Revista Ágora 2011 - Edição 02

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eu sei quando parar Guarapuava - mai/2011 - Ed 2 . Ano 07

revista

Ă gora

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editorial

índice

Meu bem, meu mal É como se você precisasse daquilo para (sobre)viver. Algumas horas sem e o organismo dá sinais do trágico estado de abstinência.

comportamento

kitnet kitnet tecnologia cotidiano Miró - El bello pájaro descifrando lo desconocido a una pareja de enamorados

cultura trampo RG eu que fiz expediente

I want it all, and i want it now nem só de gororoba vive um universtitário aluga-se a cultura do gato intestino: o segundo cérebro o uivo de um poeta o primeiro passo da jornada movimento hip hop quem imita a vida é a arte equipe ágora

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Vício. Alertas físicos e psicológicos surgem para quem é obcecado por café ou chocolate, por exemplo. Nesta edição, você conhece o universo dos alimentos viciantes – e as consequências do consumo excessivo. Se você for desatento, hiperativo e/ ou impulsivo, pode estar sofrendo de um transtorno chamado DDA (Distúrbio de Déficit de Atenção). Ou, quem sabe, conhece alguém que está sempre em outro planeta e faz mil atividades ao mesmo tempo. Tudo agora. A reportagem sobre o primeiro currículo, por sua vez, esclarece as dúvidas de quem está iniciando a caminhada profissional, e dá dicas valiosas. Esta edição do Ágora também retrata a ‘cultura do gato’ em sistemas de TV e internet. Se você é um cidadão do mundo, saiba boas regras de convivência para repúblicas. E, se não tem uma relação amigável com o fogão, aprenda a cozinhar. E ainda viaje no tempo com a poesia do movimento beatnik. Boa leitura!


COMPORTAMENTO

Eu quero tudo, e eu quero agora: o trecho da música do QUeen representa bem o comportamento de pessoas que possuem DDA (Distúrbio de Déficit de

I want it all , and I want it now

Atenção)

Desde que entrei na casa número 53 da rua Afonso Pena, Tiago* permaneceu sentado por no máximo dois minutos. Ainda assim, não estava necessariamente quieto: fazia barulhos e se movimentava freneticamente. Enquanto sua mãe tentou conversar, o garoto de sete anos mexeu no gravador, assustou o irmão menor e os bichos de estimação, andou de bicicleta, tomou refrigerante, correu alguns minutos e fez outras coisas que não consegui acompanhar. É como se ele agisse duas vezes antes de pensar. Para quem conhece Tiago, a avalanche de ações praticadas em pouco tempo é trivial para o anoitecer de sexta-feira. Matéria: Gabriela Titon Diagramação: Yarê Protzek

Infância Juliana* percebeu que tinha motivos para se preocupar com o filho Tiago quando surgiram as primeiras reclamações da escola. Dois anos após a descoberta, o acompanhamento psicológico semanal apresenta resultados. Hoje, o menino que vomitava depois das refeições por não conseguir comer quieto, senta à mesa para almoçar. O colégio é um dos grandes problemas, tanto que Tiago não aprendeu a ler na série ideal devido à falta de concentração em um assunto específico. “Ele é inteligente. Se uma atividade está errada, ele mesmo acha o erro. Aprende fácil. Mas essa inquietação atrapalha. Além de tirar a

própria atenção, tira a atenção dos outros”, relata Juliana. A mãe conta que as professoras trabalham de forma diferenciada com Tiago. “Ele responde uma pergunta e vai fazer outra coisa para depois voltar. Um exercício que levaria meia hora, ele faz em duas”. No início, manter a paciência e a serenidade era uma tarefa difícil para Juliana. Hoje, aprendeu a ter calma e controlar melhor os impulsos do filho. A dificuldade para ter amigos também preocupa. “Talvez os colegas tenham medo da agitação e se distanciem. Mas ele não faz de propósito”. O distanciamento e o preconceito atrapalham ain-

Foto: Gabriela Titon

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onceito e o prec ciamento iverso de un o s i O distan ma ham ainda l apa r úrbio at om o dist c e r quem sof

da mais o universo de quem sofre com o distúrbio. A falta de conhecimento sobre o transtorno gera incompreensão e comentários dolorosos como “não vá brincar com ele”, frase já presenciada por Juliana. “Quem é mãe, sabe quando o filho não é aceito. Ele também sente a rejeição”. No livro Mentes Inquietas, a autora Ana Beatriz Barbosa Silva, especialista em Medicina do Comportamento, comenta sobre as crianças que enfrentam a situação: “[A criança com DDA] reage irrefletidamente à maioria dos estímulos que se apresentam. Não porque seja mal-educada, imatura ou pouco dotada intelectualmente. Isso se deve ao fato de a pessoa com DDA apresentar

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a área cerebral responsável pelo controle dos impulsos e filtragem de estímulos - córtex pré-frontal - não tão eficiente. Há um substrato orgânico determinando essa característica. A diferença para uma criança simplesmente mal-educada é que a criança com DDA sente que isso acarreta prejuízos e reprimendas”. O comportamento de Tiago é justamente esse: agir impulsivamente e depois condenar a si mesmo. Apesar dos obstáculos, é uma criança carinhosa, prestativa e gosta de ler – mesmo que poucas páginas de cada vez. “Ele não mede esforços para ajudar. Também escreve bilhetinhos para a família, com frases como “você é o melhor pai do mundo”, e “mãe, te amo”.

Foto: Helena Krüger

Foto: Gabriela Titon

Vida Adulta Aos 22 anos, Bruna* é o clássico exemplo de alguém que vive em outro planeta. “Na aula, vejo as palavras no quadro, escuto o professor falar, mas tem outras mil coisas passando na minha cabeça. Às vezes leio uma página e quando chego ao final percebo que pensei em outros assuntos e ali são só letrinhas”. Falando rápido e movimentando as mãos, a acadêmica conta que tem inúmeros planos, mas consegue finalizar poucos. Essa é uma característica típica do DDA: deixar os projetos pela metade, ou nem ao menos começá-los. “Quero fazer tudo rápido, tudo na mesma hora, e acabo não fazendo nada. Penso em muitas coisas, mas de repente já esqueci que ia fazer aquilo, estou em outro pensamento, e me dou conta que não saí do lugar”. Quando inicia uma atividade interessante, ela está empolgada. Mas, duas semanas depois, acha que aquilo é insuportável e desiste. Tédio e impulsividade: esses sentimentos explicam o fato de ela já ter abandonado cursos como inglês, informática e pré-vestibular. Também já largou a faculdade de Biologia, mas pretende terminar a atual graduação de História. Hoje, faz aulas de costura, o que tem ajudado a elevar o nível de paciência. “Não consigo terminar as coisas porque quero que elas terminem logo”. Fato comprovado pelos inúmeros livros que começou a ler, mas nunca concluiu.

Ao se deparar com um problema, Bruna se desespera. Ela pensa que não tem capacidade para resolver a situação e, consequentemente, acredita que o mundo vai acabar. Além do DDA, ela também apresenta quadros de depressão e mudanças repentinas de humor. O jeito explosivo e teimoso foi herdado da mãe: “Nosso gênio é muito parecido, e por isso surgem algumas brigas”. Desde a infância, ela enfrenta problemas familiares como a separação dos pais, processo que presenciou aos quatro anos de idade. A ausência do pai durante a adolescência foi outro fator agravante. Bruna enjoa não só de planos, como também de relacionamentos. “Quando era menor, não conseguia conviver durante muito tempo com as pessoas. Tinha vários amigos passageiros. Hoje, tento fazer algo para manter quem gosto próximo de mim. Também tento pensar melhor no que estou fazendo e me esforçar para obter um bom resultado”. Outras atitudes comuns em um DDA são: responder a uma pergunta antes de ela ter sido finalizada, não conseguir esperar em filas, perder objetos importantes, esquecer compromissos, trocar de trabalho repetidamente e até mesmo desmanchar muitos casamentos. É como se a pessoa não se adaptasse às regras estabelecidas, vivendo num eterno descompasso.

