento maior no contexto dos movimentos sociais no âmbito acadêmico; participei da construção da nona e da décima edição da Troca de Saberes, evento que acontece concomitantemente com a Semana do Fazendeiro da UFV, mas que ao contrário da grande feira do agronegócio, a primeira estabelece

Luan AbnerSou estudante de Agronomia na Universidade Federal De Viçosa, participei do Estágio Interdisciplinar de Vivência da Zona da Mata Mineira em 2018, na sua vigésima primeira edição. Após o processo de preparação no CTA, o Assentamento Olga Benário localizado em Visconde do Rio Branco foi escolhido pela comissão organizadora como meu local de vivência. Meus pais de vivência foram Valdinei e Sheila, e tive como irmãos seus três filhos: Francisco, Pedro

encontros e diálogos dos diversos

e Miguel. Acompanhei a família, no seu

saberes populares, evidenciando a

cotidiano, na produção leiteira e

agroecologia e os povos tradicionais

hortícola, além de poder observar os

que a estruturam. Ademais, participei

processos diários da cooperativa local (a

da construção da segunda

COOPERARCA ZM).

Jornada Universitária em Defesa da

Consegui perceber questões nas formas

Reforma Agrária que traz debates

de organização das famílias e da

acerca do acesso à terra, bem como as

cooperativa local, nos tipos de relações

questões que a envolvem. Nesse

das famílias com o movimento social,


17

nos aspectos da diversidade

antiga usina, juntamente com as

cultural de cada contexto familiar e da

pastagens degradadas, saturaram as

juventude presente. Pude vivenciar

áreas de cultivo, aumentaram a

atividades rotineiras do escoamento da

desproteção dos solos, e assim

produção agrícola, olhar as

favorecem processos de erosão e

potencialidades e limitações do assentamento, bem como suas relações com o estado, além de me atentar mais ainda para as questões da minha área de estudo, as unidades de produção

assoreamento de corpos d’água, gerando consequentes efeitos na diminuição da disponibilidade hídrica local. Questões essas que são sentidas até hoje pela comunidade e que estão além da conquista da terra.

agrícola.

Dessa maneira, a agricultura e o solo se

Através da rotina de vivência e de

tornaram dependente de insumos

relatos sobre a área consegui visualizar

químicos para poderem produzir,

questões relacionadas ao histórico de

principalmente de fertilizantes

atuação humana nos solos, de grande

agroquímicos, de valores elevados, e

impacto à realidade atual

sem

do assentamento, questões que

efeitos benéficos na estruturação de um

perduram desde a época de acampamento. Devido ao uso inconsciente da terra pelos antigos proprietários, que na busca do máximo a ser extraído, houve um esgotamento

solo com vida e efetivamente produtivo. O EIV-ZM me possibilitou conhecer o contexto do setor agrícola do Assentamento Olga Benário e suas interações com o fator sociocultural. Como observador, através da vivência

da vida no solo, uma depreciação das

fui instigado a me debruçar sobre

características físicas e químicas do

questões que nunca antes em vida

mesmo e áreas produtivas do

acadêmica haviam sido colocadas em

assentamento. Além de todos os

pauta. Foi conseguido desenvolver,

impactos relacionados aos padrões

através dos debates direcionados na fase

tecnológicos da agricultura

de retomada, com auxílio de

convencional, como a provável

metodologias que contemplam mais os

contaminação de todo ambiente devido ao uso de agrotóxicos em anos passados, descaracterização da área nativa, compactação do solo e outros, a monocultura canavieira da

diferentes tipos de percepção, pontos de formaçãode pensamento sobre a realidade, considerando não só os aspectos das comunidades e suas especificidades, mas também suas características representativas da


de

18

realidade rural brasileira. A experiência

vivência é uma das pessoas que mais

de me conhecer a partir de uma

tenho orgulho de ter conhecido. Seu

outra realidade tem sido incisiva na

amor pela terra sempre foi algo que tive

minha construção como indivíduo e

dificuldade em expressar em palavras.

futuro profissional. A busca por um

Absolutamente indescritível. Sua

entendimento maior da realidade rural

dignidade ao administrar o próprio

com a demanda dos movimentos

terreno, sua alegria de viver e trabalhar

sociais, fortaleceu minha identificação

em um lugar tão único à ela. Pedaço de

como cidadão e meus canais de

terra, esse, que passa completamente

atuação na sociedade, como o

despercebido ao olhar crítico

movimento agroecológico

e científico. Um simples terreno, apenas

universitário e o movimento

mais uma roça entre tantas outras. Foi

estudantil. Além disso, por meio da

essa a minha impressão sob primeira

academia, direcionei meu Trabalho de

análise. Não poderia estar mais enganada.

Conclusão de Curso para atender uma

Dona Luzia presenteou-me com suas

dessas demandas do assentamento,

preciosas histórias de vida, contações que

relacionada a redução do uso de

nunca teriam plena compreensão se

fertilizantes químicos, através de

transmitidas por outro método. Na casa

práticas agroecológicas, como o cultivo

moravam 3 membros da

de espécies que enriquecem e

família (ela, o companheiro e o sobrinho).

protegem o solo, conhecidas como

Ocasionalmente irrompiam visitas dos

adubos verdes. Acredito ser uma forma

vizinhos, das crianças. Minha mãe recebia

de atuar em prol do movimento por

todos com o mesmo amor e sorriso.

meio de uma mudança técnica que tem Sendo estudante de Engenharia Florestal, como última instância emancipar o

o que me era habitualmente ensinado

agricultor em relação ao sistema

consistia no concreto. Qualidade do solo,

imposto.

inventário florestal, técnicas de manejo e todo o resto da grade acadêmica. Eu,

Maria Isabel Pinheiro-

ainda como estudante, posso afirmar que

Fui estagiária no XXI EIV-ZM. A

hoje tenho um entendimento diverso

Comissão Organizadora encaminhou-

e mais abrangente quanto à relação do

me para a família da Dona Luzia, do

campo concreto e do abstrato

Assentamento Olga Benário em Visconde do Rio Branco. Minha mãe


19

CONCLUSÃO Nessa busca da formação da militância é visível que ela acontece de diversas maneiras e em inúmeros espaços. O cotidiano de cada família é obviamente próprio, o que promove diferentes percepções em cada estagiário, e, na partilha de experiências, incita variadas assimilações. A vivência da realidade campesina proporciona um diálogo com a identidade de cada indivíduo, com finalidade de promover transformações sociais. Enquanto que podem ser formados militantes conscientes, porém mais dirigidos para o lado pessoal, a formação também pode se dar a verdadeiros ativistas, voltados com maior ênfase para a luta coletiva. REFERÊNCIAS GOMES J UNIOR, José Antonio, jose.a.junior@ufv.br ; DA SILVA, Kim Sá, kim.silva@ufv.br; Estágio Interdisciplinar de Vivencia da Zona da Mata/MG: identidades, aprendizagens e um pronome insurgente, (2013) SOUSA SANTOS, Boaventura de Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes (2007)

ANDREOLA,B.A. Interdisciplinaridadena obra de Freire: uma pedagogia da simbiose e da solidariedade. In: STRECK D.R. (org.) Paulo Freire: ética, utopia e educação. 1999


20

jogado direto no solo, pois age como

AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE RESÍDUOS DE ÓLEOS E GRAXAS PRATICADA EM VIÇOSA COM A PROPOSIÇÃO DE SOLUÇÕES INTEGRADAS

impermeabilizante, impedindo a infiltração da água, prejudicando a vegetação presente em se desenvolver e a drenagem da água de chuva que, em grandes quantidades, pode causar

MARCO, Júlia Silva 1, CRUZ,

enchentes. Quando o descarte do óleo é

Gabrielle Oliveira Rosa 2,

feito diretamente nas redes de esgoto

FALCONIERE, Sarah Romanhol 2,

que desaguam nos rios contamina, além

LOPES, Lucas Sampaio 3

de formar uma camada na superfície da água impedindo a passagem de luz e de

INTRODUÇÃO

oxigênio, alterando o ecossistema onde

Com o crescimento populacional e a

se encontra.

era científico-tecnológica, a utilização

Para prevenir e mitigar os impactos

dos recursos naturais em nosso planeta

ambientais causados por óleos usados, no

vem aumentando. Na nossa sociedade

Brasil, foi publicada em 2005, a

atual, o discurso capitalista e a difusão

resolução CONAMA (Conselho Nacional

de uma ideologia consumista fazem

de Meio Ambiente) no 362, a qual dispõe

com que a produção zero de lixo seja

sobre o recolhimento, coleta e destinação

uma prática impossível de ser

final de óleo lubrificante usado ou

alcançada.

contaminado. (BRASIL, Conselho

Dentre vários tipos de resíduos

Nacional de Meio Ambiente)

existentes, deve-se prestar bastante

A fabricação de sabões, tintas e até

atenção na geração e disposição final

mesmo combustíveis são medidas

de óleos, seja ele de origem vegetal,

conhecidas de reutilização do óleo usado.

animal ou sintético. Esses óleos são

Essas práticas minimizam a quantidade

caracterizados por ser uma substância

de óleos descartados diretamente na pia,

hidrofóbica, ou seja, não se mistura

além de gerar um novo produto

com a água, podendo causar diversos

utilizável no dia a dia.

problemas ao meio ambiente caso seja

Diante desse cenário, o presente trabalho

descartado de forma inadequada.

tem como objetivo quantificar a geração

Um impacto ambiental bastante

de óleos e graxas e identificar sua

comum acontece quando o óleo é

destinação final, no município de Viçosa.

