Jornal Ágora 2011 - Edição 05

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Ă gora Guarapuava - 2011 - Ed. 05 - Ano 01.

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O jornalismo, antes de o ser, fora um espaço aberto aos escritores da época que não encontravam espaços para publicação. Eram nas folhas finas sem qualquer cerimônia que surgia o escritor apressado, que narra o cotidiano como se fosse perdê-lo amanhã. São essas histórias, perpetuadas pela escritas, que permitem aos homens a desconstrução seguida de diversas reconstruções das inúmeras realidades, dos tempos que passaram, e dos que ainda estão sendo vividos. Pautar novas discussões partindo de trechos de livros permite a brincadeira entre os desconhecidos, a linha tênue de discussão da efemeridade que nos passa despercebida. A história do presente contada pelo jornalismo tem um pouco da mágica literária: a expressão de novos conceitos e a discussão dos velhos. Como numa citação de Shakespeare na obra clássica Hamlet: “há mais coisas entre o céu e a terra que sonha nossa vã filosofia”. E a escrita é uma boa maneira de brincar com esses desconhecidos.

Reitor Prof. Vitor Hugo Zanette

Editora-Chefe da Edição 05 Keissy G. Carvelli

Tiragem: 500 exemplares Impressão: Gráfica Unicentro

Vice-Reitor Prof. Aldo Nelson Bona

Assistente de Redação e Revisora Evane Cecilio

Diretor do Campus Santa Cruz Prof. Osmar Ambrósio de Souza

Direção de Arte e Finalização Anderson Costa

Contato: (42) 3621-1325 e (42) 3621-1088 E-mail: agoraunicentro@gmail.com

Vice-direção de Campus Prof. Darlan Faccin Weide

Diagramação Leandro Povinelli e Morgana Nunes

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Expediente

O Jornal Ágora 2011 trás assuntos do cotidiano do cidadão de Guarapuava pensados a partir de frases. Nesta edição, as matérias têm por inspiração frases da literatura.

Diretor do Sehla (Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes) Prof. Carlos Eduardo Schipanski Vice-diretor do Sehla Prof(a). Maria Ap. Crissi Knüppel Dpto. de Comunicação Social Coord. Prof. Edgard Melech

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Por Keissy Carvelli

Há aproximadamente seis mil anos a.C, nos planaltos da região conhecida como Mesopotâmia (entre rios), a história da humanidade foi marcada pelo desenvolvimento de uma técnica que modificaria definitivamente as relações humanas e suas trocas culturais, sociais e educativas. A transmissão do conhecimento pela oralidade havia encontrado um novo meio de expressão: a escrita. Esta não é a única e verdadeira versão sobre o surgimento da escrita, no entanto de versão e versão se faz um verão, e a escrita tem sido um novo mundo descoberto a cada nova frase colocada em papel, a cada “estória” contada e reafirmada pelas páginas amareladas de antigos livros. Um livro à estante, mesmo em tempos de desprestígio literário, ainda é um convite ao desconhecido. À imaginação do desconhecido. Estar de frente a um livro é estar prestes a transformar um pedaço do pensamento, prestes a deixar para trás o estágio de inércia para chegar às inquietações da mente.

Guarapuava - 2011 - Ed. 05 - Ano 01.

Fotógrafo: Luiz Fernando Santos

editorial Entre o céu e a terra: a escrita

Professor Responsável Prof. Anderson Costa

Redação: Adriano Vizentin, Aline Bortoluzzi, Andréa Alves, Anita Hoffmann, Camila Souza, Camila Syperreck, Carolina Teles, Catiana Calixto, Eliane Pazuch, Evane Cecilio, Jeferson Luis dos Santos, Júlio Stanczyk, Keissy Carvelli, Leandro Povinelli, Luiz Carlos Knüppel Jr., Marcos Przygocki, Mariana Rudek, Monique Paludo, Morgana Nunes, Patricia Tagliaferro.

Download das edições www.redesuldenoticias.com.br e www.unicentro.br/agora - Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro. - O Jornal Laboratório Ágora é desenvolvido pelos acadêmicos do 4º ano de Jornalismo. Projeto de Extensão 096/2011 Conset/Sehla/G/Unicentro, 28/06/2011.

Quando um instinto natural vira um

transtorno psicológico

m e e r t n e o nã

c i PÂ n

o

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Cultura Referência ao quadro The Scream, de Edvard Munch

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er s a a s s o pa c i m n u â s p i a O m não e l a i a c i prejud o ou uma form i benefíc roteção de p Matéria: Camila

QUE O A I B A S EU NÃO ONTECENDO AC ESTAVA FIQUEI COM E R COMIGO DO DE MORRE ME MUITO

S. Syperreck

nte pensa, do que muita ge e nt re e qu ônica, que situações uma doença cr é Existem várias o nã de Po te pelo resem pânico. panha o pacien om nos fazem entrar ac de te no do pânium aciden vida. O transtor da ser um assalto, to om de ser chaissão em um mo também po co , carro, uma dem co rpe trat ado na quando se o, é facilmente ad mento difícil, ou m m E . té porque importante ia dos casos. A or ai de uma pessoa m al rm enas uma essas, é no muitas vezes, ap é, e situações como el a, di ar tuações exar, taquic ão do corpo a si aç sentirmos falta de re a. ur nt as da vida, rnas e to as ou complicad em fraqueza nas pe tr sim as adeado por se sentir ndo ser desenc de Mas, como seria po o, ed m estressante m? Sentir ma condição gu sem motivo algu al al m ar des decisões, ar, de pass e envolva gran medo de desmai qu r? re no estilo o de mor andes alterações gr e até mesmo med ou na o, at aques poprincípi O pânico é, a vida. Ou seja, os de de o m e a situação mecanis cessar assim qu m tural. Ele é um de do ta es enizada. ais, é o resolvida ou am r defesa dos anim fo s do to icólogo Douimo, onde Segundo o ps de alerta máx ao os das as pestão voltad Busatta, nem to as os sentidos es gl se o rp medicação o, e o co necessit am de as perigo, à atençã so da ili ib ues de pânigir. A sens ra conter os at aq prepara para fu pa ui in m di ente para paades até , “varia de paci de nas extremid co a id nt se m precisam se não seja ente. Alguns ne para que a dor ci s ve le s ues vão dimiachucado at ar, pois os at aq em caso de m tr am hu sJá em alguns os sere indo e somem. nas patas. Para nu nfu a m , os pacientes m a mes sos mais graves nos, o pânico te ca s, oa ss pe édios e acomalgumas ecisam de rem ção, porém, em pr s to en om ógico ou psiem m nhamento psicol ele se expressa pa do an qu , algum to tempo”. iátrico por mui que não há perigo qu ça be ca ta, também, enas na Busatta ressal os riscos estão ap es s do pânico é uma sente to e a síndrome do da pessoa e ela qu de do ta a. Muitas vea em es ença psicológic ses sintomas, fic do e, ad id ss são confundiver nece s seus sintomas alerta, sem ha ze es N e. doenças, como ar por qu sem saber explic dos com outras r se a a ss coração e nico pa relacionadas ao ses casos, o pâ as ne be um de pressão caro mais prejudicial e nã aos problemas . ão eç ot pr a de isso acontece, fício ou uma form díaca. “Quando a m le ob pr ar ainda mais do um pessoa pode fic Acaba se tornan a o ic ân P esse. E, como que de siosa e sob estr chamado de Ata an do an qu o tá sendo traPânic síndrome não es ou Síndrome do a s. te, a situação as veze da adequadamen acontece repetid ta . co ni pâ e em agravando.” Porém, não entr e, dife- vai se ra cu m te e m Essa síndro

