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Croqui capa: Prefeitura de S達o Paulo Acesso: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/novo-pde-fachada-ativa/ Data: 15/11/2014
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TEIXEIRA, Andrea Chaves Sobral Recuperação da paisagem e do espaço público: arquitetura e urbanismo na reestruturação do Rincão Andrea Chaves Sobral Teixeira 101 f. Trabalho Final em Graduação (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014 Referência Bibliográfica f. 100 - 101 1. Requalificação 2. Espaço público 3. Cultura e lazer 4. Rio e cidade 5. Centro Cultural do Rincão
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ANDREA CHAVES SOBRAL TEIXEIRA
Recuperação da paisagem e do espaço público: arquitetura e urbanismo na reestruturação do Rincão Trabalho final de graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Dr. Luiz Guilherme Rivera de Castro
SÃO PAULO 2014
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Agradecimentos Agradeço, primeiramente a Deus, por ser meu guia e socorro bem presente nas tribulações. Agradeço aos meus pais que não mediram esforços para investir na minha educação, pela paciência e apoio em todos os momentos até aqui. Sou grata a Joana Lúcia pelo carinho, cuidado e conselhos sábios desde sempre. Ao meu irmão, que me incentivou e acreditou no meu potencial. Às minhas tias e primos o meu obrigado pela torcida positiva. À Kellen que me desvendou os caminhos da arquitetura e me ensinou muito até aqui. Ao Jody por ter me acompanhado nos finais de semana e feriados de produção deste trabalho.
Aos meus amigos de longa data que compreenderam a minha ausência e continuaram ao meu lado. Sou grata aos amigos que conquistei durante a graduação e levarei para a vida, porque afinal, só um estudante de arquitetura entende outro estudante de arquitetura. Um grande obrigado ao meu orientador, professor Luiz Guilherme, sempre pronto a me ajudar a enfrentar esse grande desafio. Agradeço ao meu professor de projeto, Sami Bussab, pela exímea competência e responsabilidade ao me orientar em projeto. Aos professores dessa faculdade que foram fundamentais para a minha formação.
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As cidades devem pressionar os urbanistas e os arquitetos a reforçarem as áreas de pedestres como uma política urbana integrada para desenvolver cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis. Igualmente urgente é reforçar a função social do espaço da cidade como local de encontro que contribui para os objetivos da sustentabilidade social e para uma sociedade democrática e aberta. _Jan Gehl | Cidade para pessoas_
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Sumário Introdução ............................................................................................................................................11 1. O rio e a cidade .............................................................................................................................13 1.1 A recuperação da paisagem de rios .......................................................................15 1.2 Espaço urbano X Espaço público .............................................................................18 1.3 Equipamento público cultural e espaço urbano ...............................................23 1.4 Urbanismo Sustentável ...............................................................................................24 2. Estudos de caso .............................................................................................................................29 2.1 Praça das Artes ...............................................................................................................31 2.2 Casa da Música ...............................................................................................................34 2.3 Plano de Recuperação do Rio Los Angeles ..........................................................37 2.4 Madrid-Rio .......................................................................................................................40 3. Caracterização e Diretrizes Urbanísticas .............................................................................45 3.1 Caracterização da Área de Estudo ...........................................................................47 3.1.1 Histórico .............................................................................................................49 3.1.2 Plano Regional Estratégico .........................................................................53
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3.1.3 Sistema Viário ...................................................................................................55
3.1.4 Uso e ocupação do solo ................................................................................57
3.1.5 Sistema de Transporte Público ...................................................................59
3.1.6 Hidrografia ..........................................................................................................61
3.2 Caracterização da Área de Projeto ............................................................................62 3.3 Diretrizes urbanísticas ....................................................................................................64
4. O Projeto ............................................................................................................................................79 4.1 Projeto do Centro Cultural do Rincão ......................................................................80 5. Conclusão ...........................................................................................................................................95 6. Referências Bibliográficas ...........................................................................................................99
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Diagrama conceitual. Fonte: Elaboração própria
Introdução Com o surgimento e utilização em larga escala do automóvel foi possível perceber o abandono das pessoas em relação ao espaço público, de forma que o pedestre perde seu espaço e nele realiza apenas as atividades essenciais. De acordo com o arquiteto dinamarquês Jan Gehl, essa inversão de prioridades deteriora os espaços da cidade e não dá abertura para atividades sociais e recreativas, dinâmica que leva ao desequilíbrio entre lugares de encontro, comércio e circulação, os usos tradicionais da cidade. (GEHL, 2001) Neste contexto, o trabalho investiga como se desenvolve um projeto com preocupações e critérios urbanísticos em que a infraestrutura favoreça o intenso convívio social da população. O intuito foi evidenciar espaços de convívio adequados tanto na escala urbana, quanto na escala do pedestre. Há o desejo de requalificar a paisagem urbana e inserir
o córrego presente na área de estudo como patrimônio cultural, no intuito de potencializar a vivência em comunidade. Aproveitar os espaços residuais para implantar equipamentos públicos que melhorarem a qualidade de vida dos residentes da região, que estimule encontros e valorize a ambiência para o pedestre. O trabalho analisa projetos que serviram de catalisadores de mudanças positivas no âmbito da estruturação, qualificação e representação do espaço urbano; propõe diretrizes para a valorização da paisagem, integrando o rio e recuperando suas margens. A partir disso foi desenvolvido o projeto de um Centro Cultural para qualificar o entorno do Metrô Vila Matilde e o Piscinão do Rincão localizados na Zona Leste da Cidade de São Paulo, muito carente de equipamentos culturais, de lazer e parques.
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Foto: Acervo pr贸prio
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1. O Rio e a Cidade
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Neste capítulo serão apresentados e discutidos os conceitos
acerca do espaço urbano e sua relação com os rios e qual tem sido a postura de intervenção e ainda coloca sugestões sobre qual é a melhor maneira de intervir a partir do urbanismo sustentável e contemporâneo. Esses assuntos subdividem-se em tópicos para facilitar a explanação, porém estão intimamente relacionados de forma que a discussão sempre abrange a atuação do homem em relação a cidade e o meio ambiente.
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1.1 A recuperação da paisagem de rios O rio é um referência de lugar e de espaço, integra a identidade de um povo. Quando ele está perdido, como no nosso caso, é uma ausência importante. _Odette Seabra_ A deterioração sofrida pelos rios urbanos através de exploração, uso intenso e negligência levanos a pensar que os impactos são irreversíveis, porém o desejo de recuperação de áreas degradadas é crescente. A autora Maria Cecília Gorski, em seu livro Rios e cidades ruptura e reconciliação afirma que é preciso recuperar os cursos d’água urbanos integrando aspectos ecológicos com o enriquecimento do espaço urbano. Este processo dura décadas de trabalho que leve em consideração a hidrologia, a biodiversidade da fauna e da flora, o equilíbrio da drenagem e a melhoria
da qualidade de vida dos cidadãos. (GORSKI, 2010) A recuperação da paisagem de rios em área urbana depende de fatores ecológicos, sociais e econômicos. Por isso os planos de recuperação apresentam diretrizes com funções sociais ao longo dos cursos d’água, muitas das vezes com caráter de várzea natural em ambiente urbano, proporcionando à população áreas adequadas a recreação. Para promover o reencontro entre rio e meio urbano Maria Cecília Gorski (op. cit.) postula cinco princípios. O primeiro deles é a recuperação e proteção do sistema fluvial em que se faz necessário entender as especificidades de cada segmento urbanizado, mas sem perder a noção do todo. É importante observar a qualidade da água, as características
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hidrológicas e morfológicas, o ecossistema e a biodiversidade e a drenagem e permeabilidade do solo identificando as áreas de absorção da bacia hidrográfica e a necessidade das galerias de drenagem. O segundo princípio é a articulação com as políticas urbanas que estabelece o planejamento de uso e ocupação do solo e os ecossistemas fluviais de maneira a restringir a ocupação de áreas ao lado do corpo d’água e fundos de vale para garantir a função de drenagem importante da várzea. Fazer a política urbana capaz de superar as pressões e proteger a saúde dos recursos naturais e do meio ambiente através de metas de desenvolvimento econômico aliadas às metas ecológicas.
