Jornal Ágora 2011 - Edição 03

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RAP “E se o rap te tratasse igual criança, já que você trata ele como brincadeira?”

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Ágora Guarapuava - Junho/2011 - Ed. 03 - Ano 01.


Ágora RAP “E se o rap te tratasse igual criança, já que você trata ele como brincadeira?”

economia

editorial Pensamento de vitrola

Foto: Camila Syperreck

Guarapuava Junho/2011 Edição 03 Ano 01

Ágora Guarapuava - Junho/2011 - Ed. 03 - Ano 01.

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Imagem: Rashid

O Jornal Ágora 2011 traz assuntos do cotidiano do cidadão de Guarapuava pensados a partir de uma frase. Nesta edição, as matérias têm por inspiração frases de músicas famosas.

Nos tempos da vitrola ouvir algumas canções demandava um processo quase metodológico: o primeiro passo, quase um desafio, era encontrar os próprios discos - quem não vivia nas grandes capitais comerciais da época pouco tinham acesso a essas raridades musicais. Encontrado o bolachão de ruídos o momento do ápice do processo se aproxima e aí vem o segundo e mais prazeroso passo: ouvir as notas de poesia saídas do zunido da agulha. Ah, as músicas! Já na segunda metade do século 21 raridades e novidades musicais são encontradas em um ou dois cliques e logo entram para o nosso repertório virtual musical. A rapidez para o acesso musical e a junção da máquina de escrever à vitrola em forma de computador, e a criação de pequenos rádios contemporâneos em dispositivos móveis fez da música um acessório indispensável à existência. O método foi alterado e o acesso a essas expressões aumentou signifi-

cativamente, não há como refutar. As formas de apropriação e exaltação da música também não deixariam de sofrer transformações, no entanto, como nos tempos da vitrola, ainda fechamos os olhos para uma nova melodia; balançamos os pés com uma velha batucada e ainda nos permitimos embarcar nas poesias cantadas enquanto divagamos...divagam... divag...di..v...a... A terceira edição do jornal Ágora é inspirada por trechos musicais que nos despertam para novos pensamentos. O choro da viola encontra campeões do automobilismo; a irreverência tropicalista questiona a educação familiar. Na intensidade do rock n’ roll, gringo ou brasileirinho, a problemática econômica; no rap a rica cultura das periferias e da melancolia do Legião Urbana a pergunta: mas, afinal, quem somos nós? Nos tempos de outrora ou no agora, como diria o poeta, a música não pode parar.

ACABA A GRANA, MÊS AINDA TEM Um dos

princípios mais básicos da economia é bastante simples: não devemos

Expediente

gastar Reitor Prof. Vitor Hugo Zanette

Editor-Chefe da Edição 03 Keissy Carvelli

Tiragem: 750 exemplares Impressão: Gráfica Unicentro

Vice-Reitor Prof. Aldo Nelson Bona

Assistente de Redação e Revisora Morgana Nunes

Diretor do Campus Santa Cruz Prof. Osmar Ambrósio de Souza

Direção de Arte e Finalização Anderson Costa

Contato: (42) 3621-1325 e (42) 3621-1088 E-mail: agoraunicentro@gmail.com

Vice-direção de Campus Prof. Darlan Faccin Weide

Diagramação Andréa Alves e Eliane Pazuch

Diretor do Sehla (Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes) Prof. Carlos Eduardo Schipanski Vice-diretor do Sehla Prof(a). Maria Ap. Crissi Knüppel Dpto. de Comunicação Social Coord. Prof. Edgard Melech

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Professor Responsável Prof. Anderson Costa

Redação: Adriano Vizentin, Aline Bortoluzzi, Andréa Alves, Anita Hoffmann, Camila Souza, Camila Syperreck, Carolina Teles, Catiana Calixto, Eliane Pazuch, Evane Cecilio, Jeferson Luis dos Santos, Júlio Stanczyk, Keissy Carvelli, Leandro Povinelli, Luiz Carlos Knüppel Jr., Marcos Przygocki, Mariana Rudek, Monique Paludo, Morgana Nunes, Patricia Tagliaferro.

Download das edições www.redesuldenoticias.com.br e www.unicentro.br/agora Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro. O Jornal Laboratório Ágora é desenvolvido pelos acadêmicos do 4º ano de Jornalismo da Unicentro. Parceiros:

Matéria: Camila Syperreck

mais do que recebemos.

A sociedade em que vivemos nos leva a acreditar que é normal quando o dinheiro que recebemos acaba antes de chegar o próximo salário. Aprendemos, então, a nos virar com os cartões de crédito, as compras a prazo, os cheques... No mês seguinte, novamente o dinheiro acaba mais cedo e vamos repetindo o ciclo, sempre jogando as contas e pagamentos para o mês seguinte. No entanto, com algumas dicas muito simples da economista Juliane S. Maculan, podemos nos planejar para os gastos do mês inteiro e, ainda, fazer sobrar aquela graninha para poupar e poder comprar algo especial. Se você já está com problemas financeiros, será necessário, sim, tomar algumas decisões radicais para voltar ao equilíbrio. Cortar os gastos extras é

a primeira atitude. Itens dispensáveis, como TV a cabo, assinatura de canais especiais, aulas de dança, associações a clubes, tudo o que for possível deve ser cortado e, somente aquilo que realmente fizer falta em sua vida deve ser retomado, mesmo após a recuperação financeira. A bancária Kelly Duarte está em processo de contenção de custos e teve que aprender a controlar os impulsos ao passar pelas vitrines. “Eu tenho dinheiro suficiente para uma vida boa, mas estou me contendo e comprando somente o que é necessário, para poder pagar minha festa de casamento no fim do ano, do jeito que eu sempre sonhei”. Sair de casa sem levar os falsos amigos cartões de crédito, cheques, etc., também é importante. Muitas pessoas acabavam se endividando justamente por

não saber usá-los corretamente. Devemos relembrar que o ideal seria não comprar nada quando não tivermos como pagar a vista. É comum ouvirmos ou, até mesmo, falarmos a frase “não sei onde foi parar meu dinheiro”. Não saber onde seu dinheiro foi gasto é um dos principais obstáculos para quem quer economizar, por isso, manter uma planilha com as anotações sobre todos os seus gastos pode não parecer, mas é um requisito fundamental. O simples fato de anotar e ver com o que está gastando já faz com que você perceba se gasta demais ou não e, a partir de então, fica mais fácil se planejar e cortar aquilo que for possível. E, fiquem atentos, pois aqueles troquinhos que gastamos com lanches, balas, refrigerantes, pequenos gastos diários, também devem ser anotados, pois, muitas

