Revista Ágora 2011 - Edição 04

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Guarapuava - jul-ago/11 - Ed 4 . Ano 07

revista

ร gora

diรกrios de bicicleta


Caixa-zero Comportamento Cultura Kitnet Ex-preguiça Literatura Música

RG

editorial

índice Em época de vacas gordas Uma maneira divertida de educar Entre outras mil festa em baixos decibéis apaixonados pela magrela

04 08 12 21 26

isso não é uma resenha

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Em descompasso: um novo começo a cada dia

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sonhos: o ser humano em conflito

Tarsila do Amaral - O Pescador (1925)

Eu que fiz

Retratos

expediente

equipe ágora

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minha bike, minha vida Para alguns, um brinquedo divertido. Para outros, um simples meio de transporte. Mas, aos olhos das pessoas que você vai conhecer nessa edição do Ágora em revista, a bicicleta vai muito além disso: é um estilo de vida. O ‘combustível’ para pedalar vai além da energia humana; para eles, essa energia vem da paixão. Conheça, ainda, dois jovens que vieram de muito longe para fazer intercâmbio em Guarapuava, um lugar bem diferente daquele Brasil quente e carnavalesco que aparece na mídia internacional (e o qual eles imaginavam). Essa edição mostra, também, o sucesso profissional - e financeiro - de dois jovens com pouco mais de vinte anos. Além disso, dá dicas sobre como administrar o dinheiro quando ainda se mora com os pais. Se você mora sozinho ou com os amigos, conheça as regras sobre o barulho que atormenta os vizinhos, até mesmo os bem humorados. Afinal, é possível festar em silêncio? Por fim, conheça um pouco mais sobre a poesia do ‘bandido que sabia latim’, da ‘besta dos pinherais’, o paranaense Paulo Leminski; e ainda um bate-papo exclusivo com gaúcho Wander Wildner, o rei do punk brega. Boa leitura!


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Caixa Zero

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Encontrar

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emprego

de

não esta fácil. Conheça a história de alguns jovens que

venceram

essa etapa

Matéria e diagramação: Bárbara Brandão

Em época de

vaca gorda

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O mercado de trabalho hoje exige profissionais qualificados. E encontrar o emprego que cada um deseja vem se tornando uma tarefa difícil. Ou você tem que ter experiência ou tem que aguentar uma carga de trabalho igual ou superior a dez horas. A economia atual é isso. A situação não esta favorável para muitas pessoas, mas para quem está na faculdade ou recém saiu dela, o mercado tem se tornando ainda mais estreito. Uma das maneiras de garantir um espaço nesse meio é ainda na graduação buscar experiência nos horários livres. O economis-

ta e professor Altamir Thimóteo declara: “O mercado de trabalho para o jovem hoje esta difícil. Eu entendo que a faculdade, a universidade em si, não dá a qualificação necessária. Ele tem que continuar buscando aprimorar seus conhecimentos”. Por isso alguns cursos de graduação oferecem estágios Mercado de trabalho para durante a faculdade para que o aluno coo jovem hoje está difícil, e a loque em prática e universidade em si não dá aperfeiçoe o aprendizado. O recém formaa qualificação necessária. do em administração, Rodrigo Pereira buscou durante o decorrer da faculdade já garantir um emprego. “No 2° ano do curso, recebi uma oportunidade de trabalho na Unimed Guarapuava, fiquei por três meses em experi-

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"

Ter um curso superior nos dias de hoje é fundamental para quem deseja iniciar uma carreira profissional. estava fazendo estágio e fiquei sabendo do concurso por meio de um amigo. Pensei: vou fazer. Mas era mais pra ver qual era o meu nível, acabou que tive sorte e fui aprovado”, conta Thomas Morgado, estudante do 4° ano de Direito. É comum quando se está a procura de um trabalho seguir pela área de interesse que mais agrade. Além disso, a faculdade oferece a possibilidade de conhecer vários campos distintos dentro de uma mesma área. “O trabalho está acrescentando bastante na minha carreira, primeiro porque

Fotos: Luciana Grande

ência. Logo após fui contratado como Auxiliar de Tecnologia da Informação. Em menos de um ano na organização consegui avançar um cargo. Então, no 3° ano do curso fui chamado para trabalhar no Banco Bradesco, meu atual emprego”. Rodrigo é um bom exemplo de estudante que inicia em um trabalho quando ainda não possui diploma e logo depois da formação consegue ser efetivado. Porém, ainda existem casos em que as empresas contratam estagiários e, quando eles terminam a faculdade, são dispensados. Nessa busca obrigatória por estabilidade, um dos caminhos mais procurados são os concursos públicos. A imagem de segurança empregatícia e financeira que esses concursos transmitem tem atraído recém-formados e estudantes. “A ideia de prestar concurso público só surgiu quando entrei na faculdade de Direito. É um dos cursos mais úteis que você pode fazer para ser aprovado. Eu

eu estou trabalhando com uma coisa que eu não gostava. Trabalho em uma vara criminal e tive que aprender na marra processo penal, lembrar coisas que eu estudei no começo do curso. Isso esta me tornando um profissional mais completo, porque passo a conhecer outras áreas”. Em outros tempos, os jovens terminavam o Ensino Médio e já começavam a procurar emprego, não havia interesse ou necessidade de cursar uma

Rodrigo PEREIRA

universidade. Agora eles são incentivados a prestar vestibular quando ainda estão no colégio. Isso só ocorre devido à exigência cada vez maior por mão-de-obra qualificada. Além disso, a corrida por uma carreira profissional de sucesso aumentou o número de pessoas no mercado. Rodrigo opina sobre isso: “Ter um curso superior nos dias de hoje é fundamental para quem deseja iniciar uma carreira profissional. No entanto, só diploma não dá emprego. É preciso pró-atividade, força de vontade e um pouco de sorte. Sorte de ser indicado por alguém e sorte de ser escolhido pelo recrutamento e seleção da empresa”. A estabilidade que o jovem procura durante ou após a universidade está ligada a tão desejada independência financeira. Ter a própria renda é uma das principais metas estabelecidas quando ainda se está escolhendo a carreira profissional. Segundo o economista Altamir, “os jovens têm muitas formas de investimento, principalmente no mercado de ações. É um mercado de ris-

Thomas

MORGADO co, mas o jovem pode entrar para esse ramo. Além disso, há outras maneiras, alguns preferem imóveis, poupança”. O futuro advogado Thomas segue as palavras do economista. “Tenho uma poupança onde eu guardo um pouco de dinheiro”. Já o administrador Rodrigo pensa de outra forma: “Poupar para mim é difícil, pois sempre que sobra alguma reserva adquiro algo que necessito ou gasto com lazer”. Para Altamir essa é a melhor maneira para quem ainda não sabe administrar o salário. “O jovem ter que ter disciplina. No mínimo 10% da sua renda mínima têm que ser guardada, visando ter uma reserva de valor futuramente. Lá na frente ele vai ter como gastar em alguma coisa”. Outro ponto ressaltado pelo economista é para aqueles que trabalham e moram com os pais, já que não possuem gastos com moradia, contas, entre outros. “Como todos nós somos consumistas, tendemos a gastar nosso dinheiro com coisas supérfluas. Para quem mora com os pais, ao invés de guardar 10% do salário, deve guardar

20%”. É a dica de Altamir. Mesmo tendo a sua reserva mensal Thomas garante que ajuda nas despesas de casa. “Hoje eu não dou despesa nenhuma para os meus pais e ainda contribuo um pouco em casa. Eu moro lá e tenho que ajudar”. O mercado de trabalho não muda por si só, ele esta conjunto a diversos setores da sociedade, com destaque para a economia. A qualquer momento novas qualificações para melhor distinguir um profissional de outro vão surgir. Formas para conquistar o emprego estão se inovando constantemente exigindo do graduando ou recém-formado estar sempre se atualizando para estar apto ao trabalho.