Figura 01: Projeto de Revitalização do Rio Los Angeles – Resgate da identidade do rio. Fonte: Los Angeles River Revitalization Master Plan, City
of Los Angeles. Acesso: http://www.mlagreen.com Data: 15/05/2014
A inserção do rio no tecido urbano é outro princípio que estabelece a integração do rio através de conexões transversais e longitudinais e o reconhecimento do rio como elemento de referência urbana identificando áreas verdes para lazer com acesso convidativo e seguro. O princípio de valorização da identidade local e do sentido de cidadania tem o intuito de resgatar a memória do rio em relação à cidade e à população.
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Figura 02: Plano de recuperação do Rio Cheonggyecheon, Seul – Coreia do Sul. Inserção do rio no tecido urbano. Acesso: http://www.
jardimdasideias.com.br/451-areas_verdes_urbanas Data: 04/11/2014
Para tanto é preciso recuperar e proteger o patrimônio cultural e ambiental e promover o engajamento da sociedade no processo de elaboração do plano. Por fim, a implementação, monitoramento e gestão do plano elaborado através da captação de recursos para viabilizálo economicamente e gerir o plano podem sofrer alteração de jurisdição e do grupo de gestores ao longo dos anos. Para a melhoria da qualidade da água a autora Maria Cecília apresenta abordagens fundamentais como a preservação das águas doces, coleta e tratamento de esgoto, controle e filtragem da poluição difusa e redução do impacto do despejo de deflúvios. Para tanto medidas prioritárias precisam ser adotadas. Dentre elas a proteção das nascentes, a interrupção de poluição pontual e difusa através da coleta e tratamento do esgoto, gerenciamento e tratamento das águas pluviais e por fim, promover a coleta seletiva do lixo e dos resíduos sólidos da construção civil. (GORSKI, op. cit.)
Olhar o rio de tempo e água e lembrar que o tempo é um outro rio, saber que nos perdemos como o rio e que os rostos passam como a água. _Jorge Luis Borges | Arte poética_
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1.2 – Espaço urbano x Espaço público Os edifícios e seus espaços adjacentes devem se interrelacionar definindo espaços externos que funcionem como salas sem telhado. _Richard Rogers_ O surgimento do conceito de espaço público remete à Pólis grega e à República romana. Neste contexto, a vida pública constituía-se pelas atividades políticas de ação e discurso, sediados no espaço da ágora grega, como explica Hannah Arent (1951, apud ABRAHÃO, 2008). Portanto o espaço público estava ligado à vida pública e a uma dimensão política. Adrián Lavalle (2001:apud ABRAHÃO, 2008), também afirma que no contexto greco-romano o espaço urbano era um espaço cívico por excelência. A vida pública existiu para permitir e servir de palco para os diversos eventos importantes de uma cidade, que basicamente comércio, circulação e lugar de encontro, de acordo com Jan Gehl (2001). O equilíbrio destes três usos tradicionais era resultante da ocupação do espaço pelo pedestre e pela realização praticamente todas atividades a pé.
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O desequilíbrio da vida pública acontece como consequência da exaltação da vida privada a partir do século XX. O surgimento de novas maneiras de locomoção e tráfego alteraram radicalmente a dinâmica da cidade. O espaço como lugar de encontros, trocas, manifestações e discussões deu lugar a um espaço essencialmente de passagem, perdendo a sua dimensão social e política. Marilena Chauí defende a valorização do espaço público e afirma: “espaço público (...) é o espaço capaz de construir e consolidar a cidadania no Brasil” (ABRAHÃO, 2008: p. 30). A definição de espaço público e privado pela perspectiva da arquitetura difere de acordo com o grau de acesso aos espaços, do público que o frequenta, da forma de supervisão e do responsável por ele (HERTZBERGER, 2005). Considerando o espaço público como uma área acessível a todos a qualquer momento, o autor define as gradações de acesso como espaço semi público ou semi privado(HERTZBERGER,
op. cit.). O autor defende a ideia de que não deve haver oposição entre os espaços, mas sim gradações de acessibilidade a partir da luz, cores, formas e funções utilizadas. Para reforçar esse pensamento, Jan Gehl define os espaços de transição do público para o privado. “É a zona onde as atividades realizadas dentro das edificações podem ser levadas para fora, para o espaço comum da cidade” (GEHL, 2013: p. 75).
É importante diferenciar o espaço público de espaço residual, que é fruto do vazio remanescente deixado pelo desenho do espaço privado. O espaço residual é considerado público apenas por um caráter jurídico. (ABRAHÃO, 2008) Este espaço não interessa à cidade, pois é uma sobra sem atrativos.
Os espaços de transição são importantes do ponto de vista do espaço urbano, pois contribuem para cidades vivas. A garantia de térreos ativos e atraentes ao longo de rotas de pedestres torna a caminhada interessante e são interpretados como um convite ao passeio, de forma que sem esses espaços as pessoas desistem de caminhar. O tráfego de veículos e os estacionamentos roubaram os espaços das ruas e praças trazendo sujeira, poluição visual e ruído. O pouco espaço que sobrou tornou-se ruim para caminhar a pé, de forma que restaram as atividades essenciais de pedestre. Este tipo de cidade foi nomeada por Jan Gehl como cidade invadida.
Figura 03: Espaço de transição suave – maior segurança e mais atividades ao ar livre. Fonte: GEHL, 2013, pág. 83.
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Em decorrência de cidades em que o morador é obrigado a percorrer grandes distâncias, o indivíduo torna-se dependente do carro para qualquer tipo de deslocamento. O centro das denominadas cidades abandonadas (GEHL, 2001), é todo asfaltado, com muitas vagas de estacionamento e com todos os usos adaptados para servir ao motorista. Este tipo de postura provoca problemas de saúde pública porque como as pessoas não caminham mais e não tem espaço para andar de bicicleta, adquirem sobrepeso ou acabam com a condição física comprometida.
Figura 04: Congestionamento de veículos em São Paulo, Brasil. A invasão do automóvel nas cidades. Acesso: http://topicos.estadao.com.
br/engarrafamento Data: 29/10/2014
Ao perceberem tais consequências um interesse de retornar à cidade tradicional e oferecer novas oportunidades aos pedestres, como aconteceu em cidades européias destruídas pela Segunda Guerra Mundial, porém o propósito inicial era proporcionar boas condições para o comércio. Desde então a ideia do espaço público como espaço social e recreativo cresceu aos poucos e ganhou força na Europa ao longo das décadas de 60 e 70. O conceito de cidade recuperada (GEHL, 2001) surgiu em Barcelona nas duas últimas décadas do século
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Figura 05: Congestionamento de veículos em São Paulo, Brasil. A invasão do automóvel nas cidades. Fonte: acervo próprio.
XX com espaços urbanos criados ou recuperados para proporcionar novos tipos de vida pública. Uma nova vida urbana exige mudanças nos espaços públicos como redução de trânsito, de ruído e de poluição; assim como incentivo ao tráfego de pedestre e ciclista. É preciso induzir as pessoas a interagir diretamente com seu entorno, tornando o espaço atrativo e resgatando a cidade como fórum democrático. O autor Jan Gehl estabelece quatro tipos de cidade que atrelados possibilitam a recuperação do espaço urbano, sendo eles: cidade viva, cidade segura, cidade sustentável e cidade saudável. Para estimular a cidade viva é necessário que haja rotas diretas, lógicas e compactas; espaços com dimensões modestas; e uma hierarquia que esclareça a importância dos espaços.
para que ocupem a rua, a diversidade de funções das edificações traz movimentação em diversos horários e por fim o cuidado dos moradores com o espaço. O interesse pela cidade sustentável cresceu diante do esgotamento dos combustíveis fósseis, altos índices de poluição e emissões de carbono que resultaram na ameaça ao clima. No mundo todo trabalha-se sobre planos de desenvolvimento orientado pelo transporte (TOD), relacionando estruturas para pedestres, ciclistas e a rede coletiva de tráfego.
A vida na cidade deve acontecer como processo, de maneira que as fachadas acolhedoras, transparentes e movimentadas reforcem a longa permanência ao ar livre. Os espaços de transição suaves, discutido acima, é fundamental para a cidade viva. A cidade segura deve prevenir a criminalidade oferecendo boas condições ao pedestre e ciclistas
Figura 06: Barcelona como exemplo de cidade viva na Espanha. Acesso: http://www.po-lapkach.pl/spolecznie/nerw-o-woonerf/ Data: 03/07/2014
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A sustentabilidade social deve garantir iguais oportunidades de acesso ao espaço público e de se locomover pela cidade aos diversos grupos da sociedade, para servir de cenário para encontros organizados ou informais. Uma vida inativa pode causar sérios problemas de obesidade em termos gerais da cidade ou nação quando o pedalar ou caminhar não é incentivado. Por isso, a importância da cidade saudável tornando os exercícios físicos como parte natural da rotina diária. (GEHL, 2013) De acordo com Jane Jacobs, no livro Morte e vida das Grandes Cidades, é necessária a interação de espaços públicos de ruas e parques e espaços privados dos edifícios como forma de promover a urbanidade perdida em alguns setores das cidades. (JACOBS, 2001) A autora defende a diversidade de usos e usuários para vitalizar os espaços urbanos.
