FEBRE
“Estar no mundo não é ser uma coisa entre as coisas, é se sentir em casa entre as coisas.” – Mikel Dufrenne
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FEBRE / Conceito “Não posso tornar precisa minha percepção de uma coisa sem desenhá-la virtualmente, e não posso desenhar essa coisa sem uma atenção voluntária que transforme de forma notável o que antes eu acreditava perceber e conhecer bem. Descubro que não conhecia o que conhecia: o nariz de minha melhor amiga...” – Paul Valéry
É através do desenho que o mundo é experimentado, apresentado, criado e recriado e tantos outros verbos que pudermos imaginar. O desenho é o meio mais privilegiado de se conhecer o mundo. Luz, cor, profundidade, forma, que estão à uma certa distância de nós, só estão aí porque despertam um eco em nosso corpo, porque o corpo as acolhe. O que o corpo não acolhe, não vemos. O que não desperta o encantamento da visão, não é possível desenhar. Merleau-Ponty tentou desvendar a dúvida de Cézanne, Paul Valéry mergulhou no jeito intempestivo de Degas, Deleuze analisou detalhadamente a tentativa de Bacon de escapar da representação, e certamente muitas outras análises e reflexões tentaram e tentam entender o misterioso caminho que percorre a percepção até a expressão. Alberto Tassinari, concluiu o embrulho "Uma percepção originária já é criação, expressão. Se a expresso novamente, haverá duas expressividades em jogo, a expressividade do mundo e a das linguagens expressivas". Essa busca da realização da expressão do que se percebe, é a busca da verdade, mas a verdade não nos dá nunca o acabado, uma verdade acabada seria a paralisia do presente. O que há de incompletude e insatisfação nessa realização já não é só falha ou dúvida, mas também certeza de que aquilo que nos aparece ao mesmo tempo nos escapa.
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“Instrumento que se move por si mesmo, meio que inventa seus próprios fins, o olho é aquilo que foi comovido por um certo impacto do mundo, e que o restitui ao visível pelos traços da mão." – Merleau-Ponty
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FEBRE / Livro “O livro é um volume no espaço, é uma sequência de espaços (planos) em que cada um é percebido como um momento diferente. O livro é, portanto, uma sequência de momentos.” – Julio Plaza
O livro FEBRE é inteiro um exercício de registrar a percepção do mundo no momento de seu encantamento. Cada página é uma tentativa de registro do tempo, da memória e do corpo - modelo e ferramenta - como interlocutor direto de nossa relação com o mundo. Seu nome FEBRE, faz referência a única companhia que tem o artista antes do gesto, uma febre vaga. É nesse compromisso com o risco que o artista lança a sua obra sem saber se ela será algo mais do que um grito. É nessa tentativa, nesse antes, que o livro celebra o traço como risco. Deixando de lado a representação, a encadernação com elástico e em lâminas soltas cria figuras desfiguradas - quando mistura os traços de dois desenhos aleatórios - e constrói um segredo que pode ser facilmente revelado com um segundo manuseio que é desmontar o livro e descobrir os desenhos por inteiro. Seguindo mais um passo podemos reconstruí-lo e descobrir novas composições, multiplicando a experiência do folhar e transformando o expectador em agente direto da obra. Seguindo o compromisso com o agora, o livro não poderia ter outra forma de reprodução que não fosse o próprio ato de desenhar. Por isso, cada exemplar é feito durante sessões de modelo vivo e traz os desenhos originais, transformando cada livro em edição única.
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FEBRE / Descritivo Tamanho fechado: 24 x 24 cm Tamanho aberto: 48 x 24 cm Miolo composto por desenhos originais em lápis grafite 4B e 6B. Cada exemplar é único com um número de folhas variando em 60 páginas de papel pólen bold 90g/m2 e 6 folhas de papel vegetal 63g/m2. Capa em papel pólen bold 90g/m2, com impressão jato de tinta. Tipologia Typenoksidi e Garamond. Encadernação manual com elástico, permitindo a desconstrução do livro.
Projeto Expositivo: Área de ocupação expositiva: o livro deve ser exposto fechado, repousado em uma mesa de leitura com uma área de respiro de 64 x 44 cm. Preferencialmente tendo uma cadeira a sua frente, a disposição do visitante. 24 cm
48 cm
24 cm
fechado - 24 x 24 cm
24 cm
aberto - 48 x 24 cm
10 cm
20 cm
20 cm
10 cm
área de respiro - 64 x 44 cm FEBRE - Ana Francotti | 07
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FEBRE / Bibliografia Merleau-Ponty, Maurice. O olho e o espírito. Valéry, Paul. Degas dança desenho. Deleuze, Giles. Francis Bacon, Lógica da sensação. Agamben, Giorgio. O que é o contemporâneo? Carrión, Ulises. El nuevo arte de hacer libros. Plaza, Julio. O livro como forma de arte.
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Contato 11 9 9430-0370 | 2365-6069 contato@anafrancotti.com www.anafrancotti.com FEBRE - Ana Francotti | 10
ANA FRANCOTTI / Currículo Resumido Nome: Ana Paula Francotti Nome artístico: Ana Francotti Nascimento: 16.09.1975 Natural de: Santo André - SP | Residência em: São Paulo - SP Artista gráfica e webdesigner desde 1989, iniciei minha atividade autoral com foco no desenho e na arte impressa em 2011. Desde então estudo teoria e prática e minha pesquisa se baseia no uso da estrutura espaço-temporal do livro, na qual as ideias incorporam o próprio objeto em sua significação, sem que com isso o formato tradicional do códice seja modificado, considerando a sua materialidade como parte da construção artística. Sou autodidata, construo minha formação através de cursos livres e grupos de estudo, além de leitura específica e direcionada. Realizo trabalhos em arte impressa e encadernação, como fanzines e sketchbooks, e em desenho e gravura experimental, usando o livro como suporte.
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FEBRE Livro de Artista | Ana Francotti 2016 - São Paulo - SP - Brasil