Foto: Adriano Vizentin

“Tudo o que for possível deve ser cortado e, somente aquilo que realmente fizer falta em sua vida deve ser retomado”

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pagode música caipira

vezes, acabam se tornando grandes quantias que ninguém percebe onde vão parar. A universitária Larissa Fritzen contou que todos os meses recebe dinheiro suficiente para pagar as contas referentes a moradia, alimentação e faculdade e, ainda, um tanto a mais que poderia e deveria ser guardado para o futuro. Porém, a estudante sempre acabava gastando tudo e nunca sobrava nada para que ela pudesse guardar. Foi assim até que Larissa resolveu colocar todos os gastos em uma planilha e percebeu que uma parte daquilo que gastava eram gastos desnecessários. “Antes eu gastava e nem sabia com o que ou para onde ia o dinheiro. Depois que comecei a anotar, percebi que

poderia cortar alguns gastos, que eram futilidades, ou, pelo menos, gastar menos vezes”. O escritor Alex Castro, 36, resolveu abdicar do dinheiro para viver uma vida mais tranquila e menos dependente do trabalho. Ele mantém um blogue onde relata suas experiências como “ex-rico” e revela uma série de dicas para fazer com que as pessoas pensem melhor antes de consumir. Uma das mais interessantes é criar uma medida de conversão própria. Por exemplo: o escritor comparava os preços dos produtos com a quantidade de carne de frango que poderia comprar com a mesma quantia de dinheiro. Essa dica também é válida se converter o dinheiro em horas de trabalho. Se alguém que recebe R$ 7 por hora

trabalhada quer comprar um jogo de videogame de R$ 100, será necessário que essa pessoa trabalhe quase dois dias para poder comprá-lo. Será que o jogo realmente vale tudo isso? O auxiliar de administração Lucas Leal, 26, aprendeu o valor do seu trabalho depois de uma dura lição. “Comecei a trabalhar e achei que estivesse esbanjando dinheiro. Comecei a gastar demais e, quando percebi, já tinha feito um buraco no orçamento. O trabalho, que antes eu pensava que retornaria em diversão, virou uma forma de pagar as minhas dívidas”. O ideal ainda seria que todos tivessem um fundo de emergência, um dinheiro separado exclusivamente para usar em momentos de crise. Mesmo

Hidden (Chile) @RoyaltyFree

“O trabalho, que antes eu pensava que retornaria em diversão, virou uma forma de pagar as minhas dívidas”

aqueles que mantêm um bom controle sobre as economias se veem desesperados quando acontecem acidentes, ou quando há um caso de doença grave na família. Com essa reserva, não seria necessário se preocupar com o aspecto financeiro desses problemas. Ainda segundo a economista Juliane Maculan, o nível de consumismo no Brasil é muito alto, e é perceptível que os valores de consumo são invertidos. Existem alguns casos em que a parte do orçamento familiar dedicada à educação não passa de 1%. Não há, por parte do governo, uma preocupação com a educação financeira, diferente de alguns países, onde ela é ensinada nas escolas, antes de as crianças terem liberdade para poder consumir.

Música: Surfando Karmas e DNA Composição: Humberto Gessinger Intérprete: Engenheiros do Hawaii Álbum: Surfando Karmas e DNA (2002)

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peguei a viola,

botei na sacola e

fui viajar

Matéria: Morgana Nunes

Sanja Gjenero (Croatia) @RoyaltyFree

“Acaba a grana, mês ainda tem”

Amanheceu, A origem do instrumento é remota. Do baixo latim encontramos: vidula, vitula, viella ou fiola, mas nenhum destes vocábulos serviu para designa-la. É por excelência responsável por acordes nos mais longínquos rincões do sertão brasileiro. Suas cordas comunicam sua vibração ao ar. Serve para acompanhamento de canto e dança. Pode ser tocada só, executando solos, ou em dupla, o que é muito comum. Muitos dizem que não há moda sem ela. Veio de Portugal e ao aclimatar-se em terras brasileiras sofreu algumas modificações, não só em sua anatomia como também no número de cordas. É a lei da evolução. Evoluiu tanto que nós conhecemos, no Brasil, cinco tipos distintos de violas de cordas de aço: a paulista, a goiana, a cuiabana, a angrense e a nordestina. Algumas possuem 10, 12 ou 14 cordas dispostas em pares começando de baixo para cima e mais de 40 afinações dependo do tipo e do material de que é feita. Os dois primeiros pares são afinados em uníssonos e os outros em oitavas.

Podemos citar alguns nomes que popularizaram o toque das cordas caipiras como: Alvarenga e Ranchinho; Torres e Florêncio; Tonico e Tinoco; Vieira e Vieirinha. O som é cheio, completo e de uma sonoridade única, chora, alegra e pagodeia como nenhum outro instrumento. Se apenas uma faz todo esse estardalhaço, imagine umas trinta, por exemplo... Deve ser uma festança que só. VIOLA MÁGICA Um menininho de seis ou sete anos com olhos azuis e cabelos cor de sol segurava um instrumento um tanto quanto maior que o próprio tocador. Olhava atentamente a pasta preta, repleta de letras, símbolos e números dispostos em cima da poesia de uma música. Saía dos dedos cuidadosos e do olhar primoroso daquele menino a trilha sonora para a entrevista com o professor responsável pela orquestra de viola, Alessandro Lange, que há muitos anos segue ensinando o ofício de fazer música. “Esse é o meu garoto”, diz ele orgulhoso do aprendiz. A ideia de montar uma orquestra de viola partiu dos próprios alunos. O instru-

