Jornal Ágora 2011 - Edição 08

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s e m i s r i C bienta am Guarapuava - 2011 - Ed. 08 - Ano 01.

Ă gora


Ágora

editorial Ágora: a prática do jornalismo criativo Por Morgana Nunes e Monique Paludo

Filmes, séries de TV, músicas, livros, slogans e, nessa edição, ditados, expressões populares e frases famosas. Essas frases foram capazes de incitar a criatividade e nos fazer praticar o jornalismo. Ao final desse ano de estudo e experimentação no Ágora foi perceptível que para fazer jornalismo não é preciso ‘morder cachorros’, mas olhar para o mundo como um lugar vasto de histórias, assuntos e personagens. O término desse ciclo é o prelúdio do início de outros: para o Ágora, a efervescência gerada nas inquietudes, ideias e personalidades dos alunos que ainda estão na ânsia de experimentá-lo; para nós, o desassossego do porvir, na eminência de adentrar o mercado de trabalho, ávidos para colocar em prática todo o conhecimento angariado nesses anos de estudo. Assim, entregamos o último jornal de 2011, como um convite para conversamos de novo ano que vem.

Reitor Prof. Vitor Hugo Zanette

Editora-Chefe da Edição 06 Morgana Nunes e Monique Paludo

Tiragem: 500 exemplares Impressão: Gráfica Unicentro

Vice-Reitor Prof. Aldo Nelson Bona

Assistente de Redação e Revisora Leandro Povinelli e Patrícia Tagliaferro

Contato: (42) 3621-1325 e (42) 3621-1088

Diretor do Campus Santa Cruz Prof. Osmar Ambrósio de Souza

Direção de Arte e Finalização Anderson Costa

Vice-direção de Campus Prof. Darlan Faccin Weide

Diagramação Redação e Anderson Costa

Download das edições www.redesuldenoticias.com.br e www.unicentro.br/agora

Ágora

Fim de ano, fim de uma etapa. Da expectativa inicial, nutrida durante os anos que antecederam a nossa entrada ao jornal laboratório, chegamos ao fim dessa jornada. Contrariando regras que burocratizam uma reunião de pauta, mas firmados nos alicerces da ética e com o objetivo de cumprir com a prática social que é o jornalismo – aquele da paixão insaciável descrito por Garcia Marquez – experimentamos (n)o Ágora. Usufruímos do experimentalismo permitido em um jornal laboratório e buscamos, desde as pautas até a finalização do jornal, abstrair as abordagens convencionais no jornalismo. Logo no início do ano, nos foi apresentado o desafio de reconhecer as pautas em espaços que eram incomuns para nós até então. Assim aprendemos que jornalismo é olhar para o mundo e que pautas podem estar em qualquer lugar.

Crimbieesntais am

Foto: Andréa Alves

negócios

Guarapuava - 2011 - Ed. 08 - Ano 01.

Guarapuava 2011 Edição 08 Ano 01

Expediente

O Jornal Ágora 2011 trás assuntos do cotidiano do cidadão de Guarapuava pensados a partir de frases. Nesta edição, as matérias têm por inspiração ditados, expressões populares e frases famosas.

Diretor do Sehla (Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes) Prof. Carlos Eduardo Schipanski Vice-diretor do Sehla Prof(a). Maria Ap. Crissi Knüppel Dpto. de Comunicação Social Coord. Prof. Edgard Melech

Ágora2011 página 02

Professor Responsável Prof. Anderson Costa

Redação: Aline Bortoluzzi, Andréa Alves, Anita Hoffmann, Camila Souza, Camila Syperreck, Carolina Teles, Catiana Calixto, Eliane Pazuch, Evane Cecilio, Jeferson Luis dos Santos, Júlio Stanczyk, Keissy Carvelli, Leandro Povinelli, Luiz Carlos Knüppel Jr., Marcos Przygocki, Mariana Rudek, Monique Paludo, Morgana Nunes, Patricia Tagliaferro.

- Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro. - O Jornal Laboratório Ágora é desenvolvido pelos acadêmicos do 4º ano de Jornalismo.

Amigos, amigos...

Pode a amizade gerar uma sociedade de sucesso?

negócios à parte

Matéria: Mariana Rudek Amigos, amigos... Elodir Klein e Renata Nizer possuem uma profissão em comum: publicitários, que trabalhavam em uma agência de publicidade em Guarapuava. Se conheceram no trabalho e ali começou uma troca de experiências que resultou em uma amizade. A visão de mercado de Elodir o fez querer novos rumos. Logo avistou em Renata uma forte aliada nos novos projetos. Com muito a fazer, abriram uma nova empresa no ramo de comunicação institucional. “Acreditamos que caminhamos muito para chegar aqui pela sincronia que víamos em nosso trabalho, além disso, tínhamos inquietações em comum - com o mercado, com nossas próprias profissões”, conta Renata. As atividades diárias são feitas de acordo com as afinidades de cada sócio. Ele atende, basicamente, as áreas criação e produção; ela, planejamento e estratégias. “A delegação de tarefas também é definida pela urgência e importância de cada projeto, ao repassarmos esses pontos, o trabalho acontece perfeitamente”, explicou Elodir. Os dois empresários confiam na amizade como um fator que contribui para o sucesso do trabalho, como explica Renata. “Sociedade é um casamento de negócios. E como toda relação, precisa de convivência, compreensão, transparência. Quando a base é sólida e os objetivos são os mesmos, a tendência é que seja um casamento duradouro”. E Elodir finaliza. “É um ciclo com princípio na confiança, e sem ela, não há amizade”.

Foto: Acervo Pessoal

Projeto de Extensão 096/2011 Conset/Sehla/G/Unicentro, 28/06/2011.

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“É um ciclo com princípio na confiança e sem ela, não há amizade”

Foto: Mariana Rudek

registro dos eventos com uma câmera filmadora na mão. “Esse mercado ainda estava Negócios à parte começando. Meu pai jogou a “Era uma tarde de verão, câmera nas minhas mãos e diseu vi o Gui no lago, com os case: ‘se vire!’”. belos ao vento... E foi ali que Dentro do estúdio, eles se tudo começou”. É assim que profissionalizaram , como o Dentinho (Joelson Oliveira primeiro congresso que partiJunior) inicia a resposta da priciparam, chamado Wendding meira pergunta da entrevista. Brasil e abriram alguns caBrincadeiras à parte, minhos. “O congresso ajuda a Guilherme Dalzoto é filho do abrir o pensamento, ver o que dono do Foto Estúdio Cipriano, está acontecendo, as novidaDentinho começou a trabades”, conta Dentinho. Os conlhar na empresa com a função gressos posteriores ajudaram de atendimento ao público. os profissionais a mostrar o tra“Nunca pensei que seria fotóbalho, fazer contatos e se langrafo, só ajudava na iluminação çar no mercado. mesmo”. Por livre e espontâFoi então que os dois coneo encaminhamento do pai, meçaram a desenvolver os Guilherme começou a fazer o

“Sociedade é um casamento de negócios” Arte: Mariana Rudek

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tembro de Só no mês de se empresas fo2011, 4913 novas raná, mas ao ram abertas no Pa 19 empresas mesmo tempo 18 dido de baixa. entraram com pe ste ano, cheDesde o início de Comercial do garam à Junta rio regional Paraná – escritó 785 pedidos de Guarapuava – empresas ou de constituição de as extinções abertura de filiais; setembro de de empresas até 6 pedidos pro2011 marcam 26 2154 pedidos tocolados e mais ratuais. de alterações cont motivos que os o Muitos sã esa a abrir levam uma empr aiores são os no Brasil. Mas m a dissolução motivos que levam de falência de de sociedades ou s. empresas brasileira ora enconÁg o , to Entretan ferentes, com trou dois casos di , mas meios um início parecido e o fim ainda diferentes (por qu querer fazer não teve). E sem ão de vida, disso aqui uma liç tram que a esses casos mos faz o trabalho amizade é o que contrário de em equipe fluir, ao te é emprecomo normalmen ertura desta gada a frase de ab matéria.

em seu ramo, cada um com seus projetos. Dentinho na fotograclientes. Hoje somos uma equifia e Guilherme na filmagem. pe em salas separadas”, relata “Precisamos ter reconhecimenDentinho. “As pessoas nos proto para poder chegar aqui”. curam porque sabem como é o Em 2010, no entanto, veio resultado do trabalho. Nossos a separação. Dentinho resolnomes viraram nossas marcas”, veu sair do estúdio fotográfico. conta Guilherme. “Fiquei um tempo parado, aí Apesar da amizade e de o medo bateu”. Mais tarde, muitas vezes trabalharem no Guilherme também deixou a mesmo evento, os dois seguem o empresa do pai. No primeiro caminho separados. E Dentinho momento, todos acreditavam assegura, “nenhum sabe quanto que, ao saírem, abririam um o outro cobra. Um indica o ounegócio só deles, com a cara tro para os clientes, um trabadeles, mas não foi exatamente lho leva a outro, mas é sempre o que aconteceu. “As coisas foo cliente quem escolhe”. ram acontecendo com cada um

Foto: Acervo Pessoal

“Amigos, amigos; negócios à parte”

O ditado popular ‘Amigos, amigos; negócios à parte’ é normalmente utilizado para aconselhar as pessoas a não envolverem seus relacionamentos pessoais com o trabalho.

