Jornal Ágora 2011 - Edição 01

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Ágora Guarapuava - abr/2011 - Ed. 01 - Ano 01.

SORRIA!

VAMOS COLOCAR UM SORRISO NESSE ROSTO?


Guarapuava abr/2011 Edição 01 Ano 01

Ágora Ágora

ESPORTE

editorial Sobre poderes e responsabilidades

Guarapuava - abr/2011 - Ed. 01 - Ano 01.

Montagem: Anderson Costa Imagem: Grind 01, de Thomas Hamlyn-Harris (Austrália) @RoyaltyFree

SORRIA!

VAMOS COLOCAR UM SORRISO NESSE ROSTO?

O Jornal Ágora 2011 traz assuntos do cotidiano do cidadão de Guarapuava pensados a partir de uma frase. Nesta edição, as matérias têm por inspiração frases famosas do cinema.

Caro leitor, está em suas mãos um jornal Ágora novo em folha. Um jornal que tem por objetivo levar até você conteúdo jornalístico sério, crítico e diversificado em um formato mais dinâmico e descontraído. Tudo isso, utilizando de forma criativa um antigo conhecido: o papel jornal. A proposta desta nova versão do Ágora é, em cada edição, trazer assuntos do cotidiano do cidadão de Guarapuava, pensados a partir de uma frase. Neste número, as matérias têm por inspiração frases famosas do cinema. Mas também haverá edições inspiradas na música e na literatura, por exemplo. Nos servindo de filmes clássicos como O Poderoso Chefão e passando por pipocões recentes como Harry Potter, preenchemos as próximas páginas com matérias diferentes sobre saúde, cotidiano, esportes e cultura, e que devem agradar desde os leitores

mais exigentes, até os que procuram apenas um momento de descontração. Aprendemos com esta edição, por exemplo, que com grandes poderes vêm grandes responsabilidades; os oficiais do corpo de bombeiros sabem bem disso. Também aprendemos que, nos sonhos entramos em um mundo que é exclusivamente nosso, tanto é que nossa reportagem conseguiu boas histórias de sonâmbulos. Corremos como Forrest Gump para dar conta de fechar o jornal, e esperamos colocar um sorriso no rosto de vocês a cada matéria, afinal, por que tão sério? Já disseram, jornalismo é literatura com pressa. Informação e prazer. Por isso gostamos de pensar que a leitura do nosso trabalho será uma proposta irrecusável. Boa leitura e que a força esteja com vocês.

Run, Forrest, Run

“Corra, Forrest, corra!” Esta frase célebre do filme Forrest Gump se encaixa perfeitamente na rotina de

Expediente

dois corredores de rua de Reitor Prof. Vitor Hugo Zanette Vice-Reitor Prof. Aldo Nelson Bona Diretor do Campus Santa Cruz Prof. Osmar Ambrósio de Souza Vice-diretor de Campus Prof. Darlan Faccin Weide Diretor do Sehla (Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes) Prof. Carlos Eduardo Schipanski Vice-diretora do Sehla Prof(a). Maria Ap. Crissi Knüppel Dpto. de Comunicação Social Coord. Prof. Edgard Melech

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Professor Responsável e Chefe de Redação Prof. Anderson Costa Editor-Chefe da Edição 01 Leandro Povinelli Assistente de Redação e Revisora Camila Syperreck Direção de Arte e Diagramação Anderson Costa e Leandro Povinelli Redação: Adriano Vizentin, Aline Bortoluzzi, Andréa Alves, Anita Hoffmann, Camila Souza, Camila Syperreck, Carolina Teles, Catiana Calixto, Eliane Pazuch, Evane Cecilio, Jeferson Luis dos Santos, Júlio Stanczyk, Keissy Carvelli, Leandro Povinelli, Luiz Carlos Knüppel Jr., Marcos Przygocki, Mariana Rudek, Monique Paludo, Morgana Nunes, Patricia Tagliaferro.

Tiragem: 500 exemplares Impressão: Gráfica Unicentro

Guarapuava, Rodrigo Lima e Marcelo Bueno

Contato (42) 3621-1325 e (42) 3621-1088 E-mail: agoraunicentro@gmail.com Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro. O Jornal Laboratório Ágora é desenvolvido pelos acadêmicos do 4º ano de Jornalismo da Unicentro.

Ágora2011

Matéria: Andréa Alves Foto: Evane Cecilio

O calor do asfalto, a poeira da terra batida, são alguns dos obstáculos superados todos os dias pelos corredores profissionais Rodrigo Sochodoliak Lima, 30 anos, e João Marcelo Bueno, 34. São seis horas da manhã e os atletas já estão se pre-

parando para mais um dia de treinamento. Não importa se faz calor ou frio, se chove ou ainda está escuro... a preparação é fundamental. Correm duas horas nos dias de semana, um total de aproximadamente 20 quilômetros, e no fim de semana, até quatro horas, percorrendo mais de 30 quilômetros. “Eu tento evitar o impacto

do asfalto, mas como a minha prova é o percurso longo da maratona, tenho que correr na BR no final de semana”, explica Rodrigo Lima. Diferente de Bueno, que prefere correr na terra, “como minha prova é de cinco ou dez mil metros, prefiro treinar em estradas de chão. Fica perigoso correr junto ao movimento de carros, corremos o risco de um acidente. E

o barulho e a preocupação tira a concentração”. O atleta também treina na Pista Municipal, que é espaço de competições. Mas a preparação não se limita apenas às corridas. Musculação, natação, acompanhamento médico e, é claro, uma alimentação adequada fazem parte da rotina dos guarapuavanos. “Não podemos esquecer do descanso, do material espor-

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Cienpies Design (Montevidéu) @RoyaltyFree

tivo e dos suplementos alimentares. E, aliás, tudo isso tem um preço. Um atleta como nós tem um custo em torno de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil mensais”, calcula Rodrigo Lima. A disciplina guia estes apaixonados pelo esporte. As 24 horas do dia ficam curtas para cumprir todos os afazeres. Treinamento, preparação física, trabalho, família e estudos. Bueno começa o dia com um café da manhã reforçado, para, então, seguir para suas horas diárias de corrida em uma estrada de terra próxima de casa na Vila Carli. Só depois dos quilômetros cumpridos segue para o trabalho, já que ainda não conseguiu pa-