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1.3 – Equipamento público cultural e espaço urbano O museu e o centro cultural vieram, sob inúmeros pontos de vista, transformar, de novo, o centro da cidade em praça de comércio. _ Ceça Guimarães e Nara Ivata_ Há dois séculos aumentou consideravelmente a criação de edifícios para abrigar os espaços de cultura nas aglomerações das capitais urbanas representando a expansão econômica e social, assegurados pela parceria de gestores públicos e privados. A construção desses edifícios visa o crescimento da economia das cidades por atrair possibilidades de investimento. Os lugares com finalidade de espaço cultural como museu, teatro, salas de concerto, espaço para artes, exposições e etc. vieram transformar novamente as regiões centrais como praça de comércio. Vieram para resgatar características das cidades tradicionais (GEHL, 2001), que utilizavam as praças centrais como lugar de encontro, comércio e circulação. O Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro é exemplo projetual pela diversidade
programática e pela integração do seu entorno com o maior projeto de renovação da Praça Quinze: a Frente Marítima. (GUIMARÃES e IVATA, 2001) O Museu tem importância histórica e social, fato que acelerou a reciclagem dos edifícios e a regeneração dos setores degradados. O plano de regeneração relacionou educação, cidadania, entretenimento, lazer, fonte de emprego e geração de lucro. Em relação ao edifício as autoras do artigo citado acima afirmam: “A importância social da instituição – tradicionalmente geradora de atividades de ensino e cultura – o valor histórico-simbólico do edifício e do entorno, e a condição de maior museu histórico brasileiro são características que o destacam na pesquisa”. (GUIMARÃES e IVATA, 2001, pág. 03) É importante destacar que nenhum edifício por mais agregador que seja ou por melhor projeto que possibilite viabilizar uma revitalização efetiva sem que haja investimentos públicos e privados na criação de empregos, moradias, comércio e serviços de forma que a área contemple diversos usos para que se torne atrativa.
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1.4 – Urbanismo Sustentável ... a maioria das pessoas vive sem contato diário com sistemas naturais. Elas não fazem ideia de onde vêm a água, a energia ou o alimento que consomem nem para onde os seus resíduos líquidos ou sólidos vão. Como não são informados sobre os sérios danos que seu estilo de vida causa à natureza, seguem sua vida cotidiana praticamente ignorando o assunto.
O projeto deve ser integrado de forma que a implantação seja feita em contexto de uso misto que permita o deslocamento a pé, que privilegie a ligação entre as edificações e possua infraestrutura de alto desempenho.
A partir do conceito de urbanismo sustentável de Douglas Farr (2013) é possível perceber que o objetivo é redesenhar o ambiente construído de maneira que sustente uma maior qualidade de vida e promova um estilo de vida saudável e sustentável.
De acordo com o autor, o urbanismo sustentável deve privilegiar bairros compactos que respeitem o pedestre e que seja diversificado com relação a tipos de edificação, pessoas e usos. Para os novos urbanistas é importante que o bairro tenha centro e limites bem definidos de forma que os passeios e as quadras pequenas incentivem a sociabilidade. O tamanho limitado de um bairro estimula redes sociais fortes. (FARR,op. cit.)
Para que a população incorpore um estilo de vida sustentável, o crescimento urbano inteligente e edificações sustentáveis são a base. Porém não adianta adotar meias-medidas como, por exemplo, construir um edifício 100% sustentável e ao mesmo tempo permitir o acesso e deslocamento das pessoas unicamente pelo automóvel.
Neste raciocínio os bairros de baixa densidade não suportam transportes públicos de maneira eficiente e impossibilitam o deslocamento a pé no dia a dia. Ao contrário disto, bairros densos e com diversidade de usos, habitações no superior e comércio serviços no térreo, ganham vitalidade e o poder de compra do pedestre é aproveitado.
_Douglas Farr _
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Com o aumento da densidade urbana as distâncias são diminuídas, fato que possibilita o deslocamento por transporte público ou até mesmo a pé que resulta no desencorajamento do uso do carro. Aumentar a população em áreas consolidadas protege áreas virgens e sensíveis e serve para manter um habitat viável no resto da região com um desenvolvimento compacto. “Bairros que combinam uma grande quantidade de usos com uma alta densidade residencial criam no seu interior oportunidades comerciais viáveis e de longo prazo.” (FARR,op. cit., pág. 31) Um bairro precisa ser completo e satisfazer a necessidade de todas faixas etárias. Pesquisas científicas feitas nos EUA pelo Instituto Nacional de Saúde garantem que o envelhecimento no mesmo local que morou por toda a vida com família e amigos beneficia a saúde e longevidade. O envelhecimento no local permite que o deslocamento a pé seja mantido e assim, evitar o consumo de energia de automóveis.
O desenho urbano deve ser generoso com passeios largos para possibilitar a caminhada do pedestre e o traçado das ruas deve ser preparado para velocidades até 50 km/h. A conexão com os bairros adjacentes acontece por meio de um bom serviço de transporte público. (FARR,op. cit.)
Figura 07: Rua com fachada ativa¹, habitações no superior e comércio e serviços no térreo em Barcelona, Espanha. Fonte: acervo próprio.
¹ Fachada ativa: corresponde à ocupação da fachada localizada no alinhamento de passeios públicos por uso não residencial com acesso aberto à população e abertura para o logradouro.
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Os corredores de transporte público devem ser implantados ou propostos onde haja densidade suficiente para garantir grande quantidade de ônibus, corredores de ônibus, bondes, ônibus elétrico ou metrô leve. O importante é integrar a tecnologia de transporte, densidade e a distribuição dos usos do solo adjacentes. Todo esse processo depende que os usuários decidam mudar o seu estilo de vida, dependendo de menos ou nenhum automóveis, e para isso a segurança é fundamental. O usuário precisa ter a certeza de que os percursos não serão mudados ou abandonados, fator que depende de grandes investimentos. Outro benefício da implantação de eixos de circulação como os corredores de ônibus é a utilização para passagem de rede de eletricidade, de gás, de esgoto e água. Pelo urbanismo convencional o indivíduo segue um estilo de vida que ignora a natureza, fator que favorece o surgimento de problemas psicológicos como o stress. Além do que, o estilo de vida com poucas atividades físicas inseridas no dia a dia agrava a epidemia de obesidade nos grandes centros urbanos atualmente. As pessoas precisam perceber que o estilo de vida do urbanismo sustentável resulta em uma vida agradável, saudável, independente e mais duradoura. (FARR,op. cit.)
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Figura 08: Espaço da rua compartilhado entre pedestres, ciclistas, carro e veículo leve sobre trilhos em Amsterdam, Holanda. Acesso: http://360graus.terra.com.br/biking/default.asp?did=34011&action=reportagem Data: 10/08/2014
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Foto: Bernardo Ramon Acesso: https://vramon1958.wordpress.com/2014/10/15/
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2. Estudos de caso 31
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Os estudos de caso escolhidos e analisados a seguir dividem-se em projetos de edifício e projetos de recuperação urbana que nortearam o desenvolvimento prático do presente trabalho. A análise dos projetos de edifício evidencia a função que ele desempenha; descreve materiais utilizados para vedação, estrutura e fechamento; estuda o programa adotado; e discute sobre a implantação e inserção do edifício em relação ao entorno. Os projetos de recuperação urbana explicitam os motivos que levaram ao desenvolvimento do projeto, as metas estabelecidas e o objetivo a ser alcançado. Após isto, apresenta qual foi a estratégia escolhida para enfrentar os problemas diagnosticados e como aconteceu a implantação do projeto. Podemos considerar que são exemplos práticos dos conceitos discutidos até aqui.
