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Mobilização pelo reajuste salarial

Durante o ano de 2022, o ANDES-SN atuou junto às demais entidades do SPF, no FONASEFE e FONACATE pela campanha salarial unificada dos SPF por reajuste emergencial de 19,99%, correspondente ao índice de inflação do IPCA de 2018 a 2021, e também pela revogação da EC 95 (“teto de gastos”) e pela retirada da PEC 32 ("reforma administrativa").

Fizemos a primeira reunião do setor das IFES no formato virtual no dia 12 de janeiro e, no dia 18, protocolamos nossa pauta junto ao governo federal. Tivemos reuniões virtuais e, a partir de abril, já presenciais. Foram realizadas várias jornadas de mobilização, com paralisações e atos em Brasília e nos estados, rodadas de assembleias e plenárias unificadas dos SPF para pautar a construção da greve unificada. O SINDOIF-RS deflagrou greve no dia 23 de maio, e a ADUFPA, no dia 6 de junho, com duração até 27 e 29 de junho, respectivamente. Destacamos a Jornada Nacional de Lutas, Mobilizações, Paralisações e Greve, de 25 a 29 de abril, em que as seções sindicais realizaram várias atividades nos campi, retomando a nossa mobilização nas ruas e nos campus 2022

Assembleia Unificada realizada pelas entidades representativas da UFOP, com participação de representantes da reitoria; a pauta foi o contexto e situação da UFOP diante dos cortes orçamentários, e a ADUFOP expôs, também, a luta pelo reajuste salarial dos/as servidores/as públicos/as

Foto: Larissa Lana/ADUFOP

Reunião de apresentação do gestor de Pessoas e Relações de Trabalho, Sérgio Mendonça (Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos)

Foto: Pedro Mesidor/FENASPS

No ano de 2023, tivemos a retomada das negociações com o governo federal, através da Mesa Nacional de Negociação, com o Ministério de Gestão e Inovação representando o governo federal. O ANDES-SN participou de todas as reuniões preparatórias à negociação, desde a formação das equipes de transição até a retomada da mesa de negociação, em 12 de fevereiro de 2023. Após três reuniões da mesa de negociação, o conjunto dos SPF obteve a reposição salarial de 9%, acrescida de um aumento de R$ 200,00 no auxílio alimentação. Estamos cobrando do governo a abertura da mesa setorial de negociação, quando colocaremos em pauta as questões da carreira docente.

O ANDES-SN e as demais entidades do FONASEFE realizaram um ato público contra o novo "arcabouço fiscal", aprovado na Câmara dos Deputados, pois retoma os princípios da EC 95, do "teto de gastos".

Permanente (Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos), em Brasília

Fotos: André Luis/ExLibris

3ª rodada de reunião da Mesa Nacional de Negociação Permanente (Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos), em Brasília

Fotos: André Luis/ExLibris

Cerimônia de Homologação do reajuste de 9% para o Funcionalismo do Executivo Federal (Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos)

Fotos: André Luis/ExLibris

Em paralisação, docentes das universidades estaduais baianas ocupam, em ato, as ruas de Salvador

Foto: Blenda Cavalcante/ ASCOM-ADUSC

2023 12 ABRIL

O ano de 2023 começou com várias mobilizações dos/as docentes das universidades estaduais e municipais pela recomposição salarial das perdas do último período. Os movimentos docentes das IEES de São Paulo, Bahia, Ceará, Goiás e Amapá estiveram em campanha salarial. Docentes das sete universidades estaduais do Paraná deflagraram greve em maio. Na Bahia, as quatro seções sindicais ADUSC, ADUSB, ADUFS e ADUNEB paralisaram as atividades por duas vezes, com ato público em Salvador, no dia 12 de maio. As imagens são desse movimento paredista.

Professores/as e estudantes participam de ato em defesa das universidades estaduais baianas, em Salvador

Foto: Blenda Cavalcante/ ASCOM-ADUSC

2023 12 ABRIL

Panfletagem e café da manhã na entrada da UESC para informar sobre a paralisação docente, em Ilhéus

Foto: Blenda Cavalcante/ ASCOM-ADUSC

Ato unificado das universidades estaduais baianas, em Salvador

Foto: Blenda Cavalcante/ ASCOM-ADUSC

Docentes das universidades estaduais baianas reivindicam diálogo e reajuste salarial, em ato em Salvador