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trocinadores suficientes para custear a carreira de atleta e também para dar uma vida melhor a esposa e aos dois filhos. “Trabalho como pedreiro e pintor para poder dar conta de todas as despesas, pagar minha faculdade e não precisar desistir dos meus sonhos como atleta. O engraçado é que quem vê eu chegar perto das nove horas no trabalho deve pensar que sou preguiçoso. Não sabem que o meu dia começou às seis horas”. Depois de assentar tijolos, colocar azulejos ou fazer algumas texturas, Bueno ainda tem que achar tempo, antes da noite chegar, para a natação e a musculação, já que o último

turno é dedicado à faculdade. “Estou cursando o terceiro período de bacharelado em Educação Física”. Rodrigo Lima também tem um dia cheio. Divide os horários entre a preparação física, o trabalho como personal trainer e a responsabilidade como presidente da ACG (Associação de Corredores de Rua de Guarapuava). “Pela manhã corro cerca de duas horas. Durante a tarde, como personal, acompanho um atleta e uma senhora, e nos intervalos faço musculação e natação. Também tenho que achar tempo para a Associação e para a família”. Esta rotina veio se desenvolvendo desde que escolheu,

“Fui campeão paranaense e

pedreiro e pintor para pagar a faculdade e não precisar desistir dos meus sonhos como atleta” João Marcelo se divide entre corrida, trabalho, preparação física, faculdade e a família

Bueno aderiu ao esporte um ano depois, em 1996, enquanto servia o Exército. A primeira competição foi a corrida de revezamento. Ele também acumula títulos em sua modalidade, é o atual recordista dos dez mil metros no Universitário do Paraná, campeão do 1º Circuito de Corrida de Rua de Guarapuava e atual líder do 2º Circuito de Corrida de Rua de Guarapuava.

Metas Todas essas vitórias vieram do esforço e persistência de cada um deles. O tempo de corrida de Rodrigo Lima, por exemplo, é igualado aos de atletas de elite, o que pôde ser provado nos dez quilômetros da prova da Polícia Militar do Paraná, a qual ele concluiu em 30 minutos e 50 segundos. “Nos Jogos Abertos fiz a prova em 31 minutos e 20 segundos.

No final do Brasileiro Universitário o meu tempo também foi considerado de elite. A média do nosso representante Vanderlei Cordeiro de Lima é de 30 minutos, e dos quenianos que treinam em Maringá, chega a 31”. Agora Rodrigo Lima se prepara para a Maratona Internacional de Porto Alegre, que disputará no final de maio. A competição vale como índice para o Mundial de Maratonas, uma das ambi-

ções do atleta guarapuavano. O campeão revela que seu projeto é tentar, em dois anos, estar entre os melhores em uma maratona oficial. “Deste ano até final do ano que vem quero estar entre os cinco”. O que nos resta é torcer para o atleta, tendo como lema a frase do filme Forrest Gump: “ Run, Forrest, run!” , que traduzindo fica: “Corra, Forrest, corra!”. Assim nós também torcemos: Corra, Rodrigo Lima, corra!

depois fiquei, em Brasília, entre os três melhores do país. [...] Meu projeto é estar em dois anos entre

Siewlian (Malásia) @RoyaltyFree

os cinco melhores em uma maratona oficial” Rodrigo Lima

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há 15 anos, a modalidade para reger a sua vida. O interesse pela corrida surgiu quando participou, em 1995, dos Jogos Escolares Municipais: “A minha primeira competição foi nos 800 metros rasos”. Desde então, Lima acumula títulos representando Guarapuava em competições estaduais, nacionais e internacionais. A lista é enorme e faltaria página para descrevê-la. Os mais importantes títulos somam 27 medalhas e troféus. Entre eles, o que mais lhe dá orgulho é o Brasileiro Universitário de 2006. “Fui campeão paranaense e depois, lá em Brasília, fiquei entre os três melhores do país”.

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“Trabalho como

“Run, Forrest, Run” “Corra, Forrest, Corra” Frase de incentivo ao personagem Forrest (Tom Hanks), em Forrest Gump - O Contador de Histórias (Forrest Gump), de 1994.

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durma bem

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Nos sonhos entramos em um mundo que é exclusivamente nosso

Quem nunca ouviu falar em um parente, amigo ou conhecido que vagava pela noite assaltando geladeiras, indo ao banheiro, saindo de casa ou falando, enquanto dormia? Pois é, estamos falando deles, os sonâmbulos. São muitas as histórias relacionadas ao sonambulismo, uma doença que, conforme exmplica o médico neurologista doutor Pedro Gustavo Mendes, não tem uma causa específica. Os sonâmbulos geralmente andam, falam, até saem de casa, podem inclusive se machucar e, quando acordam, não se lembram do que aconteceu. Essas crises podem durar de cinco até 20 minutos. O sonambulismo geralmente se apresenta na infância e acaba na infância mesmo, mas pode se prolongar até a idade adulta, como é o caso de Mário Jorge Al-

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Matéria: Evane Cecilio Foto: Andrea Alves

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ves de Macedo que, aos 52 anos, ainda tem crises fracas, como falar dormindo, mas, como ele mesmo conta, já teve crises bem piores. Começaram por volta dos 13 ou 14 anos, quando saia pela porta de casa dormindo e acordava sentado na calçada de pijama

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murro na cara da minha esposa, eu sonhava que um cara queria prejudicar minha família e ai fui dar um soco nele, mas quem levou de verdade foi ela, coitada, não tinha nada haver com a história”, conta Mário Jorge rindo ao lembrar a história.

Quando ainda são crianças, as chances de ter sonambulismo são de 30%

sem saber o que havia acontecido. Até os 26, ainda houve outros episódios, como gritar dormindo ou pular a janela e só acordar com o tombo na calçada. “Teve também uma vez que eu dei um

Entre os casos mais comuns vivenciados na infância, estão aqueles de pessoas que vagam pela casa em um estágio entre o início do sono e o sono profundo, que é a segunda das cinco fa-

ses do sono. “Quando ainda são crianças, as chances de ter sonambulismo são de 30%, pois o cérebro está em fase de maturação e por isso é mais frequente. Mas, depois, com a adolescência, diminui para 5%; e na vida adulta, cai para apenas 2%”, explica o doutor Pedro. Marli Paco Santin conviveu com crises frequentes de sonambulismo na infância. “Eu ia dormir mais cedo do que os outros. Aí, às vezes, quando minha mãe ainda estava acordada, eu levantava com as cobertas em cima da cabeça, andava até mesa, e ficava embaixo dela. Algumas vezes, eu também ficava parada na frente das pessoas com os olhos abertos, mas estava dormindo”. De acordo com o doutor Pedro, não existem fatores específicos que desencadeiam o sonambulismo, mas, a irritabilidade e o estresse contribuem para as crises acontecerem. Os motivos

