Bebop 02 2014

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NOTA DE FALECIMENTO É com grande pesar que noticiamos o falecimento do Windows XP, ocorrido no dia 08 de abril. Ele era membro da família de sistemas operacionais 32 – 64 bits. A família e companheiros de trabalho enlutados agradecem a todos a solidariedade nesse momento de tristeza e de eternas saudades.

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quem experimentou Professor orientador: Anderson A. Costa Editor da edição: Jean Patrik Narradores: Elis de Oliveira Jean Patrik Jasmine Horst Kamila Dussanoski Karin Milla Detlinger

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25 - 10 - 2001 08 - 04 - 2014

O Bebop é um jornal experimental produzido pelos alunos da turma B do 4º ano do curso de Comunicação Social (Jornalismo) da Unicentro. A finalidade deste material é informativa, educacional e cultural, sendo expressamente proibida a comercialização. Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste). Contato: jornalbebop@gmail.com Tiragem: 500 exemplares


A eterna poesia dos antagonismos

Dia desses, tive que ir ao hospital para acompanhar um amigo que havia sofrido um infarto, passei horas lá. Fomos à emergência e ficamos um bom tempo até sermos atendido. De repente, enquanto ainda esperávamos, um carro chega rapidamente e para em frente ao pronto socorro, um homem desce e corre até a porta gritando desesperadamente: - Por favor, alguém ajude! Olho para dentro do carro e lá está sentada uma mulher no banco do passageiro, aparentando ser de idade, talvez até pela doença, parecia agonizar. Enfermeiros correm e levam a maca para transportar a moribunda, alguns pessoas que a acompanhavam saem chorando do carro, entretanto, são impedidas de acompanhar a doente no atendimento. Em poucos minutos, vejo uma mulher toda de branco sair da sala de consulta e vir ao encontro dessas pessoas, em seu crachá enxerguei a palavra psicóloga, alguém do meu lado disse: - Ela morreu e mandaram a psicóloga para comunicar a fatalidade aos familiares! Aquelas pessoas começam a chorar inconsolavelmente a perda do ente querido. Meu amigo foi atendido e passou pelos procedimentos necessários, um cateterismo e angioplastia, havia infartado fazia quase 20 horas, sobreviveu por muita sorte, ou como dizem, porque talvez ainda não fosse a sua hora. Naquela mesma noite, no mesmo hospital, poucas horas de diferença do óbito da senhora, vejo chegar outro cidadão, esse bem mais calmo e todo feliz, trazia em suas mãos um mala rósea, uma vaso de flores e um enfeite de porta com o nome Letícia. Ouço-o sussurrar com alguém: - Sem dúvida, hoje é o dia mais feliz da minha vida, não vejO a hora dela nascer! Pensei comigo: ‘como pode?! o mesmo ambiente viver tantos antagonismos, um chora a morte, outro chora a vida. Enquanto uns morrem, outros tantos nascem. E esse processo se repete o dia todo, todo instante, e em todos os ambientes e sentidos’. Agora, enquanto eu escrevo esse texto, em mim mesmo já morrem inúmeras ideias e outras renasceram. Sem falar das milhares de células que em meu corpo morrem e renascem em uma intensidade frenética. Falar de morte é falar de vida, falar de vida é falar de morte. Como dizia o adágio em latim: Extrema se tangunt! Ou seja, os extremos se tocam! Talvez estejam certos os filósofos que desde a antiguidade na Grécia, afirmam a teoria do eterno retorno. A existência como um ciclo que se repete em uma constante. Tudo que existe, já existiu um dia e vai existir novamente. A vida é feita de contrários e antagonismoS que, ao se entrelaçarem, compõem a poesia da vida.

Falar de morte é falar de vida, falar de vida é falar de morte. Como dizia o adágio em latim: Extrema se tangunt! Ou seja, os extremos se tocam! bebop

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NASCIMENTO À MODA ANTIGA HISTÓRIAS DE QUEM, HÁ MAIS DE 50 ANOS, AJUDA MULHERES A DAR A LUZ Quem narra, diagrama e fotografa: Jasmine Horst 4

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Noite de lua cheia, já passa da uma da manhã e ouvem-se vozes no portão. As vozes chamam pela dona da casa: - Dona Maria, Dona Maria! Está na hora! Já sabendo do que se trata, ela levanta da sua cama, joga um casaco nas costas, pois faz frio, calça os sapatos, pega uma sacola e sai ao encontro do homem que está desesperado no portão. Assim que chega na casa do homem, revela o que havia dentro da sacola: uma tesoura, panos limpos, uma imagem de Santa e uma vela. A água fervente em cima do fogão a lenha mostra que está na hora do ritual começar. Um chá calmante é servido à mulher, que, por causa das dores, mal consegue tomá-lo. Nesse momento, a vela é acesa e uma oração toma conta do quarto, abafando os gemidos de dor. A desinfecção da tesoura dá início às repetitivas ordens: - Calma! Empurra! Respira fundo! Mais uma vez! Depois de horas de trabalho, com a cama toda ensanguentada e uma mulher exausta em cima dela, vem ao mundo, pelas mãos de Dona Maria, mais uma criança, uma menina, desta vez.

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Muitas imagens de Santos, algumas já desbotadas pelo tempo, espalhadas pelas paredes de madeira da casa simples, revelavam a religiosidade presente no local. Em um canto da sala um pequeno altar com a imagem de uma santa que, até então, eu não sabia qual era, um terço e uma vela, já pela metade, deixavam mais claro ainda que minha primeira impressão estava correta. No canto oposto, em uma poltrona coberta por uma capa já desgastada, sentava-se Dona Maria de Jesus Soares, repousando calmamente as mãos sobre as pernas, enquanto conversávamos. Antes de falar sobre o assunto que tinha me levado até lá, olhei para fora e fiz um rápido comentário sobre o tempo, que estava chuvoso. Rapidamente, ela completou dizendo que a tendência era chover mais até o fim da semana. Acertou, por sinal. Depois disso, pedi a ela que me contasse um pouco mais sobre sua vida, revelou-me que tem 73 anos, e que sempre morou na mesma chácara em que mora hoje, primeiro com os pais, depois com o marido e agora sozinha, desde que se tornou viúva. Entretanto, fez questão de lembrar que possui um filho morando perto, que a visita todos os dias. Nesse momento interrompi-a comentando como ela não aparentava ter essa idade, e que lhe daria no máximo uns 60 anos, arrancando simpáticos sorrisos da senhora. Após jogarmos uma conversa fora,

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s e m muito compromisso, entramos no principal assunto que havia me levado lá: a sua profissão. Ela me contou que cresceu em uma família de parteiras, profissão de sua avó e de sua mãe e que desde a infância percebia que onde sua mãe, ou sua avó estavam, sempre apareciam bebês ‘do nada’: “Antigamente as crianças eram mais inocentes, não tinham tantas informações como hoje, então, quando minha mãe ou minha vó iam fazer um parto, eu ia junto, e de repente aparecia um bebê chorando, eu achava que elas pegavam da cegonha ou buscavam a criança num pé de couve”, contou ela, entre muitos risos. Quando questionada sobre o primeiro parto que realizou, Dona Maria explicou que foi aos 18 anos, por insistência de sua mãe, que, acometida por uma doença, tinha medo de partir sem ensinar a profissão à filha: “Eu estava prestes a casar quando realizei meu primeiro parto, algum tempo depois, minha mãe se foi e eu comecei a fazer todos os partos da região. Os tempos eram outros, se hoje já é difícil chegar até a cidade, imagine isso 50 anos atrás”. Foram tantos anos ajudando a trazer crianças ao mundo que ela jura não se lembrar de quantos partos fez no total, mas acredita que pelo número de afilhados, ela tenha feito perto de cem partos: “Grande parte das crianças que eu ajudei a nascer se tornaram meus afilhados, tenho pelo menos uns 30,


