Revista Ágora 2011 - Edição 08

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Guarapuava - 2011 - Ed 8 . Ano 07

revista

Ă gora

e t u oca


ex-preguiça educação ex-preguiça poesia música

editorial

índice lutando pela paixão mais energia para mentes brilhantes

hair: the american tribal love

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jazz

música

dupla profissão

RG Francisco Brennand (Recife, 1927-)

as aventuras musicais da vera loca

alice ruiz

sem barro não tem graça

entrevista

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longe da civilização e próximo das nuvens

ex-preguiça games

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revivendo clássicos

eu que fiz

camisetas personalizadas

expediente

equipe ágora

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ser

diferente é normal Essa frase vem sendo bastante difundida nos últimos tempos. Os meios de comunicação lançaram mão de trazer a tona um assunto muito peculiar: a diferença. Afinal, qual é a graça de sermos todos iguais? As diferenças entre personalidades, gostos e pensamentos não nos tornam muito mais interessantes? Entre todas as discussões, a revista Ágora, também deseja mostrar o mundo através de outros olhos. Um mente brilhante, que percorre caminhos diferentes das outras mentes, que enxerga coisas ao seu redor como nenhuma outra vê. Pessoas com o QI mais alto que o ‘normal’, enfrentam naturalmente os estereótipos da sociedade. No entanto, o que é realmente verdade e como esses jovens se comportam? São tão ‘diferentes’ assim? O Ágora encontrou um grupo de alunos muito especiais em Guarapuava e tivemos o prazer de conviver com eles por um tempo. Você vai conhecer um pouco da rotina deles e saber como se sentem esses jovens que desenvolveram habilidades pouco comuns na sociedade atual. E se não bastasse esse estereótipo a ser quebrado, nas próximas páginas vocês poderão encontrar a história de uma mulher que desfaz com antiga imagem feminina de inocência e fragilidade. Representando a personalidade de quem vai a luta (literalmente) todos os dias para ser reconhecida dentro e fora dos tatames por sua força e competência. A oitava edição da Revista Ágora está em suas mãos para romper paradigmas. Você esta preparado?


ex-preguiça

Imagem: Gabriela Titon

" Eu vou pela paixão. Adoro adrenalina. Estar no vestiário esperando a luta... A hora que você sobe na luta e vê tua adversária, só você e ela, você sabe que ali é o momento "

Michele Larissa Bonassoli

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ão aç m ra n ag ito i e d la T ia rie r é b at Ga M

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Socos, sobretudo. Força, adrenalina, dor, exaustão. Em ringues, tatames e octógonos, espaços considerados preferencialmente de homens, a determinação de ultrapassar a própria resistência é compartilhada pelos sutis punhos femininos. Com os olhos brilhantes ao falar da carreira iniciada há oito anos, a guarapuavana Michele Larissa Bonassoli é um exemplo de que nocautear é para todos. Aos 24 anos, mostra de forma convicta que o direito de usar as famosas luvas vermelhas não é restrito somente a um gênero. Ela afirma, sem pensar duas vezes, que o esporte é a sua vida, o espaço onde se encontra. Ou melhor, a sua “praia”. Na adolescência, começou a praticar handebol no colégio. Quando concluiu o ensino médio, conheceu o muay thai e, desde então, não parou de treinar. Também transita entre o boxe, o jiu-jitsu e, em 2011, participou de sua primeira luta de MMA (Mixed Martial Arts), o popular ‘vale tudo’. Graduada em Educação Física, dá aulas transmitindo o que sabe em artes marciais para quem está começando, já que outra de suas paixões é ensinar. “Adoro dar aula. Ver uma turma grande e falar ‘faz jab direto, jab cruzado’”. Sua primeira luta foi após quatro meses de treinos. Ela relembra que, mesmo tendo perdido a disputa inicial,

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Foto: Gabriela Titon

percebeu que poderia se encaixar no esporte. No segundo semestre deste ano, na mesma época em que o Rio de Janeiro sediou o UFC (Ultimate Fighting Championship), Michele comemorou sua vitória em uma competição também de MMA, na mesma cidade. “Foi uma adrenalina muito grande. Acho que a adrenalina maior não foi estar no Rio, mas dentro de um octógono e colocar aquela luvinha, que é totalmente diferente do que já tinha feito. A adrenalina maior foi quando entrei no octógono e caiu a ficha. Pensei: ‘estou lutando vale tudo no Rio de Janeiro’”. Agora, pretende disputar a modalidade outras vezes, quando houver oportunidade. Antes, tinha receio do MMA. “Tinha um pouco de medo do vale tudo. Venho do muay thai, que tem mais técnicas em pé, e não no chão. Estava treinando jiu-jitsu, porque se você não souber jiu-jitsu, não pode lutar vale tudo. Penso em lutar vale tudo, mas vou sempre na minha praia, que é muay thai e boxe”. Outra satisfação na cidade maravilhosa foi ver alguns ídolos de perto, na areia de Copacabana. “Os caras que você se espelha, assiste os treinos tentando fazer igual, e de repente vê eles ao vivo”. No final de 2011, Micheleenfrentou grandes desafios:

um na Argentina, de boxe, e o outro no Paraguai, de kickboxing. “A de boxe valeu o cinturão mundial, é da WBO [World Boxing Organization]. Se eu ganhar esse título de boxe, acho que minha carreira vai despontar [as lutas ocorreram após o fechamento desta edição], é isso que estou buscando. Você começa com lutas pequenas, para mostrar que tem o dom. E

quando aparece uma luta dessas, você batalha bastante para ganhar e mostrar ao mundo inteiro que tem qualidade para lutar”. Dependendo do caso, é preciso buscar patrocínio para viajar – uma tarefa que exige tanto esforço quanto as lutas. A Prefeitura de Guarapuava, por meio da Secretaria de Esportes, ajuda a custear despesas como passagem e alimentação. Contudo, segundo Michele, existem esportes tradicionalmente mais incentivados. Por enquanto, o setor de lutas está despontando. O auxílio financeiro por parte de empresas também ainda é restrito, principalmente para mulheres. “Só de lutar, não tem como sobreviver. Até porque uma mulher não pode lutar mais que duas vezes por mês: sai muito machucada, é muito contato físico, é perigoso”. Às vezes, são dois ou mais meses sem participar de um torneio. Uma das formas de auxiliar a prática esportiva é por meio do Bolsa-Atleta, concedido pelo Governo Federal. Contudo, de acordo com ela, o programa é muito concorrido e, conforme o ano, o valor não é liberado a determinadas categorias. Nas viagens, em algumas situações a hospedagem é paga pela organização do evento, mas o hotel é “complicado”,

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Foto: Gabriela Titon

como fala Michele. “Por isso é bom ter um dinheiro extra, para não ficar num hotel tão ruim. O atleta precisa de um lugar melhor, até para estar mais concentrado na hora da luta, e por questão de saúde mesmo”. Para manter o ritmo, os treinos são diários, divididos em três turnos. No sábado, algo menos puxado. E, aos domingos, o merecido descanso. Quando alguma luta se aproxima, a preparação é intensificada: são quatro ou cinco horas por dia, intercalando a parte técnica, aeróbica e musculação. “Aumenta bem mais a carga de treinamento e muda a alimentação. Na maioria das vezes, precisa perder um pouco de peso,

definir e estar com o músculo mais preparado. A parte técnica é mais afinada, precisa se concentrar mais e preparar o psicológico”. O processo é feito, geralmente, um mês antes da disputa. No entanto, existem ocasiões em que se recebe o convite para participar apenas na semana anterior ao evento. “Quando é uma semana, você treina até não aguentar mais. Mas acontece, então precisa estar preparado. A resistência, não se ganha de um dia para o outro. No boxe são dez rounds de dois minutos, é cansativo. Para conseguir uma resistência boa, tem que estar treinando para aguentar todos os rounds”. A falta de valorização da prática esportiva, como relata Michele, é um dos empecilhos. Entretanto, assim como no filme Menina de Ouro, dirigido por Clint Eastwood, ela batalha como a pugilista Maggie para que a situação se inverta. “Espero, por exemplo, que quando eu ganhar uma luta, que as pessoas venham falar comigo. No UFC, a mídia procura o cara, ele não vai se preocupar em dar entrevista. Isso é o que eu espero. Aqui em Guarapuava, espero um dia ser bem reconhecida, ter um patrocínio legal das empresas. Porque Guarapu-

ava está crescendo, tem várias empresas, e elas têm condições de incentivar os atletas daqui”.

Poder feminino

“Ainda tem preconceito, e muito”. Na opinião de Michele, algumas pessoas acreditam que o esporte que pratica é apenas violência e não aceitam a ideia de “bater no rosto de uma mulher”. No Brasil, segundo ela, a falta de aceitação é maior. Em países como a Alemanha e a África do Sul, nos quais já esteve disputando títulos, as mulheres são incentivadas a competir. “Aqui, é complicado até a parte de treinar. ‘A mulher treina muay thai, vai ficar musculosa’. Não é isso. Prin-

cipalmente porque ajuda na saúde. Não é só bater e levar soco. Você não entra na academia para apanhar. Se lutar para competir, tem um contato físico maior, claro. Mas se quiser só treinar na academia, é tranquilo, não é violência, não sai roxo e com sangue. Se assistir uma luta como no UFC, o cara sai sangrando e quebrado, mas na academia não acontece isso, jamais”. A guarapuavana treina constantemente com homens, e confessa que, às vezes, leva alguns socos “mais pesados”. Mesmo assim, vê a convivência como uma forma de evoluir. “Se for lutar com

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Foto: Gabriela Titon

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uma mulher de fora, da Argentina, por exemplo, ela tem uma parte técnica muito avançada. Então, para mostrar um trabalho bom, tenho que treinar com os caras”. Ela percebe que ainda é improvável que o maior combate de MMA do mundo abra espaço para batalhas femininas, mas não impossível. “Por enquanto, é bem difícil. Até porque existem outras entidades femininas, mas não são tão conhecidas. Mas, quem sabe um dia, vamos lutar lá e aparecer na TV...”. Quanto à feminilidade, é besteira pensar que ela perderá espaço. Para o professor de artes marciais André Rodrigues Espírito Santo, a intolerância com mulheres lutando diminuiu bastante, principalmente devido à divulgação da mídia. Contudo, ainda há muito a se fazer. “Hoje em dia se tem outra visão do esporte. Está bem melhor do que antigamente”. Segundo ele, não importa a idade ou o gênero, já que os objetivos são parecidos, principalmente se a prática não tiver finalidade profissional. Seja para competir ou não, a orientação é ser persistente. “O grande conselho é o treino. Treinar e se dedicar. O principal é a vontade, não desistir. E também procurar pessoas responsáveis para ensinar”.