Primeira fase: Sono e atividade muscular leve

que levaram Mario Jorge a ter episódios de sonambulismo eram por ser muito bagunceiro, com uma vida muito ativa e, também, por ser filho único e não ter com quem brincar. O menino acabava fantasiando demais durante o dia e colocava em prática durante a noite, pois nos sonhos entramos em um mundo que é exclusivamente nosso. “Eu tinha meus amigos imaginários e fantasiava que brincava com eles. O resultado vinha a noite com as crises de sonambulismo”. Mas em que ponto da doença devemos recorrer ao médico? Quando ocorre na infância não há tanta preocupação, pois o cérebro está em desenvolvimento e é comum. Apenas o aconselhamento dos pais explicando aos fillhos o que acontece é suficiente para que não haja problemas mais sérios. Já na idade adulta, há a necessidade de fazer um tratamento com antidepressivos ou tranquilizantes para evitar transtornos mais graves. As preocupações da mãe de Mário Jorge fizeram com que ela procurasse um médico ainda na infância, mas não chegaram a conclusão alguma por meio de exames, como eletroencefalograma e mapeamento cerebral. A única indicação foi de um calmante natural para tranquilizá-lo e, assim, ame-

Segunda fase: Respiração e batimentos cardíacos diminuem

nizar as crises. Segundo Mário, somente depois de passar a ter uma vida mais moderada os tais episódios foram diminuindo, sendo que já faz aproximadamente dez anos que não tem mais problemas como levantar dormindo e acordar na calçada. Agora só fala dormindo vez ou outra. As pessoas que convivem com

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os sonâmbulos, no começo não entendem o que está acontecendo. Vinicius Almeida Macedo, que acompanhou as crises de sonambulismo do pai, Mário Jorge, e da irmã, Venizia Almeida Macedo, conta que não foi fácil se acostumar com a ideia. “Se ela tem crise de sonambulismo em uma noite, eu já fico preocupado

As chances de ocorrer o sonambulismo são maiores na segunda fase

e na expectativa de que ela vai levantar de novo. Agora estou até acostumado com isso, mas a primeira vez eu fiquei muito assustado, meu coração quase saiu pela boca, meu corpo amoleceu. Foi sinistro, ela gritava como se tivesse algum bicho nela, aí pensei que alguém havia entrado na casa. Quando olhei não tinha nin-

Pessoas que andam, falam, até saem de casa e depois não se lembram do que aconteceu

guém, eu só via ela gritando”. Depois de acompanhar um episódio desses e entender o que está acontecendo, geralmente essas pessoas tentam acordar os sonâmbulos. Dizem que não se pode acordá-los, mas, para o doutor Pedro, isso é um mito. O que pode ocorrer é de a pessoa não acordar tão facilmente.

A mãe de Marli ficava tão preocupada que tentava acordar a filha de várias maneiras. “Minha mãe via que eu estava dormindo, aí ela me chacoalhava, falava comigo e não conseguia me acordar. Então tentava me dar água, depois disso eu acordava e ia dormir tranquila”. Já Vinicius, depois do susto, tentava acordar ou falar com a irmã, a mandava dormir, e ela quase sempre ia. E quando ela já estava meio consciente, seguia até o banheiro para tentar achar sentido para o que estava fazendo, depois ia para a cama e no outro dia não se lembrava de nada. Com o pai a situação já é diferente. “Com meu pai é mais simples, por que agora ele só fala e parece que sabe do que está falando, só que no outro dia ele não lembra também”. A esposa, Rita Maria Almeida Macedo, lembra bem da pancada que levou do marido sonâmbulo, e também das vezes em que ele, dormindo, pulava pela janela e acordava na calçada. Lembra ainda de quando ele dormia de olhos abertos e de muitas outras histórias. “Uma vez nós até ‘namoramos’ enquanto ele dormia. No outro dia ele não lembrava de jeito nenhum do que tinha feito”.

“For in dreams, we enter a world that is entirely our own” “Nos sonhos, entramos em um mundo que é exclusivamente nosso” Frase dita por Dumbledore (Michael Gambon), em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (Harry Potter and the Prisioner of Azkaban), de 2004.

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Vamos colocar um sorriso neste rosto! Matéria: Eliane Pazuch Foto: Morgana Nunes Quem nunca sentiu aquele frio na barriga ao visitar um dentista? Todos aqueles aparelhos e barulhos que existem nos consultórios odontológicos são capazes de nos deixar de cabelo em pé. O medo é quase inevitável. Mas, em nome da saúde e de um sorriso perfeito é necessário passar por isso. A frase do inimigo do Batmam, o Coringa, “vamos por um sorriso nesse rosto” serve de inspiração para,

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Thomas Hamlyn-Harris (Austrália) @RoyaltyFree

sorria Só de pensar em ir ao dentista já começo a passar mal Carla Cristina

Todos gostam de um sorriso bonito, mas é preciso deixar o medo de lado e frequentar regularmente o dentista, além, é claro, de manter cuidados básicos.

ao contrário dele, manter um sorriso bonito e saudável. Porém, há casos em que o medo fala mais alto. A vendedora Carla Cristina Rodrigues, 37, revela que tem ‘trauma’ de dentista. “Só de pensar em ir ao dentista já começo a passar mal, tenho ânsia de vômito e tudo mais”. Ela conta que sempre foi assim e que não consegue superar esse medo, mas que às vezes é obrigada a enfrentálo. “Tenho muito medo, por que já senti muita dor para tratar meus dentes”.

Rafaela Cristina Franciosi é formada em odontologia e trabalha há dois anos e meio exercendo a profissão em uma clínica em Guarapuava, atuando na área de clínica geral e com próteses ortodônticas. Ela conta que desde criança se preocupa com a saúde de seus dentes e foi o bom relacionamento com os dentistas que a levou para o caminho da odontologia. Porém, a maioria das pessoas não se sente tão à vontade quando o assunto é tratamento dentário. Por isso, Rafaela explica que

