Jornal Ágora 2012 - Edição 02

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Ágora jornal

Ágora, ideias jornalísticas Guarapuava-PR, 2012 Ed. 02, ano 02

Até que venha a liberdade Foto: Helena Krüger

Desde pequeno, Adriano Torres já sabia que cuidar dos animais era sua vocação. Hoje o veterinário trabalha para que animais selvagens estejam protegidos e bem cuidados, enquanto aguardam o retorno para a natureza. Seu vínculo com eles vai além da relação profissional. Para ele, os animais precisam ser atendidos com carinho e, com eles, diz ter aprendido o significado da gratidão. p. 13

As implicações do alcoolismo na juventude. p. 3

Choque cultural: da Europa para aldeias indígenas. p. 8

As experiências e aprendizados do Projeto Rondon. p. 11

Legislativo Online: projeto promove transparência. p. 14


charge

ao leitor

Destinado aos lúcidos

Após conhecer a surrealidade presente no rock progressivo/ psicodélico, o desenhista Juliano Santos passou a focar em obras com caráter abstrato. Desde então, temas relacionados a sonhos, meditação e a própria mente completam seu portifólio. Na maioria das vezes, cria sem se preocupar, deixando a imaginação ativa, buscando um lado visionário. “Grande parte destes trabalhos são expressões de um processo de transformação espiritual que tenho vivido nos últimos anos. Boa parte orientado pela busca de entendimento da psicologia analítica de Carl Jung e a Yoga, que é, basicamente, uma procura do entendimento individual”.

Yorran Barone Sob escaldante sol diário, inicio minha maravilhosa rotina neste igualitário município, a terra de todos. Como não vangloriar, sendo morador de sítio tão próspero, comandado por indivíduos que se preocupam com as pouquíssimas deficiências locais. Cabeças permanecem tranquilas, pois somos referencias no trato de políticas públicas. Sistema de saúde perfeito; educação, então, não há o que falar, mas foco, principalmente, no que tange as minúsculas diferenças sociais. No rodeio sagrado, nos deparamos com bairros devidamente cuidados, que nada difere do centralismo presente. Todos com riquíssima infra-estrutura, que vão de acordo com as necessidades nativas. Anualmente, somos presenteados com a belíssima Expogua, evento com a faceta guarapuavana, destinada aos munícipes e recheada de atrações que encantam até nossos vizinhos do Centro-Oeste.

E o cavalo, prefeito. Obra magnífica e repleta de histórias, tanto que o Zé Maria enxerga seu passado no busto, devidamente vigiado pelas lentes precavidas da autoridade. Sinceramente, não há reduto melhor para se viver. Homenagens póstumas aos verdadeiros responsáveis, como César Roberto Franco, Vitor Hugo Ribeiro Burko, além do atual líder, Luis Fernando Ribas Carli, um exemplo! Enfim, limito as palavras ao Executivo, sempre representado dignamente, sem esquecer dos grandes nomes que completam o ciclo dos três poderes. Bom, é hora da partida e como falamos destes encantos, tenho que seguir com constante medicação imposta desde a adolescência. Remédio ótimo que me faz enxergar claramente a benção de residir neste chão sagrado. Um abraço a todos e ótima programação!

Ágora jornal

Juliano Santos Acadêmico de Arte e Educação.

“O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certezas”. Charles Bukowski

expediente Departamento de Comunicação Coord. Prof. Edgard Melech Jornal Laboratório Prof. Anderson Costa Editor da Edição 02 Yorran Barone

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Redação: Ana Carolina Pereira, Bárbara Brandão, Ellen Rebello, Gabriela Titon, Giovani Ciquelero, Helena Krüger, Nathana D’Amico, Katrin Korpasch, Luciana Grande, Mario Raposo Junior, Poliana Kovalyk, Vinícius Comoti, Yorran Barone e Yarê Protzek

Contato: (42) 3621-1088 E-mail: jornalagora.unicentro@ gmail.com

O Jornal Laboratório Ágora é desenvolvido pelos acadêmicos do 4º ano de Jornalismo. Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro.

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Tiragem: 500 exemplares Gráfica Unicentro

comportamento

Alcoolismo: um problema que pode ser detectado ainda na juventude Entre os jovens o consumo elevado de álcool é entendido como “normal”, mas é preciso estar atento aos riscos de um futuro problema com alcoolismo Matéria e diagramação: Luciana Grande Sair de uma festa, depois de ter tomado dez latinhas de cerveja e um shot de tequila, ligar o carro e dirigir até em casa. Acordar com dor de cabeça no outro dia e lembrar-se das coisas vergonhosas que fez. Essa é uma situação corriqueira e “normal” no dia-a-dia de muitos jovens. No entanto, é necessário estar atento à frequência e quantidade do consumo de bebidas alcoólicas, porque tanto a curto quanto a longo prazo, situações como esta podem estar associadas ao alcoolismo.

O ponto de vista deles Fernando*, de 21 anos, é estudante e consome bebidas alcoólicas em média quatro vezes por semana. A quantidade varia conforme a disponibilidade no dia, a companhia e os compromissos posteriores. Segundo ele, muitas aulas já foram perdidas por conta de uma ressaca. Também já deixou de ir para a casa dos pais no fim de semana pelo mesmo motivo. Além disso, já passou por situações embaraçosas pelo fato de ter bebido demais. “Uma vez bebi muito e minha mãe precisou me buscar onde eu estava, porque eu não conseguiria ir embora sozinho. Eu estava passando mal e os seguranças do local deram um jeito de contatá-la. Não foi legal a decepção que meus pais tiveram comigo, fora a vergonha que passei no lugar, é claro”. Fernando* conta, também, que o seu pai não gosta que ele beba na presença de outros familiares. Isso porque tem medo que o filho faça alguma coisa errada.