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2.1 Praça das Artes Arquitetos: Brasil Arquitetura e Marcos Cartum Ano Projeto: 2012 Área construída: 28500.0 m² Localização: Rua Conselheiro Crispiniano, São Paulo, Brasil O projeto ocupa o miolo de uma quadra no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo, com abertura para a Rua Formosa, a Avenida São João e a Rua Conselheiro Crispiniano. O programa foi uma idealização da Secretaria Municipal de Cultura e abriga a Orquestra Sinfônica Municipal e Experimental de Repertório, o Coral Lírico e Paulistano, o Balé da Cidade, o Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo e as escolas municipais de música e
Figura 09: Praça das Artes – térreo livre reforça a conexão entre as ruas Fonte: acervo próprio.
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dança; funcionando com um anexo ao Teatro Municipal. A área ocupada abrange 28,5 mil metros quadrados que se definem por dois pisos de estacionamento no subsolo; espaços livres no térreo que permitem o trânsito de pedestres criando uma praça e os volumes construídos para abrigar os ambientes culturais. (HELM, 2014) Para garantir o bom uso nas salas de ensaio de música e dança foi necessário desenvolver o isolamento acústico entre as salas. Outro fator relevante foi o restauro e conexão do antigo Conservatório Dramático Municipal de São Paulo, abrigando a sala de concertos no primeiro piso, assim como a preservação da fachada do Cine Cairo. Por um lado o projeto responde a estas demandas com usos ligados às artes musicais e do corpo, mas responde também à situação física e espacial preexistente, criando novos espaços de convivência a partir da geografia urbana, da história local e dos valores contemporâneos da vida pública. Figura 10: Praça das Artes - Brasil Arquitetura. Acesso: http://www. bienalesdearquitectura.es/index.php/es/proyecto?obra=09BI1450. 28/08/2014
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A implantação se dá por um corte no terreno formando uma praça aberta entre os prédios que tem intenção de ser continuação da cidade. Além da vegetação e de um futuro restaurante / bar no térreo, as salas de ensaio terão janelas de vidro embutidas para permitir a observação dos transeuntes, de forma a incentivar a comunicação entre as calçadas, o patrimônio construído e o pedestre. (FERRAZ, 2013) A prefeitura trata a Praça das Artes como um projeto para a revitalização do Centro, porém é preciso um programa competente de habitação e investimentos da iniciativa privada na região para abrir escritórios que propiciem entretenimento, serviços e empregos para que ocorra uma revitalização efetiva à noite e nos finais de semana. (NOSEK, 2013) Figura 11: Croquis evidenciando a Praça criada. Acesso: http://www. archdaily.com.br/br/626025/praca-das-artes-brasil-arquitetura. Data: 10/10/2014
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2.2 Casa da Música – Cidade do Porto Arquitetos: Rem Koolhas, escritório OMA Ano Projeto: 2001 Área construída: 22.000 m² Localização: Porto, Portugal Depois que Porto foi designada a Capital Europeia da Cultura em 2001, o Ministério da Cultura e a Prefeitura da cidade fundaram Porto 2001, uma organização que iria cuidar de coordenar as várias iniciativas culturais e urbanas para a cidade. Neste contexto, cinco escritórios internacionais foram convidados para um concurso para a construção de um novo auditório no centro da cidade, sendo o escritório OMA o vencedor. (OMA, 2006) A estratégia de projeto adotada escolheu não acompanhar o baixo gabarito de altura do entorno, mas propor a isenção do edifício, que deve subir para uma nova e mais íntima praça, conectada com a Praça Boavista. A partir desta decisão foi definido o caráter representativo do edifício, visibilidade e facilidade de acesso. Por meio de estratégias de continuidade e contraste, a praça torna-se confluência positiva de dois modelos de cidade. Figura 12: Casa da Música - Porto, Portugal. Fonte: acervo próprio.
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A maioria das instituições culturais serve somente a uma parcela da população, a maioria conhece muito bem o exterior do edifício. Seguindo esta premissa o escritório OMA preocupou-se muito com a relação do auditório com o público e sua imagem exterior. Em artigo publicado na revista El Croquis o escritório afirma que o edifício revela seu conteúdo para a cidade sem ser didático; e, ao mesmo tempo, a cidade está exposta ao público a partir do interior como nunca antes tinha. Os espaços entre as funções internas e as funções públicas expostas consistem em espaços secundários que servem como foyers, restaurante, terraços, salas técnicas e circulação vertical. (OMA, op. cit.)
Figura 13: Acabamento externo em mármore travertino. Fonte: acervo próprio.
O edifício possui uma grande quantidade de salas de ensaio coletivo e para solistas, assim como camarins, de forma que pode acolher a Orquestra Filarmônica do Porto e acomodar outros intérpretes convidados. A Casa da Música também contém um menor espaço de atuação, mais flexível, sem assento fixo, dez salas de ensaio, estúdios de gravação, uma área educacional, um restaurante, esplanada, bares, uma sala VIP, áreas de administração e um parque de estacionamento subterrâneo para 600 veículos.
Figura 14: Vista interna da entrada principal. Fonte: acervo próprio.
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A volumetria irregular e as formas oblíquas dos espaços dificultaram a concepção estrutural. Porém, após numerosos ensaios chegou-se na solução do concreto autoportante, que passou por uma sequência de 85 testes. Para definir a materialidade externa foi escolhido o revestimento de mármore travertino por se tratar de um edifício inserido em um plano urbano heterogêneo. (GARGIANI, 2008) A circulação interna apresenta sempre materialidade neutra com vidros e chapa de alumínio. No interior das salas especiais nota-se a contraposição de materiais, com uma explosão de cores e texturas. Os revestimentos anunciam cada programa, apresentando painéis de azulejos portugueses, esponjas, borrachas, acolchoados, mosaico e folha de ouro. O acabamento das paredes internas do auditório é feito em painéis de madeira e o detalhe da folha de ouro parece vir do próprio material. Na sala Suggia, a principal sala de concertos, a luz do dia penetra o ambiente através de aberturas vedadas com vidros que chegam até 5 metros de altura. Estes vidros são ondulados para fazer do material um elemento acústico. (GARGIANI, 2008)
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Figura 15: Circulação interna. Fonte: acervo próprio.
2.3 Plano de Recuperação do Rio Los Angeles Arquitetos: Comitê de Revitalização do Rio Los Angeles Ano Projeto: 2007 Área construída: 59,2 Km Localização: Califórnia, Estados Unidos
O objetivo principal é resgatar, além da função ecológica do rio, sua identidade em relação à cidade. Melhorar o acesso da população ao rio, a segurança e a saúde pública, para gerenciar o sistema fluvial e elaborar projetos de curto, médio e longo prazos. Para o desenvolvimento do plano foram estabelecidas metas principais que são a revitalização do rio, a criação de um sistema linear verde de conexão interbairros com o rio; criação de atrativos e oportunidades para a comunidade; e a valorização da qualidade de vida da população. Figura 16: Etapas de tratamento do canal com ênfase na vegetação ripária e acesso ao rio . Fonte: Los Angeles River Revitalization Master Plan, City of Los Angeles. Acesso: http://www.mlagreen.com Data: 18/06/2014
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Foram estabelecidas também diretrizes de execução para garantir a viabilização que envolver valorizar as várzeas, com recuperação de vegetação ripária e remoção das paredes de concreto onde for possível; inserir ciclovias e pistas de caminhada; tratamento paisagístico e criação de corredores de vegetação ripária²; melhorar o acesso ao rio; melhorar o tratamento das águas, alargar a várzea do rio Los Angeles; melhorar o espaço público garantindo tipologias diversas; e criar novas oportunidades de emprego em cafés, restaurantes, galerias e lojas. (GORSKI, 2010)
A implementação do projeto ocorreu em etapas, inicialmente pela inserção da vegetação, posteriormente a despoluição das águas e por último a criação de áreas de estar, capazes de atrair a população.
Figura 17: Recuperação das várzeas e acesso ao rio. Fonte: Los Angeles River Revitalization Master Plan, City of Los Angeles. Acesso: http://www.mlagreen. com Data: 18/06/2014
Figura 18: Proposta de alargamento da várzea e melhoramento dos espaços públicos. Fonte: Los Angeles River Revitalization Master Plan, City of
²Vegetação ripária: vegetação de margens de rios e mananciais.
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Uma preocupação decorrente ao Plano é evitar e minimizar os efeitos da possível gentrificação que pode ocorrer e como consequência levar a população de baixa renda a buscar outras moradias já que há previsão de aumento de 200 a 300% do valor da terra.