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é lei

Foto: Patrícia Tagliaferro

EM BRIGA DE HOMEM E MULHER Dizia o velho ditado que ‘em briga de homem e mulher não se mete a colher’. No entanto, há cinco anos esse ditado caiu com a criação da Lei Maria da Penha, que tornou mais rigorosa as punições para agressões contra as mulheres. A Lei foi criada em nome da farmacêutica cearense Maria da Penha Maia Fernandes, que foi violentada e sofreu dois atentados de homicídio de seu marido durante os seis anos em que viveu casada. Em uma das vezes,

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SE

em 1983, Maria da Penha ficou paraplégica depois de levar um tiro nas costas. A Universidade Estadual do Centro-Oeste em conjunto com o programa da Universidade Sem Fronteiras durante três anos desenvolveu um projeto chamado Entre João e Maria: Conversando sobre a Lei Maria da Penha. A Professora Doutora em História Liliane Freitag, que era uma das coordenadoras do Projeto, afirma que esse trabalho tinha por objetivo divulgar a

METE A COLHER Matéria: Patrícia Tagliaferro

Lei por meio de palestras, cartilhas e panfletos, pois grande parte das mulheres não conheciam os seus direitos. O projeto abrangia além de Guarapuava mais sete municípios que foram escolhidos devido ao seu baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). “A gente lutava por uma política pública contra a violência à mulher para efetivar ações concretas no município que pudessem contribuir para erradicar a violência”. De acordo com a Secretaria

Foto: Patrícia Tagliaferro

de Segurança Pública, um dos prisão em flagrante ou até mespapéis da Delegacia da Mulher é mo prisões preventivas para os assegurar tranquilidade à popu- agressores. De acordo com a Lei lação feminina vítima de violên- qualquer ação que cause à mucia, através das atividades de in- lher sofrimento físico, sexual ou vestigação, prevenção e repres- psicológico, morte, lesão e dano são dos delitos praticados con- moral ou patrimonial é considetra a mulher. Segundo Alysson rada como violência doméstica. Henrique de Souza, Hoje também é posDelegado da Polícia sível que a vítima Civil de Guarapuava, peça junto ao juízo nos casos de violên- “A gente lutava criminal algumas cia doméstica, em por uma política medidas de proteção, que existe uma re- pública contra como o afastamento lação familiar envoldo agressor do lar ou a violência à vendo a mulher há a até mesmo da prómulher para possibilidade de duas efetivar ações pria vítima. Segundo atuações da polícia Souza, a Delegacia concretas civil. “Pode ser feita da Mulher tem como no município a prisão em flagrandever proteger essa que pudessem te do agressor ou a contribuir para mulher e juntar as mulher faz o boleprovas para punir o erradicar a tim de ocorrência e agressor. “A obrigaviolência” posteriormente se ção da delegacia é instaura um inquériformalizar todos os to policial através de atos para que sejam portaria quando não produzidas as provas houve prisão em flagrante”. ao inquérito policial, através de A criação da Lei Maria da depoimentos das vítimas, atraPenha tem como objetivo enco- vés do acolhimento de represenrajar as mulheres à denunciar tação que é a confirmação para as violências em ambiente domi- que o inquérito prossiga e a ação ciliar, já que agora é possível a penal seja desenvolvida”.

De acordo com a Lei, qualquer ação que cause à mulher sofrimento físico, sexual ou psicológico, morte, lesão e dano moral ou patrimonial é considerada como violência doméstica.

“Em briga de homem e mulher não se mete a colher”

O ditado popular ‘Em briga de homem e mulher não se mete a colher’ é normalmente utilizado para aconselhar as pessoas a não se envolverem em brigas de casais.

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natureza

Regiao sofre com o desmatamento clandestino

“Extração de madeira numa área de preservação ambiental que equivalia a 835 campos de futebol”

Foto: Andréa Alves

Matéria: Andréa Alves Refletir sobre a importância da biodiversidade deve começar no local onde vivemos. Verificar os crimes ambientais na nossa cidade é uma atitude que as futuras gerações irão agradecer. Localizada no terceiro planalto paranaense, Guarapuava é uma das cidades mais frias do estado, onde o bioma predominante é a floresta subtropical, com vastas áreas de mata de araucárias. Mas se os crimes ambientais não forem reprimidos, a cidade terá que mudar esta descrição. Embora haja uma fiscalização e uma legislação que protege a vegetação nativa, o que se percebe, na prática, é o desmatamento clandestino.

De acordo com o comandante da 3ª Companhia da Polícia Ambiental Força Verde, capitão Cristiano Cubas, o maior problema da região é o corte predatório da madeira nativa. A imbuia e o pinheiro araucária são espécies que estão a caminho da extinção se não houver um controle e uma conscientização. Há três anos, Guarapuava é uma das sedes da Polícia Ambiental, unidade especializada da Polícia Militar do Paraná. Cento e trinta policiais cumprem suas atribuições de execu-

tar o policiamento ostensivo de forma preventiva ou repressiva. Eles são responsáveis por uma extensa região que abrange 80 municípios. “A nossa área de atuação é muito grande. Fiscalizamos a caça e a pesca predatória, a degradação do meio ambiente, desmatamentos, extração ilegal de madeira, a preservação da fauna e da flora”, explica o comandante. Para zelar pelo cumprimento da Legislação Ambiental a Força Verde realiza várias operações, que resultam em multas e processos criminais aos proprietários das terras. Na lista dos crimes encontram-se imbuias cen-

tenárias, algumas com 500 anos, que restaram apenas parte dos troncos em 30 áreas de desmatamento na região. Outro exemplo foi a Operação Caápua, que resultou na apreensão de 101 dúzias de palanques de imbuia, 107 metros cúbicos de lenha retirada de outras espécies nativas e sete pinheiros de araucária cortados. O trabalho coincidiu com a época do ano que aumenta a extração ilegal de madeira em torno de 30%, devido à procura pelos fabricantes de móveis.

Foto: Andréa Alves

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SERRA DA ESPERANÇA Para conservar parte do que restou de vegetação nativa em Guarapuava foram criadas duas Unidades de Conservação (UC). Uma é o Parque Municipal das Araucárias, criado em 1981, e a outra é a Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra da Esperança, em 1992. Infelizmente, algumas pesquisas indicam que a Serra da Esperança também está ameaçada. O próprio IAP (Instituto Ambiental do Paraná) já foi denunciado em compactuar com crimes ambientais no local. Até o jornalista e escritor Fábio Campana alertou para as irregularidades do então diretor-presidente Victor Hugo Burko, que já ocupou a cadeira de prefeito de Guarapuava.

Entre elas, um desmatamento de 245 hectares na APA da Serra da Esperança, ou seja, o IAP permitiu a extração de madeira numa área de preservação ambiental que equivalia a 835 campos de futebol. Na dúvida, é bom lembramos do velho e sábio ditado popular: ‘onde há fumaça, há fogo’. A corrupção também movimentou a Força Verde em Guarapuava. No início deste ano, ao assumir o comando, uma das primeiras ações do capitão Cristiano Cubas foi criar um Serviço Reservado (P2) para monitoramento interno da corporação. “Existiam várias denúncias de corrupção envolvendo policiais”.