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educação

É proibido

mento genuinamente brasileiro foi adaptado de um tipo de rabeca vinda de terras lusitanas . A curiosidade é que esse instrumento com mais de centenas de anos voltou nos dias de hoje com força total. Antes era o companheiro do sertanejo solitário sentando à varanda de casa e hoje foi adaptado às mais modernas tecnologias da música brasileira. “Acho que nos tempos em que vivemos temos uma necessidade incrível de guardar, rememorar e de certa forma adaptar o que era antigo para os dias de hoje. Imagino que seja medo de perder as raízes das histórias. A correria e a rapidez com o que as horas passam despertam esse medo dentro da gente, o de perder. E a orquestra é para nós uma forma de relembrar os tempos antigos”. Segundo o professor Alessandro, existem cerca de dez orquestras de viola no estado do Paraná. A mais famosa é a Orquestra Paranaense de Viola Caipira FAG, mas existem muitas outras. “Em Maringá, Pitanga e até mesmo aqui perto de nós, no Turvo, já tivemos uma orquestra de viola com mais de quinze violeiros. Não é novidade, elas existem fortemente no interior de São Paulo e os alunos se inteiraram disso. Na verdade, a

nossa orquestra foi mais uma conseqüência das aulas em que ensino a tocar o instrumento. A viola tem um som brilhante!”. A orquestra não tem limite de idade: há alunos de dez a 75 anos. Isso demonstra a variedade dos motivos pessoais de cada integrante. Uns são por sentir a nostalgia do tempo em que os avós e os pais tocavam o instrumento, outros por curiosidade e muitos por acharem que a viola é mágica, especial e única. Alessandro nos conta sobre os laços que a reunião das aulas despertam em cada componente. “A orquestra, digo isso em nome de todos nós, é uma família. Nos reunimos frequentemente para contar os causos, dar boas risadas e matar a saudade dos tempos antigos. As crianças aprendem não só as lições de música, mas também as de vida”. Um dos alunos mais assíduos das aulas de viola e também componente da orquestra é o professor do departamento de história da Unicentro, Flamarion Laba. “A viola esteve presente em toda a minha vivência. Para mim, dos instrumentos da família das cordas, ela é a que tem o som mais bonito. Sempre ouvi músicas caipiras. É prazeroso poder reviver os tempos antigos pelos acordes da viola. Quando toco o instrumento revivo a década de 70 , tempo em que Léo Canhoto e Robertinho, Milionário e José Rico tocavam. Mas os grandes mestres da música caipira são Tonico e Tinoco, sem nenhuma sombra de dúvidas”. Zeni Marques Antoniet, uma senhora de 80 anos, nos conta que o marido dela, Arnoldo Antoniet, cuidava arduamente, de sol

“Essa é a nossa maneira de eternizar e evocar os grandes mestres da viola caipira”

a sol, do campo e que nos finais de semana ele pegava a sua viola de dez cordas, de corpo de madeira caxeta e animava a casa toda com o som encantado da viola. “A piazada chegava em casa feliz quando o Arnoldo estava na varanda da nossa casa tocando. Eles pediam: “Ô vô, toca aquela da Carol. Toca vô, toca?”. E ele perguntava: “Mas qual, criançada? O vô não está lembrando”. E eles respondiam: “Aquela das pernas lá!”. E ele mandava ver: ”Olha as pernas da Carolina não são grossas e não são finas...”. E a criançada tirava o maior sarro dela. Ele era a alegria na nossa casa”. O grupo de 30 violeiros se apresenta continuamente e vem ganhando reconhecimento pelo trabalho. “Estamos animados com o nosso desempenho e resguardamos alguns meses para ensaiar exclusivamente para a gravação do nosso DVD em agosto no Centro Cultural Mathias Leh, na colônia Vitória no distrito de Entre Rios”. A orquestra é dividida em funções. “Fazemos assim: dividimos uma quantidade de músicos para o naipe de solo, composto por três vozes graves e agudas, e outra para o naipe de base, que é o de harmonia e fica responsável por fazer as batidas percussivas da música. A parte da melodia é comigo, eu escrevo a partitura e cada um estuda em casa mesmo. Eles ensaiam e aprimoramos nas aulas”, explica Alessandro. E finaliza: “Confio e boto fé nos meus alunos. Essa é a nossa maneira de eternizar e evocar os grandes mestres da viola caipira”.

“Amanheceu, peguei a viola, botei na sacola e fui viajar” Música: Amanheceu, peguei a viola Composição: Renato Teixeira Intérpretes: Renato Teixeira e Sergio Reis Álbum: Renato Teixeira e Sergio Reis (2010)

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proibir Matéria: Evane Cecílio

As mudanças na sociedade revelam novas maneiras de educação dos filhos Foto: Evane Cecílio

Como dizia Caetano Veloso, é proibido proibir. A música, uma corajosa composição de Caetano, remetia a uma época em que se lutava contra a ditadura militar aqui no Brasil. Na França, a frase era lema dos jovens e representava a rebeldia contra o conservadorismo e a busca por liberdade. A sociedade mudou muito de lá para cá e todas estas mudanças influenciaram nas estruturas familiares e na forma de educar os filhos. Para a Psicóloga Carine Suder Fernandes nessas novas formas de se organizar em família, a educação dos filhos fica ainda muito sob a responsabilidade da mãe, mesmo que ela esteja sobrecarregada de várias tarefas, entretanto, existe uma parcela crescente de pais que pensam diferente. “Há uma tendência entre alguns grupos familiares em dividir essa tarefa, embora haja a compreensão quase geral de que seja tarefa é da mãe e que

os pais apenas estão ajudando”. Existe também uma mudança na concepção de ser criança, de ser pai, de colocar limites, de disciplinar. Os pais muitas vezes preferem deixar os filhos mais soltos por ficarem com medo de fazer alguma coisa errada e que possam prejudicá-los no futuro. Soma-se a essa insegurança a responsabilidade de educar o filho para ser um cidadão responsável pelos seus deveres, consciente de seus direitos e valores que são importantes para se viver em sociedade. Com todo este contexto de mudança muitos pais não sabem até que ponto devem ou não proibir ou limitar os filhos. A psicóloga Carine explican que em alguns casos são importantes as proibições. “Se pode proibir até onde o desenvolvimento e a segurança física, psicológica e social da criança forem colocados em risco. Nós deveríamos proibir comportamentos que podem ser

perigosos para elas em curto, médio e longo prazo”. Essas proibições, dependendo da idade da criança, devem ser esclarecidas, explicando o porque de existirem tais regras. O diálogo se torna muito importante para esclarecer e negociar na medida em que a criança seja capaz de tomar decisões sozinhas e pensar sobre as consequências das suas ações. Alguns pais convivem com a resistência dos filhos em aceitar essas limitações ou proibições, como é o caso de Maria Domingues Palhano e José Alves Palhano, que sofrem com a resistência da filha adolescente. “Hoje os pais falam uma coisa e os filhos não aceitam e fazem do jeito deles. Nós até impomos limites, mas nem sempre são cumpridos. Os filhos não querem mais obedecer”. Segundo Carine, as resistências podem vir de uma tentativa de se diferenciar dos pais. “Afi-