1-Graduanda do curso de Geografia da Universidade Federal de Viçosa e-mail: julia.marco@ufv.br. 2- Graduanda do curso de Engenharia Ambiental da UFV. E-mail: sarahromanhol@gmail.com 3- Msc. Engenharia Agrícola, UFV. E-mail: lucasctu@gmail.com.


21

METODOLOGIA Foi realizada pesquisa de campo no município de Viçosa para identificar e quantificar os estabelecimentos que geram óleos usados. Foram visitados 29 estabelecimentos, sendo eles: restaurantes, lanchonetes, postos de gasolina e mecânicas de motos. Em cada estabelecimento foi feito um levantamento da quantidade de óleos usados gerados e suas destinações finais. RESULTADOS O óleo de cozinha após utilizado, foi observado três práticas diferentes realizadas pelos locais visitados: o óleo é armazenado e então direcionado a uma empresa de coleta; entregue a alguma pessoa externa que o utiliza na fabricação de sabão ou também pode ser utilizado pelo próprio estabelecimento na fabricação de sabão. Independente do destino final escolhido, todos os estabelecimentos armazenam e acondicionam em recipientes fechados, para posterior serem recolhidos por empresas especializadas ou doadas a pessoas que o utilizam como matéria prima para a fabricação de sabão, apresentado na Figura 1

Figura 1 - Recipientes de Armazenamento do Óleo Usado nos Restaurantes Arte & Sabor e Estação Rolfs A empresa Ecologik responsável pela coleta de óleos de cozinha, gordura vegetal e animal usados no município de Viçosa. A empresa coleta óleo em hotéis, condomínios, bares, restaurantes, lanchonetes, churrascarias, padarias, cozinhas industriais, associações de catadores e, além disso, fazendo coletas domiciliares. Dentro do município, além da coleta realizada, já foram instalados alguns Eco Pontos em vários supermercados em parceria com a empresa, sendo um desses o da Feira de Economia Solidária e Agricultura Familiar realizada pela ASPUV de coleta de óleos de cozinha usados. No que concerne os óleos lubrificantes, em visita aos postos de gasolina e oficinas mecânicas da cidade, ficou evidente a alta produção semanal de óleo usado.


22

Os postos de gasolina produzem em média 58 litros por semana e as oficinas 27,5 litros, apresentado na Figura 2. Entretanto, as lanchonetes geram 224,5 litros por semana de óleo, sendo a segunda maior geradora. Já os restaurantes produzem 84 litros por semana.

CONCLUSÃO A coleta de óleos e lubrificantes na cidade de Viçosa ainda se mostra tímida, possuindo alguns pontos positivos. No município, muitos Eco Pontos fecharam em razão da pouca quantidade de óleo armazenado nos estabelecimentos, inviabilizando economicamente a coleta feita pela Ecologik. Assim, a divulgação sobre as realizações, os objetivos e o funcionamento da empresa e a presença de Eco Pontos para a coleta de óleos precisa acontecer de forma mais eficiente, visando atingir uma maior população, e não apenas os estabelecimentos da cidade. É necessário também que haja uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Viçosa e a Universidade Federal de Viçosa, com o intuito de incentivar a criação de projetos de educação ambiental, a qual propõe soluções para o armazenamento e descarte adequado

Figura 2 - Produção dos resíduos por estabelecimentos.

do resíduo no município. O poder público municipal também deveria

Dois postos de gasolina têm seu resíduo

organizar uma cadeia logística eficaz na

recolhido pela empresa Proa Resíduos,

coleta e no armazenamento desses resíduos,

que tem sua sede em Belo Horizonte e

implementando a coleta seletiva na cidade,

atua em todo o estado realizando coletas

para que resíduos sólidos urbanos que

periódicas de resíduos Classe I

poderiam ser reutilizados e reciclados não

juntamente com a destinação final

sejam destinados a aterros sanitários e

adequada. Os postos e oficinas que não

lixões. A inclusão das associações de

entregam o óleo aos cuidados de alguma

catadores de lixo na coleta dos óleos de

empresa, geralmente doam para terceiros

cozinha usados pode vir a ser uma outra

que o utilizam em máquinas agrícolas.

fonte de renda além de manter a cadeia da coleta seletiva e reciclagem


23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Portaria nº 31 de 23 de fevereiro de 2007. Institui Grupo de Monitoramento Permanente para o acompanhamento da Resolução CONAMA nº 362, de 23 de junho de 2005, que dispõe sobre o recolhimento, a coleta e a destinação final de óleo lubrificante usado ou contaminado. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 26 de fev. de 2007. CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE - CONAMA. Resolução nº 362 de 23 de junho de 2005. Dispõe sobre o recolhimento, coleta e destinação final de óleo lubrificante usado ou contaminado. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 27 de jun. de 2005.


24

GEOGRAFIA DOS ALIMENTOS: NATUREZA DA NECESSIDADE BIOLÓGICA... ONDE ESTAMOS?

alimentação expressa as distintas e variadas culturas, além de manifestar uma dimensão política “ao provir de modelos de produção e organização social distintos. O alimento compreende

Luiz Henrique Vieira MARCOS INTRODUTÓRIOS Esse breve ensaio vem provocar algumas questões pertinentes sobre produção do espaço e alimentação. A alimentação é temática de recentes estudos na Geografia brasileira1, mais do que isso, ela é um elemento fundamental para a sobrevivência do ser humano e pode ser discutida através de múltiplos focos, passando por debates interdisciplinares e transversais. “No ser vivo toda a sua

também um conjunto de relações sociais e ecológicas, chegando à terra e, no fim, às pessoas” (POLLAN, 2008, p. 160). Os debates contemporâneos, até mesmo em grupos de pesquisas na pós graduação, giram em torno entorno do que e como nos alimentamos, não necessariamente discorrendo, apenas, sobre o problema da fome, temática introduzida no Brasil desde a década de 1930 por Castro (1937;1939) inclusive com a produção de mapas. Entretanto, “o paladar não é tão universal como a fome. Há distinções, resistências, peculiaridades, imposições misteriosas

matéria e toda a sua energia provêm

para o conhecimento” (CASCUDO, 2004,

dos alimentos e é por isso que a

p. 446). Nesse sentido nossa sociedade

alimentação é a mais imperiosa das

vive ambiguidades complexas, tais como

necessidades vitais” (CASTRO, 1937, p.

McDonização, Slow Food e

31) e é fonte de saúde.

Gourmetização ou no sentido de matriz

Contraditoriamente, nos tempos

produtiva como a agroecológica,

atuais, também é fonte de doenças.

orgânica ou convencional. Mas esses

Nenhuma outra atividade será tão

exemplos tomados de forma isolada não

permanente na história humana

são suficientes para compreender a

(CASCUDO, 2004), logo

problemática globalizada. A lógica da

transformações espaciais, acarretam

alimentação no século XXI, é para além

também mudanças na maneira da

da lógica binária, saciado ou com fome,

alimentação de determinada

saudável ou não saudável, agroecológico

sociedade. Além disso, a

ou convencional.

1- Mestre em educação e professor de geografia


25

Os debates em torno dos diversos

Verde de que acabaria com a fome no

alimentos envolvem relações que

mundo Fartura para poucos, miséria para

vão desde a esfera da territorialidade

a maioria da população. Monocultivos,

e sentimentos dos agricultores até a

ausência de reforma agrária popular

lógica da escala de superprodução e

agroecológica (e até mesmo da reforma

distribuição dos grandes

agrária clássica) e concentração fundiária,

conglomerados econômicos e

limites dos recursos hídricos, uso

mercantis do setor agroalimentar.

intensivo de agrotóxicos, degradação dos

Logo, racionalidades distintas que

solos, vegetação e ecossistemas, isso para

estão presentes na realidade.

não ser longo na narrativa sobre as

Leff (2002) nos lembra como os

problemáticas do modelo de agricultura

alimentos hoje são atraídos somente

hegemônico. Mesmo com tantos

pela visão, dentro da lógica de oferta

impactos e novos malefícios a saúde,

das redes de supermercados que

diversas iniciativas pelo mundo vêm

contribuem para a formação de

reconstruindo a noção de natureza e

hábitos alimentares, inclusive desde

pertencimento com o alimento, como

a infância2. Esse problema na

nas experiências de transição

verdade é uma questão de escala

agroecológica, na qual é presente na

global. “A agricultura mundial está

Zona da Mata de Minas Gerais, uma das

em uma encruzilhada” (SCHUTTER,

regiões de maior referência

2012, p. 13), é o que é relatado no

sistematizadas no Brasil.