Los Angeles. Acesso: http://www.mlagreen.com Data: 18/06/2014
As medidas efetuadas para evitar este processo são: incentivar a participação da população local no processo de implementação do projeto, ao definir o uso do solo reservar cota de unidades residenciais por financiamento e programa de assistência a pequenos comércios e serviços. Com a implantação do Plano, os principais benefícios esperados são: “a assimilação da importância do rio pelas gerações atuais e futuras, entendendo-o como espinha dorsal verde que conecta a natureza às comunidades, e como a alma da cidade.” (GORSKI, 2010; pag. 151)
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2.2 Madrid-Rio Arquitetos: Burgos & Garrido Arquitetos Associados, Porras La Casta Arquitetos, Rubio & Álvarez-Sala e West 8 Ano Projeto: 2006-2011 Área construída: 80.000 m² Localização: Madrid, Espanha O governo espanhol construiu um grande anel rodoviário em Madrid na década de 70, chamado M30 e consistia em autopistas que aproveitaram o vale do rio para a implantação de trechos de alta velocidade para se conectarem futuramente as demais rodovias do país. Porém, o crescimento da mancha urbana foi mais rápido que a finalização das obras e desta forma o Rio Manzanares transformou-se em barreira dividindo os distritos urbanos ao longo do rio. Em 2003 a prefeitura de Madrid iniciou intervenções para melhorar a qualidade ambiental e mobilidade da cidade, sendo a mais expressiva o soterramento de 6km da autopista.
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Figura 19: Parque Madrid Rio. Fonte: Acervo próprio
Feito isso, em 2005 foi realizado um concurso internacional para definir o projeto que ocuparia a área acima do túnel e os 80 hectares adjacentes ao Rio Manzanares. O projeto vencedor propôs a conexão entre os bairros e a implantação de equipamentos que favorecessem a apropriação do espaço público pelo pedestre utilizando também recursos de arquitetura de paisagem. Percebe-se a busca pela integração do caráter histórico local com as transformações urbanas da cidade moderna. (BORTOLUZZI, 2013) Foram criadas unidades de paisagem em que Salón de Pinos se configura a mais importante, por se tratar de um parque linear estreito e longo composto por pinheiros da zona mediterrânea, fator que resgata elementos históricos da paisagem natural e sombria a via de pedestres e ciclistas. Outra unidade de paisagem que remete a paisagem natural é O Leito do Rio que com o alargamento da superfície afasta as margens do Rio Manzanares da trama urbana. Intervenções em escala local reforçam as premissas das unidades de paisagem como é o caso do Parque Arganzuela que por caminhos curvilíneos fazem referência à morfologia curvilínea fluvial.
Figura 20: Corte Salón de Pinos evidenciando o soterramento das vias e implantação de parque acima. Fonte: West 8 Acesso: http://www.west8.nl/
projects/all/madrid_rio/ Data: 05/09/2014
Figura 21: Parque Arganzuela e a ponte para pedestres e ciclistas ao fundo. Fonte: acervo próprio
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O antigo matadouro da cidade abriga exposições e estúdios de arte e dança, fomentando o cenário cultural e criativo de Madrid. O projeto completo foi construído em apenas quatro anos e além de conseguir a integração entre bairros pelas áreas verdes, túneis, ciclovias, passarelas e calçadas também possui dezenas de estações de metrô e trem para conectar as zonas da periferia ao centro. (BORTOLUZZI, op. cit.)
Figura 22: Orla do Rio Manzanares revitalizada. Fonte: acervo próprio
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Foto: Izekampus Acesso: https://www.google.com.br/maps/place/Metr%C3%B4+Penha/@-23.530711,-
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3. Caracterização e Diretrizes Urbanísticas 47
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a explicação dos conceitos que norteiam o trabalho e a apresentação dos estudos de caso, a seguir uma análise da área de intervenção e de estudo. A pesquisa resultou na elaboração de diretrizes urbanísticas para a área e no desenvolvimento do projeto do Centro Cultural do Rincão.
[
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Feita
3.1 Caracterização da área de intervenção A área de intervenção está localizada na subprefeitura Penha, na Macrorregião Leste do município de São Paulo, entre as estações Penha e Vila Matilde da Linha 3 – Vermelha do Metrô. A subprefeitura Penha tem como vizinhos o município de Guarulhos e as Subprefeituras de Ermelino Matarazzo, Itaquera, Aricanduva, Mooca e Vila Maria, mostradas na figura XX, ao lado:
Vila Mariana Mooca
Ermelino Matarazzo
Penha Aricanduva
Itaquera
A subprefeitura é composta por quatro distritos: Penha, Cangaíba, Vila Matilde e Artur Alvim. O Centro Figura 23: Mapa das Subprefeituras de São Paulo. Fonte: Prefeitura de São Paulo – Coordenação das Subprefeituras. Acesso: http://www.
prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/mapa/ index.php?p=14894 Data: 17/11/2014
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da Penha é uma das antigas e dinâmicas centralidades de todo o município, concentrando diversos equipamentos de importância regional. É uma das maiores e mais populosas subprefeituras da Zona Leste de São Paulo, apresentando, dessa forma, bairros com variados graus de urbanização. A seguir, são apresentados os dados demográficos da região:
Subprefeituras Distritos Área (km²) População (2010) Densid. Demográfica (Hab/m²) Artur Alvim 105.269 15.950 6,6 Cangaíba 16 136.623 8.549 Penha Penha 11,3 127.820 11.312 Vila Matilde 8,9 104.967 11.792 TOTAL 42,8 474.659 11.090
Figura 24: Dados demográficos da Subprefeitura da Penha. Acesso: http://
www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/dados_ demograficos/ Data: 17/11/2014
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3.1.1 Histórico A origem da Penha se encontra no ano de 1667, quando foram finalizadas as obras da Igreja de Nossa Senhora da Penha. Partindo de São Paulo em direção ao Rio de Janeiro, a região da Penha era a primeira elevação da topografia, por isso a construção da igreja neste local. Este é também a origem do termo penha, de penhasco, rocha, rochedo. O povoamento em torno da igreja sofreu poucas transformações até a inauguração da Estrada de Ferro do Norte, em 1877. A ferrovia impulsionou a industrialização dos bairros vizinhos, Brás e Tatuapé, o que ocasionou o crescimento populacional da Penha, especialmente após a inauguração do ramal ferroviário da Penha (desativado na década de 1950) e do bonde do Tatuapé. É nesta época que surgem diversos loteamentos no atual território da subprefeitura, como a Vila Matilde, que se originou do desmembramento de uma grande gleba que se estendia da Penha até o atual Parque do Carmo. O nome do bairro é uma homenagem à filha de Dona Escolástica Melchert da Fonseca, antiga proprietária das terras.
Figura 25: Praça N. Sr. Penha em 1908. Acesso: http://memorialpenha.
wordpress.com/ Data: 21/11/2014
Figura 26: Bairro da Penha em 1940. Acesso: http://memorialpenha.wordpress. com/category/uncategorized/ Data: 21/11/2014
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1958
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Geoportal: http://www.geoportal.com.br/memoriapaulista/
2008
Geoportal: http://www.geoportal.com.br/memoriapaulista/53
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3.1.2 Plano Regional Estratégico O Plano Regional Estratégico da Subprefeitura Penha (parte integrante da Lei Municipal nº 13.885/2004) classifica a maior parte da região como Zona Mista de Baixa Densidade, onde é dada preferência ao uso residencial. A exceção fica por conta especialmente da região inserida na Operação Urbana Consorciada Amador Bueno, ao longo da Centralidade da Penha e da Avenida Amador Bueno da Veiga, onde pretende-se o desenvolvimento e ampliação das atividades comerciais e de serviços que atualmente caracterizam a região, estimulando a geração de empregos na Zona Leste. A operação urbana, porém, ainda não dispõe de legislação específica.
Figura 27: Mapa de Zoneamento da Subprefeitura da Penha. Fonte: Prefeitura de São Paulo – Secretaria Municipal de Planejamento urbano. Acesso: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/ subprefeituras/mapa/index.php?p=14894 Data: 17/11/2014
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3.1.3 Sistema Viário As principais vias que compõem o sistema viário da região são a Avenida Conde de Frontim (Radial Leste), Marginal Tietê e Rodovia Ayrton Senna, que ligam o Centro aos bairros da Zona Leste de São Paulo e outros municípios da região metropolitana. Destaca-se também a Avenida Aricanduva e Avenida Governador Carvalho Pinto, que conectam a Marginal Tietê e Radial Leste a bairros extremos da Zona Leste e à região do ABC; e as Rodovias Presidente Dutra e Fernão Dias, que fazem a conexão intra metropolitana e interestadual do município de São Paulo.