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Foto: Andréa Alves

Foto: Andréa Alves

NO E N ES O T PAÇO EM PO

O histórico de desmatamento na região de Guarapuava é explicado pela estudiosa Patrícia dos Santos. A pesquisa mostra que muitos fatores colaboraram para a devastação da cobertura vegetal, principalmente o uso econômico da madeira e a implantação da agricultura comercial. Ela justifica a pesquisa ressaltando que o município possui um dos últimos remanescentes de floresta de araucária do Estado do Paraná. Para melhor entendimento da transformação da sociedade guarapuavana, a pesquisadora a dividiu em três momentos desde sua formação: o primeiro, do período de sua ocupação até a década de 1940; o segundo, de 1950 a 1970; o terceiro, de 1980 em diante. No primeiro período a atividade campeira e tropeirismo, seguido do ciclo da erva-mate mostrou a relação da sociedade com a natureza, sem interesse econô-

mico para o mercado. A área de mata no município era de 1.379,81 quilômetros quadrados. Já o segundo período foi o auge da retirada da madeira devido a diversas inovações: caminhão de cargas, chegada da estrada de ferro, chegando a 1965 com uma área de mata de 1.087,77 quilômetros quadrados. No terceiro período, de 1980 em diante, a agricultura comercial tomou espaço, o que levou embora parte dos já considerados remanescentes. E mais recentemente, de acordo com Patrícia dos Santos, a presença dos reflorestamentos com as espécies exóticas foi outra ameaça a cobertura florestal nativa em Guarapuava. Sendo assim, em 1990, a área de mata era de 530 quilômetros quadrados, e em 2000, de 315 quilômetros quadrados. Ela explica que o ápice da devastação foi no momento em que a madeira se tornou o

principal produto das atividades econômicas para atender as indústrias madeireiras e, posteriormente, o ramo papeleiro. A pesquisadora concluiu que, mesmo com a introdução de uma outra atividade mais rentável, como a agricultura, a madeira não deixou de ser explorada como fim lucrativo. Apesar das leis restritivas ao desmatamento, a forma clandestina é evidente. Patrícia dos Santos ainda destaca que as poucas áreas com florestas de Araucária continuam sendo ameaçadas pela prática agrícola ou mesmo pela comercialização do pinus, ou seja, o reflorestamento comercial. “É preciso conhecer as políticas de conservação adotadas pelos órgãos responsáveis, pensar em novas propostas de modo a garantir que este bioma da Floresta de Araucária na região de Guarapuava não desapareça”.

BLITZ AMBIENTAL Nas blitz os policias pedem para a população denunciar. Ligando no 0800 6430304 as informações ficam no anonimato

REPRESSÃO Para coibir os crimes a 3ª Companhia da Polícia Ambiental em Guarapuava conta com a ajuda das aeronaves do governo. Segundo o comandante, como ainda existem alguns pontos de difícil acesso na Serra da Esperança, o Graer (Grupamento Aéreo) dá apoio nas operações. “As aeronaves fazem as fiscalizações e os levantamentos topográficos do alto. Delineiam latitude e longitude para preestabelecer os pontos de desmatamento para nos deslocarmos pontualmente”, explica o capitão. Os responsáveis pelas agressões ao meio ambiente são punidos com multas, processos criminais e, dependendo da gravidade, prisão. “Quando afeta o bolso aprendem a respeitar muito mais”. Apesar das medidas, o comandante acredita que o importante é a conscientização e não a repressão. De acordo

com ele, a maior tarefa da Força Verde é conscientizar cada vez mais a população. “Mostrar a atual realidade, que entramos em nível de planeta em um caos em virtude de alguns problemas ambientais”. Uma das ações dos policiais ambientais é a Força Verde Mirim, que forma turmas de pequenos agentes ecológicos nas escolas estaduais de Guarapuava e região. “A mudança de hábitos começa com as crianças. A intenção é formar um cidadão consciente de suas atitudes”. Outro trabalho voltado à educação são as blitz nas principais vias da cidade. Os panfletos distribuídos trazem orientações sobre o controle dos fornos de carvão, queimadas e maneira correta de descartar o óleo vegetal usado na cozinha. Nas blitz os policias pedem para a população denunciar. “Precisamos que a população nos

“Existiam várias denúncias de corrupção envolvendo policiais”

ajude a identificar os crimes. Não precisam ter medo, as informações ficam no anonimato. É só ligar no 0800 6430304”. Além da Força Verde, Guarapuava também é sede de uma organização não governamental de preservação, a Associação Paranaense de Proprietários de RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural). Ela é uma das mais de 300 entidades filiadas, distribuídas em 17 estados, que se encontram no domínio do bioma Mata Atlântica. Outra organização é a Fundação Rureco, cuja missão consiste em fortalecer a agricultura familiar tendo como princípios a agroecologia.

“ONDE HÁ FUMAÇA, HÁ FOGO”

O ditado popular “Onde há fumaça, há fogo” é normalmente utilizado para indicar que onde se desconfia que exista algo errado, provavelmente essa suspeita irá se confirmar.

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beleza Foto: Eliane Foto: Eliane Pazuch

Espelho, espelho meu...

Pazuch

“A cliente Otília que há dois anos frequenta o mesmo salão por se sentir bem atendida”

Matéria: Eliane Pazuch

As mulheres estão cada vez mais preocupadas com a beleza, como forma de realização pessoal e segurança Quem nunca ouviu dizer que 99% da beleza feminina sai com água e sabão? Acho que esse ditado serve para traduzir a imensidão de tratamentos e possibilidades estéticas e de beleza no universo das mulheres. Realmente, temos que admitir que nós mulheres temos a preocupação de mantermos sempre em dia a beleza. Umas mais, outras menos, mas de qualquer forma algum dia acabamos entrando em um salão de beleza para dar aquela ajeitada no cabelo. E essa dedicação pela beleza não para só nos cabelos, tratamentos de pele, massagens, depilação entre outros serviços estão entre os mais procurados. As mulheres estão se cuidando mais. Aline Mendes, agropecuarista, afirma que frequenta uma clínica de estética já há dez anos. Os serviços por

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ela buscados são limpeza de pele, rejuvenescimento facial e depilação. Além desses cuidados a cada quinze dias faz hidratação do cabelo em um salão de beleza. Para ela, a mulher precisa se cuidar desde cedo. “A mulher já nasce com a vaidade”. A cabeleireira Rose Junges, com 17 anos de experiência na área, há 13 possui um salão de beleza em Guarapuava. Entre os serviços oferecidos estão cortes de cabelo, penteado, cauterização, escovas progressivas, alisamentos, tinturas, maquiagem, manicure, enfim, uma infinidade de opções para quem quer ficar sempre bonita. Rose ressalta que a mulher de hoje busca praticidade no dia-a-dia, principalmente ao se tratar de cabelo. Segundo ela, um dos tratamentos mais procurados com esse objetivo é a escova progressiva ou definitiva, que permite à mulher

“Minha profissão exige isso também, os alunos aprendem mais quando a figura do professor é agradável”

acordar linda todos os dias, pronta para o trabalho. Mas a cabeleireira lembra que esse processo químico só deve ser aplicado em pessoas acima de 20 anos. “Existem alguns produtos apropriados para adolescentes, mas eu não faço em meu salão”. Mulheres grávidas também possuem restrição quanto ao uso de químicas. Rose conta ainda que, certa vez, precisou exigir de uma cliente grávida, um atestado médico liberando a utilização de tintura nos cabelos. “Nessa fase é preciso tomar mais cuidado”. A frequência de seu salão varia entre as clientes. “Algumas mulheres vêm toda semana, outras a cada quinze dias, outras a cada dois meses só para cortar o cabelo”. A professora de biologia e ciências Otília Chimilouski Taraciuk, conta que há dois anos busca os serviços oferecidos pelo salão. “Aqui eu encontrei o meu ponto de apoio em tudo”. Para a

professora é importante que a mulher se olhe no espelho gostando do que está vendo, caso contrário sai insegura de casa. “Minha profissão exige isso também, os alunos aprendem mais quando a figura do professor é agradável”. Além da qualidade dos tratamentos oferecidos, outros aspectos do salão de beleza também devem ser avaliados pelas mulheres. Otília ressalta que se preocupa com preço, higiene, simpatia e bom tratamento dos profissionais. “Eu e minhas filhas fizemos amizades aqui”. Chaiane Aline Junges é manicure e mostra satisfação no que faz. “Eu adoro meu trabalho, faço por paixão”. Enquanto realiza seu trabalho Chaiane conversa muito com as clientes, criando um círculo de amizades. “Elas se sentem bem aqui no salão e isso é importante. É bom saber que elas confiam no que estou fazendo”. De acordo com a manicure, as mulheres sempre escolhem a cor do esmalte conforme a estação do ano. “Agora no inverno estão pedindo muito vermelho e

francesinha”. Isso demonstra mais uma das preocupações das mulheres, ou seja, estar sempre de acordo com o que está na moda. Iosodara Jaqueline Pucci, professora de educação física, é um exemplo de fidelidade ao salão de beleza. Frequenta há onze anos o mesmo salão. “Já sou de casa”. Ela mesma é quem confere os horários na agenda e marca a sua hora. Os tratamentos por ela almejados são os mais variados possíveis. “Busco corte de cabelo, alisamento, progressiva, unhas dos pés e das mãos, risadas, melhora do humor... Tudo o que for possível, desde que eu fique parecida com a Angelina Jolie”.Com bom humor, a professora afirma que sua profissão não permite muito que se ressalte a feminilidade por usar sempre tênis e roupas esportivas, por isso, acha importante dedicar um tempo para a beleza.