é fundamental conversar com o paciente. “É preciso estabelecer uma relação de confiança com o paciente e explicar a necessidade do tratamento e como ele vai funcionar”. Mas não só o medo acaba afastando as pessoas de uma consulta odontológica. A questão financeira também influencia. De acordo com Rafaela, o tratamento odontológico nem sempre é barato, apesar de necessário. “Prevenir ainda é mais barato do que tratar”. Na clínica em que ela trabalha, os

consultórios são bem equipados, permitindo com que um diagnóstico completo já saia na primeira avaliação. E durante o tratamento, o paciente pode acompanhar tudo por meio de câmeras. Antigamente a maioria das pessoas só procurava o dentista para extrair algum dente que doia, ou seja, era para dar um fim ao incômodo. Não havia a preocupação e nem a possibilidade da prevenção. Com o passar dos anos e com o surgimento de novas técnicas, uma extração só ocorre se, de fato, outros tratamentos não derem resultado. E mesmo que seja necessário tirar o dente, o processo é mais simples e menos doloroso. Isso devido à uma magnífica invenção: a anestesia. O corretor de imóveis Adhemar Karpinski, 56, lembra que já teve muito medo de ir ao dentista, especialmente por causa das técnicas rudimentares. “Hoje o tratamento está menos doloroso e com isso perdi o medo. Fico tão relaxado que quase durmo na cadeira do dentista”. Rafaela reafirma essa mudança. As técnicas e tecnologias são melhores, o acesso ao tratamento estava cada vez mais fácil, e a procura pela prevenção é crescente. Falando em medo, Rafaela conta que os homens são mais medrosos do que as mulheres. “Eles já entram tensos no con-

sultório, mas nem sempre querem admitir que sentem medo”. E quando o paciente é uma criança? É difícil convencer o filho que uma visita ao dentista é como um passeio no parque. Principalmente quando os próprios pais morrem de medo de encará-lo. Lembra da Carla? Ela tem um filho de três anos e meio, João Paulo. Ela ainda não o levou ao consultório odontológico, mas já conversou com o filho sobre o assunto. Carla teme que João Paulo tenha o mesmo problema que ela: o medo. “Ontem mesmo falei com ele sobre a importância de escovar bem os dentes, já que não é a tarefa mais agradável dele”. A dentista Luciane M. de Barros, que está há quase vinte anos na profissão, é especialista em crianças. “Eu escolhi trabalhar com crianças logo no início da minha carreira, por perceber que em Guarapuava faltavam profissionais preparados para atendá-as”. Ao chegarmos ao seu consultório é possível perceber a decoração especial para receber os pequenos pacientes. Prateleiras com bichinhos de pelúcia, brinquedos e outros acessórios compõem o cenário. Até mesmo o jaleco branco da doutora foi substituído por uma estampa bem divertida. Luciane afirma que, na maioria dos casos os pais acabam passando uma imagem errada do dentis-

ta, e a criança já chega com receio ao consultório. “É importante que os pais passem confiança aos filhos”. Há quem acredite que as crianças não precisam tratar os dentes, por que esses dentes-de-de-leite serão substituídos futuramente por definitivos. Porém, vale lembrar, conforme ressalta Luciane, que 80% da estrutura óssea da face é determinada até os seis anos de idade, ou seja, uma visita ao dentista pode garantir que, se houver algum problema, ela seja diagnosticado no início. Luciane lembra ainda que sentir medo é normal, é uma proteção do nosso próprio corpo. Segundo ela, os pequenos pacientes que chegam com mais medo, ao final são os que mais se entregam ao tratamento. “A técnica que utilizo é para não sentir dor”. E finaliza dizendo que o sorriso é “uma chave de ouro que permite o contato com o mundo, abre caminhos e facilita a vida em sociedade. Por isso vale a pena, independente da idade, buscar tratamento para ter aquele sorriso!”. Então, acho que vale a pena deixarmos de lado o medo e as desculpas e encararmos de vez o dentista.

“Let’s put a smile on that face” “Vamos colocar um sorriso nesse rosto” Frase dita pelo Coringa (Heath Ledger) no filme Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight), de 2008.

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Clown, uma experiência vivenciada nos corredores dos hospitais Matéria: Morgana Nunes Foto: Eliane Pazuch Um corredor nos levava a uma lavanderia onde mulheres, vestidas com um jaleco azul, lavavam, com cuidado, as roupas de cama a serem usadas nos leitos dos quartos do Hospital São Vicente. Senhoras animadas para uma tarde de domingo. Escondida aos fundos de todo aquele maquinário de limpeza estava uma sala munida de alguns armários e mesas, cedendo pouco espaço para a movimentação daquela gente toda. De prontidão chegaram Sara e Cura, Maria Flor, Cotonete, Sem Nome (nome temporário da novata), Índia, Jujuba, Anjo e o Dr O+. Logo, várias cores se espalharam pela mesa. Potes, pincéis, meias e sapatos estrondosos reforçavam a aura encantada de cada componente dos Palhaços Doutores. Era ali que a transformação ocorria, cada um dispôs do próprio tempo para ouvir e levar alegria a um ambiente alvo e gélido. Ouvi dizer uma vez que amar é

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Observei que dez minutos de genuínas gargalhadas me garantiram duas horas de sono tranquilo

ter tempo para as pessoas, e era assim, no sorriso e na palavra amiga, que a mágica acontecia. O São Vicente já não seria o mesmo depois daquela tarde. O fundador do Palhaços Doutores, que prefere ser chamado de Dr O+, revela, na simplicidade, como surgiu a ideia do projeto. “Foi num domingo à tarde, quando percebi o quanto as pessoas necessitavam de poucos minutos do meu tempo livre para transformar a vida delas em momentos de descontração”. A preocupação de espírito se concretizou, e o projeto já completa quatro anos de sucesso. A médica e especialista em neurologia Luiza de Sales, nos conta que o pioneiro neste estudo foi o bioquímico Norman Cousins (1915-1990), que, no final de sua vida, recebeu o diagnóstico de uma doença que enrijece as articulações e causa muita dor. Luiza, que já foi participante em um projeto de clowns, complementa: “Cousins começou a estudar a bioquímica das emoções, fazendo observações em seu próprio corpo. Uma de suas frases clássicas é: ‘observei que dez minutos de genuínas gargalhadas me garantiram duas horas de sono tranquilo’”. Pelos corredores do hospital, percebia que aqueles personagens eram os responsáveis por quebrar a lógica das

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Palhaços Anjo, Sara e Cura e Dr O+ na ala infantil do Hospital São Vicente