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cultura

“Educar não é nem limitar nem proibir, mas estabelecer regras de convivência” nal de contas, ela está se constituindo como sujeito, quer ser independente dos pais. Muitas vezes ela não vai estar aberta ao diálogo e não adianta bater de frente e nem discutir. Nesses casos uma solução é reivindicar a autoridade de pai: ‘é assim e eu não vou mais discutir isso. Ponto final’”. A adolescente Tainá Palhano, 15, considera importante a imposição de limites, mas condena a proibição. “Sinceramente, não tenho a melhor relação com meus pais. Creio que seria melhor se eles soubessem impor mais limites do que proibir. É claro, não viver em total liberdade, mas não sem ela. Os pais devem procurar entender mais os filhos e saber como eles pensam e não achar que só eles estão certos”. A professora Clarice Schneider Linhares, mestre em Educação, fala sobre a importância em entender o que é educar. Para ela, “educar não é nem limitar nem proibir, mas estabelecer regras de convivência, onde é importante o diálogo entre pais e filhos. Esses devem aprender o respeito aos princípios da autoridade que os pais devem saber exercer”. Algumas vezes os pais resistem em impor limites e os filhos lutam contra essa autoridade, isto ocasiona insegurança, que faz com que os pais ajam ora por impulso ora com impaciência ou indiferença aos ‘maus’ atos da criança, tornando-os permissivos.

Por isso a necessidade de entender o que é autoridade e que critérios devem ser tomados para assumir a autoridade. Essa autoridade, segundo a Psicóloga Carine, está relacionada a ter mais poder sobre o outro e isso permite que se tome decisões por ele, sem que ele possa decidir, participar disso. “O critério de autoridade varia, no caso dos pais, eles são os responsáveis legais, também possuem mais experiência de vida e teoricamente mais conhecimento para poder passar para a criança”. O autoritarismo ocorre quando o uso dessa autoridade vai além do necessário, quando há o intuito de impor desejos e vontades ao filho, sem questionamentos. Neste caso este indivíduo é entendido como uma posse, como um objeto que pertence aos pais e não como uma pessoa pela qual são responsáveis. Além de toda a importância do afeto e da compreensão, os pais também precisam ter essa clareza sobre o papel deles em relação ao filho. Pai não é amigo, pois a amizade implica em uma relação de parceria e igualdade que não existe entre pais e filhos. Para a professora Clarice: “O pai não é amigo, o pai é pai, mas precisa ser protetor, saber falar as coisas certas no momento adequado, dar bons exemplos e principalmente passar segurança”.

“É probidio proibir” Música: É proibido proibir Composição: Caetano Veloso Intérprete: Caetano Veloso Lançada no III Festival Internacional da Canção (1968) Álbum: Coletânea A Arte de Caetano Veloso (2004)

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Foto: Evane Cecilio

O Eu só meu Matéria: Keissy Carvelli Num ocidente não muito distante caminhava olhando para o céu um jovem rapazote conhecido pelas redondezas como Pensador. O menino perdia-se pelos tons e mistérios do infinito acima da cabeça distraindo os olhos enquanto os pensamentos despertavam as dúvidas daquilo que está além: tentava prever o tempo. Analisando os detalhes do céu que poderiam indicar chuva ou seca, o menino tropeçou e caiu. Diz a lenda que um senhor que passava pelo menino o repreendeu chamando-o de lunático. Lendas são lendas, mas o menino pensador era Tales de Mileto, supostamente um dos sete sábios da Grécia Antiga de aproximadamente 650 anos a.C. O “lunático” menino quando não se perdia entre o céu pensava a política, a ética, a totalidade e a verdade. No entanto quando perguntado sobre a maior dificuldade, respondeu objetivamente: “Conhecer a si mesmo”. Desde que teve a ideia de ser homo sapiens, o animal homem cria grandes indagações permitindo aguçar a busca incessante por soluções e suas diversas variações. Ser ou não ser? Se penso, logo existo? Ou desisto? Ora, o inferno definitivamente são os outros! Pensando o sujeito singular enquanto ser inteligível, o professor Manuel Moreira da Silva, doutor em Filosofia pela Unicamp, define o indivíduo

e uas q s á H ano l i sm trê se m e m o ho : nta u g per ou? s m que

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economia “Quando se tem um contato mais intimo consigo mesmo, quando se percebe ‘fora do mundo’, só, pode ocorrer de cair no vazio existencial, ou no ápice da existência” humano como “um ser de carne e osso, como todos os seres que existem materialmente que tem vida, mas que tem uma compreensão de si mesmo que, de certo modo, transfigura essa carne e esse osso, fazendo do corpo uma espécie de expressão da nossa alma, do nosso espírito, da nossa consciência”. As questões metafísicas buscam, essencialmente, penetrar no que está por detrás do ser físico enquanto tal. É ir além do além para uma compreensão mais próxima do ser. “O aspecto principal do nosso ser é o modo como nós, interiormente, nos compreendemos como seres inteligíveis ou espirituais que somos, portanto, como seres livres”, discorre o filósofo. Existo, logo sou O conflito existencial perpassa, ainda, por outros aspectos que fogem do “eu”: os OUTROS! E é do francês Jean Paul Sartre a frase “O inferno são os outros”. Pensador do século 20, Sartre inseriu no círculo de discussões mo-

dernas a definição do Existencialismo, sendo o homem condenado a própria liberdade. Condenado porque o Filósofo e adorador de paixões – relacionou-se, no mesmo período, com nove mulheres – pensava ser a existência do ser definida pelo mundo externo. “Não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós”. Desse modo, o existencialismo dá ao homem a posse do que ele é e de submetê-lo à responsabilidade total de sua existência e, portanto, de sua liberdade “como seres livres nós temos certa relação uns com os outros que não implica necessariamente o modo sensível, no qual nós existimos. Porque esse modo finito (fenomênico) é um aspecto. Enquanto nós nos compreendemos nesse aspecto, nós temos uma existência conflitual na qual buscamos o reconhecimento. Reconhecimento do

que somos politicamente, social, e principalmente o que somos ontologicamente, isto é, existencialmente”, acrescenta Manuel. Despertar o pensamento para o ser reflexivo é o princípio para o conhecimento do eu, para que, então, seja possível o reconhecimento do outro “quando se tem um contato mais íntimo consigo mesmo, quando se percebe ‘fora do mundo’, só, pode ocorrer de cair no vazio existencial, ou no ápice da existência”, reflete a acadêmica de Filosofia da Unicentro Dariane Martiol de Souza. Só, somente só Quando o indivíduo se entende enquanto único, portanto só, o conflito humano cresce mais que o ser. Ainda que com diversos aparatos filosóficos, o sujeito das últimas décadas ainda se transfigura entre os pensadores

reflexivos que indagam o ser, principalmente, o ser só. No cenário musical brasileiro, Renato Russo se destacou pelos lamentos das descobertas da solidão. “Sou uma gota d’água, sou um grão de areia”, reflete a necessidade de se distanciar do coletivo para a compreensão. “Se minha existência no mundo é expressa por atividades que qualquer outro indivíduo, sob as mesmas condições, pode realizar, eu não existo de verdade. A sensação de estar sozinho afirma minha existência destacada da coletividade”, afirma Henrique Abe, estudante de Relações Internacionais da PUC-SP. A máxima compreensão do ser, para a acadêmica Dariane, pode, então, amenizar os conflitos do estar só diante do mundo. “A vida tem sentido quando se tem consciência de si mesmo. Esse si é um eu reflexivo que vai além do cogito cartesiano e quando se tem consciência de si mesmo, o fato de ser um grão de areia não importa, não fere, não joga no vazio existencial e é superado”.

