“O presente viaja em nossa direção constantemente, mas não pode em nenhum caso nos alcançar.” – Giorgio Agamben
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AGORAS - A morte do presente / Conceito
“Diante de uma imagem, por mais antiga que seja, o presente jamais cessa de se reconfigurar [...]. Diante de uma imagem – por mais recente, por mais contemporânea que seja – o passado, ao mesmo tempo, jamais cessa de se reconfigurar, porque uma imagem só se torna pensável em uma construção da memória.” – Georges Didi-Huberman
Em um trecho do artigo "Memórias e Trajetórias", Julio Plaza cita "...trazemos o passado para o presente a partir da óptica desse presente.”, esse acontecimento só se faz possível graças à funcionalidade da memória. A memória reinscreve o passado no presente, investiga os diálogos de todos os tempos e entrelaça seus fios. Não é uma transcrição do passado no presente, mas uma descontextualização do passado no seio do presente. A memória decanta o passado de sua exatidão e o atualiza em um novo presente. É uma montagem de tempos, policrônico, anacrônico, em perpétua transformação. Em cada presente várias dimensões temporais se relacionam. Todos os tempos genealógicos coexistem no mesmo presente. O presente é um espaço repleto de agoras. E o passado não é um “passado eterno”, os fatos passados estão sempre em movimento. A história não é apenas uma sucessão cronológica de fatos, ela se configura pela memória manifesta no presente. O eterno depende do presente. O presente está sempre transformando o eterno em novidade, uma novidade transitória. O eterno não é um, mas múltiplo. O presente se revela importante a partir de uma ameaça constante de desaparecimento. E então, se percebe a força e a fragilidade da lembrança, o desejo de volta e a impossibilidade do retorno, um “muito cedo” que é também um “muito tarde”, um “já” que é igualmente um “ainda não”, o vigor do presente e sua morte próxima.
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Que luz... e a noite após! Efêmera beldade Cujos olhos me fazem nascer outra vez, Não mais hei de te ver senão na eterniadade? Longe daqui! tarde demais! nunca talvez! Pois de ti já me fui, de mim tu já fugiste, Tu que eu teria amado, ó tu que bem o viste! A uma passante - Charles Baudelaire
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AGORAS - A morte do presente / Livro “O livro é um volume no espaço, é uma sequência de
espaços (planos) em que cada um é percebido como um momento diferente. O livro é, portanto, uma sequência de momentos.” – Julio Plaza
O livro AGORAS - A morte do presente considera a estrutura espaço-temporal do livro tradicional, na qual as imagens incorporam o próprio objeto em sua significação, porém, sem que o seu códice seja modificado. O livro aproveita a mecânica do suporte, para em sequência, distribuir uma série de imagens que atuam como uma montagem de tempos, construção e reconstrução, trazendo no ato de folhear, a atuação da memória. Desde a primeira página até a última, o leitor é conduzido a “ler-ver” cada imagem de uma forma abstrata e sem referencial produtor de sentido. É no ato de folhear que se aceita o convite para construir um ritmo, de forma autônoma, experimentando mais o campo da abstração do que da representação. A sequência se inicia com uma lógica própria de esmaecimento das imagens, mas logo rompe com o sentido de princípio-meio-fim, como a memória que, anacrônica, rompe toda a continuidade mecânica dos fatos. As páginas referenciam assim, a não sequência, o embaralhado, o aleatório, que é conduzido por um tempo descompassado, "o fio da memória". Frases inseridas entre as páginas levam o leitor a direções não exatas, mas que conduzem a sugestões, pistas que não têm a pretensão de serem completamente decodificadas, que ficam guardadas, sorrateiras, esperando um momento possível ou não, para se articularem em novas reflexões. Por fim, as páginas em branco que finalizam o livro, colocam uma condição de suspensão, um novo agora, esse agora exato em que o leitor se depara com as folhas em branco, um agora inacabado, que não para de se reconfigurar.
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AGORAS - A morte do presente / Descritivo Tamanho fechado: 13,5 x 20,5 cm Tamanho aberto: 27 x 20,5 cm Miolo com 102 folhas (96 folhas em papel alta alvura 90g/m2 e 6 folhas em papel vegetal 63g/m2), em impressão jato de tinta. Capa em papel Horlle revestido em Percalux com aplicação de baixo relevo. Encadernação manual denominada "capa solta".
Projeto Expositivo: Área de ocupação expositiva: o livro deve ser exposto repousado em uma mesa de leitura com uma área de respiro de 66 x 45,5 cm. Preferencialmente tendo uma cadeira a sua frente, a disposição do visitante. 13,5 cm
27 cm
20,5 cm
fechado - 13,5 x 20,5 cm
20,5 cm
aberto - 27 x 20,5 cm
modo de exposição (fechado)
10 cm
20 cm
20 cm
10 cm
área de respiro - 67 x 40,5 cm AGORAS - Ana Francotti | 07
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AGORAS - A morte do presente / Bibliografia Andrade do Nascimento, Roberta. Charles Baudelaire e a arte da memória. Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras UFRJ. Rio de Janeiro, 2005. Plaza, Julio. O livro como forma de arte. Chaves Barcellos, Vera. Julio Plaza, Poética | Política. Agamben, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Tradução de Vinícius Nicastrp Honesko. Chapecó, SC: Argos, 2009. Bibliografia adicional: Didi-Huberman, Georges. Devant le temps. Histoire de l'art et anachronisme des images. Paris: Minuit, 2000: 10) Benjamin, Walter. Magia e técnica, arte e política. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985: 229. Paz, Octavio. "Présence et présent", Preuves, n. 207. Hirt, André. Baudelaire. L'exposition de la poésie. "A uma passante". Em: Baudelaire, Charles. As Flores do mal. Tradução e notas de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985: 345.
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Contato 11 9 9430-0370 | 2365-6069 contato@anafrancotti.com www.anafrancotti.com AGORAS - Ana Francotti | 10
ANA FRANCOTTI / Currículo Resumido Nome: Ana Paula Francotti Nome artístico: Ana Francotti Nascimento: 16.09.1975 Natural de: Santo André - SP | Residência em: São Paulo - SP Artista gráfica e webdesigner desde 1989, iniciei minha atividade autoral com foco no desenho e na arte impressa em 2011. Desde então estudo teoria e prática e minha pesquisa se baseia no uso da estrutura espaçotemporal do livro, na qual as ideias incorporam o próprio objeto em sua significação, sem que com isso o formato tradicional do códice seja modificado, considerando a sua materialidade como parte da construção artística. Sou autodidata, construo minha formação através de cursos livres e grupos de estudo, além de leitura específica e direcionada. Realizo trabalhos em arte impressa e encadernação, como fanzines e sketchbooks, e em desenho e gravura experimental, usando o livro como suporte.
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AGORAS
A morte do presente Livro de Artista | Ana Francotti 2015 - S達o Paulo - SP - Brasil