Foto: Blenda Cavalcante/ ASCOM-ADUSC

Professores/as da UESC participam de ato, em Salvador

Foto: Blenda Cavalcante/ ASCOM-ADUSC

Marcelo Lins e Nane

Albuquerque, presidente e vice-presidente da ADUSC, respectivamente, em ato das universidades estaduais baianas, em Salvador

Foto: Blenda Cavalcante/ ASCOM-ADUSC

Ato de Lançamento da Campanha Salarial 2024, Anexo II da Câmara dos Deputados, em Brasília

Fotos: Eline Luz/ANDES-SN

Ato de Lançamento da Campanha Salarial 2024, Anexo II da Câmara dos Deputados, em Brasília Fotos: Eline Luz/ANDES-SN

Ato de Lançamento da Campanha Salarial 2024, Anexo II da Câmara dos Deputados, em Brasília

Foto: Eline Luz/ANDES-SN

Resenhar com brevidade Uma ecologia decolonial é um desafio. A riqueza de conceitos, análises, reflexões e ressignificações de muitas concepções que vagam por aí, maltratadas e banalizadas, especialmente as derivadas de ecologia, ambiente, antropoceno e abordagens (de)coloniais, no contexto da recomposição histórica do horror do tráfico negreiro, em seu papel estruturante do que chamamos modernidade, compõem esse desafio. E é com ele que nos deparamos ao sermos absorvidos – literalmente – pelo livro de Malcom Ferdinand1

“Este é um livro que eu gostaria de ter lido anos atrás, especialmente quando tentava compreender as interrelacionalidades de gênero, raça e classe” (op. cit., p. 9). Dessa forma, Angela Davis, que prefacia o livro de Ferdinand, introduz a obra e nos provoca à sua leitura.

Lembrando de sua visita à Martinica, terra natal do autor, ocorrida em dezembro de 2019, a ativista e filósofa norte-americana registra: “Ainda sinto o choque que tomei enquanto me perguntava por que eu não tinha conhecimento dessa calamitosa intersecção entre o capitalismo racial e as agressões sistemáticas ao meio ambiente” (ibid).

Racismo, colonialismo e escravidão são os pilares que produziram a estrutura de um mundo fundamentado na destruição ambiental, afirma a filósofa. Ou seja, com o livro de Ferdinand, aprendemos que, assim como o racismo, também a pilhagem e a destruição socioambiental são estruturais ao padrão capitalista de produção implantado no mundo nos últimos cinco séculos.

Mas isso não se deu sem que se produzissem resistências, protagonizadas pelos escravizados, especialmente com o “aquilombamento” e a “marronagem”, tratados ao longo da obra e retomados no posfácio, escrito pelo antropólogo Guilherme M. Fagundes, que igualmente manifesta ter sido surpreendido pelo livro, particularmente pelas “ressemantizações” que ele propõe. Dentre estas, destaca Fagundes, a de que o aquilombamento traduz uma resistência ecológica que se oferece como matriz e horizonte de possibilidades para superação do que foi estruturado como pilhagem, escravização e colonização de humanos e não humanos, dos seres e dos ambientes, onde “ocorre o encontro de povos de origem africana com as populações indígenas” (op. cit., p. 314).

Entre o prefácio de Angela Davis e o posfácio de Fagundes, transcorrem os 17 capítulos, um prólogo e um epílogo que compõem a obra e dos quais é possível extrair, além dessas ideias e proposições dos textos que a emolduram, muito mais. Todos eles tributários da construção do argumento central do autor, em sua exposição da missão, importância e urgência de uma ecologia decolonial.

Fruto de uma tese de doutorado defendida na Universidade Paris-Diderot, o autor brinda-nos, no entanto, com um texto cativante, repleto de trágicas aventuras, que lembram aquelas narradas, por exemplo, por um Joseph Conrad (mencionado por Ferdinand), em seu Coração das trevas2, que, a despeito das polêmicas que o envolvem, notabilizou-se pelas lamentações exclamadas por um de seus personagens chave, em sua síntese do que foi a colonização europeia na África: “O horror! O horror!”. Aliás, se os capítulos do livro de Ferdinand fossem introduzidos ou terminassem com esse mesmo lamento – “O horror! O horror!” –, isso não produziria estranhamento.

Cada capítulo e o epílogo são precedidos por nomes de navios negreiros, por seus trajetos históricos e seus conteúdos. Os nomes dos navios revelam boa parte do cinismo e perversidade do padrão que estava por se estabelecer no mundo: Conquistador, Justiça, Baleia, Encontro, Tempestade, Fuga, Esperança, Negro e Gaia, dentre outros, são os nomes dessas embarcações. Em todas elas, a “principal mercadoria” –corpos negros – despejava-se no porão. E, assim, a modernidade singrava os mares. O horror! O horror!