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Foto: Gabriela Titon

Personalidade inquieta quando um DDA se depara com um assunto estimulante em um livro, por exemplo, consegue ler 15 páginas de uma só vez, ao invés de duas.

Embora diferentes siglas sejam utilizadas para definir o déficit de atenção, o transtorno possui características universais: hiperatividade (física e/ou mental), distração e impulsividade. Outro nome usado é TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). A origem do problema está relacionada à genética. Se o pai é DDA, há mais chances de o filho também ser. Causas como traumatismos no nascimento, utilização de drogas na gestação e conflitos familiares ainda demandam melhores investigações. A explicação científica é que há uma disfunção no córtex cerebral direito (parte frontal do cérebro) dessas pessoas; e o fluxo sanguíneo da área é menor. Quando um DDA tenta se concentrar, a atividade dessa região diminui, ao invés de aumentar. Existe, na verdade, uma incons-

tância na atenção, e não um déficit: quando um DDA se depara com um assunto estimulante em um livro, por exemplo, consegue ler 15 páginas de uma só vez, ao invés de duas. Mesmo possuindo alguns dos sintomas, para realizar o diagnóstico é necessário observar com que frequência e intensidade eles se manifestam; e se estão prejudicando as atividades cotidianas. O tratamento inclui medicamentos que estimulam as substâncias em desequilíbrio no cérebro a funcionar melhor. O acompanhamento psicológico por meio da psicoterapia, chamada de cognitivo-comportamental, também é de suma importância. Profissionais como neurologistas, psicopedagogos e fonoaudiólogos podem auxiliar no processo. Entretanto, não há cura para o transtorno; o que se busca é amenizar os sintomas.

Ajuda Segundo a psicóloga e psicopedagoga Egleide Montarroyos de Melo, um dos principais pontos trabalhados na psicoterapia é a auto-estima. “Uma pessoa com DDA é estigmatizada. Muitas vezes, a imagem dela é denegrida e ela se torna frustrada, gerando problemas de auto-estima”. Em contrapartida, o espírito de liderança pode ser mais aguçado. “Esse tipo de pessoa tem uma mente tão fantástica, que leva uma legião junto”. Egleide explica que é necessário canalizar a energia em ações positivas, como a prática de esportes. Caso contrário, a tendência é buscar conforto em drogas que tranquilizem a sensação de mal-estar. O apoio de quem convive com o paciente também é fundamental. “Você vai conseguir fazer com que uma pessoa TDAH tenha um desenvolvimento melhor se acompanhá-la e valorizá-la”. *Os nomes foram modificados para preservar a identidade dos pacientes.

Arte: Gabriela Titon

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kitnet

Cozinhar, para alguns, é uma arte. Já para aqueles que não sabem, pode ser um martírio

Matéria: Yarê Protzek Diagramação: Helena Krüger

Nem só de gororoba vive um universitário

Hora do almoço, o estômago pedindo por um rango gostoso e você sem ideia do que fazer para comer. Ou pior, você não sabe cozinhar e depende daquele velho companheiro: o macarrão instantâneo. Mas tudo tem um limite. E, apesar dos vários sabores oferecidos, chega um momento em que você não aguenta mais comer o tão famoso miojo. É quando muita gente pensa: “preciso urgentemente aprender a cozinhar!” Gostando ou não, será necessário colocar a mão na massa. Quem gosta dessa arte geralmente aprende quando é mais novo, outros só resolvem fazer a sua própria refeição

quando não tem nada pronto e ninguém que possa fazer. Muitos universitários saem de suas cidades para estudar e passam um sufoco na hora de se alimentar por não saberem preparar nada. Até mesmo quem mora com os pais, em algum momento, vai ter que aprender a se virar na cozinha. João Paulo Lukavy, estudante de farmácia, notou que precisava aprender a pilotar um fogão depois que mudou para Guarapuava. Ele comenta que quando foi morar fora não sabia fazer nada, já que nunca tinha cozinhado e teve que aprender sozinho. “Quando eu ia para casa, observava minha mãe fazendo comida,

assim fui aprendendo a fazer coisas simples como cachorro quente, arroz, etc.”. Depois de um ano morando sozinho, João Paulo começou a fazer as próprias refeições. Hoje ele comenta que, entre as tarefas de casa, essa é a a preferida. “Aprendi a fazer alguns pratos e agora adoro cozinhar, mas limpar a bagunça do almoço não é comigo”, afirma o estudante. Entre as receitas preferidas está o seu próprio virado adaptado de feijão, no qual ele frita o bacon, a cebola e coloca feijão, depois dá uma misturada e acrescenta um pouco de farinha de milho. “Fica bom. Pelo menos eu gosto!”.

Foto: Helena Krüger

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Aprendi a fazer alguns pratos e agora adoro cozinhar, mas limpar a bagunça do almoço não é comigo

Para preparar o creme do pavê, é só misturar o leite condensado, o leite e o amido de milho, cozinhando até engrossar. Isso demora cerca de cinco minutos. Depois, acrescente o creme de leite sem o soro. O pavê tem cinco camadas: a primeira com o creme branco, a segunda com abacaxi, a terceira com a maçã,

a quarta com o coco em flocos e por último o chantilly. Essa receita demora mais do que o arroz com açafrão, mas pra quem quiser sair da rotina do tradicional brigadeiro para a sobremesa, é uma ótima pedida. E se você quer algo fácil, rápido, tem limão e uma lata de leite condensado, anote essa

ger

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Helen Foto:

Bon Appétit! Preparar uma comida rápida e saborosa é a vontade de todos, ainda mais quando se está com muita fome. O problema é: o que fazer? Aymari Azevedo Ramos, cozinheira de um restaurante de Guarapuava, sugeriu uma receita bem fácil e gostosa para o almoço ou jantar: o arroz com açafrão. A receita é simples. Os ingredientes são os seguintes:

- 300 gramas peito de frango cortado em cubos ou coxa sobre coxa (temperado com sal, alho e pimenta); - três colheres de óleo; - duas colheres (de sopa) de açafrão; - três xícaras de arroz; - uma cebola; - uma lata de milho; - sal a gosto.

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Preparar esse prato é bem fácil, basta fritar o frango temperado no óleo até secar toda a água. Em seguida, adicione o açafrão e a cebola picada e deixe fritar mais um pouco. Depois, é só despejar o arroz lavado, o milho e colocar água até que a quantidade de arroz da panela seja coberta. Aí é só adicionar o tanto de sal desejado. O arroz com açafrão demora cera de 40 minutos para ficar pronto. Quem gosta de cheiro verde pode picar uma pequena quantidade e colocar em cima depois de pronto. Os ingredientes dessa receita são fáceis de encontrar e não são caros. O açafrão, para quem não sabe, é um tempero de cor amarela, com sabor bem intenso e agradável, usado principalmente para temperar risotos, massas e peixes.

