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Dimitris Dimitriadis President of the European Economic and Social Committee
More than forty million people in Europe have a culture, language, religion or skin colour that is different from the people of their host country because they are immigrants. Whether as the land of departure, destination or transit, every country is now affected to a greater or lesser degree by the phenomenon of migration. This is why the European Economic and Social Committee (EESC), in association with the Camþes Institute and the Permanent Representation of Portugal, has invited four young Portuguese artists to present their vision of displacement and immigration in Portugal as part of its whatNEXT? series of exhibitions. From their very contemporary perspective, they speak of the diversity and evolution of their environment and Portuguese society, like in the several Portuguese films that were programmed during the exhibition period. Although immigration is still a relatively recent phenomenon in Portugal, it has definitely become one of the hallmarks of our culturally plural and diverse European societies. And for all of us, it is a source of cultural enrichment from which we must know how to profit. The European Economic and Social Committee has always regarded immigration as a two-way process that benefits our societies. I am acutely aware of the difficulties in integrating into everyday life that second- and third-generation immigrants experience. 2007 is the Year of Equal Opportunities for All. This equality of opportunity has to be made a reality and all public authorities have to implement integration policies to achieve this. Eliminating discrimination must be one of the priorities of our institutions and it is absolutely vital that all our public authorities – European, national, regional and local – implement policies to promote integration. It is no less vital, as the EESC has always maintained, to include all civil society organisations in these actions: the social partners, human rights organisations, cultural and sports associations, faith communities, neighbourhood organisations and the media must be in the vanguard of integration, opening their doors to immigrants and promoting their participation. There have been numerous initiatives to this end in recent years, and 2008, the European Year of Intercultural Dialogue, will be an opportunity of take stock, but above all to step up our action on this front. By offering us their view of this very timely issue, these artists are also playing a part in moving things forward in the right direction.
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Dimitris Dimitriadis Presidente do Comité Económico e Social Europeu
Na Europa, mais de 40 milhões de pessoas têm uma cultura, uma língua, uma religião ou uma cor de pele diferente da dos indivíduos do seu país de acolhimento por serem imigrantes. Como pontos de partida, de chegada ou apenas de passagem, todos os países são actualmente afectados, directa ou indirectamente, por estes fenómenos migratórios. É por isso que o Comité Económico e Social Europeu (CESE), no quadro da sua série de exposições whatNEXT? e em colaboração com o Instituto Camões e com a Representação Permanente de Portugal, convidou quatro jovens artistas portugueses a apresentar a sua visão das deslocações e da imigração em Portugal. Através do seu olhar contemporâneo, esses artistas são igualmente testemunhas da diversidade e da evolução do seu meio e da sociedade portuguesa, tal como nos vários filmes portugueses que foram programados durante o período da exposição. Embora a imigração seja um fenómeno relativamente recente em Portugal, ele é uma das características das nossas sociedades europeias, culturalmente plurais e diversificadas. E é igualmente uma fonte de riqueza cultural que devemos aprender a aproveitar. O Comité Económico e Social Europeu considerou desde sempre a imigração como um intercâmbio e um contributo positivo para as nossas sociedades. Sou muito sensível às dificuldades de integração na vida quotidiana com que se vêem confrontados os descendentes de segunda e terceira geração dos imigrantes. Recordo que 2007 é o ano da igualdade de oportunidades para todos. Esta igualdade de oportunidades deve tornar-se uma realidade e todos os poderes públicos devem adoptar medidas de integração para esse fim. A eliminação da discriminação deve ser uma das prioridades das nossas instituições, e é indispensável que todos os poderes públicos – comunitários, nacionais, regionais e municipais – desenvolvam políticas em prol da integração. É também imprescindível, como o CESE sempre defendeu, incluir nessas políticas as diferentes organizações da sociedade civil: parceiros sociais, organizações de defesa dos direitos humanos, associações culturais e desportivas, comunidades religiosas, comités de bairro e meios de comunicação devem estar ao serviço da integração, abrir as suas portas e promover a participação dos imigrantes. Nos últimos anos houve já várias acções nesse sentido, e 2008, ano europeu do diálogo intercultural, será a ocasião de fazer um ponto da situação, mas sobretudo de reforçar a nossa acção neste domínio. Estes artistas, partilhando connosco a sua visão desta problemática actual, prestam igualmente o seu contributo. Para que as coisas evoluam na boa direcção.
Dimitris Dimitriadis Président du Comité Économique et Social Européen
En Europe, plus de 40 millions de personnes ont une culture, une langue, une religion ou une couleur de peau différente des individus de leur pays d’accueil du fait de leur statut d’immigrant. Qu’il s’agisse du départ, de l’accueil ou du transit, tous les pays sont aujourd’hui concernés, de près ou de loin, par ces phénomènes migratoires. C’est pourquoi, dans le cadre de sa série d’exposition whatNEXT?, le Comité économique et social européen, en collaboration avec l’Institut Camões et la Représentation permanente du Portugal, a invité quatre jeunes artistes portugais à présenter leur vision du déplacement et de l’immigration au Portugal. A travers leur regard très contemporain, ils témoignent ainsi de la diversité et de l’évolution de leur environnement et de la société portugaise, comme dans les différents films portugais programmés pendant l’exposition. Même si le phénomène d’immigration est encore relativement récent au Portugal, il est bel et bien devenu une des caractéristiques de nos sociétés européennes, culturellement plurielles et diversifiées. Et c’est pour nous tous une source d’enrichissement culturel dont nous devons savoir profiter. Le Comité économique et social européen a en effet toujours considéré l’immigration comme un échange et un apport positif pour nos sociétés. Je suis très sensible aux difficultés d’intégration dans la vie quotidienne auxquelles sont confrontés les descendants de la deuxième et troisième génération d’immigrés. Je rappelle que 2007 est l’année de l’égalité des chances pour tous. Il est nécessaire que cette égalité des chances soit transposée dans la réalité et que toutes les autorités publiques mettent en œuvre des politiques d’intégration pour y parvenir. L’élimination des discriminations doit être une des priorités de nos institutions et il est aujourd’hui indispensable que toutes les autorités publiques – européennes, nationales, régionales et municipales – mettent en œuvre des politiques en faveur de l’intégration. Il est également indispensable, comme l’a toujours prôné le CESE, d’inclure dans ces actions l’ensemble des organisations de la société civile: les partenaires sociaux, les organisations de défense des droits de l’homme, les associations culturelles et sportives, les communautés religieuses, les associations de quartier, les médias, doivent être à la pointe de l’intégration, ouvrir leurs portes et promouvoir la participation des immigrés. De nombreuses actions dans ce sens ont déjà été menées ces dernières années, et l’année 2008, année européenne du dialogue interculturel, sera l’occasion de dresser un état des lieux mais surtout de renforcer notre action dans ce domaine. Ces artistes, en nous offrant leur regard sur cette problématique actuelle, y participent eux aussi. Pour que les choses aillent dans la bonne direction.
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Simonetta Luz Afonso President of the Camões Institut
In the second half of 2007, during which Portugal held its third presidency of the Council of the European Union, the Camões Institut (Instituto Camões – IC) – an institution overseen by the Ministry of Foreign Affairs and whose purpose is to promote and disseminate Portuguese language and culture throughout the world – created a unique programme of activities in its specialist area, working together with a great number of organisations, both national and foreign, to present special events that would stamp their mark on this presidency. In Brussels, of course, our mark would have to be particularly clear and, from early July 2007 to February 2008, a host of activities have been planned to take place in a variety of cultural and artistic spheres, in different parts of the city and in different types of venue. In addition to showing the work of Portuguese creators and artists in festivals, museums and other standard exhibition spaces, it was deemed important also to promote exhibitions and other cultural activities, giving an artistic dimension to spaces traditionally used for political purposes (specifically in the EU Council, the European Parliament and the European Economic and Social Committee), thus giving them, albeit fleetingly, an artistic discourse “spoken” in Portuguese. When planning these events, therefore, we were particularly pleased to discover that the European Economic and Social Committee had already embarked on a cultural programme that included literary readings and contemporary art shows linked to film screenings which also showcase the contemporary creative scene in different European countries. We consequently set two young specialists in each of these areas the challenge of programming a themed series, linking an exhibition of young artists’ work with a week of recent documentaries from Portugal. This gave rise to the proposal of “Between Departures and Arrivals”, which takes a look at one of the most topical issues on the European agenda – Europe’s migratory phenomena – through the media of photography, video and film. The following are the Portuguese artists and creators who have taken on the unique task of guiding us through these departures and arrivals: André Cepeda, Edgar Martins, José Carlos Teixeira, Tatiana Macedo and the directors José Vieira, Sérgio Tréfaut, Christine Reeh, Inês Gonçalves and Vasco Pimentel, the Red Bull Music Academy and Nicolas Fonseca, supported by the curator Lúcia Marques and the programming director Nuno Sena. I would like to thank everyone who has helped to make this project a reality and a success: they include public and private institutions, artists and creators, the event organisers, the specialists from the Instituto Camões, Portugal’s Permanent Representation to the European Union and the European Economic and Social Committee, and in particular Antonia Kuehnel. I also wish to express the hope that we have all played a part in finding new and more diverse audiences and supporters for our contemporary heritage and that we have contributed to the crucial debate on the phenomena that are a feature of life today.
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Simonetta Luz Afonso Presidente do Instituto Camões
No segundo semestre de 2007, em que Portugal presidiu, pela terceira vez, ao Conselho da União Europeia, o Instituto Camões (IC) – instituição tutelada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e que tem por missão a promoção e a difusão da língua e da cultura portuguesas no mundo – desenvolveu um programa específico de actividades na sua área de actuação, colaborando igualmente com inúmeras entidades nacionais e estrangeiras na realização de acções especiais que distinguiram este período com a sua marca. Naturalmente, em Bruxelas, o nosso cunho teria que ser especialmente nítido e, desde o início do mês de Julho de 2007 a Fevereiro de 2008, programaram-se inúmeras actividades em múltiplas áreas culturais e artísticas, em igual número de territórios e equipamentos da cidade. A par da presença de criadores e artistas portugueses nalguns Festivais, Museus e outros espaços expositivos de referência, julgouse importante promover ainda exposições e outras tantas actividades culturais, marcando de forma artística os espaços tradicionalmente entregues à política (nomeadamente nos Conselho e Parlamento Europeus e no Comité Económico e Social Europeu), acrescentandolhes, assim, ainda que transitoriamente, um discurso artístico “falado” em português. Foi, pois, com especial satisfação que, aquando da programação daquelas actividades, constatámos que o Comité Económico e Social Europeu tinha já inaugurado um programa cultural que incluía, a par de sessões literárias, mostras de arte contemporânea articuladas com sessões de cinema igualmente representativas do panorama criativo e mais actual dos diferentes países europeus. Assim, lançámos a dois jovens especialistas de cada uma destas áreas o desafio de programar um ciclo temático que conjugasse uma exposição de jovens artistas com uma semana de filmes contemporâneos recentemente produzidos a partir de Portugal. E daqui surgiu a proposta “Entre Partidas e Chegadas”, reflectindo sobre um dos temas mais pertinentes da agenda europeia – os fenómenos migratórios europeus - através de práticas artísticas que usam a fotografia, o vídeo ou o filme. André Cepeda, Edgar Martins, José Carlos Teixeira, Tatiana Macedo e ainda os realizadores José Vieira, Sérgio Tréfaut, Christine Reeh, Inês Gonçalves e Vasco Pimentel, a Red Bull Music Academy e Nicolas Fonseca, coadjuvados pela curadora Lúcia Marques e pelo programador Nuno Sena, foram os artistas e criadores portugueses que tiveram a seu cargo a singular tarefa de nos guiar entre aquelas partidas e chegadas. A todos os que contribuíram para a concretização e sucesso deste projecto – instituições públicas e privadas, artistas e criadores, comissários, técnicos do IC, da Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia e do Comité Económico e Social Europeu, e muito particularmente a Antonia Kuehnel, o meu agradecimento e votos que possamos, todos, ter contribuído para novos e mais diversos públicos e apreciadores do nosso património contemporâneo e para a discussão, necessária e fundamental, sobre os fenómenos que marcam o nosso presente.
