LAUP VIII - Bairro Ecológico

Page 1

laup viii bairro ecológico laboratório de arquitetura, urbanismo e paisagismo | unesp bauru | 2018 ailton wenceslau | ana luiza carvalho | ana luiza eleutério | andré navarro


introdução Localizado em uma macrozona urbana não consolidada, de acordo com o Plano Diretor Participativo de Bauru, o Assentamento Nova Canaã abriga 713 famílias. Decorrência de uma ocupação alinhada com a bandeira do Movimento Social de Luta dos Trabalhadores (MSLT), o bairro recebeu famílias do Morada da Estrela e do Morada do Sol no começo do ano como resultado de um acordo feito com a prefeitura, em que o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assegurou a área pelos próximos três anos. Apesar de haver um apoio e diálogo com a prefeitura, os moradores carecem de infraestruturas básicas, como água, energia, pavimentação e coleta de esgoto. Em relatos, moradores disseram que o abastecimento é feito por caminhão pipa, mas sem regularidade de entrega e volume suficiente. Somado a essas dificuldades, os moradores possuem uma faixa salarial baixa.

o bairro Como consequência da ocupação realizada, o assentamento carece de planejamento urbano. As vias são estreitas, não há drenagem de água e, devido à entrada de moradores de outros assentamentos, os lotes foram divididos, resultando em terrenos estreitos (6x30m). Em vista disso, a proposta projetual procura alinhar as demandas locais com as preocupações acerca do impacto causado pelo ser humano na natureza. Assim, o conceito de Bairro Ecológico é o que contempla as necessidades ambientais e dos moradores. Tais conceitos consistem basicamente em

um tripé (de acordo com o modelo econômico atual): ambiental, social e econômico. Desse modo, o Bairro Ecológico estabelece soluções de infraestrutura que tem um custo baixo (a médio e longo prazo), que funcione sem gerar impactos significativos ao meio ambiente e proporcione uma boa qualidade de vida para seus moradores e moradoras.


Na imagem acima, está representado o lote original 12x30m (retângulo 2) e o consequente à divisão, 6x30m (retângulo 1).

1

2 N

áre

a pr

ojet

ual


PONTO DE ÔNIBUS

Considerando a localização do bairro e o grande número de famílias, faz-se necessário um ponto de ônibus localizado na entrada do bairro.

o projeto A área do Nova Canaã foi abordada por meio de duas visões: o bairro como um todo e a casa como um sistema reduzido. A partir disso, procurou-se integrar o início e o fim dos sistemas envolvidos para que a habitação funcionasse considerando a água, energia e resíduos. Tendo em vista a questão ecológica e urbana, o desenho das quadras, que foi mantido, conta com ferramentas de melhoria de drenagem. Os lotes vazios com funções institucionais foram destinados ao uso como escola, centro comunitário e cooperativa de reciclagem. Diminuindo a escala do bairro, chega-se

ESCOLA Escola que atenda a demanda desde ensino infantil até médio.

ao lote. Por se tratar do espaço que abriga uma família, a geração de resíduos é alta e, tradicionalmente, há um distanciamento quanto ao processo de abastecimento e descarte, seja ele de água, esgoto ou energia elétrica. Sendo assim, o projeto habitacional se pauta em aproximar o usuário a esses sistemas e faz uso de biodigestores, placas fotovoltaicas e cisternas. Junto a isso, há um sistema construtivo e materiais com valores acessíveis e facilidade de montagem, a fim de viabilizar uma residência que respeite as diretrizes ambientais e econômicas a quem se destina


CAPTAÇÃO DE ENERGIA SOLAR Ao longo das vias, os postes de ilumiação contam com um sistema de captação e geração de energia solar que supre a demanda de cada trecho iluminado. luz solar

luz artificial

placa fotovoltaica

inversor

conversor

bateria

CENTRO COMUNITÁRIO Considerando a articulação que o movimento de ocupação urbana demanda e a necessidade de um espaço de lazer, propõe-se um centro comunitário com salão para reuniões ou festas, biblioteca, banheiro e centro de atendimento médico.