“Sou uma gota d’água, sou um grão de areia” Música: Pais e filhos Composição: Dado Villa-Lobos, Renato Russo e Marcelo Bonfá Intérprete: Legião Urbana Álbum: As Quatro Estações (1989)

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Me dê combustível, me dê fogo, me dê tudo o que eu mereço Matéria: Morgana Nunes O aumento no preço do álcool causou espanto no bolso do consumidor. E mais uma vez reinou a lei da oferta e da procura. A partir dela, é possível descrever o comportamento dos consumidores em relação a compra de bens e serviços por determinados períodos em função das quantidades e dos preços. Nos períodos em que a oferta de um determinado produto excede à procura seu preço tende a cair. Já em períodos nos quais a demanda passa a superar a oferta, a tendência é o aumento do preço. Trabalhar com agronegócio não é uma tarefa fácil, o produtor está sujeito a diversos problemas específicos do trabalho no campo, como sazonalidade da produção e do consumo, va-

riações da qualidade do produto, perecibilidade da matéria prima, aspectos sociais do consumo, oscilações do mercado e das condições edafoclimáticas, algumas especificidades que são previsíveis e outras que infelizmente, são lançadas à sorte. Em se tratando da produção canavieira no Brasil, não é diferente. Os períodos de safra e entressafra influenciam a cadeia como um todo, pois eles definem o período em que a indústria vai receber a matéria prima. É o que nos explica Adriano da Silva, Superintendente da Alcopar (Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná). “A lei de mercado é muito clara. Se você aumenta a oferta, você declina o preço, se você reduz a oferta, porque não produziu ou por qualquer outro motivo, você pressiona o preço no sentido de elevação. Como não produziu o preço explodiu”. Trazendo um pouco do passado, podemos afirmar que outro fator que agravou a produção de cana foi a que vivenciamos no ano de 2009. Nesse ano tivemos,

A alta do preço do etanol pegou os consumidores de surpresa. Quais foram os principais motivos para o aumento do combustível?

além da crise financeira, um grande problema na produção. Os canaviais não foram adubados como deveriam e não foram renovados, porque não havia recursos financeiros para isso. Já no ano de 2010, além dessa deficiência, tivemos um período de seca intenso durante os meses de junho e julho, e isso atrapalhou não só a produção da cana, mas também todos os demais produtos que dependiam de sol, água e terra para se desenvolver. Adriano nos conta ainda que “as

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Os municípios com maiores áreas cultivadas de cana no Paraná

plantas não cresceram e não se desenvolveram e, portanto, não tivemos matéria prima para industrializar, resultando na menor produção da região centro-sul [principal região produtora de cana do país], chegando a uma queda de 2,4 bilhões de litros de etanol. Essa redução enxugou o mercado, e a demanda continuou subindo sem haver a oferta”.

Alguns dados Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a produção paranaense de cana dos últimos anos ficou na casa dos 50 milhões de toneladas (53,8 milhões de toneladas em 2009, 51,2 milhões em 2008), oriundas de uma área de 590 mil hectares da cultura. Segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), do terceiro levantamento de janeiro de 2011 da safra 2009/2010, a previsão, do total da cana esmagada, era que 46,2% seriam destinadas à produção de açúcar, o que deveria gerar 38.675,5 mil toneladas do produto. E a produção de açúcar poderia ser 16,93% maior em comparação com a safra anterior. São Paulo, um dos estados que mais cultivam o produto, produziu 61% para o processamento do açúcar. Isso justifica mais um fator que

Município Áreas (mil hectare) Jacarezinho 24 Cambará 22,3 Tapejara 20 Rondom 20 Colorado 15 Cruzeiro do Oeste 15

agravou a oferta do etanol no mercado interno nacional.

O consumo e o meio ambiente A discussão também gira em torno dos problemas relacionados ao meio ambiente e a saúde humana. Devido ao aumento do valor comercial do combustível não vale a pena abastecer com álcool quando o preço exceder 70% da gasolina. A conta é simples: basta dividir o preço do litro do álcool pelo o da gasolina. Se o resultado for menor que R$ 0,70, o álcool é a melhor opção. Mas para Adriano, os consumidores estão cada vez mais conscientes quanto ao uso de combustíveis menos poluentes, e que isso também fez aumentar a demanda pelo produto. Quando o preço começou a subir e a oferta era pequena, a demanda continuou aquecida. E mesmo com o preço subindo, o povo brasileiro continuou abastecendo com álcool, e isso agravou ainda mais a situação. O que a gente conclui com isso? Que o brasileiro não está levando em conta apenas o aspecto econômico, que existem outros valores, como o ambiental, o renovável, o social. Hoje o brasileiro está disposto a contribuir para melhores condições ambientais sustentáveis.

Cuidados para regular a produção futura Maria Silvia Digiovani, Engenheira Agrônoma do Departamento Técnico Econômico da Federação de Agricultura do Estado do Paraná, nos explica que para que não haja a necessidade de migrar ao uso da gasolina e assim virar um ciclo que se afunile para a importação do produto, como ocorreu no ano passado com o aumento de 19% da demanda do combustível, uma das precauções que devem ser tomadas é em relação aos estoque reguladores. Silva comenta sobre algumas medidas a serem tomadas pelo governo para que não ocorra, novamente, a inflação no preço comercial do etanol. “Primeiro precisaríamos voltar a incentivar o aumento da produção, corrigindo as deficiências que aconteceram na produção do ano passado. Em segundo lugar teríamos que formar estoques reguladores, ou seja, tendo o volume necessário em estoque para atender a demanda do mercado diante de qualquer crise. Assim se vier uma situação climática que atrapalhe a produção, poderemos usar desses estoques reguladores e assim não estaremos suscetíveis as oscilações”.