Relatório Especial da ONU Para

Bourdieu (2002) observa que todos os

Direito à Alimentação, além de estar

valores universais, são de fato, valores

dominada por grandes Impérios

particulares universalizados, para tanto,

Alimentares (PLOEG, 2008). Até

se o que hoje temos de determinados

2080, mais de 600 milhões de

alimentos presentes em nosso cardápio,

pessoas podem estar sob risco de

com intensa presença na prateleira dos

fome, em resultado direto da

supermercados e nas dispensas das casas

mudança climática, de acordo com a

e escolas, esses são frutos de uma escolha

UNDP da ONU (SCHUTTER, 2012).

dominante. Percebe-se que, de maneira

Fato esse que se soma a outros

geral, nossos hábitos alimentares não

inúmeros casos que contrapõem a

foram produzidos por acúmulo, escolha

falácia reproduzida pela Revolução .

ou debate sobre o que comer em nossa


26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOURDIEU, Pierre. Esboço de uma Teoria da Prática– precedido de três estudos sobre etnologia. Cabila. Oeiras: Celta, 2002. CASTRO, Josué de. A alimentação brasileira à luz da geografia humana. Porto Alegre/RS: Edições Globo,1937. ______. Geopolítica da fome. 4ª edição, São Paulo: Editora Brasiliense, 1957. CASCUDO, Luís da Câmara. História da alimentação no Brasil. 3° ed. Global, São Paulo, 2004. LEFF, Enrique. Agroecologia e saber ambiental. Agroecologia e desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v.3, n.1, p.36-51, jan/mar. 2002. LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural. São Paulo: Cosac Naify, 2008. PLOEG, Jan. Dowe. Van. Der. Camponeses e Impérios Alimentares: Lutas por Autonomia e Sustentabilidade na era da Globalização. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.

POLLAN. Michael. Em defesa da comida. Um manifesto. Rio de Janeiro. Intrínseca, 2008. SCHUTTER, Olivier de. Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional. Relatório apresentado pelo Relator Especial sobre direito à alimentação. Brasília, DF: MDS, 2012.


27

sociedade, mas sim por uma decisão

alimentos e não pelo seu valor nutritivo e

superior dos grandes oligopólios que

de salubridade a longo prazo. Essa

lucram com a venda de sabores,

realidade ocorre de maneira peculiar

marcas e consistências. Os valores

tanto nos centros urbanos como também

universais são produzidos pela

em ambientes rurais.

cultura dominante que a torna

As práticas alimentares vinculam-se à

presente em nossa sociedade. Ao

percepção da dimensão política e

mesmo tempo, Lévi-Strauss (2008)

simbólica desta atividade, que ao longo

também destaca que a pluralidade de

da genealogia da história humana, foi

formas alimentares não se restringe

sendo estruturante e estruturada, sendo

a diferentes culturas, mas se faz

assim, apresenta-se ordenada, em muitos

presente dentro da mesma

casos, de forma inconsciente, agindo

sociedade. Assim sendo, as questões

mais como ato rotineiro. Práticas

pertinentes a polissemia relativa ao

alimentares nesse sentido têm intrínseca

universo dos alimentos é um novo e

relação com os hábitos de determinada

importante campo de debate para a

sociedade. Essa é uma forma de

Geografia.

interpretar a relação do ser humano com o alimento.

CONCLUSÃO

Sabemos que cada realidade produz e

Percebemos que, se torna desafio

reproduz suas particularidades dentro de

para diversas áreas do

sua estrutura. Os hábitos e práticas

conhecimento, entender a

alimentares por sua vez tem relações

intencionalidade e complexidade

numa totalidade interligada. A dimensão

posta e reproduzida de forma rápida

espacial é fundamental para a

e cada vez mais mercantilizada de

interpretação da problemática, pois por

nossa alimentação. Hábitos

mais semelhanças que haja entre os

adquiridos pelo aumento do

lugares, determinadas diferenças e

consumo de alimentos

peculiaridade devem ser atentadas.

industrializados nas últimas décadas, podem reduzir a ingestão de alimentos in natura já que os sujeitos podem ser atraídos pelo sabor (muitas vezes artificializado) desses 1- Mestre em educação e professor de geografia


O paradigma cartesiano-newtoniano

O PONTO DE MUTAÇÃO NA GEOGRAFIA: OS AVANÇOS NA FÍSICA E A NOVA GEOGRAFIA NO SÉCULO XX

28

citado acima, rompeu com a noção de um universo orgânico, vivo e espiritual, traço da sociedade medieval, substituindo-a pela noção de que o mundo é uma máquina que se converteu na metáfora dominante da era moderna.

Emilio Saliveros

Além das críticas de Capra quanto ao pensamento racionalizado no ramo das

Apesar de Milton Santos não fazer

ciências da biologia, da medicina e da

menção à Fritjof Capra, no que diz

psicologia, e as suas respectivas

respeito de como a revolução na Física

transformações derivadas do novo

no século XX refletiu transformações

paradigma instituído, dessa vez com as

em outras ciências e, sobretudo, à

novas descobertas no mundo da Física no

nossa visão de mundo e os valores da

século XX , “O Ponto de Mutação”

nossa sociedade, pode-se perceber

também pode ser notado na geografia do

relações advindas das descobertas no

século XX, em Por uma Geografia

universo subatômico e a Geografia

Nova - da Crítica da Geografia a uma

geral renovada, proposta por Santos.

Geografia Crítica. Nesse, Milton Santos,

Segundo Capra, a visão de mundo e o

começa por criticar a chamada Geografia

sistema de valores da base da nossa cultura foram formulados segundo a linha de pensamento produzido na Europa Ocidental nos século XVI e XVII, o qual sugere uma revolução nos métodos de investigação. “Entre 1500 e 1700 houve uma mudança drástica na maneira como as pessoas descreviam o mundo e em todo o seu pensar. A nova mentalidade e a nova percepção do cosmo propiciaram à nossa civilização ocidental aqueles aspectos que são características da era moderna. Eles tornaram-se a base do paradigma que dominou a nossa cultura nos últimos trezentos anos e está agora prestes a mudar.” (Capra, 1982,p.51) 1- Mestre em educação e professor de geografia

Clássica, cuja perspectiva era a de que essa ciência, surgida no século XVIII, fosse uma ciência apenas natural, de maneira a desconsiderar o homem como integrante da natureza ou mesmo ela própria, retrato do primeiro paradigma de Capra. E assinala: “A ‘natureza’ que fazia parte do sistema ecológico era uma natureza ‘primária’ e não uma natureza socializada; uma natureza sem história humana. O homem atuava sobre o meio como se estivesse separado dele e não como um dos seus elementos” ( Santos, 2002, p.38)


29

Einstein, com a Teoria da Relatividade, e

Mais tarde, mesmo com a evolução do pensamento geográfico, essa visão mecanicista se manifestou em pensamentos reducionistas na análise das sociedades distribuídas no espaço. Influenciado pelo positivismo, o

o aparecimento da Teoria Quântica, seriam, para Capra, fundadores de um novo paradigma, o qual entende a realidade com uma visão holística - mais completa na qual vários agentes atuam, se desprendendo da relação básica de causa e efeito predominante na visão

determinismo geográfico, por muitos

mecanicista.

anos, se demonstrou suficiente, porém,

De acordo com Santos(2002), as ciências

“reduziu o papel do geógrafo ao de

particulares são encarregadas pelo

intérprete das condições naturais”¹,

entendimento da realidade como um

sem a existência de uma geografia

todo, na qual cada uma delas estuda um

crítica e, muitas vezes, recusando

dos seus aspectos e,

fatores culturais no entendimento

portanto, a compreensão integral da

da relação do homem com o meio.

realidade, torna-se possível apenas por

Além da transição da perspectiva

meio da interdisciplinaridade². Santos faz

medieval para a moderna, com o

inúmeras críticas à Geografia produzida

primeiro paradigma,

até então: da ideologia do seu

Capra compreende ainda que estamos

surgimento, ao determinismo -

diante de uma nova mudança no

pensamento de caráter lógico-dedutivo

entendimento da

produto do mundo máquina - e do

realidade, cuja concepção da vida e do

possibilismo, cuja noção de “região” de

cosmo se dá de forma sistêmica. Essa

Vidal LaBlache se vê em crise frente aos

nova visão emerge

tempos de globalização.

das novas descobertas da física no

Santos, contudo, assim como Capra, não

século XX. Entretanto, não exclui a

se limitou à apenas julgar, e também

física clássica de Newton:

propôs uma nova compreensão. Segundo

A ciência moderna tomou consciência de que todas as teorias científicas são aproximações da verdadeira natureza da realidade, e de que cada teoria é válida em relação a uma certa gama de fenômenos.” (Capra, 1982, p.97)

1- Mestre em educação e professor de geografia

ele, os geógrafos clássicos buscavam definir o método da geografia ao invés de estabelecer o objeto de estudo da geografia, isso é, o enfoque da realidade que essa ciência particular estudaria.