Fotos: Ellen Rebello

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comportamento

de

divertida

EDUCAR Com muitas brincadeiras e aventura, os grupos de escoteiros têm sido cada vez mais procurados pelos jovens e se tornado um complemento na educação Matéria e diagramação: Ellen Rebello

Com a correria do dia-a-dia fica difícil encontrar um tempo para se dedicar à outras atividades e principalmente ficar em contato com a natureza. Pensando nisso, o Grupo Escoteiro Guará Puava surge com a proposta de ensinar, desde pequeno, a importância da obediência e da preservação de plantas, água, animais e do meio em que vivemos. O escotismo é um movimento mundial que promove atividades ao ar livre como jogos e trilhas, técnicas de sobrevivência, além de, é claro, tipos de nós e amarras. Qualquer pessoa de sete a 18 anos pode participar. O diretor técnico e chefe da tropa escoteira, Ozório Cesar Moraes de Freitas, explica o funcionamento do grupo: “Hoje somos 32 membros e quatro chefes em um grupo misto. Temos sessões divididas para cada idade”. Os iniciantes de sete a dez anos

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Foto: Ellen Rebello

Uma maneira

-Puava Guará O grupo de suas livre em uma ao ar atividades fazem parte da alcatéia. Nela os lobinhos estudam a história de Mogli, um menino que cresceu junto com os lobos. Eles tornam-se escoteiros dos dez aos 15 anos e suas atividades são de aprendizado, como montar barraca e cozinhar a própria comida. Os seniores, de 15 a 18 anos, realizam atividades mais arrojadas, como trilhas, rapel e viagens ao exterior. A partir dos 18 anos esses jovens viram pioneiros e podem criar projetos para melhorar o grupo, a sociedade e a própria vida. O Grupo Escoteiro Guará Puava tem encontros aos sábados a partir das duas horas da tarde. Como a sede não comporta atividades como acampamentos e acantonamentos, essas ações são realizados em chá-

caras, clubes ou fazendas vizinhas. Para praticar tais atividades, os escoteiros contam com ajuda dos pais e de amigos envolvidos com a causa, como explica Ozório: “Nessas horas precisamos dos pais. Eles podem ajudar de forma simples como uma carona ou até mesmo ceder o espaço em que o evento irá ocorrer”. A primeira etapa pela qual passa um escoteiro é a promessa: o membro faz o juramento e escolhe uma das dez leis do escotismo para explicar. Luiz Carlos de Souza Pedroso, de 11 anos (e quase quatro de escoteiro), lembra até hoje do dia da promessa: “No mesmo dia em que fiz a promessa, ganhei minha primeira insígnia, a de conservacionismo. Consegui depois de fazer a trilha e de ter noções de preservação da natureza”. O escotismo também busca a interação da família. No entanto, não é preciso que os familiares estejam

presentes em todas as reuniões; basta que estejam conscientes das atividades realizadas e ajudem sempre que solicitado, como conta Ozório: “Os pais devem participar das reuniões iniciais com seus filhos e ajudar quando possível. Normalmente precisamos de ajuda voluntária em nossos encontros, como auxílio no transporte, nas atividades ao ar livre e na disponibilização de novos locais”. Uma das marcas dos escoteiros é a vestimenta. O uniforme azul com lenço amarelo e preto é reconhecido pela maioria das pessoas. Ozório comenta que ela foi criada pela UEB (União dos Escotei-

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Um

escoteiro

fiel

NO MESMO

DIA EM QUE

Escoteiro a quase dez anos, Vinicius Matter, de 18 anos, tem muita história para contar, várias registradas por imagens e outras guardadas na memória. São oportunidades únicas na vida proporcionadas pelo grupo: “Aventura: esse com certeza é o diferencial de participar desse movimento. Rapel, escalada e rafting são esportes de pura adrenalina que pratiquei por fazer parte dessa equipe”.

FIZ A

PROMESSA GANHEI MINHA

PRIMEIRA INSÍGNIA,

A DE

CONSERVACIONISMO

Fotos de arquivo

ros do Brasil), com a finalidade de dar cara ao grupo: “Muitos não conhecem e nem sabem o que é o escotismo, mas pelo fato de termos um uniforme nacional somos reconhecidos facilmente”. O incentivo à preservação, conscientização e ajuda ao próximo, fizeram com que Giuseppe Vicentin Ferreira, de 12 anos (três como escoteiro), se tornasse um membro participativo e fiel: “É legal, melhor do que ficar em casa sem ter o que fazer. Aqui conhecemos pessoas, fazemos novas amizades e

podemos ajudar o próximo. Na páscoa fizemos chocolates para idosos e crianças carentes. Isso é muito divertido”. Ozório menciona que além de proporcionar o desenvolvimento físico por meio de jogos, também fortalece o moral, já que há o cumprimento constante da lei escoteira e intelectual por meio da preparação e instrução a novos saberes. Cria-se dentro do grupo hábitos de obediência e direção: “Nós podemos afirmar que somos uma educação adicional. Uma educação de maneira agradável que completa a função da escola, da igreja e da própria família”.

Outro momento inesquecível para Vinicius é a viagem para Europa que fez com os escoteiros: “Fizemos um roteiro de duas semanas acampados. Conheci a Espanha, a Suíça, a Escócia, a França e a Inglaterra. Esta última foi onde ocorreu o encontro mundial. Até o príncipe Willian passou por lá. Cada dia tem atividades diferentes, bandas, apresentações culturais”. Atualmente o município de Guarapuava conta com três grupos: Guará Puava, Manoel Ribas e Itaí. Todos com o mesmo objetivo: ajudar a todos, sejam eles pequenos ou grandes, transmitindo a importância da conservação e da conscientização do meio ambiente, além da obediência e respeito, de forma a educar e formar cidadãos melhores: “É um desafio ensinar para vida, e ao mesmo tempo é um prazer imenso”.

Giuseppe Ferreira 12 anos, há 3 no escoteiro

Vinicius Mater 18 anos, há 10 no escoteiro

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, Mundial Jamboree em 2007 INglaterra

Jamboree Mundial Visita ao Vaticano , no ano de 2007

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CULTURA

Entre

outras

mil

Jovens que vieram de muito longe para fazer intercâmbio em Guarapuava

Matéria, diagramação e Fotomontagem: Luciana Grande O Brasil quase sempre é associado às praias deslumbrantes, ao cristo redentor, às mulatas bonitas, ao carnaval, às florestas gigantes, aos índios selvagens e ao calor. Para tirar a prova disso basta digitar “Brazil” no Google para encontrar uma seleção de imagens com todos esses elementos. É a identidade do nosso país moldada pela mídia lá fora, limitada por pixels e tubos de imagem. Agora imagina só como deve ser a sensação de quem vem de longe, como da Polônia ou de Taiwan, e se depara com o Brasil contido em Guarapuava. A praia mais próxima a mais de 300 km, poucos mulatos pelas ruas, um frio intenso logo em abril e, ao invés do cristo redentor, um nanico em cima de um cavalo desproporcional de madeira. Dois estrangeiros do Programa de Intercâmbio de Jovens do Rotary Internacional, que permaneceram um ano na cidade, viveram a experiência de entrar em contato com uma cultura bastante distinta, tanto em relação ao seu país de origem, quanto ao que imaginavam do Brasil.