“Me dê combustível, me dê fogo, me dê tudo o que eu mereço” “Gimme fuel, gimme fire, gimme that which I desire” Música: Fuel Composição: James Hetfield, Kirk Hammett e Lars Ulrich Intérprete: Metallica Álbum: Reload (1997)

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Crédito: arquivo pessoal

esporte

Paixão a a d i v o m

a n i l o s a g Matéria: Luiz

Abre-se a volta na reta principal, um declive onde se adquire uma grande velocidade. A primeira curva é a esquerda no fim da reta, logo em seguida uma chicane com uma curva forte a direita, seguida por outra esquerda e mais uma à direita, afunilando o traçado e formando algo como um coração no circuito. “Essa parte, nós pilotos, chamamos de ‘miolo’”. Após o miolo há uma grande reta, onde ocorre a maioria das ultrapassagens, seguida de uma curva abrupta para esquerda, que dá entrada na reta oposta. Nessa parte pé embaixo para a subida. “Sim, nossa pista tem bastante aclives e declives”. Após subir a reta oposta, tem uma curva forte a esquerda e outra a direita que desemboca

Qual a semelhança entre um piloto amador de kart, e um grande campeão do automobilismo mundial? O combustível que move suas paixões: a gasolina

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Carlos Knüpp

novamente na reta principal e, enfim, na linha de chegada. Essa é a pista do Kartódromo de Guarapuava, descrita por Arthur Gubert, um apaixonado por automobilismo de 20 anos de idade, e que já percorreu quilômetros e mais quilômetros, por essa pista com seu kart. Assim como ele, são muitos os sonhadores que percorrem esse e outros traçados espalhados por ai e veem no final da reta não somente a linha de chegada ou a bandeira quadriculada. O que estes sonhadores enxergam, na verdade, é o sonho de se tornar um grande piloto, sonho de ficar o mais próximo do pódio em cada corrida. Nessa longa estrada até o sucesso muitos se perdem pelas curvas sinuosas e pelos traçados traiçoeiros que a vida impõem

não alcançando, então, o objetivo principal. Realmente são poucos os que conseguem chegar ao fim dessa prova em que o prêmio é a glória do mundo automobilístico. Um desses vencedores é Ricardo Zonta, piloto paranaense de 44 anos, que venceu todos os obstáculos, e hoje é um nome respeitado no automobilismo brasileiro. Nascido em Curitiba, Ricardo Zonta também percorreu muitas pistas como a do Kartódromo de Guarapuava. Assim como a maioria dos pilotos profissionais, ele também iniciou no automobilismo pelo kart, em meados de 1987. Em 1991, Zonta já era bicampeão paranaense. De lá para cá, suas vitórias, suas conquistas e seus títulos foram crescendo tão rápido quanto a velocidade que Zonta atingia nas pistas.

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MÚSICA

Outro problema causado pelo custo alto do esporte é a questão dos patrocínios, pois acabam condicionando o piloto a certas equipes, o que pode prejudicar o profissional. “Nem todas as equipes são boas e o patrocínio acaba determinando a equipe que você corre”. Ao longo de 24 anos de carreira, e com mais de 300 corridas disputadas, Zonta conhece todas as dificuldades, problemas e frustrações que o automobilismo enfrenta, mas ao mesmo tempo conhece também todas as alegrias, glórias e prazeres que o esporte proporciona. Já Arthur Gubert conhece muito bem o kartódromo de Guarapuava, e hoje divide seu sonho de ser piloto com o de

ser um grande advogado. Pode parecer que Arthur e Ricardo Zonta são personagens de dois mundos completamente diferentes, com nada em comum, entretanto, o prazer pelo esporte que decidiram praticar os tornam mais próximos que imaginam. Se Ricardo afirma que a “emoção de estar em um carro de corrida é indescritível”, Arthur responde com a mesma moeda: “é muito prazeroso, não há palavras para descrever o que é correr de kart”. E se os dois concordam sobre o prazer do automobilismo, não é difícil de saber que seus objetivos, bem como os de todos os pilotos e aspirantes a pilotos, são os mesmos: alcançar o primeiro lugar.

Kartódromo de Guarapuava Comprimento: 1.100 metros Largura: 7 metros Local: Avenida Vereador Rubens Siqueira Ribas, 100, Jordão. Guarapuava - PR Contato: Kart Clube de Guarapuava (42) 3622-7851

“Nessa longa estrada da vida, vou correndo e não posso parar, na esperança de ser campeão alcançando o primeiro lugar” Música: Estrada da vida Composição: Jair Cabral Intérprete: Milionário e José Rico Álbum: Estrada da vida (1977)

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e voltar a correr em solo brasileiro. Após quatro anos na Stock Car, a principal categoria do automobilismo nacional, Zonta parece contente por decidir voltar ao Brasil, e pelo rumo que o automobilismo brasileiro toma. “Hoje o automobilismo daqui é bem estruturado e não perde em nada para os outros. Claro, temos problemas graves, mas isso todos têm”. Um dos problemas que o experiente piloto apontou, é a questão dos autódromos. “A maioria dos autódromos é do governo, e o governo tem outras ou maiores prioridades. Além disso, autódromo não dá lucro, então isso é complicado para um proprietário particular manter, pois é um custo alto”.

A C E OR D A R

DA

Em 1999, o piloto paranaense chegou ao ápice da carreira quando realizou o sonho de dez em cada dez pilotos: o de chegar ao fabuloso mundo da Formula 1. “Certamente correr na F-1 é um objetivo que poucos conseguem, por isso considero como o ponto alto de minha carreira, com certeza, junto dos meus títulos de F-3000, FIA GT e o terceiro lugar em Le Mans”. Até o ano de 2007, Zonta permaneceu com a elite do automobilismo mundial atuando na Formula 1, apesar da grande experiência internacional e do vasto currículo que lhe abria as portas para correr em outras categorias internacionais, o piloto resolveu aceitar o desafio

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O que estes sonhadores enxergam, na verdade, é o sonho de se tornar um grande piloto, sonho de ficar o mais próximo do pódio em cada corrida.