N

COOPERATIVA DE RECICLAGEM Na área institucional, propõe-se a construção de uma cooperativa de reciclagem. Vinculado ao conceito de sustentabilidade e inserção dos moradores no processo de reaproveitamento

residual, a cooperativa se apresenta como um meio de geração de renda e conscientização. A partir desses ideiais, procura-se fazer uma ponte com a escola, localizada no centro da área.


BIOVALETA

JARDIM DE CHUVA

Localizadas na direção paralela às curvas de nível, as biovaletas têm como objetivo transportar as águas pluviais com sentido ao fim do bairro. Por serem vegetadas, são capazes de absorver parte da água, diminuindo o volume, além de filtrarem e processarem a limpeza da água da chuva.

Jardins de chuva são rasas depressões de terra que recebem águas do escoamento superficial. Os fluxos de água se adumulam nas depressões, formando poças e, gradualmente, a água é infiltrada no solo. Eles contrinuem na redução do volume de escoamento superficial, embelezam as vias e filtram a água. No desenho do bairro, os jardins de chuva estão dispostos a cada 2 lotes, de tal maneira que não impeçam a entrada de veículos na casa.

calçada

guia e sarjeta massa de raiz

solo

solo misto poroso calçada solo misto poroso

DETALHE DA GUIA O detalhe acima mostra que as guias das biovaletas devem ser interrompidas para que a água possa transpassá-las, garantindo que ocorra o transporte de maneira efetiva.

camada de permeabilidade média solo camada de seixo graúdo guia e sarjeta


CALÇADÃO Considerando o grande adensamento que há na área, propõe-se a criação de um espaço de permanência capaz de conectar a escola à entrada do bairro com um percurso a pé. A valorização do pedestre se concretiza com a exclusão do carro.


unidade habitacional As casas encontradas no local variam consideravelmente em suas tipologias, algumas improvisadas com madeirite e outras permanentes com paredes de alvenaria. Isso mostra os diferentes perfis de moradores, os que pretendem se estabelecer e os que estão apenas de passagem. Assim, foi proposto um modelo de casa que se adequasse ao formato estreito do terreno, atendesse os critérios de sustentabilidade, conforto térmico e de fácil manutenção. Dois modelos foram projetados: uma casa térrea e um sobrado. Os dois possuem a mesma configuração modular de separação por funções: sociais (garagem, sala e cozinha) e privadas (dormitórios e banheiros). O que separa o social do privado é um espaço no meio do terreno, que pode ser utilizado para uma pequena horta de temperos compartilhada entre dois lotes vizinhos. Esse espaço central também foi pensado para melhorar a

iluminação e ventilação das construções. A proposta das casas serem elevadas, 80 centímetros do solo, se baseia primeiramente na instalação e manutenção dos sistemas de água, esgoto, compostagem e energia. O fato do piso não ter contato com o chão, dificultando a troca de calor entre os materiais, também contribui para o conforto térmico e evita que o terreno seja impermeabilizado. Os materiais recomendados para a estruturação da casa são pilares de eucalipto tratado, laje de steel deck, técnica que utiliza perfis de chapa de aço como forma e armadura positiva otimizando o tempo de construção, telha cerâmica convencional para os telhados. Para o fechamento é recomendada placas cimentícias, um tipo de fechamento leve, rápido e fácil de ser executado e que minimiza o desperdício de materiais, as esquadrias também são de eucalipto tratado.