30

Milton Santos entende, até mesmo, que a definição da geografia, ao não levar em conta o seu objeto de estudo o espaço social - é responsável pelo seu próprio atraso no campo teórico metodológico e por se isolar das outras ciências. E assinala: “A multiplicidade de definições da geografia está, assim,

Einstein, com a Teoria da Relatividade, e o aparecimento da Teoria Quântica, seriam, para Capra, fundadores de um novo paradigma, o qual entende a realidade com uma visão holística - mais completa na qual vários agentes atuam, se desprendendo da relação básica de causa e efeito predominante na visão mecanicista.

longe de ajudar o seu próprio

De acordo com Santos(2002), as ciências

desenvolvimento.”³ Devido a

particulares são encarregadas pelo

complexidade da realidade em sua

entendimento da realidade como um

totalidade, a tentativa de explicá-la por

todo, na qual cada uma delas estuda um

meio de uma relação de causalidade,

dos seus aspectos e,

como determinação dos grupos

portanto, a compreen

humanos devido o espaço em que se encontram, não é suficiente. Deve-se, para isso, levar em conta os diversos tipos de mediação: as técnicas políticas, financeiras, comerciais ou econômicas, no sentido amplo do termo, de modo a excluir a hegemonia da geografia regional clássica.

“Aí aparecem duas fontes de erros graves. Inicialmente não se pode transpor, e sobretudo de forma mecânica, o que se passa no mundo físico ao que se passa na história. Em seguida, a analogia muitas vezes leva a examinar os objetos do exterior, o que só permite apreender seu aspecto ou sua forma, quando é o conteúdo que em verdade nos permite identificar, individualizar e definir.” (Santos, 2001, p.41)

Santos(2002) dialoga claramente com Fritjof Capra e a sua ideia, a qual sugere que oprimeiro paradigma é superficial e incapaz de compreender a realidade. Ao dizer que a analogia, método bastante utilizado pelos geógrafos, retrata simplesmente uma forma mecanicista de abordagem. Milton Santos denuncia a ausência de investigação crítica e complexa para a real compreensão do objeto de estudo da geografia como uma ciência social. E assinala:

O desenvolvimento da Física subatômica no século XX teve papel importante. Agora, pode-se estudar o conteúdo presente nas formas - a qual a Física Clássica Newtoniana se limita. A consequente nova visão da realidade surgida, inclui novos conceitos de espaço, tempo e matéria. E assim, também ocorreu na Geografia com as tentativas de definição de espaço dadas por Miltons Santos. Aqui, o pensador brasileiro não se restringiu às suas uma realidade total.


31

formas e considerou os elementos

apoia no pensamento produzido por

presentes no interior daquilo que se é

Einstein,

estudado. No caso da Geografia como

para enfim fundar a Nova Geografia:

ciência humana, o espaço social representa um dos aspectos da sociedade, a qual, por sua vez, configura uma realidade total. Como essa realidade está em constante movimento, as ciências que estudam os diversos aspectos da realidade também estão sempre mudando e integram uma unidade do saber da ciência, a qual só é capaz de se abordar mais ampla e aprofundadamente a complexidade do real, através da interdisciplinaridade. CONCLUSÃO A partir da definição de espaço dada por Milton Santos: “um campo de forças cuja aceleração é desigual”, percebe-se a interdisciplinaridade, sobretudo dessa ciência particular - a Física - a qual Capra compreende como decisória nos rumos que as outras ciências tomam. Pode-se perceber também, relações entre as novas descobertas no universo subatômico e a própria Geografia renovada proposta por Santos, as quais analisam aspectos no interior daquilo que é visível - apesar de Santos não citar em nenhum momento que tenha feito leitura da obra de Capra. E aqui, fica evidente que Milton Santos se

“Mais uma vez a noção de relatividade introduzida por Einstein aparece como fundamental porque substitui o conceito de matéria pelo conceito de campo, o que supõe a existência de relações entre a matéria e a energia. Numa comparação talvez grosseira, as formas seriam comparáveis à matéria e a energia à dinâmica social” ( Santos, 20002, p.153)


32

PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DO LITORAL SUL DO ESPÍRITO SANTO: CARACTERIZAÇÃO DA PAISAGEM E ANÁLISE DE ARQUEO-ANTROPOSSOLOS DE SAMBAQUIS NO MUNICÍPIO DE ANCHIETA (ES)

pesquisa, vamos obter as coordenadas planialtimétricas de localização; nos pontos de coleta, proceder com abertura de trincheiras para descrição e exame morfológico dos perfis de solos e coletar amostras dos horizontes para execução das análises físicas, químicas, micromorfológicas e para datação. As coordenadas obtidas em campo, em

Vitor Thomas Sant Amaro 1 Talita Teixeira da Costa2 André Luiz Lopes de Faria3 RESUMO Na pré-história do litoral brasileiro, foram construídas estruturas constituídas por restos de organismos marinhos, denominadas sambaquis. De origem antrópica, são objetos de estudos em várias áreas da ciência devido a presença de evidências da ocupação humana; no contexto geográfico, o conhecimento sobre estas estruturas é crescente. Este trabalho tem o objetivo de caracterizar e

conjunto com as cartas digitais e imagens de satélite, serão processadas no software ArcMap™ 10.1R para confecção de base cartográfica; a partir da descrição e exame morfológico dos perfis, e das análises laboratoriais, os solos serão classificados conforme Sistema Brasileiro de Classificação de Solos e proposições de Kämpf et. al. Os resultados buscam reafirmar a necessidade de prevenção à degradação ao atuar como mecanismo para os planos de gestão e manejo das áreas onde se encontram estas estruturas, além de evidenciar e comparar os aspectos físicos e químicos dos solos de sambaquis.

analisar os sambaquis localizados no ecossistema costeiro do município de Anchieta, litoral sul do Espírito Santo. Através do trabalho de campo, realizado mediante autorização de

PALAVRAS-CHAVE: assentamentos pré-colombianos; sistema solo-paisagem; solos antrópicos.

1Graduando em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa; vitor.amaro@ufv.br 2Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa; talita.t.costa@ufv.br 3Professor adjunto e coordenador do Laboratório de Geomorfologia do Quaternário (DGE/UFV); andre@ufv.br


33

1. INTRODUÇÃO Conforme descrito na pesquisa realizada Sambaquis são estruturas pré-

por Corrêa (2007), os sambaquis da Região

históricas que conservam em suas

do Lagos, no estado do Rio de Janeiro, são

dimensões acúmulo de conchas, cinzas,

caracterizados por solos que

artefatos líticos e sepultamentos

variam de cinzento-escuro (10YR 4/1) a

humanos. Presentes na paisagem

preto (2,5Y 2/1) com teores elevados de

litorânea brasileira de modo emerso e

fósforo (P), cálcio (Ca) e magnésio (Mg), que

submerso, com dimensões entre 2 m e

revelam maior padrão de nutrientes

70 m de altura por até 500 m de

disponíveis em relação aos solos naturais da

comprimento (CALIPPO, 2004; DE

área que estão inseridos, e valores de Na + ,

BLASIS et al., 2007; LIMA, 2000),

K + , Mg 2+ , Ca 2+ , P e pH

foram reconhecidos como patrimônios

superiores às TPI da Amazônia (CORRÊA,

arqueológicos pela lei federal n°

2007).

3.924/1961. Desde o final do século XIX

Em Guarapari, no estado do Espírito Santo,

estudados por antropólogos e

estes solos quimicamente ricos se

arqueólogos, os atuais postulados

encontram ameaçados pela degradação e

compreendem os sambaquis como

adição de elementos alóctones originados

estruturas destinadas a marcar

na expansão urbana (CARDOSO, 2016;

paisagem construídas por povos pré-

TEIXEIRA, 2015). No município de

históricos (DE BLASIS et al., 2007). As

Anchieta, localizado em zona de clima

pesquisas em áreas como Geografia,

tropical com chuvas de verão ( Awa ,

Geologia e Pedologia necessitam ser

conforme classificação

exploradas para desenvolver o

climática de Köppen-Geiger), com

conhecimento sobre a localização e a

temperatura média anual de 22° C e estação

pedogênese dos solos de sambaquis

seca no outono e inverno, os sambaquis

(CARDOSO, 2016; TEIXEIRA, 2015).

encontrados estão localizados junto ao

Os solos dessas estruturas representam

mangue, no terraço

a atividade antropomórfica de povos

fluvial do Rio Salinas na Reserva de

pré-históricos, com características e

Desenvolvimento Sustentável Papagaio, e,

propriedades encontradas somente nos

ao lado da Usina de Tratamento de Gás do

sambaquis e terras preta de índios

Sul do Espírito Santo (UTG-Sul), ambos

(TPI).

com acesso pela rodovia estadual ES-146.


