Revista aproximação interactive 06 08 2013

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REVIST A

APROX IMAÇÃ Revista do siste O ma de E da Univ duc

ersidad ação a e Estad Distânc Edição ual do C ia (EaD 04 - 3º ) e n tr trimestr o-Oeste e de 20 (Unicen 13. tro)

Unicent ro te prepon m papel concret derante na iza sonho d ção de um anos de e mais de 10 cerca d e 2 mil profess ores no Par do antig o caso V aná, izivali

muito, muito mai que uma s format ura

Um congresso sem precedentes

Uma consultora nacional

Entrevista com Fredric Litto

Prof. Antônio Simão: de Genebra para Guarapuava

Profa Cida Knüppel: em favor de um modelo brasileiro de EaD

Com exclusividade à revista Aproximação

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REVISTA

APROXIMAÇÃO Terceiro trimestre de 2013 Guarapuava/Irati (PR)

04 | APLICATIVOS Educação a Distância multi-conectada 07 | CURSOS NO EXTERIOR Oportunidades Online, mundo afora

Quem faz Aldo Nelson Bona Reitor

09 | ANTONIO SIMÃO NETO Uma ponte para atravessar as distâncias

Osmar Ambrósio de Souza Vice-reitor Maria Aparecida Crissi Knüppel Coordenadora NEAD/UAB Unicentro Marcio Fernandes (SC 01022) Jornalista responsável Anderson Antikievicz Costa Designer gráfico

13 | FREDRIC LITTO Uma visão crítica sobre a EaD no Brasil 20 | PEDAGOGIA DA VIZIVALI Finalmente formados! 24 | MARIA AP. CRISSI KNÜPPEL Diretora do Nead é avaliadora nacional de polos

Anderson Costa Amanda Pieta Veridiana Amaral Wyllian Corrêa Repórteres

26 | Santiago Castillo Arredondo A ead é um vício

Contato (42) 3621-1349

30 | Galeria de Fotos 3º Congresso de Ead

UAB Unicentro

@uab_unicentro

UAB

UNIVERSIDADE

ABERTA DO BRASIL

http://www.unicentro.br/uab

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03 | Caro leitor


Carta ao leitor

Ampliar

horizontes,

ou “aumentar a cabeça para o total” Genial, João Guimarães Rosa escreveu o seguinte em Grande Sertão: Veredas (1956):

Todos estão loucos neste mundo? Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem necessidade de aumentar a cabeça, para o total. A modalidade da EaD, Educação a Distância, pode ser interpretada em boa escala como algo 'muito maior diferente', capaz de provocar um eventual estranhamento inicial mas, também, um encantamento de quem mergulha neste mundo. É como se a EaD fosse parte importante desse 'total' de que fala Guimarães Rosa, um dos mais brilhantes escritores de nossas letras. E esse encantamento é passível de ser verificado, vivenciado mesmo por aqueles que tenham ampla familiaridade com o meio. É o caso dos professores Ana María Martin Cuadrado e Santiago Arredondo, dois educadores e investigadores espanhóis que estiveram na Unicentro no mês de maio passado. Experientes – e vinculados à Universidad Nacional de Educación a Distáncia (Uned), a mais importante instituição do gênero na Europa -, Ana María e Santiago deram demonstrações públicas do quanto acreditam no modelo de EaD adotado por nossa Unicentro. Palestraram, concederam entrevistas, estiveram em pequenos fóruns e em conversas de corredor ao longo de três dias.

Experimentaram nosso cotidiano e retornaram encantados a seu país natal. Também nos deixaram exemplos e dicas valiosas e, em especial, convidaram a Unicentro a formalizar um amplo acordo de cooperação, que resultará em, em breve, em benefícios diretos para a comunidade universitária como um todo mas, sobretudo, aos mais de 5 mil alunos, professores, tutores e funcionários administrativos do complexo de EaD da nossa Universidade. Nós, enfim, acreditamos estar cada vez mais no caminho certo. Em abril, durante as formaturas da oferta especial de Pedagogia em EaD, o vice-governador do Estado do Paraná, Flávio Arns, também havia reiterado sua admiração pelo trabalho dos que fazem a EAD em nossa instituição. Assim como os investigadores espanhóis, Arns fala com propriedade – é um educador de vasta atuação profissional. Quase uma década atrás, a Unicentro “abriu a cabeça para o total”. Não enlouquecemos. Ao contrário. Nossos mais de 2 mil formandos de Pedagogia de nove polos de EaD que receberam seus diplomas em abril são testemunhas confiáveis disso. Boa leitura da edição que você tem em mãos ou lê via web!

Prof Dr Aldo Nelson Bona Reitor

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No mundo contemporâneo, uma multiplicidade de mídias está ao alcance dos estudantes de Educação a Distância (EaD), mídias essas que, na maioria das vezes, são utilizadas como ferramentas de trabalho e diversão, mas que também podem ser amplamente aplicadas ao ensino.

Aplicativos

Educação a Distância multiconectada

No EaD, os Ambientes Virtuais de Aprendizado (AVAs) servem de suporte para o controle da aprendizagem a distância. Essa modalidade de Educação, por vezes, provoca receio de eficácia em algumas pessoas justamente pelo fato de muitas vezes se limitar ao uso de uma plataforma fixa e não explorar outros recursos e métodos de ensino. Os AVAs devem ser complementados com outros meios que permitam ampliar ainda mais a aprendizagem dos alunos. O jornalista e professor na Unicentro Anderson Costa, responsável pelas vídeo-aulas da UAB/Unicentro, diz que o uso desses aplicativos deixam a aula muito mais visual do que descritiva. “O aluno percebe essa dinamicidade e consegue apreender o conteúdo mais facilmente”, ressalta Anderson. A Internet é um caminho válido para buscar anexos para se aperfeiçoar a EaD. Hoje há uma grande riqueza de aplicativos na rede, com funções variadas e fáceis de usar. A seguir, algumas dessas opções:

Screencast-O-Matic www.screencast-o-matic.com O aplicativo permite capturar imagens e movimentos de sua tela e registrá-los em vídeo, com ou sem som, arquivando no próprio site. O envio dos arquivos por YouTube ou o armazenamento no computador também são possíveis. Sua utilidade é principalmente no desenvolvimento de vídeo-aulas, tutoriais ou o repasse de instruções específicas a outros usuários. Os vídeos têm limite de 15 minutos. Para utilizar é preciso criar uma conta na página do programa, que é gratuito. A captura pode ser feita em seis tamanhos diferentes que vão de 640 x 480 a 128 x 1024 pixels.

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Audacity audacity.sourceforge.net A produção de audio-aulas pode ser descomplicada com o gravador e editor de áudio Audacity. O programa é muito simples de usar e oferece aos recursos básicas de edição de som. Possui uma interface intuitiva que permite o fácil acesso às suas ferramentas. O software oferece, além da edição de áudios, a conversão de arquivos e a aplicação de efeitos de remoção de ruído, mixagem e equalização. Os formatos suportados são variados, entre eles o MP3, WAV, AIFF e Ogg. O download do Audacity pode ser feito pela sua página na Internet e é gratuito. O programa opera na maioria dos sistemas operacionais, como o Windows, o Linux e o Mac, por exemplo.

Camtasia Studio www.camtasia-studio.softonic.com.br É um software relativamente barato próprio para a produção de vídeo-aulas caseiras. Com ele, é possível capturar a tela do computador em conjunto com a webcam, editar o vídeo, aplicar efeitos (como aberturas personalizadas, músicas, setas, zoom, destaques, etc) e ainda enviá-lo diretamente para as redes sociais em formato adequado. O Camtasia Studio é bem completo de recursos, sem deixar de ser simples. O professor ganha uma aliado na produção das aulas, principalmente se o conteúdo a ser trabalhado é mais técnico, com planilhas, gráficos e desenhos. O programa é compatível com o Windows e pode ser baixado pelo próprio site.

