Top de Marketing ADVB/RS Edição 2011
Case Cooperativa Santa Clara Biodigestores: alternativa sustentável transforma gás metano em energia elétrica
Carlos Barbosa, 2011
ÍNDICE
1 HISTÓRICO ............................................................................................................. 3 2 EXPOSIÇÃO DO CENÁRIO..................................................................................... 4 3 PROBLEMA/OPORTUNIDADE................................................................................ 6 1 SOLUÇÕES ENCONTRADAS ................................................................................. 8 1 RESULTADOS OBTIDOS ...................................................................................... 12
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1. Histórico A história da Cooperativa Santa Clara começou no ano de 1911 na região de Santa Clara, localidade então pertencente ao município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. À época, 32 pequenos produtores de leite decidiram unir-se para montar uma microempresa de queijo e manteiga, com o objetivo de obter mais rendimento com sua produção leiteira. Chamada Latteria Santa Chiara, a microempresa cresceu e, em 1912, foi formalizada como Cooperativa União Colonial. Galgada nos princípios do cooperativismo e na valorização de seus associados e da comunidade em que está inserida, a então União Colonial prosperou até tornar-se a atual Cooperativa Santa Clara, uma marca sólida reconhecida nacionalmente por sua qualidade em produtos de laticínios e frigorífico, e especialmente por sua tradição em queijos, somando mais de 200 itens produzidos e comercializados atualmente. A Cooperativa Santa Clara recolhe leite em mais de 80 municípios do Rio Grande do Sul, e está presente com estrutura física em quatorze municípios gaúchos, como Carlos Barbosa, Veranópolis, Cotiporã, Nova Roma do Sul, Paraí, São Pedro da Serra, Selbach, Tapera, Estação, Fagundes Varela, Vila Maria, Canoas, Caxias e Passo Fundo, formando no Estado um complexo que abrange nove supermercados; oito mercados agropecuários; quatro postos de resfriamento de leite; três centros de distribuição; farmácia; loja de calçados; fábrica de rações e cozinha industrial, além de indústria de laticínios; indústria de leite longa vida; frigorífico e Unidades de Produção de Leitões. Para produzir sempre os melhores produtos, a Santa Clara mantém uma estrutura moderna de produção, que otimiza tempo e custos visando obter os melhores resultados. Também aposta na inovação, atenta às necessidades do mercado.
Assim,
a
marca
investe
continuamente
em
pesquisa
para
o
desenvolvimento de novos produtos, fortalecendo sua posição no mercado. Em 2008, por exemplo, a Santa Clara lançou o primeiro queijo com micro-organismos probióticos que auxiliam no funcionamento do intestino, o Queijo Minas Frescal SanBIOS.
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Outro exemplo que atesta o potencial inovador da Santa Clara foi a conquista da certificação ISO 9001, sendo a Santa Clara a primeira indústria de laticínios do Rio Grande do Sul a receber a certificação. Esta conquista foi resultado de investimento maciço na melhoria dos processos, no treinamento dos colaboradores, e em maior comprometimento junto aos clientes. Além de evoluir como marca, a Santa Clara evoluiu como organização, mantendo sempre o vínculo com seu passado, valorizando sua história e seus associados. Com a fusão da Cooperativa União Colonial com a Cooperativa Agrícola Carlos Barbosa Ltda, em 1975, alavancou-se o potencial de suinocultura da futura Cooperativa Santa Clara, que teria sua razão social assim registrada em 1977. Esta potencialidade culminou, em 1982, com a construção do Frigorífico Santa Clara.
2. Exposição do cenário O Frigorífico Santa Clara está localizado no município de Carlos Barbosa e possui amplas e diversas instalações. Esta unidade dinamiza o abate de 65 mil cabeças de suínos por ano (de criação própria e pelo sistema de integração), com rebanho de alto padrão genético, produzindo mais de cinco mil toneladas de carnes e embutidos por ano. Entre os 109 itens produzidos pelo Frigorífico Santa Clara, estão produtos diversos, como embutidos cozidos, embutidos defumados, embutidos curados, embutidos frescais, embutidos fatiados, carnes e salgados. Para atender a esta demanda, a Santa Clara investiu em suinocultura, através da criação em granjas próprias e pelo sistema de integração. Através do sistema de integração, a Cooperativa repassa os leitões para os produtores integrados, que os criam até a fase de terminação, quando são encaminhados para o frigorífico. Na granja própria, em Carlos Barbosa, realiza-se o ciclo completo de produção. Suinocultura Carlos Barbosa A unidade de Suinocultura da Cooperativa Santa Clara em Carlos Barbosa está localizada em uma área territorial de 35,4 hectares, e possui uma área construída de 6.500 m², seguindo padrões internacionais. Hoje, a suinocultura em
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Carlos Barbosa abriga 700 matrizes em ciclo completo, tendo um estoque total de 8 mil suínos de alto padrão genético, com controle sanitário e nutricional, resultando em um produto final de excelente qualidade para os consumidores.