34

2. OBJETIVOS

encaminhar ao laboratório de análise de

Caracterizar e analisar os sambaquis

rotina de solos. Na sequência, será obtido

localizados no município de Anchieta -

malhas e cartas digitais do IBGE, imagens

ES. A partir do trabalho de campo será

gratuitas disponíveis na plataforma Vertex

realizadas as seguintes atividades: (1)

Alaska Satellite Facility do sensor

marcar no GPS as coordenadas dos

PALSAR/ALOS, com resolução de 12,5 m,

pontos de coleta; (2) examinar,

para confecção do modelo digital de

descrever e coletar amostras de solos;

elevação (MDE), e processar os dados

(3) criar base cartográfica em escala

obtidos através das ferramentas disponíveis

adequada; (4) processar e encaminhar

no software ArcMap™ 10.1R..

as amostras de solos para análise

Os resultados esperados corresponderão a

laboratorial; (5) classificar os solos.

uma base cartográfica contendo as cartas de Declividade, Geologia, Geomorfologia,

3. METODOLOGIA E RESULTADOS

Hidrografia, MDE, Solos e Topografia do

ESPERADOS

município de Anchieta na escala de

Necessita-se para execução desta

1:25.000. Expressa por tabelas contendo

pesquisa de Autorização de Pesquisa

profundidade dos horizontes, cor

emitida pela Secretaria Municipal do

conforme caderneta de Munsell (1994),

Meio Ambiente (SEMAN) e da

granulometria (fração areia, silte e

Samarco Mineradora SA. Em posse

argila) com a classe textural, e as

das autorizações, será realizado o

características químicas (COT, pH-H2O e

trabalho de campo, o qual prosseguirá

KCl 1 mol/L, Na, P, K, Ca, Mg, Al, H+Al, P-

com a coleta das coordenadas

rem+cálculo - S, t, T, V, m), a classificação

planialtimétricas através do uso do

será feita conforme o Sistema Brasileiro de

GPS GARMIN GPSMAP® 60CSx,

Classificação de Solos (SANTOS, 2018); as

realização da abertura manual de

proposições de Kämpf et. al. (2003) serão

trincheira - com ferramentas

utilizadas, pois enquadram os arqueo-

adequadas - para descrição e

antropossolos em classes não presentes

exame morfológico dos perfil de solos

no SiBCS, permitindo maior detalhe e rigor

e a coleta de amostras de solos

na classificação dos solos analisados.

conforme SANTOS et. al. (2005); preparar as amostras conforme descreve TEIXEIRA et. al. (2017) e


35

4. CONSIDERAÇÕES O projeto busca reafirmar a necessidade de prevenir que ações humanas degradem e interfiram nas características dos sambaquis e, se apresenta como mecanismo para planos de gestão e manejo das áreas onde se encontram essas estruturas, contribuindo, através da caracterização e das análises realizadas, no enriquecimento das diversas áreas do conhecimento que estudam os sambaquis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CALIPPO, Flávio R. Os sambaquis submersos de Cananéia, SP: um estudo de caso de arqueologia subaquática. SP, 2004. Dissertação (Mestrado em Arqueologia, FFLCH/USP). CARDOSO, Rafael S. B. Transformação da paisagem: os sambaquis e a relação com o patrimônio arqueológico no município de Guarapari-ES no período 1984-2011. Viçosa, MG, 2016. Dissertação (PPGPCPC-UFV), 100f. CORRÊA, Guilherme R. Caracterização pedológica de arqueo-antropossolos no Brasil: sambaquis da Região dos Lagos (RJ) e terras pretas de índio na região do baixo rio Negro/Solimões (AM). MG, 2007. Dissertação (PPGSNP-UFV). 126f.

DE BLASIS, Paulo [et. al.] Dinâmica natural e arqueologia regional no litoral do sul do Brasil. Arqueologia Sul-Americana 3(1), janeiro, 2007. p. 29-61 KÄMPF, Nestor; KERN, Dirse C. O solo como registro da ocupação humana préhistórica na amazônia. PA, 2003. IX Congresso Brasileiro de Geoquímica. 44p. LIMA, Tânia A. Em busca dos frutos do mar: os pescadores-coletores do litoral centro-sul do Brasil. São Paulo, 1999-2000. Revista USP, nº 44, p. 270-327, dez/fev. MUNSELL. Soil color charts. Baltimore: Munsell Color Company, 1994. 28p. SANTOS, Humberto G. [et. al.] Sistema brasileiro de classificação de solos. 5.ed. DF:EMBRAPA, 2018. SANTOS, Raphael D. [et. al.] Manual de descrição e coleta de solos no campo . 5.ed. Viçosa, MG: SBCS, 2005. 100p. TEIXEIRA, Paulo C. [et. al.] Manual de métodos de análise de solo . 3.ed. DF:EMBRAPA, 2017. TEIXEIRA, Rafael C. Antropossolos em Guarapari (ES): a Geografia dos solos antrópicos. Viçosa, MG, 2015. Monografia (Geografia UFV), 46f.


36

POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO E SEUS IMPACTOS NA FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO NO PERÍODO FHC – DILMA

1988. Neste cenário a marca é a crise social, política e econômica enfrentada no país, exemplificadas nas elevadas taxas de inflação, atingindo três casas percentuais no início dos anos 90, e altos níveis de desemprego. Portanto, as políticas governamentais desse período

Jairo Bruno Gomes de Moura1

não podem ser entendidas se não pela sua articulação com o contexto em

INTRODUÇÃO

questão.

Como se sabe mudanças na ordem

Destaco também que a visão de território

econômica não se faz sem articulações

aqui empregada não se resume ao espaço

no mundo da política. O contexto que

de dominação política. Mas um sistema

antecede o período de governo FHC -

composto de materialidades como redes

Dilma é marcado por uma

de infraestruturas como também suas

reestruturação do sistema econômico

imaterialidades exemplificadas pela

capitalista, que faz se pelo esgotamento

cultura, ideais e sensibilidades, um

de um padrão de acumulação fordista

território utilizado como coloca Milton

e a emergência de um padrão de

Santos. Assim, a perspectiva de uma

acumulação flexível (Harvey 1992).

construção histórica do território e a

Assim, esse novo padrão de

compreensão dos atores sociais

acumulação carece de uma visão

influentes nessa construção recebem

politica correspondente, que no caso se

relevância.Vale ressaltar que a ideia de

dá pelo florescimento do ideário

desenvolvimento estará associada a uma

neoliberalista.

mudança estrutural no social e não a

Soma se a isso o fato do Brasil passar

mais do mesmo (incorporação

por um contexto de instabilidade

numérica). Assim, pensar o

política desenhado pelo fim de um

desenvolvimento implica pensar

modelo ditatorial de governo e o início

transformações no econômico, social,

de uma redemocratização encabeçada

político, cultural, o viés econômico não

pela promulgação da Constituição de

pode ser o único em questão.

Mestrando em análise do discurso da Universidade Federal de Viçosa jairomoura10@gmail.com


37

O GOVERNO FHC E SUAS POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS O período em que Fernando Henrique Cardoso ocupa a presidência estendese do ano de 1995 a 2002. Como é sabido, em anos anteriores a alta inflação e desemprego configuravam

As cinco primeiras emendas do período FHC eram todas referentes à desregulamentação dos mercados, à desestatização e à abertura econômica. Entre elas, a mais controversa era a que acabava com o monopólio estatal na exploração do petróleo, mas mesmo assim foi possível sancioná-las já no primeiro ano de mandato, graças à lua-de-mel do presidente com o país e à sua ampla base de apoio congressual. (COUTO, 2003, p.277 ).

como as principais questões de debate a nível nacional. Assim, ao assumir o

Cabe ressaltar nesse processo a influência

cargo FHC tomou a estabilização

de mecanismos internacionais como o

monetária como o principal foco de

FMI e o Banco Mundial que

atuação de seu governo. Mas o que nos

contribuíram para a lógica de abertura ao

interessa é como através de suas

capital internacional em contrapartida a

políticas com fim de estabilização da

seus empréstimos ao governo brasileiro.

moeda o território foi acionado.

Dentro do pacote de medidas neoliberais

Em seu governo a visão

as privatizações também tiveram peso e

desenvolvimentista neoliberal

foram executadas pelo governo como

preponderava. Assim, medidas como

com a privatização em 1997 da

privatizações, diminuição dos gastos

Companhia Vale do Rio Doce (setor

públicos e recuo do Estado na arena

mineral), Telebrás (setor de

econômica ganharam força. Sob a

comunicação) e bancos como o Banespa

prerrogativa de internacionalização da

(Banco do Estado de São Paulo) em 2001.

economia brasileira a economia

Dentre as marcas do governo FHC de

nacional sofre um processo de

fato ocorreu o controle inflacionário e

financeirização articulado a dinâmica

estabilização da moeda ao custo de abrir

global. Para tal a flexibilazação do

o mercado nacional ao capital

território é indispensável, assim o

estrangeiro e executar as diversas pautas

capital internacional poderá na esfera

neoliberais que ao repassar a regulação

nacional se reproduzir mais

do Estado para as empresas privadas

livremente. Processo evidenciado nas

tende a acirrar as desigualdades sociais.

suas primeiras medidas de governo.