Apesar de exagerar na quantidade de bebidas alcoolicas algumas vezes, Fernando* não se orgulha das situações que esse ato possa ocasionar. “Rir da situação entre amigos pode ser, mas chegar ao ponto de comunicar o ocorrido aos quatro ventos é desnecessário e feio. Quando viro assunto por alguma situação desagradável de alguma vez que eu estava bêbado, dou um jeito de desviar a conversa”. O jovem, que recentemente parou de fumar (após seis anos viciado) comenta que não acredita que a bebida possa vir a se tornar um vício ou problema na sua vida. Ele explica que vê isso como uma fase, principalmente pelo fato de ser jovem e estar na faculdade, já que a maioria dos seus amigos bebe tanto quanto ele, ou até mais. “Não bebo mais como bebia com 18 anos. Não me preocupo com a bebida se tornando um vício”. Já Thiago*, 22 anos, consome bebidas alcoólicas toda semana, sendo que a frequência varia conforme o período, humor, entre outras coisas. Ele conta que não sabe como se sentiria caso ficasse muito tempo sem beber, porque nunca passou por isso desde que começou a beber. “Há alguns dias eu estava tomando um antibió-

* Os nomes foram modificados para preservar a identidade dos personagens desta reportagem.

tico e precisei ficar uma semana sem álcool. Foi bem ruim, porque quando eu saía não tinha a mesma graça. Parecia que faltava alguma coisa”. O jovem comenta, ainda, que não sabe dizer com precisão a quantidade que bebe em cada situação. “Eu tomo uma, duas, três, dez cervejas e de repente já estou bêbado, sem nem sequer ter me dado conta disso”. Thiago* explica que, algumas vezes, o consumo excessivo de álcool traz consequências negativas em sua vida. A ressaca física e moral é um grande problema. Ele já passou vergonha muitas vezes por conta disso. Dirigir alcoolizado também é algo comum para o jo-

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entrevista a banda curitibana mistura estilos de música.

“I want to do a tropical splash you” Foto: Luciana Grande

vem. “Uma vez, quando estava alcoolizado, bati o retrovisor do carro em um poste, mas nada grave. Eu tenho um pouco de medo, mas não acho que assuma algum risco. É uma culpa consciente”. O jovem acredita, também, que o consumo de bebidas alcoólicas faz parte do processo de amadurecimento das pessoas e é uma espécie de desinibidor social. “O excesso realmente faz mal, mas eu não me vejo sendo afetado pela bebida. Apesar de ter histórico de alcoolismo na família, não me vejo como eles e espero não ter que lidar com esse problema. Eu gosto de beber, isso é uma verdade, só que não considero isso um vício”.

Parecer clínico De acordo com o psicólogo Anderson Neves, que coordena um grupo de apoio para alcoolistas, o histórico familiar de alcoolismo é o primeiro fator que deve ser considerado para determinar se o jovem tende a sofrer dessa doença, já que isso aumenta a probabilidade. Outro aspecto que pode influenciar é o círculo social ao qual ele pertence, que reflete na frequência e quantidade do consumo. “Normalmente não se associa o alcoolismo a juventude porque

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Foto: Divulgação

a banda copacabana club faz música com energia e é uma das novas promessas da música brasileira no Muitos jovens tem seu desempenho nos estudos e no trabalho afetado pelo consumo elevado de álcool, no entanto, consideram isso normal

nessa fase é normal beber. A aceitação do álcool na nossa sociedade é muito grande, mas, muitas vezes, às pessoas esquecem que ele é uma droga e causa dependência química”. Além disso, o psicólogo ressalta que um dos principais indicativos de alcoolismo em uma pessoa é o fato de ela beber logo pela manhã.

“Quando uma pessoa está viciada em drogas, se for analisado o seu histórico, geralmente ela começou com o álcool”

No grupo de apoio em que Anderson trabalha, o mais novo que procurou ajuda por conta de problemas com álcool foi um rapaz de 18 anos, mas a questão dele estava associada à outras drogas também. De maneira geral, quem busca ajuda são pessoas mais velhas. “Normalmente eles já são alcoolistas desde os 20 anos de idade, mas vão

convivendo com isso, até o momento em que o vício é tão forte que chega a atrapalhar a própria vida ou das pessoas que estão ao seu redor”. Outro fator que se relaciona com o consumo excessivo de álcool na juventude (e pode ocasionar o alcoolismo) é a aceitação em determinados grupos sociais, o que é o caso de muitos universitários. Algumas vezes, para fazer amizades ou adquirir determinado status social, eles recorrem ao álcool. Outros vícios também podem gerar influência no consumo de bebidas alcoolicas. O álcool, tal como o cigarro, é um ansiolítico (redutor de ansiedade), por isso um vício pode se associar ao outro. “Quando uma pessoa está viciada em drogas, se for analisado o seu histórico, geralmente ela começou com o álcool. Eu li alguns estudos que mostram que a porta de entrada para outras drogas não é a maconha, como costumam dizer, é o álcool. Isso porque ele te leva a

situações e ambientes que podem ocasionar o contato com outras drogas”, explica o psicólogo. Anderson ressalta que é preciso buscar ajuda após identificar os fatores descritos, como o histórico familiar, a frequência e a quantidade. O apoio da família é fundamental, já que entre os jovens há certa dificuldade em aceitar o problema do alcoolismo, uma vez que o consumo é visto como algo normal. “Os jovens não acham que precisam parar de beber. Até em pessoas mais velhas a gente percebe isso. Quem nota são as pessoas mais próximas a eles. Mas entre os jovens a resistência é muito maior”.

mercado exterior Matéria e diagramação: Bárbara Brandão

Na estrada desde 2007, a banda Copacabana Club é formada atualmente por quatro integrantes: Alec Ventura, Camila Cornelsen, Claudinha Bukowski e Tile Douglas. O som do grupo curitibano é uma mistura de música eletrônica com indie rock e todas as canções são em inglês. Just Do It teve mais de 100 mil visualizações no YouTube. Algumas canções já foram trilha sonora de vinhetas da MTV Brasil e de um comercial da rede de TV internacional Fox. Em turnê em Londres, a vocalista Camila Cornelsen concedeu uma entrevista por e-mail ao Ágora Jornal. Vocês foram convidados a cantar em Londres recentemente. Como foi isso? O que isso representa para a carreira de vocês? A gente tinha o lançamento do disco programado desde o ano passado, num selo digital chamado PIAS. Por causa desse lançamento, surgiu esse convite. A gente nunca tinha feito nenhuma turnê na Europa. Acho bacana a oportunidade de mostrar o nosso trabalho em outros lugares.