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Google Drive www.drive.google.com

O Google Drive proporciona a criação, edição, armazenamento e compartilhamento de arquivos em seu próprio sistema on line. O aplicativo é uma versão aperfeiçoada do antigo Google Docs que continha edição de texto, de planilhas, slides, etc. A possibilidade de produzir coletivamente é um ponto interessante da ferramenta: ela permite que outros usuários façam leitura e edição do mesmo arquivo, o que é ideal para desenvolver trabalhos em grupo a distância. A vantagem do serviço é que os programas e arquivos podem passar para o armazenamento do Google Drive, deixando de ocupar o espaço do HD dos computadores. O Google está trabalhando para usar o Drive mesmo off line, por meio de uma sincronização dos arquivos do computador do usuário, permitindo a atualização dos dois pontos simultaneamente. Para ter acesso ao Google Drive é necessário apenas ter uma conta Google cadastrada. A capacidade inicial é de 5 GB e o aplicativo é gratuito.

UAB

UNIVERSIDADE

ABERTA DO BRASIL

www.unicentro.br/uab Acesse e fique por dentro de tudo o que acontece com relação à Educação a Distância na Unicentro e no Brasil.

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Cursos no exterior

Oportunidades Online,

mundo afora

em conta as avalia que, levando-se – e lin on s rso cu is a Aluna de do do Brasil, ainda há um familiar dimensões to en am orç o r iza an Como org tituições de grande carência de ins s -, Adriaço rvi se e rca ma , uto el da excee Prod ensino presencial no nív es ad ilid fac as na Karvatte destaca uma espécie lência. E que a EaD é e ad lid da mo na nto de um treiname safio qualitatide resposta a este de semm ite rm pe s rso cu s de EaD. “O mento, 12,5 . “De janeiro até o mo vo e s va no s isa ou estão pre que se aprenda co mil alunos frequentaram , um r ue alq qu r podem ser feitos po ssos progracursando algum de no ior”, ter an ão aç fic ali qu a sem nenhum rsos de curta e mas, entre MBAs e cu ramo , os an 25 de te, an 37 mil pesdiz a estud dia duração, além de mé é na ria Ad . dora de Cascavel (PR) ssos cursos soas que já fizeram no D Ea de s na alu de uma das milhares fessor Xangratuitos”, relata o pro io túl Ge ão aç nd Fu da prestigiosa mais procuthopoylos. “Os cursos de Rio no da dia se , V) Vargas (FG am as séries rados no último ano for Janeiro (RJ). ças, Recursos estratégicas em Finan ititu ins tas tan s da A FGV é uma ndas. Um Humanos, Gestão e Ve nco , ca éri Am a a tod ções que, em rso oferecido destaque foi nosso cu ade lid da mo na r eri ins se o Gestão, seguiram parceria com a FIFA, em da r eto Dir . de EaD com qualidade Esporte”, Marketing e Direito no los oy op nth Xa os FGV Online, Strav

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“Os treinamentos serão todos custeados pela instituição que solicitá-los. O órgão deverá encaminhar seus funcionários para inscrevê-los no projeto” Cleverson Salache, diretor financeiro do Proficad

comenta o docent e, explicitando o Proficad atende que esta oferta te ndo demandas ve 188 horas de do s Ex ec ut ivos Municipais”, duração, sendo ba complestante procurado menta a professo por ex-atletas e pr ra M ar ia Ap arecida ofissionais da área Crissi Knüppel, di de gestão esporti retora geral do va. sistema de EaD da A Unicentro també Unicentro. m tem investiNa primeira fase, do fortemente em prevista para cursos de gestão iniciar no segundo administrativa. Um semestre desa das iniciativas te ano, o Proficad em andamento se es tará focado chamada Pronos servidores mun ficad, o Programa ici pais. Em um de Formação segundo momento Continuada a Dist , será aberto ância. Liderado a qualquer interess pelo Núcleo de Ed ado. Diretor ucacão a Distânfinanceiro do Prof cia (Nead) no âm ica d, o professor bito da Unicentro, o Cléverson Salach Proficad almeja ca e ad ianta que os pacitar profissiocursos terão máx nais vinculados a imo de 40 horas e órgãos públicos. A estarão disponívei intenção é dispon s pela plataforma ibilizar treinamenon line Moodle e at tos sob medida pa ravés de webconra Prefeituras, po r fe rê nc ia s. “Os treinamentos exemplo, no sentid serão o de aperfeiçoar todos custeados pe os funcionários m la in st itu ição que unicipais com base solicitá-los. O órgã nos respectivos pl o deverá encamianos de carreira nhar seus funcioná de Executivos Mun rios para inscrevê icipais. “Pelo -lo s no pr oj eto”, informa Clev menos 100 cursos erson, com temas bem sustentando ainda específicos serão qu e, em breve, o estruturados, calendário de ofer como de Legislaçã tas será disponibio Tributária, com lizado no site da Un icentro. 8


Antônio Simão Neto

Uma ponte para atravessar as distâncias Brasileiro que atua como consultor em EaD na Suíça, Antônio Simão Neto trabalha em favor da união de inteligências pelo mundo. PhD em Educação pela University of London (Inglaterra), Antônio é diretor e fundador do Interfaces (Instituto Internacional dedicado à inovação nas áreas de Educação, Cultura e Assuntos Sociais), que atua no planejamento de cursos, materiais didáticos, design educacional, pesquisa, mídia integrada, tecnologias educacionais e interativas, entre outras funções, visando a melhoria da educação a distância. O organismo possui representantes no Brasil, Suíça e Japão. Professor Simão, como é conhecido, representa o Brasil no grupo de Educação

a Distância da IFIP (Federação Internacional para o Processamento da Informação), órgão ligado à Unesco. Antônio Simão Neto esteve presente no 3º Congresso de EaD, que ocorreu entre os dias 15 e 18 de maio passado, na Unicentro, no campus Santa Cruz, Guarapuava. Na ocasião, discorreu uma palestra com o tema 'Aprendizagem Colaborativa em EaD', uma de suas especialidades e também conteúdo da tese de seu doutorado. Em entrevista exclusiva à Aproximação, o consultor teceu comentários sobre a importância da colaboração no Ensino a Distância. Confira os principais trechos: 9


Aproximação - Como colocar em pratica a técnica de aprendizagem colaborativa quando se trata de EaD? Como se forma essa interatividade?

Aproximação - A respeito da sua atuação na Suíça, como o senhor percebe as diferenças da consultoria do país uando comparado com o Brasil?

Simão Neto - A aprendizagem colaborativa não é algo que se possa criar; ela vem das pessoas. O que os professores podem fazer é criar ambientes propícios, ambientes férteis para que a colaboração possa acontecer. Uma das formas de fazer isso é pensar uma estratégia de ensino e aprendizagem que aperfeiçoe o ensino clássico e expositivo, em que o professor só fala e o aluno só escuta. Para chegar até a aprendizagem colaborativa é um longo caminho. Não é possível realizá-la em um passo só. Temos que ir avançando desde a aprendizagem por tarefas, por questões, até chegar à famosa 'aprendizagem por problemas'. E então, quem sabe, se chegue na aprendizagem colaborativa, em que cada um contribui com o que tem de bom e receba dos outros também o que eles têm para oferecer.