Depois de um super almoço ou jantar feito por você mesmo (que orgulho!), às vezes, dá aquela vontade de adoçar a boca. Pensando nisso, Aymari também passou uma receita de pavê. Ele é um pouco mais complicado do que o arroz com açafrão, mas vale a pena tentar. Para o pavê você vai precisar:

- uma lata de leite condensado; - a mesma medida de leite; - uma lata de creme de leite; - uma colher (de sopa) de amido de milho bem cheia; - uma lata de abacaxi picado (ou pêssego, se preferir) - uma maçã picada; - um pacote de coco em flocos; - um pacote pequeno de suspiro; - chantilly para decorar.

A receita é simples, você vai precisar de: - 300 gramas peito de frang o cortado em cubos ou coxa sobre coxa (temperado com sal, alho e pimenta); - três colheres de óleo; - duas colheres (de sopa) de açafrão; - três xícaras de arroz; - uma cebola; - uma lata de milho; - sal a gosto.

Larica universitária

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Pensando em pratos fáceis para universitários, o estudante de fisioteria Leandro Barrionuevo resolveu criar um blog com receitas: o Larica Universitária. Ele comenta que o blogue surgiu de uma ideia simples. “Eu sempre gostei de fazer alguma coisa na cozinha... É como um hobby. Você vai ali, esquece dos problemas, se diverte e ainda tem o prazer de comer”. O site está no ar desde novembro de 2009 e Leandro conta

Fotos: Bárbara Brandão

Arroz com Açafrão

dica: misture o suco do limão com um pouco de leite condensado e coloque no freezer por uns dez minutos, depois é só comer. É mais calórico, porém, é uma ‘receita’ fácil e perfeita para aquele dia em que você está com vontade de comer doce, mas, ao mesmo tempo, com preguiça de ir ao mercado.

com a ajuda da namorada e de um amigo para postar as receitas. Os pratos, todos feitos pelo estudante antes de serem postados, são simples. “Tento manter um estilo no blogue, é fácil de notar. Receitas baratas, fáceis e gostosas. E é esse estilo que eu gosto. Nada de gourmet ou comida chique. Ali tem macarrão com salsicha, pizza de pão, omelete e assim vai”. Para conhecer mais as receitas é só acessar: www.laricauniversitaria.com

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KITNET

DICAS DE CONVIVÊNCIA PARA QUEM SE ARRISCA A MORAR EM REPÚBLICAS UNIVERSITÁRIAS

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Foto: Gabriela Titon

aluga

Matéria: Bárbara Brandão

Durmo em quarto separado, acho que dividir significaria perder muito da minha privacidade

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A busca pelo futuro profissional de sucesso tem mudado o perfil dos jovens de hoje. Cada vez mais eles têm saído da casa dos pais para fazer faculdade em outras cidades. Morar em um local que, na maioria das vezes, não é um ambiente conhecido promove mudanças inesperadas ao jovem: novas obrigações e convívio com pessoas diferentes. Para diminuir os gastos dos pais, que quase sempre arcam com as despesas, alguns universitários procuram outras pessoas com as quais possam dividir moradia e as contas, criando as chamadas repúblicas universitárias. Entretanto, esse convívio diário nem sempre é fácil. Logo no início, é aconselhável uma conversa com todos os moradores a respeito das condições do ambiente que eles irão dividir juntos. No momento de mobiliar a nova moradia, se cada um trouxer da casa antiga aqueles móveis que não estão sendo usados, não será necessário adquirir novos. Importante lembrar que não é porque o sofá não é seu que você não deve ter cuidado com ele. Todos ali estão dividindo o que

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Outro grande motivo de confusões é a alimentação. Nem todos os jovens que saem das casas dos pais sabem cozinhar, principalmente os garotos. Se alguém da república souber, você sai no lucro e juntos podem dividir: uma pessoa cozinha, outra lava e por ai em diante. No entanto, se o máximo que cozinham é macarrão instantâneo, restaurante universitário ou lanchonetes com preços amigáveis em torno da universidade podem ser uma boa pedida. Vânia alerta outro ponto. “Ano passado, o almoço em casa era coletivo. Agora, devido aos horários não serem compatíveis, cada uma prepara o seu”. Para o consumo individual, guardar alimentos com nome ou separados por localização na geladeira pode evitar um ‘sumiço’ daquela bolacha que você tanto adora. Comer o que é do amigo sem permissão ou repor logo depois? Nunca. Sujou a louça, lave logo em seguida para evitar problemas. É bastante comum repúblicas não darem certo. Afinal, são pessoas com educação e valores diferentes tentando conviver em um mesmo ambiente. Se não der certo, procure outras pessoas. Tente novamente, basta seguir essas dicas e ter paciência: sempre é possível encontrar um local em que você se adapte. “Viver em república é uma experiência muito legal, porque é como uma segunda família. Um ajuda o outro e se torna mais fácil a vida fora de casa”.

Fotos: Gabriela Titon

Fotos: Gabriela Titon

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têm, por isso deve haver cooperação. Dividir o quarto com outra pessoa também é comum em repúblicas, mas não são todos que estão dispostos a isso, como afirma a estudante de nutrição Vânia Schmitt. “Durmo em quarto separado, acho que dividir significaria perder muito da minha privacidade. Conheço várias pessoas que dividiram e tiveram problemas”. A faculdade traz um turbilhão de sentimentos novos, mas é preciso ter consciência dos seus deveres. Festas universitárias acontecem quase todos os dias, mas cuidado: nada de gastar o dinheiro das contas nelas ou pegar emprestado do amigo. É necessário ser responsável e entender o que você pode ou não fazer. As tarefas domésticas podem ser separadas por meio de rodízio: cada dia da semana, uma pessoa fica responsável por realizar algo. Uma tabela com essa descrição pode ajudar. O ideal é pregá-la em local visível como sinal de alerta aos desavisados, evitando desculpas esfarrapadas. O universitário Emerson Porfida confirma: “As atividades domésticas lá em casa são divididas em teoria, mas geralmente não cumprimos o combinado. No final, sempre alguém assume a bronca e arruma as coisas.” O bom papo precisa ser constante nos momentos de economia. Nada de ficar horas no telefone, porque outras pessoas talvez também queiram utilizá-lo. O mesmo vale para os banhos demorados, computador coletivo e televisão alta. É bom lembrar que você não é o único na casa.

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TECNOLOGIA

A CULTURA DO GATO O velho jeitinho brasileiro de conseguir driblar as altas taxas cobradas por serviรงos de TV por assinatura e internet

Foto: Luciana Grande

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Pagamos uma velocidade maior por um preço razoável. Repartindo a mensalidade, quase não pesa no orçamento da família.