Área de intervenção do Projeto
Figura 28: Mapa do Sistema Viário Estrutural. Fonte: Prefeitura de São Paulo – Secretaria Municipal de Planejamento Urbano. Acesso:http://
ww2.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/desenvolvimentourbano/mapa/03_Rede_ transporte.jpg Data: 17/11/2014
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3.1.4 Uso e ocupação do solo A região caracteriza-se por diversos usos, como residencial, setor de comércio e serviços e atividade industrial. O uso residencial é predominantemente horizontal com grande tendência a verticalização. A renda é predominantemente média e popular, com presença residual de habitações precárias, indicando a presença de população de baixa renda. O uso comercial concentra-se no Centro da Penha e no eixo da Avenida Amador Bueno da Veiga (ao norte da ferrovia) e Rua Dona Matilde (ao sul). O uso industrial vem sendo gradativamente substituído por novos usos, mas ainda destaca-se no local a indústria de celulose Santher, na Rua Guaiaúna. São encontradas diversas instituições como escolas, colégio militar e o RUVE (Recreativo União Vila Esperança). É possível observar grave carência de áreas verdes nesta região, sendo que opções mais próximas são o Parque Linear Tiquatira e o Parque Ecológico Tietê, que distam entre 5 e 10 quilômetros da área de estudo. A ausência de praças nos bairros agrava a falta de áreas verdes. Figura 29: Mapa de uso e ocupação do solo. Fonte: Atlas Ambiental do Município de São Paulo. Acesso: http://atlasambiental.prefeitura.sp.gov.br/ mapas/109.pdf
Data:17/11/2014
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3.1.5 Sistema de Transporte Público
LEGENDA
A rede estrutural de transporte público compõese pela Linha 4 – Vermelha do Metrô e linhas Linha 11 – Coral e Linha 12 – Safira da CPTM. Há na área o projeto da Estação Penha da Linha 2 - Verde do Metrô conectada ao projeto da Estação Penha da Linha 11 CPTM. A extensão da linha fará ligação com o Aeroporto Internacional de Guarulhos. O sistema de transporte por meio do ônibus abrange o Corredor de ônibus Celso Garcia - Amador Bueno, uma dos mais movimentados do município, além da faixa de ônibus da Radial Leste. A região conta também com os terminais Penha e Aricanduva da SPTrans, e os terminais Vila Matilde e Penha, conectados às respectivas estações de metrô. A região é servida também pela ciclovia da Radial Leste, que conecta Itaquera ao Tatuapé, passando pela Penha e Vila Matilde. Figura 30: Mapa da Rede Estrutural de Transporte Público. Fonte: Prefeitura de São Paulo – Secretaria Municipal de Planejamento Urbano. Acesso: http://ww2.prefeitura.sp.gov.br/arquivos/secretarias/planejamento/ zoneamento/0001/parte_II/penha/21-MAPA-PE-03.jpg Data: 17/11/2014
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3.1.6 Hidrografia A região se insere na bacia do Rio Aricanduva, que deságua no Rio Tietê. O Córrego do Rincão, presente na área de intervenção direta do projeto é um afluente da margem direita do Rio Aricanduva e está canalizado a céu aberto. A partir das décadas de 60 e 70 a ocupação da área se intensificou, desencadeando o crescimento desordenado da periferia e o surgimento de diversos loteamentos populares. Este processo ocasionou a ocupação das várzeas dos cursos d’água e, como consequência, vieram as enchentes recorrentes. LEGENDA Código das Bacias Hidrográficas Córrego do Rincão
Uma das medidas tomadas pela prefeitura para a resolução do problema foi a implantação da Bacia de Detenção do Rincão, no ano de 2002.
Figura 31: Mapa hidrográfico do município de São Paulo com divisão de bacias hidrográficas. Fonte: Prefeitura de São Paulo – Desenvolvimento Urbano. Acesso: http://aguaspluviais.inf.br/Mapas/Mapa_hidrografico_com_
bacias.pdf
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3.2. Caracterização da área de Projeto A área de intervenção direta trata-se de uma área pública com área aproximada de cem mil metros quadrados. A área se originou da retificação do Córrego Rincão, afluente da margem direita do Rio Aricanduva, realizada entre as décadas de 70 e 80, na mesma época da implantação da linha do metrô. Após as obras do Metrô a área permaneceu desocupada, servindo para receber espetáculos circenses esporadicamente. A população mobilizou-se para conseguir a concessão do espaço para atividades de lazer. Aos poucos foram instalados, pela comunidade, 3 campos oficiais de futebol, com vestiários, quadra poliesportiva para futebol society, quadra poliesportiva para voleibol, quadra de futebol de areia, quadra de futevôlei e voleibol de areia, quadra coberta de malha, quadra coberta de bocha, pista de bicicross, pista de caminhada, parque infantil, lanchonete com área coberta, instalações sanitárias, área coberta com mesas para jogos. Este local era frequentado por 1.500 pessoas diariamente. (BROCANELI e ROSSINI, 2008)
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Devido às constantes enchentes do Córrego Aricanduva a prefeitura contratou a empresa Hidrostudio vencedora da Premiação de Urbanismo em 1998 com a proposta de construção de piscinões como macrodrenagem da Bacia do Aricanduva. No início do ano de 2002 foi feita a construção de dois reservatórios previstos no Relatório de Macrodrenagem. A partir daí a população perdeu boa parte das áreas de lazer e esporte. O Piscinão do Rincão foi implantado no eixo do Córrego do Rincão entre as Estações Vila Matilde e Penha do Metrô para amortização das águas pluviais. Na próxima página, figura 32, segue mapa da área de projeto de intervenção.
Figura 32: Mapa da área do projeto de intervenção. Fonte: elaboração própria sobre Google Maps.
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3.3. Diretrizes Urbanísticas Levando em conta a implantação do Piscinão como elemento importante para amortização das águas pluviais, este projeto tem como objetivo requalificar a implantação do “Piscinão do Rincão”. Aproveitar os espaços que ficam ociosos durante o vazio e utilizálos para uso público, proporcionando a população um espaço de qualidade que proponha lazer e cultura, implantando estruturas temporárias e práticas. Ao longo do eixo foram estabelecidas diretrizes para aproximação da cidade á margem do córrego e do piscinão, potencializando-os como estruturadores urbanos. Para que este plano seja possível, é necessário considerar a despoluição das águas assim como a coleta e tratamento do esgoto antes de lançá-lo aos rios e o cumprimento da rígida rotina de manutenção e limpeza do piscinão. Para estabelecer as diretrizes foram elaborados dois mapas para fazer a interpretação urbana das necessidades do local. O primeiro deles é o mapa que cruza transposições e fluxos em que as transposições existentes para automóveis (pontilhado vermelho) e
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para pedestres (pontilhado verde) são evidenciadas. Ao analisá-las é possível notar a falta de travessias para pedestres, e por isso foram propostas em lugares estratégicos (setas azuis), para evitar longos percursos sem que o pedestre possa transpor o eixo na transversal. Além disso, um breve estudo de fluxos e dispersão de pessoas foi representado pelas setas vermelhas. Na página seguinte, figura 33, mapa de transposições e fluxos.
Legenda transposição automóveis transposição pedestres transposição proposta pedestres fluxo dispersão de pessoas
Figura 33: Mapa Transposições e Fluxos. Fonte: elaboração própria sobre Mapa Digital da Cidade - MDC.
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O segundo mapa que cruza equipamentos públicos e terrenos vazios ou subutilizados. Ao analisar os equipamentos públicos percebe-se o potencial dos equipamentos educacionais (amarelo), porém há deficiência nos equipamentos públicos de saúde (marrom) e deficiência em equipamentos esportivos
e de lazer (verde água). Em contrapartida, há terrenos vazios ou subutilizados (roxo) como estacionamentos que tem potencial para abrigar tais equipamentos para suprir a demanda da população. A seguir, na figura 32, mapa de Equipamentos Urbanos e Terrenos Vazios ou Subutilizados.
Legenda Equip. público educacional Equip. público saúde Equip. público esporte/lazer Terreno vazio ou subutilizado
Figura 34: Mapa Equipamentos Urbanos e Terenos Vazios ou Subutilizados. Fonte: elaboração própria sobre Mapa Digital da Cidade - MDC.