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Polaca

Os brasileiros falam muito rápido. Demorei alguns meses para aprender a falar português.

legítima

A intercambista Magdalena Welcer, conhecida como Magda, de 18 anos, veio de Cracóvia, na Polônia e chegou a Guarapuava em agosto de 2010. Ela conta que foi muito bem recebida e achou as pessoas bastante alegres, mas admite que a ideia que fazia do Brasil era bem diferente da qual se deparou. “Eu achava que aqui só tinha praia, gente mulata, calor e carnaval. Cheguei e vi tudo muito diferente. Meus amigos poloneses nem acreditavam quando eu dizia que aqui era frio”. A imagem que a mãe dela tinha era ainda mais engraçada: “minha mãe achava que aqui só tinha mato e que de repente al-

guém poderia tirar uma faca, te matar e vender os órgãos no mercado negro”. Além disso, sempre pedia para a filha tirar fotos das matas... Mas que matas? Magda veio para Guarapuava porque foi a opção que o Rotary ofereceu, então acabou aceitando. No entanto, confessa que, se pudesse, teria escolhido outro lugar do país. Ela diz não ter gostado muito da cidade, porque as lojas fecham cedo e não há muitas opções de lazer. Hoje a intercambista já está apegada ao lugar, mas em razão dos amigos que fez aqui.

Prova disso é o fato de que a melhor parte do intercâmbio para a polonesa foi uma viagem a Salvador que fez com uma de suas famílias brasileiras. “Lá era calor, havia praias, vi mulatos e percebi ainda mais como o povo brasileiro é feliz. Também notei a influência da cultura africana. Foi uma viagem muito legal”. Pode-se dizer que lá ela conheceu um Brasil com cara de Brasil.

Fotos: Pierre Míchel

Arquivo pessoal

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Magda também visitou a Amazônia com uma de suas famílias e gostou bastante do lugar. Já a parte mais difícil foi aprender a falar português, embora hoje ela já seja fluente e tenha dificuldade apenas com a conjugação de alguns verbos e palavras mais difíceis. “Os brasileiros falam muito rápido. Demorei alguns meses para aprender a falar português, não podia ir a nenhum lugar sozinha. Por isso os primeiros meses foram bem difíceis”. Em relação à culinária, ela diz não ter gostado muito de feijoada. Em compensação, adorou o churrasco, principalmente nas festas, porque isso não existe na Polônia. A culinária do seu país de origem é baseada muito em batatas (o que não é muito diferente daqui também...).

Magdalena Welcer

Foto: Pierre Míchel

Magda morou com três famílias brasileiras durante o intercâmbio, porque o Rotary determina que os intercambistas façam pelo menos três trocas durante sua estadia para que possam conhecer melhor a cultura. Segundo a jovem, foi bem recebida em todas elas. A polonesa voltou para o seu país de origem em julho deste ano. Ela gostaria de ter ficado até agosto, mas seus pais não permitiram, embora Magda já estivesse acostumada a ficar longe da sua família, já que estudava em um internato no seu país. A intenção da inter-

cambista, agora, é fazer trabalhos voluntários em outros países europeus. “Quero fazer voluntariado porque ainda tenho mais um ano de colégio e não decidi o que cursar na faculdade, então é um tempo para pensar melhor”. Porém, ela pretende voltar ao Brasil algum dia, caso seja possível, para visitar os amigos que fez aqui.

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Do outro lado do

planeta

planeta

Outro intercambista do Rotary que está em Guarapuava é Zin-Nan Zeng, de 18 anos, da cidade de Tunghsin, no Taiwan. A adaptação dele foi (e ainda é) muito mais difícil que a de Magda. Até para fazer a entrevista com ele foi complicado, porque seu português é bastante confuso. A dificuldade é tanta que seus amigos acabaram o apelidando de James, já que era quase impossível pronunciar o nome verdadeiro. Apesar de já estar no Brasil há quase um ano, não aprendeu a falar português com fluência. Para ele, a língua, sem dúvidas, foi a pior parte da adaptação: “acho o português bem mais difícil que o inglês”. Assim como Magda, James veio para Guarapuava por determinação do Rotary, mas preferia ter ido para os Estados Unidos. Mesmo assim, ele diz ter gostado bastante daqui. “Demorei seis meses para conseguir falar português e quis voltar para Taiwan por isso. Hoje quero ficar mais tempo e aprender melhor a língua”. Sua linguagem de origem é o mandarim, completamente diferente do português,

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Fotos: Luciana Grande

inclusive na grafia. Para conseguir me contar que as pessoas usavam muitos incensos em Taiwan, James precisou desenhar um no meu bloco de anotações, só assim eu pude entender. As diferenças culturais entre Brasil e Taiwan são inúmeras. No entanto, uma das coisas que mais chamaram a atenção de James foi a animação do povo brasileiro. O intercambista conta que, ao cumprimentar uma pessoa no país dele, não há contato físico. No máximo um aceno e um “olá”, mas de longe. “Gostei de poder dar oi com beijinho no rosto das meninas”. E, por falar nisso, ele diz que vai sentir muita saudade daqui, principalmente porque acha as brasileiras mais bonitas que as taiwanesas. James gostou da comida brasileira, em especial do churrasco. Disse, também, que aqui tem muita salada. No país dele, a maioria das coisas são fritas. Além disso, eles não comem com talheres e sim com hashis (aqueles pauzinhos). Isso também foi complicado para ele. O rapaz, que achou Guarapuava uma cidade muito fria (é claro), conta, ainda que gostou muito das festas, só lamenta não saber dançar. “No Taiwan as pessoas não dançam nas festas. Geralmente elas cantam no Karaoquê”. Os lugares que James mais gostou de conhecer foram o Rio de Janeiro, Curitiba, Foz do Iguaçu e Camboriú. Entretanto, ao contrário de Magda, ele contou que não conhecia absolutamente nada sobre o Brasil antes de vir para cá, soube que viria apenas um mês antes, então sua preparação foi bastante curta. Fez algumas aulas de português de Portugal, o que não ajudou em nada. Agora, de volta ao seu país, James pretende cursar a faculdade de Engenharia Mecânica, porque seu pai tem uma fábrica de peças de carros, aviões e demais meios de transporte. Porém, se dependesse da vontade dele, teria ficado mais tempo no Brasil.

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Mãe, Arte: André Justus

Com a filha Busra Yilmaz (a primeira à esquerda), vinda daTurquia.

não tem só uma

“Na hora de ir embora é muito choro, dói bastante. Mas nós sabemos que vamos ter que pagar esse preço”.

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precisam se acostumar com a cultura brasileira, a família não muda drasticamente seus hábitos para agradar a eles. Antes de acolher essas pessoas, a família recebe uma carta (chamada aplicattion), na qual esses jovens preenchem um questionário e escrevem um texto contando sobre suas preferências. Depois disso, ao chegarem no Brasil, eles respondem outro questionário elaborado pela família, em que são dadas as diretrizes das casas. Segundo Marize, quase todos os jovens são muito educados e já vem com a cabeça aberta para se adaptar a

Arquivo pessoal

Quando esses intercambistas chegam em Guarapuava são acolhidos por rotarianos que agem como famílias de verdade. Eles até chamam seus anfitriões de pai, mãe e irmão. O laço afetivo estabelecido é forte e, muitas vezes, levado pela vida inteira. Uma dessas mães é a rotariana Marize Rocha, que diz receber todos os seus “filhos” com o coração. “Nós fazemos o possível para que eles se sintam bem. Vamos detectando as necessidades e a personalidade de cada um e tentamos nos adequar”. No entanto, ressalta que são os intercambistas que

Marize está com seu filho alemão Daniel Schute-Hillen (o último à direita).

cultura. “Nós costumamos dizer que quatro ‘Ds’ são proibidos: drogs, date, drink and drive [drogas, namoro, bebida e direção]”. A rotariana conta que se apega muito aos jovens que permanecem em sua casa. “Na hora de ir embora é muito choro, dói bastante. Mas nós sabemos que vamos ter que pagar esse preço”. Marize matem contato via internet com todos os intercambistas que passaram pela sua casa. Ela diz sentir muita saudade. “Eu costumo dizer que o filho intercambiário é o filho que toda mãe gostaria de ter, porque o que você diz, eles obedecem [risos]”.