Acresce-se também que devido à


38

pensar a inserção do Brasil como um país inserção do país na lógica financeira

competitivo a nível internacional e que

internacional as praticas e ideais

não abandona os pressupostos

desempenhadas no território ficaram

neoliberais, exemplificados nas elevadas

cada vez mais associadas a questões

taxas de lucros conseguidas pelo setor

externas como preço de comoditties, e

financeiro aqui instalado (fisicamente e

crises em outros países.

virtualmente). Há o favorecimento de uma burguesia

AS POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS

nacional assentada no agronegócio,

NO GOVERNO LULA E DILMA

construção civil e setor financeiro, ao

Os governos Lula e Dilma foram aqui

qual o BNDES exerce um importante

reunidos por constituírem

papel de financiamento. Apoia-se o

primordialmente a atuação do PT

desenvolvimento do território agrícola

(Partido dos Trabalhadores) em seu

exportador que é uma expressão da mais

exercício do cargo da presidência do

alta tecnologia aplicada ao campo, em

país (período de 2003 a 2014).

pontos específicos do território como

Configurando uma visão neo

evidenciado na região centro oeste do

desenvolvimentista esses governos

país por meio da ação dos latifúndios

buscam o fortalecimento do

monocultores. Na construção civil por

capitalismo nacional, não

ser um dos remos indústrias mais

abandonando por completo os ideários

desenvolvidos no país, além de

neoliberais, expresso na admissão

possibilitar a dotação de infraestruturas

transferência de renda para outros

pelo território. E por fim ao financeiro

grupos (BOITO, 2012).Nesses governos

que possui a hegemonia na atual

o território brasileiro é encarado como

conjuntura do sistema econômico.

desigual, para isso as políticas governamentais devem ter um caráter

CONSIDERAÇÕES FINAIS

de apaziguar as desigualdades

O período pós-redemocratização marca

regionais destacando o caso da

o retorno do planejamento econômico

Amazônia pelo potencial estratégico e

que tem como um dos viés o

o Nordeste pela precariedade no

desenvolvimento territorial. Tanto no

âmbito social. Porém não deixa de

governo FHC, Lula e Dilma ações de


BIBLIOGRAFIA

39

BAGGIO, Ulysses da Cunha. O território caráter territorial tomam relevância.

brasileiro em perspectiva: modernização

No primeiro, observamos o Estado

e implicações socioespaciais. Revista de

articulado às forças do mercado com o

C. Humanas, Viçosa, v. 14, n. 1, p. 160-174,

fim de promover a inserção de fato do

jan./jun. 201

Brasil numa lógica financeira internacional. Junto a isso vão as

BOITO, Jr. Armando; As bases políticas

reformas neoliberais com privatizações

do neodesenvolvimentismo. Trabalho

e liberalização de capitais Na

apresentado na edição de 2012 do Fórum

administração Lula Dilma é possível

Econômico da FGV / São Paulo.

ver que o governo não abandona as

flexibilizações geradas no primeiro,

CONH, Amelia. As políticas sociais no

exemplificada no alto investimento no

governo FHC. N, Amélia. As políticas

setor agro-exportador e infraestruturas

sociais no governo FHC. Tempo Social;

que suportam esse, mas intensifica

Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 11(2): 183-197,

gastos nas áreas sociais.O que é comum

out. 1999 (editado em fev. 2000).

aos governos é sua dotação de um caráter instrumental ao território,

COUTO, G. Cláudio; ABRUCIO.

pensando e agindo sobre esse como

Fernando. O segundo governo FHC:

um instrumento para seu exercício do

coalizões, agendas e instituições. Tempo

poder além alcançar as suas propostas

soc. vol.15 no.2 São Paulo Nov. 2003

metas sociais. Um território

ERBER, S. Fabio. As convenções de

mercadoria, um território espaço do

desenvolvimento no governo Lula: um

poder, essas são as visões

ensaio de economia política. Rev. Econ.

preponderantes e que acabam por

Polit. vol.31 no.1 São Paulo Mar. 2011.

reproduzir e construir em certo grau as desigualdades sociais postas no país.

HARVEY, David. A condição pós-

Falta pensar num território

moderna. São Paulo: Edições Loyola,

humanizado, um território como

1992.

espaço da reprodução social. SANTOS, Milton; SILVEIRA, María L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2004.


40

TENSIONAMENTOS DA PICHAÇÃO COM A ARTE E OS ESPAÇOS PRIVADOS NA CIDADE CONTEMPORÂNEA Ana Claudia Honorio 1 Arte como crime, crime como arte. É assim que a pichação é vista pelo público delineando posições ambivalentes quanto o seu estatuto de arte, já que para uns ela é uma forma política e artística de expressão e, em outro âmbito, no discurso jurídico e conservador essa manifestação é crime ambiental, se reduzindo a uma forma de vandalismo que emporcalha a cidade. É partindo desse conflito que me desafio a lançar um olhar analítico para os jogos de poder que estão imbricados entre a arte marginal e espaços de poder da burguesia nos espaço urbano contemporâneo. No Brasil essa forma de manifestação (artística, política e criminosa) ganha proporções mais incisivas a partir do período da ditadura militar, mas é na década de 80 que a pichação adentra as periferias do país. “A pichação, especificamente no contexto do Brasil, acompanha o desenvolvimento

urbano, o crescimento desordenado das metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo” (NASCIMENTO, 2015, p. 17). A produção artística é construída sob condições históricas e materiais, essas “condições materiais de existência do artista revelam o tipo de relações existentes entre ele e o consumidor (o público) e evidenciam, por seu turno, o estatuto de arte dentro do sistema de relações sociais dadas” (VÁZQUEZ, 2010, p. 157). A produção material da arte ou a sua criação está alicerçada nas relações de produção do capital. Veremos adiante, como a produção material de arte se relaciona com o seu público apreciador nas veredas da sociedade de classes desde a Grécia antiga até a o cerne da Revolução Industrial no século XIX. Na Grécia Antiga, o público da arte estava ligado diretamente à relação com a pólis. A cidade-Estado fomenta a produção artística para formar os cidadãos livres. Na Idade Média essa função política da arte se desloca para a função religiosa e, assim, a igreja será o público do artista. A criação artística tem como fim, além do culto ao divino, a ilustração de mensagens sagradas

Professora de geografia e arte educadora do projeto Grafias à Margem. E-mail: anahhonorio@gmail.com


41

destinadas às pessoas que não eram

particular em que a burguesia confere à

letradas (como que uma escrita em

arte um meio de demonstração de poder.

imagens). O conteúdo ideológico da

O que é belo passou a ser definido pela

arte nesse momento é ditado não pelo 1 Estado, mas pela Religião. No

classe burguesa: “Mais do que uma nova

Renascimento, por sua vez, a nova

para determinar o que é belo e o que é

clientela são encomendadores de uma

arte. Acompanhando os passos da

arte que exaltasse a burguesia em

aristocracia, a burguesia mantém a arte

ascensão. Nesse momento a arte serve

como um divisor de águas entre as

como instrumento estético de

classes sociais” (NASCIMENTO, 2015, p.

representação dos poderes e das

24).

ordem social, surge uma nova ordem

ideologias da burguesia. É só na Revolução Industrial que a produção

Esse resumido panorama nos mostra

artística será voltada para o mercado

como a arte é condicionada aos preceitos

de fato. O objeto artístico torna-se

dos ideais de classes privilegiadas no

mercadoria e o público de arte torna-

curso da história. A arte é um elemento

se consumidor (VÁZQUEZ, 2010, p.

da superestrutura que deve ser situada no

157-168).

curso histórico e material, quer dizer que

essa, enquanto produto que reflete os

Os conceitos de beleza e de arte se

processos sociais, não é uma

transforam no desenrolar das

materialidade solta na história, todavia

mudanças sociais ocorridas na história.

sim, é um movimento situado no tempo

Passando da antiguidade à

e no espaço em que certa obra foi criada

modernidade, no século XVII com a

e, por isso, reflete, cria e mantém as

mudança de poder da burguesia frente

estruturas ideológicas vigentes. Uma obra

à aristocracia (para essa classe o belo

(mercadoria) ganha um valor de uso que

era representado pelo ideal da

difere as classes sociais. A arte é presa à

nobreza), há uma mudança na

situação de propriedade privada na

concepção da arte e nos estudos da

sociedade capitalista. É um valor de uso

estética. Nesse momento, o belo

decalcado no fetiche por uma

ganhou status ligado a certo gosto

mercadoria e, torna-se, então,


42

propriedade cultural. Assim, a arte sob

Se a ética e os valores da cidade se

as relações de produção tem sua

circunscrevem à outorga da moral

liberdade criativa condicionada à 1 legitimação e às ideologias da classe

burguesa, o que há nas cidades é “uma

dominante.