Eu estava prestes a casar quando realizei meu primeiro parto, algum tempo depois, minha mãe se foi e eu comecei a fazer todos os partos da região. Os tempos eram outros, se hoje já é difícil chegar até a cidade, imagine isso 50 anos atrás

se não me engano, já que alguns eu nunca mais vi”. Nesse momento, ela se levantou e disse para eu esperar enquanto ela pegaria algo para me mostrar. Alguns minutos depois, voltou com uma caixa de sapato, com várias fotos, cartas, terços, tudo o que ganhou de seus tantos afilhados. Quando despejou as fotos em cima da mesa, pegou com surpresa uma que estava no fundo da caixa e disse com certa tristeza que aquele menino, fotografado em 1974 e que aparentava ter uns sete anos, deveria estar morto. Achei curioso e perguntei o porquê, ela então me explicou que acredita que quando uma foto esta quase desaparecendo é porque a pessoa já morreu e que esse é um jeito de ‘avisar’. Já que estávamos no assunto fotografia, munida de minha câmera, pedi autorização para fazer algumas fotos da casa e dela, mas, recebi autorização apenas para fotografar a casa e as lembrancinhas, não queria ser indelicada, mas acabei perguntando o motivo e ela me disse: “Eu nunca tiro fotografias, uma vez um padre me disse que elas roubam a alma, se é verdade não sei, mas não me arrisco”, explicou a senhora. Assim que me convidou para tomar café, sentei à mesa e perguntei se fazia muito tempo que ela não fazia um parto, “alguns anos”, me disse, explicando que ainda é chamada para acalmar algumas futuras mamães, fazendo chás, ensinando orações e conversando, passando a tranquilidade de quem passou a vida toda ajudando crianças a nascer.

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Pegando o gancho do assunto, perguntei sobre o parto mais complicado que já realizou e me impressionei com a resposta: “Teve uma vez, lá por 1970, que fui fazer um parto de gêmeos e o cordão estava enrolado no pescoço de uma das crianças, que acabou morrendo, foi um dia muito triste. No total, acredito que umas oito crianças morreram em todo esse tempo, algumas vezes, não tinha o que fazer mesmo, a criança já nascia morta”, me disse ela, com os olhos vidrados na xícara de café, como se estivesse lembrando-se de tudo. Conversamos mais um pouco e quando olhei no celular, que estava sem sinal, o que me fez esquecer dele, percebi que estava na hora de ir, agradeci pelo café, pela conversa e fui sain-

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do. Quase no portão lembrei de algo e voltei para questioná-la: “Dona Maria, que Santa é aquela?” Apontando para a imagem em cima do altar, ela virou-se, já que estava voltando para dentro de casa e me falou que era Nossa Senhora Aparecida, explicando que estava difícil reconhecê-la por se tratar de uma imagem de mais de 40 anos e acrescentando que ela sempre protegeu seus partos. Sanada a dúvida, agradeci novamente e fui embora. Enquanto dirigia, em minha mente tentava imaginar como as coisas eram diferentes antigamente, me perdia nos pensamentos em um momento intimista que só chegou ao fim quando cheguei em casa, mas que retorna sempre que lembro do diálogo com Dona Maria.


apresenta

Imagem: Reuters

facilitar sua vida

Informe publicitário

Quem narra e diagrama: Jean Patrik

Esqueça todos aqueles atalhos em uma tela sem cor e movimento. Basta arrastar o cursor até o arquivo desejado e clicar duas vezes. Pronto. Como em um passe de mágica ele se abre. Quer ouvir música sem muita complicação e, ao mesmo tempo, digitar seus trabalhos, tudo isso em seu PC? Pois bem, isso também já é possível. Não estamos falando

de ficção científica, ou de um futuro longínquo, e sim da nova versão do sistema operacional DOS-Windows, o Windows 95. O sistema foi avaliado, e aprovado, por cerca de 400 mil pessoas nos Estados Unidos, que se ofereceram para testar o novo produto. Com uma nova interface gráfica, mas simples e visualmente atrativa, o Win95 pro-

Quer abrir um editor de textos? Um jogo de cartas? Ou talvez criar uma nova planilha? Tudo isso agora está apenas a um click.

porciona mais facilidade aos seus usuários. Qualquer pessoa, mesmo que não seja um grande especialista em computação, ou em processamento de dados, pode abrir um arquivo no novo sistema. Álvaro José Argemiro ficou extremamente fascinado com o novo programa. Ele é funcionário público e professor universitário de administração, trabalha com computadores desde 1988, o primeiro computador na empresa chegou em meados de 1987. “A maior dificuldade que temos é para digitar os comandos, só no editor de texto temos mais de 70, é preciso ter completo domínio para realizar qualquer trabalho”. O lançamento já causou alvoroço. No dia 24 de agosto, de Cingapura a Nova York, de Sydney a Roma, formaram-se imensas filas para adquirir

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Requisitos Para utilizar o novo sistema, basta possuir um computador com: - Processador 386DX ou superior (recomenda-se um 486) -Pelo menos 4 MB de RAM (recomendam-se 8 MB de RAM).

Curiosidades A atualização está disponível tanto em disquete quanto em CD-ROM. O sistema está disponível em 12 idiomas. Pra quem já tem o Windows: R$ 125 Pacote completo:

R$ 220 10 bebop


Argemiro aprova o novo sistema, e afirma estar preparado para as mudanças

Soares utiliza o novo Windows para se descontrair com a família Imagem: Arquivo pessoal

o programa. Só nos dois primeiros dias foram vendidos mais de 15 milhões de pacotes do Win95. No Brasil, já foram vendidos 40 mil exemplares, da versão em português. A reação não poderia ser diferente com um sistema tão interativo e fácil. “O Windows é muito mais dedutivo, porque visualmente você consegue acionar todos os comandos e fazer o que precisa. É muito mais fácil, não precisa decorar nada”, surpreende-se Argemiro. Vilmar Soares, que teve um contato mais caseiro com o programa, achou o Windows 95 muito fácil e prático de se utilizar. “Eu cheguei a fazer um curso rápido do DOS no colégio, mas não consegui avançar muito porque achei a linguagem muito complexa”. Entretanto, o que realmente chamou a sua atenção são as possibilidades de entretenimento. “Agora com esse Windows é possível rodar

Imagem: Jean Patrik

Multimídia: Controladores de áudio e vídeo são facilmente acessados. Voce também pode escolher o tamanho das telas de vídeo

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com facilidade o CD-Rom, comprei o da Barsa e de alguns jogos, eu passo horas com os meus dois filhos fuçando nesses CD’s. Inclusive, comprei uma revista que vem com um CD de jogos, tenho um que tem até a Bíblia digitalizada”, encerra Soares. Tudo é tão simples que até as crianças podem facilmente operá-lo. Marcelo Silva, de apenas 11 anos, já teve contato com o novo programa. “Eu faço datilografia computadorizada e quando a gente se comporta o professor deixa a gente dar uma olhada”. A novidade é tão grande que às vezes causa até alguns desentendimentos entre os colegas. “A gente já brigava por causa dos computadores coloridos, pois só tem dois aqui na sala. Imagina agora com esse programa”. Como as crianças dessa nova geração, nascidos na era da informática, em se tratando de computador Marcelo fala como um adulto. “O que mais me chamou a atenção são os recursos gráficos. Adorei a proteção de tela que o professor passou para a gente, todo mundo ficou louco na sala”. É de enlouquecer mesmo, o aparato multimídia do novo Windows é capaz de conciliar recursos até então quase inúteis, como o CD-ROM. As crianças ainda vão se divertir muito com o Paint, um programa para desenhar no computador. Papel e lá-

Entretenimento: Lápis e papel serão deixados de lado. O Paint pretende ser o novo caderno de desenhos (acima). A diversão será também para os adultos com jogos de cartas, como é o caso do Paciência (ao lado).