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relacionamento

Por outro lado, a vendedora Elizabete dos Santos não é muito frequentadora de centros estéticos. “Não tenho muita paciência pra isso, e muitas coisas acabo fazendo em casa mesmo, é muito raro procurar um salão”. No entanto, seguindo pela lógica da praticidade, Elizabete afirma que já fez escova progressiva seis vezes. “Faço porque meu cabelo é enrolado e difícil de ser cuidado”. Apesar das boas relações entre clientes e profissionais no mundo da beleza, existem problemas como a inadimplência. A cabeleireira Rose diz que já passou por isso e que hoje está mais seletiva na hora de pendurar a conta. “É importante a mulher se cuidar, mas sempre tem aquela pessoa que fala vou ali buscar o dinheiro e nunca mais aparece. Até clientes em época de política que vieram, fizeram, cabelo e maquiagem, disseram que já iriam pagar e até hoje não consigo receber”. Para evitar essa situação, alguns salões já optaram por trabalhar com cartão de crédito e Rose diz que também está providenciando essa possibilidade. Mas o universo da beleza não está só nos salões e em clínicas estéticas. Lojas especiali-

“Procuro sempre passar confiança para minhas clientes”

zadas em produtos desse meio já são muito comuns. Suelen Cristina Sierpinski trabalha em uma loja especializada nesse ramo. De acordo com ela, os produtos são variados, como shampoos, cremes, maquiagem, esmaltes, hidratantes entre outros. De acordo com a vendedora, as mercadorias mais procuradas são os esmaltes. “São tantas cores que elas ficam em dúvida na hora de levar um”. Suelen lembra que a clientela não é só de mulheres. Os homens também estão buscando mais produtos direcionados às necessidades masculinas, como os tonalizantes de cabelo. Mas sem dúvida, elas lideram o consumo de cosméticos e de tratamentos de beleza. Durante as vendas, Suelen afirma que precisa se preparar para esclarecer dúvidas das clientes em relação à aplicação e resultados dos produtos. Claro que o ditado popular que iniciou essa matéria pode ser um pouco exagerado, mas com certeza, todas essas possibilidades podem ajudar a valorizar a beleza feminina. Suelen finaliza dizendo que a infinidade de produtos e serviços são tantos, que cabe, com certeza, em todos os bolsos.

Foto: Eliane Pazuch

PESQUISAS AFIRMAM QUE O NÚMERO DE DIVÓRCIOS PODE TER AUMENTADO DEPOIS DA NOVA LEI QUE PERMITE QUE O DIVÓRCIO SAIA EM 30 MINUTOS.

Se casamento fosse bom, não precisava de testemunha Foto: Patrícia Tagliaferro

Matéria: Marcos Przygocki O Jornal Folha de São Paulo publicou no mês de agosto que o número de divórcios em São Paulo cresceu 286% no primeiro semestre de 2011 se comparado com o mesmo período do ano passado. Diante dos resultados, acredita-se que esse aumento tenha decorrido da nova emenda constitucional que entrou em vigor no dia 13 de julho de 2010. O Artigo 1º, parágrafo 6º do artigo 226 da Constituição Federal, passou a vigorar com a seguinte redação: “O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio”. Com a nova Emenda Constitucional os prazos foram extintos. O oficial substituto Angelim Vitorassi Neto do Cartório Vitorassi de Guarapuava, afirma que agora ficou mais fácil para os casais. “Não há necessidade de separação para depois pedir o divórcio”. Há, porém,

alguns requisitos. O casal, para pedir o divórcio direto, não pode ter filhos menores de 18 anos ou incapazes e ter o consenso de ambas as partes. “Estando de acordo com os requisitos para o divórcio direto, o casal deve ir ao cartório na presença de um advogado com os documentos pessoais e certidão de casamento, o casal chega ao cartório de manha e a tarde sai divorciado”, ressaltou Neto. Antes da nova emenda, o casal deveria ter no mínimo um ano de separação judicial, ou comprovar

a separação de fato por mais de dois anos, para então conseguir o divórcio. Com a mudança do código do processo civil o casal pode requerer quando desejar. “Fizemos um casamento aqui no cartório e, passado aproximadamente um mês, chegou uma escritura de outro estado do divórcio desse casal”. Mas será que realmente houve esse aumento porque as pessoas foram motivadas a pedir o divórcio depois dessa facilidade? Para Neto cada caso deve ser analisado

individualmente. “Com essa nova emenda ficou mais fácil dos casais regularizarem suas situações. Hoje se você pegar o número de divórcios, vai ver que ele aumentou porque não existe mais a separação, não tem muito sentido fazer isso, mas se você somar separação e divórcio anterior à lei do divórcio direto e o número de divórcios hoje, isso é mais ou menos equilibrado. Conversando com alguns colegas da área parece que em Guarapuava o número está permanecendo igual”.

“ESPELHO, ESPELHO MEU”

A frase ‘Espelho, Espelho Meu’ vem da famosa fábula alemã Branca de Neve, em que a vilã da história consulta um espelho mágico sobre quem é a mulher mais bonita no vilarejo. O conto, compilado pelos Irmãos Grimm, fez da frase um símbolo pela busca desenfreada pela beleza.

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“SE CASAMENTO FOSSE BOM, NÃO PRECISAVA DE TESTEMUNHA”

O ditado popular “Se casamento fosse bom, não preicsava de testemunha” é usada para sugerir que casamentos nem sempre têm bons resultados.

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correria

Esse é o caso de carteiro mais rápido do Brasil, que deixou a profissão, mas ficou com boas histórias para contar

Carteiro

feliz é o que gosta de

sê-lo

Matéria: Evane Cecilio

Não importa se chove ou se faz sol, lá vem ele com seu uniforme amarelo e azul. É bem quem você está imaginando: o carteiro. A história conta que foi na antiga Pérsia que surgiu o primeiro sistema de correios. No Brasil, essa história já é mais recente, com a chegada de Pedro Álvares Cabral registrou-se a primeira correspondência oficial. Em 1844, o primeiro corpo de carteiros foi criado, e quem passou por essa profissão tem boas histórias para contar. O carteiro “Ligeirinho”

“Foi um trabalho incrível que surpreendeu a mim mesmo” James, O Ligeirinho página 16

James Antonio Camacho Stimamilio Junior trabalhou durante 11 anos na profissão de carteiro. Após ganhar fama como o carteiro mais rápido do Brasil, o curitibano teve que se afastar da profissão devido a uma doença rara. Órfão aos dois anos, morou em internato e teve uma infância difícil. Ao se tornar carteiro também lutou contra muitas dificuldades, mas se esforçou para fazer muito mais que seu trabalho: entregar correspondências. “Percebi inúmeros problemas: cachorro

solto, falta de nomes nas ruas e placas, mais de 80 CEPs irregulares, barro, lama e poeira. Por conta disso resolvi imprimir cartazes no bairro informando CEPs e nomes de ruas corretos”. Mesmo gastando do próprio bolso para conscientizar a população e organizar os endereços, ainda foi punido. “Também proibi entregas em casa com cachorro solto nas ruas, pois fui atacado e mordido cinco vezes. Meu chefe me puniu neste setor com pontos, porque a função do carteiro é entregar carta, e não obrigar as pessoas serem corretas. Para ele eu não tinha que conscientizar ninguém”. Mas, para James, valeu a pena, tudo o que fez deu grandes resultados. No início ninguém respeitava, a população não imaginava o quanto eram importantes as ações que James vinha tomando. A surpresa aconteceu quando as cartas começaram a chegar nas casas. “Devido aos erros, as car-

tas não chegavam, se desviavam. Cartas apareciam a cada três meses, eram atrasos enormes. Eu sozinho organizava as ruas e CEPs, fazia conscientização e entregava cartas. Foi um trabalho incrível que surpreendeu a mim mesmo”. Por causa dessa iniciativa, James foi homenageado pelo Rotary Club em Curitiba com um diploma de honra ao mérito, depois começou a sair nos jornais do bairro, recebeu certificados na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa do Paraná. Também recebeu o Prêmio Talento do Paraná e o título de “Ligeirinho”. Recebeu esse apelido, pois andava rápido. Isso chamou atenção, James ganhou fama e ficou conhecido nacionalmente quando foi entrevistado no Programa do Jô. A rotina de um dia de trabalho de James era de 12 a 15 quilômetros, feitos a pé. Em épocas de pagamento, fazia a entrega de

mais de 500 correspondências diariamente. James também já correu muito de cachorros e levou algumas mordidas, também teve uma vez que caiu em um bueiro. Dentre as histórias de cachorro, a mais engraçada foi o dia em que encontrou um com nome igual ao dele. Também já foi atacado por vários ao mesmo tempo. Após toda a fama, vem uma surpresa não muito agradável. James, o carteiro ligeirinho, descobre que é portador de uma doença rara que atingiu os olhos, conhecida como Doença de Stargardt. Uma patologia hereditária que acabou tirando o carteiro definitivamente da profissão. James obteve sua aposentadoria aos 33 anos, depois de idas e vindas de médicos e especialistas que diagnosticaram a doença, que não tem cura e leva a perda progressiva da visão. “No início foi triste saber que estava perdendo a visão, mas enfim, o tempo passou, e hoje, criei o blog Carteiro Ligeirinho. Há três meses criei outro blog, o Deficiência em Evidência aqui em Curitiba. Achei outra forma de poder ajudar as pessoas”.