Vocês pediram ajuda financeira aos fãs para a turnê em Londres. Como surgiu essa ideia? A banda entrou em férias no fim do ano passado. Nesse período dois integrantes saíram e dois entraram. Não tivemos muito tempo para nos reestruturar. Fizemos apenas duas apresentações antes de vir fazer a turnê em Londres.

passo grande e importante para a banda tocar aqui. Outras oportunidades poderiam surgir fazendo essa turnê e não teríamos como fazer sem ajuda. A campanha foi um sucesso. Tivemos 57 doadores, a maior parte da família, amigos próximos e os fãs mais assíduos. É legal ver que quem está perto aposta no grupo tanto quanto a gente.

“Quando estamos compondo uma música pensamos se ela é legal de ouvir e de dançar. Normalmente, se todo mundo está batendo o pé e se mexendo é porque ela está legal”. Nossa turnê dos Estados Unidos em 2010 foi paga com recursos da banda. E nós realmente gostaríamos de poder repetir isso nessa turnê, mas a realidade era outra. Não tínhamos tempo para juntar dinheiro. E as casas que nos convidaram pagam cachês simbólicos, quando pagam. Na situação que estávamos era ‘pegar ou largar’. Queríamos muito fazer a turnê porque, obviamente, seria um

Nós só temos a agradecer. Assim que chegarmos ao Brasil, enviaremos as recompensas prometidas. Como é a relação de vocês com o público? O que acham da aproximação entre fã e banda que as redes sociais estão permitindo? Nós atuamos intensamente na internet. Pessoalmente, tento responder tudo. Como fã, acho legal quando o ídolo responde.

Dá a sensação de que ele é tão humano quanto você. A barreira ‘palco-público’ é derrubada e isso é incrível. A música do Copacabana Club é divertida e dançante. Qual é o objetivo de vocês quando estão produzindo uma música? Quando estamos compondo uma música pensamos se ela é legal de ouvir e de dançar. Normalmente, se todo mundo está batendo o pé e se mexendo, é porque a música está legal. Acredito que esse seja o nosso sensor. Antes de formar a banda, vocês já eram amigos. Como é o relacionamento entre todos os integrantes agora, neste convívio de viagens e apresentações? Na verdade, no começo da banda, todos eram conhecidos. Eu conhecia mais a Claudinha e o Luciano. O Tile e o Alessandro eram amigos desde adolescentes. No fim do ano os garotos decidiram fazer outras coisas, e sairam do Copa. Agora estamos começando do zero, é uma nova jornada pra o grupo.

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enquete

Ficha Limpa em Guarapuava depois do debate nacional, o projeto foi votado pelos vereadores do município Matéria: Yarê Protzek No dia 25 de fevereiro, a Câmara de Guarapuava votou o projeto de lei Ficha Limpa, de autoria do vereador Élcio Melhem. A proposta proíbe pessoas condenadas pela Justiça de ocupar cargos públicos no município. A votação teve dez votos favoráveis. Em nota, a Câmara Municipal informou que a lei proíbe a nomeação para funções de se-

cretários municipais, coordenadores de despesas, diretores de empresas municipais, sociedade de economia mista, fundações e autarquias municipais, e cargos em comissão, no âmbito dos órgãos do Poder Executivo e Legislativo do município de Guarapuava, agentes políticos, prefeito, vice e vereadores. A lei ainda não entrou em vigor.

foi bem foi mal UM RESUMO DO MELHOR E DO PIOR DAS ÚLTIMAS SEMANAS

Movimento Passe Livre Estudantes de Guarapuava participaram em março do Movimento Passe Livre, que articulou uma paralisação no Terminal Central. O objetivo foi discutir sobre a questão do transporte público na cidade. A mobilização deu resultado, com o Ministério Público determinando a redução da tarifa.

Vale do Jordão Tal requisito é necessário e indispensável, posto que representantes do povo devem ser pessoas idôneas, polidas e pautadas em bons princípios. Alexandre Slompo

A situação de abandono do Parque Recreativo do Vale do Jordão é notória. Vários frequentadores do local reclamam da falta de infraestrutura e manutenção da área de lazer. Segundo alguns visitantes, não há, por exemplo, banheiros, nem lixeiras suficientes e os que existem são precários.

Recapeamento Asfáltico Demorou de mais para ser aprovada. Agora queremos um conselho de fiscalização dos gastos e orçamentos do município.

A prefeitura municipal fez um recapeamento asfáltico nos bairros Primavera e Vila Carli. No ano passado, houve muitas reclamações da população sobre a condição do asfalto em diversas partes da cidade, desde então já foram recapeados mais de 100 km de ruas. Embora seja ano eleitoral, o trabalho foi de grande valia para a população.

Tiago Moss

Acho de suma importância, um primeiro passo para uma nova época política. Principalmente aqui, onde existe um numero absurdo de casos, se for levar em conta o tamanho da cidade.