Outro exemplo de paixão pelo esporte, mesmo sem entrar em competições, é a auxiliar administrativa Raquel Begnini, de 33 anos. Em janeiro, cansada da rotina de musculação, ela experimentou o muay thai. Agora, faz aulas quase todos os dias. “Não vivo mais sem o muay thai. O resultado está sendo excelente, tanto na parte física quanto mental. É minha válvula de escape”. O filho, de 11 anos, e o marido fazem jiu jitsu; assim, um anima o outro. “Quando você faz algo que gosta, e que dá um resultado bom, vira uma paixão. O muay thai é uma paixão para mim, não troco por outro esporte”. Assim como Michele, ela também vê o preconceito. “Principalmente por parte das pessoas que não conhecem realmente o que é o muay thai. Muitos pensam que é violento, acaba se machucando, mas não é nada disso, porque os treinos são feitos por profissionais”. Ela conta que seu carinho pelo muay thai a faz divulgar frequentemente o esporte e convidar outras pessoas a participar. “A nossa cultura ainda é machista. Mas na Tailândia, por exemplo, as meninas lutam muay thai desde criança. Então, depende do lugar e do interesse pelo esporte”.

Família

Pelo tom de voz de Anadir Bassani Bonassoli, a preocupação com a filha é evidente. No início, não aceitava a escolha, mas, como conhece a persistência de Michele, teve de se habituar com a ideia. “No começo, tentei dizer que isso não era para mulher, mas ela gosta. Sempre foi gostando mais, e cada vez que é chamada para competir se empolga. Então, precisei acostumar”. Mesmo tendo acolhido a ideia, a aflição da mãe é grande a cada disputa. “Sempre que tem uma luta fico pensativa, tenho muito medo de ela se machucar. Fico preocupada até ela chegar e ver que está tudo bem. A gente torce para que não aconteça nada e para que ganhe. Fico tensa até saber o resultado”. A aflição materna faz algum sentido. Michele comenta que nunca se feriu gravemente “com cortes ou ossos quebrados”, mas, certa vez, teve um pequeno imprevisto em uma luta de boxe, na Argentina: “Fiquei 60 dias sem poder encostar na cabeça, porque trincou meu céu da boca. Foi feio, se ver o raio-x, dá até medo. Nessas horas, você se preocupa. O boxe é muito contato, só no rosto e na parte da cin-

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tura, não pode usar chute. O vale tudo, que usa aquela luvinha, corta mais superficial, e o boxe, por ser a luva mais grossa, mexe dentro do cérebro mesmo”. Ao contrário de dona Anadir, o pai de Michele sempre gostou de ver lutas. Auri Bonassoli conta que quando era menor e morava no interior, ficava “doido” ao assistir transmissões de vale tudo pela televisão. Ele aprova a decisão, porque acredita que cada um tem de fazer o que gosta. “O que eu queria fazer, não consegui. Então, não é justo

O vale tudo, que usa aquela luvinha, corta mais superficial, e o boxe, por ser a luva mais grossa, mexe dentro do cérebro mesmo”

dizer para alguém não fazer o que quer, prefiro não interferir. O esporte é uma coisa boa. É meio bruto, já fui diversas vezes assistir, mas ela sempre gostou. O que puder fazer para ajudar, faço. Quando ela viaja longe, fico muito preocupado. Sempre que posso acompanhar, quando é mais perto, eu vou. É difícil assistir, porque é muito chute, muito soco... Mas é o esporte”. O pai afirma que, atualmente, as mulheres estão competindo de igual para igual com os homens. Para ele, é assim que deve ser: todos podem lutar e têm direito a vitórias. Incentivador, Auri se sente satisfeito com as conquistas da filha. “Tenho bastante orgulho. Principalmente quando

ela dá entrevista, as pessoas comentam comigo sobre ela. A mesma quantia que ela está feliz de contar aonde foi, a gente também fica feliz por ela”. Entre os seis irmãos, um deles, que pratica fisiculturismo, ajuda na suplementação alimentar de Michele. Além disso, sempre alertou para a necessidade de fazer musculação. “Tem até treinos de academia que ele me passou. E percebi que com a academia junto, ajudou bastante a desenvolver a minha parte física, para ter um condicionamento melhor nas lutas”. Outro dos irmãos está servindo ao Exército. O pai, que tem uma marcenaria, também gosta de “fazer força”, como relata Michele. “Acho que está no sangue fazer força”.

Foto: Gabriela Titon

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educação

Mais energia para mentes

BRILHANTES

Arte: Rosana Grande

Albert Einstein, Bill Gates, Mozart, Leonardo da Vinci, Freud, Galileu Galilei... Ao pensar em figuras como estas, é natural que o imaginário automaticamente construa a figura de um gênio, com brilhante capacidade intelectual e distante de nossa realidade. No entanto, poucos sabem que existem pessoas com potencial semelhante ao dessas personalidades aqui mesmo, em Guarapuava. E foi pensando em pessoas assim que a sala de recursos especiais no colégio Manoel Ribas foi criada, com o intuito de estimular e aproveitar todo o potencial de jovens com altas habilidades, os chamados superdotados. A iniciativa partiu do núcleo regional de educação do município, sendo a primeira na região. A sala começou a funcionar em maio deste ano e hoje possui oito alunos, entre 13 e 17 anos, que participam no horário de contra-turno escolar.

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Matéria e diagramação: Luciana Grande

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Isso e aquilo

Geralmente um aluno superdotado é identificado primeiramente pelo professor. Tal como é possível constatar que alguém tem dificuldade na aprendizagem, também pode-se perceber quando uma pessoa possui capacidade intelectual elevada. De acordo com Niceia Martins, pedagoga e professora da sala de recursos especiais, existem dois tipos de alunos superdotados: o acadêmico e o produtivo criativo. O acadêmico geralmente é identificado pelas notas, visto que ostuma ser bom em todas as matérias escolares. Ele pode até ter alguma área de interesse específica, em que se destaca ainda melhor, mas é bom em quase tudo que faz. “Se o aluno tem um histórico escolar fantástico o professor já começa a observar as suas habilidades especiais”, explica a pedagoga.

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Já o produtivo criativo se destaca em uma área específica. É como se o cérebro concentrasse as capacidades em apenas um tema. “Às vezes, um aluno faz desenhos fantásticos, mas na área escolar ele tem dificuldade, tira notas baixas... É assim que acontece com um produtivo criativo”. Niceia comenta também que alguns professores demoram para compreender essa condição, já que nem sempre estão preparados para isso. Dentre os participantes da sala de recursos especiais de Guarapuava, sete são superdotados acadêmicos e apenas um é produtivo criativo. Além disso, embora esteja situado no Colégio Manoel Ribas, a sala atende alunos de toda rede estadual, desde a 5ª série até o 3º ano do Ensino Médio.

Às vezes nem eles mesmos sabem que possuem habilidade em determinada área A importância de estar lá É muito importante que esses jovens com habilidades especiais tenham um acompanhamento diferenciado, já que, dessa forma, é possível aproveitar de forma mais concreta o potencial que eles possuem. “A gente procura explorar e aproveitar ao máximo a capacidade que os alunos têm para gerar benefícios para eles mesmos e para a sociedade, por meio de projetos individuais e em grupo”, complementa Niceia. A pedagoga explica que o papel do professor em relação a esses alunos é o de buscar alternativas para que eles possam colocar em prática os projetos que desenvolvem, como parcerias com pessoas especializadas no tema escolhido. No entanto, durante a pesquisa, os jovens fazem quase tudo sozinhos. Além dessas pesquisas e projetos, a sala de recursos também oferece oficinas em diversas áreas, como música, artes, história, química e informática. Niceia ressalta que “às vezes, nem eles mesmos sabem que possuem habilidade em determinada área, mas quando começam a participar de algum projeto e oficina percebem que podem desenvolver aquela capacidade, porque o QI deles é acima do padrão”.

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Foto: Luciana Grande

É interessante o fato de que eles mesmos não vêem diferença entre si e as outras pessoas. Niceia conta que vários deles nem sabiam que eram pessoas superdotadas. Portanto, não tiram proveito da condição intelectual privilegiada, pelo contrário, são muito reservados e humildes em relação a isso. Outro aspecto importante a ser ressaltado é que, caso seja identificado como um aluno com altas habilidades após ser avaliado e passar nos testes, o jovem não é obrigado a participar da sala de recursos especiais. É um serviço que visa complementar o aprendizado além do horário normal de aula. Entretanto, Niceia conta que todos que participam gostam muito de estar lá. “Quando eles vêm não querem ir embora. Até quando chove muito estão aqui, porque o que fazemos envolve a área de interesse de cada um”. Por outro lado, a pedagoga comenta que o número de pessoas atendidas ainda é pequeno, visto que a sala tem suporte para 20 alunos, mas hoje há apenas oito, levando em conta toda a rede estadual. De 3% a 5% da população possui altas habilidades, uma porcentagem relativamente alta, mas poucos têm conhecimento sobre isso. Ao mesmo tempo, há também quem confunda superdotação com dedicação. “Às vezes alguns alunos não passam no teste para fazer parte da sala, porque acham que ele é superdotado apenas por ser esforçado, dedicado”.

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Lennon tem 13 anos e está na 8ª série do Ensino Fundamental. Ele foi acelerado da 5ª para a 7ª série. “Eu não tive medo de pular dois anos, nem de não conseguir acompanhar. A 5ª série estava sendo bem maçante para mim”. Ele conta que aprendeu a ler sozinho quando tinha apenas três anos de idade. O pai percebeu isso porque, quando saiam de carro, Lennon lia as placas e outdoors na rua. Além disso, o próprio pai de Lennon levou o filho até Curitiba, em 2009, para que ele fosse avaliado, já que sempre trabalhou com educação especial. “Quando eu tinha três anos, estudava em uma escolinha em que as professoras guardavam todas as atividades feitas pelos alunos em uma pasta. Aí eu abria essa pasta, lia tudo que estava lá e ia contar pros meus coleguinhas”.