(p. 33). A ofensiva dos pichadores aos

A pichação estabelece um conflito nas

espaços privados limita sua apreciação

cidades onde ela entrepõe a liberdade

estética e sua legitimação como arte pela

artística (expressão) à normativa

classe dominante. A arte como um crime

burguesa que se baseia na propriedade

à propriedade privada é um rompimento

privada. Com Nascimento,

histórico da criação artística com as

entendemos como a hegemonia dessa

classes que dominam as cidades e o fazer

ética na organização privatizada do

artístico. Esse rompimento que o picho

espaço urbano desemboca na exclusão

estabelece é de mão dupla, pois além de

social e, concomitante a essa, na

subverter os espaços privados da cidade,

violência. A violência seria, então, fruto

ele subverte a lógica de produção

da desigualdade gerada pela

mercadológica na medida em que não se

valorização do privado em detrimento

expressa como arte para consumo,

do público. Contrapondo as noções de

rompendo, então, com o estatuto de

liberdade, desigualdade e ética, o autor

propriedade privada da arte que impõe a

afirma que para haver liberdade é

burguesia.

preciso que tenha, antes, igualdade

social. Todavia, com a ética burguesa

A arte e a cidade produzidas sob a lógica

dominando a sociedade “uns são mais

capitalista se entrepõem nos espaços de

livres que outros, dependendo de suas

consumo da arte e espaços artísticos

posses, como se a liberdade fosse

consumíveis. O público de arte no

transformada em um produto. (...) A

capitalismo não condiz com o domínio

moral burguesa que um dia ditou o

da arte pública nem de espaços públicos

que era arte, hoje dita o que é

na cidade. A pichação é, portanto, a

liberdade” (NASCIMENTO, 2015, p.

antítese da estética burguesa.

32).

estética pública do bom comportamento”


43

A condição de liberdade criativa da

pichação é a superfície de espaços

pichação trazem à arte a dimensão

públicos e privados da cidade. O fato 1 de o picho não ser reconhecido como

democrática na medida em que trazem

arte perpassa por um conflito de

arte.

ao público de arte a dimensão pública da

classes. O que é considerado como artístico em nossa sociedade se limita a

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

critérios estéticos que refletem as ideologias burguesas. No momento em

LAZZARIN, Luís Fernando. Identidade e

que uma forma de arte ataca os

arte da rua: contribuições do movimento

símbolos dos valores burgueses, essa é

grafite para a educação. In 30 Reunião

encarcerada à criminalidade. Mesmo

Anual da Associação Nacional de Pós-

com as transformações sociais que

graduação e Pesquisa em Educação,

vivemos no senso comum a arte ainda

2007, Caxambu – MG.

é vista pelos valores morais do discurso dominante da concepção de arte, já

NASCIMENTO, Luiz Henrique Pereira.

que “todos os discursos estão

Pixação: a arte em cima do muro.

implicados em jogos de poder e em

Monstro dos Mares, Cachoeira do Sul,

políticas de significação” (LAZZARIN,

2015.

p.3).

VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. As ideias

O tensionamento da arte na luta de

estéticas de Marx. Expressão Popular,

classes é fruto da marginalização de

São Paulo, 2010.

grupos periféricos e, ainda, desemboca na criminalização do picho. Assim, com a ética burguesa dominando as cidades, a arte hoje é vista como legítima ou marginal, como arte consumível ou vandalismo. As intervenções urbanas por meio da


44

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MUNICÍPIO DE VIÇOSAMG A PARTIR DE IMAGEM SENTINEL-2 Wesley Oliveira Soares1; Humberto Paiva Fonseca2; Heitor Carvalho Lacerda3; Williams Pinto Marques Ferreira4. INTRODUÇÃO Ao longo do tempo histórico, a ocupação humana no planeta Terra sempre foi marcada por conflitos, que vem sendo intensificados, sobretudo nas últimas décadas. Para que o meio físico não seja degradado, é de suma importância que haja o planejamento no que se diz respeito às interferências antrópicas na natureza. O uso e ocupação de forma desordenada, não respeitando as potencialidades da terra, gera problemáticas como a degradação dos solos (Flauzino et.al., 2016), que por sua vez acarreta várias adversidades à sociedade, como a perda de fauna e flora, assoreamento dos rios, diminuição da infiltração de água dentre outros. As alterações do uso e ocupação da terra, que se caracterizam pelo

aumento da intensidade da produção agropecuária e da expansão da urbanização, em escala regional, têm modificado a dinâmica do ciclo da água nas bacias hidrográficas, tendo consequências como enchentes e períodos de falta de água para abastecimento em época de seca. A partir das potencialidades encontradas nas ferramentas de sensoriamento remoto e geoprocessamento, e com o intuito de colaborar com a gestão do território municipal, com o presente trabalho tem-se como objetivo mapear, descrever e analisar o uso e ocupação dos solos no município de Viçosa - MG, no ano de 2018, bem como verificar como o uso dos solos podem influenciar na dinâmica natural do ciclo hidrológico. MATERIAL E MÉTODOS O município de Viçosa está localizado no Estado de Minas Gerais, na mesorregião da Zona da Mata, nas coordenadas geográficas 20°45'44"S; 42°51'67"O (Figura 01). Com base no censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), Viçosa tem 72.220 habitantes, com densidade demográfica de 241,20 hab.km-².

1 wesley.soares@ufv.br; 2 humbertopfonseca@gmail.com; 3 heitorcarvalho7@gmail.com 4 williams.ferreira@embrapa.br


45

Segundo Sá Júnior (2009), o clima de Viçosa é classificado, de acordo com a classificação climática de Köppen e Geiger, como Cwa, ou seja, temperado úmido com inverno seco e verão quente, tendo por domínio de relevo os mares de morros, cunhado por Ab’Saber (2003).

Figura 01: Mapa de Localização do Município de Viçosa - MG

Para a confecção do mapa de uso e

Após o download da imagem,

ocupação do solo foram utilizadas

utilizando o software The Sentinel

imagens ópticas do sensor MSI (multi-

Application Platform (SNAP

spectral instrument) do satélite

6.0.02), foi feita a correção

Sentinel-2A, que possui Ground

atmosférica com a ferramenta

Sample Distance (GSD) variando de 10

Sen2Cor. Após este procedimento,

a 60 metros. A imagem do dia

foi criada a composição das bandas

01/09/2018 foi adquirida do site[1]

R4, G3 e B2, com o uso do software

Copernicus, vinculado a European

ArcGis® 10.1, gerando uma imagem

Space Agency (ESA).

na cor verdadeira.


46

Após o download da imagem, utilizando o software The Sentinel Application Platform (SNAP 6.0.02), foi feita a correção atmosférica com a ferramenta Sen2Cor. Após este procedimento, foi criada a composição das bandas R4, G3 e B2, com o uso do software ArcGis® 10.1, gerando uma imagem na cor verdadeira. utilizando o método de classificação

Figura 02: Mapa de Uso e Ocupação do solo no município de Viçosa – MG no ano de 2018.

supervisionada de máxima

Pode ser observado a partir da

verossimilhança (MaxVer), com quatro

distribuição espacial das classes

classes de uso e ocupação do solo, a

(Figura 02), que a maior parte da

saber: “mata densa”, “pastagem”, “solo

“área construída” se concentra na

exposto” e “área construída”. Após a

área central de Viçosa, com apenas

classificação supervisionada, foram

pequenas partes de “áreas

realizados os pós-procedimentos,

construídas” ao longo do

visando remover pontos isolados que

município. As demais classes de uso

foram classificados incorretamente.

e ocupação do solo podem ser

Para a verificação da classificação, foi

identificadas distribuídas

realizada a estatística do coeficiente

uniformemente ao longo de todo o

Kappa e a Exatidão Global.

município. Os percentuais das

Realizou-se a classificação da imagem

classes de uso e ocupação do solo RESULTADOS

são apresentados na Figura 03.

A imagem Sentinel-2, bem como o uso das metodologias e softwares, possibilitaram a classificação da paisagem do município de Viçosa com acurácia medida pelo coeficiente Kappa de 75,29%, e pela Exatidão Global de 89% (Figura 02).

Figura 03: Quantificação das classes de uso e ocupação do solo.