Matéria: Ellen Rebello Diagramação: Luciana Grande

Não é de hoje que muitos brasileiros utilizam clandestinamente os sinais de TV por assinatura e internet. Essa prática vem se tornando cada vez mais comum. Equipamentos que roubam a transmissão são comercializados a preços acessíveis, tornando ainda mais frequente o uso ilegal que proporciona o acesso a esses serviços. Hoje em dia, existem dois tipos de ‘gato’: aquele em que se rouba o sinal direto de um poste ou por meio de um aparelho; e aquele em que se paga por apenas um ponto e são utilizados dois, três, ou até mais pontos. A TV por assinatura, um dos serviços mais caros do segmento, vem sendo substituída por um aparelho similar que consegue capturar o sinal pago e transmitir através de uma atualização simples, disponibilizada pela internet. A bancária Andreia Masetti, uma ex-adepta dessa modalidade, acredita que o serviço gratuito foi uma estratégia de conquistar

mais clientes: “Tínhamos acesso a todos os canais, a qualquer hora, por um preço baixo. Pagamos em torno de R$ 400 no aparelho, o que equivale a três ou quatro meses de pagamento da TV por assinatura, e que colocado na ponta do lápis era uma boa opção”. Mas como tudo que é bom dura pouco, a recepação foi bloqueada e Masetti, já acostumado com esse conforto, não viu outra forma a não ser assinar uma TV: “Depois de um longo tempo tendo essa comodidade, não consegui ficar sem e acabei assinando a TV. O que não me agrada é o preço, que ainda é muito caro”. O que a bancária acredita ser uma forma de ganhar mais clientes é que o equipamento foi bloqueado após um tempo: “Um dia, fui assistir e estava funcionando em perfeitas condições. Algumas horas depois, o sinal caiu e não consegui mais conexão, mesmo atualizando o sistema”. Dessa forma, os clientes que já estão acostu-

mados ao serviço não têm vontade nenhuma de voltar à programação da TV aberta. “Se formos comparar a quantidade de assinantes de 2008 para cá, de qualquer prestadora, vamos notar um aumento. Tanto as prestadoras quanto as revendedoras do aparelho lucraram. A primeira porque agora tem mais clientes, e a segunda porque aumentou seu faturamento”. O sinal da internet, também ilegal, sofre com a baixa velocidade. Eliana Oliveira divide o sinal com seu vizinho: “Tenho internet pelas crianças, que utilizam nas pesquisas escolares e acho muito caro pagar uma coisa que vou utilizar pouco”. Para conseguir dividir a internet, a capacidade do serviço tem que ser uma pouco melhor. Caso contrário, não seria possível ter o acesso. “Pagamos uma velocidade maior com um preço razoável. Repartindo, a mensalidade quase não pesa no orçamento da família”.

O que ocorre nesses casos é a perda na qualidade da transmissão. Ou a velocidade da internet é baixa e mal se consegue navegar ou a imagem é ruim e quase não se consegue assistir. A dona-de-casa Eloisa Tanner afirma que é inviável para uma família pagar mais de um ponto: “Somos quatro pessoas em casa e quatro pontos de TV: na sala, na cozinha e em dois quartos. Se todos fossem pagos, gastaríamos três vezes mais, o que para minha família seria muito caro”.

Ela ainda acrescenta que a empresa, única em Guarapuava, não oferece nenhum desconto ou promoção que estimule o consumidor a pagar por todos os pontos existentes dentro da casa, “Perdemos em qualidade agindo assim, mas nunca fomos procurados com condições melhores para aderir em todos os cômodos em que temos televisão”. Utilizar ilegalmente o sinal fechado de televisão ou internet pode ser considerado um crime. Segundo o advogado Marcel

Scorsin, tal conduta pode ser enquadrada no artigo 155 do código brasileiro: “Subtrair, para si ou outrem, coisa alheia móvel, pode gerar pena de reclusão de um a quatros anos, e ainda multa”. Coisa alheia móvel, nesse caso, podem ser energia elétrica e também recepção de TV fechada ou internet. “Em poucos casos, isso realmente acontece. Na maioria das vezes, as empresas apenas cortam o sinal ou fazem com que o responsável pelo ‘gato’ pague pelos serviços utilizados”.

Andréia aproveitou o ‘gato’ em sua televisão algum tempo. No entanto, o sinal foi cortado. Então, a bancária se viu obrigada a assinar a TV a cabo.

Eloisa acha que as empresas de TV por assinatura poderiam investir em incentivos para pessoas que utilizam mais de uma televisão.

Eliana fez um ‘gato’ com o sinal do vizinho, mas com o consetimento dele. Dessa forma, eles repartem a mensalidade da internet.

Arte: Pierre Míchel

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Matéria: Luciana Grande Diagramação: Gabriela Titon

cotidiano

tes ao de drogas e remédios, mas em menores escalas.

Café expressivo

Fotos: Luciana Grande

Insônia. Ansiedade. Dor. Sede. Abstinência. Fadiga. Depressão. Nervosismo. Agitação. Irritação. Oscilação de humor. Dependência. Prazer. Vício. Qual é a primeira coisa que passa pela sua cabeça ao ouvir palavras como estas? Posso apostar que são drogas ilegais. Só que, ao contrário do que parece, não se trata disso. Todas as sensações descritas acima podem estar relacionadas a algo indispensável (e aparentemente inofensivo) no dia-a-dia dos seres humanos: os alimentos. Isso ocorre porque determinados grãos, vegetais, frutas, temperos e carnes contêm substâncias que podem causar efeitos semelhan-

Intestino:

o segundo cérebro Alguns alimentos, muito comuns, possuem substâncias que causam efeitos semelhantes ao de drogas e remédios no organismo

O programador João Vinícius de Paula, de 22 anos, admite ser viciado em café. Ele consome essa bebida aproximadamente cinco vezes durante o dia, totalizando mais de um litro, uma quantidade extremamente nociva ao organismo. “O café faz parte da minha rotina. É uma necessidade diária. Só que, quando eu tomo mais do que o normal, acabo me prejudicando, porque fico muito ansioso e sem sono”. Além disso, o programador diz sentir, às vezes, dores de estômago, que são curadas, segundo ele, com água. “Sei que isso não me faz bem e que futuramente vou sofrer, mas quando não tomo café fico sonolento e menos produtivo no traba-

açúcar

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Mais uma xícara, por favor. Mais uma xícara, por favor.

Fotos: Luciana Grande

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lho, então a vontade acaba sendo inevitável”. Ao menos ele está consciente dos riscos. Se João Vinícius procurasse um nutricionista, com certeza levaria uma bronca (e bem grande!). A profissional dessa área Priscila Franceschini, explica que “a cafeína é viciante em razão do seu efeito estimulante e da sensação de prazer que proporciona, o que leva a alterações neurológicas”. É bastante semelhante ao efeito de uma droga mesmo.

Até uma certa quantidade essa substância é estimulante e pode acelerar o metabolismo, o que deixa a pessoa mais disposta e animada. No entanto, tem aquela coisa do “tudo que é demais faz mal”. Em excesso, a cafeína gera uma espécie de inflamação no organismo e pode, dessa forma, fazer com que o corpo retenha muito líquido, deixando o fígado sobrecarregado. Além disso, em pessoas que possuem alteração do ritmo cardíaco, ela pode oca-

sionar até mesmo um infarto. E atenção mulheres: muitas nem imaginam, mas, segundo Priscila, o café em excesso pode causar até a tão temida celulite. Já pensou? Isso porque geralmente ele vem acompanhado de açúcar ou adoçante. Portanto, o café pode acabar sendo o vilão da história, tanto no físico, quanto no psicológico. Para que isso não aconteça, de acordo com a nutricionista, há uma dose diária tolerável. “Geralmente recomendo

“a cafeína é viciante porque proporciona sensação de prazer, o que leva a alterações neurológicas” Foto: Luciana Grande

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s Foto

uma xícara no café da manhã, o que dá mais ou menos 200 ml, e no restante do dia não aconselho o consumo. Também não indico a versão descafeinada porque, muitas vezes, para retirar a cafeína, é utilizada soda cáustica”. No caso de João Vinícius, que consome uma quantidade muito grande de café diariamente, livrar-se desse vício não seria simples. Muitas vezes, é necessário, além de uma reeducação alimentar, um aconselhamento psicológico. A psicóloga clínica Camila da Silva comenta que muitos pacientes relatam problemas com café e chocolate. “A dificuldade surge quando a comida se torna a grande maneira de lidar com as emoções. O ideal seria prevenir essa relação, torna-

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do-a sadia. Caso contrário, pode haver o agravamento dos fatores psicológicos e emocionais”. Além disso, a cafeína em doses altas pode prejudicar o sono, aumentar significativamente a ansiedade, irritabilidade, causar oscilações de humor, nervosismo e agitação.