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coisas. Atrás da maquiagem chamado Sorrir é Viver, Michele Mecolorida, os clowns teriam a non, afirma que, quando uma pessoa permissão de agir e chamar a se defronta com todas as direções atenção dos pacientes e profisde seu ser, a única coisa a ser feita sionais da saúde para um outro é rir do próprio ridículo, já que as foco. Os responsáveis pela visidireções têm um caráter individual, ta naquele dia eram Cotonete sendo então diferente para cada e Maria Flor, participantes do profissional que atua a favor da hugrupo há mais de um ano. Chemanização nos hospitais. “Além do garam bem dispostos, carregadomínio completo sobre a técnica, dos de brinquedos e surpresas é preciso enxergar o paciente anpara a criançada da ala hospitates da doença, o nome do pacienlar infantil. Logo, as músicas, as te antes do nome do remédio. mágicas e as brincadeiras transUm médico nem sempre atinge formaram o olhar entediante de a cura, seu principal objetivo é cada mãe e filho que estavam fazer de tudo para que a pessoa que está em tratamento viva”. ali. Edgar Bertolo Santa, versão séria para o palhaço Cotonete, E é nesse aspecto que os cloconta que, para participar, não wns acreditam: em utilizar do há uma forma certa, e que as próprio sorriso para auxíliar o visitas não têm uma finalidade tratamento médico. específica. “O dia vai passando e Continuamos percorreno nosso trabalho se desenvolve, do o Hospital São Vicente alguns aceitam nossas visitas e e, ao entrarmos em um dos outros não. Sabemos identificar o quartos, uma família inteique cada um precisa e o modo mais ra fazia companhia a um correto de fazer as pessoas rirem”. homem chamado OswalO clown é baseado na confecdo, que exibia um sorriso ção e utilização de máscaras, que contagiante por estar junestão relacionadas com as ‘direções to das pessoas que ama. do ser’, ou seja, com as distintas Quando nos viu, deu uma facetas da personalidade de cada risada, nos recebeu com um. A estudante de medicina e exsimpatia e contou uma coordenadora do projeto de clowns história. “Uma vez

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“Why so serious?” “Por que tão sério?”

me disseram que um senhor, Depois de visitarmos os vários assim como eu, estava adoleitos do Hospital São Vicente, entado em um hospital. Com entramos na parte hospitalar aparência apática e um pouco “mais gostosa”, assim definida amarelada, desanimado para por Dr. O+. O ambiente da vez a vida. Foi então que recebeu era a cozinha, o último a ser via visita de um homem super sitado naquele domingo. “E aí, alegre e conversador. Quando mulherada, vocês podem escoa visita acabou, aquele senhor lher a música que quiserem”, gritou da cama e questionou: gritou o Cotonete. E elas res‘Viu moço, estou me sentindo pondem freneticamente: “Ah, muito bem, que tipo de médico toca uma do Dominó ou do você é?’. O homem, então, sorWando. Também tem uma do riu e respondeu: ‘Não sou médiFábio Júnior que é linda!”. co, não, meu senhor, sou apenas Após os conversês, Dr O+ um palhaço’”. resolveu puxar uma versão Talvez o exemplo mais mais animada da música famoso seja o do médico Patch ‘Gostava tanto de você’, do Adams, que utilizava a inusitaTim Maia, e todo mundo da terapia do, ‘rir é o melhor reentrou no embalo. Saímos médio’. A história de vida dele é do hospital cantarolando. retratada no filme Patch Adams “Não sei porque você se - O Amor é contagioso, e serviu de foi, quantas saudades eu senti, e de tristeza vou inspiração para a estudante de psiviver, aquele adeus não cologia Carla Juliana Cavalheiro. pude dar. Você marcou “O filme é a maior referência para a minha vida, viveu, a minha atuação como Jujuba no Palhaços Doutores. É nele que me morreu na minha história...”. Foi a recompeninspiro para poder fazer algo pelos sa do dia! outros, para construir uma realidade diferente nos hospitais”.

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Frase dita pelo Coringa (Heath Ledger) no filme Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight), de 2008.

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“trampo”

“Vi uma oportunidade e fui atrás dela. E acho que fui o único que acreditou que ia dar certo” Steve Pereira

PROPOSTA IRRECUSaVEL

experiência? Essa pergunta assombra todos os jovens que buscam o primeiro emprego. Afinal, Como nos tornar irrecusáveis para o mercado de trabalho?

Matéria: Camila Syperreck Foto: Leandro Povinelli Depois de escolhermos um curso universitário e uma área de atuação com a qual mais nos identificamos, saímos em busca das vagas disponíveis e das empresas que estejam abertas a novos funcionários ou estagiários. Não há mais como negar que falar um segundo idioma, de preferência inglês ou espanhol, é necessário, apesar de a maior parte do mercado guarapuavano ainda não fazer desse quesito uma exigência. Porém, o coordenador do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná) de Guarapuava, Marcos Sergio Pereira, acredita que em três ou cinco anos, o conhecimento em inglês se tornará um requisito mínimo para conseguir vagas em empresas maiores. Já as habilidades em informática são fundamentais para quase todas as vagas disponíveis na cidade, e, com a constante informatização do comércio, essa tendência só tende a crescer e a exigir cada vez mais conhecimento na área. Saber lidar com as ferramentas mais comuns de um computador, como os editores de texto (Word e Open Office), a internet e conhecer as soluções de alguns problemas básicos, é fundamental. Segundo Pereira, atualmente a busca por bons profissionais é muito grande em Guarapuava. “Existem muitas vagas em aberto que nós não conseguimos encontrar ninguém qualificado para preencher”. Aqueles que se destacam estão sendo disputados pelas empresas, porém, para que os profissionais inexperientes sejam

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contratados, devem mostrar que têm interesse em crescer dentro da companhia. “O contratante precisa acreditar que terá um retorno do que investiu no crescimento e aprendizagem desse funcionário ou estagiário”, ressalta Marcos. Conseguindo conquistar a confiança dos colegas de trabalho e dos chefes e demonstrar ser uma pessoa ética, podem ser fatores decisivos para a passagem de estagiário ou trainee (cargo em treinamento) para funcionário. O professor doutorando em direção e administração de empresas Gilmar Duarte Ribeiro Bueno, acredita que, além do curso universitário, é interessante que o candidato esteja envolvido em algum serviço voluntário, pois isso demonstra boa índole e preocupação com o próximo, além de ser considerado por alguns empresários como uma forma de experiência. O professor afirma ainda que esse quesito pode ser o diferencial entre você e o seu adversário, fazendo com que um ou outro se sobressaia no caso de um empate técnico. Estar disponível para viagens e cursos fora da cidade (às vezes do país), é outro elemento importante quando se almeja um cargo em uma empresa com várias filiais, por exemplo, ou que tenha ligações com o comércio fora de Guarapuava. Por fim, vale ressaltar que as características pessoais mais procuradas são maturidade, assiduidade, iniciativa, responsabilidade e capacidade de trabalhar em equipe. De acordo com o coordenador do CIEE, saber trabalhar em equipe é fundamental e é um aspecto que elimina muitos candidatos com currículos invejáveis. “Ninguém quer um funcionário