Simonetta Luz Afonso Présidente de l’Institut Camões
Au second semestre de l’année 2007, quand le Portugal a pris pour la troisième fois la présidence du Conseil de l’Union Européenne, l’Institut Camões (Instituto Camões - IC) – institution placée sous la tutelle du ministère des affaires étrangères et qui a pour mission la promotion et la diffusion de la langue et de la culture portugaise dans le monde – a développé un programme spécifique d’activités, en collaboration avec de nombreuses entités nationales et étrangères pour la réalisation d’actions qui ont marqué cette période de son empreinte. Naturellement, notre présence devait être particulièrement visible à Bruxelles et du début du mois de juillet 2007 jusqu’au mois de février 2008, d’innombrables activités ont été programmées dans de multiples domaines culturels et artistiques, dans des endroits tous aussi nombreux et divers de la ville. Outre la présence de créateurs et d’artistes portugais dans quelques festivals, musées et autres espaces d’exposition de référence, on a estimé qu’il importait de promouvoir aussi des expositions et d’autres activités culturelles, en marquant d’une empreinte artistique des espaces traditionnellement consacrés à la politique (le Conseil Européen, le Parlement Européen et le Comité économique et social européen, notamment) leur ajoutant ainsi, bien que de manière transitoire, un discours artistique «parlé» en portugais. C’est par conséquent avec une satisfaction particulière que nous avons constaté, lors de la programmation de ces activités que le Comité économique et social européen avait déjà inauguré un programme culturel qui incluait, outre des sessions littéraires, des expositions d’art contemporain combinées avec des séances de cinéma, également représentatives de la création actuelle des différents pays européens. Ainsi avons-nous lancé à deux jeunes spécialistes de chacun de ces deux domaines le défi de programmer un cycle thématique qui conjugue une exposition de jeunes artistes et une semaine de films contemporains portugais, récemment produits au Portugal. C’est ainsi qu’est né le projet: “Entre Départs et Arrivées”, réflexion sur l’un des thèmes les plus importants de l’agenda européen – les phénomènes migratoires européens – menée à travers des pratiques artistiques qui utilisent la photographie, la vidéo ou le film. André Cepeda, Edgar Martins, José Carlos Teixeira, Tatiana Macedo, ainsi que les réalisateurs José Vieira, Sérgio Tréfaut, Christine Reeh, Inês Gonçalves et Vasco Pimentel, la Red Bull Music Academy et Nicolas Fonseca, avec l’aide de la curatrice Lúcia Marques et du programmateur Nuno Sena, étaient les artistes et créateurs portugaises à qui a été confiée la tâche singulière de nous guider entre ces départs et ces arrivées. Je remercie tous ceux qui ont contribué à la concrétisation et au succès de ce projet – institutions publiques et privées, artistes et créateurs, commissaires, personnel de l’IC, de la Représentation Permanente du Portugal auprès de l’UE et du Comité économique et social européen, au sein duquel, Mme Antonia Kuehnel tout particulièrement. J’espère qu’ainsi nous avons contribué à ce que des publics nouveaux et diversifiés apprécient notre patrimoine contemporain, et que nous avons également contribué au débat, nécessaire et fondamental, sur les phénomènes qui marquent notre présent.
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Marie Zvolska
EESC Member and Member of the EESC’s Cultural Advisory Committee
MIGRATORY PHENOMENA IN EUROPE: EESC’s vision Marie Zvolska
Membro do CESE e membro do Comité Consultivo para a Cultura
FENÓMENOS MIGRATÓRIOS NA EUROPA: a visão do CESE Marie Zvolska
Membre du CESE et membre du Comité Consultatif pour la Culture
PHÉNOMÈNES MIGRATOIRES EN EUROPE: la vision du CESE
Migration is considered to be one of the main issues facing the world today. It is as old as mankind itself; people have been moving in search of better places to live for their families and their loved ones since the dawn of time. The number of migrants has risen visibly in recent decades and there has been an increase in the number of countries people are emigrating from, the number of destination countries as well as the number of countries that are countries of both origin and destination. According to current estimates, over 200 million people move in search of work and a better life each year, at least 30-40 million of them illegally. The United States of America that we know today arose out of migration and migration continues to change its face. Migration is a phenomenon that is helping to shape the history of mankind. Some 18 million citizens of third countries currently live in the European Union’s (EU) Member States. According to various estimates, the number of illegal immigrants lies somewhere between 4.5 and 8 million. The press publishes on an almost daily basis articles about the plight of those who decide to leave their homes for a life elsewhere. The EU is working on a common immigration policy; yet, given that not all countries are affected by the impact of illegal immigration to the same extent, it is difficult to impose the same obligations on all. There is, however, a need to establish certain common rules at European level. Naturally, one of the main instruments in the fight against illegal immigration is a policy supporting legal immigration, a policy of managed migration. Such a policy can help both individuals and society as a whole. The benefits of migration for host countries are beyond doubt. Europe is no longer able to meet the needs of its economy with its own sources of local labour. Migration has made it possible to plug the gaps that have arisen on the labour market as a result of demographic change and the EU’s increasing economic growth. These shortages are to be found not only within
As migrações são consideradas actualmente um dos grandes temas do séc. XXI. Este fenómeno remonta às origens da humanidade. Com efeito, as pessoas buscaram sempre para si e para os seus familiares e pessoas próximas um lugar onde a vida fosse melhor. Nas últimas décadas, cresceu consideravelmente o número de migrantes. O número de países de emigração aumentou, assim como o de países de imigração, sendo certo que cada vez mais países acumulam as duas características. Segundo as estimativas, mais de 200 milhões de pessoas emigram anualmente por razões profissionais ou em busca de uma vida melhor, dos quais pelo menos 30 a 40 milhões de ilegalmente. Os Estados Unidos da América, como hoje os conhecemos, é o fruto desta imigração que ainda hoje os modela. As migrações são, pois, um fenómeno que influencia o curso da história da humanidade. Cerca de 18 milhões de cidadãos originários de países terceiros vivem no território da União Europeia (UE). O número de migrantes ilegais oscila, segundo as fontes, entre 4,5 e 8 milhões. A imprensa relata, quase diariamente, a história de pessoas que decidiram abandonar o seu país para viverem em outras paragens. A UE instaurou uma política comum de imigração. No entanto, dado que os países não estão todos expostos às mesmas pressões decorrentes dos fluxos migratórios ilegais, é difícil fixar as mesmas obrigações para todos. Convém, todavia, definir um patamar de regras comuns no plano europeu. Seja como for, um dos principais instrumentos de luta contra a imigração clandestina consiste em adoptar uma política de gestão das migrações que favoreça a imigração legal, que pode ajudar tanto a pessoa como a sociedade no seu todo. Dúvidas não há de que as migrações são uma riqueza para os países de acolhimento. A Europa, com efeito, não logra satisfazer as necessidades da sua economia mediante o estrito recurso à mão-de-obra autóctone. A imigração permitiu suprir as disparidades que a demografia e o dinamismo da economia europeia fizeram
Les migrations sont à l’heure actuelle considérées comme l’un des grands thèmes du 21e siècle. Le phénomène remonte aux origines de l’humanité. En effet, les gens ont toujours essayé de trouver pour eux, ainsi que pour leurs familles et proches, une place qui améliorerait leur qualité de vie. Au cours des dernières décennies, le nombre des migrants s’est considérablement accru. Par ailleurs, le nombre des pays d’émigration a augmenté tout comme celui des pays d’immigration, tandis que de plus en plus de pays cumulent les deux caractéristiques. Selon les estimations, plus de 200 millions de personnes émigrent chaque année pour des raisons professionnelles ou en quête d’une vie meilleure, dont au moins 30 à 40 millions de manière illégale. L’Amérique, telle que nous la connaissons aujourd’hui, est le fruit de cette immigration qui continue encore de la façonner. Les migrations sont donc un phénomène qui influence le cours de l’histoire de l’humanité. Actuellement, près de 18 millions de citoyens originaires de pays tiers vivent sur le territoire de l’Union européenne (UE). Le nombre de migrants illégaux oscille, selon les sources, entre 4,5 et 8 millions. La presse relate presque quotidiennement l’histoire de personnes qui ont choisi de quitter leur pays pour vivre ailleurs. L’UE a mis en place une politique commune en matière d’immigration. Cependant, étant donné que les pays ne sont pas tous exposés aux mêmes pressions induites par les flux migratoires illégaux, il est difficile de fixer les mêmes obligations pour tous. Il convient néanmoins de définir un socle de règles communes au niveau européen. Quoi qu’il en soit, l’un des principaux instruments de lutte contre l’immigration clandestine consiste à mettre en œuvre une politique de gestion des migrations favorisant l’immigration légale. Celle-ci peut aider aussi bien l’individu que la société dans son ensemble. Il ne fait aucun doute que les migrations constituent une richesse pour les pays d’accueil. L’Europe n’est en effet plus en mesure de satisfaire aux besoins de son économie par le recours à sa
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professions requiring specialist qualifications or training – immigrants are filling positions that require no qualifications whatsoever and for which it has been impossible to recruit local workers. Their impact on the economy’s development and the creation of jobs is beyond question. Emigration enables developing countries to tackle their own unemployment difficulties, as the unemployed leave for other countries in search of job opportunities. In addition, by providing their own families with financial support, those who emigrate also help combat poverty in their countries of origin. One negative aspect of this phenomenon, however, is the exodus of educated and highly skilled workers from these countries. Migration is a very complex phenomenon, encompassing many different aspects: labour migration, uniting of families, migrants’ rights, migration and trade, health and migration, integration, migration and development … These in turn involve a whole series of further issues – protection of human rights, rights of children and young people, and minority rights, as well as issues such as the multicultural environment, how to combat racism and xenophobia, the security risks, the fight against organised crime, issues surrounding asylum systems, and assessing the impact of migration on society and the labour market. In a number of its opinions, the European Economic and Social Committee (EESC) has tackled migration issues: managed and unmanaged migration, legal and illegal migration, questions surrounding health and migration, migrant workers and social security, as well as the issue of cooperation between local and regional authorities and civil society organisations in the integration process. A fundamental part of this process is work, but it is not always easy to find an appropriate job, especially while ensuring equal treatment. But the forging of links in the local area, schools, through sports and cultural activities, and through everyday contacts within
surgir no mercado de trabalho, designadamente em sectores que requerem elevado nível de qualificação. Os migrantes ocupam também postos de trabalho não qualificados que é impossível prover com mão-de-obra local, tendo um inegável efeito estimulante no crescimento económico e na criação de emprego. Graças à emigração, os países em desenvolvimento vêem baixar a taxa de desemprego, dado que os desempregados partem para o estrangeiro, esperando ali encontrar trabalho. Sucede, ainda, que graças à remessa de fundos para as famílias, estes contribuem para o recuo da pobreza. A contrapartida negativa sofrida por estes países é, no entanto, a saída de pessoas com formação e elevadas qualificações. As migrações são um fenómeno extremamente complexo com múltiplas dimensões – migração económica, reagrupamento familiar, direitos dos migrantes, migração e comércio, migração e saúde, integração, migração e desenvolvimento. Esse fenómeno está estreitamente ligado a outras questões como a protecção dos direitos do homem, das crianças, dos jovens ou das minorias, suscitando também questões de ambiente multicultural, de luta contra o racismo e a xenofobia, de ameaças à segurança, de luta contra as mafias, de sistemas de asilo ou, ainda, de avaliação das consequências dos fenómenos migratórios na sociedade ou no mercado do trabalho. O Comité Económico e Social Europeu (CESE) consagrou vários pareceres aos temas das migrações: regulares ou irregulares, legais ou ilegais, sobre questões em torno da saúde e das migrações, dos trabalhadores migrantes e da segurança social, assim como sobre a cooperação das instâncias territoriais com as organizações da sociedade civil no quadro do processo de integração. O trabalho é um elemento chave deste processo, sendo por vezes difícil aos migrantes obterem um emprego adequado e verem respeitado o princípio da igualdade de tratamento. É também essencial que se integrem
seule main-d’œuvre autochtone. L’immigration a permis de combler les disparités qu’ont fait apparaître sur le marché du travail l’évolution démographique et le dynamisme de l’économie européenne, et notamment en ce qui concerne certains secteurs nécessitant un haut niveau de qualification. Les migrants occupent également des postes non qualifiés qu’il est impossible de pourvoir par la main-d’œuvre locale et ils ont un effet stimulant indéniable sur la croissance économique et la création d’emplois. Grâce à l’émigration, les pays en développement voient leur taux de chômage baisser, car les personnes sans emploi partent à l’étranger, espérant y trouver un travail. Par ailleurs, grâce aux transferts de fonds vers leurs familles, ils contribuent à faire reculer la pauvreté. La contrepartie négative subie par ces pays est toutefois le départ des personnes éduquées et disposant des plus hautes qualifications. Les migrations constituent un phénomène extrêmement complexe aux multiples dimensions – migration économique, regroupement familial, droits des migrants, migration et commerce, migration et santé, intégration, migration et développement. Il est étroitement lié à toute une série d’autres questions telles que la défense des droits de l’homme, des enfants, des jeunes ou des minorités, mais soulève également des questions ayant trait à l’environnement multiculturel, à la lutte contre le racisme et la xénophobie, aux menaces sur la sécurité, à la lutte contre les mafias, aux systèmes d’asile ou encore à l’évaluation des conséquences des phénomènes migratoires sur la société ou sur le marché du travail. Le Comité économique et social européen(CESE) a consacré plusieurs de ses avis au thème des migrations, qu’elles soient régulières ou irrégulières, légales ou illégales, de la santé et des migrations, de la couverture sociale des migrants ou de la coopération des instances territoriales avec les organisations de la société civile dans le cadre du processus d’intégration. Le travail constitue un élément clef de ce processus, mais
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society, are also of key importance. Each country has its own methods, but the EESC itself could provide a permanent forum for dialogue on tried and tested approaches in the area of migration and immigration. We are aware that migration is changing the face of Europe, and ensuring greater diversity. Integration involves focusing on both sides of the process, on migrants as well as on their host communities. Both sides should respect each other’s cultural values. Pluralist and democratic Europe is unique precisely because of its cultural diversity. And people who come to Europe from third countries bring with them new elements to our culture, and are constantly enriching it in the process.