“Adocica, meu amor”

Outro alimento famoso por ser viciante e prazeroso (além de delicioso, claro) é o chocolate. A comunidade Chocólatras” do Orkut, possui quase 600 mil membros. No Facebook, quase 40 mil ‘curtem’ chocolate (isso porque essa rede social ainda não é lá muito popular no Brasil). Mas, só por esses dados, nota-se que é uma paixão nacional. Uma dessas apaixonadas é a estudante de fisioterapia Débora Martini, de 20 anos. Ela conta que, normalmente, come chocolate cerca de quatro vezes por semana, mas não sofre de abstinência quando fica muito tempo sem consumir esse alimento. Isso porque, ao contrário do café, as substâncias presentes no chocolate, apesar de causarem prazer, não possuem caráter tão viciante. Débora conta que “psicologicamente, o chocolate

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Foto: Gabriela Titon

Conheça outros alimentos que podem ter efeitos de drogas e remédios: Fotos: Luciana Grande

Leite

gera um alívio. Quando bate uma vontade muito grande de doce ele traz um prazer, momentâneo, mas traz”. Essa sensação de prazer passageiro é explicada pela presença do açúcar (que também possui efeito entorpecente no organismo quando ingerido em excesso). A nutricionista Priscila comenta que o açúcar pode levar a um estado de euforia seguido de uma intensa sensação de relaxamento. “Ao mesmo tempo em que ele cai muito rápido na corrente sanguínea, é também rapidamente utilizado pelo corpo. Portanto, a energia acaba momentanea-mente. Todo esse processo dura cerca de uma hora”. A estudante de psicologia Diely Otto, de 22 anos, tem um vício mais intenso que o de Débora. “Como chocolate todos os

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dias, sobretudo depois do almoço. É sagrado. O vício aumenta quando estou de TPM. Ela vê nesse alimento uma fonte de prazer, felicidade e bem-estar, além de auxiliar na concentração. Quando fica muito tempo sem consumir o doce, a estudante sofre abstinência e fica pensando nisso até satisfazer o desejo. É uma verdadeira chocólatra. Toda essa dependência se dá em virtude de um aminoácido chamado triptofano, contido no cacau, que é precursor de um neurotransmissor: a serotonina, uma substância capaz de provocar sensações de prazer, bem estar e bom humor, por isso pode ser estimulante. Muitas vezes, os nutricionistas recomendam o triptofano para melhorar o sono, a instabilidade, a ansiedade e a depressão. E pensar que o remédio para tudo isso pode estar numa simples barra de chocolate... Ainda de acordo com Priscila, o próprio cacau tem um

Contém a caseína, uma proteína excitante que no organismo se liga com um tipo de endorfina, formando uma casiomorfina. Pode causar tanto hiperatividade, quanto sonolência. Em algumas pessoas provoca essas duas sensações concomitantemente, como ocorre com o açúcar, já descrito. poder antioxidante muito eficiente. “Ele é ótimo para conter o envelhecimento precoce das células. Para isso, é interessante procurar por chocolates com um volume de 60% a 70% de cacau”, ressalta a nutricionista. Viu só? Não é preciso gastar todo aquele dinheiro com cremes anti-rugas, a solução pode estar no chocolate. É importante pontuar, também, que o efeito da serotonina no organismo varia de acordo com o horário em que ela é consumida. Durante o dia é estimulante e, no período da noite, é substituída pela melatonina, que ajuda a melhorar o sono. É um neurotransmissor bem inteligente, diga-se de passagem. É por essas e outras que muitas pessoas chamam o intestino de “segundo cérebro”. Muitas células intestinais estão diretamente ligadas com o sistema neurológico. Todo o alimento ingerido acaba, de alguma forma, refletindo no humor. É exatamente como diz o ditado: você é o que você come.

Glúten

Presente no trigo, no malte e na aveia, também gera um efeito de euforia seguido de relaxamento. No tratamento de crianças autistas, por exemplo, há a exclusão de glúten e leite da dieta, em razão dessas conseqüências no organismo.

Vegetais verde escuros

Ricos em magnésio, substância fundamental para ajudar o triptofano a formar a serotonina. Por esse motivo, esses vegetais também geram mais disposição para a pessoa que os consome diariamente.

Pimenta

É vaso dilatadora, o que ocasiona um aumento do fluxo sanguíneo e uma melhora na troca de nutrientes e oxigênio entre as células. Em razão disso, também possui efeito estimulante.

Salmão (não aquele de cativeiro)

Possui o ácido graxo DHA, derivado do ômega 3. Importante para crianças e gestantes, porque melhora a inteligência e auxilia na formação das funções neurológicas e cognitivas. Portanto, há melhora na concentração e na memória.

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O CONTROVERSO POETA beat ALLEN GINSBERG COLOCOU o

SEU

FAMOSO,

EM

O

UIVO,

POEMA

MAIS

A

PRÓPRIA

VIDA E VIDA DE TODA UMA GERAÇÃO jazz.

Foto: Andy Warhol, Screen Test (1966)

o uivo de um poeta 28

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A República do Girassol Matéria: Kaio Miotti Ribeiro

a vida poética de

jovens em busca

norte-americana estava confinada nos porões acadêmicos. As pessoas estavam trancadas em escritórios, volteadas por máquinas, nova tecnologia, e... não há aqui qualquer semelhança com nossos dias? Ah, não? Deixa para lá. O jazz bep bop, com seu ritmo frenético, dig it! dig it!, no fluxo inconsciente dos músicos, levava ao transe: era Charlie ‘Bird’ Parker metalizando seu sax dentro de noites escuras. Havia sede e alguns homens se levantaram para achar o caminho da fonte. O que veio antes: o pensamento de Marx. Como a maioria se submete à exploração de uma minoria, sem coerção física? Nietzsche já criticara a doutrina cristã, que nega o prazer, que cultua o sofrimento, que fabrica submissos. Freud havia dito que o processo civilizatório repreende a sexualidade humana, a face animalesca do homem. E então, os beats vieram reivindicar a liberdade mais uma vez: liberdade individual, sexual, de linguagem, política e poética. Ou seja, liberdade para viver. É nesse contexto de modernidade que surge Irwin Allen Ginsberg (1926-1997), judeu, homossexual, herdeiro de toda literatura maldita, de Rimbaud, Baudelaire à Walt Whitman.

de liberdade

Dig it! Dig it! Dig it! O poeta é um girassol, ou uma espécie de. O poeta é quem detecta no assombro do seu tempo o que as pessoas estão sentindo, querendo, do que estão fugindo, ou para onde estão correndo. O poeta é o ser sensível e inquieto, para quem o horizonte incendeia os possíveis orgasmos e tristezas da vida, do mundo. O poeta está alucinado diante da maquinaria, e pula, e corre, e balança os braços freneticamente para avisar: ei, estou aqui! Estou sentindo! E é por sentimento que malucos correram seu país de carona em carona para descobrir o verdadeiro sonho, o que estava por trás do american dream: os beatnicks. Esse grupo de poetas, que incluía Allen Ginsberg, Jack Kerouac, Gregory Corso, Gary Snyder e outros, deu um grande e instigante grito na poesia do século XX. Eram meninos selvagens que buscavam uma vida além do consumismo, da moral pré-estabelecida, do chamado ‘bom costume’. Eram beats de variadas formas: beat como batidas, como jazz beat, como beatitude. Era final dos anos cinquenta, início de uma das décadas mais importantes para a história contemporânea: os ácidos sessenta. A poesia

Arte: Rosana Grande

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Eu vi os expoentes de minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa, “hipsters” com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite, que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos sem água...