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pis agora são deixados de lado. “O professor mostrou pra gente na apostila um programa que é para desenhar, nem consigo imaginar como isso funciona direito ainda”, conta euforicamente Silva. Não são só as crianças que se encantam com o novo Windows, Álvaro confessa que não resistiu e se rendeu a alguns joguinhos do sistema. “Na empresa é expressamente proibido jogar, mas a gente se reúne depois do expediente”. Ele até se arrisca em uma analogia para comparar as transformações que o Windows traz: “Você está acostumado a comer com colher e passa a comer com garfo. É muito grande a diferença. Antes para digitar um texto no Word Star você deveria ir no começo do texto dar Ctrl+KB e ia no final do bloco e dava um Ctrl+KK e depois dava um Ctrl+KV e Ctrl+KC para colar, hoje você pode fazer tudo isso com o mouse”. Dentre as maiores novidades está o suporte para conexão com a rede de computadores. Bill Gates declarou que “a internet é o mais importante avanço desde o advento do computador”. O sonho é que em pouco tempo o mundo todo esteja conectado por meios dos microcomputadores. Enquanto isso ainda não é possível, aguardamos ansiosos as próximas novidades.


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Foto :

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E a os pró ssim segu i ram-s x i m eu m os t e a faltav ndava um rês dias, e m a a sug algo. Pergu que estã Ca n o edit tava-me in dê a minh o e semp re a sisten que n or da ed teme criativida ição, ada o d n e? t e. d ressa ntes, convencia epois de ta Até que e ntão, , disse mas q mbém mais ue qu m a traba traentes, faltava cri e as ideia e dizer se ati lha fal trar u r. Por eu e tava coloc vidade pa ram inter a m a st r a min a boa hist ar com difi a imagina deixá-las ória, ç ha pa c ão u l d precis uta. Por resolvi fa ade para para zer da isso f encon am d ui a ec cri exerc erem riatividade trás de pe atividade suas p ssoas e ima de co g q mpos rofissões, inação pa ue como itores ra é ca , es publi citári critores e so os.


Foi ai que lembrei do Mauricio Toczek, publicitário e diagramador, que há anos trabalhava num jornal impresso. Perguntei para ele: onde vive a sua criatividade? Ele respondeu:

“Criatividade? Difícil [risos]. Todo mundo estabelece uma rotina na vida, um jeito lógico de fazer as coisas para termos menos trabalho e produzir mais”. Para ele, a criatividade surge quando é quebrada essa rotina. A necessidade de improvisar é que faz surgir ideias diferentes. “Mas às vezes, principalmente nas segundas-feiras, simplesmente não há nada que faça o cérebro funcionar”, finaliza Mauricio.

Foto: Arquivo Pessoal

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Foto: Arquivo Pessoal

Ao falar de rotina, já que sempre estou dando uma olhada nas redes sociais, vou contar a história da minha próxima fonte, William Horst, um jovem guarapuavano, compositor, que, junto com o trio lápis, papel e violão, precisa, e muito, de criatividade! Vi que William estava compartilhando em sua página na internet uma canção que acabara de escrever. Ele conta que sempre gostou de música e que estava pensando há tempos em escrever uma, porém as ideias não apareciam, faltava-lhe criatividade, precisava de algo que aguçasse sua imaginação. Até que um dia, foi numa festa e começou a prestar mais atenção nas pessoas, com isso, percebeu que suas atitudes poderiam virar uma música. William salienta que muitas das suas ideias musicais partem de seus sentimentos, que, junto com o que observa ao seu redor vai construindo uma canção. “Tem dias que acordo apaixonado pela vida e ao escrever só me vem palavras bonitas na cabeça, aí sai aquela música romântica. Quando chego de uma festa vem ideias para músicas divertidas. Claro que sem esquecer a melodia”. Contudo, devido a correria do nosso dia-a-dia, tensões no trabalho, na faculdade, no namoro, enfim, podem trazer bloqueios na criatividade. Per-

guntei para o William: e quando acontece o tão temido bloqueio, a falta de criatividade? Ele me respondeu: “Quando acontece isso comigo, eu procuro me afastar do meu violão, lápis e papel e procurar outras atividades sem música pra não me influenciar. Na hora de colocar a melodia, procuro zerar minha mente e pensar em outras coisas que não se relacionem com ela. Isso me ajuda muito, pois aí consigo compor algo realmente diferente, coisa que hoje em dia está escasso”. Ser criativo, para ele, não é copiar. E que para isso aconteça é necessário muita concentração e

inspiração, para que saia algo novo e com qualidade. Continuando minha procura por pessoas que precisam ter a criatividade como sua fiel amiga para produzir, também lembrei do Aldo José Amaral, lá da minha terra, do município de Pinhão, que fica a aproximadamente 56 km daqui de Guarapuava. Aldo é um artista plástico, que trabalha com entalhes em madeira. Desde criança ele já produzia seus próprios carrinhos, cuidando sempre com o acabamento, fazia bem feito e minunciosamente cuidava de cada detalhe. Vindo do interior, no ano de 1991, começou,


Foto: Elis Oliveira

meio que por brincadeira, a fazer seus trabalhos como profissional e, desde então, sempre precisa ter a criatividade por perto. Mas como todo artista, a perigosa falta de criatividade já assolou-o. “Aconteceu com a primeira porta [de madeira] que uma professora me pediu e o desenho demorou a fluir, foi difícil, mas depois de algumas tentativas consegui, ufa! Às vezes, dá um branco e a arte fica distante, dou um tempo e aí consigo, de cabeça fresca, realizar o que havia planejado”. E a criatividade dos escritores, onde vive? Fui perguntar para o Norbert Heinz, guarapuavano, que desde o ano de 2008 publica seus escritos em antologias e jornais e já ganhou vários prêmios por seus textos. “É muito difícil definir um único método de criação literária, pelo fato de ser um processo instável, ou seja, pode ser algo quase instantâneo [minutos, horas ou alguns dias] ou gradativo [meses ou anos]. Sempre anoto todas as ideias que tenho e armazeno-as, pois nem sempre concluo a criação logo que tenho alguma ideia. Geralmente, é a junção de algumas anotações em outros momentos que acabam originando minhas obras”.

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Foto: Elis Oliveira

Para Norbert, a criatividade é a descoberta ou invenção de algo novo, seja dentro de um contexto já existente, ou dentro de um novo. Ele, que também é biólogo e mestre em biologia evolutiva, se descobriu como escritor, e conta que seus “insights criativos” variam muito, mas é comum tê-los quando está folheando um jornal, vendo um outdoor, assistindo um filme, observando pessoas, nas mais variadas ações do dia-a-dia. Então já sei onde a criatividade do escritor vive, “nas anotações de ideias aleatórias que tenho durante as diversas situações diárias e estas anotações servem tanto para as criações literárias em dias inspirados, quanto para dias em que me falta inspiração”, comenta Norbert. Afinal, o que a criatividade? A palavra criatividade vem do latim, creatus, que significa criar, do verbo infinitivo creare. De acordo com o dicionário Houaiss, criatividade pode ser definida como “a qualidade ou característica de quem [...] é criativo; inventividade; inteligência e talento, natos ou adquiridos, para criar, inventar, inovar”. É um assunto de reflexão de muitos cientistas e escritores que se debruçaram em cima disso, como Vygotsky e Dostoievski. Dizia Thomas Edison: “Minhas invenções são fruto de 1% de inspiração e 99% de transpiração”. Bernard Shaw, filósofo, escreve que “as pessoas que vencem nesse mundo são as que procuram as circunstâncias de que precisam e, quando não as encontram, as criam”.