João Daniel Turok

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Guarapuava em rede nacional No último mês, Guarapuava foi destaque em rede nacional, mas, infelizmente, por motivos ruins. A Operação Hidra, executada em conjunto por forças policiais estaduais e federais, identificou uma quadrilha que movimentou mais de R$ 500 milhões em sonegação fiscal. O líder apontado é um guarapuavano.

há tempos Na editoria “há tempos”, a equipe do Ágora irá trabalhar para encontrar pessoas que apareceram nas linhas dos jornais guarapuanos há pelo menos cinco anos atrás. Nesse espaço, daremos voz novamente a essas fontes e personagens do passado. e contaremos o que o estão fazendo hoje.

u n d m i a l o ã e A história de p m a c um

DEZ ANOS DEPOIS DE CONQUISTAR O TÍTULO MUNDIAL DE KICKBOXING, CÉLIO RODRIGUES CONTA UM POUCO DE SUA TRAJETÓRIA DESDE ENTÃO Matéria e Diagramação: Mário Raposo Jr. Nesta segunda edição da revanche aqui em Guarapuava. Na editoria Há Tempos, traze- Sérvia, Célio perdeu por pontos, mos um dos principais atletas mas na revanche ganhou por noda cidade, o lutador Célio Ro- caute no 3º round. “Aqui eu ganhei drigues, que conta sobre sua por nocaute para não ter dúvida, primeira conquista mundial. para ninguém pensar que eu tinha O título de campeão de kick- metido a mão, para ele não chegar boxing, o primeiro mundial de no país dele e achar desculpa lá”. Célio, em março de 2002, foi cena Segundo o lutador, que já tradigna de filmes. Ele, um lutador balhou como engraxate e pipopouco conhecido do interior do queiro, sua maior satisfação com Paraná, enfrentando um dos me- o esporte é a possibilidade de molhores do mundo, o italiano Mi- tivar outras pessoas, especialmenchelli Lizzi (e na casa do adver- te crianças, à pratica de esportes sário). Célio teve que lidar não só e também a vencer na vida. Além com a pressão do disso, ele incentiva campeonato, mas aos que aspiram essa também com a profissão no futuro “Tinha gente falta de confiança a estudar, ter bom que falava: comportamento e dos compatriotas. disciplina. “Muitos “Tinha gente que o que um pais chegam e me falava: o que um guarapuavano dão os parabéns, guarapuavano vai fazer na Itália? porque muda, eles vai fazer na Disputar título espelham em alItália? Disputar se mundial não é pra guém. Agora me título mundial diz, tem dinheiro qualquer um”. No começo, Célio foi que pague isso?”. não é pra vaiado por todos, Célio Rodriqualquer um” gues se aposentou mas surpreendeu e, no 5º round, noano passado e, agocauteou o italiano. ra, segue o rumo “Independente do lugar que você empresarial, com uma empresa tenha vindo, com fé você prova de segurança e monitoramenao contrário. E foi o que aconte- to. Lá, ele dedica quase 100% do ceu. Eu fui à casa do adversário, seu tempo, além de dar aulas de entrei vaiado, mas saí aplaudido”. muay thay, mas não descarta a Após o título mundial de ki- possibilidade de defender seu ckboxing, Célio Rodrigues con- cinturão mais uma vez. “Os três quistou mais dois mundiais: o de títulos ainda continuam no meu muay thay e o K1. Ele chegou até nome. Não fui desafiado até o a perder o título de kickboxing na momento, mas, se for o caso, eu Sérvia, para Milos Anic, mas o re- já avisei à confederação que eu cuperou três anos depois, em uma vou defender no final do ano”.

CÉLIO NA ÉPOCA DO PRIMEIRO TÍTULO MUNDIAL (ACIMA) E, AGORA, TRI-CAMPEÃO MUNDIAL E APOSENTADO (ABAIXO).

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Fotos: Gabriela Titon

roteiro

Novos olhares: o encontro entre culturas europeias e indígenas As impressões de duas garotas – uma da Itália e outra da França – sobre as aldeias que conheceram no Brasil Matéria e diagramação: Gabriela Titon

Ao som do cantor cubano Silvio Rodríguez, a italiana Camilla Brison e a francesa Anaïs Klein conduziam uma oficina de teatro para adolescentes indígenas em terras brasileiras, numa manhã um tanto chuvosa de quinta-feira. Desde o início de fevereiro morando em Guarapuava, elas ajudaram a organizar a 1ª Mostra de Cultura e Arte Guarani, no Centro de Formação Juan Diego. Durante quatro dias, o local serviu de espaço para mostrar o trabalho desenvolvido pela Associação de cooperação técnica para o desenvolvimento humano – Outro Olhar nas aldeias paranaenses Palmeirinha do Iguaçu, Lebre e Tekoha Añetete e na catarinense Limeira. O evento – que contemplou peças teatrais, vídeos, danças, fotografias, produtos artesanais e debates – foi planejado a partir

das atividades do projeto Oindio: Cultura e Oportunidade na Rede, apoiado pelo Oi Futuro. Ao conversar com Camilla e Anaïs, que estão fazendo intercâmbio por meio da Outro Olhar, percebe-se o forte impacto cultural vivenciado, mas, ao mesmo tempo, o encantamento com tradições e costumes tão diferentes dos seus. Depois de visitarem as comunidades indígenas, elas contam que conheceram uma maneira diferente de enxergar o mundo. “Eles vivem naturalmente, com simplicidade. São muito espirituais e concentrados”, diz Anaïs. Ela explica que a cultura francesa é materialista. Já nas aldeias, eles têm suas casas, mas a terra representa algo ‘mais alto’, significando um lugar para ficar junto ao invés de mera posse. Na França, segundo ela, as pessoas se

esquecem de refletir. “Nas aldeias, eles são muito simples e vivem melhor porque não se importam com coisas materiais e tecnologia”. Camilla observa que existe uma preocupação maior com as pessoas nas comunidades indígenas, ao contrário de seu país. “Sobretudo na minha cidade, Milão, que é o centro da moda e da economia italiana, temos um jeito de viver muito rápido. Milão é uma cidade cheia de prédios e cinza”. Apesar de não terem total domínio sobre o português, as garotas expressam o sentimento de transformação que a viagem pode proporcionar quando voltarem para a Europa. “Acho que vou ser mais mente aberta”, comenta Anaïs. Para Camilla, conhecer o povo indígena é um privilégio. “Nem todo mundo pode entrar nas aldeias. Dormimos lá também; e normalmente eles