Ginsberg nascera a três de junho de 1926, em Paterson, Nova Jersey, onde vivera até os 17 anos. Depois disso foi à Universidade de Colúmbia, de onde fora expulso, e então, marinha mercante, datilógrafo, lavador de pratos, revisor, filho de mãe internada sob demência, enfim, Howl.

O UIVO O UIVO O UIVO O UIVO O UIVO O Uivo O UIVO O UIVO O UIVO Howl and Other Poems (O O UIVO Uivo e Outro Poemas) é a granO UIVO

de obra do poeta ativista, marcada por visões alucinadas da América, pelo ritmo violento do bop, por rupturas com o pensamento ocidental e pela busca de uma espiritualidade no oriente. Howl, o grito de uma geração: “Eu vi os expoentes de minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa, hipsters com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite, que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos sem água quente, flutuando sobre os tetos das cidades contemplando jazz”. Howl foi lançado em 1956, por Lawrence Ferlinguetti à frente da livraria/editora City Lights, em São Francisco, reduto beatnick. A obra foi processada por ‘afetar a moral’ da sociedade da época. Processo que Ginsberg ganhou. Mas todo o reboliço criado em cima da obra foi senão pelo ca-

ráter libertário que ali contém. O Uivo, como a obra de Ginsberg, não possui uma fronteira definida com a vida. O que o poeta põe em jogo é a conexão entre linguagem e realidade, entre vida e poesia. Para Ginsberg e os beats, a vida devia ser poética, por já sê-la naturalmente, e a força dessa idéia transcendeu os limites beatinickianos para ganhar voz em todo o mundo. Na década de sessenta são inúmeros os movimentos e ações que procuravam um jeito diferente de viver: os hipsters urbanos, os hippies peace and love, os concretistas (no Brasil) com a poesia visual, as feministas, os vegetarianos, enfim, toda a sociedade estava sendo abalada pelo fraseado rítmico da vida. O que estava acontecendo era a negação dos valores impostos por uma minoria poderosa. E Ginsberg estava dando voz aos gays, aos vagabundos, aos junkies, toda a marginalizada fauna humana da época. Que época? Eram tidos como derrotados (beats), enquanto acenavam melodiosamente da vida na qual gozavam.

BEATITUDE razão BEATITUDE razão A razão ou BEATITUDE a beatitude? razão Platão: Expulsaram os heróis BEATITUDE das cidades, a sociedade prefere agora amar seus cientistas a seus poetas... Sócrates: Poetas? Ah, não há espaço para poetas nessa República! Seres malditos! Como podem achar que o poema tem coração, e que este bate dentro da vida? Trágicos noturnos! Sofrem as mazelas duma busca eterna em que nada se realizará a não ser a contemplação, a contemplação do desejo, o

Foto: Mark Millman

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efêmero... Basta! São todos discípulos cegos do romantismo! Discípulos da vida intensa! Argh! E tu, Platão, o que pensa agora? Platão: Meu caro amigo, começo agora a pensar que estes seres românticos estão realmente vivendo, e não são nada trágicos, e sim intensos. Como tu mesmo disseste: intensos. Sócrates: Ora, não me venha com essa! Sabemos muito bem que para navegar no oceano da vida, das coisas do mundo, só mesmo tendo a filosofia como leme. As paixões estão controladas, homem! Platão: Não, grande homem, nem dão vista de um dia serem controladas. Olhe: eles se levantaram, ergueram suas vozes e arrebentaram com os muros que trancavam a poesia nas celas acadêmicas! Eles falaram sobre a epidemia de máquinas, sobre homens e mulheres vivendo o amor além da separação de gêneros, falaram do sexo gozando o verso na boca do tempo! A iluminação! Não lhes manche a poesia enquanto tenta lhes difamar o comportamento! Não tens o direito! Sócrates: Então está dando adeus ao sonho da República? Platão: Ora, vá aos diabos! Que estou partindo para não ver os expoentes da minha geração morrendo histéricos, nus, desesperados, por conta de uma sociedade infame feita de homens infames como você! Vai-te Sócrates! Homem morno! É claro, a conversa acima nunca ocorreu. Foi apenas uma brincadeira entre dois amigos, eu e o poeta Felipe Gabriel Mayer, com os diálogos de A República, de

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Platão. O filósofo descreve em sua obra, configurada em dez livros, um modelo de sociedade baseado na razão. Platão expulsara os poetas de sua república, porque acreditava que estes obscureciam a vida perfeita: para ele, o poeta cria imagens a partir de aparências, ou seja, da natureza; e esta é feita à imagem das ideias, portanto, a natureza é imperfeita; logo, o poeta imita a imitação. Mas, o que soa curioso – motivo do sarro – é essa atitude de expulsar os poetas para se criar uma sociedade perfeita. Por quê? Este texto não tem a pretensão de responder, mas de sugerir que são os poetas o fôlego da sociedade. Se eles praticam a mimese, como Sócrates chamou, é questão de dar nome aos bois. O que o poeta faz é gritar o que precisa ser ouvido, mas que não é útil, é in-util como diria Leminski. Poesia não dá lucro, não existe em razão de nada, se não pelo gozo, pela contemplação, pelo sentimento de se ter nas mãos apenas o momento e a eternidade dentro de cada momento. O poeta é o ser inquieto por natureza. Observador, revela nos versos tudo o que vê, o que sente, toda a busca inquietante da existência. Tanto Ginsberg quanto os beatnicks, da sua forma, levantaram uma geração perdida em meio a um estilo de vida que não era o deles - e lutaram por isso. A marca de oralidade da poesia ginsbergniana vem justamente daí: de falar, de gritar o que precisa ser ouvido, para que os braços não se cruzem, para que a vida aceite a poesia e vice-versa, para que o homem não negue o homem e se porte no mundo como um girassol, sempre a procura, sempre voltado para onde há sol.

H

O

quente, flutuando sobre os tetos das cidades contemplando jazz, que desnudaram seus cérebros ao céu sob o Elevado e viram anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados das casas de cômodos, que passaram por universidades com os olhos frios e radiantes alucinando Arkansas e tragédias à luz de William Blake...

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L

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kitnet

Parece algo simples de se fazer, mas o currículo pode definir o seu futuro profissional

Foto: Yarê Protzek

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O primeiro passo da jornada...

‘‘Se o currículo é mal feito ou pouco interessante você perde a chance de ser chamado logo de início”

Matéria: Helena Krüger

Definição

Carlos Eduardo Rocha, de 19 anos, estudante do 1º ano de Ciência da Computação, está em busca do primeiro emprego. Ele é apressado e já no início do curso quer colocar em prática o que está vendo na faculdade. Em março deste ano resolveu preencher fichas de inscrição para estágio e tentou redigir o primeiro currículo. Foi nesse momento que as dúvidas começaram a aparecer. “Como vou fazer se nunca trabalhei? E afinal, o que posso colocar nesse papel, se não tenho experiência?”. Mesmo respondendo que achava importante listar as habilidades e cursos no currículo, entregou um papel quase em branco, apenas com o nome, idade e o curso. São problemas como este que afastam muitos candidatos de uma vaga. Poucos sabem como organizá-lo ou então não dão a devida atenção na hora de redigi-lo. Primeiramente, vamos entender o que é este documento para depois fazer um currículo que garanta uma boa vaga no mercado.