Simão Neto - O meu foco principal a 'triangulação'. Há a busca de união constante de países como o Brasil, a África do Sul, Ucrânia e outros que têm em seu território alguns setores bem desenvolvidos, mas também apresentam miséria. Quando a Europa tenta passar seus produtos da área de educação para a África, por exemplo, a distância é tão grande que não há comunicação possível. Eles não conseguem conceber o que é viver em uma miséria absoluta e muitos dos países africanos não conseguem compreender o que os europeus estão lhe proporcionando. No Brasil, como tem os dois lados, é possível absorver o que a Europa pretende disseminar mas ao mesmo tempo sabemos as dificuldades que nosso país tem. A minha função é fazer essa ponte de ligação. É como um trabalho de tradutores. Na Europa é muito satisfatório trabalhar com essas técnicas, mas em outros lugares estas talvez não funcionem porque os pensamentos são diferentes. O importante é trabalhar com países e instituições que tenham situações mais complicadas e mostrar que eles também possuem valor. Mostrar que não são só receptores de uma rede possam ter benesses, mas que podem contribuir com uma troca verdadeira. Vários países têm muito a doar para a cultura geral e também para a sua própria educação. Deixar tudo na mão das grandes instituições europeias não é a grande solução. Nunca foi nem nunca será a melhor solução. A colaboração efetiva entre as partes é possível. Internamente no Brasil é bem diferente: as consultorias de EaD estão mais ligadas à prática, à aplicação e a questões de mercado do que essa grande estratégia de como levar a educação a lugares onde as pessoas precisam dela.

Aproximação - Em sua palestra na Unicentro, o senhor comentou a respeito dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs) e disse que estes deveriam servir apenas como um suporte de controle da aprendizagem a distância, complementando assim o ensino, com outros meios. Que outros meios seriam esses? Simão Neto - Os AVAs oferecem diversos recursos para os alunos e professores trabalharem, o que é bom, quando se trata de encontrar tudo isso em um lugar só. Mas, ao mesmo tempo, quando se obriga os alunos a trabalharem num só espaço, se limita muito a aprendizagem. A Internet hoje tem milhares de recursos e possibilidades para complementar os recursos de ensino. Não só na rede, mas outros meios como Fotografia, o texto, o Cinema e a Pintura, são formas de expressão muito importantes. O trabalho que o AVA permite é restrito. Podemos completar essa limitação ficando atentos a tudo aquilo que os jovens usam hoje, o que as pessoas mais usam para se comunicar, onde buscam informações e quais são as formas de expressão preferenciais que elas tem. A maior parte do que pode-se utilizar além do AVA é de graça, está livre pra todos. Então não se justifica pagar mais fortunas por Ambientes Virtuais de Aprendizagem externos, desenvolvê-los internamente com um grande esforço e complexidade ou mesmo usar os que são livres, mas de uma forma que impede o aluno de ter a liberdade de fazer mais coisas. Recursos não nos faltam, o que falta é a atitude.

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Aproximação - Quais as ferramentas e sistemas mais usados pela EaD na Comunidade Europeia? É utilizado o Moodle ou outra plataforma semelhante às que se usam no Brasil? Simão Neto - Na questão de tecnologia, o Brasil não está nem na frente e nem atrás. As coisas estão bem niveladas: o que temos é quase a mesmo que os europeus utilizam. Na Europa, também há a tendência das universidades desenvolverem seus próprios sistemas e há a possibilidade de comprar a plataforma pronta ou fazer uso das livres, como o Moodle. Não há muita


“Temos que ter ao mesmo tempo a humildade de saber reconhecer os feitos de outros grupos, mas não ao ponto de achar que devemos sempre aprender com eles. Nós temos muito pra ensinar também”

diferença em relação a isso. Tanto nós brasileiros quanto os europeus estamos procurando caminhos, buscando soluções, experimentando novas coisas. Talvez em outros setores haja uma distância maior entre Brasil e Europa, mas na área de educação a distância, não vejo diferenças. O Brasil está realmente aparceirado com os europeus nesse sentido. E talvez o Brasil até tenha mais coisas pra ensinar porque trabalha com mais volume de alunos. Estes se encontram em situações distintas, considerando nosso vasto território, as distâncias geográficas e as diferenças sociais e econômicas. Isso infere um valor muito grande para os sistemas de educação à distância. A Europa também precisa aprender com a nossa experiência aqui no Brasil. Há possibilidade de uma troca interessante nesse caso.

Aproximação - Existe algum país que o senhor considera referência em EaD? Simão Neto - Não, pois acredito que tem experiências interessantes em todos os países, tanto negativas, em que aprendemos muito com elas, quanto positivas seja aonde for (países pobres, ricos, maiores ou menores). Existem algumas referências que construíram esse mérito por tudo o que já fizeram, como a Universidade Aberta Inglesa (a Open University), que é considerada modelo mundial para educação a distância. Isso não quer dizer que ela faça necessariamente melhor do que as instituições brasileiras. Ela é referência por seu histórico, pelo tempo que já permaneceu nesse campo e pelas iniciativas e recursos que usa. Algumas das que não tão grandes, são conceituadas pela inovação

que trazem e pela coragem de experimentar novidades. Existem alguns países que tem essa dinâmica, já outros são mais conservadores, mas apresentam maior segurança. Temos que ter ao mesmo tempo a humildade de saber reconhecer os feitos de outros grupos, mas não ao ponto de achar que devemos sempre aprender com eles. Nós temos muito pra ensinar também.

Aproximação - O senhor é diretor e fundador do Interfaces. Conte mais sobre ele... Simão Neto - O Interfaces é um instituto que congrega alguns profissionais que objetivam fazer justamente essa 'interface', essa ligação entre as pessoas, entre as instituições. O lema do instituto é 'unindo inteligências', então o que procuramos é fazer isso. Existem inteligências diversas em todos os lugares do mundo e procuramos fazer ações que as aproximem. Dentro de tudo o que é possível transformar, escolhemos a área de educação e da cultura, pois acreditamos que elas realmente permitem essa aproximação. Hoje temos a base do instituto na Suíça, onde sou o responsável, e também há representações muito fortes em Tóquio, no Japão (buscando unir as inteligências do Oriente) e uma no Brasil. Pretendemos expandir, não em termos de crescimento da instituição, mas na área de ação, nas nossas parcerias, nas interfaces que se consiga construir nesse caminho. Ainda é algo muito modesto, muito humilde, mas com a coragem de inovar e a liberdade de propor novas parcerias, a junção de forças a esses diversos recursos pode ajudar a construir uma educação melhor e usar a cultura cada vez mais para o bem das pessoas. 11


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Fredric Litto

Uma visão crítica sobre a EaD no Brasil O professor Fredric Litto, presidente da Abed (Associação Brasileira de Educação à Distância), é uma das maiores autoridades em EaD do País. Professor emérito da Escola de Comunicação e Artes da Universidade São Paulo e Fundador da Escola do Futuro da USP, tem seu trabalho reconhecido com dois prêmios Jabuti, um em 2009 e outro em 2011, pelos livros “Educação a Distância - o estado da arte”, e “Aprendizagem a Distância”. Em entrevista à Aproximação, Litto demonstrou ter uma visão muito crítica em relação à Educação a Distância no Brasil e falou sobre a demanda de trabalhos mais quantitativos e experimentais na área de EaD que contribuam com um modelo brasileiro de Ensino a Distância. Confira:

Aproximação - Nesta recente trajetória do Ensino a Distância no Brasil baseado na tecnologia, adaptamos muitas iniciativas estrangeiras já consolidadas e, aos poucos, estamos desenvolvendo projetos nacionais. Nesse sentido, e considerando os avanços conquistados em EaD na última década, já é possível traçar uma perfil da Educação a Distância brasileira em relação ao praticado no exterior, quanto a aspectos qualitativos? Litto - Acredito que a principal mudança na prática de EAD no Brasil nos últimos tempos tem sido a migração do uso de tele-salas (e sua consequente dependência de satélites, de salas-fixas aonde os estudantes têm que ir para receber o conhecimento) para o uso da web (que oferece maior flexibilidade na escolha de tempo e espaço para estudo para o aprendiz). Em termos de estrutura de pedagogia, não acredito que podemos falar já num modelo verdadeiramente brasileira de realizar a EaD, talvez devido à herança de disposições regulamentares do MEC, que pressionam para um único modelo não especialmente criativo, talvez devido à falta de criatividade mesmo dos desenhistas instrucionais que determinam o padrão que cada instituição usa para o processo ensino/aprendizagem. 13