casa térrea

planta casa térrea

0m 1m

5m

corte casa térrea

0m 1m

5m


casa sobrado


planta sobrado - pavimento tĂŠrreo

0m 1m

5m

planta sobrado - pavimento superior

0m 1m

5m

corte sobrado

0m 1m

5m


inserção de sistemas O abastecimento de energia, água e a gestão de resíduos foram propostos a fim de aproximar o usuário de cada ciclo. Portanto, cada casa conta com: um sistema de placas fotovoltaicas, que supre a demanda de uma família de até 5 pessoas; uma caixa d’água abastecida pela rede convencional com água potável; uma cisterna que recebe água pluvial coletada nas calhas do telhado (águas cinzas reutilizadas na lavagem do quintal e vasos sanitários); um biodigestor, que recebe os resíduos sólidos do esgoto de pia da cozinha, lavatório e sanitário dos banheiros e os trata, separando a parte sólida, que é transformada em adu-

bo em forma de pó, e distribui a parte líquida no terreno; uma composteira que recebe os resíduos da cozinha, gerando adubo e chorume, que serão consumidos no jardim e horta (caso haja). Cada sistema demanda manutenção regular, variada de acordo com seu tipo, o que exige que as moradoras e moradores tenham um cuidado constante. Por estarem localizados dentro do lote e sob a casa, o contato com as estruturas é bastante simples e se torna cotidiano. Todas as escolhas sugeridas são de fácil manuseio, higiênicas e de preço acessível para as famílias.

sistema captação de energia solar


sistema de coleta de ĂĄgua pluvial

composteira biodigestor

sistema de tratamento de resĂ­duos


horta Uma das recomendações que visa o melhor aproveitamento dos sistemas das casa proposta é que os espaços do meio e do fim do terreno, onde não há nada construído, sejam utilizados com hortas compartilhadas entre os vizinhos, essas hortas utilizam as matérias da composteira e a água das cisternas como insumo da produção.

O espaço do centro pode ser compartilhado entre dois vizinhos com uma horta pequena para o cultivo de temperos. Já o fundo dos lotes podem ser compartilhados em até quatro lotes que se cruzam, assim, proporcionando uma área para uma horta maior de produção rotativa de produtos alimentícios. cultivo próprio

cultivo compartilhado


estatuto do bairro

I. Vias a. Pavimentação: feita com asfalto ecológico e sua manutenção deve manter o material, feita pela prefeitura periodicamente. b. Sentido: deve ser preservado de acordo com o anteriormente estabelecido, podendo ser alterado perante assembleia de moradores. II. Lotes a. Expansão: para casas térreas há possibilidade de expansão para vertical, sendo responsabilidade da proprietária ou proprietário manter as demais regras referentes aos sistemas contidos na residência (III, IV, V, VI). Para as casas de dois pavimentos não é possível fazer expansão vertical. Para expansão horizontal, deve ser respeitado o índice de impermeabilização do lote (II.b) b. Impermeabilização: deve ser inferior a 50% da área do lote. III. Habitações a. Reforma/alteração: deve preservar os sistemas integrados. Fachada, planta e demais elementos podem ser alterados de acordo com a preferência da proprietária ou proprietário. A casa, contudo, deve permanecer elevada do chão conforme o modelo proposto.

IV. Resíduos a. Lixo orgânico(composteira): a composteira deve ser utilizada de acordo com as indicações do fabricante, podendo ser substituída caso haja defeito ou quebre. b. Lixo reciclável (cooperativa de reciclagem): a coleta será realizada pela equipe da cooperativa do bairro, durante os dias da semana. Na cooperativa o lixo será higienizado e separado, processado para ser vendido para centros de reciclagem. c. Biodigestor: informações do fabricante: dispensa caminhão limpa fossa e tem a facilidade de retirar o lodo sem contaminação e mau cheiro, abrindo apenas um registro. V. Água a. Captação água chuva (água cinza): cada residência possui um sistema integrado que capta a água de chuva e direciona para um reservatório localizado embaixo desta, sob o piso elevado a 80cm do chão. Esta água será armazenada para uso em vaso sanitário, limpeza de chão e irrigação do jardim. b. DAE (caixa d’água): a casa conta com uma caixa d’água cujo conteúdo é destinado para banho, ingestão e cozimento de alimentos. c. Biovaletas: a função deste item é de auxiliar na absorção da água da chuva, portando sua manutenção é de muita importância; sua vegetação deve ser preservada para que sua função seja cumprida.


laboratรณrio de arquitetura, urbanismo e paisagismo | unesp bauru | 2018


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.