Foto: Luciana Grande

LENNON

Quem são eles?

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ANA MARIA Ana Maria tem 14 anos de idade, cursa a 8ª Série e é do tipo superdotada acadêmica. Sua principal área de interesse é a música, especialmente o piano. Apesar de não ter um instrumento desses em casa, pratica em um teclado, ela toca piano há mais de um ano e tem como objetivo aperfeiçoar cada vez mais essa habilidade. “Eu gosto de piano desde que era pequena, só não comecei a fazer curso antes porque minha mãe não tinha dinheiro. Mas ano passado eu comecei a fazer aula”. Caso tenha oportunidade, o sonho da estudante é seguir carreira como pianista.

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FERNANDA

Foto: Luciana Grande

Foto: Luciana Grande

Não me sinto diferente de das outras pessoas, nem melhor do que ninguém

Fernanda tem 14 anos, está cursando a 8ª série do Ensino Fundamental e é superdotada acadêmica. Suas principais áreas de interesse são matemática e música, já que toca clarinete na banda da escola. Foram os professores que perceberam a sua superdotação, porque suas notas sempre foram muito boas. Apesar disso, ela mesma nunca pensou que era uma pessoa com altas habilidades. “Eu não me sinto diferente de das outras pessoas, nem melhor do que ninguém. Eu acho que todo mundo poderia ser como eu, bastaria que se dedicasse em alguma coisa que gosta para aprender rápido”. Ela gosta muito da sala de recursos do colégio Manoel Ribas, porque, além de aumentar o seu conhecimento, pode trocar ideia com os colegas sobre diversos assuntos.

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o atad onst voc i e fo o do álise variaçã s passan a para de uma ofessore fazia a dos r va a v e l rata vo. “Os p ro e ele bulário t e m s te que ário esla no quad a o voca erado ma, ér u t M par nsid da s abul téria elho o Ensino ante c m a ma ultânea a ser co s pessoa v s i m d t a u a a i s a s v o o m a éb bilid meç rque 3º an ução léo fia, trad Aí ele co lema, po altas ha Ozie está no interesse , filoso de ele. tinha prob etc. logia nos e por 17 a ua área s, mito lfabetos , pelo d aluno que ele sora. ivros ém l m a S a s o m u u l 0 e . a s g f p i b ro lín mb dio e 2 seu em ntigos ão sa a a p cerca d tigas, ta r ex ica: as e n exót as antig ado, po pelos a logia n s”, cont a ê o e r uas m l in o. to cultu e é fasc , utilizad pela mi néis. d O jove das líng s e russ ê l A o l m E ing dos únic sbém , alé eto r s e tam Senhor la de hi . ano e mínio de b a f l u e o o a o a d ânic muit em d nha utor germ na, do a eu só ti gostava mina- t a lu ie tolki a 4ª sér á e não rie fui i scobri n é s é a t r a . o de 5ª “A do P guei na o, quand i demais” a i r ã e e t tó t h o n s i cr u s go do c ia. E Quan la histór s clássico mesmo guês, o e tu le do p s alfabet disso, e ra o por . See a l cia p o aque razã daptado já conhe foram m E ziel ais to a fabe e nos qu tos de O l a x um ndo-s os te a base Niceia, o gund

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Foto: Luciana Grande

OZI

TIAGO Tiago está na 8ª série e tem 14 anos. Ele conta que gosta de todas as matérias escolares, mas se destaca melhor na área de ciências exatas, como matemática, química e física. Em razão disso, pretende desenvolver um projeto de uma calculadora adaptada ao celular para executar fórmulas matemáticas mais complexas, como equações de 3º grau. “Eu vou realizar pesquisas nessa área pra descobrir que tipos de tecnologia eu vou precisar usar, com base no sistema Java, próprio para celular mesmo. Eu descobri com o Excel que eu poderia criar, através das variáveis, outras funções, como é o caso de uma calculadora”. Tiago vê na sala de recursos especiais a oportunidade de desenvolver as suas capacidades, comunicar-se, discutir a respeito dos temas que cada um gosta, desenvolver projetos e ter assistência pra isso.

Foto: Luciana Grande

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FERNANDO

Fernando é o único da turma dos jovens com altas habilidades que possui características de superdotado produtivo criativo e foi o primeiro caso avaliado em Guarapuava. Apesar de não tirar notas máximas em todas as matérias da escola, a sua habilidade específica é em história, principalmente no que se refere à história da televisão no Brasil. Quando a turma joga o “Quest Video Show”, Fernando sempre vence todas as vezes, os outros alunos nem gostam de competir com ele. “Perceberam que eu era assim quando eu tinha dois anos, porque eu aprendi a ler com essa idade, sozinho. Depois, aos sete, eu fui pra Curitiba, aí fizeram alguns testes e descobriram que eu era superdotado”. Atualmente o jovem está trabalhando em um projeto acerca de sua área de interesse – a história da televisão – e pretende desenvolver um almanaque, dicionário ou documentário.

ISABELA Isabela está na 8ª série e tem 14 anos. Ela é superdotada acadêmica e prefere áreas que envolvem criatividade, como desenho, pintura e artesanato. “Eu desenho desde que aprendi a manusear o lápis. Minha família percebia que eu tinha muita facilidade com isso. Eles chegaram a me matricular num curso de desenho uma vez, mas não fiz nem um mês de aula, porque não gostei”. Isabela está muito empolgada com o curso de desenho que vai haver na sala de recursos. “Eu gosto muito daqui porque nós temos a possibilidade de nos aprimoramos nas áreas em que temos facilidade, além de descobrir novas áreas de interesse”. Apesar de preferir temas criativos, Isabela é boa em todas as matérias escolares, basta observar o boletim acima.

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ex-preguiça

Longe da civilização e próximo das nuvens Matéria e diagramação: Bárbara Brandão Soares

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O pico mais alto do Sul do Brasil, com 1.877 metros de altitude, localizase no Paraná. Conheça a história e o estilo de vida de quem já enfrentou a trilha rumo ao topo.

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Rapel, escalada, salto de paraquedas, trilha... Essas são algumas das atividades esportivas que podem levar o ser humano a ir além do seu limite físico e psicológico. Mas o que essas pessoas buscam? Liberdade? Adrenalina? Desafiar o próprio corpo? À procura desses sentimentos, encontra-se o Pico Paraná, localizado entre Antonina e Campina Grande do Sul, distante 340 quilômetros de Guarapuava. A montanha é considerada a mais alta da região Sul do Brasil. Quando no topo, a bela vista permite enxergar a Serra do Mar. Para ter acesso ao Pico Paraná, os visitantes precisam percorrer uma estrada de terra até a chamada Fazenda Pico Paraná. O espaço é uma propriedade particular que existe para auxiliar os montanhistas que buscam orientações sobre equipamentos, condições climáticas, entre outros fatores necessários para uma boa escalada. A fazenda abriga, também, área de camping e uma casa de apoio com banheiro, estacionamento e lanchonete para os visitantes.

alturas Genética nas Rubens Francisco, supervisor de obras, morador de Curitiba, pertence ao grupo dos apaixonados por aventura. Antes de subir o Pico Paraná, fez outras trilhas, como Marumbi, Canal e Anhangava. O início da aventura ao Pico Paraná foi no dia 8 de janeiro de 2011, quando Rubens Francisco e seu filho Ray, de 12 anos, saíram da rodoviária de Curitiba. O objetivo era ir à fazenda PP para que no outro dia começassem a escalar o pico. Como o propósito era chegar próximo à fazenda, pai e filho tiveram que descer na rodovia 40 km depois da capital e pedir carona. “De lá, pegamos uma carona com um caminhão até a ponte do rio Tucum e fizemos os cinco quilômetros a pé. Chegamos à Fazenda do PP por volta de 16 horas, tomamos um banho de cachoeira e ficamos acampados”, conta Rubens. Na manhã do dia 9, a trilha começou. Os montanhistas de primeira viagem devem sempre estar atentos às condições climáticas. Pelo fato de o Pico Paraná pertencer à zona subtropical, na maior parte do ano a temperatura é abaixo de 0ºC. Rubens já tinha conhecimento do que poderia vir a acontecer. “Levamos oito horas até o cume. Foi perrengue, chuva, garoa, trilha molhada e escorregadia. Estava ventando muito, meu menino ficou protegido por pedras a cem metros do cume”. Em momentos como esse, é preciso ter calma e esperar o tempo melhorar.

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“ Normalmente, as trilhas são íngremes e dependem de um organismo preparado para aquele tipo de prática física, pois a chegada até o topo requer determinação. Contudo, como descreve Rubens, sempre vale a pena. “A sensação quando você chega lá no topo é de dever cumprido, liberdade total. Os instintos selvagens parecem que brotam num ambiente totalmente natural. Lá de cima, você só vê mato e montanhas. Quando chegamos o tempo estava fechado, com pouca visibilidade, chovendo... Mas abriu o tempo por duas horas e deu para ver tudo. Arrumamos nossa barraca e fizemos uma janta incrível: miojo e ba-

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con”. O retorno à ‘terra firme’ foi no outro dia, com o sentimento de conquista. A relação de Rubens com a natureza começou muito cedo, ainda na infância. O incentivo veio de seu pai, da mesma forma com que ele faz com Ray. “Sou de cidade do interior e passei praticamente minha infância em trilhas e pescarias. Meu pai gostava de caçar e pescar e nos levava junto. Sempre tinha um caminho novo para algum lugar”. O menino Ray já acompanhou o pai em outras escaladas. Rubens permite a companhia do garoto porque ele é escoteiro na cidade de Pato Branco, no Paraná. “Todas as férias de fim

de ano ele passa comigo, aí fazemos algumas trilhas juntos”. Entretanto, como todo pai, ele se preocupa com o garoto. “Eu não tenho medo de levar ele comigo nas trilhas, pois sempre fazemos tudo com segurança. Mas, às vezes, fico com receio de ele cansar, passar frio... Isso pesa um pouco, mas vamos sempre no ritmo dele e tudo dá certo”. Segundo Rubens, a mãe, mesmo estando longe dos passos dos dois, reage positivamente. “A mãe dele confia em mim e gosta que ele pratique alguma atividade, pois o menino tem muita energia e tem que descarregar. Melhor se for de uma forma saudável e acompanhado pelo pai”.