to n e t a fique

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o p e D

ém Caso você ou algu (1) sint a que você conheça pios; (3) tonturas; (2) arre a de ar; (5) sudorese; (4) falt panhada sint a angústia acom anta e no de aper tos na garg perdido peito; (6) se sint a undo ou desligado do m esteja ao seu redor; (7) eocupado obsessiv amente pr tar com e; (8) acredita es apesar um a doença grave rem que de os exames dize de um a não, procure ajud av aliar e psicólogo que irá ação. diagnosticar a situ

ento tratam u m u à hou ma, e ncamin o. Dessa for ecei um e gic om epois psicoló a doença e c apia e uso tou e d te l o v e i s c t ri or o er conhe mais f ias a c aliand i um proo t n e guns d do cada vez ntecia em tratam amentos. Fo s de algum co an c e A fi u . q e i t o oi dic s a f n nh ue soa de me to, mas dep e curada. as pes co is freq lho e não ti i a n m n â m u nt e p l e e m e do não raba e É co cesso quei totalm ora, no t parecer. Eu ceníndrom assar mal, d s s fi a to imp ça a i c o d u p m e m a m p t e e é n a r t e co or ar sof od que doen hora p ue estava a o, de m m med Penso ador dessa me muito q m o o t sentire r e, até mesm ram parte c r a i o o i índro op que sab and ze ia tante r o que é a s pode ser igo e fi r. Mesmo qu uidesma s sintomas fi r algum m o c e a do se po orre va m conhec o e como el s sofrem rer. Es e Juliana* pletar o de m m crise fica la d m e c o i soa c m n s d â e e e e e do p da vida ouco antes d ginava o uitas p oram procu estava ois sabia qu hora, M o . ã a n d a p m a , m e d ea er a, p trat tempo e ela nem i o. ença e iso saber qu ansios tar a qualqu ria o o d t , d a s s n o des refe a vol 30 an va acontece e senti oa pro É prec poderi quer lugar. P nversava ajuda. vel se a pess ado”. qu ta s r z e a e r v e o l a u c a a q estav meir possí adequ em qu casa e não “A pri e pânico eu ade. cura é ratamento m isso. e e r r d o a t b d i t c o i c o fi ra rise uém s ise mu curar uma c urso em out , achei m ning tive uma cr , o e c r c u a o r m e a em u dispa com falta d Um di fiquei oração muita . Ele me i t n a r e s g Meu c desmaiar e e ico forte, a algo d as a o méd a i u f que iri edo de que , M então m migo. muito contecer co abei não a ac ve iria ou pouco e alr u io. Em d r é e s a cris o t o mui levand

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A frase “Não entre em pânico” é comum, mas aqui buscamos referência no primeiro livro da série satírica de ficção científica O Guia do Mochileiro das Galáxias (Editora Sextante, 2004), do escritor norte-americano Douglas Adams. Nessa obra, ela é lida atrás de uma aparelho, no qual está a maior enciclopédia do mundo, com todo o conhecimento do universo. Daí a dica: “Don’t panic”.

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Maktub

Coincidência, destino, sorte ou estrela guia?

Vamos jogar as cartas sobre a mesa Matéria: Marcos Przygocki

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res us afaze e s s o s de e todo ma cida amigos ar em u ç tae s e m o c já nos, a para re is e s s heceu e. Apó diferent or aqui, ela con je p a , a ho belecid antos Lim Irineu S s o d u Irine o é que so. O fat o de seu espo para a vocaçã o, u o t r fi e pro ssã desp hoje sua io que , o ir e b bom cênd ila. nte no in justame a casa de Prisc i que com acabou ele, sent ria i c e h n o oc m que “Quand com que ue nosm e m o h be q era o que sou is o do, foi p e D se cruza casar. ia v a h o já s”. so destin prar as aliança stav m u o G c l r ó s Ca do com aDe acor ra suíço e fund t ia u iq Jung, ps

Você acredita em destino? Muitas pessoas utilizam-se desse termo para definir a ideia de um peso que carregam sobre os ombros, do qual não encontram a causa na existência terrena. Achamos mais simples e menos humilhante para nosso ego, atribuir os nossos fracassos à sorte ou ao destino do que a nós mesmos. Um acontecimento é quase sempre consequência de algo feito por um ato de livre vontade, de tal maneira que, se não tivesse praticado aquele ato, o acontecimento não se verificaria. Você pode estar se perguntando, ou já se perguntou em algum momento, sobre as coisas que te aconteceram sem que você tivesse agido em favor delas. Será que, de certa forma, você as atraiu pelo pensamento?Portanto, pensar sempre positivo e de modo imperativo: “Eu vou comprar uma casa nova”, “Vou me formar em medicina”, “Vou ter isso ou aquilo”, seria uma forma de ‘moldar’ seu destino para que somente coisas boas lhe aconteçam? Para Priscila Campos Nogueira Lima, 37, o destino é a única palavra para definir as circunstâncias de seu matrimônio. Em 1999, a casa onde ela morava em Laranjeiras do Sul, Paraná, foi destruída por um incêndio. Tendo que começar novamente do zero, ela, seus pais e seus irmãos vieram para Guarapuava para refazer a vida. Priscila estava inconformada por ter que abandonar seus

dor da psicologia analítica, fatos como esse podem ser exp licados através da sincronicidade, que define acontecimentos que se relacionam não por relaçã o causal e sim por relação de significado, ou seja, os fat os não ocorrem aleatoriamente. Já segundo Maria da Silva Cararo, cartomante e vid ente há 43 anos, deveríamos pri meiramente acreditar em ree ncarnação. Portanto, precisam os partir do pressuposto que escolhemos o momento exa to de nosso nascimento, em rel ação com a tarefa que teremos que

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o destino sempre irá se cumprir. O individuo nada pode fazer para que isso não ocorra.