Aproximação – Os Congressos de EaD estão ganhando novas edições pelo País e estão ficando maiores a cada ano. Além do aumento no número de oficinas e palestras, é também significativo o aumento no número de artigos, trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses na área de EaD. Toda essa produção acadêmica e os congressos têm apontado alguma tendência na área? Quais são as principais preocupações e focos de discussão? Litto - Embora estamos felizes com o crescimento de participação de cada vez mais educadores oferecendo trabalhos de pesquisa e de estudos-de-caso sobre práticas de realização de EaD (por exemplo, em 2012, foram submetidos 456 trabalhos, dos quais a comissão científica da Abed houve por bem selecionar 230 para apresentação no Congresso annual). Mas só esses números não contam que poucos desses trabalhos (submetidos e aceitos) usaram métodos quantitativos ou experimentais, abordagens que teriam mais utilidade na criação de um modelo de praticar a EaD elaborado específicamente baseado em características de aprendizagem dos brasileiros (por exemplo: preferências para as dosagens de texto, imagens e sons; preferências para a duração de “aulas formais” entregues via web; os “estilos heurísticos” dos brasileiros na busca de informação em grande bases de dados; experimentação em torno da questão de duração de cursos—é pouco realista a exigência do MEC de que cursos universitários a distância tenham a mesma duração em semanas que os mesmos cursos presenciais, tanto quanto a exigência do MEC que seja obrigatório seguir o uso do “semestre”, tanto em EaD quanto no presencial, um vestígio da educação numa sociedade agrícola, que não existe mais; experimentação com os hábitos de leitura dos aprendizes nos Brasil—o grau de sua tolerância por textos cada vez mais longos e mais densos, que os preparariam para lidar com a literatura científica internacional, que é exigente. Não temos evidência de que as instituições brasileiras que praticam a EaD tomam suas decisões sobre suas práticas baseadas em evidências, que, por sua vez, são resultados de pesquisa antes, durante e depois de cada curso. Seria generoso dizer que estamos incipientes no

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uso de pesquisa para tomar decisões—continuamos tomando decisões apenas na base de tradição e nas impressões autocráticas dos docentes todo-poderosos.

Aproximação - Gostaríamos que o senhor falasse um pouco sobre a Abed. Qual é a sua função e quais são suas metas mais imediatas? Litto - Abed é uma sociedade científica, sem fins lucrativos, que congrega os interessados no assunto “aprender através de mediação de alguma tecnologia”. Abed não representa os interesses de nenhum grupo específico (como universidades públicas ou privadas, mantenedores, funcionários, partidos políticos, entidades religiosos, governamentais, ou empresariais). Cinquenta porcento dos seus associados provém do ensino superior e básico, trinta porcento de empresas e órgãos e agências governamentais, dez porcento do Sistema “S” (Sesi, Senai, Senac e Sebrae), e dez porcento de museus, bibliotecas, sindicatos e outros grupos interessados. Seu presidente senta, várias vezes por ano, na mesma mesa de reunião com os presidentes das demais sociedades científicas brasileiras (de Física, de Química, de Antropologia, de Linguística, de Medicina, entre muitos outros). Abed se sustenta com a realização dos seus eventos (congressos, seminários) e das suas publicações (por tradição, os autores sempre cedem os direitos autorais e proventos para a Associação), frequentemente recebendo apoios do CNPq, Capes e de entidades estaduais de apoio à pesquisa. Através das suas ações, Abed cria “território neutro”, onde educadores e outros profissionais podem expor os resultos das suas investigações e experiências práticas significativas. Sem a atuação, com isenção e imparcialidade, da Abed, aqueles que querem comunicar à comunidade de profissionais da sua especialidade, teriam que depender de ações realizadas por instituições do ensino, nem sempre isentas ou imparciais. Nos países mais avançadas científicamente, é visto com suspeição a publicação de livros ou artigos em revistas científicas de contribuições feitos por investigadores da mesma instituição, uma vez que tal prática pode admitir a possibilidade da não-aplicação de


sérios critérios de qualidade no caso. Abed se esforça na criação de conscientização, na sociedade geral, dos benefícios que a EaD oferece, trabalha nos bastidores para diminuir legislação bem-intencionada mas contraproducente, e para premiar e divulgar boas práticas, ao mesmo tempo que tenta “corrigir” as mãs práticas através de persuasão e orientação. As metas da Abed a curto prazo todas direcionadas à realização de atividades que promovam essas últimas questões.

Aproximação - O projeto Escola do Futuro é pioneiro na investigação de novas tecnologias para o Ensino a Distância. O senhor esteve na Coordenação de 1989, quando o projeto teve início, até 1992. Na sua opinião, durante toda a existência da Escola do Futuro, quais foram os resultados atingidos mais significativos e em que áreas o projeto ainda colaborar? Litto - Não, só saí da Escola do Futuro, e da sua coordenação científica, em 2006, quando a então reitora decidiu (contrariando a prática de reitores anteriores) que professores aposentados não poderiam dirigir laboratórios de pesquisa da USP. Tendo recebido, nos mesmos dias, convite para assumir a Cátedra Rio Branco na Universidade de Londres (convênio Capes-Governo do Reino Unido), aceitei, e minha colaboradora (e ex-orientando de mestrado e doutorado, doutora Brasilina Pasarelli, assumiu a coordinação de 2006 até hoje). Acredito que as principais contribuições da “Escola do Futuro da USP” [EF-USP] foram os seguintes: apesar da resistência contra o uso de tecnologia (especialmente as mais novas) no processo ensino aprendizagem que

reinava na própria USP e nas comissões de área onde são distribuídos os recursos para pesquisa do CNPq, da Capes e da Fapesp, conseguimos derrubar, em parte, alguns dos muros de préconceito e demonstrar a eficâcia dessas novas tecnologias. Conseguimos trazer, pela preimeira vez em todo o Brasil, para ministrar oficinas para nossos pesquisadores e docentes de outras escolas e universidades no país, estrangeiros que eram os primeiros expoentes da “nova paradigma em educação”, do uso em escolas do ensino básico de computadores e de redes telefônicas comuns (acrescidas mais tarde pelo Videotexto, BBSs e Internet). Trouxemos, com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento, doze experientes especialistas do Canadá, Estados Unidos, Inglaterra e Israel, mandamos doze pesquisadores do nosso laboratório para estágios nestes países e muitos outros. Diferente de um ou dois outros laboratórios (como Unicamp e UFRGS) que se limitavam apenas à investigação do excelente software “Logo” para introduzir jovens ao computador, a EF-USP, nascido na Escola de Comunicações e Artes da USP, concentrou seus esforços na criação de material educativa para escolas em forma de múltimídia, hipermídia e a inter-conexção de escolas, via redes eletrônicas, para trabalhos acadêmicos interativos e colaborativos entre alunos e professores espalhados em todo o território nacional. Fomos os primeiros a criar: uma Biblioteca Virtual na Web para Estudantes - BibVirt (com características multimídia) que chegou a ter 20.000 usuários por dia nos seus últimos anos; um repositório na web de 200 objetos de aprendizagem para a aprendizagem de ciências - LabVirt; uma rede de telecentros para o Estado de São Paulo com treinamento de monito15


res, desenvolvimento de conteúdos educativos e pesquisa sobre as opiniões e hábitos dos usuários, o AcessaSãoPaulo; uma rede interligando alunos e professores em centenas de escolas públicos na metade geográfica do país coberta pela empresa Telemar, agora Oi Futuro; todos esses projetos gerando dezenas de teses de mestrado e doutoramento, como foram os projetos de menor porte como as pesquisas feitas como holografia, a produção de videodiscos interativos, computadores vestíveis, RPG (Role Playing Games) para aprendizagem, entre muitos outros. Mais de 100 pesquisadores, sênior e Junior, passaram pela EF-USP e levaram para outras instituições os conceitos e experiências lá adquiridas. E tudo isso foi feito sem o uso de recursos do orçamento da USP, que, pela natureza do estatus do laboratório, um “núcleo de pesquisa”, não podia dar apoio do orçamento da instituição. Nos últimos quatro anos da minha coordenação, a EF-USP trazia mais de dois milhões de dólares anualmente em apoio aos seus projetos de entidades públicas e privadas externas. Prefiro não comentar os projetos atuais da EF-USP porque, de fato, não tenho conhecimento deles. Quando saí do laboratório em 2006, resolvi deixar minha sucessora, em que tinha toda confiança, com campo livre para criar novos caminhos com independência, sem a interferência de um “gringo rabujento”.