não permitem isso. Conhecemos outro jeito de viver, que não é o brasileiro, está longe do brasileiro”. Ela, que afirma ser muito exigente, considera que a experiência pode ajudá-la a desenvolver virtudes como a receptividade e a compreensão. Após experimentarem como é a convivência com as comunidades, elas organizaram a exposição de fotos da mostra e ministraram as aulas de teatro, já que trabalham na área em seus países. Anaïs, 19, é animadora de crianças. Camilla, 24, é formada em história de teatro e cinema. Nos exercícios da oficina teatral, era fácil notar que a interação entre elas e os demais participantes ocorria naturalmente. Com profissionalismo e sensibilidade, as garotas conseguiam fazer com que todos perdessem o receio e se sentissem confiantes para realizar as atividades que lhes eram propostas. O artesanato indígena ‘lindo e simples’, como define Anaïs, também

chamou atenção. “É a beleza que as pessoas gostam quando são crianças. Quando você é criança gosta de coisas que são boas verdadeiramente e quando cresce gosta de coisas mais complicadas. Essa arte é um pouco a arte da origem, mas da origem também de uma pessoa, como voltar a ser criança. E é super natural, eles usam madeira, sementes e plumas”.

“Eles vivem naturalmente, com simplicidade. São muito espirituais e concentrados” Sobre Guarapuava, elas destacam a hospitalidade. “Quando você entra em uma loja, as vendedoras vão encontrar você e ajudar”, exemplifica Anaïs. “Na rua, as pessoas falam ‘bom-dia’. Na minha cidade, você

não fala bom dia para ninguém”, relata Camilla. “Também encontramos pessoas que convidaram para ir nas suas casas. Os brasileiros são bem receptivos. Quando chegamos da Europa, não conseguíamos entender esse jeito de ser, porque parece que as pessoas querem algo de você. Ficamos pensando ‘por que ser tão gentil’? Mas é só para ser gentil”. Outra diferença observada em relação a seus países é a existência de vários locais com florestas. “O Paraná tem muitos espaços de verde. Tem uma cidade, aí um espaço de verde para depois ter outra cidade. Lá, tem uma cidade e logo já vem a próxima”, diz Camilla. Interessadas em entender a geografia do território, elas até compraram um mapa do Brasil. Mesmo sendo apreciadoras de qualquer viagem, as meninas afirmam que esse tipo de projeto possibilita conhecer com mais calma os lugares e as pessoas. “Quando você viaja é só turista. Aqui, não”, contou Camila.

Fotos: Gabriela Titon

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versus

cidadania

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HELENA KRÜGER

O novo álbum de Springsteen continua fiel ao seu bom e velho rock n’ roll, mas o que tem de genial em Wrecking Ball está ligado a mensagem que o veterano tem a dar. Em meio a ano eleitoral, crise econômica, surge Springsteen cantando a favor do proletariado, em busca do sonho americano que parece estar perdido. Abrindo o disco com We take care of our own (‘Nós cuidamos de nós mesmos’), Bruce já mostra o tom a que veio, com fortes críticas ao governo. Em Easymoney e em Wreckling Ball, Springsteen apresenta o que tem de melhor, gritando como uma espécie de porta voz dos americanos. Sem dúvidas, é um dos álbuns mais pulsantes do cantor, que manifesta sua raiva e indignação em um momento oportuno, por isso promete ser um dos discos do ano. Nessa época de artistas e hits passageiros, ver Bruce no topo das paradas da Billboard surpreende, e é ótimo ver que “The Boss” está de volta.

MÁRIO RAPOSO

Rondonistas em ação

Bruce Springsteen acaba de lançar seu 18º disco de estúdio, Wrecking Ball. Nesse álbum, ele apresenta um ótimo trabalho ao lado de sua banda The E Street Band. Pra ser sincero, é a primeira vez que realmente ouço um álbum inteiro do cantor, e me arrependi de ter demorado tanto pra conhecer mais do trabalho desse ícone da música americana. Em Wrecking Ball, Bruce mistura um pouco do rock moderno e do country, o que resulta em momentos muito bons, como a faixa-título, Death to My Hometown e a balada Jack of All Trades. Porém, como nem tudo são flores, o músico comete alguns deslizes, como na sonolenta This Depression e na insossa Rocky Ground. No geral, Wrecking Ball é um álbum muito bom, com mais pontos altos que baixos, vale a pena parar um pouco para escutar. Quem é fã vai gostar, e para quem, assim como eu, não conhecia muito do trabalho dele, é uma ótima maneira de conhecer.

Matéria e diagramação: Yarê Protzek

O PROJETO ATUA EM DIVERSAS CIDADES DO BRASIL E JÁ FORAM DISPONIBILIZADAS AS DATAS DAS PRÓXIMAS OPERAÇÕES

Bruce Springsteen é um ícone da música norte-americana. Começou sua carreira em 1969 e de lá pra cá já ganhou vários prêmios, entre eles, vinte Grammys e um Oscar. Bruce é conhecido pelo patriotismo apresentado em suas canções, o que faz com que ele seja muito querido pelo público americano e, especialmente, pela classe trabalhadora, muitas vezes citada em suas músicas.

MÁRIO

indicações

Livro: A visita cruel do tempo Autora: Jennifer Egan Trata sobre passagem do tempo e transformação das relações. Da São Francisco dos anos 1970 até a Nova York de um futuro próximo.

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Livro: Delírio Autor: Lauren Oliver Muito tempo atrás, não se sabia que o amor é a pior de todas as doenças. Uma vez instalado na corrente sanguínea, não há como contê-lo. Agora a realidade é outra.

Filme: Inquietos Diretor: Gus Van Sant Annabel é uma paciente terminal com muito amor pela vida. Já Enoch Brae perdeu a fé após uma tragédia. Ao se conhecerem, o casal descobre muitas coisas em comum.