cumprir durante nossa jornada na terra. Dificilmente qu ando um fato est á marcado em nosso Tema Natal ou nas Previ sões ele deixa de acontecer. “Se uma pessoa morre por acidente e não era à hora dessa pessoa morrer, ela vai reencarn ar para que se cumpra o destino dela. Seja um dia, um mês ou 40 anos”, afirma a cartoma nte. Quando começamos um relacionamento, sempre achamos que todas as forças do destino nos juntaram de alguma maneira. Quando aconte ce algo ruim ou bom, sempre ach amos

para ”. Mas r e s e u , esse é nha q que “ti ernanda Dias modo. F o cô Denise to muit suas den e m a s um pen fácil colocar essoa, ito utra p “É mu ão de o e culpa ou m a n cisões indo d se exim uências”. , m i s s a seq andas con ndo a cartom u e g s e Ainda s no sempre irá de i o t p es a te, “o d individuo nad rra. O oco r. o i ã r sso n cump i ee u q numa r ara fazer p esta vida ou foi ue lhe er n Pode s ão o destino q Nossas aç ”. encarn erá cumprido empre s o e t i õ ç ss escr lhas e a s, boas ou o c s e , s cia luta sequên stá escrito n o c o ã áe ter o que j ecerá. s a m , s má preval ino? sempre dita em dest e , acr E você

A palavra Maktub quer dizer ‘carta’ em árabe, contudo, foi traduzida como ‘está escrito’ por Paulo Coelho em seu livro homônimo (Editora Planeta, 2006). Nessa obra, estão reunidos textos publicados diariamente pelo autor em jornais entre os anos de 1993 e 1994. Para o escritor carioca, é um livro inspirado em várias culturas e partes do mundo, tratando-se não de um livro de conselhos, mas de um resumo de filosofias de vida de diversos povos.

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sem cor

“Até hoje não sei se cruzei o sinal no vermelho ou no verde”

Histórias de quem sofre de daltonismo O sinal de trânsito

Uma vida

Matéria: Luiz Carlos Knüppel Junior

Uma perturbação da percepção visual caracterizada pela incapacidade de diferenciar todas ou algumas cores, normalmente de origem genética, mas que pode também ser oriunda de lesões nos órgãos responsáveis pela visão. A essa pertubação se dá o nome de daltonismo ou “cegueira para cores”. O daltonismo ocorre normalmente entre os homens e estima-se que cerca de 8% de toda a população masculina sofre dessa perturbação visual. André Rosa convive com o daltonismo há 44 anos e já se acostumou com o problema. “Hoje em dia, apesar de ainda não conseguir distinguir e diferenciar todas as cores, já aprendi o que é verde e o que é vermelho”.

Apesar de já estar habituado com o daltonismo, André coleciona algumas histórias engraçadas sobre a confusão que a doença já lhe causou. “Uma vez dei carona para um camarada enquanto dirigia pela cidade e aí vi aqueles sinaleiros novos temporizados. Como não estava habituado com esses sinais, para saber se estava vermelho ou verde, perguntei para o rapaz: o sinal está vermelho ou verde? E ele me respondeu: ‘E eu sei lá, eu sou daltônico’. Até hoje não sei se cruzei o sinal no vermelho ou no verde, mas como nunca chegou nenhuma multa, acho que acertei”, conta ele aos risos.

não

As meias coloridas Ivoni Cavallim não é portadora do daltonismo, entretanto, tem boas histórias para contar sobre seus irmãos, Ico e Nilo, esses sim daltônicos. O episódio com o qual Ivoni mais se diverte é o das meias coloridas. “Quando a gente era criança, meus irmãos sempre saíam de casa com um pé de meia de cada cor. Quando tinha algum baile para ir, eles me pergunta-

vam se as meias estavam certas e eu sempre mentia, só no baile é que eles iam descobrir. Ai era um Deus nos acuda”.

Dificuldades de Aprendizado Apesar das histórias engraçadas que ocorrem devido a confusão com as cores, o daltonismo também traz alguns problemas. Filemom Mokochinski sabe bem o que é isso, pois teve várias dificuldades na escola e agora no curso de Engenharia Florestal. “Me lembro que na escola minhas canetinhas tinham uma etiqueta na tampa com o nome da cor, mas sempre acabava trocando as tampas e pintando errado. Agora na faculdade nós temos que analisar muitos mapas e as vezes me confundo com as cores, mas vou meio por dedução ou pergunto aos outros e no fim das contas consigo entender os mapas”. O daltonismo, infelizmente, é uma doença que não tem cura. Entretanto, os portadores dessa deficiência visual, em geral, conseguem conviver naturalmente com ela. Trocar uma cor por outra, cruzar alguns

sinais vermelhos, usar meias coloridas... tudo isso acaba em história. Assim, deixam a vida mais alegre e tão colorida quanto aos olhos daqueles que não são daltônicos. Aliás, os normais podem ser eles.

Verdades e mitos sobre daltônicos: - Daltônicos não podem ter CNH: Mito, pois o direito de um daltônico dirigir é um um direito garantido pela Constituição da República e pelo código de trânsito brasileiro que contém a padronização dos semáforos. - Daltônicos não conseguem ver filmes em 3D: Verdade. Há vários tipos de daltonismo, entretanto a maioria não consegue ver em 3D, isso porque o efeito 3D é causado por desvio nas cores padrão e nós não conseguimos perceber. Faça o teste, e veja se você é ou não daltonico: http://www.ibrau.com.br/ ishihara.htm

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A frase que inspirou esta matéria foi “Minha vida é uma colcha de retalhos. Todos da mesma cor”, do poeta e jornalista Mario Quintana. O autor também atuou como tradutor de obras como Mrs. Dalloway, de Virgínia Woolf, e da série Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust. Quintana nasceu em Alegrete (RS) em 30 de julho de 1906, e faleceu em Porto Alegre no dia 05 de maio de 1994.

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Renaude Hatsedakis (Estados Unidos) @RoyaltyFree

Esporte

e n i c n Fra

quedas

que provocam

ascensões maiores Matéria: Evane Cecilio A porta da aeronave abre. A uma distância considerável do solo, a sensação é única. Só quem já saltou de paraquedas sabe como é essa experiência. O paraquedista Marcos Alexandre Bronoski começou por uma promessa e depois disso virou um vício. “Eu comecei a saltar de paraquedas por causa de uma promessa que eu fiz a minha filha. Aos 14 anos ela queria fazer um salto solo. Na época prometi que ela saltaria. Até nem lembrava mais da promessa. Aí quando ela completou 15 anos ela me cobrou. Acabei fazendo o curso também para verificar a segurança do esporte”. Para Marcos, o paraquedismo é hoje um esporte que vai além de um desafio pessoal. É mais do que isso. O prazer de saltar também está na oportunidade de ter um tipo especial de convivência com a natureza. É um esporte com adrenalina elevada, mas é ao mesmo tempo uma forma de contemplação. Tanto durante a queda livre quanto com o paraquedas aberto, se tem uma visão ampla do lugar