Porém, de onde vem tanta criatividade para quem compõe músicas gauchescas, apreciada por muitos tradicionalistas da nossa região? Confesso que aprecio também, já dancei muito em bailes de CTG (Centro de Tradições Gaúchas) na minha cidade e as letras sempre me chamaram a atenção. Essas músicas, em sua maioria, possuem como temas principais o amor pelas tradições. Geralmente falam sobre o trabalho e a vida no campo, os valores, a culinária regional e as mulheres. Para descobrir um pouco mais sobre a criatividade dos compositores deste gênero musical, perguntei para o Zé Moraes, de Reserva do Iguaçu, que fica a 92 km de Guarapuava. Ele é compositor, cantor e acordeonista, começou a compor no ano de 1998. Dois anos depois gravou as primeiras composições em um CD, com 13 letras, todas de sua autoria. Desde então, Zé já gravou sete CDs, totalizando 84 composições e muitas ainda nem foram gravadas. Como ainda não estava satisfeita, perguntei-me novamente: de onde vem as ideias para as letras, onde vive a sua criatividade? Ele me disse:

Afinal, eu ainda me pergunto, onde está a minha criatividade?

“As ideias surgem de diversas formas, muitas vezes, escolho um tema sobre o qual vou escrever e crio assim uma história”. Por exemplo: “Potro Veiaco” é uma letra que escrevi sobre um cavalo que não consegui domar, a história é fictícia. Também escrevo com tema definido de um acontecimento real. Tenho uma letra que tráz o título de “Nossa Senhora do Passo da Reserva”, que é a história real de como surgiu um Santuário que existe a mais de cem anos aqui onde resido, em Reserva do Iguaçu – PR e transformei a história em música. É uma realidade”.

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Ilustração: Lucas Carvalho

Que não é fácil sair do ambiente escolar e entrar na universidade, isso nós já sabemos. Nessa nova vida, ganhamos além do R.A. (Registro Acadêmico), uma carteirinha de Dramático Oficial, como diz Michael Sene. São pilhas e mais pilhas de ‘xerox’ do material que os professores pedem, daí vem a falta de dinheiro ou as escolhas: ir para a cervejada ou comprar o livro, afinal, o dinheiro de um universitário nunca dá para duas coisas. Pra piorar você precisa ter paciência e esperar a boa vontade do professor em divulgar as notas no sistema ou, ainda, em casos extremos, reprovar por décimos em uma matéria.

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C y n t h ia

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Sc h e if e r

Imagem: Arquivo pe ssoal

manhã 0 horas da 1 te n e m como Eram exata reguiçosa, p a ir e -f a d quiosgun de uma se decidi ir ao o d n a u q tras, lanche. todas as ou idade para fazer um ers sava em que da univ rdava o pedido, pen Bebop. agua edição do Enquanto a ss e ra a lheia, autas p conversa a a m possíveis p u o d in eninas, que ouv algumas m e d Foi então s so ri ários: os e mais s universit o entre risos e tr n e heira de comum a compan re notei algo b so a v spalhada ma fala pa suja e u ro dramas. U a v a ix s de ‘xeque de dos milhare inada a v república a m a cl outra re a determ pela casa e rar para um que aquele ti a v sa ci re rcebi rox’ que p omento pe m lembrei e ss e N a e logo me . ri té disciplina. a m a m ok deria u ’ no Facebo assunto ren niversitário U a m ra ‘D o mais da página l, disso nã a g le é e d m, era ersida ucos falava o Que a univ p e u q o iviam. idas. Mas, ersitários v iv n u tenho dúv s o e mana ramas’ qu lotado, a se ara s u ib sobre os ‘d n ô o dinheiro, minários p A falta de ara ler, os se o o tempo, p s to x te s o d de provas, i consumin udo isso va as obrigações na esT .. r. ra a p pre pouc r, não ntes tinha iro e, o pio nite in de quem a ia d o u ho sono se moro na cola. “ Ten ireito. Qua nte d e r m sa a n c a ti sc fico pra e consigo de lá io g á th yn ia faço est ramática’ C ‘d a versidade, fa a b Ciências lá”, desa iro ano de e m o dia todo ri p o n ue não ue está o e conta q p a p Scheifer, q o a d n mático Ela eme ria tão dra não se Contábeis. r a d u st que e nquilo que imaginava ra mais tra e e u q s, trabai e h omo prova c r, assim: “ac ze fa ra coisa p . teria tanta ra ler, etc.” os, livros p m su a ser re s, o lh ais poderi m e u q o ários e sando s universit Fiquei pen lo e p a m do é o um dra ônibus lota o e u considerad q e d conclusão cheguei à

M ic hae l Se ne

“Achei que era mais tranquilo que não teria tanta coisa pra fazer, como provas, trabalhos, resumos, livros pra ler, etc.”


um dos que mais incom oda. Quem já passou por isso ou está passand o sabe como é. “Eu pego dois ônibus pra ir pra faculdade e dois pra voltar, está sempre lot ado e às vezes ainda temos que aguentar pe ssoas mal educadas. É quase uma viagem, eu atr avesso a cidade. Vou do bairro 2000 até o Jor dão todos os dias”, reclama a estudante de Ciências Sociais, Viviane de Lara. Entre ess as idas e vindas, Viviane lembrou-se de um fato engraçado que já presenciou. “Como no Jordão existem muitas chácaras, já aconteceu do ônibus ter que parar para que vacas atr avessassem a rua. Ri muito da situação, afina l, nunca achei que isso pudesse acontecer um dia. São coisas que só a faculdade te pro porciona”. Fora esse drama do transp orte, muitos que vivem no mundo universit ário se desesperam na tão temida ‘semana de provas’, que às vezes acaba se unindo à en trega de trabalhos e seminários. Aí, o desespe ro bate e o recurso é apelar para técnicas ind ividuais de se tranquilizar, afinal, cada um sabe como passar ‘de boa’ por esse momento . Michael Sene, mestrando em Geografia, con ta o que faz nesse tipo de situação: “geral mente quando tenho muita coisa pra fazer eu durmo. Sim, durmo uma tarde inteira. Não aconselho porque depois você tem bem me nos tempo pra fazer tudo”. Já a estudante de Fisioterapia, Andressa Camargo, assume seu lado dramático: “Não fico tranquila. Na verda de, em momento algum fico tranquila ou rel axo”. Ainda sobre provas e ava liações, há quem entre em desespero mu ito antes delas acon-

ois ônibus Eu pego d faculdaa r p ir a r p , pra voltar is o d e e d lotado e e r p m e s á est a temos d in a s e z e às v r pessoas a t n e u g a que É quase . s a d a c u d mal e m”. uma viage