Suinocultura em Carlos Barbosa
Suinocultura Selbach A Unidade Produtora de Leitões localizada em Selbach, no Alto Jacuí, possui área total de 16,5 hectares, sendo 18.592m² de área construída. Esta unidade abriga 3.200 matrizes em produção, tendo um estoque total de 18 mil suínos. Na UPL de Selbach, os leitões, ao atingirem 23kg, são destinados para os produtores integrados em Selbach e Carlos Barbosa e, após a fase de recria e terminação, são encaminhados para o frigorífico em Carlos Barbosa.
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UPL em Selbach
3. Problema/oportunidade A Cooperativa Santa Clara, durante seus cem anos de história, sempre se preocupou com a comunidade em que está inserida. A produção de suínos nas granjas foi uma alternativa encontrada para fortalecer e integrar a atividade de pequenos produtores de suínos da região, além dos produtores de gado leiteiro já associados à cooperativa. Além disso, atuar no setor de suinocultura mostrou-se também como uma opção a mais de sustentação para os produtores, já que o mercado lácteo pode se mostrar muitas vezes instável. Porém, apesar de todos os benefícios gerados, a suinocultura apresentou alguns aspectos a serem melhorados. Os dejetos produzidos pelos suínos geram gás metano (CH4) e, quando descartados incorretamente, têm impacto negativo sobre o meio ambiente.
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Embora fossem utilizados como adubo em lavouras, esse tipo de adubação tinha restrições na aplicação, pelo fato de o adubo não estar maturado para ser incorporado ao solo. Além de requerer esse cuidado quando usado como adubo, os dejetos também estavam liberando gás metano diretamente na atmosfera. O gás metano é produzido pela decomposição anaeróbica (sem oxigênio) de resíduos de esgoto (doméstico, inclusive), decomposição de organismos, digestão animal, na produção e distribuição de combustíveis fósseis. Este hidrocarboneto é determinado pelo Protocolo de Quioto como um dos seis gases que devem ter liberação controlada na atmosfera, em função de efeito de estufa. Em um cenário mundial de crescente esclarecimento e consciência ambiental, prevenir e amenizar os impactos negativos gerados pela ação humana tem sido o objetivo de entidades, empresas e comunidades alinhadas ao presente e com ampla visão de futuro. Dessa forma, a Cooperativa Santa Clara se destaca como empresa inovadora e consciente ao assumir sua responsabilidade ambiental, traçando planejamentos e ações que contribuem para a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente, através de iniciativas sustentáveis, como seu sistema de biodigestores, implantado nos municípios de Carlos Barbosa e Selbach. Suinocultura Estima-se que o Brasil produza, atualmente, 1.778.215,944 m³1 por ano de gás metano, provindos da suinocultura. Somente a quantidade de produção de esterco de suínos, por exemplo, está estimada em 175 milhões de m³ por ano. Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o gás metano tem efeito estufa 21 vezes maior que o gás carbônico (CO2), sendo altamente nocivo, pois quando liberado diretamente na atmosfera, contribui para o aumento do aquecimento global. Este gás permanece na atmosfera durante nove anos e, entre os anos de 1750 e 2006, sua concentração
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IBGE – Censo 2000
IBGE PAM 2007 – Suinocultura Cáulculos: CENBIO, 2009 – Atlas de Bioenergia.
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aumentou 155%. Atualmente, o metano tem impacto de cerca de 18% no aumento do efeito estufa do planeta.