Aproximação - O senhor é um entusiasta do programa Univesp. O projeto enfrentou forte resistência no início em 2008, e agora está prestes a se tornar um modelo de sucesso. O site do programa já aponta cursos em andamento. O senhor tem acompanhado o programa? Algum resultado em particular já chama a atenção? Quais serão os principais desafios? Litto - O plano original era estender as atuações acadêmicas de alta qualidade científica das três universidades públicas paulistas até todos (ou quase todos) os 600 e tantos municípios paulistas, através da modalidade educacional denominada “aprendizagem a distância”, específicamente usando uma mistura inteligente de mídias como televisão e a web. Esta abordagem é encontrada bastante em outras partes do mundo, como na

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província canadense de Columbia Britânica, onde já existiam instituições convencionais (essencialmente presenciais, mas também usando EaD) e o desejo do governo de aumentar a disponibilidade de conhecimento avançado acrescentando mais uma agência educacional, totalmente a distância, e, na nova situação todas as instituições públicas funcionam de forma coordenada (p.ex., evitando duplicação de esforços), atendendo os rincões mais distantes na província. Por razões que só podem ser consideradas clássicos exemplos de elitismo e egoísmo, muitos docentes, estudantes e funcionários das três universidades públicas paulistas demonstraram seus agudos preconceitos contra a modalidade de EaD, e não apenas inviabilizou o pleno desenvolvimento dessa excepcional ideia de democratizar acesso ao conhecimento humano em todo o Estado, mas até fizeram greves para reforçar suas posições conservadoras e reacionárias. A liderança governamental do Estado percebeu que a única maneira de realizar este sonho de levar excelência universitária a todos os cantos do Estado seria através da criação de uma nova instituição pública, que teria as condições de começar, de estaca zero, sem qualquer herança negativa derivada das instituições estaduais mais antigas, e suas tradições conservadores, pesadas e resistentes a mudanças inovadoras e dinâmicas. Assim, sempre observando as metas de qualidade científica (seguindo padrões internacionais em cada área de estudo), a nova instituição, a Univesp, agora tem o desafio de criar novos padrões de uma “carreira docente” mais moderna, flexível e atualizada, de implantar agilidade na aprovação de medidas que refletam as mais progressivas ideias no processo ensino/ aprendizagem. A Open University do Reino Unido foi criado desse mesmo jeito, com independência desde o primeiro dia, em 1970—para evitar trazendo os vícios das universidades tradicionais da época para dentro de uma nova instituição que tem uma missão estratégicamente crucial para o desenvolvimento do país. Novos quadros docentes, equipes de produção de novo material didático empregando multimídia, interatividade e ênfase no trabalho colaborativo, novas formas de avaliação dos trabalhos discentes....fazendo tudo isso sem qualquer pretensão de formar possíveis “elites”, mas, sim, de educar os centenas de mi-


lhares de novos bons profissionais que o Estado de São Paulo e o Brasil, precisam todo ano.

Aproximação – O senhor costuma comentar que o perfil do aluno para o Ensino a Distância é aquele que é pró-ativo e auto-disciplinado. Em sua opinião, nosso ensino médio tem preparado alunos com esse perfil? E quanto as graduações a distância dependem do Ensino Médio presencial? Litto - Toda a evidência indica que raras são as escolas brasileiras do Ensino Médio, públicas ou privadas, que superaram o antigo paradigma educacional (aulas expositivas, salas que são modelos de linhas de montagem fabris e usadas para meramente transferir conhecimento em vez de aprofundar a compreensão do aluno, ênfase na memorização de fatos e dados e não no pensamento crítico, que é transferível para diferentes domínios), essencialmente caracterizado pelo aluno recebendo um “prato feito” preparado pela escola, memorizando esse conteúdo (e esquecendo-lo logo depois dos exames). Quando o estudante assim preparado chega até uma boa instituição do Ensino Superior, que não repete esse modelo ultrapassado de educação, é claro que há um choque grande, porque no “novo paradigma” não há mais um “prato feito”, nem um aprendiz passivo, desestimulado, cínicamente zombando do professor e do sistema. Esse tipo de indivíduo não aguenta as exigências do estudante no novo paradigma—a necessidade de ser pro-ativo, disciplinado, motivado, competitivo, se esforçando para atingir a excelência no seus

estudos. Quem não consegue fazer isso, escorregará para trás em todo o resto da sua vida— conquistando apenas ocupações medíocres que oferecem pouco responsabilidade e remuneração modesta. O estudante típico de EaD no Brasil passou alguns anos entre sua formatura no ensino médio e o início dos seus no ensino superior; ele sabe como é o mundo real—competitivo, ingrato e exigente, e ele sabe lidar, com maturidade, com o “novo paradigma.

Aproximação - O Ensino a Distância é uma realidade e tem se consolidado com o passar dos anos. De alguma forma, esse avanço vai impactar também no ensino presencial, na medida em que terão de enfrentar, uma hora ou outra, os problemas, como a metodologia ultrapassada e todo o conservadorismo que o rodeia. Nesse contexto de uma EaD forte, o que podemos esperar do futuro do ensino presencial no Brasil, quanto à sua função? Litto - A experiência do Brasil, e de outros países, têm demonstrado que o estudo presencial vai interpenetrar, nos próximos anos, com características da EaD, sendo absorvidas pelo presencial, e vice versa. Haverá cursos totalmente a distância e cursos totalmente presenciais—mais haverá uma maioria de programas de aprendizagem, em todos os níveis, que misturam as duas modalidades, aproveitando os benefícios de ambos, de acordo com as especificações do conteúdo, as características (como aprendizes) dos alunos típicos, entre outros critérios.

“Toda a evidência indica que raras são as escolas brasileiras do Ensino Médio, públicas ou privadas, que superaram o antigo paradigma educacional, essencialmente caracterizado pelo aluno recebendo um ‘prato feito’ preparado pela escola, memorizando esse conteúdo”

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Aproximação – Há algum país que seja referência global em EaD sobre o qual o Brasil deva prestar atenção? Se sim, em quais aspectos? Litto - Admiro mais o Reino Unido e Canadá, o primeiro por ter sido o primeiro a agir no sentido de realizar um educação superior “para o povo” (como a Universidade de Londres, em 1853), algo que as antigas universidades centenárias de Oxford e Cambridge não estavam organizadas para fazer, e por oferecer um esplendido programa de educação profissionalizante (consequência de ter sido o local do início da Revolução Industrial). Canadá, porque lá o povo tem um sentimento democrático tão forte que aprova as despesas altas para o uso de sofisticadas tecnologias que garantem que todos os cidadãos, independente de onde residem (perto do Círculo Ártico, ou perto dos limites com os Estados Unidos), tem acesso a assistência médica e a educação avançada. É admirável!