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Receber esses jovens de outros países requer muita responsabilidade, já que é firmado um compromisso internacional. É preciso que as famílias que vão acolhê-los retirem até mesmo uma certidão criminal. “Nós temos que zelar muito por essas pessoas, porque se acontecer alguma coisa séria com eles pode ter uma repercussão no mundo todo”. Por isso, quando necessário, os pais postiços precisam dar broncas e ser firmes com os intercambistas. É importante lembrar que essas famílias não recebem nenhuma quantia em dinheiro ao acolher esses jovens e também mandam seus filhos (de sangue) para a casa de rotarianos no exterior. Por isso costumam dizer que são pais de verdade, que se preocupam e cuidam dos seus filhos. É um carinho recíproco. “De todos os intercambiários que ficaram na minha casa eu ouvi a mesma coisa: esse foi o melhor ano da minha vida. Então eu me sinto realizada, porque contribuí para a educação desse jovem e ele vai levar isso para sempre”.

Marize está com James. Ela foi a mãe dele no Brasil durante um período do intercâmbio.

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kitnet

Matéria e diagramação: Yarê Protzek

Festa em baixos decibéis

Foto:Yarê Protzek

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O que fazer quando você Quem é que nunca morou em quer descansar um prédio ou em e o seu vizinho uma casa e se incomodou com o festar? barulho do vizinho?

Foto:Yarê Protzek

Depois de um dia de trabalho ou estudo, muitos querem chegar em casa e aproveitar para descansar. Mas, às vezes, se deparam com conversas altas e festas na casa ao lado. Esse foi o caso de Miguel Kalwa, técnico em química, que mora perto de uma república de estudantes. Ele comenta que quando pedia para os meninos baixarem o som eles diminuíam, “mas toda vez ir pedir de madrugada era complicado”. Para resolver esse problema Miguel foi aconselhado pelos policiais a abrir um processo para ter certeza de que o barulho iria diminuir. “Não acho

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ruim eles festarem, mas no meio da semana é difícil, todo mundo trabalha no outro dia”. Depois da reclamação, ele conversou com Lucas Mariscal, um dos moradores da república, então os dois compareceram ao fórum e fizeram um acordo para não estender mais o problema. “Ele garantiu perante a juíza que não ia ter mais tanto barulho”. Passado um tempo do acordo, Miguel não tem mais do que reclamar. “A minha intenção não era ir contra eles e processar, porque sempre foram bem educados, mas para garantir que não ia acontecer novamente. Agora eles respeitam o horário e está tudo certo. Mas se tiver algum barulho ele me passou o telefone para eu ligar e pedir para baixar a música”.

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Como A gente não Guarapuav a deixa de fazer é uma cidade em que moram muitos universitários, festa, tentamos é comum encontrar repúblicas ao renos policiar, pra dor das faculdades. Às vezes, os universitários encontram dificuldades na hora de alugar um apartanão atrapalhar mento pelos proprietários acreditarem que eles farão muita ninguém bagunça, atrapalhando os demais moradores. Gerson Pietta, formado em História, comenta que quando alugou um apartamento foi complicado, já que “o pessoal sempre achava que ia ter festa todo dia”. Clayton Barbosa Filho, estudante de história, que mora com Gerson, relata que para não atrapalhar os vizinhos, eles preferem fazer festas menores, com poucas pessoas. “A gente não deixa de fazer festa, tentamos nos policiar, pra não atrapalhar ninguém”. Clayton e Gerson dividem o apartamento com mais dois estudantes. Eles são os únicos universitários do condomínio, outro motivo para não abusar no barulho, principalmente depois das dez horas da noite. Conversar com o vizinho para chegar a um acordo e não exagerar no barulho na hora de fazer festas são as opções mas simples para não atrapalhar o descanso de ninguém e ainda se divertir. Outra opção é convidar os vizinhos para as festas.

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De acordo com o artigo 124, da Sessão II, do Capítulo VII, da legislação da cidade, é proibido perturbar o bem estar dos vizinhos com barulhos e sons altos que ultrapassem os 70 decibéis. O artigo 125 do mesmo capítulo determina que das sete horas da manhã às dez da noite nos dias de semana, é permitida a emissão de barulhos desde que não prejudiquem a saúde dos demais.Nos domingos e feriados, os horários são das oito até as dez da noite.

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No Código Civil Brasileiro há leis que pretendem garantir um bom relacionamento e convivência entre os vizinhos. Em relação ao som alto, a advogada Franciele Lacerda De Pieri comenta que foram criadas algumas resoluções por meio do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que estabelecem medidas referentes à emissão de ruídos. “Esta resolução disciplinou a matéria de forma genérica porque o conceito de sossego público não é o mesmo em todos os locais. Assim, por exemplo, na cidade de São Paulo, o repouso noturno da população não é o mesmo que em nossa cidade”. Dessa maneira, cada cidade ou estado pode definir regras diferentes em relação à poluição sonora que se adéquem a região. Em Guarapuava há resoluções próprias sobre a lei do silêncio que podem ser encontradas no site da prefeitura. O artigo é o 124 do Capítulo VII - Saneamento ambiental, Sessão II - Da poluição sonora, que tem como principais medidas a definição de horários em que barulhos são tolerados e o nível de som permitido na cidade.

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Apaixonados

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Magrela Matéria e diagramação: Helena Krüger

Foto: Helena Krüger


Conheça as experiências distintas de cinco pessoas que descobriram na bicicleta uma nova paixão

Para muitas pessoas a bicicleta sempre teve uma relação muito próxima com a infância. Quando aprendemos a andar com ela, sem as seguras rodinhas, é uma sensação de liberdade que a maioria não esquece. É um momento quase tão marcante como quando aprendemos a falar e caminhar. Mas, para alguns, essa ligação com a bike foi mais duradoura e por vários motivos não quiseram mais deixar de sentir aquela mesma sensação de quando eram crianças. Uns continuaram pedalando por diversão, outros por necessidade, pelo esporte, por protesto, ou até mesmo porque se tornou um vício. Antônio Rosetti, Ana Paula Polegatch, Marcos Cruz, Rogério Carneiro e Thiago Ribas são ciclistas que residem em Guarapuava, pedalam por diferentes razões, mas todos compartilham da mesma paixão que é o ciclismo.

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Antônio Rosetti Netto, 24 anos, é exemplo de alguém que dedica sua vida quase integralmente ao ciclismo. O envolvimento dele com o esporte começou na época de garoto e não acabou por aí. Ele tentou seguir a carreira como ciclista profissional, mas não conseguiu. Mesmo tendo conquistado muitos títulos precisou se distanciar diretamente do esporte por outros motivos. Porém, mesmo longe, buscou algo ligado a sua paixão. Antônio começou a trabalhar em uma loja especializada em bicicletas e cresceu na empresa, sendo atualmente responsável pelo marketing. Assim, vive ligado no mundo do ciclismo, criando vários projetos para incentivar tanto a prática esportiva, quanto o lazer na cidade. “Chegou um momento que vi que eu tinha que fazer alguma coisa da minha vida. Tive que decidir parar naquele período. Foi difícil, poucos conseguem sobreviver apenas do ciclismo”. Mas, depois de alguns anos, o apaixonado pela bicicleta não desistiu e está voltando a praticar profissionalmente.