4. Soluções encontradas Atenta ao atual cenário ambiental e ciente de suas responsabilidades, a Cooperativa Santa Clara viu, no descarte de dejetos de suínos, a oportunidade de contribuir para o fortalecimento da consciência ecológica no Rio Grande do Sul, fazendo sua parte e encontrando soluções para o impacto gerado, pelos dejetos, no meio ambiente. Assim, após estudos realizados, o sistema de biodigestores mostrou-se a solução ideal para neutralizar o impacto causado pela suinocultura, além de gerar benefícios para o meio ambiente e sustentabilidade para a atividade. Na UPL de Selbach, a Cooperativa Santa Clara investiu R$ 359.965,63 no sistema de biodigestores. Já para a suinocultura de Carlos Barbosa, foram destinados R$ 542.397,15. Através do sistema de biodigestão, é possível transformar dejetos animais em biogás, que gera energia, e em biofertilizante, ou seja, adubo para as lavouras. Isso porque, nos dejetos de suínos, estão presentes bactérias metanogênicas, que atuam na degradação do material orgânico, produzindo gás metano. Esse mesmo processo aconteceria no meio ambiente, contribuindo para o efeito estufa. Porém, com os biodigestores, o gás metano fica concentrado dentro de estruturas chamadas de balões, sendo direcionado para a geração de energia, ao invés de ser liberado diretamente no meio-ambiente. Já o biofertilizante é resultado dos resíduos tratados que, após sofrerem o processo de digestão, estão aptos a serem aplicados ao solo como adubação orgânica sem danos para o meio ambiente. Assim, a Cooperativa Santa Clara adota uma postura ambientalmente correta, ao tornar sua suinocultura sustentável através da implantação dos biodigestores, uma iniciativa que a torna uma instituição com destaque no âmbito ecológico.
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Biodigestores O sistema de biodigestores foi implantado inicialmente no município de Carlos Barbosa, no ano de 2008. Inicialmente, o gás metano era queimado sem geração de energia. Já a partir do ano de 2010, com a aquisição dos grupos de geradores, o biogás gerado pelo gás metano passou a ser usado como combustível para a geração de energia. Esta energia é direcionada para a Estação de Tratamento de Efluentes do frigorífico e da indústria de laticínios, nos equipamentos que fazem a aeração das lagoas de efluentes. O biofertilzante gerado é distribuído em áreas agrícolas de associados, como adubação orgânica de lavouras e forrageiras, que servirão como alimentação para animais.
Gerador abastecido por biogás em Carlos Barbosa
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Os
biodigestores
possuem
compartimentos
interligados
entre
si,
denominados balões, que recebem os dejetos através de canos. Os sólidos que entram no biodigestor podem ser classificados da seguinte forma: 1) sólidos decantáveis: sólidos pesados que decantam rapidamente no fundo do biodigestor, tem a densidade maior que a da água, 2) sólidos solúveis: sólidos leves que demoram alguns dias para decantar, tem densidade próxima da água e 3) sólidos flotantes: sólidos que dificilmente decantam e tem a densidade menor que a da água. Os sólidos 1 e 2, são facilmente atacados pelas colônias de bactérias localizadas no fundo do biodigestor, produzindo biogás e o biofertilizante. Esses sólidos totais são distribuídos igualmente em todos os balões do sistema. O sistema de biodigestores de Carlos Barbosa, por exemplo, é composto por três balões com espaço para 1,5 milhão de litros de dejetos, totalizando 4,5 milhões de litros. O biodigestor número 01 recebe toda a carga aplicada, sendo as cargas decantadas remanescentes encaminhadas para o biodigestor 02 e depois para o biodigestor 03 em fluxo contínuo e em sequência. Os resíduos permanecem em retenção nos balões durante aproximadamente 45 dias. Assim, o sistema implantado em Carlos Barbosa recebe em média 60 mil litros/dia de dejetos provenientes da suinocultura.
Sistema de biodigestores em Carlos Barbosa
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Em comparação ao sistema de biodigestores implantado em Selbach, o de Carlos Barbosa foi instalado com capacidade superior à demanda, prevendo, futuramente, ampliação das matrizes em produção. A UPL localizada em Selbach possui o mesmo sistema de biodigestores, que foi implantado em 2011, com dois balões com espaço para 1,5 milhão de litros cada balão, totalizando 3 milhões de litros. Na UPL de Selbach são produzidos e tratados, em média, 90 mil litros/dia de dejetos.