O nome Curriculum Vitae é um termo de origem latina que significa caminho, trajetória da vida. Isso imprime um sentido maior para o currículo, mas não deixa de traduzir o que ele representa. Afinal, nele devem estar boa parte de suas experiências de vida, é basicamente um resumo de sua trajetória profissional. Marcos Pereira, coordenador de seleção do CIEE de Guarapuava (Centro de Integração Empresa Escola do Paraná) esclarece a função básica do currículo, que é ser um chamariz para a entrevista. “Ele precisa ser atraente para que o recrutador tenha vontade de conhecê-lo. Se o currículo é mal feito ou desinteressante, você perde a chance de ser chamado logo de início”. Um bom currículo tem várias características, mas, segundo a consultora de Recursos Humanos da Catho Online, Danielle Correa, o mais importante é que a pessoa saiba focar sua área de interesse. “Precisa destacar de forma objetiva e clara os pontos

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“É indicado que os estudantes verifiquem o mural da sua escola ou faculdade – muitas empresas costumam usar esse meio para contratar estagiários. fortes, como principais conhecimentos e habilidades desenvolvidas no decorrer da carreira profissional”. A consultora ainda alerta sobre a boa apresentação do documento. Ela diz que um em cada quatro currículos é descartado por conter fotos inadequadas, erros de português ou letras coloridas.

Calouros do currículo Para os calouros na vida profissional, como Carlos e muitos outros jovens, a falta de experiência faz com que encontrar um emprego seja uma tarefa difícil e de muita persistência.Mas algumas dicas específicas para esses jovens podem ajudá-los a fazer um currículo turbinado mesmo sem experiência profissional. Para quem busca estágio ou trainee, a formação acadêmica e o objetivo devem estar em destaque. Segundo Danielle, essas informações são muito importantes para quem recruta um estagiário. Excluir o tópico experiên-

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cia e dar ênfase a um resumo de qualificações com itens sobre conhecimentos acadêmicos e atividades práticas já realizadas na área também é uma ótima idéia. “É indicado que os estudantes verifiquem o mural da sua escola ou faculdade – muitas empresas costumam usar essa via para contratar estagiários. Além disso, realizar networking, entrar em comunidades, listas de discussões e fóruns é muitas vezes decisivo em uma seleção”. Hoje, um recurso muito utilizado e fácil é encaminhar o currículo pela internet ou cadastrá-lo em sites de emprego. É claro que em uma cidade como Guarapuava, ainda se recomenda entregar em mãos o currículo, dependendo da empresa. Mas a tendência é que muitas organizações informatizem essa fase do processo de seleção. “Atualmente, mais de 70% dos profissionais em busca de uma recolocação possuem cur-

Currículos diferentes

contraram “Eles me en indicação ou por não sei se portfólio meu am ir v porque ” na internet

rículo cadastrado na Internet. Dessa forma, para não perder oportunidades, é indicado que os profissionais utilizem esse recurso”, afirma Danielle. Ela também apresenta algumas vantagens de se enviar o currículo pela Internet. “O profissional irá economizar com transporte, impressão, estacionamento, entre outros, além de conseguir atingir um número muito maior de empresas em um curto espaço de tempo”.

Portfólio

Existem algumas áreas de atuação em que o currículo tradicional já não é mais a principal ferramenta na hora de recrutar, como nas agências de publicidade. Bruno Nogueira, que cursa Publicidade e Propaganda, hoje é estagiário de uma agência sem ter preenchido nenhum currículo. Ele diz que para essa área o que mais interessa

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Fotografia: Helena Krüger

Fabrício Lacerda dá dicas para entrar no mercado de trabalho

!

Tenha uma

é o portfólio, que é uma lista ou coleção de trabalhos de um profissional. “Eles me encontraram não sei se por indicação ou porque viram meu portfólio na internet”, conta Bruno. Fabrício Lacerda, sócio e diretor de marketing da mesma agência que Bruno, explica que nessa área vale quase tudo na hora de contratar. O que interessa é que o candidato se mostre criativo, seja no currículo, no portfólio ou até mesmo nas redes sociais. Por isso, tome cuidado no que você anda divulgando na internet. “Se o currículo for analisado, é necessário que o candidato tenha domínio de alguns softwares como Photoshop e Corel Draw, por exemplo”, explica Fabrício. Ao contrário da maioria do mercado, essas áreas são mais flexíveis na contratação porque

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procuram um perfil diferente de profissional. O site http://des1gnon.com/2011/03/16/curriculos-super-criativos/ dá exemplos de currículos de alguns designers que inovaram na estrutura do tradicional documento para provar que são criativos. Mas, se você acha que ainda não tem nada de relevante para colocar no seu currículo, lembre-se que não existe ninguém que não tenha habilidades a oferecer. Muitas vezes, a dificuldade está em se conhecer melhor para poder realçar as suas qualidades. O coordenador Marcos dá algumas dicas que oferece no dia a dia para vários jovens e adolescentes. “Muitas vezes, coisas simples como saber tocar um violão, ter ganhado um prêmio na feira de ciências no colégio ou ter participado de um simples trabalho voluntário faz toda a diferença”.

“Muitas vezes, coisas simples como saber tocar um violão, ter ganhado um prêmio na feira de ciências no colégio ou ter participado de um simples trabalho voluntário faz toda a

boa rede de

relacionamentos: não adianta ter um bom currículo se não souber as pessoas certas para entregá-lo;

Dicas para seu currículo decolar 1 - Leitura fácil: padronize toda a formatação do seu currículo para facilitar a leitura;

tágios ou trabalho é grande, só coloque as três últimas em ordem cronológica;

2 - Seja muito objetivo e claro: o currículo não deve passar de duas folhas. Além disso, use frases curtas;

6 - Realize trabalhos voluntários: cai muito bem nos currículos quem se dedica ao próximo. Revela que você é proativo e boa gente;

3 - Fique atento no português: antes de entregar seu currículo, releia e mostre para alguém revisar;

7 - Não invente moda: o currículo deve ser clássico, com letra preta e fonte padrão;

4 - Idioma básico não vale: só coloque um idioma se tiver algum domínio ou fluência. Você não vai querer ser surpreendido na entrevista se fizerem uma pergunta em outra língua para testar seus conhecimentos;

8 - Tenha uma boa rede de relacionamentos: não adianta ter um bom currículo se não souber as pessoas certas para entregá-lo;

5 - Não exagere na experiência: se sua relação de es-

9 - Seja sincero: não adianta mentir, escrevendo informações falsas. Um bom consultor saberá.

diferença”

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RG

X

“Há oito anos trabalho, estudo e vivo o Movimento Hip Hop de

Os erros mais comuns

Questões de “fórum íntimo” - tais como religião e filiação partidária -, não cabem em um documento de caráter profissional.

1. Não descrever o empregador – é ruim quando cabe ao leitor/selecionador pesquisar para descobrir que tipo de empresa é mencionada em um currículo. É imprescindível, por esta razão, um descritivo, ainda que de apenas duas linhas, qualificando a empresa na qual se atuou. Lembre-se que, ao qualificar seus ex-empregadores, você estará valorizando seu histórico profissional.

nho” por parte do profissional de sintetizar sua carreira de forma lógica.