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Marco

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Fotos: A

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sobre o q de pro ual se salta porcion e não de ar diferen te do m uma perspe ixa quando ctiva u n tin d o da vi O salt d d uplo”. ha 14 anos o a . pode s vidualm fez o s Não h er f e a Além da ida á idade m á lto anos d nte a par eito inditir do de mín xim a. e idad A prim l i m i t s ações i e ção do eira v ligada ma, existem s pais com a auto 15 c a r s d ez a í a capa g rizaaca. O e após de exa e n te nun cidade aluno, mes d u d m a a i d i s e saúd ca esq ade nde de pa e. Um érie ra uece t ar um , é obrigado pendente curso de apr quedismo é a O a a t p e p r s r e oxima t i s a m a c endo ompo eiro s boa sa da por M superv alto r úde do comprovan arcos ision ad mente 30 s sto p ealiza e d s o s e sua fi o e u a f t os. Só o ambém raqued l do t c i o o e s r m l a h ç a ent ão 2 ã ist a po o 0 F p p . 0 o rancin ratican de inte O 3 em o pa“ de se t ou ter S e a t P r l e t o f s amos j erir. O nt a Gr orn ar do esp a ter ent s untos ossa. atlet a c o individ utorização o r r . e t N e e 5 ó f 0 e 90 devem s oi fant pa ua Os loc ást O meu sempre nos pode v is. O númer ra saltos a i s p a quilos. d i ariar d i ve r t i m i o de s n s p t a r ra a p raqued u t o altos ‘ e acor s os r senvol e você sempr rática ismo do com tura do e falav . toriza quiser d d o e v a o e d a s m d a: luno. o epassar s Com “exist s. Marcos e ser auinhos c aber por q p o par a autorizaçã a u e x ant am raque e plica aq o que que ha toda um a realme das’ e ai voc , salte de saltar uedista trei em mãos, b l i e l i g t i a s ê n so laç na t an to a ae vôo. D te a liberd v ai sentir autoriz zinho em qua do pode ron ave to a área q ão ad ep ado d lquer l u . d a O e n v p e ter a iloto t o cada v ois se torn e de um ug leiro, s u a t a m e o em a i território b ar z bé riz da apó umví nt t ar sem m aior. Voc ra instrut s habi ação, conse m ê quer cio or. Com erferência d sip l g r m i t e u a e i m ç n ão e to d ai e sa o salto o expl “até o ica Ma um de par s. Na realid lt isso qu e paraque m lançaa a rcos, q de, d menos rigésimo sal u e i s e t existe das pa , o ins to, ma onde m esse as. Por ra mim trutor is ou estar j j á s cent éo un zações existem es Após i to com o alu brigado a sas au ros prévia sso ele no no s torir s e um ealme é atlet alto. nte ad c Abaixo o n a t ” e r . ole quado de 1 há res ”. trições 5 anos de i d . ser e ade Somen xe t saltos cut ados os e podem du c acomp plos, que sã ham ados anhado o os s alto s atlet a. “Minh de instrutor s a filha , Fran ou cine,

por r e b sa am, r t e n s a i c e^ qu rinhos c o v Se ssa a p das e s u o q que de para salte

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Crônica rq Foto: A ssoal uivo Pe

Nota de falecimen to

da minha TV Colaboração: Adrian Lincoln

tes teressan in e t n a t s ba s são ba a n ão é só tra r ia c lsa vid s te zei dois a. por que a ar, precisamo es li a e r z a ve e estud s m aior ncia únic primeir experiê ensação lhar as experiência lo a e p m enos, , u o i fi o desa ela s , pelo m lgum os. F u t a a m r q u a a p o é e s m t t m a te ss on s, n ea. A u co de altur cer Primeiro ão, porque ac no do que es r para os filho . O começo a h in t u a r ta ee Ven superaç o entra der con le a pen ámedo qu ho um pouco. foi de uito de o alun ão salt ar. po migos, isso v a ss n e e e t c d e u u n it e ar é ce m a alt hoje nto n tos, a d d e u t m s e o lo ie u u il m q c a te do re no stá ssib arei par pa- trabalha r t ante, faz par avião e esse ob e me po . p e l r a p g e le po um ito pre al” l, m as Ent ão e contecesse. A algo mu scimento pesso rio, é im to profission a o fi d e a m en sua ó para cre isso n ão a vencer esse tou um crescim s ao m undo s ealarcos e M m o é b m r Tal co o viemo amos r ério t am ão. ração pa a”. du- n ã r isso. Precis a algum a son Silv t ç r é a lu e s d a n a n e n m s A li ze na r foi u lha, essa de adre . Nos pri- fa te nos dedica os de praentou o pelo O pico n n e e r e v experim bendo do curs m u li q .” ade a alqueda sa cur t as, a ativid imento t ambém r t u “Fiquei ue já praticav a on- rante a ltos elas são o a c n e h li v n a a q o s n , ti Marcos o e ent ão sen trás meiros o ápice de adre as a zer e e c a p , m i o m t u e f r, n t o a o t n ã e por gum as n ente m alto fazer. M por tulativ am e r tudo do r é t ade de scola, tive a o e v e i d u q utra ia a c e ‘o n so de um a r o cur oi um experiê araquedist a a e z a f e p a d n sen.F lev a o nidade roporcio rapuav a p a a u o v osG e a ’ it m e il e quem g lidad a a possib e r r mesmo a e P u . q e Meu reve únicas níveis d sações curso b uedist a-aluno. lev ados e ls a e ir ic t q a d n a s a r s e r t a de s ser pa alto foi com e superar est á ai a e n á a s J n o . li sa altura, adren a primeir t a Gros medo de ade. Marcos em Pon o e lá t n la e o m c unid riêna opor t as expe s um a bo s E “ : dica deixa a

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A frase “Há quedas que provocam ascensões maiores”, que inspirou esta matéria, é atribuída ao poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616). A frase está em um das mais famosas obras do autor, Hamlet, uma tragédia escrita entre 1599 e 1601.

Nota de falecimento: Deixou-nos ao meio-dia desta terça-feira, dia 27 de outubro, a TV da sala. Tinha doze anos, viúva da nossa antena antiga, sem filhos, doadora de órgãos, faleceu de causas naturais. Com ela passamos muitos momentos juntos. Lembro-me do dia que chegou e rapidamente ocupou seu lugar fixo na sala, sendo mais um membro da família, mais uma voz nas decisões. Mostrava-nos os preços mais baratos, aconselhava sobre alimentação saudável, e pedia com gentileza que levássemos ou não o guarda-chuva caso fôssemos sair. Quantas vezes, na hora do jornal, papai sozinho tinha longas discussões com ela, sempre fazendo as pazes depois, quando ela sorrindo mostrava o time do coração dele ganhando. Também sempre era ela que ajudava mamãe ensinando das suas receitas milagrosas para um jantar diferente para nos distrair os gostos. Ela era tão querida que, quando percebia desavenças entre os

irmãos, logo arranjava os capítulos finais da novela para juntar a família toda na sala. E muitas vezes ainda ela nos colocava para dormir, contando alguma história fantástica e então se desligando sozinha para que a luz que brilhasse mais fosse a luz própria dos nossos sonhos. Vez ou outra ela brincava de sair do ar como quem brinca de fazer falta, mas logo voltava e voltava com tanta saudade que se mostrava por completa, até mesmo ficava nua. Éramos íntimos. Foi para ela e somente para ela que chorei e tantas vezes chorei quando o fim do filme era muito triste. Ela conhecia o que me comovia e o que me enchia a boca de sorriso e conhecia estas coisas de todos nós. Sempre soubemos no fundo que era ela quem nos assistia. Pela manhã, sabendo que a manhã é a infância do dia, ela nos mostrava desenhos e divertia os olhos de criança que ainda todos carregamos. À tarde, entretia toda

a gente com alguma série longa ou uma brincadeira jovem e cheia de vida. À noite, trazia temas adultos, e na alta madrugada passava os filmes que nunca queríamos que acabassem. Ao meio-dia, era a vez do jornal em que passavam as tristezas faladas, os acidentes de carro e as notas de falecimento. E a nota dela própria, coitada, ela não conseguiu mostrar, mas nós vimos ao vivo ela morta, indo para o paraíso das televisões e lá, com certeza, ela irá se encontrar com a nossa velha antena por quem era apaixonada e conversarão eternamente e para sempre o diálogo das imagens. Pena que o céu não passe em nenhum canal. Descanse em paz, Philips Smart. Adrian Lincoln, seu fiel telespectador.