no local de residência, na escola, nas actividades desportivas e culturais, e que promovam contactos quotidianos com a sociedade. Recorrendo os países a métodos diferentes, o CESE poderia ser um lugar de diálogo permanente na área das melhores práticas de integração e de imigração. Estamos conscientes de que também a Europa muda de aspecto por influência da imigração, ganhando em diversidade. Com efeito, a integração mobiliza ambas as partes no processo, tanto migrantes como sociedade de acolhimento, ambas devendo respeitar mutuamente os seus valores culturais. Uma Europa plural e democrática distingue-se pela sua diversidade cultural. Os migrantes originários de países terceiros trazem novos elementos à nossa cultura, enriquecendo-a permanentemente nesse processo.
il est parfois difficile pour les migrants de trouver un emploi adéquat et de voir respecter le principe d’égalité de traitement. Il est également essentiel qu’ils s’intègrent sur leur lieu de résidence, à l’école, dans les activités sportives et culturelles et qu’ils développent des contacts quotidiens avec la société. Chaque pays ayant recours à des méthodes différentes, le CESE pourrait devenir un lieu de dialogue permanent en matière de meilleures pratiques dans le domaine de l’intégration et de l’immigration. Nous sommes conscients que l’Europe aussi change de visage sous l’influence de l’immigration; elle gagne en diversité. En effet, l’intégration mobilise les deux parties du processus, tant les migrants que la société d’accueil. Toutes deux devraient mutuellement respecter leurs valeurs culturelles. Une Europe plurielle et démocratique se distingue par sa diversité culturelle. Les migrants originaires de pays tiers apportent des éléments nouveaux à notre culture et, ce faisant, ne cessent de l’enrichir.
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Vitus H. Weh Curator based in Vienna
EUROPE, PHOTOGRAPHY AND WORLD EXHIBITIONS Vitus H. Weh Curador baseado em Viena
EUROPA, FOTOGRAFIA E EXPOSIÇÕES UNIVERSAIS Vitus H. Weh Commissaire à Vienne
EUROPE, PHOTOGRAPHIE ET EXPOSITIONS UNIVERSELLES
“My similarity with all my surroundings disfigures me. “ Walter Benjamin World exhibitions are a European invention. When the first world exhibition opened its doors in London in 1851, the organisers feared that rampaging demonstrators might invade the exhibition. The year 1851 was only three years after the revolutions which took place in continental Europe in 1848, and demonstrations and assassination attempts were also on the agenda in the British Isles, too. But nothing of this sort happened; even workers, for whom the goods on display at the exhibition were way beyond their price range, walked through the halls in a disciplined and respectful way. The market place represented by the world exhibition was clearly able (as were the large department stores which were to come later), readily and instantaneously, to replace the social identity based on class by a new identity which is based on consumerism and which appeared to place everyone on an equal footing. The world exhibition presented the public, as consumers, with an apparently limitless variety of products from all over the world, thereby giving people a feeling that they were participating in the processes of colonisation and technological progress. Having enough money to purchase the goods on display was absolutely not necessary. It was enough simply to look at the goods and to be physically near to them. The crowds of people who pressed their way through the exhibitions held in London, Paris, Vienna and Antwerp came from different social circles and different language. But when they entered the Crystal Palace in London in 1851, the Prater-Rotunde in Vienna in 1873 or the Pavilions of the Champ de Mars in Paris in 1867, 1878, 1889 and 1900, they all took on a similar appearance as they passed in front of the showcases. They all assumed a common European civil identity. The world exhibitions therefore not only “standardised” imperialism, they also introduced a supra-national order over
“A minha semelhança com tudo o que me rodeia desfigura-me.” Walter Benjamin
“Je suis déformé par la similitude avec tout ce qui m’entoure.” Walter Benjamin
As exposições universais são uma invenção europeia. Quando a primeira abriu as suas portas em 1851, em Londres, os seus organizadores chegaram a recear que manifestantes desordeiros pudessem forçar a entrada na exposição. Em 1851, escassos três anos após a revolução de 1848 na Europa Continental, também em Inglaterra as manifestações e as tentativas de atentado estavam na ordem do dia. Mas afinal nada disso se verificou. Pelo contrário, os trabalhadores que não se podiam dar ao luxo de comprar os artigos expostos visitavam os pavilhões com disciplina e respeito. Enquanto espaço mercantil, a exposição universal (como, mais tarde, também os grandes armazéns) parece ter conseguido substituir com facilidade, e quase instantaneamente, a identidade social da classe social por uma nova, ou seja, por uma identidade que se orientava para o consumo e que parecia tornar todos iguais. A exposição universal apresentava ao público consumidor uma diversidade aparentemente infindável de produtos globais, transmitindo‑lhes o sentimento de que participavam na colonização e no progresso tecnológico. Não era sequer necessário ter dinheiro para adquirir os produtos. Bastava vê‑los e estar perto deles. As pessoas que nos primeiros anos acorriam em massa às exposições em Londres, Paris, Viena e Antuérpia eram oriundas de diferentes estratos sociais e, naturalmente, também de diferentes regiões linguísticas. Contudo, ao entrarem no Palácio de Cristal em Londres (1851), na Rotunda do Prater em Viena (1873) ou nos pavilhões dos Champ de Mars em Paris (1867, 1878, 1889, 1900) tornavam‑se todas iguais em frente dos expositores, mesclando‑se numa identidade comum europeia e burguesa. As exposições universais “nivelavam”, portanto, o imperialismo. Mas elas estabeleciam igualmente uma ordem supranacional cujo manto se estendia muito para além das nações emergentes. A sua classificação geográfica permitia‑lhes transformar
Les expositions universelles sont une invention européenne. Lorsque la première ouvrit ses portes en 1851 à Londres, les organisateurs craignaient encore que des manifestants puissent s’introduire massivement dans l’exposition et commettre des dégradations. En 1851, les révolutions de 1848 sur le continent ne remontaient qu’à trois ans et des manifestations et tentatives d’attentat étaient également à l’ordre du jour sur l’île. Mais rien n’arriva; même les ouvriers qui ne pouvaient s’offrir les marchandises exposées se montrèrent disciplinés et respectueux en parcourant les salles. La place du commerce que représentait l’exposition universelle (comme plus tard, à leur tour, les grands magasins) pouvait manifestement remplacer sans problème et instantanément l’identité sociale de classe par une nouvelle identité bâtie sur la consommation et qui semblait mettre tout le monde à égalité. L’exposition universelle présentait au public une diversité apparemment illimitée de produits internationaux, qui leur donnait le sentiment de participer à la colonisation et au progrès technologique. Pour cela, avoir les moyens financiers d’acquérir les objets en question n’était aucunement nécessaire. Les voir et les approcher suffisaient en soi. Les masses qui se bousculèrent dans les foires de Londres, Paris, Vienne et Anvers pendant les premières années étaient originaires de milieux sociaux différents et bien sûr également de zones linguistiques diverses; mais dès qu’ils pénétraient dans le Palais de Cristal de Londres (1851), dans la Rotonde du Prater de Vienne (1873) ou dans les pavillons du Champ de Mars à Paris (1867, 1878, 1889, 1900), ils devenaient tous égaux face aux vitrines de l’exposition: ils étaient détenteurs d’une identité civile européenne commune. Les expositions universelles n’ont donc pas seulement “normalisé” l’impérialisme, elles installèrent également un ordre supranational sur des nations tout juste émergentes. Leur agencement dans l’espace faisait de la diversité des cultures
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and above that of the recently emerged nation states. Because of the scale of their operations, the world exhibitions created one harmonious entity from a multitude of cultures and even provided the visitors to these exhibitions with a tangible “awareness”. Looking down from the top of the Rotunde in Vienna or from the top of the Eiffel Tower, people gained an understanding of the new world in which they were living and the new era in which industrialisation had been developing since 1780. It was a period in which the political revolutions of 1789 and 1848 had radically changed the social strata and a time in which railways were both linking the countries of central Europe and quickening the pace of life in those countries. Above all the world exhibitions were transforming Europeans into consumers. Whilst it was clear from looking at the map that the world was divided into nation states, looking down from the advantage points above the world exhibitions presented a different picture: the world was arranged like the pavilions at the exhibitions and formed a single comprehensible entity. Today, the classical world exhibitions are no longer as important as they used to be. The unbelievable novelty and symbolic power of world exhibitions – ideal vehicles for the peaceful transformation of the world into a capitalist arena - would be barely comprehensible today. A universal “common awareness” is now taking shape rather by exposure to the media. Exhibitions, especially fine art exhibitions, have however experienced an amazing renaissance in recent decades. In the field of culture, fine art has even taken on a kind of leadership role (not to be confused with a “leading culture”). The public is visiting museums and art galleries in ever increasing numbers. There has been an exorbitant increase in prices paid for individual works of arts at auctions. The building which was from 1875, the year of opening of Garnier’s Paris Opera House, the theatre or opera building has now become an art museum, i.e. at one and the same time a leading cultural entity and an object
uma multitude de culturas numa unicidade harmoniosa e, inclusivamente, dar aos visitantes uma “consciência” tangível: quem estivesse no topo da cúpula da Rotunda em Viena ou da Torre Eiffel em Paris, e olhasse em redor, compreendia o novo mundo, os novos tempos, em que já desde 1780 a industrialização se fazia sentir, um tempo em que as revoluções políticas de 1789 e 1848 levavam a uma reconfiguração dos estratos sociais, em que os caminhos‑de‑ferro ligavam e imprimiam velocidade à Europa Central e em que as exposições universais, acima de tudo, declaravam os Europeus consumidores. Esse olhar panorâmico mostrava nitidamente que o todo estava dividido em nações — mas o mundo visto do cume, ordenado como os pavilhões que se viam lá em baixo, também era compreendido assim. As exposições universais na sua forma tradicional têm vindo a perder a importância que tinham. Hoje em dia, praticamente ninguém vê nelas eventos carregados de novidade e de simbolismo, essas “máquinas de desejos” do avanço pacífico do capitalismo no mundo. Actualmente, a “consciência comum” universal forma‑se sobretudo através do consumo dos media. Todavia, nos últimos anos tem‑se assistido a um surpreendente renascimento das exposições – principalmente as exposições de artes plásticas. No campo cultural, as artes plásticas passaram inclusivamente a assumir uma espécie de função dominante (que não deve ser confundida com “cultura dominante”). Há cada vez mais pessoas a visitar museus, galerias e centros de arte. Nos leilões, os preços de algumas obras cresceram exorbitantemente. O museu de arte representa hoje aquilo que a partir de 1875 – ano da inauguração da Ópera de Paris, construída por Garnier – o edifício do teatro ou da ópera representava: simultaneamente objecto de prestígio cultural e comunal. Por toda a parte na Europa, têm surgido novos centros de exposições e complexos museológicos, muitos deles de enormes dimensões e espectaculares do ponto de vista arquitectónico. É um fenómeno que se
une unité harmonieuse et conférait même aux visiteurs une “conscience” concrète: lorsqu’on regardait l’exposition du sommet de la Rotonde à Vienne ou de la Tour Eiffel à Paris, on comprenait le nouveau contexte, la nouvelle époque dans laquelle l’industrialisation baignait depuis 1780 déjà, une époque où les révolutions politiques de 1789 et 1848 chamboulèrent les couches sociales, où le chemin de fer sillonna l’Europe centrale et y accéléra les mouvements et où les expositions universelles firent des Européens principalement des consommateurs. La vue d’ensemble montrait clairement que le grand tout était divisé en nations; mais de là-haut, le monde, ordonné comme les pavillons, était également un monde qu’il était possible d’appréhender. Aujourd’hui, les expositions universelles classiques ne sont plus aussi importantes qu’autrefois. L’incroyable nouveauté et force symbolique des expositions universelles, de ces “machines à exaucer les souhaits” de la marchandisation pacifique du monde, est difficilement compréhensible de nos jours où une “conscience commune” universelle naît plutôt de la consommation que nous faisons des médias. Les expositions, principalement celles consacrées aux arts plastiques, connaissent toutefois une renaissance étonnante ces dernières décennies. Au sein du champ culturel, les arts plastiques exercent même désormais une sorte de fonction phare (qu’il ne faut pas confondre avec la fonction de “culture dominante”). Le public afflue de plus en plus dans les musées et les galeries d’art. Le prix des œuvres d’art vendues aux enchères a augmenté de manière exorbitante. La fonction assumée par le bâtiment d’un théâtre ou d’un opéra à partir de 1875, l’année de l’inauguration de l’Opéra Garnier à Paris, est dorénavant assurée par le musée d’art: c’est à la fois un objet culturel de référence et un objet de prestige pour la ville. Récemment, de nouveaux bâtiments et quartiers destinés aux musées et expositions, dont beaucoup sont de très grande taille et présentent une architecture spectaculaire, ont vu le jour partout en Europe. Il s’agit d’un boom qu’il y a
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C.f. the commercially extremely successful tours organised by Irish, African, Japanese, Russian, etc. dance and percussion groups.