“CARTEIRO FELIZ É O QUE GOSTA DE SÊ-LO”

O ditado popular ‘Carteiro feliz é o que gosta de sê-lo’ é uma brincadeira entre a conjugação do verbo ser e os selos, usados em correspondências.

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Meia vida ou vida inteira?

Enquanto esperava o meu carro ficar pronto, sentado no sofá desconfortável da oficina, o tempo parecia estagnado. Indignado pela ofertas - ou não-ofertas - de leitura, aceitei um negócio que parecia uma revistinha onde li todas as justificativas de um fabricante para escolher a sua marca de baterias. Uma, em particular, me fez pensar. Por que alguém que quer vender - quantas mais, melhor - se preocuparia em fazer algo com “longuíssima vida útil”? Não seria melhor que a vida não fosse tão longa assim? Estragaria e nós deveríamos comprar outra, aumentando as vendas e, claro, o lucro da empresa, não? A meu ver, essa seria a lógica, mas cada um com as suas estratégias de venda... Mas hoje não é isso que me preocupa. Não porque a vida útil da bateria de meu carro

ainda não está marcada pelo fim, mas porque é com a minha vida útil que tenho ocupado os meus pensamentos, preocupações e reflexões desde a última visita ao médico. Descobri, por causa de uma dor de cabeça, que o problema familiar com a hipertensão, logo cedo - 23 anos - me arrebatou para o rol de proibidos de tudo. Com a descoberta vieram as recomendações. Recomendações? Eu ouvi proibições. Esse papo de não beber, não fumar, não comer, não fazer isso ou aquilo, cansa. Viverei o tempo que o meu corpo aguentar. Tenho 23 anos e já estou condenado: não posso comer gordura, tomar refrigerante (bebidas alcoólicas? Nem pensar), salgar a comida ao meu gosto, comer queijo, muita carne e nem engordar. Pelo contrário, preciso, e muito, emagrecer.

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Lars Sundstromm (Suécia) @RoyaltyFree

vida

Aí eu encontro o maior problema, seria viver não ir a Roma e me fartar? Não preciso ir a Roma, mas quem sabe comer, beber, viver de modo prazeroso. Ouvi certa feita uma anedota: o sujeito foi ao médico e disse que não bebia, não fumava e praticava exercício regularmente. Perguntou ao médico quantos anos viveria. O profissional prontamente lhe respondeu que talvez a morte dele só chegasse aos 99, 100 anos, ou até depois disso. Mas que vida mesmo, ele não teria alguma. Penso que a moral da história é que a vida não são os anos contabilizados, mas as experiências vividas, certo?

O médico que me atendeu não foi tão permissivo. Explicou os riscos que estaria submetido ao negar uma dieta equilibrada (e bastante restritiva) e a prática de exercícios físicos pelo resto de minha vida. Quando sai do consultório comecei a reparar em tudo que se relacionasse com os hábitos saudáveis para encontrar alguma dica de como “reformular a minha vida”. Todos dizem o que fazer, mas ainda não descobri como.

Talvez pelo pouco tempo da descoberta, mas não consegui me render aos novos costumes. Como pizza, tomo cerveja com os meus amigos e sou sedentário. Eu não tenho medo de morrer? Tenho. E será que alguém, de fato, não tem? Mas o meu medo é de morrer enquanto continuo caminhando sobre a Terra.

Pensando bem, acho que no final das contas tenho a esperança de que os avanços na medicina cheguem ao ponto de encontrarem a cura para a hipertensão. Que um dia vão descobrir um remédio que substituirá toda essa conversa de “não pode” e o remédio que tomo todos os dias. Espera aí. Isso fez eu voltar ao problema inicial: por que uma indústria venderia um único remédio para o sujeito na vida, se pode vender um todos os dias? - Seu carro está pronto. Acho que a bateria não vai durar muito, logo você vai ter que trocar. Tá meia vida. E essa agora, o que seria “meia vida”?

Não importa as minhas possibilidades financeiras, de nada adiantará ir a Roma. Não poderei me servir e me fartar das gorduras do mossarela derretido na pizza. Pelo que li no “Mas será o Benedito?” de Mario Prada, o famoso “quem tem boca vai a Roma” tem aplicação histórica diferente daquela que conhecemos hoje. Não era usado em função do poder de convencimento de um sujeito, mas que se o sujeito que tivesse bom apetite procuraria em Roma saciar seus desejos de prazer na culinária. Se houvesse alguma possibilidade de aplicarem esse ditado a mim - enquanto sujeito dele - estaria em sua explicação histórica, já que a minha habilidade de convencimento nunca foi a característica mais aguçada. Hoje, nem isso. Não posso ir a Roma saciar esses desejos sob o risco de não viver.

“QUEM TEM BOCA VAI À ROMA”

O ditado popular ‘Quem tem boca vai à Roma’ é requisitado em diversas situações. Pode se referir, por exemplo, à prática de pedir de informações durante uma viagem. Entretanto, o significado ‘originário’ sugeria que os amantes de comida encontrariam os melhores pratos em Roma.

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linguagem

O Popular

Tesouro da Lingua

Contestações, conselhos e ordens passadas de geração em geração com sabedoria

Matéria: Morgana Nunes

Eles são a voz do povo, sejam ásperos, delicados, rigorosos, brincalhões, verdadeiros ou não. Nascem no cotidiano, são sólidos e reiterados porque persistem no tempo e atravessam camadas sociais, apesar de estarem em outras bocas e em outro espaço. Os ditados populares são assim, variados e ricos em sabedoria, sendo um dos principais motivos para a complexidade em se definir o que realmente são, da onde vêm ou quem são os autores dessas frases ainda usadas nos dias de hoje e que já ouvimos de pessoas de gerações anteriores as nossas. Porém, essas dúvidas não interferem na compreensão imediata dos ditados, a frase é a mesma por se tratar de uma tradição oral, mas o sentido não, ele depende do contexto histórico,

social e ideológico ao qual está inserido. E por esse motivo os ditados são considerados “tesouros da língua” pois estão no acervo lexical e na memória. Até pouco tempo os ditados foram rejeitados pelas classes mais escolarizadas, mas de um tempo para cá eles tem sido pesquisados por estudiosos de diversas áreas: historiadores, sociólogos, folcloristas, linguistas e muitos outros. A professora Célia Bassuma Fernandes é um deles. Ela tratou, pelo viés da lingüística, em sua tese de doutorado, os trajetos e enunciados proverbiais no discurso publicitário. Segundo ela, há uma vasta terminologia para se referir aos ditados. Provérbio é uma delas e eles tratam de “ver-

dades imemoriais que não devem ser contestadas”. Célia afirma que as pessoas lançam mão de ditados e provérbios para legitimar uma ideia. “Os ditados são usados para dar veracidade, argumentar com veemência, para contestar, e são imemoriais pois podem ser aplicados a contextos específicos, trazendo novos sentidos e interpretações. Variam, enquadrando-se como uma ordem, um conselho, servem apara atestar algo ou para acalmar os ânimos”. Célia ainda complementa dizendo que apesar de se tratar de contestações, os ditos populares não nascem estigmatizados, eles são universais. São igualmente utilizados por classes reprimidas ou dominantes sem diferença nenhuma em sua sentença e sim em suas interpretações e na sua aplicação.