* Professor e mestrando em Linguagem, Identidade e Subjetividade pela UEPG

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Foto: Luiz Fernando Pereira

cotidiano

Há mais de um século exescravos e seus descendentes lutam para reaverem suas terras herdadas legalmente

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SE

muitos

“Os avós dos meus pais foram escravos né, eu não conhecia, mas a finada minha patroa conheceu uma veinha aleijada da orelha né, porque eles pregavam a orelha e gritavam pra veia ir buscar fogo”. A pele de Domingos Gonçalves dos Santos é tão escura quanto o céu ao cair da madrugada e seus olhos baixos que já pouco enxergam têm um toque de estrela que brilha escondida num barranco à beira de estrada. A casa feita de vigas de madeira e lonas escuras está localizada na estrada de acesso à cidade de Reserva do Iguaçu, no Paraná. Postada sobre um barranco de terra, a casa de Seu Domingos é a referência de uma sequência de outras quinze casas enfileiradas, os chamados ‘barracos’. Com 80 anos, o contador de uma história esquecida, é o descendente de escravo mais antigo da Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telhas e não passa seus dias e noites num barraco frio à toa: a Comunidade luta pela posse das terras que foram entregues a 11 escravos ainda no século XIX e está, atualmente, sob posse da Cooperativa Central Agrária, uma das maiores exportadoras de malte do país.

O processo de escravidão brasileiro teve início em meados do século XVI com a inserção efetiva da mão de obra africana primeiramente na produção de cana-de-açucar no Nordeste. Embarcados nos porões dos navios negreiros, os africanos foram trazidos aos milhares a um país alheio às suas origens como objetos de trabalho braçal para garantir a ascensão de uma sociedade pautada por valores de cunho econômicos e culturalmente racista. Entre os séculos XVI e XVII o tráfico de escravos tornou-se a principal forma de produção da empresa colonial portuguesa instalada no Brasil. “Nego da perna fina valia um tanto de dinheiro e o da perna grossa valia outro tanto, era classificados os negros”, elucida Seu Domingos. Na Fazenda do Capão Grande, atualmente pertencente ao município de Reserva do Iguaçu, as relações de trabalho também estiveram atreladas ao uso de escravos, no entanto os relatos apontam que essas relações eram um tanto diferentes. Estudos desenvolvidos por pesquisadores da Universidade Estadual do Centro-Oeste explicitam que os escravos mantinham relações quase familiares com os donos da terra.

As famílias de escravos mantinham suas casas e pequenas plantações nos quase 3,6 mil alqueires pertencentes à fazendeira Dona Balbina Francisca de Siqueira. Os limites do território eram demarcados por muros de pedras onde cada família plantava, colhia e desenvolvia as atividades essenciais à vida na terra.

Os donos da terra No ano de 1865 a abertura do testamento de Dona Balbina deixou claras as estreitas relações que mantinha, juntamente a seu já falecido marido, com os escravos de suas terras. O referente testamento dava posse total da fazenda aos onze escravos que ali residiam juntamente às suas famílias. Na recuperação do documento anos mais tarde foi possível identificar a veracidade da história contada pelos descendentes desses ex-escravos. “Declaro, que a invernada denominada Paiol de Telha, que possuo na Fazenda do Capão Grande, e que principia desde o portão até o rio da reserva com as terras de cultura nella existentes, ficão pertencendo por meu falecimento a todos os escravos acima mencionados, e a suas famílias, para nella morarem sem nunca poderem dispor, visto como fica como patrimônio dos mesmos”.

Da terra em que os escravos livrariam os pés das correntes da escravidão não puderam plantar nem um grão. “Já na época que eles receberam – a terra – eles foram expropriados. Eles não chegaram a ocupar e nem a ver a cor dessa terra, eles sabiam que as divisas eram maiores, mas não puderam usar porque o sobrinho dessa fazendeira já tinha ficado com uma parte na hora de entregar a eles”, aponta José Vandresen, pesquisador do Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades. Uma segunda desapropriação ocorre em 1967 quando os herdeiros buscavam regularizar a área que ainda lhes restavam. Ex-escravos, libertos e analfabetos. Se no século que mal terminara negros eram tidos como objetos de dominação, não seria diferente o tratamento recebido diante da busca pelos direitos perdidos. Ludibriados por pessoas que se dispuseram a ajudá-los no processo burocrático de legitimação da terra, os negros herdeiros se viram, novamente, sem as terras. Um documento do dia 17 de agosto de 1967 mostra que os direitos das terras restantes foram transferidos para Alvy Baptista Vitorassi e João Pinto Ribeiro. Fato intrigante é a procuradora dos negros herdeiros ser esposa de João Pinto Ribeiro.

VE

os

Matéria: Keissy Carvelli

A história esquecida

RI NOS

Foto: Luiz Fernando Pereira

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Percebendo os direitos das terras perdidos, os herdeiros iniciaram protestos diante das incoerências do processo de legitimação da posse, todavia os indivíduos foram coagidos fisicamente, além de obrigados a assinar a escritura de sessões dos últimos direitos de herança. Os direitos da terra aparecem, mais tarde, como de Oscar Pacheco, delegado que promoveu a intervenção aos protestos dos herdeiros. Foram os tempestuosos anos 70 que trouxeram a resistência dos já descendentes dos escravos herdeiros. “Eu tive que sair daqui quando Pacheco e tudo entraram e tomaram aqui. Minha casa queimaram, com arroz, porco, tudo. Não sobrou nada, só as cinzas, né? Daí vai fazer o que, vai embora”, conta Seu Domingos. A última expropriação ocorreu entre os anos de 1973 e 1975 quando numa tramitação documental - com as mesmas caracte-

“Nego da perna fina valia um tanto de dinheiro e o da perna grossa valia outro tanto, era classificados os negros”

rísticas duvidosas das expropriações anteriores - a Cooperativa Central Agrária consegue, finalmente, a posse total das terras.