Quando a natureza dita escolhas Em meio a uma escalada, três amigos fazem uma promessa. “Em julho de 2008, quando subimos o Pico Marumbi, a mãe do Guto, que é um dos dois amigos que estavam comigo, veio a falecer enquanto estávamos na montanha. Diante disto, fizemos a promessa de subir a montanha mais alta do Sul do Brasil em janeiro”, relata o professor Paulo Angelo Fachin, que reside em Pitanga. O trio levou a sério a promessa e colocou-a em prática em janeiro de 2009. Os amigos, que já tinham prática em trilha, tiveram dificuldades nos primeiros dias da escalada. “Durante a subida, enfrentamos neblina o tempo todo nos dois primeiros dias, sem conseguirmos ver mais que dez metros na nossa frente. No terceiro e último dia de subida, o tempo amanheceu ensolarado e sem nuvens.” Quando aquele turbilhão de sensações toma o corpo e mente e você fica sem palavras, é sinal de que algo muito inédito está acontecendo. Foi isso que Paulo sentiu quando chegou no topo do Pico Paraná. “Eu busco até hoje a resposta para essa pergunta: ‘O que você sentiu quando chegou no topo?’. É só estando lá para saber qual a sensação realmente. Mas acredito que a sensação que mais se aproxima daquilo tudo é a de liberdade. É o melhor lugar que já encontrei para admirar a natureza, a vida, refletir, pensar e repensar sobre muitas coisas”. Assim como Rubens, Paulo tem uma ligação muito forte com a natureza, fato que influenciou em uma das principais decisões da sua vida. “Posso dizer que minha relação com a natureza é de extrema admiração, é uma busca constante por tentar compreender sua formação, dinâmica e a relação dos seus sistemas. Esse foi o principal motivo pelo qual optei pela graduação em geografia”.

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poesia

Matéria: Kaio Miotti

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Alice Ruiz

"à beira do insuportável essa qualidade rara ser insubordinável "

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"diante do mar três poetas e nenhum verso"

O primeiro passo é uma vitória: não gosto mais de pesquisar bibliografias do que pesquisar dentro dos outros. Então, o leitor terá que confiar em meu olhar dentro do olhar do outro pra que esse texto seja praticável. O tema? Poesia O enredo? Uma conversa com a poeta Alice Ruiz. O que responde? Nada. Talvez, haja aquela sensação que se tem olhando a cidade e sentindo que ela não é nem está para todos. Ao lado da poeta sentei-me acompanhado de alguns amigos, mais a “companheira de pauta” Keissy Carveli, e começamos a bater um papo. Alice, uma mulher tranquila e elegante, um flerte mavioso com o zen. A única mexa de cabelos brancos é revelada em sua franja, e é como um risco da velhice no passado que não volta. Autora de textos feministas desde a década de 70, quando questionada sobre seu conflito com as palavras poeta/poetisa, foi logo direta: “poetisa é a sua mãe! Eu sou poeta!”, completando: “vocês homens que mudem para poeto”. Conforme explicou a poeta, seu desacordo está na história: “poetisa dá a impressão que você só fala de flor, nuvem e borboleta...a expressão poetisa veio junto com uma onda de pressões sobre a mulher pra que ela voltasse pra casa, quando os homens voltavam da guerra e precisavam trabalhar, isso no século 20” Quer dizer, aí foi plantada a ideia de que ser do lar é uma maravilha. Alice ainda pergunta: “você não acha suspeito?”. A poesia não é algo que instigue qualquer submissão, muito pelo contrário, instiga a ressignificação, a respiração perante padrões impostos. Aqui, Alice pontua certeira: “quando eu batalho pela condição da mulher, tem a ver com o ser humano porque eu

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“ “

quando eu batalho pela condição da mulher, tem a ver com o ser humano porque eu entendi que não importa o que a gente diz pros filhos, o que importa é o exemplo que a gente dá.

entendi que não importa o que a gente diz pros filhos, o que importa é o exemplo que a gente dá”. Então, se há alguém submisso dentro de casa, as crianças tem chances grandes de também o serem, “e assim você convence o homem a usar gravata, criar profissões com as quais ele não se identifica”. Alice contou que agora tem mais um nome, Yuuka, que quer dizer ‘beleza perfeita da flor’, ao pé da letra, que foi a comunidade nipônica do Paraná que lhe homenageou assim, como uma grande haijin (fazedora de hai kai). Alice sempre fez hai kai, até mesmo quando começou a escrever, disse, eram textos parecidos com hai kai. Portadora de um olhar sobre a natureza, a poeta é uma

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espécie de fotógrafa que põe toda uma existência, uma cena em contato com o ser que a lê nesses três versos de cinco, sete e cinco sílabas poéticas, muitas vezes sem título. O hai kai é uma cena que nasceu dos três primeiros versos dum longo poema japonês chamado tanka - algo como uma história escrita à varias mãos. O hai kai é a síntese do tanka. Síntese da ideia, não a ideia. Como a mexa de cabelos brancos é uma síntese dos anos que sucederam à Alice, mesmo que, para mim, pareça recair no passado qualquer sinal de velhice da mulher, ela parece nascer... Quem sabe tenha algo a ver com o que disse sobre grata aceitação. Na filosofia zen, existe a grata aceitação, que não é uma aceitação passiva, mas

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"quem ri quando goza é poesia até quando é prosa"

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– podem ainda ser, ou no que se transformar. Essa conduta/ideia de grata aceitação zen foi algo muito em voga no chamado movimento beatnick, dos conhecidos escritores Jack Kerouac, Allen Ginsberg, Gregory Corso e outros. O movimento habitava pessoas que vagavam os U.S.A de carona para conhecer sua terra, sua gente, para que fossem iluminados com uma visão da América, em meio a praticas espirituais do oriente, substâncias alucinógenas e uma vontade de quebrar preconceitos em sua sociedade; como a existência existindo pra quem permitir tal realização.

"lembra aquele beijo corpo alma e mente? pois eu esqueci completamente"

gratidão de ter o que se tem porque melhor que não ter nada ou achar que não tem. Uma viagem profunda ao EU, ao Ego, para que estes possam ser afastados, para admitir a fraqueza do ser humano, e só então voltar-se para o mundo como o mundo é; ver as coisas como elas são, essa é a aceitação. A passividade é uma decisão pr’além disso. Então, lembra a sensação sugerida há pouco de que a cidade não é de todos? Pois é, a cidade parece estar vazia, mesmo cheia de gente e concreto. Mas as pessoas parecem não aceitar ver o caos em que se vive, ver como a cidade é paradoxalmente inabitável, fábula cruel. E por isso mesmo não vêem além, cegos para o que a cidade – e todos ali

Faltam Olhares Perguntamos à Alice se não falta poesia nessa linguagem funcional do cotidiano, do tipo quanto custa, ou oi, bom dia, etc. e a poeta disse que falta o lúdico, pois que a poesia pipoca a todo o momento à nossa volta. Foi aí a deixa pra um riso largo diante de Alice, pensando em como seria prazeroso uma outra linguagem, do mesmo jeito que as gírias são prazerosas; outras maneiras de se comunicar, com línguas diversas, dialetos, pintar os próprios quadros da realidade e do sonho. Poesia, linguagem e barato = gozo. Tesão. Olhares, faltam olhares. E você leitor, vai pousar teu olhar no meu? Mas o texto não diz pra que se enxergue tudo ao mesmo tempo, isso é impossível. Enxergar uma coisa de cada vez e de cada jeito, e acumular essas visões, parece mais sensato. Na ânsia de devorar não se pode ser devorado. Dizer somente o

necessário, outra ideia zen. Sem excessos. E nós que somos julgados, devemos saber como e porque do julgamento? E a língua/gem é um dos critérios? Isso surpreende? Então, pense que o leitor, eu e todo mundo também julga, quer dizer, limita. O hai kai é focado na natureza, mas não é uma poesia que fala de flor e borboleta debilmente. A mulher não é necessariamente para o lar, nem o homem para usar gravata. A linguagem é para se comunicar, para se expressar, livremente interagir no espaço em que existe e com o que ou quem existe. O preconceito, a mesquinhez e a dificuldade de enxergar o entorno é essa falta de olhar, que, aliás, a poesia cura. Vem o zen, como várias filosofias, e diz: aprenda sobre você e os outros. Vem a poesia, o hai kai e apresenta você a você e aos outros. Agora, o que fazer disso, é decisão de cada um.

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música

J

azz

O assunto é Jazz, mas é importante lembrar que a espinha dorsal de tudo o que tratará esse texto é o blues, manifestação musical nascida com os negros norteamericanos, que, aliás, está presente sem dúvida até os dias de hoje no rock and roll, por exemplo.

No jazz

Matéria: Kaio Miotti Mas, antes, para explicar as palavras de Berendt, há que se falar que o jazz se define pela diferença em relação à sonoridade da música tradicional europeia, por nascer do instrumento (ligada à técnica utilizada para cada instrumento), e por um confronto entre uma base folclórica e uma forma de expressão de vanguarda. Há ainda os que dizem que o jazz não é algo que se toca, mas como se toca. A exemplo disso, encontramos o pianista Jelly Roll Morton (1885-1941), o cara que tinha um cartão de visita assinado “criador do ragtime” Foi Jelly Roll quem trouxe a individualidade, isto é, a criatividade individual para temas de ragtime, interpretando-os à sua maneira de tocar. O ragtime contém diversos elementos da música clássica europeia, como Chopin e Lizst, mas adaptados a outra realidade histórica, a dos negros norte americanos do começo do século 20. Essa quebra temporal que caracteriza o próprio nome: ragtime = ragged time = “tempo destruído”. A realidade de Jelly Roll Morton, enquanto músico, era a da Lei Seca norte-americana. Os bares proibidos, a prostituição proibida, a vida noturna e tudo que fazia parte dela como caminhos a não serem seguidos pela sociedade. Jelly Roll foi um dos tantos músicos ‘patrocinados’ pelo tráfico, quer dizer, é onde podia tocar. O que acentua o controle social e moral sobre o jazz é a questão racial, já que nesses guetos a grande maioria era negra, descendendo de escravos. Ou seja, o jazz era a ‘evil music’, ou música do diabo, como preferirem. O que nos ressalva novamente a questão da liberdade de improvisação: improviso para viver, para tocar; a liberdade à tona.

não há modismos,

há estilos Joachim E. Berendt

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Não! jamais, nessa sociedade branca europeia o negro ou sua musicalidade seriam privilegiados, isso nos E.U.A, um país livre, de gente livre. Irônico, não? É blues, o shout, cantolamento. E onde nasce o jazz? Em Nova Orleans. Lá onde franceses, espanhóis, ingleses e negros viviam como num saco de gatos, convivendo também suas tradições musicais. Os franceses com suas chansons, os ingleses e suas folksongs, os espanhóis e suas danças, os alemães e suas marchas prussianas, e os negros com seus shouts (cantoslamento), suas danças, seus ritmos. Isso é o que chamam de Gumbo, nome dado à uma sopa típica de New Orleans, uma

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Desde o início o jazz cumpriu um papel muito funcional, sobretudo na sociedade norte americana ligada ao entretenimento e ao consumo”.