Acabei me apaixonando e comecei a buscar o que era necessário para ser um grande atleta

Segundo Antônio, as três grandes principais modalidades do ciclismo são o Mountain Bike, o Ciclismo de Estrada e o BMX. A prática de cada Hoje o ciclismo é uma delas depende do objetivo grandioso no âmbito e da personalidade do ciclista. esportivo, até mesmo Caso você goste de uma em Guarapuava pode aventura, de se sujar e passar se observar a evolução por obstáculos, o mais aprodo esporte, com vários priado é o Mountain Bike. Se atletas competindo em for mais urbano e curte velocampeonatos nacionais cidade, o ciclismo de estrada e também com a presenpode proporcionar muitas ça da Associação Guaemoções. Caso seja mais rarapuavana de Ciclismo. Mas é na Europa que se dical pode optar pelo BMX, em que correr e fazer manolocaliza o berço dos amanbras são princípios. tes da bicicleta. É lá que estão os dois maiores cirMarcos Cruz, 33 anos, cuitos do mundo, um deles é começou a praticar ciclismo na França, o famoso Tour de sem ter conhecimento de France; e o outro é na Itália, todas essas distinções, mas o Giro d’Italia. Nesses países quando conheceu o Mountain Bike teve certeza de que era a cultura da bicicleta é muito aquilo que queria praticar mais difundida, não só como pelo resto da vida. esporte, mas também no lazer Marcos é o ciclista de e como meio de transporte. maior sucesso na região: é recordista, venceu nove ve-

zes o Campeonato Paranaense e atualmente é bicampeão brasileiro da Maratona 30-34 anos. O que mais impressiona no seu currículo é o fato de praticar a 14 anos o esporte e continuar liderando o ranking nacional na sua categoria. O atleta conta que se interessou pelo esporte por meio de uma reportagem na televisão, quando um guarapuavano foi campeão paranaense. “Eu já andava de bicicleta, mas não conhecia a modalidade. Depois disso acabei me apaixonando e comecei a buscar o que era necessário para ser um grande atleta. Eu não tinha nenhuma experiência, nenhum acompanhamento, mas eu já tinha um objetivo”. As dificuldades e a falta de apoio não fizeram Marcos desistir do seu sonho de também ser campeão. “Meus amigos

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Foto: Helena Krüger

e meus familiares riam de mim. Até mesmo minha mãe não queria que eu fizesse isso. Ela achava que era loucura, mas eu coloquei aquilo na cabeça e graças a Deus deu certo”. Atualmente, além de treinar, ele é coordenador de um projeto de escolinhas de ciclismo em parceria com a Prefeitura de Guarapuava chamado Formando Campeões. A iniciativa pretende formar um cidadão exemplar e incentivar o esporte. Marcos enfatiza, também, a importância do atleta ser humilde para conseguir alcançar seus objetivos e dá algumas dicas para quem está começando. “Tem que gostar, mas para conseguir resultados precisa de muito treinamento, ter uma bike adequada, dar o máximo de si e principalmente precisa ter humildade”.

Ana Paula Polegatch é mais uma das amantes da bike na cidade e uma das principais representantes do ciclismo feminino na região. Aos 22 anos já faz parte de uma das principais equipes do país, a DataRo. O ciclismo contribuiu para o amadurecimento da atleta. “No começo é difícil, mas você aprende a se virar, correr atrás das coisas para você mesma, adquire mais autoconfiança. Você trabalha muito mais o teu psicológico do que as tuas pernas”. Ela critica o maior destaque e visibilidade que as categorias masculinas tem perante as femininas, mas acredita que essa realidade já está mudando com o grande número de mulheres competindo. “Infelizmente a divulgação é maior para os homens, as provas que passam na TV são as masculinas, mas acho que isso já melhorou bastante”.

“Eu não tinha nenhuma experiência, nenhum acompanhamento, mas eu já tinha um objetivo”. 30

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Na estrada

A partir dessa viagem, Rogério resolveu pesquisar sobre o ciclismo de longa distância e descobriu um evento ciclístico não competitivo chamado Audax, que em latim significa audacioso, corajoso. A filosofia desse evento é a mesma que Rogério buscava: uma interação íntima com as paisagens naturais, conhecer pessoas novas e encontrar uma prova de superação. “Em 2007 comecei a participar, realizei quatro provas que na época não sabia que eram seletivas para o mundial na França”. O gaúcho, em agosto deste ano, vai conhecer sob duas rodas as charmosas cidades da França, pois participará do Mundial de Ciclismo de longa distância e do Tour de France, o maior evento de ciclismo do mundo.

“Nossa bagagem maltratada fora empilhada na calçada novamente; nós tínhamos mais caminhos para percorrer. Mas não importa, a estrada é a vida” (Kerouac) Arquivo pessoal

Como nessa citação de Jack Kerouac em On the Road, para um gaúcho chamado Rogério Carneiro, é na estrada, percorrendo longas distâncias com sua bike, que encontra o sentido para praticar o ciclismo. Rogério nasceu em Bagé, tem 42 anos, e gosta de andar de bicicleta desde ‘guri’, como ele mesmo se refere. Com 17 anos de idade já começou a competir em provas de ciclismo de estrada. Mas, infelizmente, Rogério, assim como Antônio, não conseguiu viver da bicicleta. Então começou a estudar e se preocupar em garantir um emprego. Anos mais tarde uma experiência em especial fez com que

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Rogério mudasse a maneira de praticar ciclismo. Foi quando fez uma viagem de bicicleta em 2006. “Decidi fazer o percurso daqui até Pelotas, fiz como desafio pessoal e adorei”. Ele conta que a dificuldade de se realizar um trajeto destes é mais psicológica do que física. “Tu tens que traçar um objetivo. Imagina ficar de 40 a 80 horas em cima de uma bicicleta, você precisa estar focado, nada pode tirar aquilo da tua mente. Além de que o ciclista de longa distancia enfrenta todas as condições, de noite, de dia, no frio e no calor”. Para o gaúcho, todas essas dificuldades valeram a pena pela vivência adquirida e pela oportunidade de conhecer pessoas e lugares novos. “Na estrada só tive diversão, tu conheces muito mais coisas de bicicleta do que de carro. Tu vais mais devagar, consegue observar todos os detalhes, além de ir em uma posição privilegiada”.