Filme: Raul, o início, o fim e o meio Diretor: Walter Carvalho O documentário acompanha Raul Seixas da infância até a morte, passando pela paixão por Elvis e a parceria com Paulo Coelho.

Fotos: Caroline Kozak

HELENA

Criado em 1967, o Projeto Rondon oferece aos universitários e professores a oportunidade de atuar em regiões diferentes das quais estão habituados, além de desenvolver a cidadania e levar conhecimento para as comunidades. O Rondon é organizado pelo Ministério da Defesa e desde 2005 já realizou operações em mais de 800 municípios. Essas ações geralmente ocorrem nos meses de janeiro e julho no quais os rondonistas passam duas semanas desenvolvendo atividades na comunidade. O Ministério da Defesa divulgou as duas operações que serão realizadas em julho deste ano. Uma delas será no estado do Pará e recebeu o nome de operação ‘Açaí’. A outra será no Tocantins e foi chamada de operação ‘Capim Dourado’. Dois grupos são

formados para trabalhar nessas comunidades, o conjunto A e o B. O grupo A trabalha temas voltados a educação, meio ambiente, cultura e o B atua em assuntos referentes ao meio ambiente, tecnologia e trabalho. A professora Deonisia Martinichen, que participou do Rondon em 2010 e 2011, explica que o processo de inscrição funciona da seguinte maneira: “Primeiro é necessário ver quais os professores vão enviar o projeto da universidade. Depois que sair o resultado, os professores começam a pesquisar a realidade do município, as necessidades locais para fazer a operação e então é feito uma seletiva para escolher os alunos participantes que já começam a pensar no que será desenvolvido nas oficinas”. Acadêmicos de qualquer área

que já estão na metade do curso podem se inscrever, porém, os alunos escolhidos só podem participar apenas uma vez do Rondon. Deonisia comenta que, desde 2010, há uma restrição no número de projetos que uma universidade pode enviar. “Agora, as universidades podem mandar somente duas propostas. As inscrições são feitas pela universidade no site da PROEC e lá tem todas as informações e requisitos. O número de inscrição tem aumentado todo ano, o Rondon está sendo mais divulgado e as pessoas estão tendo mais interesse”. As cidades que recebem os rondonistas são escolhidas pelo Ministério da Defesa. Esses municípios precisam cumprir com alguns requisitos, como dar alimentação para os participantes do Rondon, hospedagem e es-

trutura para que eles consigam desenvolver os projetos. “Existem municípios que não possuem condições financeiras de cumprir essas metas, então, muitas vezes, o Ministério da Defesa acaba ajudando. Quando participei, nós procuramos tentar usar o mínimo possível de estrutura, ou coisas que o município precisasse gastar”, relata a professora. Os locais que os rondonistas já atuaram podem receber outras equipes nos próximos anos, porém, o espaço de tempo é longo entre uma operação e outra. Deonisia contou que na de 2010, realizada em Coeté, o Rondon já tinha atuado em 1970. “O prefeito da cidade mostrou, muito contente aos rondonistas de 2010, um certificado de participação de uma oficina que ele fez em 1970, quando era adolescente”.

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perfil Nessa editoria, a equipe do Ágora trará reportagens do estilo perfil, ou seja, matérias focadas em um personagem do nosso município. A ideia é conhecer melhor as pessoas que formam a cultura guarapuavana. Vamos saber mais sobre suas rotinas, trabalhos, pensamentos... Afinal, para conhecer nossa cidade, é importante conhecer as pessoas que a constroem.

EXPERIÊNCIAS DO RONDON a graduação e me fez crescer pessoalmente e profissionalmente”. Já Caroline Kosak, acadêmica de Engenharia Ambiental, participou da operação realizada em janeiro deste ano em Vila Nova dos Martírios-Maranhão. Caroline acredita que o objetivo dos rondonistas é tentar plantar uma semen-

vida daquelas famílias. Um simples sorriso, um bom dia quando passávamos na rua ou um abraço para eles mudava o dia e o fato de lembrar o nome deles e chamá-los era motivo de euforia”. A acadêmica de Engenharia Ambiental contou que se surpreendeu com as histórias da comu-

“Ás vezes reclamamos de bobeiras, enquanto eles, muitas vezes não tem o que comer, não sabem ler e nem escrever, mas vivem com um sorriso no rosto” te e deixar que elas brotem por si só. “Depois que a gente chegou lá eu percebi que o objetivo não era ensinar Educação Ambiental, mas sentar com as crianças e brincar. Percebi que ensinar eles a jogar o lixo no latão correto era supérfluo demais perante as condições de

nidade e a diferença das regiões. “Minha visão de mundo mudou completamente. Voltei de lá muito mais humana, com a minha sensibilidade a mil. Ás vezes reclamamos de bobeiras, enquanto eles, muitas vezes não tem o que comer, não sabem ler e nem escrever, mas

vivem com um sorriso no rosto”. Caroline completa dizendo que tem vontade de voltar depois de uns dez anos para ver se as sementes plantadas germinaram. Deonísia contou que todos que participam do projeto voltam com outra visão de mundo. “O Projeto Rondon meche muito com os participantes. Estimula a cidadania, o desenvolvimento pessoal e profissional. As cidades que vamos possuem uma realidade social diferente da nossa, embora eu acredite que nós também temos situações bem parecidas em nossa região, mas, às vezes, as pessoas não tem esse contato direto. Então, essa experiência nos afeta e passamos a nos preocupar não apenas com a parte técnica, mas também com o aspecto humana”. Ela completa dizendo que nos 15 dias que os rondonistas passam na cidade, o ritmo da comunidade muda e acaba motivando as pessoas a correrem atrás de informações e novas oportunidades.