O preconceito e a falta de apoio são os grandes problemas enfrentados pelos rappers de Guarapuava. No entanto, tais motivos não desanimam os verdadeiros guerreiros que encaram o rap como filosofia de vida, mostrando que a música passa longe de ser uma simples brincadeira de rimas Matéria: Leandro Povinelli Diagramação: Leandro Povinelli e Anderson Costa Dizer com toda a certeza quem foi o criador do rap é um trabalho praticamente impossível. No entanto, investigando um pouco melhor a origem do estilo, podemos afirmar que tudo começou a ganhar forma na Jamaica, durante a década de 60. Com o surgimento dos sound systems grupos de DJs, MCs e engenheiros que criavam sistemas de som com alto-falantes, toca discos, etc. -, alguns mestres de cerimônia animavam os bailes dos guetos com comentários sobre a violência das favelas e a situação do país, sem deixar de falar, é claro, de temas como sexo e drogas. No início da década de 70, muitos jamaicanos foram obrigados a emigrar para os Estados Unidos devido a uma crise econômica e social que se abateu sobre a Jamaica. Quando chegou em

Nova York com a ideia do estilo um tanto quanto já amadurecida, um DJ chamado Kool Herc, adepto à tradição dos sound systems, começou implementar as batidas do som com um canto falado, que, mais tarde, sofisticou-se ainda mais com a invenção dos scratches - movimentos de ‘arranhão’ que os DJs fazem nos discos de vinil. A partir daí, grandes nomes como Afrika Bambaataa, Grandmaster Flash, Kool Moe Dee, Kool DJ AJ, Grand Wizzard Theodore e tantos outros começaram a surgir. No Brasil, o rap deu seus primeiros passos já nos anos 80, quando uma apresentação do grupo Public Enemy, em 1984, popularizou e deu força ao estilo. Porém, foi só na década seguinte que o som conseguiu ganhar algum espaço na indústria fonográfica. Por aqui, grupos como Ra-

cionais MC’s, Thayde e DJ Hum, Código 13, e o dançarino de break Nelson Triunfo merecem destaque dentre tantos outros nomes surgidos nessa época, que não deixaram a cultura morrer e construíram toda a estrutura do cenário, proporcionando cada vez mais o crescimento do estilo. A Nova geração Atualmente, o rap passa por uma renovação em seus cantores. Os grupos surgidos na década de 90 já são considerados como velha guarda, que agora dão espaço ao novo time que possui o mesmo objetivo: levar uma mensagem de cultura, paz e união, sabendo criticar os problemas sempre quando necessário. Um dos grandes representantes dessa nova geração do rap

brasileiro é um jovem chamado Michel Dias Costa, mais conhecido pelo apelido que ganhou nas ruas: Rashid. Em entrevista ao jornal Ágora, o rapper conta o motivo de receber a alcunha. “Rashid é um nome árabe. Significa justo, verdadeiro, de fé verdadeira. Mesmo sem saber o rumo que isso ia tomar, eu precisava de um nome que fizesse jus ao que eu tenho para falar”. Inspirado pela família e motivado pela vida, o MC, que sempre lança trabalhos independentes, acredita que a internet pode ser um ótimo meio para quem procura uma divulgação, mas não basta depender apenas da rede. “O rap está em todo lugar graças aos esforços dos artistas e do público, que realmente ama isso. A internet é um instrumento ótimo, ela pode te transformar num

“As músicas mostram e criticam o abuso das autoridades, a corrupção dos políticos. Muito mais feio que os palavrões nas letras é essa falta de vergonha de nossos governantes, que roubam o dinheiro do povo brasileiro”

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Divulgação

Arquivo pessoal

“Nós queremos mudanças, queremos condições de vida, e se ninguém vem aqui na quebrada para ver o que acontece e tomar providências, nós vamos contar tudo isso nas letras das músicas e mostrar que não estamos de brincadeira”

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ídolo, mas também tem o poder de sumir com você com a mesma velocidade. E o rap está sabendo usar esse veículo, principalmente nós, os artistas independentes”. Um verdadeiro mestre na arte do improviso, Rashid foi conquistando espaço e conseguindo prestígio durante as batalhas de rima entre os MC’s, sendo um dos únicos rappers a ganhar o troféu Galo de Ouro. “Acho que o improviso ajuda um artista a se tornar completo. Ele é a essência do nosso movimento. Os primeiros scratches foram feitos de improviso, os primeiros passos de dança, os primeiros riscos num muro e as primeiras rimas. O freestyle é uma parada fascinante, e só quem faz entende o que ele desperta dentro de você”. Marcílio Gabriel, criador e locutor do Programa Freestyle, um dos mais importantes e reconhecidos meios de divulgação

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do rap nacional, explica que os rappers tentam mostrar que na periferia há jovens que não se drogam, não trabalham para o tráfico e que ganham dinheiro honestamente. “De suas vielas esburacadas surge uma cultura visceral que, misturada à sua rebeldia, origina a sonoridade que ataca em forma de longos e ritmados versos, complementados por uma dança robótica de break e decorados com os grafites coloridos nos muros”. Com várias entrevistas de renome no currículo, Dennian Goia, radialista e produtor do Programa Freestyle, é entusiasta da nova geração do rap, dizendo que o som com as apologias à armas e drogas já foi superado. “Hoje os MC’s não estão mais batendo na mesma tecla e falando as mesmas coisas. Afinal, todo mundo já sabe que existe miséria, preconceito, corrupção. E hoje, essa

com os jovens, valorizando o que eles têm perante a sociedade. “Queremos mostrar o quanto as famílias são importantes, mostrar que respeito para com o próximo faz muita diferença na vida de todos. Educação, cultura, política, esporte e lazer não faltam nos temas abordados nos programas”.

O radialista também condena o uso de apologias em qualquer tipo de música, mas tem uma postura firme quanto às letras bastante críticas de alguns rappers. “As músicas mostram e criticam o abuso das autoridades, a corrupção dos políticos. Muito mais feio que os palavrões nas letras é essa falta de vergonha de nossos governantes, que roubam o dinheiro do povo brasileiro. Isso sim, para mim, é prejudicial”. Mano Hood ainda afirma que o principal problema encontrado na cidade é a falta de apoio, mas isso não atrapalha os verdadeiros guerreiros que encaram

o rap como uma filosofia de vida. “Guarapuava tem pessoas dedicadas ao movimento, mas não é fácil. Ainda existem muitas barreiras e mitos em torno desse cenário. O importante é que o pessoal está fazendo as músicas e se dedicando a representar quem merece ser representado em suas letras”. E um belo exemplo dessa representação vem com o grupo PsicoraP, formado pelos irmãos Douglas Henrique de Oliveira, o DouG, Donizete de Oliveira Ferraz, o Zetty MC, e Drika, prima dos cantores, responsável pelo backing vocal. Com um CD previsto para o final de 2011, DouG conta que começou a ouvir e dar seus primeiros passos no rap logo após ter contato com o álbum Sobrevivendo no Inferno, do grupo Racionais MC’s. “Eu gostei muito da música

nova leva do rap tem muito mais músicas de cotidiano, que falam do dia-a-dia, como uma ida ao trabalho, transporte público, músicas de amor e essas coisas, deixando o rap menos segmentado. Inclusive, diziam que o rap significava ‘ritmo e protesto’, mas hoje as coisas mudaram e fazem muito mais jus ao verdadeiro significado: ritmo e poesia, que é o que o rap realmente é”. o rap em guarapuava Em Guarapuava, um dos maiores exemplos de apoio ao cenário é o do radialista Rudimar Moro Rebello, mais conhecido como Mano Hood, que comanda, há quase oito anos, o programa Sintonia Hip Hop, veiculado diariamente na rádio Cacique AM 760. A iniciativa, de acordo com o apresentador, sempre teve o objetivo de trabalhar