Aproximação – Dentro de 5, 7, 8 anos, o Brasil será uma potência em EaD nos níveis de Mestrado e Doutorado? O que pode dar errado? Litto - Sim, com certeza. Uma vez superando os preconceitos contra a EaD encontráveis em vários setores do próprio MEC e nos colegiados conservadores de muitas universidades públicas e privadas, vamos ver a Capes emitir suas indicadores para a avaliação de cursos de pós-graduação a distância, e as instituições estarão “liberadas” para experimentar com novas estruturas pedagógicas e inovações tecnológicas. O que pode dar errado? (1) pelo conservadorism inerente aos colegiados universitárias, é possível que o País terá que sofrer um longo período de amadurecimento de pós a distância: haveria muitas tentativas de criar um EaD que é um “clone” do presencial (assim, perdendo as possibilidades esplendidas que a EaD oferece de ultrapassar as convenções limitadoras do presencial). (2) Embora não é exatamente “dar errado”, pode ser que a aderência de alunos mais maduros à EaD seja mais lenta do que imaginamos. EaD não é para todas as pessoas. Quem precisa de um “professor” em carne e osso ao lado, ou para elogiar o trabalho discente, ou para “cobrar” paternalisticamente o trabalho discente, não serve para estudar através

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da EaD. Temos que ter cuidade de ter “expectativas excessivas”, achando que 100% daqueles que querem estudar em níveis avançadas vão ter a maturidade, motivação e pro-atividade de optar pela modalidade EaD.

Aproximação – Quem se forma em uma graduação na modalidade de EaD pode, eventualmente, enfrentar certo preconceito por parte de um futuro empregador, por exemplo. Para um recém-formado que passar por uma situação dessas, que palavras-chave devem estar no seu discurso de convencimento da outra parte? Litto - As palavras que são convincentes são: por causa dos meus estudos através da EaD, serei um colaborador mais pro-ativo, tomando a iniciativa e não esperando ordens para agir, cumprindo os deadlines estabelecidas para as tarefas e mostrando minha alta motivação no tipo de trabalho que estou fazendo!

Aproximação – O senhor é graduado em Rádio e Televisão, pela University of Califórnia. As vídeo-aulas que o sistema EaD tem utilizado Brasil afora tem que papel no processo de ensino-aprendizagem a distância? Litto - Tem a função de deixar o estudante sentir “confortável” com um ambiente tão similar ao presencial que conhecia no ensino médio. Mas, com o tempo, e a experiência, as aulas “gravadas” serão substituídas pela leitura, a redação (sozinha ou em colaboração) e o peer-to-peer mentoring, no qual os estudantes têm um papel novo e importante na avaliação com os trabalhos dos seus colegas.

Aproximação – Os Meios de Comunicação de Massa (MCM) são, podem ser ou jamais serão fundamentais no processo de ensino -aprendizagem de EaD? Litto - Claro, só que nós vamos usá-los em novas combinações, como comunicação: um-a-um, um-a-muitos, muitos-a-um, e muitos a muitos,..... uma variedade de esquemas que deixe a sala de aula convencional como peça de museu.


Aproximação – Na década passada, o senhor publicou textos sobre uma 'ecologia do conhecimento'. O que é e como se processa, em EaD, esta ecologia do conhecimento? Litto - Um “ecosistema” é um ambiente composto de vários elementos, cada um tendo características específicas que contribuam (positivamente ou negativamente) ao funcionamento de todo um ambiente. “Conhecimento” pode ser visto como um ambiente contendo elementos clássicos como aprendizes, professores, tutores (professores júnior), material didático local e distante, autores, avaliadores internos e externos, administradores, acervos (bibliotecas, museus, arquivos, entre outros). A tecnologia da informação tem mudado a “configuração” desses elementos—quem faz o que, quem paga quem, quem é o “curador” de que, e assim em diante. Os velhos modelos não servem mais, porque a tecnologia permite eliminar certas tarefas e até certas profissões (diminuindo custos....); da mesma forma a formação de quadros profissionais está, atualmente, totalmente em dissonância com a realidade da praça de trabalho. A poeira ainda não se assento, e vem mais mudança tectônicas ainda a acontecer no futuro próximo. Tentei explicar isso num artigo que fiz em 2006 para a revista Inclusão Social, publicado pelo IBICT/MCT e disponível gratuitamente online: “O Novo Ecosistema de Conhecimento”.

Aproximação – Entre 2008 e 2012, o senhor publicou, com co-autoria, dois livros sobre um panorama de 500 anos da EaD. Quais as principais distinções e as maiores semelhanças entre os dois extremos – 1500 e 2013?

Litto - Temos um problema aqui: ninguém nunca falou de EaD em 500 anos. A data do passado mais importante para estudos a distância no ensino superior é de 1858, quando a Universidade de Londres começou a oferecer cursos de correspondência em todo o império britânico (Índia, África do Sul, Austrália, Canadá e todo o Reino Unido). Mahatma Gandhi, morando na África do Sul, fez todo o curso de Direito por correspondência, isso numa época na qual o navio do correio levava dois meses para fazer a viagem entre os dois países, e dois para voltar. Gandhi teve que esperar quatro meses para receber as respostas às suas dúvidas. E hoje, o aluno estudando via web, acha um afronto ter dúvidas. Que mudança!

Aproximação – O modelo presencial de Ensino Superior sobreviverá a EaD? Se sim, o custo da sobrevivência será muito alto? Litto - Sim, sobreviverá, porque sempre haverá pessoas preferindo o presencial ao mediado pela tecnologia. E provavelmente teria um custo superior por causa da necessidade de ter custos envolvidos com o presencial: custos diretos e indiretos de alugel/propriedade, manutenção, ar condicionado ou calor, limpeza de espaço; maior custo para produção de material didático em escala menor, maior atenção individual ao aluno (customização), e assim em diante. Mas sempre haverá pessoas dispostas a pagar a diferença, como a diferença entre um vestido/terno sob medida, e um “off the rack”. Sempre foi assim, e, provavelmente, sempre continuará assim, mesmo em áreas críticas como a educação e a aprendizagem.

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Pedagogia da Vizivali

Finalmente formados! 20


“A gente foi ficando com o psicológico abalado, pois pensávamos como tínhamos nos deixado enganar daquela maneira” Eli Pucholobek, agora formada pelo polo da UAB de Nova Tebas

O medo de não ter um diploma que garantisse os anos dedicados aos estudos acompanhou por muito tempo os alunos matriculados entre 2002 e 2004 no curso de Pedagogia da Faculdade Vizinhança Vale do Iguaçu (Vizivali). Finalmente, porém, mais de 1,6 mil ex-estudantes da Vizivali se formaram em abril deste ano graças a uma complementação oferecida pela Unicentro, por meio de uma complementação dentro do sistema da Universidade Aberta do Brasil. As dificuldade enfrentadas nos mais de oito anos de espera não impediram que os alunos buscassem incessantemente seu diploma. Margarete Cristina Montanini Villagra pleiteava um concurso no Estado do Paraná que seria possível com um diploma em mãos. Apesar de ter feito um curso superior, ter estudado e se dedicado nos anos da Vizivali, Margarete não podia seguir em busca de seus objetivos. “A maior angústia foi saber que eu tinha feito um curso superior e não ter o diploma”, contou à reportagem da Aproximação. Durante o tempo em que fazia a complementação disponibilizada pela Unicentro em seus polos da UAB, Margarete descobriu um problema grave de saúde. A luta tor-

nou-se em dobro: pela saúde e pela certificação. Homenageada pelos colegas na cerimônia de colação em seu polo (o de Apucarana), devido à sua persistência, Margarete sentiu o grande sabor da vitória quando finalmente pegou o documento em suas mãos: “Estou lutando tanto pela minha saúde e lutei tanto por esse diploma que para mim foi uma vitória em dose dupla”, ponderou. Além do polo de Apucarana, as cerimônias ocorreram nas cidades de Dois Vizinhos, Guaraniaçu, Lapa, Laranjeiras do Sul, Nova Tebas, Pato Branco, Pinhão e Prudentópolis. A angústia contínua sentida por aqueles que ainda não tinham o diploma em mãos desestruturou o psicológico de muitos. “A gente foi ficando com o psicológico abalado, pois pensávamos como tínhamos nos deixado enganar daquela maneira. Quando tinha algum curso, perguntavam quem tinha formação e quem era da Vizivali, tínhamos vergonha de falar pros outros.” conta Eli Pucholobek, formada agora no polo da UAB de Nova Tebas. Com o diploma em mãos, Eli sentiu-se, mais do que tudo, aliviada. “Parece que aquele monstro que nos assombrava sumiu”. E não foram só os estudantes do polo de Nova Tebas que passaram