A humanidade da natureza selvagem AMANTE DE ANIMAIS SELVAGENS, O PAULISTA ADRIANO TORRES HÁ QUATRO ANOS ENCONTOU EM GUARAPUAVA O SEU LAR. PARA ELE, SER VETERINÁRIO É MAIS DO QUE GOSTAR DE ANIMAIS, O QUE VALE MESMO É O LADO HUMANO.

Perfil

Matéria e diagramação: Helena Krüger “A gente nunca vai crescer em determinado lugar se não criarmos vínculos”. Essa frase Adriano Torres Carrasco ouviu de um professor ainda no primeiro ano da faculdade e diz nunca ter esquecido. O conselho não ficou apenas na memória do veterinário, ele também o carrega como lição de vida. Adriano tem um sotaque característico do interior de São Paulo, com o “R” bem marcado, tem três cachorrinhos adotados, gosta de futebol, toca trombone e adora música nacional, mas confessa que anda sem tempo para seus hobbies. O veterinário e professor mora há quatro anos em Guarapuava atuando no SAAS (Setor de Atendimento a Animais Selvagens) e na Clínica Veterinária da Unicentro. Adriano nasceu em Jacareí, interior de São Paulo, mas viveu a maior parte de sua infância e adolescência em Joinville, época em que o gosto e desejo por cuidar de animais já haviam despertado. Fotos: Helena Krüger

Bruna Lenhani, formada em enfermagem, participou do Rondon em 2011 na cidade de Gararu-Sergipe, Operação ‘Babaçu’, com o interesse de conhecer outra realidade social, além da habitual. Antes de viajar, a estudante acreditava que o contato com a população não seria tão grande. “Fomos muito bem recebidos pelos moradores da cidade. Eles nos procuravam na escola para tirar dúvidas. Em todos os momentos você conseguia tirar um aprendizado”. Lenhani comenta que na área de enfermagem, as ações desenvolvidas foram de educação em saúde juntamente com as acadêmicas dos cursos de fisioterapia e serviço social. Os temas mais tratados eram: hipertensão, diabetes, métodos contraceptivos, planejamento familiar, saúde bucal, cuidados com a gestação e com o recém-nascido. “O Rondon foi uma das melhores oportunidades que tive durante

“Desde que me conheço por gente eu quis ser veterinário, nunca pensei em ter outra profissão”. Aos dezoito anos, passou no vestibular que queria e deixou definitivamente a casa dos pais. Sem esquecer-se de suas origens, carregou a herança do pai e de sua mãe, e foi em busca de algo maior, sem deixar que algo o prendesse. Ambições, anseio pelo conhecimento e, acima de tudo, vontade de vencer na vida moviam o futuro veterinário a não perder de vista seu objetivo.

Descobrindo novas paixões Sua relação com animais selvagens começou com aves numa iniciação científica na universidade. Um pouco mais tarde, Adriano descobriu que além de ser veterinário também gostava muito de ensinar. “A minha primeira experiência como docente foi muito marcante, pois depois daquilo de-

cidi que não seria só veterinário, mas ensinaria a ser um”.

A psicologia da veterinária Quando entramos no setor onde ficam os animais selvagens, consegui perceber a ligação que Adriano tem com eles. Conversando e brincando com os macacos, ele mudava até mesmo o seu jeito de falar. O professor já teve contato com muitas espécies, desde passarinhos até onças. “As serpentes são as únicos que não lido, prefiro manter uma distância que considero segura”, brinca Adriano. Na opinião dele, muitos se esquecem de que, para ser veterinário, não basta só gostar dos animais, é preciso saber conviver com pessoas também. Para o professor, o que é mais apaixonante na profissão é ver a gratidão do animal. “É impressionante como

os animais são gratos, só quem trabalha e faz isso entende”. Adriano já passou por tantas situações, que já precisou até desempenhar o papel de um “psicólogo”. “Várias vezes, aconteceu de levarem o animal, a gente examinar e não encontrar nada de errado. Mas o dono fica horas e horas no consultório batendo um papo”. “A interação é incrível, o animal compreende que estamos cuidando dele, e deixa você chegar perto”. A dedicação e a maneira como Adriano encara a profissão e a sua relação com os animais pode se dizer que é no mínimo incomum. “Já aconteceu várias vezes de me ligarem de madrugada e eu precisar atender fora de expediente, mas vale a pena. Uma das coisas mais bacanas que já presenciei foi realizar a soltura de um animal selvagem. Eu o vi entrando no meio do mato e pude dizer: agora é por sua conta! Sinto-me feliz de poder fazer parte disso tudo”.

“É impressionante

como os animais gratos. Só Perfilsão quem trabalha e faz isso entende

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política

Legislativo Guarapuavano próximo de decretar projeto de publicação online sobre dados referentes à Câmara PROPOSIÇÕES DISCUTIDAS, ALTERADAS E FINALIZADAS ESTARÃO DISPONÍVEIS PARA CONSULTA NO SITE DO LEGISLATIVO

ligado à política local ele elogia a iniciativa, pois acredita que o maior acesso da comunidade irá ao encontro aos seus anseios. “Isto será bom. Em nossa cidade, o pessoal foca na região central, nas elites. A população periférica sofre, pelas poucas políticas públicas destinadas”, afirma o comerciante. Ele não estava sabendo do projeto, mas, após aprovado, pretende acessar o conteúdo sempre que possível. Celso Freitas de Garais, dirigente sindical, também elogiou a proposta. Usuário da rede eletrônica há cerca de 15 anos e

ERONDI NASCIMENTO COMERCIANTE

IDEAIS PRESENTES

Matéria e diagramação: Yorran Barone

Está em trâmite na Câmara Municipal o Projeto de Lei 02/2012, de criação do vereador Antenor Gomes (PT/PR), que obriga a publicação online de dados referentes a Projetos de Lei, Requerimentos e demais Proposições no portal do órgão guarapuavano. Apesar da possibilidade de acompanhar o que ocorre no Poder Legislativo, é possível que muitos não façam uso da ferramenta, tanto por desinteresse, quanto falta de informação. Esse é o caso do comerciante Erondi Nascimento, que acessa a internet há oito anos. Pouco

“Em nossa cidade, o pessoal foca na região central, nas elites. A população periférica sofre, pelas poucas políticas públicas destinadas”

ligado aos assuntos discutidos no legislativo, ele destaca que a proposta será em prol da clareza política. “Chegou para mostrar a transparência. Isto ajudará os guarapuavanos ter conhecimento do que ocorre no meio político. Deveria ser projeto de nível estadual ou federal”, relata Celso, relembrando que nem todos terão acesso, em tratando de contato material. “Muitos não podem usufruir ou se adequar aos computadores. Se o governo municipal tiver interesse e colocar em prática algo dessa relevância, será um bem para a população”.