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Levando em consideração os mapas anteriores foi possível perceber que os terrenos vazios ou subutilizados podem suprir a necessidade de alguns tipos de equipamentos públicos que faltam na região. Sendo assim, foram propostas sete diretrizes ao longo do eixo do “piscinão”: Habitação para mercado popular; Praça-feira livre; Complexo esportivo; Requalificar a bacia de detenção do Rincão; Transposições para pedestres; Resgate do rio em relação à cidade; e Ventro Cultural. Essas diretrizes, representadas na Figura 35, são detalhadas a seguir como propostas:
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Figura 35: Mapa Diretrizes Propostas. Fonte: elaboração própria sobre Mapa Digital da Cidade - MDC.
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Praça e feira ao ar livre Edifícios residenciais Centro Esportivo Centro Cultural Transposição de pedestre Pistade caminhada e ciclovia Bacia de detenção recuperada Linha 15 Branca - Metrô Ciclovia existente
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01 - PRAÇA - FEIRA LIVRE
Figura 36: Referência - Praça Victor Civita, Levisky Arquitetos e Anna Julia Dietzsch. Foto: Nelson Kon Acesso: http://www.estudiocarlosfortes.com/pt-BR/
Figura 37: Referência de academia ao ar livre. Acesso: http://www. cidadedemocratica.org.br/topico/6510-academia-ao-ar-livre Data: 23/04/2014
Esta proposta busca qualificar o acesso para a Estação Penha do Metrô, assim como as bordas do Córrego do Rincão com vegetação rasteira e a implantação de uma praça em continuidade. Esta praça tem como objetivo ser área de lazer e descanso para os residentes, assim como abrigar feiras livres aos finais de semana para aproveitar a forte presença de comércio de bairro. A praça contará com área recreativa destinada as crianças e com equipamentos de academia ao livre para que a população se exercite.
PROPOSTA: praça, feira livre, recreação área estimada: 10.400 m²
projects/victor-civita-square Data: 23/04/2014
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PROGRAMA: -praça com mobiliário urbano de estar; -equipamentos de academia ao ar livre; -área recreativa para crianças com parque infantil;
02 - HABITAÇÃO PARA MERCADO POPULAR
Figura 38: Referência - Habitação em Vitória-Gasteiz. Patxi Cotazar Arquitetura. Foto: Hisao Suzuki Acesso: http://www.archdaily.com.br/br/tag/vitoria-
Figura 39: Referência - Conjunto Habitacional em Granollers, ONL Arquitetura. Foto: José Hevia Acesso: http://www.archdaily.com.br/br/01-
Aproveitar a boa rede de transporte público presente na área e incentivar a construção de Habitação para Mercado Popular (HMP - destinada à família com renda igual ou inferior a dezesseis salários mínimos). Com as propostas de requalificação do eixo do Piscinão do Rincão a área terá diversidade em equipamentos de lazer, cultura e esporte. Contando que há presente na área, atualmente, quantidade adequada de equipamentos educacionais.
PROPOSTA: Construção Habitacional para famílias de baixa renda; área estimada: 5.500m²
gasteiz Data: 23/04/2014
87601/conjunto-habitacional-em-granollers-onl-arquitectura Data: 23/04/2014
PROGRAMA: -três prédios residenciais; -treze pavimentos por prédio; -quatro apartamentos por andar, com 50 m² ou 60 m² cada um; -máximo de uma vaga de garagem por apartamento.
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03 - COMPLEXO ESPORTIVO
Figura 40: Referência - Centro esportivo em Bratislava, Eslováquia. Studio AK2 Arquitetos Acesso: http://casamaqven.blogspot.com.br/2014/05/10-
Figura 41: Referência - Shangai Oriental Sport Center, China. GMP Archtekten Foto: Marcus Bredt Acesso: http://www.designboom.com/architecture/gmp-
A organização de moradores do bairro cobra a existência de estrutura para atividades esportivas, porém conseguiram até hoje apenas 2 quadras descobertas e vestiários improvisados exatamente nesta área. A proposta de implantação do Complexo Esportivo tem como objetivo estruturar e potencializar o lazer público para a utilização dos frequentadores atuais e atrair residentes da região. Este complexo pode ser utilizado também pelos alunos das escolas públicas mais próximas, mapeadas na Figura 32.
PROPOSTA: quadras poliesportivas, salas para ginástica e musculação, parque aquático, recreação área estimada: 4.600 m²
construcoes-magnificas-da-terra.html Data: 23/04/2014
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architekten-shanghai-oriental-sports-center-now-complete/ Data: 23/04/2014
PROGRAMA: -quadras poliesportivas cobertas; sala para exame médico; salas para ginástica, expressão corporal e musculação; área de recreação; piscinas semiolímpicas e recreativas;madministração; vestiários; e sala para manutenção.
04 - REQUALIFICAR A BACIA DE DETENÇÃO DO RINCÃO
Figura 42: Piscinão do Rincão visto pela Rua Demini. Fonte: acervo prórpio.
O intuito desta proposta é resgatar o espaço público e qualificá-lo para atrair a população da região. Aliar um equipamento de infraestrutura importante para a amortização das águas pluviais como o “Piscinão” para funcionar como agente agregador. Para tanto se propõe a implantação da bacia de detenção naturalizada que consiste em implantar brejo natural e vegetação
Figura 43: Bacia de detenção naturalizada. Foto: Cecília Herzog Acesso:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/11.130/3900 Data: 23/04/2014
rasteira nas bordas íngremes do piscinão. Aliado a isso, reestruturar a pista de cooper existente atualmente e implantar uma ciclovia nas bordas externas e planas do piscinão.
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Figura 44: Jardim de chuva. Acesso: http://www.criaticidades.com.br/ sampacriativa/wp-content/uploads/2013/10/frenogardenlarge.jpg Data: 23/04/2014
Principalmente durante os vazios aproveitar os espaços ociosos como espaços públicos de qualidade por meio da implantação de quadras poliesportivas e pista de skate. Equipamentos que suportem a condição de alagamento durante a época de fortes chuvas, que se configuram um curto período de tempo durante o ano. Tudo isso aliado a infraestrutura verde, como por exemplo, a colocação de pisos permeáveis e jardins de chuva³. ³ jardim de chuva: sistema de biorretenção de águas pluviais.
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Figura 45: Pista de Skate - Piscinão do Jabaquara - São Paulo Foto: Marcus Bredt Acesso: http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2013/06/populacao-da-zonasul-de-sao-paulo-perdera-area-de-lazer-para-metro-306.html Data: 23/04/2014
PROPOSTA: bacia de detenção naturalizada, equipamentos públicos de lazer, infra-estrutura verde área estimada: 70.000m²
05 - TRANSPOSIÇÕES PARA PEDESTRE
Figura 46: Ponte pedonal sobre Rio Lis em Leiria, Portugal - MVRDV. Foto: José Carlos Melo Dias. Acesso: https://www.flickr.com/photos/josecarlosmelodi as/4282980959/ Data: 23/04/2014
A partir das análises de transposições e fluxos percebe-se uma deficiência de conexão transversal para pedestre. Desta forma, foram propostas passarelas que possibilitem a transposição entre os dois lados do córrego de maneira que a distância máxima percorrida entre os pedestres é 350 metros.
Figura 47: Ponte pedonal sobre Rio Lis em Leiria, Portugal - MVRDV.
Acesso: http://www.panoramio.com/photo/78487628 Data: 23/04/2014
Fez-se clara a necessidade de transposição entre o Terminal de Ônibus Vila Matilde e o outro lado do córrego. Levando em consideração a implantação de ciclovia ao redor da bacia de detenção. PROPOSTA: passarelas
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06 - RESGATE DA IDENTIDADE DO RIO EM RELAÇÃO À CIDADE
Figura 48: Cidade do Porto, Portugal. Fonte: Acervo próprio
Figura 49: Cidade de Budapeste , Hungria. Acesso: http://www. alemanhaporquenao.com/2014/06/hungria-budapeste-parte-1.html Data: 23/04/2014
Esta diretriz tem como objetivo incluir o rio como qualificador da paisagem urbana, valorizar a identidade do rio e a verdadeira importância dele em relação à cidade. Para que isso ocorra é necessário implantar algumas medidas como a despoluição do rio para que a população seja atraída a se aproximar-se. É preciso livrar as bordas dos rios em, no mínimo, vinte e cinco metros.
prática de lazer às margens. Neste caso foi proposto uma ciclovia e uma pista de caminhada que passa em dois momentos do projeto ao redor do curso d’água.