47

Com base na Figura 03, pode ser observado que as áreas de “mata densa” ocupam 26% da área total do município, as “pastagens” correspondem a 66%, “solo exposto” 3% e “área construída” 5%. A presença de nuvens interferiu em poucos pontos da imagem, não comprometendo de forma drástica o resultado do trabalho. Destaca-se que o “solo exposto”, além de propiciar maior escoamento superficial quando comparado com a infiltração, ainda se torna um agravante do potencial de erosão, causando sulcos e ravinas. A “área construída” possui, majoritariamente superfícies impermeabilizadas por causa do concreto, comprometendo a infiltração e facilitando o escoamento superficial. Já a “pastagem”, considerando a presença marcante de pastos degradados na região, apresenta maior potencial de escoamento superficial quando comparada com a infiltração no solo, e a “mata densa” apresenta maior potencial de infiltração de água no solo, pois geralmente as matas contém serapilheira e também apresentam maior capacidade de interceptação das águas da chuva, devido as copa das árvores, contribuindo para que as gotas de

chuva cheguem com menor velocidade ao solo, propiciando a ocorrência da infiltração em detrimento do escoamento superficial. CONCLUSÃO Apesar da presença considerável de área de “mata densa”, devido à grande área de “pastagem” identificada no município, Viçosa apresenta maior potencial para o escoamento superficial do que a infiltração da água no solo. REFERÊNCIAS AB'SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. Ateliê Editorial, 2003; IBGE − Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ mg/vicosa/panorama>; FLAUZINO, Bárbara Karoline et al. Mapeamento da capacidade de uso da terra como contribuição ao planejamento de uso do solo em


48

sub-bacia hidrográfica piloto no sul de minas gerais. Geociências (São Paulo), v. 35, n. 2, p. 277-287, 2016; SÁ JÚNIOR, A. de. Aplicação da classificação de Köppen para o zoneamento climático do estado de Minas Gerais. 2009. Tese de Doutorado. Dissertação (Ph. D. em Engenharia Agrícola)-Universidade Federal de Lavras.


Uma cartografia territorial na/da Escola Nacional de Energia Popular (ENEP)

Desse processo de constituição e

49

organização das entidades (que também vem compondo territorialidades) foi-se tecendo um sonho de construção de uma

Renan José Freitas Assis

Universidade Popular, lugar onde estudantes de EFA e de outros lugares

A Escola Nacional de Energia Popular

pudessem continuar seus estudos

(ENEP) é processo, é construção, e

visando constituir essa outra sociedade,

começa a existir antes mesmo de

mais popularmente soberana, de

nascer. É fruto da resistência de

territórios de diferença, que não

movimentos populares,

precisem ser engolidos ou conformados

principalmente: Movimento

pela forma de ser e estar no mundo da

Evangélico Popular Eclesial (MEPE);

individualidade, do consumo, da

Instituto Universo Cidadão (IUC);

violência, do machismo, da submissão da

Movimento dos Atingidos por

natureza, do racismo. Que esse espaço

Barragem (MAB); Levante Popular da

(espaço escolar, espaço de aprendizagem,

Juventude; Escola Família Agrícola

de diferença, espaço dos movimentos

(EFA) Dom Luciano; Comissão da

sociais) fosse também um lugar de

Justiça e Paz (CJP) de Paula Cândido.

formação para os sujeitos que se

São essas seis entidades que fundam a

identifiquem com a causa popular, lugar

ENEP em meados de 2015, na Colônia

de encontro, diálogo, fomento de

Vaz de Melo, Zona Rural de Viçosa-

educadores populares.

MG.

Nesses breves, rápidos e intensos três

O ato de criação da ENEP é resultado

anos, a ENEP vem se consolidando como

de um processo de luta e diálogo entre

espaço de formação e organização dos

esses movimentos, seja na luta contra

movimentos sociais, abrigando cursos

as barragens que usam as águas do Rio

como o Curso de Realidade

Doce para interesses privados, seja na

Brasileira,Homeopatia, Terapias

construção de outras escolas que, além

Naturais, Artesanato em Bambuí,

de estarem no campo, sejam do

Pedagogia da Alternância, assim como

campo, seja também nas Romarias dos

abriga tecnologias sociais, como o

Trabalhadores e Trabalhadoras, que já

trabalho em mutirão, horta mandala,

vem ocorrendo há décadas.

plantação de água, sementes criolas. Vem

1 graduando em geografia na Universidade Fderal de Viçosa e-mail: renanjosefreitas@gmail.com


50

se concretizando um marco de

relacionamos com outros sujeitos

referência, e um nó na rede composta

políticos que estão a se situar no mundo,

pelos movimentos sociais na região.

e assim também o

A pesquisa foi se esboçando durante

refletem.

alguns meses, e sofreu algumas

O que podemos tencionar, e o fazemos, é

mudanças na sua caminhada, como é

pensar a forma como se produz o

de se esperar. Começou como uma

conhecimento da academia, o chamado

tentativa de entender como que os

científico, e o conhecimento das camadas

movimentos sociais produzem o

populares, o chamado conhecimento

espaço geográfico, pegando a ENEP

popular (Entre a ciência e a sapiência,

como recorte analítico. No entanto,

nos dizeres de Rubem Alves). Aqui

pela abrangência da proposta, ela foi

trazemos principalmente, para dialogar

alterada, pelos limites de tempo,

conosco, Orlando Fals Borda, que

recursos e formação.

dedicou uma vida debruçado sobre

A proposta assim vem se

essa relação, construindo conceitos e

concretizando em torno de se

abordagens que muito nos auxiliam,

investigar a territorialidade da ENEP,

como o estudio-acción ou

como que ela flui em sua organização,

a investigación militante. Essa

como se movimenta, que laços

abordagem, ao contrário do que se prega

constitui, onde e porque. Essa

entre vertentes mais objetivas (sic) da

proposta atual tem base em quatro

ciência, é mais fidedigna da realidade. Ao

pilares fundamentais, que orientam a

se aproximar e se adentrar no fenômeno

prática e, assim, produzem

estudado, o pesquisador consegue obter

o texto científico.

pontos de vista que não teria de outra

Em primeiro lugar, pretende-se

forma. A visão é feita desde dentro. Isto é

estabelecer um diálogo político entre o

feito, de forma conjunta com uma

sujeito que pesquisa e a Escola

postura ética, onde os objetivos do

Nacional de Energia Popular. Não há

estudado fenômeno são incorporados à

aqui, e é difícil de encontrar nos textos

pesquisa. Ou seja, não apenas queremos

da ciência geográfica, uma relação

representar a territorialidade

linear e determinante entre sujeito e

da ENEP, mas junto disso queremos

objeto. Entendemos que sempre nos

fortalecê-la.


51

Já que a ENEP se dá, de forma

principalmente em Saquet, e sua

concreta, cotidiana e concentrada na

produção acerca da territorialidade,

Colônia Vaz de Melo, cabe entender o

como multidimensional, trantemporal e

que acontece em suas extensões. Aqui,

multiescalar, configurando e

é Milton Santos quem vai nos levar a

abarcando um território e

entender relações que não apareceriam

territorialidade que dá conta de sua

se não levássemos em conta um espaço

própria complexidade, característica

geográfico multidimensional, ou

essa inerente à nossa vida e configuração

híbrido, como diria o geógrafo. As

espacial, tão efusiva, diversa, contínua,

tecnologias, os cursos, as plantas, os

fragmentada, reticular. Neste terceiro

cultivos, ou seja, os objetos que

aspecto, favorecemos as relações

compõem a Escola estão intimamente

territoriais que as entidades traçam

relacionados com ações de sujeitos que

individualmente, para compor seis

também constroem a ENEP. Falar do

cartografias (cristalizadas em seis mapas

que se passa na Escola, o que se dá

representativos de tais

como evento (esse encontro que

territorialidades) territoriais.

acontece num dado ponto e momento,

Por último, com a análise dos dados

que gera uma instantaneidade no

coletados no processo de pesquisa, tanto

espaço, profusão de acontecimentos) é

dos eventos que estão sendo observados

central para a análise de se construir a

na Escola, como nas territorialidades das

territorialidade da ENEP.

entidades será confeccionado

Em terceiro lugar, cada uma das seis

uma Cartografia Territorial da Escola

entidades que fundaram a Escola

Nacional de Energia Popular, que

também possuem suas próprias

procurará atender ao caráter complexo

territorialidades, individualidades,

da Escola, como ela se dá. Esta quarta

formas próprias de se organizarem

parte ainda está, de certa forma, em

para além dos limites da ENEP. Assim,

aberto, por depender diretamente de

debruçar-se como se efetiva as dadas

como se desenvolverão as fases

territorialidades também se faz

anteriores da pesquisa.

necessário para o objetivo proposto.

É interessante pontuar que a

Nesse caso, nos ancoramos

metodologia empregada na pesquisa também é diversa, se


52

conformando em contato com as entidades. Para dar um exemplo, o contato com as entidades na segunda fase da pesquisa segue um roteiro geral, mas que está aberta a referida conformação: i)pesquisa prévia sobre a entidade; ii)entrevisa com algum sujeito que compõem a entidade; iii)avaliação de como irá proceder o contato; iv) vivência contribuinte em algum aspecto da territorialidade em questão; v) sistematização; vi) retorno da sistematização para a entidade, para que se tenha conhecimento do que está sendo escrito e produzido.



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.