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atua como coordenador de social media, e já pensa em ter o próprio negócio, mas antes pretende crescer e se desenvolver o máximo possível dentro da empresa que o contratou, adquirindo o conhecimento necessário. Já Diego Gadens dos Santos, 22, saiu de Guarapuava após concluir o curso de Ciências da Com-

“Ninguém quer um funcionário que não saiba se relacionar com os colegas e possa provocar um ambiente hostil” Marcos Sergio Pereira, coordenador do CIEE-Guarapuava.

que não saiba se relacionar com os colegas e possa provocar um ambiente hostil”. O publicitário Steve Pereira, 20 anos, deixou Guarapuava em busca de uma grande oportunidade. Ao participar de uma concorrida seleção para uma grande agência publicitária de São Paulo, na qual competiu com cerca de 800 candidatos, foi o primeiro selecionado. Além de seu conhe-

cimento na área, Steve acredita que a sua autoconfiança e a vontade de crescer fizeram com que ele conseguisse a vaga. “Vi uma oportunidade e fui atrás dela. E acho que fui o único que acreditou que ia dar certo.” Em São Paulo, o estudante conseguiu uma vaga em outra universidade e, após alguns meses de estágio, foi contratado. Atualmente, a menos de dois anos no emprego,

ter certeza absoluta de estar fazendo o que gosta, o que acredita ser importante para se dar bem no mercado. “Se eu me dedico e vou bem nos estudos é porque eu estou realmente fazendo com paixão”. Outro exemplo de alguém que obteve grandes conquistas já nas primeiras oportunidades é Gelson Onir Pasetii, 24 anos, um estudan-

“Se eu me dedico e vou bem nos estudos é porque eu estou realmente fazendo com paixão” Diego Gadens dos Santos putação para cursar o mestrado em Engenharia Elétrica com Ênfase em Engenharia da Computação, no Mackenzie, em São Paulo. O mestrando ainda não chegou a trabalhar na área, mas acredita que está preparado para enfrentar o mercado de trabalho, pois além de falar inglês, requisito básico para sua área de atuação, ele diz

te do interior do Paraná que poderia ser aceito em muitas empresas ao redor do mundo. Cursando Engenharia de Controle e Automação na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Gelson fez seu primeiro estágio obrigatório na Opel, uma fábrica de automóveis, em Hessen, Alemanha. O estudante é fluente em inglês e sabe o bá-

sico do alemão. Além disso, há vários semestres participa de grupos de pesquisa e desenvolve projetos nos laboratórios de tecnologia da universidade. Depois do estágio na Alemanha, o estudante teve uma nova oportunidade de retornar à Europa, dessa vez para fazer um intercâmbio universitário. Dessa vez, Gelson teve que participar de um processo seletivo, no qual foram analisadas suas notas, seu currículo e uma carta que teve de escrever em inglês. Ele acabou selecionado para estudar na Universidade de Budapeste, na Hungria. “Foi uma experiência muito boa também, pois pude ver como eram as universidades da Europa, viajar e enriquecer meus conhecimentos culturais”. No currículo, além de descrever sua formação acadêmica, a participação nos projetos e os conhecimentos técnicos, Gelson cita a participação no escotismo e a experiência como intercambista pelo Rotary Internacional e, tudo isso, com certeza, faz a diferença.

DEZ DICAS PARA SE SAIR BEM NA HORA DA ENTREVISTA Entendendo a busca pelo primeiro emprego como uma novidade para o jovem, o CIEE elaborou uma cartilha com dez dicas que poderão te ajudar a garantir sua vaga:

- Autoconfiança. - Boa aparência. - Calma. - Comunicação. - Conhecer a empresa. - Ética. - Marketing pessoal. - Pontualidade. - Postura. - Pró-atividade.

“I’m gonna make him an offer he can’t refuse” “Eu vou fazer a ele uma proposta irrecusável” Frase dita por Don Vito Corleone (Marlon Brando), em O Poderoso Chefão (The Godfather), de 1972.

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Que a

força

esteja com

você

O que dizem? A opinião do publicitário Felipe Larocca é uma ótima demonstração do sentimento causado pela falta de energia elétrica. “Ficar algumas horas sem eletricidade por conta de um apagão ou algum outro problema é tranquilo, porque a gente sabe que logo a energia vai voltar, mas pensar em uma falta permanente chega a ser assustador”. Não somente assustadora, mas a situação seria bastante complicada em diversos setores, principalmente no financeiro. A economista e administradora Mariana Thaís, analisando a hipótese da falta permanente de energia, diz que Guarapuava não aguentaria ficar um mês. “Você já imaginou uma cidade em que

Nada mais cômodo do que chegar em casa, acender a luz, procurar alguma bebida na geladeira e relaxar na poltrona enquanto assiste a algum programa na televisão, refrescado por um ar-condicionado ou um ventilador. Com todas as evoluções tecnológicas e facilidades provenientes da energia elétrica, um consenso praticamente incontestável é de que as populações não conseguiriam sobreviver sem o uso da eletricidade. Mas, e se a energia elétrica deixasse de existir, hoje, em Guarapuava? O que aconteceria com a cidade e com a população? Qual seria o impacto econômico e do que as pessoas mais sentiriam falta? De acordo com as informações do site da Força e Luz do

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Oeste, a companhia leva energia a mais de 50 mil pontos em Guarapuava, que consomem cerca de 40 mil MWh (Megawatts por hora). O preço para manter a cidade ‘ligada’ e ‘funcionando’ durante todos os dias não foi informado pela empresa, mas fica fácil perceber que o gasto não deve ser baixo. Ao mesmo tempo em que a manutenção elétrica de uma cidade do porte de Guarapuava não é barata, a falência nos sistemas de energia causaria muito mais prejuízos, não somente às empresas ou indústrias, mas para todas as residências e seus moradores. Os danos seriam assombrosos e, pouco tempo após o blecaute eterno, as pessoas teriam de escolher: mudar para outro lugar ou tentar viver sem energia e todas as facilidades que ela nos traz.

rados. “Criar essas hipóteses é um exercício interessante ao cérebro, mas é praticamente impossível que isso aconteça. Claro que um desastre como o de Chernobyl destrói uma cidade, mas são situações bastante isoladas, além de ser uma realidade bastante diferente se comparada a Guarapuava”.