“Os ditados são verdades imemoriais que não devem ser contestadas”

as d r ce s a s, n a i s m e e o d p o , s de “P a s c a i s mú as vind il s trov m Bra ” o u d n fu pro

De acordo com o dicionarista e especialista em filologia (ciência que estuda a língua por meio de documentos escritos) Antônio Houaiss, os ditados são, em geral, frases curtas de origem popular e que apresentam ritmo e rima. São ricos em imagens e essa pequena sentença pode sintetizar uma visão sobre a realidade e uma regra social ou moral, são frases que tem por objetivo aconselhar, educar e edificar as pessoas. Para o geógrafo Clayton Silva os ditados provém do popular e passam a ser universais e por este motivo eles apresentam elementos de resistência, mas também trazem nesse jogo de palavras a valorização das coisas simples. ”É interessante notar que o ditado não pode ser pensado separadamente da cultura popular. Podem nascer das músicas, poesias, trovas vindas de um Brasil profundo. Ele nasce do povo e é usado por todas as pessoas. Geralmente, apresentam

sinais de relutância e conflito, causados pela objeção à vontade de outrem”. Porém, pelo viés da História, podemos determinar o surgimento de alguns dos ditados de acordo com um momento ou período histórico específico, é o que explica o professor Ariel, do Departamento de História da Unicentro e um fiel usuário de provérbios. “Eu aprendi os ditos populares com a minha mãe, ela tem anotadinho em um caderno mais de duzentos e exercita-os no dia-a-dia”. Ele afirma que não é possível dizer uma data específica do nascimento dos ditados, mas o contexto histórico é possível de ser determinado. “Por exemplo, aquela frase ‘quem cedo madruga Deus ajuda’ surgiu em meádos do século 20 durante o desenvolvimento das capitais de São Paulo e Rio de Janeiro, com o principal objetivo de incentivar o trabalho nas grandes indústrias. Outro ditado é ‘pouco pó para poupar o pó’, expressão utilizada durante os anos da Segunda

R A L PU

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DITADO EXPRESSÃO

Guerra Mundial, onde havia racionamento de comida por conta dos bloqueios das exportações e importações. Considero os ditos populares interessantes porque eles te ajudam a fazer uma interpretação de um determinado tempo e espaço social. Além disso eles são perfeitamente aplicáveis a diversos contextos porque as opressões e as resistências do povo ainda persistem nos dias de hoje”. O jornalista e escritor Mário Prata, inspirado em sua curiosidade sobre a origem das expressões, provérbios e ditados brasileiros, é autor do livro “Mas será o Benedito?”. Logo no início da obra, Prata explica que as divergências sobre as origens são comuns e que o conteúdo do livro é baseado na sua concepção da história. Ao todo, Prata encontra, inventa e apresenta a origem de 419 provérbios e seus significados. Por exemplo: Mario Prata coloca em seu livro que o ditado ‘em boca fechada não entra mosca’ provém do italiano e con-

textualiza dizendo “A Ópera de Milão foi infestada, em 1887, por um enxame de moscas. Na hora das apresentações, nem todas as variações eram cantadas. E os tenores se justificavam diante do fracasso dizendo ‘In bocca ciusa no entro mais musica’. Apesar de ser bastante respeitado, Prata foi bastante criticado por linguistas, historiadores, filólogos e muitos outros pesquisadores, por criar fábulas em torno da origem e dos contextos dos provérbios. Já no que se refere aos estudos da linguagem, um ditado popular só pode ser assim designado, quando está em um dicionário da Língua Portuguesa ou em um dicionário de Provérbios, se caso não fizer parte, a sentença não pode ser considerada um dito popular e sim uma expressão. O que podemos dizer com mais propriedade, é que língua e a oralidade caminham juntas e os ditados fazem parte desse processo ininterrupto de deslocamento e de ressignificação.

FIM

“frases famosas, ditados e expressões populares”

Foi pensando nessas sentenças que a redação do Ágora desenvolveu esta edição. A ideia era estimular nos repórteres a produção de pautas diferenciadas e, ao mesmo tempo, oferecer informação criativa aos nossos leitores.

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Liberte-se!

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ent Crudo, Quem grita? Vinc professor de nome ar tístico do ogia Vinicius. História e Sociol que? “Da Independência de a, do Estado e Igreja, da Famíli são os pilado Capital porque viver de um res que nos fazem dos os sento modo estúpido em algo aprisiotidos. Tudo isso é tão sensíveis nador para seres sentem tantas aos sentidos, que safios, tantos vontades, tantos de sensações e a mistérios, tantas ade de conheconsequente vont ar experiêncimento e de busc onceitos”. cias livres de prec udar? “Não m a Como tent ília oprimir deixo minha fam

igues a Rodr ovinelli n a i t a ro P ia: C Matér ação: Leand m Diagra

minhas escolhas, consumo cada vez menos qualquer coisa e me organizo em torno de atividades culturais que direcionam sempre à alternativas ao óbvio”. E os contras? “Acho que em vários momentos de nossa vida temos medo de seguir adiante em alguma escolha. É a religião, a sua moral, o dinheiro, as leis, as limitações que nos fazem ‘retornar’. As coisas caminham juntas, pois enquanto pensamos sobre soluções, temos que viver a realidade de pagar contas, de respirar ar poluído, de contrair doenças, de viver escutando os

outros falando sobre a novela, de sorrir para o chefe, de morrer atropelado, etc. Quando algo acaba ‘retornando’ é justamente porque essas forças são muito fortes, mas é necessário lembrar sempre que somos seres superiores à essas instituições que não nos querem livres”. Independência ou morte! “A independência que busco me faz refletir, me dá um chão, uma perspectiva de como seria, de como tudo poderia ser. Mas eu queria sentir de um modo que eu pudesse compartilhar, acho que isso mudaria verdadeiramente e faria uma diferença grande”.

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era independência ou morte. E por incrível que pareça, 189 anos depois, ainda existem coisas das quais queremos nos tornar independentes, sejam elas complexas ou cotidianas. O Vinicius, a Larissa, a Gabriela e o William podem não ter um país para tornar independente, mas convivem com questões que, para eles, são dignas de um “independência ou morte” bem gritado.

Quem grita? Gabriela Luisa Titon, estudante de Jornalismo. Independência de que? “De Guarapuava. ‘I want to break free’, como diz uma famosa música da década de 80. Do quê? De uma cidade que acabou aparecendo, sem querer, no meu destino. Em 2008, terminei o terceirão e fiz vestibular para direito na UFPR, mas não passei. Estava em dúvida entre esse curso e jornalismo. Como estava insuportavelmente impaciente para começar logo uma faculdade, mudei para Guarapuava em 2009. Vou a Curitiba praticamente todos os anos desde bebê e talvez

por enxergá-la como uma cidade atraente desde pequena, tenha criado a expectativa de mudar para lá. Acredito que Guarapuava não tenha gostado de mim, nem eu dela, logo que cheguei. Não existe identificação entre nós, sabe como é? Incompatibilidade de gênios ou de qualquer outra coisa”. Como tenta mudar? “Já pensei em tentar transferência ou fazer vestibular novamente. Mas, outra vez, minha pressa em terminar logo tudo que começo falou mais alto. A opção iria gerar alguns transtornos de tempo e me fazer

perder, quem sabe, até um ano. Uma das atitudes para auxiliar na futura mudança é adquirir experiência para conseguir uma colocação mais facilmente depois”. Independência ou morte! “Sinto que aqui não é meu lugar. Vivo em conflito psicológico e sentimental comigo mesma. Indo embora, acredito que atingiria certo nível de paz espiritual. E essa satisfação seria por estar onde quero, com todos os benefícios – e também malefícios – que uma cidade mais desenvolvida oferece”.

Billy Alexander (United States) @RoyaltyFree

Um dia, um sujeito chamado Pedro, bastante popular entre as pessoas e alguém convicto de seus ideais, se viu pressionado a tomar decisões contrárias aos seus desejos. Disseram a ele que deveria voltar para sua casa distante e submeter-se a outras leis que não às suas. Mal sabia que o seu grito seria ouvido por todos naquela jovem nação. Ele fez de um sete de setembro qualquer um dia histórico, quando à margem do Ipiranga Pedro bradou: “Independência ou morte!”.

A proclamação em 1822 engajou muitos na independência política do Brasil em relação ao reino de Portugal. Um tempo depois, Pedro foi coroado Imperador e recebeu o simpático título de Dom Pedro I. O resto da história todo mundo conhece. Muitos papéis assinados depois, o Brasil, finalmente, deixou de ser uma colônia portuguesa. Porém, há divergências entre os historiadores sobre o ‘fato’ registrado no famoso quadro de Pedro Américo. Verdade ou mentira, era independência de alguma coisa que Pedro queria, a todo custo. Era soltar ou largar,

Reprodução do quadro “O Grito do Ipiranga” (1888), de Pedro Américo.