O jazz não é fácil de ouvir, talvez até por isso há o embate se é erudito, se é popular. Uma busca exaustiva foi feita pra que esse texto chegasse até aqui. Então achei Tom Jobim, num vídeo postado no youtube, em que o maestro diz que jazz, antes de tudo, é uma expressão que significa balanço, suingue. Aí Jobim abre dizendo que a bossa nova quis negar a brasilidade dos pandeiros mais balançados, quebrar o tempo num outro suingue.

mistura tão característica de ingredientes como o sabor das notas do jazz. Enfim, clareando a ideia de que no jazz não há modismos, e sim estilos, há que se notar a importância de cada estilo dentro de cada contexto, resumido aqui assim: o swing é a estandardização do estilo de vida norte-americano, os pares de dança frenéticos no salão, sob o som das big bands, de Benny Goodman; no bebop os intranquilos anos 40, as casas de jazz, as disputas entre os músicos, heroína, Charlie Bird Parker; no cool-jazz o homem quase tranquilo, vivendo bem, mas sabendo que a bomba de hidrogênio esta sendo construída; e o hardbop, com uma violência consciente, cheia de protestos, culminando nas ideias revolucionárias dos anos 70. O jazz é então popular no sentido de estar ligado imediatamente a condição de vida das pessoas. Mas trocando e-mails com Rodrigo Czajk, doutorado em Sociologia pela Unicamp, que estuda o jazz há quase vinte anos, descobri outro sentido para o popular no jazz: o entretenimento, o mercado. Como Rodrigo disse: “desde o início o jazz cumpriu um papel muito funcional, sobretudo na sociedade norte americana ligada ao entretenimento e ao

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consumo”. Foram os Storyvilles, bairros que continham casas noturnas de diversão, onde a trilha era o jazz. “Ë bobagem querer proteger o jazz dessa dimensão. O que ocorreu durante os anos 1950/60 foi uma politização de algumas correntes jazzísticas, o que favoreceu leituras mais compromissadas (ideologizadas) de suas propostas”. Salienta ainda que, para ele, “não foi simplesmente ouvir jazz a fim de curtir uma música alternativa e reforçar a identidade juvenil contrária ao gosto consolidado. Eu queria ouvir e estudar, entender, compreender escolas, movimentos, hierarquia de músicos e estilos desde fins do século XIX até o final do século XX.” Assim, o jazz se apresenta como qualquer outra manifestação artística cultural, complexa e apaixonante. Dá-lhe biblio, bio e discografia então! O jazz não é fácil de ouvir, talvez até por isso há o embate se é erudito, se é popular. Uma busca exaustiva foi feita pra que esse texto chegasse até aqui. Então achei Tom Jobim, num vídeo postado no YouTube, em

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que o maestro diz que jazz, antes de tudo, é uma expressão que significa balanço, suingue. Aí Jobim abre dizendo que a bossa nova quis negar a brasilidade dos pandeiros mais balançados, quebrar o tempo num outro suingue. E completa que o norte-americano usava a expressão jazz - antes de servir de titulo a um gênero musical - como brazilian jazz, cuban jazz, referindo-se ao balançado brasileiro ou cubano. E há o jazz beat, influência na literatura beatnick, de Jack Kerouac, Allen Ginsberg, ouvindo Charlie Parker alucinado nas jams. E antes que o repertório se confunda nessas linhas – se já não foi o bastante – vamos tocar o Bird, Charlie Parker, para mudar de tom várias vezes durante a música, num fluxo frenético, chegar ao pico em plena madrugada sombria e embriagada pelos postes e sujeitos esgueirando-se à beira das calçadas.

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Foto: Helena Krüger

ex-preguiça

Foto:Helena Krüger

Matéria e Diagramação:Helena Krüger

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sem barro nao tem graca! 44

No estalar da chave, o motor ruge alto e em seguida os bancos tremem como um trator velho, e a poeira que já se escondia pelos cantos vem à tona. O jeep Willys ano 53 parecia estar pronto para a próxima aventura. Ainda no

Eram quatro da tarde de um dia ensolarado, céu limpo e azul com uma leve brisa que fazia o plástico das janelas do carro balançarem. Eu e o jipeiro Felipe Souza, 22 anos, saímos para uma trilha em direção ao parque do Jordão. Aos poucos a paisagem da cidade ia perdendo a identidade e começava a predominar o verde do campo e o velho Willys 53 estava ficando mais adaptado ao seu entorno, já procurando barro e adrenalina. Passamos a ponte do Rio Jordão, aí estávamos realmente off road (fora da estrada), a poeira aumentou e os pneus

asfalto a sensação de estar ‘a bordo’ de um jeep já é diferente, passa-se a olhar as coisas na cidade de uma maneira distinta, a visão convencional e acostumada das ruas muda para uma percepção atenta aos detalhes. Essas foram as primeiras impressões que tive quando subi pela primeira vez em um jeep off road.

“agradeceram”, o jeep já se sentia em casa. Ao entrarmos em uma estradinha, o jipeiro acelerou e perguntou: “você quer esse passeio com ou sem emoção?”. Eu aceitei o desafio, afinal, era pra isso que eu estava ali. A velocidade aumentava e a adrenalina acompanhava no mesmo ritmo. Aquela paisagem do campo, a estrada de chão, a natureza trouxe a mim uma espécie de sentimento bucólico, de não querer mais sair daquela cena. No meio do caminho, eu, tirando fotos, fiquei na dúvida, se continuava fotografando

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ou aproveitava o momento, decidi naquele instante que iria me focar na experiência. A trilha não foi muito longa, mas às duas horas de passeio foram suficientes para ao menos se ter uma noção do porquê o esporte é tão apaixonante. Lá eu senti como é bom às vezes ‘fugir’ da cidade e aproveitar a vida de uma jeito diferente, sem estar conectado a nada como costumamos estar. No final do passeio, o jipeiro até mesmo me deixou dirigir o jeep por alguns metros, o que me instigou a fazer mais trilhas como essas e até com mais velocidade e barro.

Os jipeiros Quem curte uma adrenalina, natureza ou mesmo só quer um tempo para fugir da rotina, a experiência de participar de uma trilha em um jeep é sem dúvida uma ótima pedida. Além de minha pequena vivência que tive em uma tarde de jeep, alguns jipeiros contaram como é praticar e como esse esporte começou a ser parte indispensável na vida deles. Arthur Gubert, 22 anos, é acadêmico de direito e sempre foi ligado a esportes radicais, principalmente o motocross, que praticava com frequência antes de conhecer os jipeiros. Hoje, além de andar por diversão, também compete em provas junto ao Jeep Clube de Guarapuava. “Como sempre uma

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Sujar-se é requisito básico para diversão dos jipeiros, descubra como um simples passeio de jeep pode ser uma ótima experiência para fugir da rotina e relaxar Foto: Helena Krüger

coisa puxa outra, quando a moto estragava e passava horas na oficina, eu fui conhecendo os trilheiros. Até que de tanto eu pedir para meus pais, com 16 anos, eles deixaram eu sair em uma trilha com o pessoal, comprei colete, bota, luva e tudo mais, saí, e sinceramente, me apaixonei”. Percebe-se que a trilha para esses jipeiros significa algo mais do que um simples passa-tempo, ser trilheiro já faz parte do estilo de vida deles. “Com o tempo fui

perdendo aquela vontade de andar de moto, e após ajudarmos os jipeiros em uma prova de Raid, descobri que realmente, a minha paixão off-road estava ali. Fui aos poucos tentando descobrir como era essa vida de Jeep, conhecia algumas pessoas do Jeep Clube, e resolvi ir de zequinha [sentado atrás do jeep] e ver como era. Vendi a moto e comprei um jeep, de lá pra cá não abandono esse por nada!”.

“Descobri que realmente, a minha paixão off-road estava ali”.

Foto: Arquivo Pessoal Foto: Arquivo Pessoal

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Guilherme Mazur, 23 anos, é Web-developer em uma empresa de informática e pratica o esporte há três anos. A paixão pela trilha herdou de seu pai. Mazur diz que sair de jeep aos sábados já é regra para o grupo. “Uma vez que não vamos andar, já parece que na semana está faltando alguma coisa”. Guilherme ressalta o que os motiva no esporte. “É a melhor coisa, você esquece tudo, relaxa, é adrenalina, pra lá você não leva problema nenhum. Você tem sossego, no meio do mato não pega celular, não tem internet, ai você fica livre de tudo”. Já Arthur valoriza a questão humana do passeio. Para ele o companheirismo é o segredo que atrai tantos jipeiros para a trilha. “Além de ser muito desestressante após uma semana de trabalho, é muito companheirismo, é muita amizade, não há como mensurar em palavras, só estando nesse meio para comprovar o que é fazer trilha. Hoje eu prefiro trilha de Jeep. Porque? Amizade e companheirismo”, afirma Arthur. Felipe Souza, o jipeiro que me levou para fazer a trilha, é estudante de administração e também é um apaixonado pelas estradas off road, porém, para ele, o jeep é sinônimo só de diversão, já que nunca competiu. “O jeep foi meu primeiro carro, não tive escolha, tive que começar a praticar as trilhas, e ai gostei porque não tem coisa melhor pra esquecer os problemas. É só entrar no jeep e pronto”. Felipe também conta que nas trilhas sempre rolava muita festa entre os amigos. “No meio do mato pa-

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or pra lh e m a is o c "...nâo tem mas, é so le b o r p s o r e esquec ronto!" p e p e je o n entrar rávamos para fazer churrasco, curtir uma paisagem bonita e descansar”. Seja qual for o motivo, para esses jipeiros uma coisa é consenso, como conta Guilherme. “O negócio é se sujar! Tem quer ir pronto para o barro, senão não tem graça”. Felipe e Arthur confirmam que diversão mesmo é quando dá para se sujar bastante.