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Pense‑se nas digressões de grupos de dança e percussão irlandeses, africanos, japoneses, russos, etc. e no sucesso que têm tido.
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Cf. les tournées de troupes de danse et de formations de percussion irlandaises, africaines, japonaises, russes etc. qui remportent un très grand succès commercial.
of municipal prestige. New exhibition buildings and museum quarters have recently been created everywhere in Europe; many of these buildings are very large and have spectacular architectural features. We are experiencing a boom which would have been unthinkable 60 years ago. The transformation of fine art into a cultural “reserve currency” is bound up with, on the one hand, its claim to universal relevance – the fact that most of the new buildings bear a resemblance to churches is not by accident – and, on the other hand, with the simple accessibility of their works. The sheer visual and simply physical nature of the works render any language barriers insignificant. The works of artists such as Monet, Cezanne and Goya have long been circulating throughout the world - like well-known branded goods - by means of special exhibitions. The internationally agreed code of good behaviour for visitors to art museums has turned out to be a major advantage, particularly in the tourist context. The appearance of being readily accessible applies particularly in the case of the medium of photography. Whilst media such as painting, graphic arts or sculptures, because of the emphasis placed on style, reflect, above all, the individuality of the exponents concerned, i.e. the respective artist, photography, for its part, is more of the nature of a reporting exercise, mirroring world events. Photographs portray views of the world which may also be shared with others. It is little wonder, therefore, that photography – like dance* has now become a “lingua franca” of our “globalised” world. Photography is helping us not only to exchange views and perspectives but also to compare, on a world-wide level, attitudes, gestures and styles. An example from contemporary Japan may serve to illustrate this point. In Japan, it is possible to find separate street magazines dealing with the street culture of almost every city in the world. These magazines consist almost exclusively of photographs taken by travelling freelance photographers. These sub-cultural trends subsequently find their way
tornou comum e que há sessenta anos ninguém imaginava que fosse acontecer. A elevação das artes plásticas a principal moeda cultural tem a ver, por um lado, com a sua pretensão de possuírem uma relevância universal – não é por acaso que os novos edifícios se assemelham, na maior parte dos casos, a igrejas – e, por outro lado, com a simples acessibilidade às suas obras. Eventuais barreiras linguísticas são simplesmente transpostas através da sua visualidade ou materialidade. As obras de Monet, Cézanne, Goya e outros artistas circulam pelo mundo em exposições itinerantes – como se de produtos de marca conhecidos se tratasse –, e, sobretudo num contexto turístico, o código de conduta internacionalmente convencionado num museu de arte revela‑se uma grande vantagem. O aspecto da facilidade de acessibilidade é especialmente válido para a fotografia. Enquanto que a pintura, as artes gráficas e a escultura, através dos seus estilismos, remetem sobretudo para a individualidade dos seus criadores, ou seja, para a pessoa do artista, a fotografia faz mais um retrato do mundo real, em estilo de reportagem. As fotografias sugerem sempre “visões do mundo” também partilhadas pelos outros. Portanto, não é de admirar que a fotografia – tal como a dança* – se tenha tornado numa “língua franca” do mundo globalizado. Hoje em dia, através da fotografia são não só permutadas visões e perspectivas, como são nivelados, à escala planetária, gestos, atitudes e estilos. Um exemplo ilustrativo é o do Japão actual. No Japão, circulam revistas sobre quase todas as cidades do mundo, as chamadas “revistas de rua” (street magazines), que pretendem dar a conhecer a “cultura de rua” (street culture) local. Compõem‑se quase exclusivamente de fotografias tiradas por pessoas (os scouts) que andam pelas ruas. Posteriormente, estas tendências das subculturas são aproveitadas para colecções de moda. Mas o que aqui interessa não é só a roupa. Para um sem‑número de revistas, são produzidas fotografias e criados layouts e encenações
encore 60 ans, personne n’aurait pu pressentir. La promotion des arts plastiques au rang d’étalon culturel de référence s’explique d’une part par leur ambition à posséder une signification universelle – ce n’est pas un hasard si les nouveaux bâtiments ressemblent le plus souvent à des églises – et, d’autre part, par le fait que leurs œuvres sont d’un accès facile. Leur caractère visuel et physique annule tout simplement les éventuelles barrières linguistiques; les œuvres de Monet, Cézanne, Goya, etc. voyagent depuis longtemps à travers le monde dans le cadre d’expositions, à l’image de produits de marque familiers, et le code de conduite qui régit la manière de se comporter dans un musée d’art, le même dans le monde entier, s’est révélé un grand avantage, en particulier dans le contexte touristique. L’impression selon laquelle l’accès aux arts plastiques est aisé vaut particulièrement pour la photographie. Tandis que des supports comme la peinture, les arts graphiques et la sculpture renvoient surtout, par leur style marqué, à l’individualité de leurs utilisateurs, c’est-à-dire à celle des artistes, la photographie représente beaucoup plus un reflet du monde rapporté sous forme de reportage. Les photographies suggèrent toujours des “visions du monde” que l’on peut partager avec d’autres. Il n’est donc pas étonnant que la photographie, tout comme la danse*, soit devenue aujourd’hui une «lingua franca» du monde globalisé. Par l’intermédiaire de la photographie, on n’échange dorénavant plus seulement des points de vue et des perspectives, on rapproche également des attitudes, des gestes et des styles dans le monde entier. Un exemple en provenance du Japon contemporain peut illustrer ce phénomène. Au Japon, il y a pour presque chaque ville du monde des magazines qui informent sur la culture de la rue («street culture») de la ville en question. Ces revues sont composées presque uniquement de photographies prises par des découvreurs qui voyagent à travers le monde. Ces tendances de la subculture sont ensuite reprises par les collections
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into fashion collections. But clothing is not the only field concerned. For all of these multitude of magazines, photographs are taken and special productions and layouts are drawn up. To put it succinctly, attitudes and characters are formulated as was the case with World Exhibitions. The other example which I would like to quote is a historical example. In 1955, the Museum of Modern Art (MoMA) in New York celebrated the 25th anniversary of its foundation. To mark that occasion, the Head of the Photograph Department of the MoMA, Edward J. Steichen, was to organise an exhibition. The resulting exhibition was entitled The Family of Man, an exhibition which more than matched the museum’s claim to be a universal institution. The subtitle of the exhibition – The greatest photographic exhibition of all time – 503 pictures from 68 countries appeared to encompass the whole world. Photographers from all over the world – both professional and amateur – were called upon to submit photographs for a competition. The theme was “scenes of everyday life” and both professionally-taken photographs and also “snapshots” were requested. The photographs should not look staged or posed but should rather be natural photographs. The programme behind this competition was, however, anything but random. The idea was to recount a universally-valid evolution story which culminated in portraits of contemporary families: “Photographs of lovers and marriage and childbearing, of the family unit with its joys, trials and tribulations, its deep-rooted devotions and its antagonisms. Photographs of the home in all its warmth and magnificence, its heartaches and its exaltations” (Edward Steichen in his introduction to the exhibition). Of the two million photographs which were submitted, 503 were selected, showing scenes from 68 countries. The exhibition was a great success, drawing 8 615 963 visitors in New York alone. The exhibition then went on a world tour. Today
especiais. Ou resumindo: são concebidas atitudes e individualidades, à semelhança do que se faz nas exposições universais. Vejamos agora um exemplo histórico: em 1955, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) comemorava o seu 25.º aniversário. Para celebrar esse evento, foi proposto ao director do departamento de fotografia do MoMA, Edward J. Steichen, que organizasse uma exposição. Assim surgiu The Family of Man (A Família do Homem), uma exposição que correspondia plenamente ao ideal de universalidade defendido pelo museu. O subtítulo prometia que a exposição abarcaria o mundo inteiro: A maior exposição fotográfica de todos os tempos — 503 fotografias de 68 países. Lançou‑se um concurso e todos os fotógrafos do mundo, profissionais e amadores, foram convidados a enviarem as suas fotografias: solicitavam‑se fotografias de cenas quotidianas, de qualidade profissional, mas também fotografias instantâneas. Todas as fotografias deveriam ser naturais, sem artificialismos nem arranjos. Por detrás desta exposição, havia uma ideia bem definida: mostrar, em termos gerais, a história da evolução humana, que culmina na imagem da família actual. Edward Steichen di‑lo, na introdução, com estas palavras: “Photographs of lovers and marriage and child‑bearing, of the family unit with its joys, trials and tribulations, its deep‑rooted devotions and its antagonisms. Photographs of the home in all its warmth and magnificence, its heartaches and its exaltations”. De entre os mais de dois milhões de fotografias enviadas foram seleccionadas 503 que mostram cenas de 68 países. A exposição foi um enorme sucesso e só em Nova Iorque foi visitada por 8 615 963 pessoas. Em seguida andou em digressão por todo o mundo. Actualmente, a exposição só existe em catálogo, mas na altura ela marcou de duas formas o modo de ver o mundo. A partir das fotografias e das respectivas legendas, a exposição construiu uma imagem homogénea do mundo, baseada na felicidade do indivíduo e
de mode. Mais cela ne vaut pas seulement pour les vêtements. Pour ces innombrables revues, on photographie, on crée des mises en scène et des mises en page spéciales, en bref: on conçoit des attitudes et des caractères comme lors des expositions universelles. L’autre exemple que j’aimerais donner est historique: En 1955, le musée d’art moderne de la ville de New York a fêté son 25e anniversaire. A cette occasion, Edward J. Steichen, le directeur du département de la photographie du MoMA, devait organiser une exposition. Il en résulta La Famille de l’Homme (The Family of Man), une exposition qui ne pouvait pas davantage correspondre à l’ambition universaliste du musée. Le sous-titre promettait d’embrasser du regard le monde entier: La plus grande exposition photographique de tous les temps: 503 photographies de 68 pays. Tous les photographes du monde, professionnels et amateurs, furent appelés à envoyer leurs photographies pour participer à un concours: elles devaient représenter des scènes de la vie quotidienne sous la forme de photographies professionnelles mais également d’instantanés. Rien ne devait avoir l’air arrangé ou pausé, il fallait des clichés tout à fait naturels. L’ambition du programme qui se trouvait derrière ce concours n’était pas n’importe laquelle: il fallait raconter une histoire de l’évolution universelle atteignant son apogée dans l’image de la famille contemporaine: «Des photographies d’amoureux, de mariages, de maternités, de l’unité familiale avec ses joies, ses épreuves, ses profonds attachements, et ses antagonismes. Des photographies du foyer dans toute sa chaleur et sa magnificence, ses chagrins et ses exaltations» (Edward Steichen dans son introduction). Sur plus de deux millions de photos envoyées, 503 photos de 68 pays passèrent le filtre de la sélection. L’exposition eut un grand succès. 8 615 963 personnes la visitèrent rien qu’à New York. Elle fit ensuite une tournée mondiale. L’exposition n’existe aujourd’hui plus que sur catalogue mais à l’époque, elle forgea et marqua à la fois une