Fuja do lado negro Como pudemos perceber, a falta permanente da energia elétrica apagaria uma cidade inteira do mapa facilmente e em muito pouco tempo. Seria necessário fazer uma migração forçada para as cidades vizinhas que ainda possuíssem tal bem de consumo que, mesmo sendo caro, ainda é tão necessário à vida das pessoas.

Você já imaginou uma cidade em que nada funciona? Seria um caos.

E se a energia elétrica de Guarapuava acabasse hoje, para sempre?

Matéria: Leandro Povinelli

tomografia computadorizada ou uma ressonância magnética, por exemplo, ficariam sem os exames. Os elevadores não funcionariam mais, deixando as pessoas com dificuldades para andar com uma mobilidade muito mais debilitada. Isso sem contar os materiais sem esterilização e a falta de refrigeração de alguns medicamentos”. E, falando em saúde, teríamos diversos prejuízos, também, na alimentação, como explica a nutricionista Roseli Patucci. “Os alimentos perecíveis começariam a apodrecer nos supermercados e nas casas das pessoas. As geladeiras não funcionariam e os produtos estragariam rapidamente. Seria necessário buscar alimentos saudáveis em outras cidades, mas, como nem todos

Lars Sundstrom (Suécia) @RoyaltyFree

Asif Akbar (Índia) @RoyaltyFree

blackout

nada funciona? Fábricas, supermercados, hospitais, colégios, faculdades, semáforos, internet, televisão... Nada disso teria utilidade em uma cidade sem energia. Seria um caos. Não existiria a troca comercial, as pessoas ficariam todas desempregadas, a segurança seria mínima, enfim, o prejuízo é inimaginável”. Para a médica Gabriela Secundo, mesmo com os hospitais possuindo geradores, o estrago seria enorme. “Uma hora a energia de emergência acaba, não é? E aí começariam os problemas. Os pacientes da UTI não aguentariam e morreriam logo. Aqueles que precisassem de uma

poderiam fazer isso, a população seria muito prejudicada com contaminações e infecções alimentares, isso sem contar os que passariam fome”. Jorge Maricato, formado em Ciências da Computação, não gosta nem um pouco de pensar sobre o assunto da falta de energia. “O meu trabalho é dependente de computadores, bem como boa parte do meu lazer. Não consigo mais ficar sem eletricidade, preciso de várias tomadas funcionando para ser feliz”. O engenheiro elétrico Diogo Figueiredo, no entanto, chega para acalmar os mais desespe-

Afinal, se não tivéssemos a energia elétrica por aqui, as faculdades e o ensino não existiriam, bem como este jornal, que jamais poderia ser impresso. Consequentemente, você não poderia ler esta matéria, porque ela nem seria digitada. As reflexões são inúmeras, mas a veredicto é um só: o ser humano não consegue mais sobreviver sem a eletricidade e, mesmo sabendo que essa situação provavelmente nunca acontecerá, é importante sermos conscientes. Economize energia elétrica para que a força esteja sempre com você.

“May the Force be with you” “Que a força esteja com você” Frase dita por Han Solo (Harrison Ford) em Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança (Star Wars Episode IV: A New Hope), de 1977.

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Arquivo pessoal

romantismo

A melhor maneira de esquecer uma mulher é transformá-la em

ser liberto das regras formais da poesia permitindo que a inspiração norteie a própria escrita.

a r u t a er Felipe Maia

De bigode fino e escuro, o poeta Felipe Maia mais parece um astro de físico mirrado da folk music inglesa, embora sua voz seja doce e quase silenciosa, quase como a de um lírico do século 18. Ah, o Romantismo dos séculos de outrora... Com resquícios da natureza romântica, o acadêmico de letras da Unicentro, transporta para o da escrita os detalhes sensíveis das relações existentes entre a vida, poesia e arte: “Vemos as coisas que sentimos e não o que realmente é”. Curiosamente sob o mesmo físico magro de astro folk dos anos 50, Kaio Miotti define o romantismo na escrita como um momento de contemplação “da dor, do amor, das impossibilidades”.

a pura existência não é direito do indivíduo”, explica a historiadora Meg Dias. Com o advento das máquinas, jovens literatos europeus voltaram-se à percepção do interior exaltando o sentimento em contrariedade ao concreto das novas relações sociais. Curvaram-se ao ambiente bucólico das paixões desfrutadas em grandes campos, às dores dos desencontros, “à busca constante do ausente”, caracteriza Miotti. Quebrando as correntes clássicas, o movimento romântico suscitou numa revolução completa na criação literária da época. “(...) o poeta se tornou um gênio criador”, afirma o Doutor em Ciências Lingüísticas pela UFRJ e professor de Literatura da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Antônio Henriques Gançalves Cunha. Trata-se do abandono ao normativismo, isto é, o autor torna-se um

Kaio Mioti

Matéria: Keissy Carvelli Foto: Luiz Carlos Knüppel Jr.

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À

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sto Iluminar um novo ro ta Cadenciar uma serena has E, em janela de mocin as alh to Estampar umas Enfim, rpura Deve surgir na luz pú afem Pra que tecidos não ab esquinas. Gemidos quentes pelas Eu pensava nas rosas,

dida Pra despe sas Velas e ro ta vida o cabe nes ã n já m e qu

É a velha br sempre en iga de tre aquilo que está v incula ao problem do a comportam do natural e a ento proposta de fazer u ma cultura adequada ao nosso tempo”

O mal do século O subjetivismo das relações do homem com o mundo foi colocado em primeiro plano pelos poetas em meados do século 18 na Europa da Revolução Industrial. Enquanto corrente literária, o Romantismo configura-se a partir de características como o exagero do eu romântico, o sofrimento diante das impossibilidades do amor, e a exaltação do sentimento que visa o ideal. Historicamente, os primeiros relatos do Romantismo na Europa no final do século 18 surgem como efeitos de um processo que culminou na Revolução Industrial de 1840. “Foi a revolta, a crise diante da mudança nas formas de organização de uma sociedade em que

Ode ao amor

Maria...

s, (Eu pensava nas rosa de Kaio Miotti)

Tu és um a bela gar tens o ma ota, is deslum brante sor e possuis riso ainda um a idealizaç quem sab ão, e por inco nsciência. E eu, pob re escrav nem um p o do desejo, ouco b mas arden elo, te, não tenho nada a te o fere alguns ver sos incom cer, senão preensíve embora tr is, agicamen te belos (A Matem ática do a mor, de Felipe Maia)

ação o cor s e c a aletó, aletó, No p , branco p os a tal c Mas os be ro d r a t nd an No c a do mala n i s