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C a m a rg o

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ente. A frendo antecipadam tecerem. “Eu fico so e eu já para daqui um mês prova está marcada isso, pae irei mal. É incrível estou pensando qu zer uma burra na hora de fa reço sempre estar dando”, do passo horas estu prova mesmo quan do teradeira, a estudante fala em tom de brinc sconContábeis, Bruna Va ceiro ano de Ciências ais um sa se prolongou m celos. Nossa conver miu ‘dra, Bruna, que se assu pouco e entre risos maiores ta que um dos seus mática’, logo comen sores. ado com os profes dramas está relacion aula de e muitas vezes dão “Sim, professores qu o contenão sabem explicar cinco minutos, que existe”. e só a matéria deles údo ou que acham qu um uito, resolvi tocar em Depois de pensar m inde an gr a alguns, traz um ra assunto, que para Pa . ia) nc dê o da DP (Depen la comodação: o med pe o nt ta s, até calafrio a outros, isso causa am dr lo pe o ou até mesm o pressão dos pais “N . te en m va disciplina no de ter que cursar a via ha o nã is po ficar em DP, meu caso foi bom ndo de atéria direito e faze m compreendido a mais ou fic do professor, tu novo, com outro ado, fic r te o ria melhor nã claro. Mas, que se não, ou do en . Porque, quer não tenho dúvidas co, a” tin ro a atrapalhava a DP muitas vezes tro ou r po as m endi mais, já menta Bruna. “Apr ria de po e qu éria a mais lado, seria uma mat . sa es dr , desabafa An ter sido concluída” cos, a busca por dramáti Continuando minh es, go ar pática Adriana Cam m lembrei-me da sim Co l. cia ano de Serviço So rtudante do quarto pa já e ade, ela assumiu qu as toda a sua serenid en ap s, s e outros evento ticipou de palestra rsitário ficado. “Qual o unive para ganhar o certi loquei co né? Sim, eu só fui lá, que nunca fez isso, os e ris s embora”. Conta ao meu nome e ó, fui a, a am dr or se tratar de um ainda completa “p


aso foi No meu c em DP, bom ficar avia pois não h dido a compreen ireito e matéria d e novo, fazendo d procom outro o ficou fessor, tud ”. mais claro

Ad ria na Ca ma rg o

gente faz o que vier”. Co m esse drama eu também me identifiquei, afi nal, todos nós universitários precisamos cumpri r as horas complementares previstas na grade curricular, cada um faz como pode e como ‘não pode’ também. Entre conversas e mais conversas, surgiram alguns relatos engraçad os, não necessariamente dramas, especialmente sobre animais na universidade. “Aqui no Cedeteg , tem uma corujinha linda, que fica atrás da clín ica de fisioterapia. Ela tem um ninho ali, mas é muito arisca, não deixa ninguém chegar perto. Eu nunca imaginei que teria um bicho assim no campus”, lembra Andressa. Ainda sobre o Ce deteg, Michael trouxe a tona um grande conh ecido de muitos universitários, o cachorro. “Em cada curso, o cachorro tem um nome diferente , e o pior, ele atende por todos”, ri Michae l, me fazendo lembra r que sempre conheci o tal cachorro pelo nome de Chuvisco, agora fique i em dúvida. Michael continua: “ele tem até perfil no Facebook e faz muitos ‘comentários’ sob re os cursos e os problemas estruturais do cam pus”. Porém, antes de entra rem para o mundo universitário, muitos, ass im como eu, pensavam que essas reclamações eram apenas exageros. Como alguns pais dizem : “você não trabalha, só estuda”. Como se estud ar não cansasse e não desse trabalho. “Com cer teza os universitários são mais dramáticos qu e os outros jovens, por que essa vida não é tão fácil assim. Temos que estudar [e muito], saber economizar pra pagar as cópias de livros e exe rcícios, administrar nosso tempo, pois, muitos trabalham e não tem tanto tempo pra estudar” , declarou Cynthia. Já Viviane, achava que ser ia pior e, com um jeito sensato me respondeu “se mpre tive em mente que entrar em uma unive rsidade/faculdade re-

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se todo Como qua inava a g a im , m e jov como o e d a id s r e univ rican Pie, filme Ame lidade é mas a rea ente difem a t le p m o c de situaia e h c , e t n re s”. ções tensa

que r mui ta resp ons abil idad e. O cam inho é árd uo, mas fom os nós mes mos que esc olhe mos per cor rê-l o, ent ão, se está na chu va, é pra se mol har ”. Para finalizar, após algumas olhadas nas perguntas que compunham a pauta, decidi perguntar a Michael, se ele tinha essa mesma visão, e ele logo foi dize ndo “como quase todo jovem, imaginava a univ ersidade como o filme American Pie, mas a realidad e é completamente diferente, cheia de situaçõ es tensas. Mas, são fatos divertidos, porque se não fosse isso a vida não teria graça nem teríamo s histórias pra contar para nossos amigos, quiçá para nossos netos... Porque se contar para nossos pais eles certamente surtarão”, brinca Michae l, me fazendo pensar nas coisas boas que levarei da universidade quando concluir o curso este ano . Apesar dos dramas, das unhas roídas, das noit es em que não dormi por ficar estudando para a apre sentação de seminários, tudo um dia deixará sau dade.

Perfil, no Facebook, Cachorro do Cedeteg

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Entrevista

De todos esses dramas, esse simpático menino da foto acima, resolveu ilustrar, de uma forma bem humorada, as dificuldades que ele mesmo sofria na vida universitária. Lucas Carvalho, 20 anos, morador de Cascavel, estado do Ceará, é o dono da página Drama Universitário, criada em 2013 e que atualmente conta com quase 250 mil curtidas. Bebop: O que te motivou a criar a página? Lucas: Eu sempre gostei de desenhar, principalmente o que acontecia a minha volta, no ensino médio eu costumava desenhar o que acontecia durante e fora das aulas. Uma amiga que conheci no ônibus para a faculdade viu os desenhos no meu caderno e me aconselhou a criar uma página com as minhas artes e que se o material for bom, as pessoas iriam começar a compartilhar. Eu achava que não

ia dar em nada, mas quem diria, ela estava certa. Na universidade eu me deparava com várias situações divertidas e logo pensei que aquele universo poderia ser o foco dos meus cartoons. Bebop: Como é a interação com o público? Lucas: Todos os dias recebo várias sugestões de pessoas contando seus dramas e espero que isso nunca pare, pois sempre existem dramas diferentes que eu não vivi ainda. Também abri um espaço na página para o público, eles podem enviar fotos de animais na universidade para o álbum “veteranos desde sempre”, fotos de recados inusitados que encontramos nos corredores do campus para o álbum “recadinhos”, fanarts e para galeria de fãs podem tirar fotos com o papertoy do Sofrêncio, mascote da página.

Todos os dias rece bo várias sugestões de pessoas contando seus dramas e espero que isso nunca pare, pois sempre existem dramas diferente s que eu não vivi ainda”.

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Bebop: Porque a escolha do nome Drama Universitário? E do gato Sofrêncio? Lucas: O nome já vem daquilo que nós universitários mais vivemos: “dramas”. O drama de morar longe da faculdade, de pegar ônibus lotado, de ter muita coisa para estudar e tentar conciliar isso ao trabalho, da falta de dinheiro, enfim. Na universidade eu me deparava com uma figura muito presente, os gatos, por isso comecei a colocá-lo nas charges, ele não influenciava na ideia do cartoon mas muitas vezes fazia mais sucesso do que a própria mensagem que eu queria passar. Foi aí que surgiu a ideia de criar um mascote para a página. Sofrêncio, o gato abusado, presidente do Sindicato de Animais nas Universidades do Brasil, que observa ironicamente o comportamento dos estudantes. Eu pedi que o público votasse em alguns nomes para ele, os dois mais votados eu uni como nome e sobrenome, foi aí que nasceu o “Sofrêncio Xerox”.

s a do ama i r o i r a A m ons do d nho u o c car t ra com o em emb rístico t volvida o n hum rítica e c uma falta de es...” v o com ura, gre t estru

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Bebop: As postagens, em sua maioria, são cartoons com cunho humorístico. Fora isso você já fez alguma com crítica ou algo parecido? Lucas: A maioria dos cartoons do drama embora com cunho humorístico tem uma crítica envolvida como falta de estrutura, greves, aquele “jeitinho brasileiro” de fazer as coisas sem planejamento e de ultima hora que também está presente na universidade, enfim. Não pretendo apenas divertir, mas sim alertar que não está tudo bem e que ainda falta muito para termos um bom investimento no estudante brasileiro. Bebop: Como você se sente com relação ao sucesso da página? Lucas: Com muita vontade de criar muito mais e tornar esse trabalho cada vez mais conhecido. Eu tranquei a minha matrícula na faculdade justamente porque o meu trabalho no drama está começando a tomar totalmente o meu tempo. O D.U mudou o rumo da minha vida, em um momento eu estudava letras e agora quero estudar animação e aplicar tudo no drama universitário. Seguir uma nova carreira.