A resistência quilombola Da terra, das plantações e dos escravos libertos sobraram os descendentes herdeiros e resistentes. Para o mestre em História Econômica Fernando Franco Netto, a questão quilombola da Reserva do Iguaçu não é apenas “um processo de compra e venda que os pais e os avós um dia não quiseram mais a terra. É um processo histórico de apropriação e de oportunidades que eles não tinham, ou nunca poderiam perceber que tinham, e alguém chegou num período e propôs uma situação que aparentemente poderia ser melhor. Naquele momento até poderia, mas que tudo isso com o decorrer do tempo e

com as heranças foi sendo levantado, foi sendo rediscutido”. O pesquisador ainda denota para o valor simbólico das terras: “é um papel político, um papel de luta, um papel de percepção de que ali estava a liberdade”. A partir do levantamento de documentos por pesquisadores da Igreja, como Dionísio Vandresen, membro da Coordenação Colegiada do Centro Missionário de Apoio ao Campesinato, a comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telha iniciou uma mobilização que culminaria no acampamento à beira da estrada que resiste ainda hoje. A luta pelos direitos usurpados tornou-se física. “Naquela época tinha uns 30 pistoleiros do outro lado do barranco”, afirma Seu Domingos. Segundo Dionísio a Cooperativa Agrária reivindicava pelos mesmos direitos dos negros de permanecerem à beira da estrada alegando que

“É um papel político, um papel de luta, um papel de percepção de que ali estava a liberdade”

defenderiam às entradas do território. “Como as terras à beira de uma estrada são do estado, a Agrária dizia que se os negros estavam ali, eles também podiam acampar ali. E aí colocaram os pistoleiros para, segundo eles, cuidarem das entradas”. A realidade dos negros herdeiros não se distanciou essencialmente dos tormentos vivenciados pelos ex-escravos. Sem poder fazer uso das terras como culturalmente lhes eram característicos, os descendentes viram-se à beira da estrada destinados aos desatinos da vida dentro de um barranco. “Aqui na beira da estrada é muito triste, aqui você come poeira, é maltratado. Muita gente chama a gente de vagabundo, sabe como anda a ignorância hoje em dia, né? Mas nós não somos vagabundos, nós só estamos lutando pelo direito que é nosso”, enfatiza Antônio dos Santos, acampado da comunidade.

O tempo dos séculos A luta pelas terras herdadas foi travada no início do século XIX, percorrendo inúmeros caminhos burocráticos e de resistência, todavia, no início da se-

gunda década do século XXI, os barracos de Seu Domingos, Seu Antônio, dona Maria Sebastiana e dezenas de outros Silvas e Santos ainda permanecem à beira da estrada à espera dos direitos outrora ludibriados. O processo que atualmente está em andamento e sendo acompanhado pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) está parcialmente concluído. “Nós já vencemos a etapa do estudo técnico que é o chamado RTID, que é o Relatório Técnico de Identificação e Definição do Território, onde é composto basicamente por seis peças técnicas das quais a principal delas, que dá base a todo levantamento, é o Relatório Antropológico”, informa Cláudio Luiz Guimarães, Engenheiro Agrônomo do Instituto. Pelo laudo antropológico as terras são, de fato, dos descendentes quilombolas, muito embora, segundo Guimarães, os proprietários atuais das terras alegam nas contestações que a lei que prevê os territórios aos quilombolas é inconstitucional.

Nada de novo aos Silvas

Inserido na luta pelas terras há mais de 50 anos e instalado à beira da estrada há quase dez, Seu Domingos é a reflexão das políticas públicas falhas de um Brasil que nem sequer superou os problemas coloniais. “Pra mim, compensa ficar aqui. Porque é desaforo o que eles fizeram com a gente, com os negros todos que sofreram”. Tecnicamente, segundo Guimarães, a Comunidade Invernada Paiol de Telha já venceu 50% das etapas do processo de regularização do processo de legitimação das terras. “Passada essa etapa de contestação dos proprietários, partimos então para a avaliação dos imóveis para a posterior desapropriação”. Uma luta que levou mais de 50 anos para ser reconhecida enquanto parte da história de formação social brasileira, terá de atravessar quantos séculos a mais para que tenha seus direitos reconhecidos e viabilizados? Do discurso contundente de Seu Antônio a pergunta: “Diz que o Brasil é o país da civilização, mas eu queria saber onde é que tá essa civilização? Cadê a civilização?”

Foto: Luiz Fernando Pereira

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cotidiano

Somos MUITOS

Não é o trabalho e sim o propósito que o torna

severinos

especial

Matéria: Andréa Alves

Iguais em

TUDO

e na sina:

A de abrandar estas

pedras Suando-se muito

em cima;

A de tentar despertar a

TERRA

sempre mais extinta João Cabral de Melo Neto

Trecho de Morte e vida Severina Francisco Navarro (México) @RoyaltyFree

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LIXEIRO

GARI CATADOR Poucas vagas de trabalho e raras oportunidades; falta de estudo e, consequentemente, de especialização; idade avançada, entre outros quesitos, levam boa parte da população mais pobre das cidades optar pelas profissões ditas “estigmatizadas”. Vistas com maus olhos. Entre estas profissões estão a de lixeiro, gari e de catador de papelão. O lixo destaca-se como um dos campos de trabalho das camadas mais carentes. O que é lixo para uns, para outros é sobrevivência. Muitos moradores das periferias de Guarapuava tem como principal fonte de ren-

Profissões

estigmatizadas,

mas que são tão

importantes quanto qualquer outra

da a catação. São moradores de bairros como Xarquinho; Jardim das Américas; Paz e Bem; Mansueto; Vilas Concórdia; o vulgo ‘Iraque’, no Tancredo Neves; ou a ‘Toca da Onça’, no Morro Alto; ou ainda de áreas entendidas como “invadidas”, como os terrenos alagadiços próximos ao Colégio Caic, na Vila Bela. É visível o aumento do número dessas pessoas transitando com suas gaiotas, muitas vezes reaproveitadas de material de sucata. Orivaldo dos Santos Lima cumpre quase 16 horas diárias de trabalho em sua carroça. Tendo como companhia o “Véio”, nome

carinhoso que deu ao seu cavalo. Sai às seis da manhã do bairro Paz e Bem e retorna apenas às dez da noite. “Ali por onze, meio-dia, completo a carga e vou para casa. Descarrego e deixo a minha mulher classificando. Só almoço e viro de volta. Depois só retorno perto das dez da noite para jantar e descansar”. Com a carroça, o profissional da catação consegue carregar o dobro, assim, o retorno financeiro também é mais satisfatório. A cada 15 dias ele vende o que estocou e tira em torno de R$ 600. Segundo ele, com a gaiota conseguiria apenas a metade deste