Filhos da Revolução Tecnológica, que também culminou numa mudança entre as relações dos indivíduos em sociedade, os poetas de 20 e poucos anos transitam entre a busca pelo bucolismo perdido nos séculos anteriores e a racionalidade. “Todo poeta é meio assim, vê beleza na própria impossibilidade, alguns amavam a impossibilidade. Talvez venha daí todo nosso mal”, reflete Maia, hiperbólico. Reescrever o Romantismo partindo de novas realidades, para Cunha, não promove a evolução cultural necessária ao desenvolvimento humano. “Eu não vejo nada de novo na poesia. Para mim a narrativa já adoeceu há muito tempo”. Embora configure tal dificuldade à própria condição cíclica humana, “os sentimentos são os mesmos, mas as formas de expressão podem ser experimentadas”. Quase três séculos após a consolidação do movimento romântico, ainda é possível perceber em novos poetas os resquícios do sujeito sentimental daqueles tempos. “É a velha briga de sempre entre aquilo que está vinculado ao problema do comportamento natural e a proposta de fazer uma cultura adequada ao nosso tempo”, defende Cunha. A problemática do amor e do subjetivismo está intrínseca ao nosso tempo. “Viníciuis de Morais, por exemplo, é talvez o último grande poeta romântico brasileiro e, no entanto, entendo-o como extremamente atrasado”.

“Foi injusto! Foi injusto! Foi injusto, meu amor!” – da janela quebrada do edifício, , um homem chora aos berros o iad apo e, ent dam desespera em forma de cruz – “Multidão nenhuma estava entre nós! Você é minha! Só minha!” “a tua carne ainda cheira no meu corpo!” – deu o último grito, como um suspiro. (Assalto na 15, Kaio Miotti)

sÓ, A CONTEMPLAR Tipicamente poeta e romântico, Miotti não deixa escapar objetividades. A fala é quase metafórica, quase retórica. Pensa a poesia como quem pensa no amor, sem a preocupação de se prender a certa tendência ou descaracterizar outra. “Escrever sobre o amor é como colocar uma lente bem próxima dos olhos. Eu trago para perto para entender e redescobrir os caminhos que culminaram naquele momento”. Românticos do novo tempo ainda buscam a ausência, a intensidade, o exagero do eu. Todavia não gozam mais de toda a ingenuidade daqueles tempos. Embora a figura do amor ainda seja a causa da alegria e da tristeza, a idealização não se mantém invicta diante das possibilidades reais de aproximação do desejado e das novas descobertas, dos novos amores, como conclui Miotti: “Não existe a pretensão da continuidade, do eterno, para sempre, e o poeta entende isso e não exige nada”.

poeta... Sabe, o soa está só em pes o poeta Miotti. mplar! te n o c a

“The best way to get over a woman is to turn her into literature” “A melhor maneira de esquecer uma mulher é transformá-la em literatura” Dita por McKenzie (Geoffrey Arend), em 500 Dias Com Ela (500 Days of Summer), de 2009.

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super-herói

Com grandes poderes,

vêm grandes responsabilidades Arriscar a própria vida para salvar a nossa. Esse é o cotidiano dos bombeiros, que, diariamente, enfrentam perigos com o dever de salvar pessoas. Geraldo Duarte da Silva Junior, mais conhecido como Cabo Duarte, dedicou 15 dos seus 43 anos a ser herói, mesmo que ele não queria ser um.

Matéria: Luiz Carlos Knüpel Foto: Keissy Carvelli ÁGORA - Qual o maior perigo que você já enfrentou? CABO DUARTE - Foi como Guarda Vidas, trabalhando no litoral, em um salvamento no qual o mar estava revolto. Nós fomos, literalmente, arrastados uns 500 metros, mas, graças a Deus, conseguimos salvar aquelas pessoas, um pai e sua filha.

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ÁGORA - De acordo com pesquisas, os bombeiros detêm a maior confiabilidade da sociedade, como você se sente em relação a isso? CABO DUARTE - É muito gratificante, porque é um sentimento de dever cumprido. Quando você sai para atender a uma ocorrência, você sai para enfrentar um perigo. É nosso dever, nossa responsabilidade,

e ficamos felizes em ver que nosso trabalho é bem visto. ÁGORA - Nessa profissão, muitas vezes, vocês se deparam com situações em que pessoas correm o risco de morrer. Como é ter essa responsabilidade de salvar vidas? CABO DUARTE - Eu acredito muito que você deva entregar

o seu dia a Deus, pedindo que o Espírito Santo garanta seu dia livre dos perigos, mas, se você tiver que enfrentar essas situações, que as faça com responsabilidade, tomando todos os cuidados possíveis. ÁGORA - Dentro do corpo de bombeiros, além da responsabilidade com a vítima, cada um de vocês é responsável, também, pelo

colega de serviço. Como funciona esse processo? CABO DUARTE – Por meio de várias técnicas que desenvolvemos em treinamento, nós aprendemos que, além de cuidar da vítima, você cuida do seu companheiro. Mas, isso ocorre mesmo com o tempo e com a experiência. ÁGORA - Muitas pessoas consideram os bombeiros como heróis, você se considera assim também? CABO DUARTE – [risos] Não somos heróis, não! Deus nos capacita para ser bombeiros e a gente faz o melhor que pode. Mas estamos longe de ser heróis. ÁGORA - No filme Homem-Aranha, a frase “Com grandes poderes vêm grandes

responsabilidades” é dita à Peter Parker, antes dele iniciar a trajetória DE superherói. Você, como bombeiro, também se considera mais responsável por ter o poder e o dever de agir em áreas de risco? CABO DUARTE - Com certeza, principalmente quando você está de serviço na ambulância, onde tem que lidar diretamente com pessoas em risco. Mas, você tem que ter responsabilidade, porque, a partir do momento em que entra aqui, você tem que estar preparado para tudo. E quando eu digo tudo, é tudo mesmo. Nunca vou me esquecer de uma situação em que tive de realizar massagem cardíaca num bebezinho de dois meses. Não é uma experiência agradável e nem fácil, mas você tem de estar sempre pronto para isso.

“Quando você sai para atender a uma ocorrência, você sai para enfrentar um perigo. É nosso dever, nossa responsabilidade, e ficamos felizes em ver que nosso trabalho é bem visto”

‘‘

“With great power, comes great responsibility” “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades” Frase dita por Tio Ben (Cliff Robertson) no filme Homem-Aranha (Spiderman), de 2002.

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na contra capa

Que a força esteja com você Como seria Guarapuava se não houvesse mais energia elétrica? P. 14-15.

Robert Linder (Estados Unidos) @RoyaltyFree

Ágora


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