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the exhibition lives on only in the form of a catalogue but whilst the exhibition was in existence, it reflected a view of the world in two senses. The photographs and the accompanying quotations conjured up a uniform picture of the world, based on the happiness of the individuals and contentment with his or her respective family structure. Democracy and humanism transform the whole of humanity into a single family: The Family of Man. In line with this concept, the concluding pages of the book show photographs of married couples from all over the world, photographs of the political representatives of the global family in the form of a plenary session of the United Nations and, lastly, there are two double pages adorned with innumerable photographs of children. The “black and white” aesthetic sense was in line with the contemporary standards of good, high taste. A remarkable feature of the exhibition was the fact that the photographs were all treated virtually equally, being interspersed with quotations from the Bible, the Bhagavad-Gita, James Joyce, Euripides (“And shall not loveliness be loved forever?”), Maoris and Pueblo Indians (“We shall be one person”), Navajo (“Before me peaceful, Behind me peaceful, Under me peaceful, Over me peaceful, All around me peaceful …”) and Sioux Indians (“With all beings and all things we shall be as relatives”). The selection of photographs could hardly be described as balanced. Of the scenes which they depicted, approximately 60% were scenes from the USA and even the pictures of other countries were in many cases photographed by American photographers (the overall selection of 503 photographs is the work of 273 photographers). A remarkably large number of the photographs were taken from magazines such as Life, Ladies’ Home Journal, Fortune, Black Star or were provided by photographic agencies, such as Magnum and AP. Although the derivation of the verses and quotations was designed to enhance the credibility of the message behind the exhibition, namely
na estrutura da família. Por efeito da democracia e do humanismo, toda a Humanidade é amalgamada numa única família: The Family of Man. Compreende‑se, assim, que o livro termine com fotografias de casais de todas as partes do mundo, com a representação política da “família universal” – uma assembleia geral das Nações Unidas –, e com quatro páginas inteiras de fotografias de crianças. A estética a preto e branco, típica daquela época, era de bom gosto e muito apreciada pelas classes altas. As fotografias eram quase todas tratadas da mesma forma e apresentavam citações da Bíblia e do Bhagavad‑Gita, de James Joyce e de Eurípides (“And shall not loveliness be loved forever?”), do povo Maori e dos índios Pueblo (“We shall be one person”), dos índios Navajo (“Before me peaceful, Behind me peaceful, Under me peaceful, Over me peaceful, All around me peaceful...”) e dos índios Sioux (“With all beings and all things we shall be as relatives”). A escolha não era equilibrada. Aproximadamente 60% das fotografias mostravam cenas dos EUA e mesmo as imagens dos outros países tinham sido, não raro, captadas pela objectiva de fotógrafos americanos (503 fotografias tiradas por 273 fotógrafos). Uma curiosidade interessante é que muitas das fotografias já tinham sido publicadas em revistas como Life, Ladies’ Home Journal, Fortune, Black Star ou pertenciam a agências como a Magnum e a AP. Enquanto que os vários versos e citações foram escolhidos para dar credibilidade à mensagem de “sabedoria original” que a exposição queria fazer passar, se fizermos hoje uma análise crítica das fotografias apercebemo‑nos de que as fotografias seleccionadas deixam nitidamente transparecer a crença numa hegemonia cultural dos EUA e da Europa Ocidental. A hegemonia funciona através da exclusão. A exposição não mostra o mundo visto pelos olhos dos asiáticos, dos africanos ou dos sul‑americanos. Apesar do simbolismo da democracia representativa ter estado sempre presente – tanto os espaços da exposição, desenhados por Paul Rudolph,
vision du monde. Par les photos et les textes qui les accompagnaient, l’exposition dressait une image unifiée du monde, fondée sur le bonheur de l’individu et de sa famille. La démocratie et l’humanisme permettent à toute l’humanité de se fondre dans une famille unique: La Famille de l’Homme. Le catalogue se termine par les photos de couples des quatre coins du monde, par une représentation politique de la «famille mondiale» – une assemblée plénière des Nations Unies – et enfin par deux doubles pages couvertes d’innombrables photos d’enfants. L’esthétique noir et blanc correspondait au canon typique du bon goût raffiné de l’époque. Il est remarquable que les photos aient toutes été travaillées approximativement de la même manière, parsemées de citations de la Bible et de la Bhagavad-Gita, de James Joyce et d’Euripide («Et n’aimera-t-on pas toujours la beauté?»), des Indiens Maoris et Pueblo («Nous ne serons plus qu’une personne»), des Navajo («Devant moi: la paix, derrière moi: la paix, sous moi: la paix, au-dessus de moi: la paix, tout autour de moi: la paix») et des Indiens Sioux («Ce sera comme si nous formions une seule et même famille avec tous les êtres et toutes les choses»). On ne peut pas dire que le choix était équilibré. Environ 60% des photographies représentent des scènes de la vie aux États-Unis et même les clichés d’autres pays ont souvent été pris par des photographes américains (les 503 photographies ont été prises par 273 photographes). Un nombre étonnamment élevé de photos provenait de plus de magazines comme Life, Ladies’ Home Journal, Fortune, Black Star ou d’agences comme Magnum et AP. Tandis que l’origine des vers et des citations devait bien souligner la crédibilité du message de l’exposition, la «sagesse originelle», un regard actuel et critique saisit immédiatement que les concepteurs de l’exposition ont attribué sans détour une position culturelle dominante aux États-Unis et à l’Europe occidentale. L’hégémonie fonctionnait par l’exclusion. Le monde vu par le prisme d’un regard asiatique, africain ou sud-américain était tout simplement
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Jonathan Crary, Techniken des Betrachters. Sehen und Moderne im 19. Jahrhundert (The art of the observer. Vision and modernity in the XIX century), Dresden/Basel, 1996, page 24.
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Jonathan Crary, Techniken des Betrachters. Sehen und Moderne im 19. Jahrhundert (A arte do observador: visão e modernidade no século XIX), Dresden/Basel, 1996, pág. 24.
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Jonathan Crary, Techniken des Betrachters. Sehen und Moderne im 19. Jahrhundert (L’art de l’observateur: vision et modernité dans le 19e siécle), Dresden/Basel 1996, p. 24.
“original wisdom”, if we take a critical look at them today, it is noticeable how unquestioningly the editorial team assigned leading cultural status to the USA and western Europe. This hegemony was based on exclusion. The world, as seen from the perspective of people in Asia, Africa or South America, was simply not represented. The symbolism of representative democracy was omnipresent, as witnessed by the fact that both the presentation display of the exhibition, which was the whole of Paul Rudolph, and the lay-out of the catalogue, the work of Leo Lionni, were based on an interchangeable mosaic structure. As far as the contents of the exhibition were concerned, however, there was no question of equal rights. It was rather a question of the principle of similarity. And what does all this have to do with Europe? In my view, it is vitally important for a project such as the EU, which owes its existence, not least, to the era and the game rules of the Cold War, not to lose sight of, on the one hand, the need for a “universal currency” and, on the other hand, the distinction between “equal rights” and “similarity”. Jonathan Crary summed this up very well by pointing out that: «The only way to understand the impact of photography in the 19th century is by seeing it as representing a key component of a new cultural system of values and barter economy, rather than as part of an ongoing history of pictorial representation. In the 19th century photography and money became homologous forms of social power. They are both similar comprehensive, all-embracing systems, bringing together all subjects in a single worldwide network of values and desires. What Marx said about money also applies to photography: “It is a great leveller, an agent of democracy, a mere sign, a fiction sanctioned by the overall approval of mankind”».**
como a concepção do catálogo por Leo Lionni se baseiam numa estrutura de mosaicos que pode ser livremente modificada –, não se pode falar de igualdade nos conteúdos. O que estava em causa era, sobretudo, o princípio das semelhanças. E o que tem tudo isto a ver com a Europa? Penso que para um projecto como a União Europeia, cujas origens remontam ao tempo da Guerra Fria e às regras da época, a necessidade de uma moeda universal é de importância essencial, sem que se deva perder de vista a distinção entre igualdade e semelhança. Ou como na bela fórmula de Jonathan Crary que diz: «No século XIX, só se pode compreender o efeito da fotografia se o entendermos como um elemento central de uma nova economia de valores e trocas culturais, e não como um elemento pertencente a um contínuo histórico de representações plásticas. A fotografia e o dinheiro tornam‑se no século XIX formas homólogas do poder social. São sistemas semelhantes, condensados e abrangentes, que unem todos os sujeitos numa única teia mundial de avaliação e desejo. Aquilo que Marx disse acerca do dinheiro, é igualmente válido para a fotografia: “ela é niveladora e democratizadora, um simples sinal, uma ficção, sancionada por aquilo a que se costuma chamar concordância humana”».**
absent. La symbolique de la démocratie représentative était certes omniprésente – aussi bien la disposition de l’exposition que l’on doit à Paul Rudolf que l’agencement du catalogue de Leo Lionni se fondaient sur une structure en mosaïque modulable – mais en ce qui concerne les contenus, il n’était pas question d’égalité. Il s’agissait bien plus du principe de similitude. Et quel rapport tout cela a-t-il avec l’Europe? Je pense qu’il est fondamental pour un projet comme l’Union européenne, qui existe notamment grâce à l’époque et aux règles du jeu de la guerre froide, de ne pas perdre de vue, d’une part, la nécessité d’un étalon universel et, d’autre part, la différence existant entre l’égalité et la similitude. Comme Jonathan Crary l’a si bien formulé: «On ne peut comprendre ‘l’effet de la photographie’ au 19e siècle qu’en le considérant comme un élément central d’une nouvelle économie d’échanges et de valeurs culturels plutôt que comme un segment de l’histoire linéaire des arts plastiques. Au 19e siècle, la photographie et l’argent deviennent des formes similaires d’expression du pouvoir social. Ce sont des systèmes pareillement fédérateurs, qui intègrent tous les sujets dans un réseau mondial unique de valeurs et d’aspirations. Ce que Marx disait de l’argent s’applique également à la photographie: “elle nivelle, elle démocratise, c’est un simple signe, une fiction reconnue par tous les hommes dans une sorte de consensus général”».**
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whatNEXT? Portugal Season of emerging Portuguese Art and Cinema
BETWEEN DEPARTURES AND ARRIVALS
Curated by Lúcia Marques and Nuno Sena
Ciclo de Arte e Cinema português emergentes
ENTRE PARTIDAS E CHEGADAS Curadoria de Lúcia Marques e Nuno Sena
Nouvelles tendances dans l’art et le cinéma portugais
ENTRE DÉPARTS ET ARRIVÉS
Commissariat: Lúcia Marques et Nuno Sena
whatNEXT? Portugal: “Between Departures and Arrivals” is the starting point for a challenge which the Instituto Camões and the European Economic and Social Committee has set to us. This challenge was to create a project combining an exhibition of contemporary art with a short season of films for the European Economic and Social Committee’s cultural programme during the Portuguese Presidency. We begin our journey with a common theme – European migration – which we consider core to both aspects of the project, in order to arrive at two conciliated and complementary perspectives.
whatNEXT? Portugal: “Entre Partidas e Chegadas” parte do desafio lançado pelo Instituto Camões e pelo Comité Económico e Social Europeu para pensarmos um projecto que articulasse uma pequena exposição de arte contemporânea com um breve ciclo de filmes para os espaços disponíveis no Comité Europeu Económico e Social, no âmbito da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, dinamizando também a sala de cinema do edifício Berlaymont através de uma parceria pré-existente entre o Comité e a Comissão Europeias. Assim, partimos de um tema comum que considerámos fulcral para ambas as vertentes do projecto - os fenómenos migratórios europeus - para chegar a duas perspectivas conciliadas e complementares.
whatNEXT? Portugal : «Entre Départs et Arrivées» constitue le point de départ d’un défi que s’est fixé l’Institut Camoës en collaboration avec le Comité économique et social européen. Ce défi consiste à créer un projet associant une exposition d’art contemporain à une présentation de films dans le cadre du programme culturel du Comité économique et social européen au cours de la Présidence Portugaise. Le voyage commence par un thème – la migration européenne – commun aux deux aspects du projet, et aboutit à deux perspectives originales et complémentaires.