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Quem grita? Larissa Robéria Fritzen, estudante de Ciências Contábeis. Independência de que? “Aparelho ortodôntico fixo. Porque já faz quatro anos e dois meses que ele ‘vive’ comigo, é algo que não faz parte de mim, mesmo depois de quatro anos, tenho gastos, odeio sentir dores e porque é o ‘sonho’ de todos aqueles que usam aparelho”. Como tenta mudar? Não

tentei tirar antes do prazo. Depois de tanto tempo, abandonar o tratamento, não rola. Confio plenamente que meus molares irão colaborar comigo”. Independência ou morte! “Minha vida será livre, comestivelmente falando. Comerei qualquer coisa e de maneira simples, sem me preocupar em quebrar ou não alguma pecinha, ou arrebentar elásticos... Terei menos

Bensik Imeri (Sweden) @RoyaltyFree

Internetês

gastos, não precisarei ir todo o mês, às vezes mais de uma vez), ao dentista, escovar os dentes será mais fácil e rápido, sem falar no aspecto estético, é muito mais bonito dentes somente”.

ELES GRITAM! Quem grita? William B. Correa, estudante de História Independência de que? “Eu julgo ser uma pessoa, de certa forma, independente. Tenho meu trabalho, meu meio de transporte, pago minhas contas, minha bebida e meu cigarro, porém, não acho possível ser totalmente independente em todos os aspectos da vida. Mas eu gostaria de me tornar independente do Brasil, se eu tivesse grana o suficiente já teria ido”.

Como tenta mudar? “Quando eu concluir meu curso e tiver fundos o suficiente eu vou, mas é claro que é impossível eu me libertar totalmente, tendo em vista que tenho familiares e amigos aqui. Mas com esforço e sorte eu consigo dar o fora daqui. Se um dia eu conseguir sair do país, ótimo, mas enquanto isso não acontece levo minha vida por aqui trabalhando, estudando e fazendo o que quero”.

Independência ou morte! “Não gosto de não ser respeitado como cidadão no Brasil, sem saúde e educação dignas e políticos corruptos. Em um país com uma carga tributária como o nosso e que não oferece o mínimo para o povo, que se contenta com o ‘pão e circo’ no Brasil, bolsa família, futebol e carnaval”.

Agilidade ou preguiça? O modo como os usuários se comunicam pela internet divide opiniões

“INDEPENDÊNCIA OU MORTE”

A frase célebre de Dom Pedro I proclamada às margens do Ipiranga nos serviu de inspiração para perguntar às pessoas do que elas gostariam de declarar independência. E você, quer ser independente do que?

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Matéria: Monique Paludo Diagramação: Leandro Povinelli

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Michael Lorenzo (Philippines) @RoyaltyFree

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tual. Ele acredita que não exista relação entre o uso de termos técnicos e o Internetês: “Isso é só preguiça. Não acho que seja por causa dos termos técnicos. Sou programador e sei separar muito bem a minha profissão da minha vida pessoal. Nunca vi, em programação alguma, a substituição de ‘quando’ por ‘qdo’. Quem eu mais vejo usando esse tipo de linguagem são pessoas que nunca trabalharam com programação”. Então seria apenas preguiça? Não é o que pensa Caroline Ferreira. “Uso abreviações porque deixa tudo mais rápido. E uso os emotions porque é um modo de expressar o que estou sentindo. A linguagem da internet é a evolução do português”. Nem preguiça, nem evolução de acordo com a professora Carmem. “Pode ser apenas modismo. Não acredito que forme uma nova língua. A preguiça pode ser sim rebatida com o argumento da agilidade. O que me preocupa são os efeitos dessas mudanças. Podemos ter uma grafia que colabore com a agilidade, mas ela não pode causar a preguiça de pensar. O desuso de sinônimos e emotion é um exemplo. Não é necessário pensar em

Michael Lorenzo (Philippines) @RoyaltyFree

Palavra de origem latina, fórum é um espaço público de debates. Hoje, na Internet, temos vários fóruns onde os usuários expõem e debatem suas opiniões. Terminando a leitura do livro 1984, de George Orwell, curiosa sobre a concentração e manipulação de informações a respeito dos atos políticos, entrei no fórum que tinha essa temática. O livro de Orwell narra uma ficção que se passa em um país administrado pelo Grande Irmão, líder do Partido. A estória é contada a partir do ponto de vista de Winston Smith. Trabalhador do Ministério da Verdade, Winston tem como ofício manipular as informações em favor dos interesses do partido. No fórum na internet sobre política, percebi uma dificuldade. Apesar de ser brasileiro, parecia que o idioma usado não era exatamente o português. Era o Internetês. Enquanto um usuário tentava expor a suas ideias, outros intercalavam “q q vc tah falando?” com “WFT?”. Nessa confusão, onde ficou o entendimento? Códigos como “vc”, “pq” ou “qdo”, costumeiros nas conver-

sas pela internet, formam uma nova língua? “Não, é apenas outro modo de escrever”, explica a professora de português Carmem Lúcia dos Santos. As alterações estão divididas em três modos: abreviação, supressão de vogais ou fonética. Alguns resultados são a combinação de mais de um desses modos. Por exemplo, o “vc” é a abreviatura de “você” e utiliza da supressão das vogais “o” e “e”. Os casos de alteração pela fonética geralmente estão relacionados ao desuso dos acentos: para não usar o til, o “não” torna-se “naum”. Então, como explicar a dificuldade para alguns usuários se comunicarem nesse espaço? A professora Carmem acredita que “muitas vezes ocorre a incorporação de termos técnicos em inglês aplicados a programação e desenvolvimento de programas ou sites. Outra coisa comum é uso de gírias em língua estrangeira. Como nem todos conhecem, nem todos entendem”. Não são todos que entendem e nem todos que aderem ao novo modo de escrever. Rodrigo de Paula é usuário de fóruns e outras ferramentas de comunicação vir-

outras formas de escrever, nem modos de se expressar que sejam suficientes para o entendimento: são poucas palavras combinadas com um emotion que ‘expressa’ o sentido da frase. Não há nem a necessidade de interpretação”. Inspirada na preocupação da professora Carmem, emprestei a frase de Pedro Bial “vamos dar uma espiadinha” e dei uma olhada no uso de sinônimos no internetês. As entrevistas foram simultâneas e realizadas em ambiente virtual: Facebook, MSN e o GoogleTalk. Por isso, resolvi “testar” a preocupação da professora. Usei vários sinônimos durante a conversa com a Caroline (adepta do internetês), que não demonstrou dificuldade em entender e continuamos a conversa sem interrupções. Mas, ao final, relendo a entrevista, percebi aquilo que a professora tinha advertido: “a repetição dos mesmos códigos e a combinação de emotions para atribuir sentido”. O que me lembrou o motivo da minha entrada no fórum: o livro 1984, de George Orwell. Quando percebi no fórum a dificuldade já mencionada, lembrei do “camarada” de

Winston, Syme. Filólogo, Syme trabalhava na última edição do dicionário da Novilíngua. E o que seria Novilíngua? Um idioma, imposto pelo partido, onde as palavras eram reduzidas e os sinônimos e antônimos suprimidos, dificultando a existência de reflexão ou segundas interpretações daquilo que fosse dito. A explicação de Syme é a seguinte: “Cada palavra contém em si o contrário. ‘Bom’, por exemplo. Se temos a palavra ‘bom’, para que precisamos de ‘mau’? ‘Imbom’, faz o mesmo efeito – e melhor, porque é exatamente oposta, enquanto ‘mau’ não é. Ou ainda, se queres uma palavra mais forte para dizer ‘bom’, para que dispor de toda uma série de vagas e inúteis palavras como ‘excelente’ e ‘esplêndido’, etc. e tal? ‘Plusbom’ corresponde à necessidade, ou ‘dupliplusbom’ se queres algo ainda mais forte” (ORWELL, 1979, p. 52). Do modo que se apresenta em 1984, a língua serviria como um modo de dominação, extinguindo-se a reflexão, o pensamento e o contraditório. Entretanto, há uma diferença significativa entre a Novilíngua

e o Internetês: apesar de serem pautadas pela redução das palavras e o desuso de sinônimos, a primeira é imposta como forma de controle pelo governo e a segunda é resultante dos próprios usuários. “Não há uma imposição. Porém, isso não significa que essa redução não seja tão prejudicial. Mesmo que sejam os próprios internautas que ‘criem’ essa nova forma de comunicação, há sem dúvidas a supressão do pensamento, da interpretação e da reflexão”, argumenta o sociólogo Joares Martelli. Já para Maria da Conceição Rodrigues, também socióloga, o Internetês não vai tão longe assim: “Na Novilíngua o objetivo é substituir qualquer outra língua, é impedir o crime do pensamento. Já o Internetês não pretende substituir a Língua Portuguesa, não serão reescritos todos os clássicos. As pessoas continuarão tendo acesso a língua formal. Vejo que o problema está em não saber a língua formal, está nos jovens que ainda não aprenderam se usa dois “s” ou cedilha. Mas isso é uma questão de grafia, não de pensamento”.