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

“Na estra da conheces só tive diversão. T u m bicicleta d uito mais coisas d e o que de carro”

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bike!

vá de

Foto: Helena Krüger

engajar nessas causas. “Faz uns dez anos que comecei a ouvir um tipo de som que me ensinou a olhar as coisas de uma maneira diferente e então parti para tentar mudar elas”. Thiago conheceu esse movimento quando foi a uma bicicletada em Curitiba, evento realizado normalmente na ‘hora do rush’ em várias cidades do país. Muitas bikes vão às ruas para chamar atenção de quem está nos carros, com intuito de protestar e conscientizar sobre o uso de meios sustentáveis de transporte. O estudante se interessou e resolveu trazer isso para Guarapuava. Junto com amigos, organizou vários eventos e panfletagens sobre

a ouvir

ei Além da paixão pela Comec e som prática esportiva há tamd um tipo nsinou bém aqueles que gostam de e andar de bicicleta com intuiue me q oisas c to político. São seguidores de s a r a olha maneira um grupo de norte americaa nos que na década de 1960, de um em São Francisco, já lutavam te” diferen para que a bicicleta fosse vista no centro urbano. Eles são cicloativistas que tem como objetivo difundir o uso da bike. Essas pessoas buscam conscientizar e conquistar espaço nas vias. O principal apelo é a inclusão desse meio de transporte no trânsito, para que as pessoas comecem a enxergá-lo como o meio mais viável de se locomover. Thiago Ribas, 27 anos, é um dos que dissemina o cicloativismo em Guarapuava. O acadêmico de Ciência da Computação diz que sempre gostou de se envolver em questões políticas, mesmo sendo apartidário, e que a música foi determinante para se

o assunto, mas ele lamenta que hoje esse grupo tenha parado suas atividades. “Eu até tenho vontade, mas o problema é tempo, todo mundo vive numa correria e pra incentivar isso precisa de dedicação”. Thiago critica o posicionamento tanto da sociedade, quanto dos governos pela falta de incentivo do uso da magrela. “Guarapuava é uma cidade tradicionalista, tem um pensamento que rebaixa a bicicleta como um instrumento de pouco valor e tem o carro como status”. O cicloativista enfatiza as diversas vantagens de usar a bike para se locomover “É sustentável, saudável e barato, além de que você observa muito mais as coisas e começa a notar melhor o meio em que você vive”.

Bicicletada em

Guarapuava

Arquivo pessoal

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Isso

Uma surra, uma coisa grande, uma zoada ou espada velha. Catatau: o que É?

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O livro Catatau de Paulo Leminski ganhou em 2010 uma nova edição. Uma boa notícia para conhecedores e desavisados, porque a obra não estava disponível tão facilmente, com preços altos e em poucos sebos do país, chegando a R$ 200. Nela é conservada a imagem de capa da primeira edição, “Cenas de luta na sala de uma tumba em Beni Hasan” (Egito, c.2000 a.C, anônimo), com dois ensaios do próprio autor, que serve alguns caminhos para a leitura da obra: “Desordenadas Cartesianas e Quinze pontos nos iis.” O texto, ou romace-ideia, como o autor intitulou, fabula a visita do filósofo René Descartes ao Brasil, precisamente em Recife, nos tempos de Maurício de Nassau. Descartes é o filósofo da lógica

resenha

uma

Matéria: Kaio Miotti

literatura

não é

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cartesiana, a mesma que contribui para a arrumação ordenada da sala de aula, ou seja, é a visão analítica e racional das coisas. Maurício de Nassau, governando do Maranhão até Sergipe, trouxe uma trupe de artistas e intelectuais para conferir a Recife um aspecto urbano. Ali ele constrói o palácio de Vrijburg, um imenso horto, um zoológico, fauna e flora tropicais, com uma decoração diversa que reunia objetos indígenas e obras de alguns artistas europeus. A ideia que o poeta teve enquanto ministrava uma aula de História do Brasil sobre a invasão holandesa é a de transar a tentativa de reproduzir a Holanda nos trópicos (projeto-Nassau), à tentativa de Descartes transplantar seu olhar racional em Vrijburg, sentado sob uma árvore, com uma luneta numa mão e na outra um cachimbo com “jererê, manofa, charula”, ou, simplesmente, “tabaqueação de toupinambaoults”. Descartes, ou Renatus Cartesius, como é chamado no livro, não conseguindo aplicar seu pensamento, ainda espera a vinda de Artiscewsky, um fidalgo polonês oficial de Nassau para lhe dar explicações. Então o romance-ideia de Leminski conta

O

Catatau

é um livro que se você ler

palavra

por palavra,

frase a frase, tem

significados

e

brincadeiras

maravilhosas.

O Catatau é uma obra de vanguarda, de invenção, comparada à Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Uma obra de linguagem nova, aberta, que frustra a expectativa do leitor, pois nada acontece: o filósofo espera Artiscewsy até a última linha para que ele lhe dê explicações, mas este chega bêbado, provavelmente, sem poder explicar nada. Construído com neologismos, com provérbios híbridos, aforismos, parodiando a prosa portuguesa; uma obra que levou nove anos para ser concebida, nos deixa N combinações. Na verdade, engaja o leitor na criação e descoberta de sentidos e significados. Maurício Arruda Mendonça, que escreveu a orelha da nova edição, diz que “O Catatau é um livro que se você ler palavra por palavra, frase a frase, tem significados e

o momento em que o filósofo, sentado embaixo de uma árvore, observa a natureza sob lentes de lunetas fumando uma erva misteriosa, ao mesmo tempo maravilhado e confuso.

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brincadeiras maravilhosas. Porém, se você for analisar as frases em conjunto, as coisas parecem não fazer sentido nenhum. Mas o autor é um sujeito com uma erudição e inteligência imensas. O Catatau é esse paradoxo da informação e do saber”. O próprio Leminski, para intuir a compreensão da obra, escreveu: “O Catatau é, ao mesmo tempo, o texto mais informativo e, por isso mesmo, o texto de maior redundância. 0 = 0. Tese de base da Teoria da Informação (TI). A informação máxima coincide com a redundância máxima. O Catatau não diz isso. Ele é, exatamente, isso”. A TI pressupõe que o caos é o grau máximo de informação, enquanto a nossa percepção depende de certa forma para captar a mensagem. Forma que só é forma reduzindo a mensagem a um nível menos caótico. Ora, um poeta de vanguarda queria justamente formas novas, assim, a aparen-

te falta de lógica do romance-ideia é na verdade criação, o gozo com a linguagem. Leminski não descartava qualquer coisa que pudesse “aproximar pessoas, via palavra”. Dizia: “é comigo mesmo”. Mauricio Mendonça ainda chama a atenção para o fato de que a linguagem do dia-a-dia é mesmo uma mistura impura de gêneros e fontes. E ainda pergunta: “Ou você conversa com teus amigos com a linguagem de Machado de Assis?”. O autor da dissertação O Romance-Ideia Catatau de Paulo Leminski: uma abordagem literária e filosófica, reflete que vivemos numa era de excessos, em que há informações sobre tudo em revistas, TV, cinema, internet, e isso pode levar a incompreensibilidade total, ignorância, um verdadeiro paradoxo. Aconselhando este iniciado em Catatau, Maurício sugere: “O Melhor mesmo é não ter pressa, dedicar-se tranquilamente a COMPREENDER as coisas. É o que falta nesse mundo de excesso de informação.”

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Argila, árvore, borracha, cimento, aço, vidro, vapor, pano e cartilagem, tinga, cinza, casca de ovo, grão de areia, primeiro dia de outono, a palavra primeira, o número cinco, o tapa na cara, a rima rica, a vida nova, a idade média, a força velha, até tu, minha cara matéria, lembra quando a gente era apenas uma ideia? (Leminski, p. 85)

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Frases e Haicais Uma transa

Leminskiana Leminski fez hai-kai, foi poeta concreto, apresentou o programa TV de Vanguarda na Rede Bandeirantes, foi ensaísta, judoca, publicitário, professor de cursinho, traduziu de Fante à Bashô, fez biografias de Jesus e Trotsky... Enfim, o poeta produziu muito em linguagens e formas diferentes, erudito e bandido. Como diz sua biografia escrita por Toninho Vaz, Paulo era O Bandido que Sabia Latim. Uma de suas ideias surpreendentes é a de que poesia é feita para poetas. Mas, como explica no texto Poesia no Receptor, do livro “Ensaios e Anseios Crípticos”, poeta é quem tem sensibilidade para entender e curtir poesia. Não precisa escrever para ser poeta, “quem não tem senso de humor, nunca vai entender a piada”. E o polaco vai além: nos traz a perspectiva do poeta russo Maiakóvsky, de que “se um livro se destina a uns poucos e não tem outra função, ele é desnecessário. Mas se um livro é endereçado a uns poucos como a energia da central elétrica de Volkhovstroi se dirige a umas poucas estações transmissoras, para que essas subestações distribuam pelas lâmpadas elétricas a energia reelaborada, então sim, semelhante livro é necessário”. Paulo acreditava na vanguarda, no barato da linguagem em todos os níveis possíveis da sociedade. Comparava a poesia ao júbilo do gol, ao orgasmo, a amizade, ao estado extraordinário atingido através de certas substâncias. Eram coisas assim que o poeta buscava, porque queria não a utilidade mercantil dos dias de hoje e de sua época, não, poesia para ele era um in-utensílio indispensável ao ser humano, e rematava: “Pra que por quê?”