. Sistema de biodigestores em Selbach
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5. Resultados obtidos Com a implantação dos biodigestores em Carlos Barbosa e Selbach, a Cooperativa Santa Clara confirmou diversos resultados positivos. O primeiro deles e mais significativo é referente à neutralização dos impactos negativos gerados pelo descarte dos dejetos provenientes das granjas. Ou seja, através deste sistema, todo o gás metano gerado pelos dejetos de suínos deixa de ser liberado diretamente na atmosfera, evitando o aumento do efeito estufa e tornando o sistema de suinocultura da Santa Clara ecologicamente correto. Cada unidade de suinocultura, de Selbach e de Carlos Barbosa, liberaria 3.200 toneladas de gás por metano na atmosfera. Assim, os dois sistemas de biodigestores permitem à Cooperativa Santa Clara evitar a liberação de 6.400 toneladas de gás metano na atmosfera ao ano. O
biogás
resultante
do
processo
de
decomposição
retido
pelos
biodigestores é conduzido, através de compressores, até um gerador, que transforma o gás em energia elétrica, direcionada para a Estação de Tratamento de Efluentes do frigorífico e da indústria de laticínios. Em Carlos Barbosa essa iniciativa permitiu, desde a instalação do gerador abastecido pelo biogás, um acúmulo de 688.000 kW, conforme tabela a seguir.
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ECONOMIA GERADA PELOS BIODIGESTORES – UPL CARLOS BARBOSA MÊS/ANO
kW/h
Julho/2010
13.000
2.402,73
Agosto/2010
67.000
14.786,08
Setembro/2010
64.000
11.494,46
Outubro/2010
66.000
11.816,77
Novembro/2010
63.000
11.487,10
Dezembro/2010
57.000
10.465,08
Janeiro/2011
49.000
8.850,27
Fevereiro/2011
48.000
8.596,89
Março/2011
0
-
Abril/2011
50.000
9.103,85
Maio/2011
59.000
10.624,24
Junho/2011
57.000
10.272,59
Julho/2011
41.000
7.389,06
Agosto/2011
25.000
4.964,75
Setembro/2011
29.000
5.704,50
688.000
127.958,37
TOTAL
Valores em R$
A energia gerada é suficiente para sustentar a granja de suínos e parte da Estação de Tratamento de Efluentes do frigorífico e da indústria de laticínios, em Carlos Barbosa.
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Estação de Tratamento de Efluentes em Carlos Barbosa Na UPL de Selbach, o uso de biogás gerou redução de 46,63% do uso de energia elétrica no período de seis meses, desde sua implantação, conforme tabela abaixo. GASTOS COM ENERGIO ELÉTRICA - UPL SELBACH MÊS
2010 (sem biodigestores)
2011 (com biodigestores)
Economia (valores em R$)
Economia %
(valores em R$) 10.009,47
(valores em R$) 7.917,91
2.091,56
21%
Fevereiro
9.577,86
6.752,35
2.825,51
30%
Março
6.912,84
3.169,95
3.742,89
54%
Abril
10.466,98
2.990,01
7.476,97
71%
Maio
8.544,42
3.051,16
5.493,26
64%
Junho
11.620,75
5.671,51
5.949,24
51%
TOTAL
59.142,32
31.563,89
27.579,43
46,63%
Janeiro
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Após o tratamento realizado pelos biodigestores, o resultado dos dejetos é um líquido inodoro, rico em nutrientes, direcionado para as lavouras como adubo sem qualquer risco de poluição. Além de ser muito eficiente, por apresentar alta taxa de nitrogênio e fósforo, este biofertilizante também é uma opção mais barata do que os fertilizantes químicos, sendo mais acessível aos pequenos produtores, e ecologicamente consciente, por diminuir o uso de fertilizantes químicos derivados de matérias-primas não renováveis, como o petróleo. O biofertilizante é utilizado, também, pelos produtores na formação e renovação de pastagem para o gado leiteiro. A implantação dos sistemas de biodigestores nos municípios de Selbach e Carlos Barbosa confirma a preocupação ambiental da Cooperativa Santa Clara, apresentando uma postura alinhada aos valores do cooperativismo, como visão de futuro, coragem e cooperação. Os resultados gerados pela implantação dos sistemas biodigestores são benéficos não somente para a Cooperativa, mas principalmente para o meio ambiente e para a comunidade, já que o sistema demanda menos consumo de energia elétrica e menos consumo de recursos naturais, além de neutralizar um impacto que seria originalmente negativo. Esta iniciativa também serve como exemplo de sustentabilidade, colaborando para a formação da consciência ecológica nas comunidades. Através da implantação dos biodigestores, a Cooperativa Santa Clara consegue contribuir positivamente com a preservação da natureza, assumindo sua responsabilidade ambiental enquanto empresa e enquanto marca.