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The exhibition
DISPLACEMENTS: FOUR PORTUGUESE CONTEMPORARY PERSPECTIVES
JOSÉ CARLOS TEIXEIRA, TATIANA MACEDO, ANDRÉ CEPEDA, EDGAR MARTINS by Lúcia Marques, independent curator Lisbon based
A exposição
DESLOCAÇÕES: QUATRO PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS PORTUGUESAS JOSÉ CARLOS TEIXEIRA, TATIANA MACEDO, ANDRÉ CEPEDA, EDGAR MARTINS por Lúcia Marques, curadora independente sediada em Lisboa
L’exposition
DISLOCATIONS: QUATRE PERSPECTIVES PORTUGAISES CONTEMPORAINES
JOSÉ CARLOS TEIXEIRA, TATIANA MACEDO, ANDRÉ CEPEDA, EDGAR MARTINS par Lúcia Marques, curatrice indépendant à Lisbonne
Based on a limited selection of the work of four Portuguese artists, the exhibition deals with the condition of ‘displacement’ as a key theme in the contemporary world and artistic panorama of Portuguese culture. The profiles of the chosen artists – José Carlos Teixeira (born 1977, Oporto), Tatiana Macedo (born 1981, Lisbon), André Cepeda (born 1976, Coimbra) and Edgar Martins (born 1977, Évora) –, are very much those of a post-revolution generation, the one born after April 25th 1974, at the time when Portugal was losing most of its colonies. These are people whose educational and life experiences are geographically different, although they all seek to reflect upon the inevitability of contemporary mobility. Their work looks at themes which correlate, but which are dealt with in very different ways. José Carlos Teixeira’s video installation shows a series of intimate interviews on the feeling of being displaced, and how this affects the way people deal with the question of the “Other”, both as foreigners and as a “Stranger to Ourselves” (as Julia Kristeva pointed out more than a decade ago). Tatiana Macedo offers us photographic insight into the identity of the “Other”, by portraying the diversity of immigrants in Portugal facing problems with integration. She catches different faces of our contemporary world and portrays them in one single and shared room. André Cepeda, meanwhile, provides us with quite a different set of images and trips, constantly seeking new impressions of the city which he views from a distinct perspective, as he moves between its places and limits. On the other hand, Edgar Martins’ take on airports avoid the more predictable documental approach to such locations as non-places, and focuses on a more personal perspective of invisible areas that play a discrete but crucial role in everyday mobility.
Partindo de uma selecção restrita de trabalhos de quatro jovens artistas, a exposição abordará a condição de “deslocado” enquanto problemática essencial para compreender o mundo contemporâneo e o panorama artístico da cultura portuguesa. Os perfis artísticos escolhidos – José Carlos Teixeira (n. 1977, Porto), Tatiana Macedo (n. 1981, Lisboa), André Cepeda (n. 1976, Coimbra) e Edgar Martins (n. 1977, Évora) –, privilegiam uma geração nascida no contexto pós-25 de Abril de 1974, ou seja, em pleno processo de descolonização, e com experiências de formação e vivência geograficamente diferentes, procurando reflectir sobre a inevitabilidade da mobilidade contemporânea através de obras que abordam temáticas correlacionadas mas de modos diversificados. A instalação audiovisual de José Carlos Teixeira mostra uma série de entrevistas íntimas sobre a sensação da deslocação e o modo como afecta a nossa forma de lidar com o “Outro”, quer como estrangeiros quer como “Estrangeiros para nós próprios” (“Strangers for Ourselves”, como escreveu Julia Kristeva há mais de dez anos). Tatiana Macedo oferece‑nos uma leitura fotográfica da identidade do “Outro” ao retratar a diversidade de imigrantes em Portugal que se deparam com problemas de integração. A sua obra apresenta as diferentes facetas do mundo contemporâneo e reúne‑as num único espaço partilhado. André Cepeda, por sua vez, traz‑nos um conjunto muito diferente de imagens e de viagens, numa procura constante de novas impressões da cidade que observa de um ponto de vista muito pessoal enquanto se desloca entre os seus locais e limites. Por outro lado, o tratamento dispensado por Edgar Martins aos aeroportos foge à visão tradicional e documental desses locais enquanto “não‑lugares” e centra‑se numa perspectiva mais pessoal das zonas invisíveis que desempenham um papel discreto mas crucial na mobilidade de todos os dias.
S’appuyant sur une sélection limitée d’œuvres d’artistes portugais, l’exposition traite du «déplacement» comme thème clé du panorama de la culture portugaise artistique contemporaine. Le profil des artistes choisis est bien celui d’une génération postrévolutionnaire, celle qui est née après le 25 avril 1974, lorsque le Portugal était en train de perdre la plupart de ses colonies. Malgré un bagage éducatif et un vécu géographiquement différent, ils mènent une même réflexion sur le caractère inévitable de la mobilité à l’heure actuelle. Leurs œuvres abordent des thèmes étroitement corrélés mais traités de manière très différente. L’installation vidéo de José Carlos Teixeira montre une série d’interviews individuels sur le sentiment d’être «déplacé» et sur la manière dont cela affecte la façon dont les gens perçoivent l’»autre», entendu à la fois comme étranger et comme «étranger à nous-mêmes» (comme l’avait déjà souligné Julia Kristeva il y a de cela plus d’une décennie). Tatiana Macedo nous offre une incursion photographique à l’intérieur de l’identité de “l’autre”, en rendant compte de la diversité des immigrés au Portugal qui sont confrontés à des problèmes d’intégration. Elle saisit différentes facettes de notre monde contemporain et les présente dans une salle unique et partagée. André Cepeda nous offre quant à lui une série d’images et de voyages sensiblement différents, constamment à la recherche de nouvelles impressions de la ville, qu’il perçoit dans une perspective différente selon les lieux et les limites de celle-ci entre lesquels il évolue. Edgar Martins réussit pour sa part à éviter dans son travail sur les aéroports une approche documentaire plus prévisible pour ce type d’endroits en tant que «non-lieux», privilégiant une perspective plus personnelle de zones invisibles qui jouent un rôle discret mais non moins crucial dans la mobilité de tous les jours.
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38 Minutes of Anthropology (Strangers to Ourselves), 2005-2006
This video deals with the issues of language, identity, displacement, exile, and foreignness. At a time when globalisation and mobility are praised as unavoidable features of a new century, this video seeks to uncover the implications and effects these changes have on people’s journeys and on displacement, questioning whether it is at all possible to find ones place in the world. Such journeys offer possibilities for the redefinition of a global diaspora. Through a series of conversations and interviews, which seek to establish an intimate and confessional mode, the core of these realities is approached in a non-conclusive way: just pointing and leaving it open for further reflection. As an exercise of psychological transference and alter egos, 38 minutes of anthropology raises the question of the “Other”, not only the one that is apart from us, but also the one inside us, as Julia Kristeva reminds us in her seminal reflection Strangers to Ourselves (1994). By addressing the thin line between placement and displacement in these foreigners , I refer directly to the reality of the boundaries between the two, and what these boundaries signify, since to be “displaced” means to have had previous limits that circumscribed you, that protected, constrained, or gave meaning. Several of the texts are inserted as quotes from various authors (Julia Kristeva, Simone Weil, and Miwon Kwon) and personal lines as another voice juxtaposed to the other ones. In the end, the viewer realises that this other character is in fact the author – the transcription of my own words after a process of self-interview. Moments of silence and blackness are important punctuations of the composition, and they give space for evocation
José Carlos Teixeira born in Oporto, 1977 José Carlos Teixeira is an artist who recently completed an Master in Fine Arts and Interdisciplinary Studio at the University of California (Los Angeles). He also studied at NYU (in New York City) and at the University of the Basque Country (in Bilbao) after having pursued a five-year degree at the School of Fine Arts at the University of Oporto (Portugal). His work is crossdisciplinary by nature and focuses mainly on video installation and performance. It deals with questions of language, identity and politics, as well as notions of limit, exile and displacement, both from a psychological and sociological point of view. He has been involved in several art projects, exhibitions, festivals and screenings, both in Europe (Portugal, Spain, France, Germany, Scotland, Sweden, Russia and Cyprus) and in the USA (New York, Los Angeles, Boston, Detroit, Atlanta, Tucson and Cincinnati). Teixeira is also represented in a number of collections (such as Aberdeen Arts Gallery Collection, Scotland, and PLMJ Foundation, Portugal) and has won several awards and grants (The Fullbright/Carmona & Costa Foundation Grant, Gulbenkian/FLAD Grant, Samuel Booth Award, and UCLA Fellowships, amongst others).
“38 Minutes of Anthropology (Strangers to Ourselves)”, 2005 Video stills from the video installation, 38’ Artist’s Collection, Lisbon, Portugal
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and projection. In the video, my group of interviewees operates as a small set, which is then associated with a larger one – this being an ideological and conceptual space in which the interviewees’ bodies and minds are inscribed by the author (me) and the viewers (you). As an anthropological exercise – a distinction should be drawn here between traditional ethnography and contemporary anthropology – this video reaches levels of ambiguity. The “Other” is both staged and found: the theatrical versus the real. In fact, the combination of both reinforces the sense of planning and, simultaneously, spontaneity. The cinematography also tries to incorporate displacement as a visual omnipresent element. I wanted to accentuate closeness, proximity, physicality, and intimacy with each person. I use the camera in unexpected ways, by breaking down the body into new architectures and landscapes. By not using faces, I was able to avoid mechanisms that would make identification easier. This alternative way of picturing my characters enabled me to explore new ways of defining the gaze, and developing other images of identity. J.C.T.