Cartoons Drama Universitรกrio

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Caça-palavras do

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jazz, charlie parker, george orwell, hunter thompson, bob dylan, unicentro, bebop, comunicação, poesia, drummond, cinema, bossa nova, stanley kubrick, William Burroughs, hermaNn hesse, acdc, tarantino, miles davis, woody allen, bb king, chico buarque, paulo leminski, jimmi hendrix, tom wolfe, robert crumb, neil gaiman, the beatles, jack kerouac, led zeppelin

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Quando o comum não atrai o “incomum” surpreende Quem narra: Kamila Dussanoski Fotos ilustrativas: pixabay.com

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Falar sobre esportes é algo muito prazeroso para mim, mas, dessa vez, foi um tanto quanto desafiador. A missão era falar sobre esportes que não costumo acompanhar, logo, não tinha muito conhecimento. Eu, assim como grande parte dos brasileiros e da população mundial, sou uma apaixonada por futebol, não só, mas principalmente. E entre órfãos de Mané Garrincha e fãs de Neymar, poucos sabem quem é Fernando Portugal, por exemplo. Eu também não sabia, confesso. Mas, pesquisando, entendi o quanto é, entre os fãs de rugby, um ídolo no esporte. Fernando é, além de ídolo, capitão da seleção brasileira de rugby desde 2007 e principal nome do esporte no país. Mesmo não tendo tantos fãs como o futebol, atualmente ele ocupa o segundo lugar no ranking de popularidade do continente europeu, no que diz respeito a esportes em equipe. Apesar de não ser praticado com grande expressão no Brasil, muitas cidades têm seus times ativos.

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E engana-se quem pensa que o esporte se concentra apenas nos grandes centros. No Paraná, existem algumas equipes que treinam e tentam divulgar a prática da atividade, inclusive em Guarapuava. O time local é o Lobo Bravo Rugby, que existe desde 2003, e aos poucos ganhou espaço e formalizou-se como associação em 2006. Segundo o atual presidente, Juliano Cardoso dos Santos, “hoje quando se fala em rugby, o guarapuavano já sabe do que está se falando, ele já não confunde o esporte com o futebol americano, por exemplo, sabe até algumas regras do jogo”. O atual técnico do Lobo Bravo é o argentino Horacio Garza Garcia, um simpático apaixonado pelo esporte. Quando conversei com ele o que mais me marcou foi uma de suas frases: “encontrei no rugby o que não havia encontrado em nenhum outro esporte”. Senti sua paixão, foi como se um menino apaixonado estivesse falando sobre uma linda menina.


Horacio me contou que conheceu o rugby por influência de seus amigos. Ele, que já era praticante de outros esportes, como futebol, basquete, remo e tênis, começou a jogar rugby com apenas 12 anos. Mudou de cidade e por conta disso ficou três anos afastado do esporte. Quando voltou teve que enfrentar contusões e brigas politicas do seu clube na época. Anos depois, “totalmente sem querer”, viria tornar-se o treinador. “Em 2009, recebi a proposta de assumir um time junto com dois amigos, foi um desafio, era um time totalmente jovem, a maioria vinha das categorias de base e ainda conseguimos sair campeões regionais e voltamos a classificar para o torneio regional de clubes, o ‘Del Noreste’ da Argentina”. Foi a partir dai que ele começou a levar mais a sério o trabalho com treinador, começou a fazer cursos e “buscar aperfeiçoamentos, então, no ano seguinte, tive a oportunidade de vir para o Brasil treinar o Curitiba Rugby Clube. Lá fui vice-campeão paranaense de 2010 e também vice-campeão brasileiro de Seven em 2011. Depois disso vim para Guarapuava e aqui classificamos o time do Lobo Bravo Rugby pela primeira vez em dez anos a um torneio nacional”. Mas o que queria mesmo saber de Horacio era porque ele escolheu o rugby, e ele não teve duvidas quando respondeu “é um esporte muito mais sacrificado que qualquer outro, muito mais apaixonante que qualquer esporte coletivo. Você realmente tem que dar tudo de si nos jogos. É um jogo que não se ganha com um só jogador, é necessário que todos façam sua melhor performance, que todos se unam. E o mais importante é que tem valores que levo para minha vida e que quero continuar compartilhando com outras pessoas”.

Horacio Garza Garcia

Natural de: Posadas (Argentina) Mora em: Guarapuava Idade: 41 anos Técnico do Lobo Bravo Rugby (Guarapuava) bebop

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NBA significa National Basketball Association (Associação Nacional de Basquete) e é uma liga profissional de basquetebol dos Estados Unidos e Canadá. É considerada uma das mais importantes ligas de basquetebol dos EUA em nível mundial. Mesmo sabendo que o basquete não é um dos principais esportes do brasileiro, em território nacional existe o NBB (Novo Basquete Brasil) que reúne as principais equipes brasileiras. Se fosse comparar com o futebol, seria um ‘Brasileirão’, que conta com grandes jogadores e acontecem grandes jogos, mas não é uma ‘Champions League’, aquela onde jogam Messi, Cristiano Ronaldo, Iniesta e tantos outros craques. E é seguindo essa linha que o estudante de engenharia mecânica e fã de NBA, Gilmar Lejambre, acompanha a liga. “A NBA é diferente porque seus atletas são os melhores do mundo, aquele que quer se tornar um jogador de basquete, sonha um dia jogar lá”. Gilmar, hoje com 23 anos, acompanha os jogos da liga desde os 11. “Desde muito novo que eu vejo. Quando criança vi Space Jam, que é um filme sobre basquete com o Perna-Longa e o Michael Jordan, eu gostei muito, e então comecei a me interessar e acompanhar o máximo possível”. Mesmo com tantos anos acompanhando o esporte, Gilmar se considera cada dia mais fã, isso por “nunca ter nada igual, sempre surge algo diferente nos jogos que te prende cada vez mais”. E certamente o ídolo de Gilmar não é o Messi, mas sim um hexacampeão da NBA que é considerado o melhor jogador de basquete de todos os tempos. “Meu ídolo na história é, sem duvida, Michael Jordan. Atualmente eu gosto muito do jogo do Carmelo Anthony”.