RASHID

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página 18 ‘Diario de um Detento’, e logo emprestei e gravei em uma fita. Mais tarde, quando minha mãe comprou o primeiro toca CDs, comprei uma coletânea de rap, e aí foi só alegria”. Na atividade desde 2006, o PsicoraP já conseguiu entender que o importante é ir muito além das rimas. “O rap merece respeito. Ninguém está aqui para aparecer. Nós queremos mudanças, queremos condições de vida, e se ninguém vem aqui na quebrada para ver o que acontece e tomar providências, nós vamos contar tudo isso nas letras das músicas e mostrar que não estamos de brincadeira”. A mensagem, de acordo com DouG, é mais séria do que muita gente pensa: “Essas pessoas que pensam que o rap é brincadeira, som de maloqueiro e bandido, são as mesmas pessoas que elegem ladrões, corruptos e não são capazes de cobrar mudanças”. Até porque, o que aconteceria se o rap te tratasse igual criança, já que você trata ele como brincadeira? É como Rashid diz: “Continue brincando, porque quem leva a sério é quem tem que chegar a algum lugar. Seja no rap, no teatro, na dança, na medicina, na astrofísica, seja lá o

Con ta tos

Música: E se Composição: Rashid Intérprete: Rashid Álbum: Hora de Acordar (2010)

Dennian

“E se o rap te tratasse igual criança, já que você trata ele como brincadeira?” Ocorre-me a ideia de que o céu não é para todos e a terra para os poucos seletos. Nenhuma novidade no pensamento, no entanto diante dos acontecimentos marcados pelas características dos séculos 17 e 18 refletir sobre céu, terra e inferno parece contribuir para o entendimento dos fatos. Recentemente, a cobertura jornalística brasileira foi marcado por duas notícias históricas: de um lado a beatificação do papa polonês João Paulo II; de outro a notícia da morte do líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden. O domingo primeiro de maio – o tão esquecido dia do trabalhador – cravou historicamente o imperialismo cristão ocidental sobre o olhar mundial. Para aqueles que desafiavam o poder enfraquecido da Igreja Católica na conjuntura contemporânea puderam acompanhar na revista televisa Fantástico, da Rede Globo, bem como em noticiários ainda que com tempo reduzido, uma quadro inteiro dedicado ao detalhamento da vida de Karol

Artigo: Keissy Carvelli

entre a

.::. Grupo PsicoraP www.myspace.com/grupopsicorap .::. Programa Sintonia Hip Hop www.sintoniahiphop.tk

brasileira. Como afirma o sociólogo Bourdieu, "[...] a televisão pode, paradoxalmente, ocultar mostrando, mostrando uma coisa diferente do que seria preciso mostrar caso se fizesse o que supostamente se faz, isto é, informar [...]". Nos periódicos virtuais as falas que legitimam as informações quando não são atribuídas às "fontes não identificadas", são as vozes dos membros da CIA. Toda informação transmitida pelos diversos formatos de comunicação tem sua origem nas agências de informações norte-americanas. Não teriam os membros da Al-Qaeda, os paquistaneses e os afegãos nenhum pronunciamento a respeito? Onde estão os intelectuais que pensam os conflitos do oriente médio nessa discussão? A soberania, mesmo após anos de uma tentativa de democracia, está se reencontrando nas estreitas relações retomadas entre Estado e Igreja, ou fazer tal afirmação parece século 18 demais? Há mais poder entre o céu imperial e o terror infernal que sonha nossa vã filosofia.

Espada Wojtyla que, diante de um milagre confirmado pela própria Igreja, obteve o título de Santo. A beatificação de um cardeal não ocorria há mil anos. Para os que duvidavam das estratégias de guerra de Barack Obama e do serviço de inteligência do exército americano, que há dez anos justifica a "guerra ao terror" na caçada ao denominado líder dos ataques de onze de setembro, a notícia da morte de Bin Laden ‘vazou’ nos meios de comunicação pouco antes das últimas horas do dia. Às vinte e três horas do horário de Brasília, Barack Obama fez um pronunciamento confirmando o ataque e a morte do líder da Al Qaeda, dizendo, ainda, que o corpo teria sido "enterrado ao mar", já que nenhuma nação aceitaria ceder um bocado de terra ao "terrorista". Aos teóricos da conspiração cabem as não informações suficientes para anos de pesquisas e descobertas. Aos teóricos do factual restam as perguntas recorrentes das coberturas direcionadas às duas notícias que mantém entre si questões muito bem ocultadas pela imprensa

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Cruz

que for, o segredo é sempre o mesmo: foco, força e fé”. A inspiração para colocar as rimas no papel, conforme explicam os integrantes do PsicoraP, vem do dia-a-dia. “Toda segunda-feira tem uma mãe chorando de luto. Por que você acha que os moleques entram para o crime? Se eles tivessem emprego não precisariam roubar, entende? Se tivessem um salário digno, não precisariam traficar. Ninguém arrisca a vida porque quer. Aí, ao invés de eu pegar uma arma e sair por aí fazendo latrocínio, eu jogo tudo isso no caderno. Ninguém vai atirar em mim. Polícia nenhuma vai me prender em cima de um palco”. Definindo o rap como “a voz de quem não tem voz”, DouG também reclama sobre a falta de apoio ao cenário em Guarapuava, dizendo que todos os gastos saem do próprio bolso, mas acredita e confia na melhora e na evolução do estilo. “Guarapuava não deixa a desejar com os poucos grupos que surgem e permanecem na caminhada. Todos estão prontos para bater de frente com o sistema. É a evolução. O rap, em Guarapuava, está evoluindo, e isso é muito bom”.

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na contra capa

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