José Carlos Teixeira
“38 Minutes of Anthropology (Strangers to Ourselves)”, 2005 Video stills from the video installation, 38’ Artist’s Collection, Lisbon, Portugal
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38 Minutos de Antropologia (Strangers to Ourselves), 2005-2006
Este vídeo examina questões de linguagem, identidade, alteridade, exílio e estrangeirismo. Num tempo em que a globalização e a mobilidade são encaradas como aspectos fundamentais e inevitáveis de um novo século, esta peça tenta a redefinição de uma diáspora global, e procura as implicações e os efeitos das múltiplas viagens e deslocações humanas, interrogando-se acerca da própria possibilidade de encontrar um lugar no mundo. Através de um conjunto de conversas e entrevistas, procurei um tom íntimo e confessional onde o âmago destas realidades fosse abordado de modo não-conclusivo: apenas indicando sentidos e deixando-os abertos a futuras reflexões e interpretações. Assumidamente um exercício de transferência, num constante processo de alter egos, 38 minutos de antropologia visita o conceito do “Outro”, não apenas aquele externo a nós mesmos, mas também e sobretudo esse Outro que nos habita, como Julia Kristeva declara no seu trabalho de referência Strangers to Ourselves (Estrangeiros para nós próprios) (1994). Enfatizando a ténue linha existente entre integração e deslocação em todos estes estrangeiros, era a realidade das fronteiras em si mesma revelada: do que elas de facto significam, uma vez que “deslocado” quer dizer estar fora de lugar, ter tido limites e linhas divisórias anteriores que circunscreviam e simultaneamente protegiam, condicionavam, ou davam sentido. Alguns textos são inseridos, assim como citações de alguns autores (Julia Kristeva, Simone Weil e Miwon Kwon), e discursos na primeira pessoa funcionando como uma voz justaposta às precedentes. No final, o espectador pode entender que este oitavo personagem é, na verdade, o autor do
José Carlos Teixeira nascido no Porto, 1977 José Carlos Teixeira é um artista que completou recentemente o Mestrado em Artes Visuais e Estúdio Interdisciplinar na Universidade da Califórnia (Los Angeles). Também estudou na NYU (em Nova Iorque) e na Universidade do País Basco (em Bilbao), após conclusão da licenciatura em Belas-Artes na Universidade do Porto (Portugal). O seu trabalho é transdisciplinar por natureza e privilegia a vídeo-instalação e a performance. Lida com questões de linguagem, identidade e política, para além das noções de limite, exílio e deslocação, quer de um ponto de vista psicológico, quer sociológico. Tem participado em diversos projectos artísticos, exposições, festivais e projecções, tanto na Europa (Portugal, Espanha, França, Alemanha, Escócia, Suécia, Rússia e Chipre), como nos EUA (Nova Iorque, Los Angeles, Boston, Detroit, Atlanta, Tucson e Cincinnati). O trabalho de Teixeira está representado em várias colecções (como a da Aberdeen Arts Gallery, na Escócia; e a da Fundação PLMJ, em Portugal) e tem merecido a atribuição de prémios e bolsas (Prémio Samuel Booth, Bolsa Fullbright/Fundação Carmona e Costa, Bolsa Gulbenkian/FLAD, Bolsa UCLA, entre outras).
“38 Minutos de Antropologia (Strangers to Ourselves)”, 2005 Video stills da vídeo-instalação, 38’ Colecção do artista, Lisboa, Portugal
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projecto – eu mesmo, segundo uma transcrição das minhas próprias palavras, a partir de um processo de auto-entrevista. Momentos de silêncio e obscuridade pontuam a composição e criam um espaço de evocação e projecção. No vídeo, o grupo de entrevistados funciona como um pequeno cosmos, depois associado a um conjunto ideológico mais abrangente – sendo este um lugar conceptual no qual esses corpos e mentes são inscritos por mim, como autor, assim como pelo espectador. Como um exercício antropológico – e aqui a distinção entre a etnografia mais tradicional e uma antropologia contemporânea deve ser demarcada – este vídeo atinge níveis de ambiguidade. O “Outro” é tanto fabricado como encontrado: teatral versus real. De facto, a articulação de ambos reforça nas imagens um sentido de planeamento e, ao mesmo tempo, de espontaneidade. A direcção fotográfica incorpora também a deslocação e o descentramento como elementos visuais omnipresentes. Procurei acentuar uma dimensão de proximidade, intimidade e fisicalidade com cada pessoa. Desafiei-me ao utilizar um tipo de filmagem inesperado, através da fragmentação do corpo em novas paisagens e arquitecturas. Assim, sem rostos, resisto a um mais fácil mecanismo de identificação. Esta outra forma de retratar as minhas personagens possibilitou-me uma exploração de novos modos de definir o olhar, para assim desenvolver outras imagens de identidade. J.C.T.
José Carlos Teixeira
“38 Minutos de Antropologia (Strangers to Ourselves)”, 2005 Video stills da vídeo-instalação, 38’ Colecção do artista, Lisboa, Portugal
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38 Minutes d’Anthropologie (Strangers to Ourselves), 2005-2006
Cette vidéo aborde les problèmes de langage, d’identité, de déplacement, d’exil et d’étrangeté. À une époque où l’on loue la mondialisation et la mobilité en tant que caractéristiques incontournables du nouveau siècle, cette vidéo cherche à faire la lumière sur les implications et les effets que ces changements ont sur les voyages des gens et leurs déplacements, posant la question de savoir s’il est possible de trouver sa place dans le monde. Ces migrations offrent la possibilité de redéfinir une diaspora mondiale. À travers une série de conversations et d’interviews, qui tentent d’instaurer un mode intime et confessionnel, l’on approche le cœur de ces réalités sans vouloir tirer de conclusions: laissant simplement la question ouverte à la réflexion. Exercice psychologique de transfert et d’alter ego. 38 minutes d’anthropologie pose la question de “l’autre”, au sens non seulement de celui qui est séparé de nous mais également de celui qui est en nous, comme Julia Kristeva nous le rappelle dans la réflexion originale qu’elle nous livre dans Strangers to Ourselves (Étrangers à Nous-mêmes) (1994). En abordant la ligne ténue entre placement et déplacement chez ces étrangers, je me réfère directement à la réalité des frontières entre les deux et à la signification de celles-ci, dès lors que l’état de «déplacé» suppose que des limites nous aient auparavant entouré, protectrices, contraignantes ou porteuses de sens. Plusieurs des textes sont insérés en tant que citations de différents auteurs (Julia Kristeva, Simone Weil, et Miwon Kwon) ainsi que des lignes personnelles, comme une voix en juxtaposition des autres. À la fin, le spectateur réalise que cet autre personnage n’est autre que l’auteur – la transcription de mes propres mots après un auto-entretien. Des moments de silence
José Carlos Teixeira née à Porto, 1977 José Carlos Teixeira a récemment obtenu une maîtrise de Beaux-arts et Études interdisciplinaires à l’Université de Californie (Los Angeles). Il a également étudié au NYU (à New York) et à l’Université du Pays basque espagnol (à Bilbao) après avoir obtenu un diplôme sanctionnant cinq années d’études à l’Université de Porto (Portugal). Son œuvre est transdisciplinaire par nature et met essentiellement l’accent sur les installations et les performances vidéo. Elle aborde la question du langage, de l’identité et de la politique ainsi que des notions telles que les limites, l’exil et le déplacement, d’un point de vue à la fois psychologique et sociologique. Il a participé à plusieurs projets, expositions, festivals et projections, tant en Europe (Portugal, Espagne, France, Allemagne, Ecosse, Suède, Russie et Chypre) qu’aux Etats-Unis (New York, Los Angeles, Boston, Detroit, Atlanta, Tucson et Cincinnati). Teixeira est également représenté dans plusieurs collections (Aberdeen Arts Gallery Collection, Scotland, et PLMJ Foundation, Portugal) et a reçu plusieurs prix et subventions (The Fullbright/Carmona & Costa Foundation Grant, Gulbenkian/FLAD Grant, Samuel Booth Award, et UCLA Fellowships, entre autres).
“38 Minutes d’Anthropologie (Strangers to Ourselves)”, 2005 Video stills de la video installation, 38’ Collection de l’artiste, Lisbonne, Portugal
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et d’obscurité interviennent comme des ponctuations importantes de la composition et ouvrent un espace à l’évocation et à la projection. Dans la vidéo, le groupe de personnes que j’ai interviewé fonctionne comme un petit ensemble, qui est ensuite associé à un plus grand – qui est un espace idéologique et conceptuel dans lequel les corps et les esprits interviewés sont inscrits par l’auteur (moi) et le spectateur (vous). S’agissant d’un exercice anthropologique, une distinction devrait être établie entre l’ethnographie traditionnelle et l’anthropologie contemporaine – cette vidéo atteint des niveaux d’ambiguïté: “l’autre” est à la fois mis en scène et trouvé: la théâtralité par opposition à la réalité. En fait, la combinaison des deux renforce le sens de la planification et, simultanément, de la spontanéité. La cinématographie tente également d’incorporer le déplacement en tant qu’élément visuel omniprésent. J’ai voulu accentuer le rapprochement, la proximité, la physicalité et l’intimité avec chaque personne. J’utilise la caméra de manière inattendue, en déclinant le corps au moyen de nouvelles architectures et de nouveaux paysages. En n’utilisant pas les visages, j’ai pu éviter des mécanismes qui auraient rendu l’identification plus facile. Cette manière alternative de présenter mes personnages me permet d’explorer de nouvelles façons de définir le regard et de développer d’autres images de l’identité. J.C.T.
José Carlos Teixeira
“38 Minutes d’Anthropologie (Strangers to Ourselves)”, 2005 Video stills de la video installation, 38’ Collection de l’artiste, Lisbonne, Portugal
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Shared Room 2005-2007
Sala Comum (Shared Room) is a photographic series that was produced as part of the Photographic based Artistic Programme at The Gulbenkian Foundation in Lisbon. These are portraits of immigrants taken at an immigrant’s association, the Solidariedade Imigrante (Immigrant Solidarity) in Lisbon. This is an independent association which stands up (or shall I say “fights”) for the rights of the immigrants. It supports them not only with legal procedures, but also by promoting intercultural activities, discussions and debates. It is run mostly by immigrants and its guiding mottos are “participation and intervention”. As an association member I had been visiting the association regularly for more than a year participating actively in their programmes. In this period I learned a great deal about the problem issues associated with the current, daily influx of immigrants to Portugal: their struggle to find and maintain work, obtain their work or residence permits, learn the language, interact with both the host and immigrant communities, etc. Above all, I realized that there is a need for more consistent and realistic integration policies. I was also fascinated by the great mix of people and cultures that I met there, which is truly unique, and the feeling of having the world (represented through cultural difference) drawn together into these small rooms. In the course of a three-month period, I visited the association for the sole purpose of taking photographs. I would go to the waiting room and ask the people if they would mind being photographed by me, explaining the purpose of the project. Most of them said yes, others replied with a big bold “no”. By approaching them in this way, I was able to catch them at a particular moment. Most were anxious because
Tatiana Macedo born in Lisbon, 1981 Daughter of a Portuguese father and Angolan mother, Tatiana Macedo graduated from Fine Art at Central St. Martins College of Art & Design, University of the Arts London. She was also awarded the Professional Development Award in Studio and Location Photography by the London College of Communication. Her work has been exhibited in Lisbon, London, Madrid, and Paris, at the École National Supèrieur des Beaux-Arts. Macedo also represented the United Kingdom at the 49ème Salon de Montrouge. In 2005 she participated in the Gulbenkian Artistic Creativity and Creation in Photography event, and was one of the artists selected for the Arts Place International Residence at the Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, which is part of the Programa Cultural Estado do Mundo (State of the World Cultural Programme).
Untitled, (from the series “Shared Room”), 2007 Photographic print, 70x50 cm Artist’s Collection, Courtesy Gulbenkian Foundation Creativity Programme, Lisbon, Portugal
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they were waiting to get help/information on their naturalization procedure. If someone said yes, I would take him/her to another room in order to create a more intimate picture. All the photos were taken in the same room. The room thus acts as a metaphor for the world and, in a crude manner, also exercises a certain segregation/separation upon the person being photographed. Having spent four years in London as a working student I have a personal perspective on what it is like to be and feel “foreign”. I myself am a ‘daughter’ of Portuguese colonialism in Africa. My father left Portugal for Angola with his parents at an early age, where he married my mother, a ‘native’ Angolan. After independence, when my mother was pregnant, they moved to Portugal, where I was born. Twelve of the portraits taken at the association were selected for display at the Gulbenkian Foundation. These portraits were also used as communication images for the Immigration Forum promoted by the Foundation during 2006 and 2007. Seven of these portraits are shown here and the other seven are now on display for the first time. T.M.