São 18 os navios que foram pinçados pelo autor da base de dados <slavevoyages.org>, dentre os 36 mil registros lá catalogados, e um total de 12,5 milhões de corpos transportados, dos quais 10 milhões chegaram ao destino que lhes foi imposto. O horror! O horror!

Um deles é o Nègre, que introduz o capítulo 3, “O porão e o Negroceno”. Négre partiu de Nantes em direção ao Golfo da Guiné em 1790 e, segundo a descrição de Ferdinand, deixou no cais os tumultos políticos da Revolução, recém ocorrida, e também seus princípios: “A declaração dos direitos do homem e do cidadão não resiste aos ventos úmidos e salgados do Atlântico. Nos arredores de Ubani, ao sul da Nigéria, 263 vozes são confinadas no porão da Revolução Francesa” (op.cit., p. 69). O horror!

Dessa forma, e sempre nos porões dessas diversas embarcações – Justiça, Encontro, Esperança... – deu-se a inclusão forçada, escravizada, daqueles corpos pilhados de seus territórios e comunidades de origem, para serem despejados na estruturação do sistema que, não à toa, foi por muitos caracterizado como “economia de pilhagem” (Raubwirtschaft, como assim o denominaram vários filósofos e economistas alemães do século XIX).

Os capítulos, os nomes dos navios que os precedem, suas conotações nada simbólicas para as mercadorias vivas depositadas em seus porões e as descrições que desse conjunto o autor faz são os pontos de partida para as reflexões desenvolvidas e vão tecendo o argumento que justifica a proposição de uma ecologia decolonial, cuja missão – “Manter juntos antiescravismo, anticolonialismo e ambientalismo, desfazer-se da sombra do porão do Antropoceno” (op. cit., p. 150) – aponta para os horizontes (bio)civilizatórios que o aquilombamento – “Uma das resistências mais potentes” – e a “ecologia política quilombola” significam. Apenas a leitura dessas introduções aos capítulos já comporiam e justificariam a empreitada a que se propôs Ferdinand. Mas os interesses que essas introduções despertam, assim como os desafios conceituais, as desestabilizações e as solidariedades que nos instigam com os que permanecem confinados nos “porões”, certamente estimularão quem se propuser a conhecer a obra a não só navegar por cada uma de suas páginas, mas a compreender e a aderir às urgências e tarefas reveladas pela ecologia de Malcom Ferdinand, por ele mesmo assim resumidas, tanto no prólogo como no epílogo de seu livro:

A ecologia decolonial articula a confrontação das questões ecológicas contemporâneas com a emancipação da fratura colonial, com a saída do porão do navio negreiro. A urgência de uma luta contra o aquecimento global e a poluição da Terra insere-se na urgência das lutas políticas, epistêmicas, científicas, jurídicas e filosóficas, visando desfazer as estruturas coloniais do viver-junto e das maneiras de habitar a Terra que mantêm as dominações de pessoas racializadas, particularmente das mulheres, no porão da modernidade (op. cit., p. 34 - prólogo).

Ao lado da urgência ambiental de uma limitação do aquecimento global e do fim das destruições dos ecossistemas da Terra, coloco urgências iguais: de uma redistribuição mundial das riquezas e de uma justiça social; da tarefa decolonial de reconhecer um lugar digno no mundo para os povos originários, para o excolonizados e para as pessoas racializadas; e de uma igual consideração social e política das mulheres, particularmente das mulheres racializadas das ex-colônias europeias (op. cit. p. 267 - epílogo).

1. Malcom Ferdinand é caribenho, nascido na Martinica, em 1985. Graduado em engenharia ambiental (University College London - UCL) e doutor em filosofia política e ciência política (Université Paris VII). Atualmente é pesquisador do Centre National de la Recherche Scicentifique (CNRS).

2. “Heart of darkness”, publicado originalmente, em texto completo, em 1902. Há várias traduções para o português, incluindo uma edição bilíngue disponibilizada gratuitamente em https:// literaturalivre.sescsp.org.br/ebook/coracao-dastrevas. CONRAD, Joseph. Coração das trevas. São Paulo: Mojo. org. e Sesc, 2019.

Título: Por un populismo de izquierda

Autora: Chantal Mouffe

Editora: Siglo XXI Editores, Argentina, Buenos Aires, 2019. 117 p.

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