Feito isto é possível incentivar a permanência da população ao redor desse rio, assim como incentivar a
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PROPOSTA: requalificar o rio dentro da paisagem urbana
07 - CENTRO CULTURAL
Figura 50: Vista do terreno para implantação do Centro Cultural do Rincão, em frente ao Terminal de Ônibus Vila Matilde. Fonte: acervo próprio
Figura 51: Praça das Artes em São Paulo, Brasil. Escritório Brasil Arquitetura Fonte: acervo próprio
Ao analisar a região e o entorno foi percebida a carência de equipamentos de lazer e cultura, justificando a implantação de um Centro Cultural. Em frente ao terreno há um terminal de ônibus e a Estação Vila Matilde que potencializa ainda mais a área para a implantação de um equipamento icônico e importante como este. O terreno escolhido para o desenvolvimento do projeto funciona como estacionamento atualmente, tem área de 6.5000m², é plano e cortado pelo Córrego canalizado do Rincão.
PROPOSTA: área para convivência, sala para cursos, auditório, lanchonete área estimada: 6.500m² PROGRAMA: áreas de convivência para oficinas, workshops, reuniões e exposições; lanchonete, café; auditório para palestras, teatros ou apresentações musicais; sala para aulas teóricas, ensaios de música e curso de computação, administração e área de leitura.
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Foto: acervo pr贸prio
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4. O Projeto 81
4.1 Projeto do Centro Cultural do Rincão Foi escolhida a diretriz de implantação de um Centro Cultural para ser projetada e desenvolvida detalhadamente. A área do projeto localiza-se no entorno da Estação Vila Matilde da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) e do Terminal de Ônibus Vila Matilde, que juntos formam um meio importante de deslocamento no bairro e arredores. Isso revela o potencial de implantação de equipamentos urbanos que fortifiquem o convívio e lazer da população interligado ao resto da metrópole.
e direciona o pedestre ao longo do caminho.
O equipamento tem o intuito de potencializar a vida em comunidade e criar uma postura coletiva no próprio cotidiano das pessoas da região. Tornar o ponto de partida e chegada como irradiador de equipamentos urbanos.
O programa arquitetônico do edifício define-se com uma ampla área de convivência para oficinas, workshops, reuniões e exposições no térreo. Ainda neste andar uma lanchonete, espaço de leitura e um jardim interno que recebe iluminação e ventilação natural, formando um átrio central que estende-se aos demais andares. O auditório para palestras, teatros ou apresentações musicais tem pé direito duplo e tratamento acústico para barrar os ruídos externos e ao mesmo tempo isolar acusticamente dos outros ambientes. Salas para aula teórica, aula prática de música e salas de informática se distribuem pelo primeiro e segundo andar.
Levando em consideração as complexidades do local, a água se torna um fator fundamental. O Córrego do Rincão, atualmente canalizado a céu aberto, após o processo de despoluição, revalorização urbana e paisagística convida a população para usufruir atividades de lazer ao redor do córrego. Sendo assim, o córrego se torna um eixo que articula
Para conectar o edifício com o ambiente externo a lanchonete do térreo se abre ao exterior, além de quatro entradas para permitir a fluidez e permeabilidade. O edifício tem varandas para contemplar a vista do rio próximo e para a praça que foi redesenhada contando com quiosques, academia ao ar livre, parque infantil, brinquedos aquáticos, redário e horta comunitária.
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Às bordas do córrego foram projetados degraus que funcionam como local de permanência para as pessoas ou como espaço para plantação de vegetação ripária. Em relação à estrutura, o prédio se compõe de lajes nervuradas de concreto armado para vencer vãos de até dez metros e pilares de concreto moldados in loco. Para alcançar um vão de 25 metros no auditório foram utilizadas vigas metálicas. Os matérias de fechamentos utilizados foram caixilhos de vidro e parede de alvenaria. Devido à larga utilização de vidro foram projetadas proteções para barrar o excesso de entrada do sol, com painéis de alumínio perfurado. A cobertura do vão central, acima do jardim interno é feita em estrutura metálica e vidro temperado.
Figura 53: Perspectiva vista da Rua Alvinópolis Fonte:elaboração própria
Figura 52: Perspectiva vista do Córrego do Rincão Fonte: elaboração própria
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ELINA RUA C
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TERMINAL VILA MATILDE
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Figura 54: Implantação
Fonte: elaboração própria
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Figura 55: Planta Térreo
Fonte: elaboração própria
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Figura 56: Planta Mezanino
Fonte: elaboração própria
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Figura 57: Planta Primeiro Pavimento
Fonte: elaboração própria
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Figura 58: Planta Segundo Pavimento
Fonte: elaboração própria
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Figura 59: Perspectiva vista do Córrego do Rincão Fonte: elaboração própria
Figura 60: Elevação 01
Fonte: elaboração própria
Figura 61: Corte AA
Fonte: elaboração própria
Figura 62: Elevação 02
Fonte: elaboração própria
Figura 63: Corte BB
Fonte: elaboração própria
Figura 64: Elevação 03
Fonte: elaboração própria
Figura 65: Corte CC
Fonte: elaboração própria
Figura 66: Elevação 04
Fonte: elaboração própria
Figura 67: Corte DD
Fonte: elaboração própria
Figura 68: Perspectiva vista do Córrego do Rincão Fonte: elaboração própria
Figura 69: Perspectiva vista da Rua Alvin贸polis Fonte: elabora莽茫o pr贸pria
Foto: Jan Gehl Acesso:http://www.information.dk/255364
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5. Conclus達o 97
5. Conclusão O trabalho exposto procurou compreender como lidar com espaços residuais deixados na cidade após a implantação de um equipamento de drenagem importante para a amortização das águas das chuvas (bacia de detenção), mas que ignora a população que poderia utilizar esses espaços.
Após o estudo das bases do urbanismo sustentável e contemporâneo foi possível traçar diretrizes para a reestruturação do Rincão para incentivar a apropriação dos moradores pelos espaços recuperados com áreas de lazer, áreas verdes e usufruir dos equipamentos propostos.
A pesquisa feita abrange a aproximação entre o rio e a cidade, tratado na maioria dos casos como barreiras nos centros urbanos. O curso d’água deve funcionar como elemento estruturador do espaço e resgatar a própria identidade por meio da recuperação da qualidade das suas águas e suas margens que resulta na valorização da paisagem.
O estudo do espaço público social e recreativo, da valorização da escala do pedestre e da priorização do mesmo como lugar de encontro foi fundamental para a definição das diretrizes urbanísticas, assim como os estudos de planos de recuperação feitos em outras cidades como o mesmo intuito de resgatar o rio e qualificar o espaço público.
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Para o desenvolvimento do Centro Cultural do Rincão a pesquisa de outros equipamentos culturais auxiliou na aplicação dos conceitos de permeabilidade e fluidez presente no edifício. E por fim, a análise de projetos similares auxiliou no desenvolvimento do programa, em escolhas projetuais de circulação e implantação. A escolha de detalhar a diretriz urbanística de implantação do Centro Cultural do Rincão e requalificação do córrego e praça lindeiros anuncia as intenções de abordagem para todas as outras diretrizes propostas no eixo.
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Foto: Paola de Re Acesso:http://www.decoracao.com/estante-para-livros/
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6. Referências Bibliográficas 101
6. Referências Bibliográficas BROCANELI, Pérola Felipette; ROSSINI, Mariana Voss e RODRIGUES, Samira. Os rios e a paisagem sustentável. São Paulo, 2008. BORTOLUZZI, Camila. Madrid RIO / West 8 Burgos & Garrido, Porras La Casta, Rubio Alvarez Sala. ArchDaily Brasil, 2013 [online] http://www.archdaily.com.br/60376/madrid-rio-west-8-burgos-e-garrido-porras-lacasta-rubio-alvarez-sala Data: 20/09/2014 FARR, Douglas. Urbanismo Sustentável – Desenho urbano com a natureza. Porto Alegre, Bookman, 2013. FERRAZ, Marcelo. Monolito, Anuário 2013. Número 18 (dez, 2013 / jan, 2014) GEHL, Jan. Cidade para pessoas. Editora Perspectiva, São Paulo, 2013. GEHL, Jan e GEMZOE, Lars. Novos espaços urbanos. Editora Gustavo Gili, Barcelona, 2001.
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