Foi após notar algumas particularidades que o vereador Antenor Gomes pensou no projeto. Em princípio, ele destaca que algo o incomodou, sendo necessária uma iniciativa para eliminar o problema. “Recentemente houve manifestação sobre o aumento na tarifação das passagens de ônibus e um rapaz possuía cartaz com o seguinte recado: “Cade os vereadores?”. Aquilo me chateou, pois percebi a distância entre o que fazemos e o que a comunidade fica sabendo”, relata. “Quando há carniça na Câmara, a imprensa vem em

“Chegou para mostrar a transparência. Isto ajudará os guarapuavanos ter conhecimento do que ocorre no meio político”.

Foto: Yorran Barone

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Foto: Yorran Barone

peso e o local lota. Mas, se apresentamos boas propostas e que vão ao encontro à comunidade, ninguém fica sabendo”. Sobre a importância do projeto, Antenor ressalta que, quando posto em prática, será um ganho para a democracia. “Essa é a questão, a conquista da possibilidade de acompanhar o que é de interesse da comunidade. Muitas vezes, há bons projetos que são arquivados e a população não fica sabendo”. O vereador aponta acesso em tempo real, assuntos de interesse e conquista do conhecimento, como principais

objetivos. “Será possível à aproximação da política. O indivíduo terá uma biblioteca do que já fora feito. Saberá mais sobre questões municipais, regimento interno e tudo o que perpassa em seu município. Ou seja, estará a par de temas relevantes”. A página online será vinculada junto ao site da Câmara Municipal, sendo atualizada desde o momento do protocolo dos projetos junto à Secretária, até mudança de status, votação, além do acesso a integra das proposições e alterações realizadas no texto original.

“Essa é a questão, a conquista da possibilidade de acompanhar o que é de interesse da comunidade. Muitas vezes, há bons projetos que são arquivados e a população não fica sabendo”.

VEREADOR ANTENOR GOMES CRIADOR DO PROJETO

CELSO FREITAS DE GARAIS DIRIGENTE SINDICAL Foto: Arquivo Pessoal

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espaço aberto

Por Mauro Biazi

Juventude: A esperança parece estar pedindo, implorando para ser enterrada. Escrevo isso baseado nos últimos acontecimentos, para variar, de cunho político, que enojam cada vez mais os brasileiros, que de sol a sol calejam seus corpos para sustentar-se e os seus. Cifras de milhões são tratadas como troco de cafezinho nas conversas bandidas de políticos trapaceiros. A eles já não basta o poder, que os favorece com tantas e tantas vantagens, em troca de pouca ou nenhuma contrapartida para com quem os elegeu. Agora, parece haver uma competição para levar ao pódio o mais corrupto, o mais safado, o mais bandido, o mais sacana...tudo na certeza de uma impunidade que nos faz espumar de raiva. E assim, dia após dia, nos deparamos com escândalos que, sobrepondo aos de ontem, parecem ser partes da banalização da corrupção. Ser corrupto, além das riquezas materiais, e do corpo de apaniguados que gravita em torno dele – cada um com a cancerosa missão de contribuir pro feitio de mais roubalheira do nosso sacrificado dinheiro - abre portas importantes para a cooptação de outras autoridades que farão parte das engrenagens doentias da ilicitude, da bandalheira institucionalizada. Escutas telefônicas, volta meia, mostram o poder executivo misturado com judiciário, o legislativo cortejando o executivo, o judiciário abraçando interesses escusos, e a esperança, coitada, pedindo para ser enterrada, não a sete palmos, mas no mais profundo buraco que algum invento humano de cavocar possa construir. Mas aqui ressuscito a esperança – essa que penso querer ser enterrada no mais fundo do profundo buraco inimaginável. Acredito nos valores que pais conscientes passam aos seus filhos e filhas. Acredito numa parcela da juventude que não se embriaga, não se droga, nem se ilude com BBB’s ou com o canto

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Foto: Arquivo Pessoal

combater a corrupção é a sua missão

falso de lideranças necrosadas, pois é dela, a juventude sadia de corpo e alma, que a esperança se nutre para desfraldar o amanhã tão sonhado por pais cidadãos, pais conscientes, pais participativos da vida dos seus, e desejosos de um Brasil digno de todos os que acreditam e lutam por ele E quando o amanhã romper com seus raios guerreiros, para o enfrentamento diário contra as injustiças, por certo haverá de contar com o caráter dessa juventude que foi forjada em princípios indestrutíveis, incorrompíveis, numa educação baseada no respeito aos pais,

ao País, aos seus semelhantes e que fará, com toda a mais cristalina certeza, a diferença nesse amanhã que todos sonhamos ser redentor e equalizador de todos os nossos sonhos. Pois se assim não for, e nem quero deixar de acreditar o contrário, podemos iniciar o projeto de desenvolver a máquina que fará o buraco mais profundo onde a senhora esperança repousará para sempre...Um brinde a essa juventude, que será o diferencial na luta contra o câncer pestilento e endêmico da corrupção! Tintin!

O jornalista e escritor Mauro Biazi, mais conhecido por Tin Tin, busca, ao lançar seus escritos, reflexões da comunidade guarapuavana quanto ao trato das políticas públicas


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