valor. “Paguei pela carroça com de lona, e assim foi indo. Hoje orgulho da minha profissão. E grao cavalo R$ 1,1 mil. A gaiota que tenho uma casinha de material ças a Deus nunca me faltou nada tenho lá em casa custou R$ 350. toda murada. Tem muito suor e nunca vai faltar, porque sempre Tudo dinheiro do reciclado”. naqueles tijolos assentados pelas batalhei desde cedo até a noite. Ele percorre vários bairros minhas próprias mãos”. Só não trabalho no domingo”. da cidade, como o Batel, Vila Orivaldo teve quatro filhos, Ele explica que estudou até Carli, Bairro dos Estados, Vila mas um acidente há dois anos a segunda série, porque anBela e Centro. “Aonde eu encon- tirou a vida da filha de 12 anos. tes os pais não se importavam trar papel vou catando. Pego um Um menino que nasceu oito me- muito, “eles queriam apenas pouquinho aqui, pra frente que os filhos trabalhassem mais um pouco”. ‘na foice’, ‘na enxada’”. Orivaldo, hoje com 43 Mas, analisa que hoje tudo anos de idade, tem mais mudou. “Quero que meus O lixo destacada metade da sua vida defilhos estudem para não dicada à catação. Ele lemprecisarem enfrentar a se como um dos bra que quando chegou em rua de cedo à noite”. Guarapuava com 22 anos, A falta de estudo tamcampos de trabalho bém foi o quesito que levou vindo da cidade vizinha de Pinhão, morou no terreno Valdir José de Campos, 36, a das camadas mais do falecido Orlando Casaoptar pela profissão de lixeigrande, vereador na époro. Ele estudou até a quinta carentes. O que ca, e foi lá que começou a série. Diz que apesar de se dedicar-se à reciclagem. arrepender de não ter estué lixo para uns, Conta com orgulho que dado mais, tem orgulho da criou seus filhos e construiu profissão. “Apesar de saber para outros é sua casa batendo de casa dar o certo valor à minha em casa, pedindo papelão profissão, quero que meu sobrevivência e outros materiais reaprofilho, que hoje tem apenas veitáveis. “Quando cheguei um mês de vida, não preciaqui morava em um barrase enfrentar chuva, calor, quinho de lona. Ganhava peda- ses depois morreu com três dias frio, vento e também cara feia e ços de madeira e fui emendando de vida. “Fiquei apenas com um xingamento de muitos que não e rodeando a casinha. Para a menino de 11 e uma menina de 18 nos respeitam. Passam perto do cobertura fui arrumando telha anos, que vai me dar um netinho caminhão e tapam o nariz. Mas de barro e ajeitando. Era um em breve. Todos criados com o são eles mesmos que fazem o lixo, pedaço coberto de telha e outro papel reciclado. É por isso que me apenas estamos coletando”.

Orivaldo dos Santos Lima

Foto: Andréa Alves

Ivan Prole (Sérvia) @RoyaltyFree

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Foto: Andréa Alves

A profissão também ofereporque a corda sempre arrebenta ce alguns ricos ao trabalhador, do lado mais fraco”, conta Valdir, como contaminações, cortes, que completa neste mês de junho mordidas de cachorro, aciden16 anos de profissão. tes. Valdir puxa a calça e mostra a cicatriz na perna que ganhou Varrendo há três anos coletando na Vila aqui e ali Continental. “Pensei que não ia ponto e deixei, mas infeccionou Outra profissão mal vista é e fiquei uma semana internado a do gari. Quem nunca ouviu as e um mês de atestado. Quase frases: “Até para varrer rua tem perdi a minha perna”. que prestar concurso público” ou Ele cumpre uma rota de mais “Se não estudar, quando crescer ou menos 50 quilômetros por dia vai varrer rua!”. Zelir Antônia de sobe e desce da Rocha, que do caminhão do enfrentou um lixo. Sempre em concurso público “Quero que pique acelerado há sete anos, conpara dar conta de meus filhos ta que também tantas ruas. “No já ouviu essas estudem sábado percorrefrases, mas assemos oito vilas”. gura que nunca para não De cesta em foi desrespeitada cesta, carreganenquanto varria precisarem do sacos, sacoaqui e ali. “Se a las, caixas, já enfrentar a gente cuida do teve que ouvir e serviço direitirua de cedo ‘engolir’ a palanho, não tem por vra “vagabundo” que nos descrià noite” algumas vêzes. minarem”. Neste “‘Oh, vagabuncontexto, podedo, pega aí!’”. mos emprestar a E ainda tem que ouvir quietinho frase do escritor William Young: para não causar nenhum proble“Não é o trabalho, e sim o proma e arriscar perder o emprego, pósito que o torna especial”.

Zelir tem 49 anos, mora na acostumou com a vassoura. “Hoje Vila Concórdia I, é mãe de dois só tenho um”, diz sorridente. O filhos casados, avó de um bebê abaixa e levanta também causa de quatro meses e está se prepa- dores lombares. “Com a dor nas rando para a chegada do outro costas a gente acostuma”. neto em breve: “Minha menina A profissional é responsável está grávida de oito meses”. pela conservação da rua SaldaAntes de cuidar da limpeza nha Marinho, da avenida Moacir das ruas de Guarapuava traba- Julio Silvestre subindo até a igrelhou por vários ja ucraniana. Um anos como dolongo percurso. Agora tenho Zelir desce varméstica e cozinheira, e por dois rendo de um lado o salarinho anos catou mae sobe varrendo terial reciclável. do outro. “Ontem certo, seja “Agora tenho o varri da Casa salarinho certo, Modelo até a pouco ou seja pouco ou igreja ucraniana. bastante, mas é Hoje já fiz até a bastante, garantido”. avenida pela maZelir sempre nhã e agora até mas é carrega uma blua casa Favorita. sa para enfrentar Depois de pegar garantido o clima guarapuaprática vai rápivano. “Vento frio do”. pela manhã e duA gari concerante a tarde calor”. Ela começa deu a entrevista no final da tara labuta às sete da manhã e segue de enquanto varria a rua Guaíra. até as onze, quando faz uma pausa “Terminei meio cedo a Saldanha para o almoço. Às 13h retorna e e vim ajudar as colegas que essegue até as cinco da tarde. A gari tão atrasadas no trecho”, justificonta que no começo ficava com cou, mostrando o companheirisvários calos na mão, mas agora mo da classe.

Zelir Antônia da Rocha

Valdir José de Campos

Ágora

A frase “Não é o trabalho e sim o propósito que o torna especial” foi retirada do livro A Cabana, do escritor canadense William P. Young. O livro foi lançado originalmente em 2007, ganhando uma versão em português em 2008. Até agora, a vendagem ultrapassou a marca dos 12 milhões de cópias.

Foto: Andréa Alves

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Neuróticos anônimos

O Ágora é produzido em um laboratório muito especial, um laboratório de jornalismo, onde experiências de todos os tipos são realizadas. Ali, os alunos adicionam às suas inquietações, o fazer jornalístico e a vontade de mexer um pouco com esse mundo. Acrescentam ainda suas próprias personalidades para gerar, na combustão de elementos, um veículo de comunicação com identidade, onde forma e conteúdo são uma coisa só: jornalismo.

A gente foge da solidão quando tem medo dos próprios pensamentos

Essa é a fórmula do Ágora . Não é uma regra, é uma maneira de pensar em que as estruturas se movem, são dinâmicas. Vamos do laboratório para as ruas e para as suas mãos, deixando a juventude acadêmica para entrar no amadurecimento profissional. Somos jovens falando de coisa séria para outros jovens. É informação para entender o mundo. É jornalismo para mover uma geração.