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Abrindo um antigo caderno foi que eu descobri: Antigamente eu era eterno. tudo dito, nada feito, fito e deito Pergunta tão rica precisava andar por aí mendigando respostas? A vida não imita a arte. Imita um programa ruim de televisão.

Haja hoje para tanto ontem Isso de ser exatamente o que se é ainda vai nos levar além

Não fosse isso e era menos Não fosse tanto e era quase Salve-se quem quiser, perca-se quem puder! Paulo Leminski 43


Levando a vida de um jeito despreocupado e, até mesmo, subversivo, Wander Wildner destila um estilo peculiar por onde passa. O cantor gaúcho, ex-integrante da banda Replicantes, iniciou sua carreira solo em 1996. Desde então, lançou seis discos, sendo o mais recente intitulado ‘Caminando y Cantando’. Andando sempre por uma estrada que não está no mesmo ritmo das demais trajetórias,Wander diz que é preciso ressurgir das cinzas todo amanhecer. A reportagem da revista Ágora conversou com o “punkbrega” quando ele esteve em Guarapuava. Matéria e diagramação: Gabriela Titon

Colagem: Gabriela Titon

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- Você não gosta de rotina, então? Não é bem isso. Rotina eu tenho, de certa forma. Mas é uma rotina minha. Principalmente quando se fica mais velho, você tem mais rotina. Mas é uma rotina dentro de coisas que eu crio. É diferente de uma rotina de alguém que trabalha em algum lugar, que é fixa. Já fiz isso há

Divulgação

- Do primeiro disco até o último, existe uma mudança de estilo. Isso reflete cada momento da sua vida? Sim, totalmente. Eu vivi em muitos lugares, tive muitos relacionamentos. Então, vai mudando. Quando alguma coisa me incomoda, procuro descobrir o que é, e isso faz com que eu mude muito. Vivo sempre o presente. Não tenho casa, quando tenho é simples e pequena, fico viajando. E hoje viajo muito, que é uma coisa que eu gosto. Estou há mais de um ano viajando. Fico algum tempo em um lugar, mas não acho que estou morando lá.

anos atrás. Mas quando uma coisa pára, você morre. Num relacionamento, está morto; num emprego, está morto. - É diferente tocar em uma cidade como Guarapuava, onde o maior público é sertanejo, e em lugares onde o rock é mais aceito? Não. O que faz diferença é o clima do lugar. Aqui, a gente chegou, o clima era legal e o som bom. A passagem só demorou 40 minutos. Conforme o lugar, o show muda. Conforme com quem estou tocando também, porque toco com muitos músicos. Mas o que dá diferença é o astral, a alma do lugar. Quando o lugar é frio, fica um show chato, porque tudo é ruim. Aí você pensa: que droga de show. Quando o astral do lugar é legal, o lugar te acolhe, a probabilidade é de que seja uma boa noite. Claro que o show vai ser daqui há horas, eu vou estar diferente, não dá para saber.

dade da arte em geral e a valorização é maior do que aqui no Brasil? É que lá tudo é arte. Todo trabalho é artístico. Por exemplo, o alemão é um grande produtor de máquinas, e quem trabalha nas fábricas gosta do que faz. Ele se considera um artista naquele trabalho. Lá, se vive com pouco dinheiro e não são consumistas. Tudo é arte lá. Não é só na Alemanha, é em toda a Europa. Até vai ter gente que não gosta do que faz, mas a maioria gosta. E ele se respeita, então, sabe o porquê está fazendo aquilo. Existe mais consciência. Essa é a grande diferença.

- Você falou que vive viajando, e esteve na Europa recentemente. A receptivi-

Divulgação

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- Ontem, em uma conversa, algumas pessoas disseram que nunca haviam ouvido falar o seu nome. Mas acho que isso nem é uma pretensão sua. Sim. Eu não quero ser famoso. Porque é um meio que eu não gosto. Ando no meio dos meus amigos, e as pessoas com quem convivo têm um pensamento em comum, de levar a vida. Criei essa estrada do jeito que

eu quero. Tem coisas que não faço porque não quero. Eu sou um outsider. Sou um viajante, não vivo da mesma forma que a maioria das pessoas. - Você acha que deveria existir menos música voltada somente para se ganhar dinheiro, música comercial? O trabalho ser feito por prazer. Isso é muito pouco. O mundo acabou. Essa forma de vida já era. A gente vai ter que aprender a fazer de outro jeito. Porque fazer isso que estão fazendo, não dá. Alguém fazer o que não gosta hoje em dia, não tem cabimento. Porque se dava muitas desculpas, hoje em dia nem quero ouvir nada mais sobre isso. É tão fácil. Tudo já foi feito, é só viver. Mas o Brasil não vive há muito tempo. O Brasil que eu digo são os centros urbanos, que são os responsáveis pela democracia, pela sociedade que a maioria vive. A gente vai

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pode se enganar mais. Vai ter mudanças. No Cairo, esse ano, as pessoas saíram à rua sem nenhum partido político. Elas foram para a rua, e disseram que não aguentavam mais viver daquele jeito. Em duas semanas, o presidente foi deposto. - Então falta um pouco a indignação das pessoas? Um pouco, não. As pessoas têm que morrer num dia e nascer na outra manhã, diferentes. Você precisa acordar de manhã e pensar o porquê de fazer o que vai fazer. Fazer as coisas conscientemente. Se eu não pensar sobre o que vou fazer, elimino

Vou

me entorpecer

BEBENDO VINHO.

EU SIGO SÓ, O MEU

CAMINHO. um processo natural. Aí eu vou para um emprego que não gosto, estou casado com uma mulher que não gosto e ela também não gosta mais de mim. O meu chefe não gosto, os colegas do trabalho não gosto, mas eu vou para lá. E tem mil desculpas para fazer isso. - As pessoas não assumem o que elas são? Porque parece que existe uma autocensura. Claro. Existe medo. E também porque existe um bombardeamento, que é a indução por propaganda. Elas são induzidas a fazer aquilo, e se não fizerem vão achar que não fazem parte da sociedade. Precisam fazer as pessoas viverem do jeito que o capitalismo quer, para elas serem só empregadas. Aí tem a televisão, o rádio, o jornal,

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Wander wildner

ter que aprender a plantar de novo, a construir casas. Carro já não é nada. Eu odeio andar de carro. Não gosto dos amigos que têm carro. Eu ando de carro, às vezes, quando preciso. Mas prefiro andar a pé. Automóvel é o maior exemplo do que é a sociedade dos grandes centros urbanos. O amor que o homem tem a ele. O homem é um eterno adolescente, porque ele ainda acha que o carro é um símbolo de poder. Tem um monte de gente fazendo outras coisas. Então, não interessa o que cada um quiser fazer. O que eu estou fazendo? Com quem? Isso é a grande pergunta de hoje. A gente não