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por constrangimentos desta natureza. Ceni Salete Biavati, do polo de Guaraniaçu, conta que passou por várias situações complicadas: “O pessoal ficava nos humilhando, sempre ouvíamos piadinhas de colegas formados por outras faculdades”. A complementação oferecida pela Unicentro veio como um resgate as suas esperanças, por meio de uma costura que envolveu diretamente o reitor da Unicentro, professor Aldo Nelson Bona, a diretora geral da UAB Unicentro, professora Maria Aparecida Crissi Knüppel, e os chefes do Executivo paranense – o governador Beto Richa e seu vice, Flávio Arns. “No momento em que a gente começou a fazer a Unicentro, eu sempre dizia que para mim não era problema nenhum fazer uma adaptação e sim algo que vinha para acrescentar o meu conhecimento”,

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conta Ceni, ponderando que, concluída a etapa, passou a ter certeza dos acréscimos que teve. Agora, os novos formados veem surgir em sua frente inúmeras perspectivas positivas. Concursos públicos, empregos distintos, aumento de salário. Não importa quais as pretensões que orientaram os alunos até aqui, agora elas parecem mais próximas de se tornarem realidade. “Hoje, eu já subi de nível na minha carreira profissional. Com o meu certificado, consegui pegar o diploma de pós-graduação que estava parado porque não tinha certificação da faculdade. Já estou pensando em um projeto de mestrado. Só estou tendo avanços na minha carreira profissional”, assegura Esli Aparecida Ferraz Hansel, formada pelo Polo de Pato Branco.

“Hoje, eu já subi de nível na minha carreira profissional. Com o meu certificado, consegui pegar o diploma de pós-graduação que estava parado porque não tinha certificação da faculdade. Já estou pensando em um projeto de mestrado. Só estou tendo avanços na minha carreira profissional” Esli Aparecida Ferraz Hansel, agora formada pelo polo da UAB de Pato Branco


Cenas de algumas das nove cerim么nias de formatura realizadas em abril de 2013 pela Unicentro, para alunos do caso Vizivali

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Maria Aparecida Crissi Knüppel

Diretora do Nead é avaliadora nacional de polos Diretora geral do Núcleo de Educação a Distância (Nead) da Unicentro, a professora Maria Aparecida Crissi Knüppel tem desempenhado um papel crescente no sistema brasileiro de EaD, o de coordenadora de um Grupo de Trabalho (GT) no Ministério da Educação (Mec) que mantém diálogo próximo e permanente com polos desta modalidade de Ensino. Seu trabalho faz parte de um fórum de coordenadores do complexo UAB, atuando na mediação entre as necessidades da Capes (órgão federal bastante envolvido com a Ead, também ligada ao Mec) e as possibilidades dos polos. 24

Maria Aparecida (ou Cida, como é mais conhecida) conta que uma das tarefas do GT é monitorar e estimular ações que melhorem o desempenho dos locais de apoio à EaD espalhados pelo Brasil. “Por meio de uma análise da concepção pedagógica, da metodologia e das tecnologias utilizadas, podemos melhorar os recursos dos polos, estes que são a principal referência do aluno de EaD”, conta a professora. O GT é composto de 103 membros, originados de Universidades públicas e particulares de todo o país.


“A valorização que eles dão ao curso é grande. Geralmente, são pessoas não tiveram chance de ingressar num estudo superior anteriormente e encontram na EaD a esperança de uma formação”

Cida recorda que, quando um polo vai ser avaliado, a equipe de inspeção é formada por um especialista em métodos pedagógicos e tecnologias e por um expert em currículos escolares, que analisa o conteúdo das aulas oferecidas aos estudantes. Ainda segundo Cida, a parte mais difícil da EaD é a de formação de professores para o sistema, pois a maioria deles possui uma concepção de ensino marcada pelo viés do modo presencial. No entanto, esses profissionais são treinados por meio do PAC, o Plano Anual de Capacitação, para aprender a trabalhar com as ferramentas de Ensino a Distância. O curso ensina desde o uso da plataforma Moodle (a mais utilizada no mundo todo) até a produção de vídeo-aulas caseiras (mas com a devida qualidade técnica). No tocante à Unicentro, por exemplo, 180 docentes estão abrangidos pelo PAC. Também na esfera da Unicentro, Cida lembra que um dos mais importantes suportes que têm sido estruturados ultimamente é o banco de objetos didáticos. Por enquanto estão sendo feitos os cadastros de materiais e a verificação de licenças dos mesmos. Livros, artigos, periódicos, vídeos, web conferências, slides, imagens e documentários são alguns dos itens que farão parte do banco, que deve entrar no ar dentro de alguns meses. Avaliadora do MEC de cursos de educação a distância há três anos,

a professora Cida diz que uma das características mais marcantes no EaD é o perfil dos alunos, que apresentam muito foco, dedicação e autonomia em relação ao estudo. “A valorização que eles dão ao curso é grande. Geralmente, são pessoas não tiveram chance de ingressar num estudo superior anteriormente e encontram na EaD a esperança de uma formação”, relata. Cida elogia a melhora na leitura e produção de textos dos alunos do Paraná, além do aumento da capacidade linguística e de desenvoltura para escrever. Outro aprendizado muito importante é o de uso de tecnologias. Muitos dos alunos não possuem tanto contato com os meios como computador e Internet e as aulas de EaD possibilitam, de certa forma, uma alfabetização tecnológica. Neste cenário, um dos lugares mais marcantes que a coordenadora da UAB/Unicentro visitou foi a cidade de Nova Tebas, no Centro do PR. Com cerca de apenas de 5 mil habitantes na zona urbana, uma formatura de Pedagogia (oferta especial) de aproximadamente 100 alunos foi considerada histórica para município, pois possibilitou o diploma para cidadãos que talvez jamais tivessem essa condição não fosse a EaD. “A cerimônia foi simples, realizada em um barracão, mas de significado ímpar para os formandos e para nossa equipe”, arremata Cida.

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Arredondo foi um dos palestrantes do 3o Congresso de Educação a Distância da Unicentro: Concepções e Práticas Pedagógicas, realizado entre os dias 15 e 18 de maio no campus Santa Cruz em Guarapuava.