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Gilmar Lejambre

Gilmar Le Natural de: Guarapuava jambre

Mora em: Guarapuava Idade: 23 anos Estudante de Eng. Mec창nica e praticante de basquete

Mudando o formato da bola, n찾o da paix찾o Natural de

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Estudante de Eng. M ec창nica e praticante de basque te

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Para encerrar logo, que tal acelerar? 36 bebop


Dos três esportes citados, escrever sobre a Nascar foi o mais difícil. Diferente do rugby e do NBA que, mesmo não acompanhando muito, eu já conhecia, a Nascar é totalmente nova pra mim. Eu não sabia, por exemplo, que “existe muita diferença com a Fórmula 1. Nascar é somente americana, enquanto que a F1 é mundial. Porém, o que mais difere entre esse dois esportes são as regras. Quanto aos carros, por exemplo, é proibido o uso de injeção eletrônica, ou seja, todos são carburados, uma tecnologia muito antiga”. Quem me contou isso foi o estudante de economia Bruno Hilgemberg, fã nato de esportes movidos a motores, há cerca de quatro anos passou a acompanhar a Nascar. “Mas já conhecia há bastante tempo. Lembro-me de ter lido em uma revista sobre. Não é uma modalidade popular no Brasil e não passa na TV aberta, então só tive acesso com a internet. O que me levou a acompanhar e gostar foi mesmo a história. A Nascar é um resultado da cultura ‘southern’ americana e mantém características puras e intocáveis de décadas atrás, isso me chama muito a atenção”. A Nascar é uma associação que controla e organiza três modalidades de automobilismo. A mais popular e conhecida é a SPC (Sprint Cup Series). Segundo Bruno “as três se parecem muito, ambas possuem quase as mesmas regras, mas o que diferencia de fato é a potência dos motores e que, em uma delas, são pick-ups que correm”. O esporte é fruto de um dos movimentos mais antigos e culturais americano. Surgiu na época em que era proibido vender e consumir qualquer bebida alcoólica. Mas, nas cidades do interior, as pessoas produziam as bebidas em seus alambiques e vendiam nos grandes centros. A fiscalização era dura, então, os produtores ‘tunavam’ seus carros, deixando-os mais potentes, assim, poderiam fugir da policia que fiscalizava. Com o fim da Lei que impedia esse comércio, esse tipo de manejo deixou de existir, o que sobrou foram os “caipiras com carros mais potentes”,

que eram feitos por eles mesmos. Então, decidiram organizar corridas entre eles. Essa prática foi se popularizando até os dias presentes, mas, quando se fala em automobilismo, é a F1 que vem a memória, o que não muda a paixão de Bruno, assim como em qualquer outro esporte, cada ‘fanático’ defende o seu lado. “Não é mundial, mas a Nascar já é uma paixão americana. Pra mim, principalmente, os europeus que fazem chacota da Nascar são aqueles que vivem em torno de não gostar dos americanos”.

Bruno Hilgemberg Natural de: Guarapuava Mora em: Guarapuava Idade: 21 anos Estudante de Ciências Economicas e apaixonado por esportes

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blah!

blahzeiros! Quem narra: Karin Milla Detlinger

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blah! (1/3) dos olhosfoi nosa olhos, com O blah! primeira versão de rede social mobilidade. Aqueles eram móvel do mundo, na qual os primeiros sistemas as pessoas utilizavam o móveis decelular rádio em terra. telefone como Um de equipamenmeioquilo de interação. Aqui to à vez bancos no faria Brasil foidos lançado em Junho de 2000 pela opede praça, em encontros radora TIM. blah! temera amorosos dosO novos formado por uma rede de pos. As conversas descomprodutos que oferecia promissadas das tardes personalização, lazer, de domingo começam a canais e conexão. Um dos produtos mais procurados ganhar novas janelas, nas já de não início chat. quais maisfoi erao preciso Nele, principalmente os ojovens, contatoviam visual. (Alguns um meio de minutos no Nokia Mobira comunicação moderno, no Senator, primeiro celular qual poderiam conhecer novas pessoas fazer da Nokia, com eum pesinho amizades ou mesmo enconbásico de apenas 9,8 kg) trar um grande amor. Para acabava com economias participar osasusuários dos jovens casais da décacadastravam seu nome ou da 1980. acrescido Anos 90! Ade um de codinome características tecnologia anda afísicas passos e palavras que descrelargos. Evolui a segunda vessem um pouco do seu geração (2G) informações de celulares. perfil. Estas Aplicativos sãoum lançados passavam para banco a cada dia eaberto, as operadoras de dados disponível ao usuário do começam uma verdadeiserviço que teria assim ra corrida em busca de oportunidade de acessar usuários dispostos a experum dos perfis e iniciar imentarem novos doces. um bate papo. A rede social móvel, criada na

Lizóião é um codinome curioso e até mesmo engraçado, mas foi a pista que me levou até a primeira das histórias que quero relatar sobre o uso do blah!. A garota florianopolitana que usou este codinome na verdade não quer revelar seu nome nem de seu companheiro virtual. Seu relato, porém, esta cheio de caras e bocas, de sorrisos e expressões, de mãos que gesticulam freneticamente, como quem quer antecipar as emoções ao descrever o fato seguinte. Entre risos ela revela uma série de fatos curiosos que vivenciou neste mundo virtual. Quando ela começou a usar o blah! nem imaginava os rolos e amores que iriam surgir na sua vida. Destas aventuras um dos relacionamentos ela cultiva até hoje. Entre livros, textos e incessantes criações de scrapbook a personagem conta o quanto sempre gostou deste tipo de relacionamento virtual e de como começou a usar o chat. “Em 2002 fui numa balada aqui em Florianópolis e roubaram meu celular, então tive que comprar outro. Na época, eu estava solteira e um colega de trabalho me cadastrou no blah!. Ao voltar para casa, um sinal sonoro vindo de meu celular me chamou a atenção. Não disfarcei o sorriso, afinal era minha primeira mensagem e dizia: Hot1 quer teclar com você. Meu coração disparou violentamente e perguntei: Quem é você?” Desde aquele dia especial, no qual a noite não

Hot 1 “Se o destino nos afastar, vamos lembrar um do outro para sempre”

“No dia do seu casamento ele ainda guardava meu presente” Liz o i ã o bebop

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blah! (2/3) virada do século, espalhou-se como rastilho de pólvora e assumiu papel de intercessora entre as novas formas de relacionamentos virando febre entre os jovens Brasil a fora. Quando em 1947, a norte-americana AT&T. Bell Laboratories, única operadora da época, procurava dar vida a esta forma de comunicar, nem mesmo as mentes brilhantes de seus engenheiros e programadores, poderiam imaginar pra onde estes caminhos levariam. Seus mentores mal podiam imaginar, que na virada do século, a comunicação virtual ditaria uma revolução. Na década de 1960 os relacionamentos moldavam-se aos novos espaços virtuais e a corrida ao celular ganhou fôlego. Homens e mulheres penduravam-se aos tijolões, Dyna TAC 8000x da Motorola para trocarem conversas sem a necessidade dos olhos nos