2. Inventário geral (“laundry list”) - uma lista infindável e não estruturada de habilidades e realizações serve unicamente para confundir, além de aborrecer o leitor. Contextualize suas contribuições no tempo e no espaço ao invés de listá-las aleatoriamente.

5. Razões para desligamento das empresas - assuntos desta natureza são tópicos para serem discutidos em entrevistas e jamais devem ser mencionados no currículo.

3. Mais de quatro páginas currículos com esta extensão são inadmissíveis, uma vez que denotam “falta de empe-

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Guarapuava. Sou apresentador do Programa Sintonia Hip Hop da Rádio Cacique AM 760. Agora, como acadêmico do 2º ano do curso de Geografia, posso estudar e compreender melhor os movimentos juvenis”.

NOME: Rudimar Moro, vulgo ‘Mano Hood’ EU INDICO: O livro Cartografias da cultura e da violência - gangues, galeras e o movimento Hip Hop, de Glória Diógenes

4. Documentos pessoais - não confunda a área de recrutamento de uma empresa com Departamento Pessoal - números de documentos como CPF, RG, Título de Eleitor são totalmente irrelevantes na decisão de se contratar ou não um profissional – simplesmente omita-os.

6. Questões de “fórum íntimo” - tais como religião e filiação partidária -, não cabem num documento de caráter profissional. Fonte: Danielle Correa, porta-voz da Catho Online

[o livro ]“Fala sobre o fenômeno da violência juvenil, algo inusitado na cena pública brasileira. Em meádos da década de 90, os jovens de periferia deixaram de obedecer as barreiras entre o mundo da favela e o da cidade iluminada, passando a se mostrar em lugares diversos, de onde haviam sido excluídos” (GLÓRIA DIÓGENES)

PORQUE: Nele, Diógenes relata o universo juvenil na periferia das grandes cidades. Inicialmente buscando compreender a combinação entre violência e juventude, a autora termina por se aprofundar no estudo do comportamento dos ‘bad boys’ e ‘mauricinhos’ dos subúrbios. Pela observação das vestimentas, gírias e coreografias, a autora decifra a emaranhada rede de significados que estrutura o imaginário desses jovens no liminar da exclusão. Ela mostra também a violência não como um problema, mas como uma força e como tal pode ser canalizada. O Movimento Hip Hop, segundo a pesquisadora, se ocupou de canalizar a violência juvenil, e hoje está provando do seu reconhecimento social perante o trabalho que tem feito para a sociedade. Essa leitura é de grande valia para a vida, sendo pioneira ao trazer para dentro dos debates da universidade o universo excluído dos jovens, recortado do contexto da vida nas periferias. Portanto, boa leitura, e um salve a todos.

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eu que fiz

Quem imita a vida é a É fato que o filme ‘Laranja Mecânica’ éum clássico, então gostam do filme A distância do BBB antes mesmo para um filme do Hitchcock inexiste. Nada os separa. Por de assistí-lo. que diabos um ser humano pararia para assistir ao filme ‘Um corpo que cai’? Por que diabos alguém pararia para assistir ao BBB? O motivo é o mesmo. Simplesmente porque o tal ser humano se interessou pelo programa, ou pelo filme, e, imaginem só, gostou do que viu. Não se deve ler e gostar de Dostoiévski simplesmente por ser um clássico ou coisa parecida. Gostar ou não do BBB não vai fazer ninguém melhor. Não saber quem é Stanley Kubrick não diminuirá ninguém. Estamos todos no mesmo barco: o da insignificância. Que tamanho é esse que poderíamos ter, se com milhões de filmes

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assistidos e mais outros trilhões de livros lidos, ainda deitamos em nossas camas com as costas bastante pesadas? Achar que gostar ou não de algo transforma alguém em uma pessoa melhor é um pensamento comum e bastante repetido. Cai-se naquela do “não vou ver porque é baixa cultura”, prendendo o suposto intelectual (que provavelmente acrescenta uma quantidade incalculável para a própria raça), em um senso crítico preexistente e levado por opiniões que mal consegue dominar. Não há originalidade, nem personalidade. Só

há uma visão viciada. É fato que o filme ‘Laranja Mecânica’ é um clássico, então gostam do filme antes mesmo de assistí-lo. Filmes, livros, programas de TV... Tudo parece acrescentar como se fosse para criar um currículo. “Este sou eu, e esta é a minha bagagem cultural”. Em ‘A lula e a baleia’, Jesse Eisenberg interpreta um

filho - Walt - de professor universitário, romancista de sucesso no passado, e que acusa como ralé todos os filisteus (aqueles que não são intelectuais). O casamento dos pais de Walt acaba e ele passa a viver uma vida artificial. Começa a usar os comentários arrogantes que seu pai utilizava na mesa de jantar para inventar que era, por exemplo, grande conhecedor de Franz Kafka. Em um festival, cantou ‘Hey You’, do Pink Floyd, como se fosse de sua autoria. Trat av a

a namorada com desdém e sempre mirava outras meninas, refletindo também no seu relacionamento amoroso a falta de algo verdadeiro. Walt então dava a impressão de algo incompleto, um amontoado de metades que jamais possibilitariam ao personagem alguma satisfação. ‘A lula e a baleia’ é baseado no próprio Noah Baumbach (Greenberg), diretor e roteirista do filme, mas poderia ser retirado da vida de muitos outros que também existem fora da ficção. É o ser humano que resolveu copiar a arte, ao invés de criá-la. As obras cinematográficas vão das comédias aos filmes existencialistas. A televisão vai da TV Cultura ao Programa do Gugu. Não importa. Uma hora a vida aparece e te diz, do jeito dela, o quanto é maior que cinco ou dez músicas, um ou 100 filmes, gostar ou não de BBB...

Claudio Temochko, 19. Guarapuavano nato, estudante de Publicidade e Propaganda. www. semcompromissonenhum. blogspot.com

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expediente

Ágora

Reitor Prof. Vitor Hugo Zanette Vice-Reitor Prof. Aldo Nelson Bona Diretor do Campus Santa Cruz Prof. Osmar Ambrósio de Souza Vice-direção de Campus Prof. Darlan Faccin Weide Diretor do Sehla (Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes) Prof. Carlos Eduardo Schipanski Vice-diretora do Sehla Prof(a). Maria Ap. Crissi Knüppel Dpto. de Comunicação Social Coord. Prof. Edgard Melech

revista

Professor Responsável e Chefe de Redação Prof. Anderson Costa Editora-Chefe da Edição 02 Gabriela Titon Assistente de Redação e Revisora Luciana Grande Direção de Arte e Diagramação Anderson Costa Equipe A: Bárbara Brandão, Ellen Rebello, Gabriela Titon, Helena Krüger, Kaio Miotti Ribeiro, Luciana Grande, Yarê Protzek Equipe B: Ana Carolina Pereira, Giovani Ciquelero, Hilva Nathana D’amico, Katrin Korpasch, Mário Raposo Jr., Poliana Kovalyk, Vinicius Comoti, Yorran Esquiçati.

Tiragem: 500 exemplares Impressão: Gráfica Unicentro Contato (42) 3621-1325 e 3621-1088 E-mail: agoraunicentro@gmail.com Capa Luciana Grande Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro. A Revista Laboratório Ágora é desenvolvida pelos acadêmicos do 3º ano de Jornalismo da Unicentro.

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