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Eu tenho uma camiseta escrita

e todos fazem a mesma coisa: induzir as pessoas a ser de uma determinada maneira. - Você falou sobre mídia, qual é a sua relação com a imprensa? Eu não faço mais nada. Respondo a algumas entrevistas e vou a alguns programas que são de amigos. Não faço nada, não mando disco para ninguém. Às vezes mando para algum amigo, mas cada vez menos. Esse disco foi lançado primeiro na internet. Provavelmente, o próximo vai ser isso. O disco não tem nas lojas, são mil cópias só. Está na internet para ouvir a música. Eu não tenho que suprir os desejos dos outros, do fã ou de quem quer que seja. Não tenho responsabilidade sobre ninguém. Nós vamos ter uma próxima fase agora. Provavelmente, quem não está nos centros urbanos vai se dar conta primeiro de que aquilo não

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significa nada. Porque você tem uma televisão e a programação é horrível, nada é interessante. Uma hora, as pessoas vão dizer: o que eu estou fazendo aqui? - Tem alguma diferença na tua disposição, tanto para produzir, compor música, quanto para fazer show, do início até agora? Eu tenho mais força agora. Trabalho muito mais e tenho mais força. Tenho mais disposição e as coisas fluem muito mais. Porque você vai se aliando a amigos, então, as ideias são conjuntas. A gente está fazendo um grupo novo agora, em São Paulo, com vários amigos, alguns de outros lugares, outros de lá, e é um trabalho bem diferente de como a gente começou as bandas antes. - No início, ou em alguma fase da vida, você se sentiu deslocado? Não, é que no começo, era intuitivo. Não tinha pensamento, não tinha consciência. Eu não sabia o porquê de estar fazendo aquilo. Eu ia na onda, porque eram meus amigos legais fazendo coisas que me brilhavam aos olhos. Não era só música, eu fiz música, cinema, teatro e televisão. Entrei em todos os grupos dos meus amigos. Só que isso faz 38 anos. Aí você vai encontrando outras pessoas que pensam do mesmo jeito e faz coisas diferentes. Umas dão certo, outras não. Mas cada vez tenho tocado mais, feito mais músicas com outras pessoas, o meu ouvido tem ficado melhor. Num ritmo maravilhoso. Nunca pensei exatamente que ia ser isso. Eu começo a fazer uma coisa, ela cresce, mas não sei como vai ser o resultado final. Sei como vou começar, mas não penso

como vai ser o resultado. Não sou igual a um cineasta, que consegue ter ideia de como vai ficar o final. Eu só sei o começo. Eu paro de fazer uma coisa quando não gosto e continuo fazendo o que é legal. Quando fica pronto, é uma surpresa. Primeiro: o presente é fazer, o processo, isso é o mais legal. Quando fica pronto, você fica satisfeito porque terminou. Aí fica satisfeito porque trabalhou com amigos e porque eles ficaram felizes. Aí, a pessoa ouve, gosta, canta a música no show, e o processo vai aumentando. Isso era assim no Brasil, nos anos 60, 70, era muito interessante. A vida no Brasil era mais parecida com a vida na Europa, e até tem alguns lugares do interior, em que o pessoal gosta do que faz, gosta do espaço, do ar que respira. Os centros urbanos, a babilônia que os rastas falam, é que são o problema. Mas tudo já foi dito. Eu não tenho mais paciência para aturar quem não está sacando as coisas. Tem que se perguntar sempre, e duvidar de si mesmo. A gente acha que tem muita certeza de tudo, mas tem que se perguntar: será que é isso mesmo? Acordar todo dia de manhã e a vida começar de novo, continuar o que é legal e terminar o que não é. “Ah, mas eu não sei se vai dar certo”. Verdade. Mas o que mais você tem além de acreditar? Só tem você mesmo, a própria energia. O máximo que vai acontecer é dar errado. O teu dia não foi bom, aí você vai dormir e quando acorda de manhã, é outro dia. Se foi ruim, você vai arrumar aquilo e fazer diferente. Ao invés de sair pela esquerda, vai pela direita. Porque na esquerda vai ter o açougue e na direita aquela florista, se eu for pela esquerda não vou ver a florista, então muda. Tem que mudar tudo.

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eu que fiz

RG

NOME: Professor Aldo Nelson Bona (Vice-Reitor da Unicentro)

“Como fotógrafo, gosto muito de tirar foto de pessoas. Também gosto de fotografar paisagens e essas coisas, mas o que prefiro retratar são pessoas. Geralmente manipulo bastante as imagens. Escolhi essas quatro fotos por alguns motivos. Na primeira, da Fernanda, dá pra notar o poder do olhar profundo dela. Já na da Isabela o que prevalece é a sutileza do sorriso e o jeito meigo. Na fotografia da Letícia, a careta que ela faz mostra que ela é bem engraçada. Por fim, a do Vinícius transparece o fato de que ele é engraçado só por ser ele mesmo. As fotos da Letícia e da Fernanda são com técnicas de iluminação de estúdio e as da Isabela e do Vinícius são sem iluminação artificial” (júlio césar nieckarz assis).

Fernanda

EU INDICO: Filme Sonhos, de Akira Kurosawa

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Isabella

Letícia

Vinícius

PORQUE: É um filme que retrata por meio de vários quadros alguns conflitos característicos da construção da personalidade do ser humano. Mostra, também, o modo de ser de cada um e, acima de tudo, consegue relatar com bastante profundidade o quanto o viver é angustiante. Ou seja, é um filme que se enquadra numa perspectiva do existencialismo, da corrente filosófica que se popularizou bastante com o pensamento de Jean Paul Sartre, filósofo francês. Ele trabalha com a idéia de que vida é angústia, porque constantemente somos postos frente à situações que precisamos fazer escolhas essenciais em nossa vida, que mudam os nossos rumos. A necessidade de escolha gera angústia por não sabermos, na hora de optar, qual é o melhor caminho. Então é nesse sentido: viver é angustiar-se e o filme, de alguma forma, traduz isso através de quadros interessantes e profundos.

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expediente

Ágora revista

Reitor Prof. Vitor Hugo Zanette

Professor Responsável Prof. Anderson Costa

Tiragem: 500 exemplares Impressão: Gráfica Unicentro

Vice-Reitor Prof. Aldo Nelson Bona

Editora-Chefe da Edição 04 Luciana Grande

Contato (42) 3621-1325 e 3621-1088

Diretor do Campus Santa Cruz Prof. Osmar Ambrósio de Souza

Assistente de Redação e Revisor Bárbara Brandão

E-mail: agoraunicentro@gmail.com

Vice-direção de Campus Prof. Darlan Faccin Weide Diretor do Sehla (Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes) Prof. Carlos Eduardo Schipanski Vice-diretora do Sehla Prof(a). Maria Ap. Crissi Knüppel Dpto. de Comunicação Social Coord. Prof. Edgard Melech

Direção de Arte e Diagramação Final Anderson Costa Equipe A: Bárbara Brandão, Ellen Rebello, Gabriela Titon, Helena Krüger, Kaio Miotti Ribeiro, Luciana Grande, Yarê Protzek Equipe B: Ana Carolina Pereira, Giovani Ciquelero, Hilva Nathana D’amico, Katrin Korpasch, Mário Raposo Jr., Poliana Kovalyk, Vinicius Comoti, Yorran Esquiçati.

Capa Helena Krüger Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro. A Revista Laboratório Ágora é desenvolvida pelos acadêmicos do 3º ano de Jornalismo da Unicentro.

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