ágora ideias jornalísticas. Guarapuava - jul-ago/11 - Ed 4 . Ano 07

Ma tér ia: Eli ane Paz uc h

p.

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Ágora

Medo, irritação, insegurança, depressão, ciúme, solidão. Quem nunca teve algum desses sentimentos, ou tantos outros que fazem parte da vida das pessoas? Há quem tenha medo de altura, de ficar sozinho ou de locais com grande concentração de pessoas. Ou então, a insegurança muitas vezes cruza o nosso dia-a-dia naquela entrevista de trabalho, quando estamos ao volante... Quando amamos alguém, aprendemos o que é ter ciúmes, ter apego. São sentimentos comuns, de fato, mas você sabia que eles podem sair do controle a ponto de se transformar em uma neurose? De acordo com a psicóloga Elaine Secchi Biancardi, neurose são todos os transtornos mentais que não implicam em perda do contato com a realidade. Existem vários indicativos de transtornos, como os emocionais, os pós-traumáticos, os transtornos de humor, os pânicos e as fobias. A depressão e a própria euforia são exemplos que a cada dia atingem mais pessoas. Normalmente, as emoções, as relações pessoais, a convivência no trabalho, na vida em sociedade devem estar equilibradas entre si. Esse equilíbrio reduz a possibilidade de neuroses. Contudo, sentimentos como o medo, o ciúme e a solidão fazem parte da vida de

2 . An o 07

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revista

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eu sei quando parar

Guara puava - mai/2 011 Ed

diários de bicicleta

Ágora

revista

Ágora

va apua Guar

revista

2011

Ed 5

. Ano

07

a r o g Á

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{ jornal } { revista } { online }

www.unicentro.br/agora

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Valber Cortez (Brasil) @RoyaltyFree

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todas as pessoas em algum momento. Nem por isso podem ser consideradas como neuróticas. Segundo Elaine, os transtornos e neuroses aparecem quando não conseguimos mais controlar esses sentimentos. Cada transtorno possui características próprias. A psicóloga que também trabalha na área de psiquiatria, explica que a depressão, por exemplo, deixa a pessoa apática, sem ânimo, sem motivação e, caso não seja tratada, a doença pode prejudicá-la profundamente. A dona de casa, Maria* teve depressão depois que perdeu seu filho de apenas seis anos de idade em um acidente por afogamento. Ela se sentiu culpada pela morte do filho, pois não conseguiu prestar socorro a tempo de salvar a vida do menino. Maria desenvolveu depressão pós-traumática e está em tratamento há mais de cinco anos. Segundo ela, “não é fácil seguir a vida quando nos sentimos culpados por algo tão sério”. Apesar do apoio da família, Maria não consegue se recuperar e levar uma vida normal. Porém, não só eventos graves podem desencadear transtornos nas pessoas como foi o caso de Maria. De acordo com a psicóloga, entre os transtornos de ansiedade está o chamado TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), que é mais comum do que imaginamos. São ‘manias’ adotadas no dia-a-dia e que muitas vezes acabam atrapalhando a vida. A adolescente Isabela* reconhece que possui TOC. “Quando esbarro minha mão ou meu braço em alguma coisa, preciso fazer a

mesma coisa com a outra mão ou com o outro braço. Parece que se eu não fizer isso algo ruim vai acontecer”. A estudante Carla* também possui manias que muitas vezes atrapalham e até oferecem perigo, como conferir o dinheiro na carteira antes de entrar e m

“Tenho que dar duas voltas na chave para me sentir segura e se não fizer isso não consigo dormir” qualquer lugar para fazer compras. “Eu sei que o dinheiro está lá, mas tenho que conferir e ter certeza antes de comprar qualquer coisa”. Carla também precisa conferir se a porta de seu apartamento está trancada pelo menos algumas vezes antes de ir dormir. “Tenho que dar duas voltas na chave para me sentir

segura e se não fizer isso não consigo dormir”. Muitas dessas situações são mais comuns do que imaginamos, porém, a psicóloga Elaine diz que quando essas ‘manias’ passam a ocupar o tempo das pessoas ou determinar suas atitudes, pode se transformar em uma neurose.

Como tratar uma neurose? Baseado nos princípios do A/A (Alcoólicos Anônimos), o N/A (Neuróticos Anônimos) foi criado como um programa de recuperação para pessoas com problemas mentais e emocionais. Hoje, no Brasil, são cerca de 380 grupos anônimos. Márcia* é uma neurótica em recuperação e hoje está à frente do grupo de N/A em Guarapuava. De acordo com ela, o grupo de ajuda mútua é uma irmandade formada de homens e mulheres que compartilham suas experiências. Segundo Márcia, às vezes a pessoa não sabe que está doente ou que possui uma doença emocional. Ela acha que é passageiro, mas em muitos casos a doença acaba progredindo. Para participar do grupo N/A basta querer, afirma Márcia, e ainda, é preciso aceitar ajuda. As reuniões são pautadas em um material de apoio embasado em doze passos que levam o indivíduo à recuperação; doze tradições que orientam os grupos e garantem sua unidade e o anonimato individual; sete lemas que norteiam o dia a dia dos participantes e três

Fotos: Eliane Pazuch

O N/A é uma irmandade formada de homens e mulheres que compartilham suas experiências

Legados, que assumidos garantem a continuidade dos Anônimos e a estabilidade de cada membro. O grupo funciona no anonimato, pois, de acordo com Márcia, se baseia na atração de seus membros e não por meio da promoção. “O anonimato pessoal é mantido principalmente na imprensa, rádio, TV e jornais. Dessa forma, não há registro dos membros até para respeitá-los, pois muitas pessoas acabam sentido vergonha em admitir que é

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um neurótico”. Para “Neuróticos Anônimos”, neurótica é qualquer pessoa cujas emoções interferem em seu comportamento, de qualquer forma e em qualquer grau, segundo ela mesma o reconheça. Márcia ainda ressalta que no grupo as pessoas são apenas ouvidas, não há julgamentos. O objetivo é o alcance da serenidade. Ao final de cada partilha, o anônimo se propõe mais 24 horas de serenidade. Conforme a tradição, quem participa do grupo recebe uma ficha verde que lembra uma

antiga ficha telefônica, sendo que, sempre que precisar, o anônimo pode ligar para alguém do grupo e desabafar. *Os nomes dos entrevistados são fictícios para preservar a identidade das fontes. Para quem desejar ajuda, o grupo de N/A se reúne todas as segundas-feiras, às 20h, no subsolo da Paróquia Santa Cruz, no Bairro Santa Cruz, em Guarapuava.

A frase “A gente foge da solidão quando tem medo dos próprios pensamentos”, que serviu de inspiração para essa matéria, tem a autoria atribuída ao escritor brasileiro Érico Veríssimo. O autor, um dos mais populares no Brasil no século XX, nasceu em Cruz Alta, Rio Grande do Sul, em 17 de dezembro de 1905, e faleceu em Porto Alegre, capital gaúcha, em 28 de novembro de 1975.

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s 5 o 2 c p. i t s ó o r u im e N nôn A

Ágora na

contra capa


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