Santiago Castillo Arredondo

A EaD é um Durante o 3º Congresso de Educação a Distância, realizado na Unicentro durante o mês de maio passado, a Aproximação conversou com exclusividade com o professor doutor Santiago Castillo Arredondo. Arredondo é professor da UNED, Universidade Nacional de Educação a Distância de Madrid (Espanha), desde 1983 e um dos grandes nomes europeus no estudo acerca da EaD. Em sua palestra no 3º Congresso de EaD, Arredondo tratou do tema “Educação a distância: limites e desafios na sociedade atual”. A seguir, os principais trechos do encontro com o pesquisador:

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’ o i ‘víc

Aproximação - Como o senhor vê a situação dos países íbero-americanos no contexto da Educação a Distância? Há alguma diferenciação em relação aos países da Europa? Santiago - Há muita diferença em todos os países da América Latina, porque o desenvolvimento da Educação a Distância é muito desigual. Neste momento, na Europa, a Educação a Distância é uma atividade pública. Agora é que estão surgindo universidades virtuais particulares. Aqui no Brasil, na Argentina, Peru, Colômbia, as universidades


virtuais a distância, em sua maioria, são particulares. Creio que agora, especialmente aqui no Brasil com a criação da Universidade Aberta do Brasil, o governo e as autoridades públicas parecem ter tomado consciência da importância da EaD. Dessa maneira, portanto, o país vai se aproximando das fórmulas já internacionalmente reconhecidas. Aproximação - O senhor se formou na Bolívia, em um curso de especialização para educadores a distância. Como está a situação dos países andinos hoje? Santiago - Na Bolívia, assim como em outros países com problemas econômicos no continente, a pobreza envolve toda a sociedade, afetando também a educação e a formação dos profissionais da educação. O projeto que há na Bolívia para formar professores interinos, sem formação superior, é uma necessidade que estava sendo sentida. Então, o governo da Bolívia firmou uma parceria com o governo espanhol e a UNED surgiu como a instituição que melhor poderia desenvolver um convênio para formação e profissionalização dos professores sem curso de graduação. Mais de 25 por cento dos professores na Bolívia não tem curso superior. Mais de 25 por cento! O programa durou cerca de oito anos, até que o governo mudou. E quando isso acontece, tudo muda. Durante o programa, sempre aplicamos a fórmula da UNED: bons professores e tutores, bons materiais, exigência no sistema de avaliação. Havia um reconhecimento social e institucional sobre esse desafio. Aproximação - Como a Educação a Distância pode andar junto com a sociedade, auxiliando no desenvolvimento econômico da América Latina?

Santiago - Acredito que a Educação a Distância tem muito mais futuro do que passado. Por exemplo, a UNED tem 40 anos e seu sucesso é, de alguma forma, reconhecido por outros países. Entretanto, aqui é um pouco diferente de como eu gostaria que fosse a Educação a Distância. Veja bem, creio que há pouca aceitação por parte de alguns setores dirigentes da sociedade para aceitar e crer nas possibilidades da educação a distância, há ainda muita desconfiança. Aproximação - Quais são as diferenças práticas, do dia-a-dia da Educação a Distância, que se diferem do ensino presencial? Santiago - A diferença diária mais evidente é que não existe um horário de aula. O aluno não tem que se preocupar em estar na aula de matemática ou de artes... Não há horário O seu horário de estudo é feito por ele e o aluno não precisa se preocupar em regular ou cronometrar o seu tempo dedicado ao estudo. O aluno a distância, desde sua matrícula, tem toda a documentação que necessita para valorizar seu estudo e é seu dever saber se organizar para conseguir o melhor resultado possível. Aproximação - O ensino a distância está se desenvolvendo cada vez mais. Quais os avanços que estão por vir? Há algum empecilho muito grande? Santiago - O futuro da EaD está para se escrever. Digamos que, se utilizado pelos Estados como uma potente ferramenta de difusão de cultura, conhecimento e informação, o futuro é muito mais amplo que o da educação presencial. Será normal que a EaD assuma algumas características da EaD para poder, digamos, existir numa sociedade que está cada vez mais tecnológica.

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“Se uma pessoa não crê nas possibilidades da Educação a Distância, então dá muito trabalho convencê-la pois ela já tem ideias formadas, preconceitos. Esta é uma dificuldade real que encontramos em muitos países”

Aproximação - Quais as maiores dificuldades encontradas por aqueles que estudam a Educação E distância? Santiago - A dificuldade é por “menosprezarem” a EaD. Ou se crê ou não se crê nela. Se uma pessoa não crê nas possibilidades da Educação a Distância, então dá muito trabalho convencê-la pois ela já tem ideias formadas, preconceitos. Esta é uma dificuldade real que encontramos em muitos países. A diversidade de modelos que há em torno da educação na América torna muito difícil encontrar um denominador comum da Educação a dDistância. Aproximação - A UNED é totalmente financiada pelo governo espanhol? Santiago - Sim. A UNED é uma universidade federal, pública, que pertence ao Estado. Portanto, o mesmo Estado que financia as universidades presenciais da Espanha, financia também a UNED. Aproximação - Qual a diferença entre os polos do Brasil e os centros sociais da UNED? Santiago - Há a comparação entre os centros sociais da UNED e os polos aqui do Brasil. Entretanto, eles não são comparáveis. Enquanto aqui um polo é onde os tutores que irão atender os alunos ficam, na Espanha, um centro associado tem uma infraestrutura muito maior. É um prédio com mais de mil metros quadrados, com salas de aulas,

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escritórios, serviço administrativo completo (diretor do centro, secretário), um auditório para conferências, implantação de novas tecnologias para vídeos-conferências. Todos os recursos universitários que devem existir numa universidade. Aqui no Brasil, pelo que sei, ainda não se chegou a tanto. Mas chegará. Aproximação - Num momento em que parte da Europa está em crise econômica, como tem sido o financiamento da EaD na Espanha e outros países do sul da Europa? Santiago - A crise afeta a todos. Digamos que a quantidade de dinheiro para funcionamento das universidades será reduzida em todas elas, assim como será com o salário dos professores. Porém, dito isso, o desenvolvimento da EaD na UNED seguirá como vinha sendo. Aproximação - Tradicionalmente, o Poder Público que financia a EaD. O senhor consegue visualizar algum modelo que a iniciativa privada tenha papel importante? Santiago - Aqui nos países íbero-americanos, a EaD se assimila conceitualmente a algo privado, não algo público, não com o financiamento do Estado. Atualmente na Espanha, estão surgindo outras universidades privadas e virtuais. Porém, elas não têm o alcance e a dimensão que a UNED tem atualmente. Creio que há lugar para todos, a sociedade demanda cada vez mais formação, mais cursos, mais


adequação aos novos tempos. Num trabalho você tem que se preparar para todas as diferentes possibilidades de trabalho. Então a Educação a Distância tem uma grande tarefa, seja virtual, seja privada, seja pública, seja como seja. Aproximação - O senhor disse que estamos nos tornando “viciados” em Educação a Distância. Como se tornar um viciado em EaD no sentido positivo? Santiago - O “viciado” que eu me referia é porque uma pessoa que trabalha na EaD acaba sendo um “drogadinho”. É uma forma de explicar que quando alguém trabalha com a EaD e crê nessa modalidade de ensino, todo o tempo do dia parece pouco porque não há um horário definido. Quando falamos em EaD, o horário não existe e te impõe uma sobrecarga de tarefas que fazem parte dessa modalidade. Ficamos apaixonados pelo ensino a distância, parecemos viciados nesse trabalho e não colocamos limites. E aí está um defeito, não vejo como virtude.

Acabamos sacrificando o tempo que seria destinado a família ou a nós mesmos. Aproximação - É possível pensar em versões para a Educação a Distância em cursos que dependam de laboratórios como Jornalismo ou Química, por exemplo? Santiago - É claro que é possível. A UNED tem faculdades de Ciências, que demandam laboratórios de Química ou Física. E você pode me perguntar: e o que fazem quando não há o laboratório no polo? Existem diversas fórmulas. Se no lugar onde há o polo há alguma outra universidade presencial ou outra instituição que possui os laboratórios necessários, se fazem parcerias com o laboratório e se possibilita a prática do aluno. Senão, no final do curso, jornadas intensivas são feitas para que o aluno realize essas atividades práticas. O critério é exigente. Um formado de Química a distância deve ter sair tão preparado quanto um licenciado de Química presencial.

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Galeria de fotos

3 CONGRESSO DE EAD 0

Concepções e práticas pedagógicas 15 a 18 de maio de 2013

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