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Novamente voltou a procurar por existiu e as horas simplesmente sumiele, agora no Face. O reencontro foi ram diante de tanto encanto, lá se vão bastante especial e depois de horas dez anos de encontros e desencontros coversando as lembranças voltavirtuais. Milhares de mensagens, cenram com força. “O mais engraçado tenas de horas de conversas, cartas, é que, quando voltamos a nos falar, fotos e lembranças guardadas. E como eu lembrava de muitas coisas que o ditado popular costuma dizer, o priguardei como cartas meiro amor a gente e fotos, tudo esconnunca esquece, no “Mesmo não na casa de uma seu caso Lizóião nunficando juntos, dido amiga. Certa noite ele ca esqueceu seu primeiro contato. “Por nosso encontro me ligou e disse que estava na mãe dele que não ficamos junno blah! foi procurando pelas coitos? Bom, a distância sas que eu havia lhe é um empecilho po- mágico”. dado. Guardou, por deroso, apesar de a exemplo, uma bruxinha, a ‘sopritecnologia conspirar a nosso favor há nho’. Quem a ganhasse deveria sodez anos ainda não existia Facebook e prar seu cabelo e fazer um pedido. viajar não era tão fácil assim”. No dia de seu casamento o mimo Hot1 é um advogado mineiro que ainda estava guardado em seu rouama a profissão. Gosta de futebol, é peiro”. Dias e meses conversando vascaíno, e cultiva esta amizade como até que finalmente ele a surpreenum ótimo companheiro virtual. A prideu com uma visita. Na sua página meira tentativa de se conhecerem acaele havia descoberto uma amiga bou frustrada, pois, o exército o transcom a qual Lizoião costumava sair. feriu para Goiás. Ambos acabaram se Combinaram tudo direitinho. “Ele afastando e tomando outros rumos em programou tudinho com ela, me suas vidas. Apesar de terem perdido o enganaram”. contato uma frase sua continuava ecoando na mente de Lizoião. “Se o destino “Ele programou nos afastar, vamos lembrar um do outro para sempre”. Passaram-se anos até tudinho com ela, que ela resolveu procurar-lo no Google. me enganaram”. A tecnologia havia evoluído e os relacionamentos virtuais estavam também No dia das fotos de formatura em sites como Orkut e Facebook. No da amiga Lizoão foi com ela para Orkut da mãe dele a surpresa; ele hadepois seguirem para uma festa via casado. Depois disso ela também sem ao menos suspeitar do que casou e em 2012 acabou se separando.


estava a sua espera. “Fiquei falando com ele o dia inteiro, enquanto ele voava de um aeroporto para outro até chegar a Floripa. Eu não suspeitava de nada. Quando minha amiga e eu entramos no bar, ela me colo-

“Apesar de não termos ficado juntos nosso encontro foi mágico e a amizade perdura até hoje”. cou sentada de costas para a porta, em seguida ele parou atrás de mim e disse: meu bem, você quer uma bala de Tamarindo?” Lizoião, diz que o caso deles tem algo de muito especial, uma cumplicidade que mesmo os anos não destruiram e julga que apesar de não terem ficado juntos esta história teve um final feliz, pois para ambos foi algo forte, mágico que perdura até hoje. Aventuras e amores, conselhos de mãe e saudades, suspiros e descompromissados relacionamentos, este é o mundo do blah!. Cúmplice fiel, disposto a servir de mediador, de tecelão de grandes amores, de amizades sinceras, mas também, testemunha de conflitos e perigosas tramas enfim apresenta seu segundo casal de personagens. O chat aproximando e afastando, mas também unindo. Para sempre? Sim, porque não? Em 2003, na cidade de

Braço do Norte, em Santa Catarina, Giseli Boeng Dalla Giustina entrou no mundo do blah! para conversar com suas amigas. Ela nem imaginava que alí naquele espaço virtual iria conhecer seu futuro esposo. Um rapaz chamado Ednilson pede pra ela, “Vamos nos conhecer?”. Logo ela responde e eles começam a trocar mensagens. Os dedos ágeis teclam com rapidez e precisão. Depois de meses, de chats intermináveis e anceios para se conhecerem pessoalmente, ela chega à conclusão: Imbituva, no Paraná, à 700 km, é longe demais. O namoro não daria certo. “Próximos estamos apenas nos espaços virtuais”, pensava ela. Mas o amor acabou falando mais alto. Edmilson resolveu ir ao seu encontro. Após horas devorando quilômetros e mais quilômetros de distância, a angustia o fez duvidar. Porém a mensagem que surgiu na tela de seu celular o encorajou a vencer os últimos quilômetros até Braço do Norte. “Ele chegou em Braço do Norte à meia noite e nem sequer pude vê-lo, pois a esta hora meus pais não me deixavam sair de casa”, lembra ela. “Fui ver ele só no sábado às 10h da manhã”. Giseli3 e Bichinhoimbi, seus codinomes no chat, finalmente estavam frente a frente. O namoro firmou ali e continuou no chat. Para cada mensagem de sete centavos, os corações se aqueciam e fidelizavam seu amor. Agora as distâncias já não pareciam tão grandes. Não deu outra, o ro-

ilson & Giseli Edn

“Nossa história acabou em casamento”

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blah! (3/3) olhos e com mobilidade. Aqueles eram os primeiros sistemas móveis de rádio em terra. Um quilo de equipamento faria à vez dos bancos de praça, em encontros amorosos dos novos tempos. As conversas descompromissadas das tardes de domingo começam a ganhar novas janelas. Alguns minutos no Nokia Mobira Senator, primeiro celular da Nokia, com um pesinho básico de apenas 9,8 kg) acabava com as economias dos jovens casais da década de 1980. Nos anos 90 a tecnologia andava a passos largos. Surgia a segunda geração (2G) de celulares. Este ano, 2014, o blah ressurge, agora subtraído de seu ponto de exclamação. Mais imponente, aparece como over the top (OTT) da TIM, com o intuito de também ele disputar terreno da rede e ofuscar WhatsApp, WeChat, Viber, BBM, iMessage/Facetime, e Skype. Será que consegue?

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mance que começou através do chat, integrado ao mundo virtual. O conterminou em casamento no dia 17 de tato entre Ângelo e Jaqueline connovembro de 2007. tinuou e ambos deciGiseli hoje é enfer- “Ele chegou em diram que poderiam meira e Edmilson complementar as Braço do Norte tornou-se modureimensagens do blah! ro, trabalhando jun- à meia noite e de forma criativa e a to com o pai dela. nem sequer pude moda antiga. Então, já que é assim, porE quem falou vê-lo, pois a esta que não voltar para em distâncias? Não um dos modelos mais há distâncias para hora meus pais românticos na históquem transita neste não me deixavam ria da humanidade? mundo virtual. Que sair de casa” Não um retrocesso, o digam Jaqueline mas uma experiência Ribeiro, de Guarapuava, no Paraná, e legal para uma geração que esta Ângelo Oliveira, de Belém do Pará. Redesaprendendo a usar a caneais 3.164 km de distância os separam. ta e o papel. Jaqueline e Ângelo Mas e daí? A tecnologia os une e lhes começaram a escrever cartas de permite trocar informações, confidênamor, como no tempo de seus cias e confortos. A campanha dizia: avós. Cartas podem ser relidas, “Gostou, manda um blah!”. Jaquelisonhadas. Concluí que não desane lembra que ela usava o chat blah! porque permitia pesquisar pelo celu“Tive mais lar o perfil das pessoas com quem se pretendia conversar. “Lembro que eu amores virtuais sempre pesquisava por meninos altos, do que reais” loiros, com olhos claros, porque na época era o que eu mais gostava”. Ângelo não correspondia a estas caracteparecem no dia seguinte, não são rísticas porém se tornou seu primeiro deletadas de imediato, não são namoradinho virtual. Jaqueline conta vítimas do rolo compressor das que na época tinha 13 anos e que semtecnologias a cada amanhecer. O pre gostou de chats, internet, tecnoloromance do hoje programador de gia e relacionamento à distância. “Tive computação Ângelo e da jornalismais amores virtuais do que reais”. ta Jaqueline é um destes que soÂngelo igualmente ama este mun- frem a ação do tempo e como um do da tecnologia. Na época tinha ape- bom vinho tornam-se brandos, nas 17 anos mas já estava totalmente bons de serem apreciados.


Oliveira gelo Ă‚n

Nossas aventuras no blah! foram narradas e ilustradas por Karin Milla Detlinger

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ro e li n e R ib ei bebop 43


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