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“vamos dar uma espiadinha” A famosa “Vamos dar uma espiadinha” é do jornalista e apresentador do Big Brother Brasil, Pedro Bial. A escolha da frase para essa matéria foi por sua relação com o livro 1984, de George Orwell. O criador do reality show Big Brother, John de Mol, atribuiu ao livro a inspiração para o formato televisivo. O nome do autocrata Grande Irmão (em inglês, Big Brother) representa a figura simbólica de poder do partido. Ele, o Grande Irmão, está em todos os lugares e isso é evidenciado nos cartazes, onde está escrito “Big Brother is watching you” (em tradução livre, O Grande Irmão está olhando você”).

Franz Johanseen (Germany) @RoyaltyFree

BIG BROTHER E ORWELL

Entrevista

Marcos Greicke o Wolverine brasileiro Matéria e Diagramação: Leandro Povinelli

Em 1973, o escritor Lein Wein, acompanhado do diretor de arte John Romita e do desenhista Herb Trimpe, não poderiam imaginar a importância que o personagem secundário criado para a edição #180 da história em quadrinhos Incredible Hulk alcançaria algum tempo após a publicação. Tornando-se um dos mais adorados personagens do Universo Marvel, Wolverine, que, além das histórias em quadrinhos, ganhou as telas do cinema e diversos jogos de videogame, figura como o anti-herói mais popular dos gibis a cada edição lançada no mercado. Tendo fama de durão, o carcaju é um mutante que não leva desaforo para a casa. Com poderes de regeneração e um

esqueleto de adamantium, Wolverine enfrenta todos os desafios propostos, preocupando-se apenas em continuar vivo para ver o dia seguinte. Mas, se você pensa que o mutante só dá as caras nos quadrinhos ou nas telas do cinema com o ator Hugh Jackman, você está bastante enganado. No Brasil, Marcos Greicke saiu da vida comum para mergulhar nas histórias fantásticas dos quadrinhos. Trabalhando como sósia oficial do personagem aqui no país, Greicke concedeu uma entrevista ao Ágora e não teve medo de mostrar as garras, falando sobre o começo de sua carreira, os filmes baseados nas histórias em quadrinhos, política e muito mais.

Arquivo pessoal

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Jornal Ágora: Quando você notou que era parecido com o Wolverine e resolveu entrar para essa área de sósias? Marcos Greicke: Faz uns quatro ou cinco anos. Na realidade eu sempre fui fã dos X-Men e, principalmente, do Wolverine, mas nunca tinha pensado em virar um sósia dele, tanto que eu usava um cabelão até o meio das costas. Um dia decidi cortar e fiz um penteado meio parecido com o do Wolverine, daí um amigo meu olhou e disse que eu tinha ficado a cara do Logan, me aconselhando a investir nisso e dizendo que eu ia me dar bem. Foi o que fiz, e graças a Deus consegui chegar aonde cheguei. JÁ: Além do trabalho de sósia você exerce outra atividade? MG: Eu trabalhava com comunicação visual, mas, atualmente, é só o trabalho como sósia que me sustenta. Trabalho bem mais, mas vale muito à pena. JÁ: Quais foram as maiores dificuldades para você se tornar o Wolverine Brasileiro? MG: Para falar a verdade, até que não tive muitas. Sempre tive muitos amigos que acreditaram em mim e me apoiaram, me ajudaram com as roupas, com as garras. Isso foi muito importante: pessoas que acreditaram em mim. E a primeira oportunidade não demorou muito, foi num evento de história em quadrinhos em que estavam convocando sósias de personagens. Do Wolverine tinha eu e mais um cara, mas

quando ele me viu, ele mesmo assumiu que eu era o Wolverine e acabou desistindo. JÁ: Além do Carcaju, você tem outros super-heróis favoritos ou é só o Wolverine que importa? MG: Gosto muito do Super-Homem, se eu não fosse o Wolverine, com certeza iria querer ser o Homem de Aço [risos] JÁ: A gente sabe que a cronologia do Wolverine nos gibis é meio fora de ordem, então conte para gente o que você acha de toda essa bagunça que é feita... MG: Eu acho que isso é um diferencial e um dos principais motivos de ele ser tão querido. No começo, quando eu lia as historias do Wolverine e algumas partes do passado dele eram reveladas, eu ficava sempre maravilhado, era o personagem mais misterioso e eu ficava louco para saber tudo, então queria comprar todas as histórias sobre ele para não perder nada, foi meio que criado um misticismo em volta dele, diferente do Super-Homem, por exemplo, que, logo no primeiro volume, já sabemos que ele é de Krypton, que o pai dele o mandou para a Terra antes do planeta explodir, e que ele tem super poderes para voar, super força, etc. O Wolverine não, só fomos descobrir a origem dele, relativamente, há pouco tempo, e eu acho que isso é um diferencial. JÁ: O que acha dessa superexposição do Wolverine, que vive aparecendo em tudo quanto é

capa da Marvel? Você não acha que isso pode cansar os leitores e prejudicar o personagem? MG: Não sei se pode cansar os leitores, pelo menos eu não me canso [risos]! O Wolverine é, de longe, o mais conhecido e querido personagem da Marvel, por isso o usam direto, mas não, não acho que pode cansar os leitores. JÁ: Agora vamos falar sobre uma coisa que muitos fãs de quadrinhos odiaram: as adaptações cinematográficas. O que você acha dos três filmes dos X-Men e do filme solo do Wolverine? MG: O primeiro filme dos X-Men eu acho que foi mais para ver como o público ia receber a adaptação, eu acho ele até que bom, o visual dos personagens está bem legal e o roteiro até que é aceitável. A partir do segundo, eu acho que eles quiseram explorar mais e acabaram fazendo as cagadas. Claro que há partes muito boas como o Wolverine matando geral naquela parte da mansão e o começo com o Noturno invadindo a Casa Branca. Já o terceiro eu acho o mais cagado [risos], aquela arma que transforma o mutante em um humano instantaneamente eu achei ridícula. E o Noturno? Sumiu do nada. A única coisa boa é o Ciclope morrendo [ou não, risos]. Concluindo, eu não acho a sequência X-Men de todo o mal, poderiam ter feito algo surpreendente, como fizeram em Cavaleiro das Trevas, mas acabaram estragando muitas partes. Sobre X-Men Origins: Wolverine,

temos um grande problema aí. Quem já leu a HQ Origem sabe do que eu estou falando. Os roteiristas não devem saber o que significa a palavra ‘origem’, só pode ser isso [risos]. Onde está a historia de como James Howlett se tornou o Wolverine? Está nos primeiros minutos do filme e bem corrida. O resto é uma grande porradaria sem sentido. Parece que eles quiseram enfiar tudo quanto é personagem que sempre quiseram colocar nos filmes mas nunca conseguiram. Se eles tivessem feito um filme só em cima da HQ, começando com a Rose chegando na mansão, conhecendo o James e o Cão, daí acontecer toda aquela confusão com o Logan e mostrar o James e a Rose fugindo, entende? Fazer algo muito bom em cima da HQ. Acho que aí sim ia ficar algo digno do Wolverine. JÁ: Se você pudesse escolher só um super poder, seria o fator de cura do Wolverine ou você escolheria algum outro? MG: Eu estava pensando, isso não combina com o Wolverine, mas algum poder mental poderia ser bem útil. JÁ: Pra finalizar, se você pudesse dar um “Snikt!”* em alguém hoje em dia, daqueles bem agressivos, em quem seria? MG: Ah, eu gostaria de distribuir uns bons “snikts” lá em Brasília! [risos]. *Onomatopéia característica dos quadrinhos, que aparece quando Wolverine utiliza suas garras.

“Saio da vida para entrar na história” A frase “Saio da vida para entrar na história” foi escrita pelo ex-presidente Getúlio Vargas (1883-1954) em sua carta de suicídio. Tiramos ela do contexto original e a experimentamos como pauta. A ideia é estimular a capacidade criativa, e não satirizar a frase.

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Ágora Na

Foto: Mariana Rudek

contra capa

A a r u t mis e r t n e e s o g ami os i c ó neg página 16


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