Fotos: Arquivo Pessoal

Foto: Helena Krüger

“Hoje eu prefiro trilha de Jeep. Porque? Amizade e companheirismo”

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Foto: Helena Krüger

Dicas para um futuro jipeiro - É preciso estar ligado com a segurança, usar luvas, botas e roupa adequada para as trilhas. E o jeep deve estar em boas condições; - Aliás, o jeep precisa sofrer algumas modificações na estrutura. Não é qualquer carro 4x4 que pode praticar. A suspensão precisa ser alta, os pneus são especiais, o motor tem de ser adequado, da mesma forma que a injeção, o carburador; tem de ter também cinto e gaiola. É melhor procurar oficinas especializadas. - Não se pode andar em qualquer lugar. É proibido transitar em mata fechada e só se faz trilha com autorização do proprietário do local. - O esporte é muito divertido, mas vale dizer que não é barato, pois a manutenção do jeep é cara e frequente.

Jeep Clube Serra Acima O Jeep Clube de Guarapuava existe há 11 anos e é composto por cerca de 25 membros. A associação tem como objetivo desenvolver e assegurar a pratica do off road, visando a integração dos membros com o meio ambiente. O clube também participa de ações sociais realizando atividades filantrópicas. Recentemente, organizou uma das etapas da Copa Iguaçu de Jeep, que é um dos campeonatos de jeep no Paraná.

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música

Consultório e palco. Esse é o local de trabalho da maioria dos integrantes da banda

Matéria e Diagramação: Yarê Protzek

Dupla Profissão 52

Um barzinho e o som de uma banda. Até ai tudo normal, o diferencial dessa história é que os integrantes dessa banda possuem outras profissões. Formada inicialmente na década de 90 apenas por médicos, hoje, a banda conta com um músico, um Funcionário Público Estadual e três médicos. Os integrantes são: Orlando Belim Junior (Contra Baixo e Nefrologista), Rosely Matsubara (Tecladista e Intensivista), Marcos Tenório Gomes (Baterista e Traumatologista), Cleves Nelson Ida (Músico), Joanez Gaspar (Vocal/Violão-base e Funcionário Público Estadual), e Ernane Campos (Guitarista e Cardiologista). A formação da banda é inusitada. Orlando conta que “tudo começou quando alguns colegas médicos, que tinham alguns talentos escondidos, tocavam algum instrumento ou cantavam e começaram a se reunir de brincadeira. Aí, por ocasião de um evento da Associação Médica [1º Show de Talentos da Associação Médica de Guarapuava], a gente começou a treinar mais vezes e fizemos uma apresentação. O pessoal gostou e começamos a tocar em mais lugares e a ensaiar mais. Assim, surgiu a ideia de formar a banda”.

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E para ligar a profissão de médico com a música de uma forma simples, foi dado à banda o nome de Ultrasom. Os integrantes contam que o nome surgiu para mesclar uma característica da medicina com a da música. Ultrasom, no significado médico, é um exame de geração de imagens que usa ondas sonoras de alta freqüência e os ecos produzidos. “A idéia foi exatamente tentar ligar o termo ‘ultrasom’ do ‘som’ com o ‘ultrasom’ exame e deu certo a ideia”, diz Orlando. No início a banda era uma forma de diversão, de unir os amigos em uma roda com música e entretenimento. Rosely conta que “quando criamos a banda à intenção não era fazer shows, era a gente ficar na garagem mesmo, mas daí alguém falou ‘ei, vocês não querem tocar lá no boteco?’ e assim o

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pessoal foi chamando. Depois de tocar uma música aqui, outra acolá, os integrantes resolveram fazer shows pela cidade. “No começo queríamos tocar em vários lugares, tínhamos aquela empolgação. Se chamassem a gente pra tocar em velório a gente ia, aniversário, batizado, qualquer coisa”, comentou Marcos ao risos com os amigos que lembraram dessa fase. Eles caracterizavam aquele momento como o início do grupo e a juventude dos integrantes. Marcos diz que agora a banda tem outro tipo de visão. “Hoje já preferimos os barzinhos, lugares mais calmos, mas já tocamos em outros lugares, inclusive em outras cidades como Curitiba e Cascavel”. Em Guarapuava a banda já se apresentou no Aô Boteco, London Pub, Babylon e Boliche

da XV, lugares conhecidos pelos guarapuavanos. Porém, os integrantes da banda são modestos, eles dizem que a maioria do público que comparecem aos shows são os amigos. “A maioria que escuta a gente tocar é amigo nosso, nós intimamos eles a virem”, diz Cleves em meio à risada dos outros integrantes, que concordam com a afirmação. Os integrantes escolhem juntos as músicas, sempre levando em conta o timbre de voz do vocalista. O repertório é recheado de rock n’ roll clássico, com músicas nacionais e internacionais. Marcos comenta que cada um sugere e vão vendo qual a banda toca melhor. “Nós vamos treinando, mas geralmente é rock antigo, o rock clássico. Também têm as musicas que o pessoal

sugere, às vezes pensamos que não vamos gostar de tocar, mas acaba dando certo e colocamos no repertório. “O pessoal cansa um pouquinho de ouvir as músicas de hoje e querem ouvir a gente, a moçada de hoje gosta do nosso som”. Sobre a música preferida dos integrantes, Orlando disse que Every Breath You Take da banda The Police marcou bastante a história da banda. “Essa vai ficar no coração da gente, por ser a primeira”. Rosely também comentou que eles não possuem um repertório com letras próprias, mas pensam nessa opção. “Ainda não compomos uma música. É um grande sonho e projeto nosso, ter uma canção nossa. Temos essa pretensão, é uma possibilidade”.

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Médico X Música Nem sempre os participantes têm tempo para ensaiar antes das apresentações. No dia em que eu os entrevistei, relataram que não haviam ensaiado, apenas revisado as músicas 15 minutos antes do show. A correria da profissão durante o dia, não faz com que os participantes desanimem de se apresentar a noite. Muitas vezes, a profissão de médico é colocada em prática durante os shows. “A rotina de médico interfere, mas a gente tenta conciliar as coisas, além dos médicos tem o Clebson que é musico e o Gaspar que é funcionário público, todos tem uma vida atribulada”, relatou Marcos. Ele também diz que ensaio com chamadas de emergência ou imprevistos são normais na

história da banda. “Já aconteceu do telefone tocar no meio de um show pra atender uma emergência e alguém ter que sair do palco”. Inclusive, no dia da conversa com eles, um dos integrantes não estava presente devido a um plantão que teria a noite. Quando perguntei se já tinham passado por alguma situação de socorrerem alguém que passou mal durante um show, Orlando contou uma história engraçada: “Uma vez nós cantamos para uma festa dos dentistas, e eles simularam que estavam passando mal e era de brincadeira, pra ver se a gente ia socorrer, e é claro que nós fomos ver o que tinha acontecido, até percebermos que era brincadeira”.

Outro ponto engraçado é quando algum paciente encontra com eles em uma apresentação. “Já aconteceu do pessoal ir ao nosso consultório e ter visto a gente tocar antes e comentar que viu o show da nossa banda”. Marcos fala que “uma vez estávamos tocando no Boliche da XV e eu saí, aí um paciente meu falou assim: ‘doutor Marcos, o senhor vai me operar amanhã, não é?!’”. Porém, ele comenta que os shows não atrapalham o serviço do outro dia. “Tocamos a noite e amanhã a rotina é normal”. Joanez diz que a banda funciona como uma terapia. “Nós tocamos mais por gostar da música, para desestressar, descansar da rotina do dia-a-dia”.

Rosely Matsu Tecla baruabara diR ly Mats se stoa e Inten tensivista sivista In Tecladista e

“Uma vez estávamos tocando no Boliche da XV e eu saí, aí um paciente meu falou assim: “Doutor Marcos, o senhor vai me operar amanhã, não é?!” Orlando

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Baterista e Traumatolo

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Ca ntores e Ba nd a s m a is to ca d a s cionais Interna les - The Ea g pton - Er ic Cla in a tra - Fra nk S Nacionais: kit - Limp Biz -Jota Q uest oses - Gu n s N ’R r t - Titãs wa l - Rod Ste -Capital In icia yd ós - Pink F lo -Nenhum de N its a - Dire Str -Los Herm anos tles - The Be a - L .S.Ja ck p elin tão - Led Zep -Cogumelo Plu ce - The Poli - Sk ank - R .E.M - R au l Seixas m al - Pe a rl Ja - Wilson Sider ley s e r - Elv is P - Ira ! - U2 do -Os Pa ra lam as il liam s ie - Robb W Sucesso in g a - The Ca ll - Leg ião Urban s io - S cor p n - Claud io Zoli do H awai - En genhei ros

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games

Revivendo

clássicos Com o intuito de consolidar e preservar algumas relíquias relacionadas aos games, indivíduos utilizam a plataforma online ou promovem eventos que, além de “manter acesa a chama”, colaboram na difusão destes games às novas gerações.

Matéria: Yorran Barone

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“No primeiro vídeo tentei fugir de tudo o que a galera conhece, como Mário e Sonic. Pensei em algo que desconhecessem, mas sempre com a saudosa premissa de quando alugava-se fitas. E o resultado está aí”

LUCIANO MORAES, 23 ANOS, CRIADOR DO CANAL

Uma prática que, a princípio, era relacionada apenas ao lazer, mas que hoje já é ligada ao exercício esportivo, segue uma crescente e consolida-se a cada ano. O ato de jogar videogame está se tornando popular até entre públicos não ‘convencionais’. Os consoles também mudaram, sofreram avanços tecnológicos inimagináveis, que transformaram simples arquivos em produções “realistas”. Há estudos que apontam 1952 como o ano de lançamento de tudo. Produzido pelo professor Alexander S. Douglas, o OXO é considerado, por alguns, como o primeiro game. Outros divergem e atestam que o marco fora em 1958, com Tennis for Two, uma produção de William Higinbotham. Enfim, se atualmente plataformas como Playstation 3 e XBOX 360 registram enormes vendas, é

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devido, principalmente, a estes primeiros passos que foram quase esquecidos no tempo. O mesmo caminho do esquecimento que parece estar sendo traçado por consoles como NES, Atari, Máster System, Super Nintendo, entre outros. É pensando justamente em como evitar o esquecimento desses videogames clássicos, é que muitas pessoas, por meio de ferramentas online ou mesmo por meio da produção de eventos do gênero, “mantêm acesa a chama” e colaboram na difusão destes games às novas gerações.

“Eu quero mostrar o podre que desconhecem, e pelo jeito gostaram. Na maioria dos comentários, o trabalho é elogiado e isto me anima a cada dia”

#ARCADEUNDERGROUND “No primeiro vídeo tentei fugir de tudo o que a galera conhece, como Mario e Sonic. Pensei em algo que desconhecessem, mas sempre com a saudosa premissa de quando alugava-se fitas. E o resultado está aí”, comenta o vendedor Luciano de Moraes, 23 anos, residente em Campinas/São Paulo, criador do canal ArcadeUndergound, página pertencente ao YouTube. Apaixonado por games, ele se utiliza da plataforma online como meio de memória e consolidação de jogos que marcaram a infância de muitos. O ArcadeUnderground, que possui cerca de 15 vídeos, divulga GameCast, na qual é realizada uma espécie de narrativa em tempo real, especiais envolvendo lançamentos e datas comemorativas, além do item homônimo que recebe maior atenção do público. Com quase dez edições, o Arcade Underground é produzido sob inusitada ideia: fazer reviews de games considerados ruins. “Eu quero mostrar o podre que desconhecem, e pelo jeito gostaram. Na maioria dos comentários, o traba-

lho é elogiado e isto me anima a cada dia”, cita Luciano, que elenca Home Alone 2, Pit Fighter e Space Ace, como as piores produções já lançadas. Lançado no primeiro semestre deste ano, o canal surgiu após ele notar particularidades em seu antigo videolog (www.youtube.com/ seupensamento). “Percebi que quando falava de games, explodia o número de acessos. Então pensei em só trabalhar com isso”, comenta. “Fiz o vídeo do Home Alone 2 e, em menos de um dia, consegui mil acessos. Me animei demais e comecei a fazer vários”.

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mente tenho um e jogo sempre que posso”, brinca Luciano, que aponta o Super Nintendo como o melhor console já produzido. Algumas práticas caminham juntas até o último dia e esta, para Luciano, seguirá até o final dos trilhos. “Videogame nasceu comigo e morrerá comigo. Tenho sorte por encontrar minha namorada que também é Gamer. Ela comenta que quando tivermos filhos vão ter brigas em casa, pois ele vai querer jogar e eu não vou deixar, pois estarei jogando”. Ele é, ainda, criador do blog Flipper Coins (http://flippercoins.blogspot.com/), página na qual é divulgada posts relacionados aos games, além de vincular os vídeos do ArcadeUnderground.

WAzzABI

Em Guarapuava há quem também trabalhe sob a perspectiva dos ‘clássicos’. Pertencentes ao grupo Wazzabi Team, cerca de 16 pessoas desenvolvem eventos relacionados à cultura japonesa e a tecnologia. Em agosto ocorreu o WazzaGames, em que foi possível jogar videogames de todas as épocas, desde Super Nintendo e Nintendo 64, há Xbox 360 e Nintendo Wii, sem contar a pro-

TEAM

O fato de perder várias horas do dia em prol dos objetivos demonstra o tamanho da sua paixão. Familiarizado desde os dois anos, quando jogava Atari com seus pais, Luciano afirma que finalizar ou zerar os jogos, proporciona uma de suas melhores sensações. “É demais ir jogando e avançando. Um exemplo clássico reside em Megaman X, melhor jogo já inventado. Este não tem dificuldades para escolher, apenas começa e vamos embora, além de ser difícil desde a primeira fase”. Outro ponto que chama atenção é sua preferência pelos consoles antigos. Para ele a preocupação demasiada em gráficos, faz com que os produtores dêem menor importância em jogabilidade. “Não adianta nada os aparelhos serem de última geração se os desafios forem mínimos. Exemplo disso é o Playstation 3, que é um console maravilhoso, mas acho que, em muitas vezes, ela peca por ter jogos muito longos e repetitivos”, afirma. “Mas claro que, como todo mortal, certa-

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David Córdova Loures, de 20 anos, do Wazzabi Team “Trazemos os bons e velhos clássicos dos consoles, que grande maioria teve gosto de jogar quando era criança, como Super Mario, Mario Kart, Sonic, Top Gear”

moção de concursos, venda de botons e apresentações. “Trazemos os bons e velhos clássicos dos consoles, que grande maioria teve gosto de jogar quando era criança, como Super Mario, Mario Kart, Sonic, Top Gear”, cita o comerciante David Córdova Loures, de 20 anos, que pertence o Wazzabi Team. Segundo David, a aprovação do público foi enorme, tanto que já clamam por novos eventos. “Para quem já nos conhecia antes, se surpreenderam com a volta e mataram as saudades. Temos, ainda, os novos fãs estão já ansiosos para os próximos”, conta, relembrando que no passado eles já se reuniam em outro grupo, mas que por alguns motivos a pausa foi necessária.

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O empenho nesta prática são provas de que David também é um amante de videogames. Familiarizado com os consoles desde os seis anos, ele conta que a possibilidade de se “transformar” em personagens é algo que lhe encanta. “Poder ser quem você quiser. Um herói forte ou um vilão inteligente, sendo que o único comando a se fazer é apertar A ou B”, relata David, que revela preferências pelos RPG´s (Role Playing Game) Chrono Trigger e Final Fantasy, além do clássico Sonic, The Headhog.

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José Augusto Gonçalves, 42 anos Customer Delivery Assistant.

BRINCADEIRA

DE CRIANÇA? “Aqui, jogar nesta idade é algo muito normal. Fui visitar um pessoa, que deve ter entre 52-54 anos, que estava jogando golfe, no Nintendo Wii. Tenho amigos que jogam Warcraft, quase o todo tempo”, relata o Customer Delivery Assistant (Assistente de Entrega de Produtos) José Augusto Gonçalves, 42 anos, residente em Hull, Inglaterra. José iniciou o contato logo na infância e, como muitos “senhores” fazem atualmente, sempre que possível, aventura-se nos videogames.

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Para ele, os motivos que mais lhe encantam residem em conceitos lingüísticos e técnicos. “A maioria dos jogos são em inglês e sempre amei essa língua. Segundo, se fosse possível, teria estudado como é a produção de gráficos, o que acho maravilhoso. Gosto, ainda, dos desafios e da possibilidade de vencer”, comenta José Augusto, que elenca Tomb Raider Anniversary, Prince of Persia Warrior Within e Call of Duty Modern Warfare como seus jogos favoritos. Atualmente, nota-se que elevado número de “velhinhos” mantém esta prática junto ao lazer. Alguns iniciam o contato só na maior idade e outros logo na infância, como José Augusto. “Quando criança costumava ir a um bar próximo de casa para

“Quando criança costumava ir a um bar próximo de casa para jogar tênis, um game em preto e branco. Depois passei ao Atari, em um jogo com carros. Desde então, fui tendo contato com as novas tecnologias, calhando em consoles de última geração que mantenho em casa”.

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jogar tênis, um game em preto e branco. Depois passei ao Atari, em um jogo com carros. Desde então, fui tendo contato com as novas tecnologias, calhando em consoles de última geração que mantenho em casa”. Apesar da idade, questiona-se se ele continuará com a prática no futuro. Para José Augusto esta questão é uma incógnita, pois ele crê que ao passar dos anos, outros exercícios surgem. “Adoro viajar e conhecer lugares. E isso está, sem dúvida, tomando o lugar dos videogames. Mas não vejo com tristeza. Há prioridades na vida e percebo que, atualmente, viajo bastante”, conta. “Contudo, algo é certo e engraçado. Sempre que posso e estou em Shopping Center, passo em lojas para procurar os lançamentos”. Vivemos uma geração que se acostumou com os games. Já está provado que a prática consolidou-se na sociedade. Indivíduos de todas as idades e classes sociais, em suas devidas propor-

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ções, utilizam-se do material. Segundo dados do já tradicional relatório da NDP Group (National Purchase Diary), empresa estadunidense de pesquisa de mercado, no primeiro semestre de 2011 a indústria de videogames movimentou US$ 5,9 bilhões, número que indica um crescimento de 1,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Além do lazer, percebe-se que o exercício não se vincula apenas a isso, mas também à busca de desafios, novas experiências e procura de criatividade.

THE GAME IS NOT OVER

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Completar dez anos de banda é uma tarefa difícil, ainda mais para uma banda independente, mas a Vera Loca está conseguindo não só chegar nessa marca importante, como também obter sucesso pelo Brasil afora. Com o lançamento do seu 4º álbum, intitulado ‘Parece que foi Ontem’, a banda, formada por Fabrício Beck (vocal e guitarra), Diego Dias (teclado), Hernan Gonzales (guitarra), Mumu (baixo) e Luigi Vieira (bateria), vem conquistando o seu lugar no cenário roqueiro nacional.

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“Acho que essa influência a gente sofre também, do

tempo, do rock que vai se

renovando, se A banda em Guarapuava, antes do show.

Vocês estão com CD novo, o que podem contar dele? Fabricio: A gente está bem feliz com o resultado do disco. Tá uma porrada, sabe? Uma gravação muito quente, muito boa. A gente fez num estúdio diferente, numa fazenda, num clima meio bucólico. Ele está bem rock também. O terceiro disco teve menos guitarra do que o normal e nesse aí elas voltaram. Deu pra perceber uma diferença na sonoridade da banda dos dois primeiros para o terceiro álbum, vocês meio que deram uma modernizada no som. No 4º então dá pra dizer que vai ter mais diferenças? Mumu: Com certeza. Inclusive no single novo, ‘Quem avisa amigo é’ da pra

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perceber uma sonoridade mais pesada, lembrando inclusive bastante de Artic Monkeys. Mumu: Isso. É uma grande influência pra banda. Na verdade tá mais Artic Monkeys que os próprios Artic Monkeys [risos]. Fabrício: Na real, a diferença do primeiro pro terceiro, e agora do terceiro pro quarto, é que a banda...Qualquer banda que começa do zero, ela vai amadurecendo, vai evoluindo, e também, queira ou não queira, tem o lance do tempo também. As próprias bandas de rock, tipo o U2, se tu pegar um disco de dez anos atrás e pegar um disco de agora, vai ver que o disco de agora é bem moderno. Então acho que essa influência a gente sofre também, do tempo, do rock que vai se renovando, se reciclando. E pra mim é visível tam-

reciclando”.

bém o lance das composições, o amadurecimento da galera. E como funciona o esquema de composição, quem compõem na banda? Fabrício: Esse disco tem composições minhas e do Mumu. Na verdade tem de todo mundo. Todo mundo compõem. Tem músicas minha e do Mumu, minha e do Diego. Não tem uma regra, a gente não tem um padrão. Mumu: Tem com um amigo nosso também. A gente faz de todos os jeitos. O que vier e for agregar, tá valendo. Então rolou algumas parcerias nesse disco? Mumu: Teve essa parceria com um amigo meu, Anderson Magal, e outra com o Luciano Leindecker, da Cidadão Quem.

Fabrício: Ele tocou baixo acústico em uma música. Diego: Ele tá no disco anterior também. Na música ‘Aos Meus Amigos’ ele fez o baixo. Vocês são uma banda independente. O que acham desse negócio de disponibilizar as musicas na internet? Luigi: A gente quer que o maior número de pessoas ouça a nossa música. Diego: Na verdade não impede a gente de vender CD. Luigi: A gente continua vendendo bastante CD, mas agora durante o show, de outra maneira. Ao invés de ser daquele jeito tradicional, na loja. Mumu: O mercado mudou um pouquinho. Se tu for ver, a gente se enquadrou desde que começou esse ‘boom’ da internet.

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Fabrício: As pessoas querem ter o disco e não abrem mão, independente de ter baixado. A gente pensa assim também. Diego: Se tu não disponibilizar, as pessoas vão baixar, e com uma qualidade pior, então é melhor que a gente libere com uma qualidade boa.

Inclusive rolou essa campanha ‘Vera Loca na sua cidade’... Fabrício: Hoje mesmo eu entrei no twitter da Vera [Loca], e uma pessoa colocou assim: “Turnê no nordeste urgente!”

Nesses quase dez anos, o que vocês podem contar de mais legal que já aconteceu, ou de mais marcante. Mumu: O mais marcante que eu acho, de todas, é o show do Planeta [Atlântida, festival de verão que ocorre no RS e em SC]. Foi um dos melhores shows da noite. Foi uma coisa bem marcante pro lado positivo. Lado negativo tem bastante coisa também, mas não vale a pena ser dito [risos]. Fabrício: Uma coisa também que me marcou muito nesses dez anos foi o dia que chegou o primeiro disco. Eu não estava em Porto Alegre, nós estávamos voltando da praia e contando os minutos pra chegar em casa, sabendo que as caixas dos discos iam estar lá. Isso foi tipo, nascer o primeiro filho, assim. Luigi: O CD ainda tinha um valor maior do que tinha hoje, do físico, de tu pegar o CD. Não tinha ainda aquele negócio de baixarem música.

Vocês esperavam encontrar fãs de tantos lugares fora do RS? Fabrício: A gente sempre sonha né. Mumu: A gente sempre espera, mas não sabe se vai acontecer ou não. Hernan: É uma surpresa ver tanta gente nos shows. Mumu: É sempre ótimo tu ver dois ou três cantando tua música. A gente tocou em Curitiba e tinha 100, 150 pessoas, é impressionante!

Nesses nove anos e meio, qual é o lugar mais legal que vocês tocaram e o pior ou mais estranho? Mumu: O melhor foi a do Planeta, pelo fato do público. Ter bastante gente cantando e juntou gente de tudo que é lugar do sul que a gente já tocou. Hernan: O mais estranho, pra mim foi num ‘xis’ [risos]. Galera comendo ‘xis’ e a gente tocando. Fabrício: Pra mim, assim, o mais bizarro foi uma vez que a

Vocês são bem presentes nas redes sociais, como que rola essa interação de vocês com os fãs? Fabrício: A gente tenta responder um a um. Às vezes não tem como, né. Acho que a gente até começou meio atrasado nesse lance de internet, mas quando a gente se ligou a gente se dedicou muito e vimos que dá bastante resultado.

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gente tocou em um evento duma rádio, que era um encontro de jipes, e daí era em cima de um ônibus que balançava, e a galera levava choque e era só banda de bailão que ia tocar. A gente chegou e a galera ficou nos olhando, tipo: ‘bah, que que esses loucos tão fazendo aí?’. Completamente deslocado, sabe? A gente tocou meia hora e vazamos. Hernan: Na primeira música a gente parou e pensou ‘Quê que nós estamos fazendo aqui? E tem tantas músicas pela frente!’ [risos]. Quais são os planos? Mumu: Primeiro não fazer

mais shows nesse lugar [risos]. E de repente lançar alguns exemplares em vinil do CD novo também. Não que seria um sonho, mas é uma meta. Sonho acho que é continuar tocando por todo o Brasil. Tipo a gente tá aqui hoje, continuar subindo e mais dez anos. Diego: Haja fígado! [risos] Mumu: Continuar fazendo o que a gente faz bem no RS, só que agora por todo o Brasil. Luigi: Ficar vivendo da música. Mumu: Continuando a lançar CDs e vivendo da música, acho que esse é o maior sonho de todo mundo. Não cair naquele trabalho trivial.

Discografia: Meu Toca

Discos se

Matou (2002)

Distúrbios do Amor e Rock n Roll (2005)

Vera Loca III (2008)

Parece que foi Ontem (2011)

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Ágora

Entre os filmes preferidos, Liliane Freitag chama a atenção

RG

para um específico, que representa a postura dos jovens dos anos 60. Para a professora, a película possui informações e características que vão muito além do que está no script. Confira a opinião dela sobre o filme Hair.

NOME: Liliane Freitag – Historiadora (Doutora em História – DHIS) EU INDICO: O filme Hair: The American Tribal Love - Rock Musical, lançado em 1979

“Eu indico porque o filme vai muito além do que está na sinopse, que destaca a alegria e a musicalidade. Hair é uma homenagem divertida e forte do espírito turbulento da juventude dos anos 60. Eu acho que é muito mais, é uma homenagem a amizade e a paz. Sobretudo, o filme demonstra e faz a gente entender um pouco dessas roupas coloridas que os hippies usavam com os cabelos cumpridos. Era como eles se transvestiam em mulher, pois era uma forma de não ser identificado como homem, porque todos os jovens eram convocados arbitrariamente a ir para a guerra. Essa era uma maneira de negar a guerra. Eu indico porque ele tem esssa mensagem superior àquela musical”.

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O é produzido em um laboratório muito especial, uma laboratório de jornalismo, onde experiências de todos os tipos são realizadas. Ali, os alunos adicionam às suas inquietações, o fazer jornalístico e a vontade de mexer um pouco com esse mundo. Acrescentam ainda suas próprias personalidades para gerar, na combustão de elementos, um veículo de comunicação com identidade, onde forma e conteúdo são uma coisa só: jornalismo.

Ágora

Essa é a fórmula do . Não é uma regra, é uma forma de pensar em que as estruturas se movem, são dinâmicas. Vamos do laboratório para as ruas e para as suas mãos, deixando a adolescência acadêmica para entrar no amadurecimento profissional. Somos jovens falando de coisa séria para outros jovens. É informação para entender o mundo. É jornalismo para mover uma geração.

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eu que fiz

“Eu comecei a desenhar em camisetas faz uns dois anos. Fiz umas para minha irmã, e logo meus amigos começaram a querer também. Assim comecei a vender e a presentear. As pessoas só me falam o tema que desejam e eu penso em como fazer. Algumas reclamam pelo tempo que às vezes eu demoro, mas é que não consigo entregar se não tiver certeza que ficou legal, porque para desenhar eu demoro no máximo uns 20 minutos. Desenho com caneta pra tecido direto na camiseta. Já fiz umas 50 e poucas”.

Marta Almeida

Estudante de Arte-Educação

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expediente

Ágora revista

Projeto de Extensão Resolução nº 097/2011 Conset/Sehla/G/Unicentro 28 de junho de 2011

Reitor Prof. Vitor Hugo Zanette

Professor Responsável Prof. Anderson Costa

Tiragem: 500 exemplares Impressão: Gráfica Unicentro

Vice-Reitor Prof. Aldo Nelson Bona

Editora-Chefe da Edição 08 Bárbara Brandão

Contato (42) 3621-1325 e 3621-1088

Diretor do Campus Santa Cruz Prof. Osmar Ambrósio de Souza

Assistente de Redação e Revisora Yare Protzek

E-mail: agoraunicentro@gmail.com

Vice-direção de Campus Prof. Darlan Faccin Weide Diretor do Sehla (Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes) Prof. Carlos Eduardo Schipanski Vice-diretora do Sehla Prof(a). Maria Ap. Crissi Knüppel Dpto. de Comunicação Social Coord. Prof. Edgard Melech

Direção de Arte e Diagramação Final Anderson Costa

Capa Gabriela Titon

Equipe A: Bárbara Brandão, Ellen Rebello, Gabriela Titon, Helena Krüger, Kaio Miotti Ribeiro, Luciana Grande, Yarê Protzek

Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro.

Equipe B: Ana Carolina Pereira, Giovani Ciquelero, Hilva Nathana D’amico, Katrin Korpasch, Mário Raposo Jr., Poliana Kovalyk, Vinicius Comoti, Yorran Esquiçati.

A Revista Laboratório Ágora é desenvolvida pelos acadêmicos do 3º ano de Jornalismo da Unicentro (TURMA 2011).

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