Tatiana Macedo
Lakhvir Singh, India (from the series “Shared Room”), 2006 Photographic print, 70x50 cm Artist’s Collection, Courtesy Gulbenkian Foundation Creativity Programme, Lisbon, Portugal
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Sala Comum 2005-2007
Sala Comum é uma série fotográfica produzida no decorrer do Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística em Fotografia na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa. Estes são retratos de imigrantes tirados numa associação de imigrantes em Lisboa, a Associação Solidariedade Imigrante. Esta é uma associação independente que luta pelos direitos dos imigrantes não só na ajuda e esclarecimento que presta em questões legais mas também na promoção de actividades interculturais, discussões e debates. É dirigida maioritariamente por imigrantes e o seu mote é “participação e intervenção”. Há mais de um ano que tenho visitado esta associação, não só na qualidade de membro mas também participando activamente nos seus programas. Durante este período estive perto dos problemas associados ao influxo de imigrantes que chegam todos os dias a Portugal: a sua batalha para obter e manter um emprego, conseguir o seu visto de trabalho ou residência, aprender a língua e interagir com a comunidade de acolhimento bem como com as outras comunidades de imigrantes. Acima de tudo notei que existe uma urgência na criação de uma política de integração consistente. Também me fascinou a mistura de pessoas e culturas que ali encontrei, algo verdadeiramente único, como se pudesse ter o mundo inteiro (representado pela diferença cultural) nestas pequenas salas. Durante um período de três meses visitei a associação com o propósito de produzir este trabalho. Dirigia-me à sala de espera e perguntava às pessoas se não se importariam de ser fotografadas por mim, explicando-lhes as minhas intenções. A maior parte aceitou, outros deram-me um redondo “não”. Ao aproximar-me desta forma, pude captar aquele momento
Tatiana Macedo nascida em Lisboa, 1981 Filha de pai Português e mãe Angolana. Licenciada em Belas Artes pela Central St. Martins College of Art & Design, University of the Arts London. Obteve também o Professional Development Award in Studio and Location Photography pelo London College of Communication. Já expôs em Lisboa, Londres, Madrid, e Paris, nomeadamente na École National Supèrieur des Beaux-Arts e como representante do Reino Unido no 49ème Salon de Montrouge. Em 2005 participou no Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística em Fotografia e foi uma das artistas seleccionadas para a Residência Internacional Sítio das Artes realizada no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian no âmbito do Programa Cultural Estado do Mundo.
José Mendes e Júlio Mendes, Senegal (da série “Sala Comum”), 2005 Impressão fotográfica, 70x50 cm Colecção do artista, Cortesia do Programa de Criatividade da Fundação Gulbenkian, Lisboa, Portugal
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singular de ansiedade, visto que muitos esperavam por ajuda/informação acerca dos seus processos de legalização. Quando aceitavam, levava-os para outra sala mais pequena, a fim de criar uma relação mais íntima com a pessoa. Todos os retratos foram feitos nesta mesma sala que actua como uma metáfora para o mundo e, de forma crua, exerce uma segregação/separação entre a pessoa que está a ser fotografada e o mundo exterior. Tendo vivido quatro anos em Londres como trabalhadora-estudante, tenho uma perspectiva pessoal no que respeita ao que é ser-se e sentir-se “estrangeiro”. Eu mesma sou “filha do colonialismo português” em África. O meu pai deixou Portugal com os seus pais rumo a Angola e lá conheceu e desposou a minha mãe, uma angolana “nativa”. Depois da Independência e a minha mãe já grávida, regressaram a Portugal, onde nasci. Doze destes retratos foram expostos na Fundação Calouste Gulbenkian, tendo sido também as imagens de comunicação do Fórum Gulbenkian Imigração durante 2006 e 2007. Sete dessas imagens são aqui expostas sendo que as restantes sete são inéditas. T.M.
Tatiana Macedo
Julio Tavares, Cabo Verde (da série “Sala Comum”), 2005 Impressão fotográfica 70x50 cm Colecção do artista, Cortesia do Programa de Criatividade da Fundação Gulbenkian, Lisboa, Portugal
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Chambre Partagée 2005-2007
Sala Comum (Chambre Partagée) est une série de photographies réalisées dans le cadre du programme artistique basé sur la photographie de la Fondation Gulbenkian de Lisbonne. Elle présente des portraits de migrants réalisés dans une association pour migrants Solidariedade Imigrante (Solidarité des Immigrantes) à Lisbonne, où je vis et travaille actuellement. C’est une association indépendante qui défend les droits (ou soutient les «combats» dirais-je plutôt) des immigrés. Elle les aide non seulement dans les démarches légales à accomplir mais également en promouvant des activités interculturelles, des discussions et des débats. Elle est gérée essentiellement par des immigrés et son leitmotiv est «participation et intervention». En tant que membre de cette association, je l’ai régulièrement fréquentée pendant plus d’un an, participant activement à leurs programmes. Au cours de cette période, j’ai beaucoup appris sur les problèmes liés à ce flux quotidien d’immigration au Portugal: la lutte des migrants pour trouver et garder un emploi, obtenir leur permis de travail et de séjour, apprendre la langue du pays d’accueil, interagir tant avec la communauté d’accueil qu’avec celle des immigrés, etc. Surtout, j’ai réalisé que des politiques d’intégration plus cohérentes et plus réalistes s’imposaient. J’ai également été fascinée par ce mélange impressionnant de gens et de cultures que j’ai pu rencontrer ici, et qui est véritablement unique, et j’ai eu le sentiment de voir le monde rassemblé dans ces petites salles. Pendant trois mois, j’ai fréquenté l’association dans le seul but de prendre des photos. J’allais dans la salle d’attente et demandais aux gens si cela les dérangeait que je les photographie, leur expliquant l’objectif du projet. La plupart acceptaient,
Tatiana Macedo née à Lisbonne, 1981 Née d’un père portugais et d’une mère angolaise, Tatiana Macedo est diplômée du Central St. Martins College of Art & Design, Université des Beaux-arts de Londres. Elle a également reçu le prix «Professional Development Award in Studio and Location Photography» décerné par le London College of Communication. Son œuvre a été exposée à Lisbonne, Londres, Madrid et Paris, à l’École nationale supérieure des Beaux-arts. Tatiana Macedo a également représenté le Royaume-Uni au 49ème Salon de Montrouge. En 2005, elle a participé au projet «créativité et création artistique en photographie» de la Fondation et a été l’une des artistes sélectionnés pour le Arts Place International Residence au Centre d’art moderne de la Fondation Gulbenkian, qui fait partie du programme culturel «État du monde».
Lúcia Elena, Brésil (de la serie “Chambre Partagée”), 2005 Impression photographique, 70x50 cm Collection de l’artiste Courtesie de la Fondation Gulbenkian Programme de la Creativité, Lisbonne, Portugal
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d’autres refusaient catégoriquement. En les approchant ainsi, j’ai pu les saisir à un moment particulier. Ils étaient pour la plupart anxieux car ils attendaient d’obtenir une aide/information sur leur procédure de naturalisation. Si l’un deux disait «oui», je l’emmenai dans une autre pièce afin de pouvoir créer un cadre plus intime. Toutes les photos ont été prises dans la même salle. Cette salle a donc valeur de métaphore du monde et, de manière crue, a aussi, d’une certaine façon, un effet de ségrégation/séparation sur la personne en train d’être photographiée. J’ai passé quatre ans à Londres comme étudiante salariée et j’ai une vision personnelle du fait «d’être et de se sentir «étranger». Je suis moi-même «fille» du colonialisme portugais en Afrique. Mon père a quitté le Portugal pour l’Angola avec ses parents, très jeune, et c’est là qu’il épousa ma mère, une Angolaise d’origine. Après l’indépendance, alors que ma mère était enceinte, ils sont partis au Portugal, où je suis née. Douze des portraits réalisés à l’association ont été sélectionnés pour être exposés à la Fondation Calouste Gulbenkian. Ces portraits ont également été utilisés comme images de communication pendant 2006 et 2007 pour le Forum de l’immigration promu par la Fondation. Sept de ces images de la série sont exposées maintenant et les autres sept sont exposées pour la première fois. T.M.
Tatiana Macedo
Untitled, (de la serie “Chambre Partagée”), 2007 Impression photographique, 70x50 cm Collection de l’artiste, Courtesie de la Fondation Gulbenkian Programme de la Creativité, Lisbonne, Portugal
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Tatiana Macedo
Mohamad Iqbal, Paquistão (da série “Sala Comum”), 2005 Impressão fotográfica 70x50 cm Colecção do artista, Cortesia do Programa de Criatividade da Fundação Gulbenkian, Lisboa, Portugal
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Moving 2006
André Cepeda could be described as a flâneur, endlessly browsing for precise images, for clichés that convey his relation to the city, for pictures to construct a portrait of the city which is as intimate as that of its author. In Moving, Cepeda approaches the issue in a different manner: he no longer uses the images offered to him by the city, but goes on a search for clichés, ones which he consciously constructs. (…) Cepeda’s photographs are uncluttered, but never poor. They seem to employ an almost organic geometry. The framing is rigorous, frontal, neutral. He cuts out the static images from the landscapes that we only perceive when we move. At first glance, the photographs seem “objective,” they appear to show us the world without taking any sides. On closer inspection though, these places – conceived to be insignificant – are each touched by a distinctive light that projects a feeling, that embodies them. The light reflects a state of mind, and Moving becomes more than the witnessing of a walk. It becomes the witnessing of a journey. Here, the wandering is within. In fact, the project recalls an experience with which all of us are familiar, but one which is difficult to share; that moment of a long journey in which neither time nor place are important, in which one finds oneself alone, facing oneself, lost in one’s thoughts. When the images of the city are gone, the flâneur becomes a passenger, who is left to his solitude. It is because it is impossible to establish a relation with these transient spaces that one is forcefully confronted with oneself. Originating in a functional
André Cepeda born in Coimbra, 1976 André Cepeda was born in Coimbra, and now lives and works in Oporto. Between 1991 and 1994 he collaborated on Encontros de Fotografia de Coimbra, following which he attended the photography course at École des Art d’Ixelles de Bruxelles (19951996). Returning to Portugal, Cepeda worked as a technician at the laboratory and digitalization department of the photographic archive of Centro Português de Fotografia in Oporto (1997-1999). He also spent time at “La Chambre Noire”, Paris, (1998) where he studied printing techniques with Guilhaume Geneste. In 2002, he was invited to participate in a workshop for young photographers, ASEF, Singapore. From 2003 to 2006 he was responsible for image treatment and digitalization on the project www.anamnese.pt, and in 2006 he founded the Blues Photography Studio. Since the time when Cepeda was an artistin-residence at Espace Photographique Contretype in Brussels (1999) his work has been exhibited on a regular basis. In 2001 he received two commissions: the first one from the programming of Porto 2001 - European Cultural Capital, through Centro Português de Fotografia/MC, and the second from Encontros da Imagem, through the Museu da Imagem de Braga. He was awarded a scholarship from Centro Nacional de Cultura in 2002, and, in 2003, was invited to participate in Viseu, at António Henriques Galeria de Arte Contemporânea as an artistin-residence. In 2007 he was selected for the EDP Prize for young artists.
from the series “Moving” (2006) Photography in light boxes, 100x120 cm Fundação Ilídio Pinho Collection, Oporto, Portugal
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thought, the images prevent anyone from stopping, since this would risk cluttering the system, or shattering it. Perhaps, though, the very purpose of Moving is for the viewer to stop and transform these non-places into places. (…) Their framing pushes the viewer to look beyond the image, it summons up an outside field. It is this impression that something is missing, this need to complete the landscape, forces the viewer to move on to the next picture. However, very quickly, as if in a dream or in the cinema, the picture imposes itself on the viewer. In the end, the viewer will be need to return to it, because these light boxes invite the viewer to let him-/herself be penetrated, to give in to a perpetual shifting movement between the image and him-/herself. The image becomes part of an open narrative, with no beginning or end. Sometimes conjuring up fragmented traveling, sometimes an autonomous and meditative image, Moving displaces the viewer between different temporalities. This to-and-for, these perpetual changes in the relation that he establishes with the pictures will turn him into a flâneur.
André Cepeda
Text by Johan Vonck, for the first presentation of the series at SOLARCinematic Art Gallery in Vila do Conde, Portugal (translated by Ana Yokochi)
from the series “Moving” (2006) Photography in light boxes, 100x120 cm Fundação Ilídio Pinho Collection, Oporto, Portugal
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Moving 2006
André Cepeda poderia ser descrito como um flâneur, numa errância constante em busca de imagens precisas, de clichés capazes de traduzir a sua relação com a cidade, de traçar um retrato tão íntimo da cidade quanto do seu autor. Através de Moving, Cepeda abordou esta questão de um modo diferente: utilizou já não as imagens que a cidade lhe oferece, indo antes buscar clichés de alguma forma conscientemente construídos. (…) As fotografias de Cepeda são depuradas, mas nunca pobres; parecem construídas segundo uma geometria quase orgânica. O seu enquadramento é rigoroso, frontal, neutro. Recorta imagens fixas naquelas paisagens que só captamos enquanto nos deslocamos. À primeira vista, parecem-nos “objectivas”, parecem mostrar-nos o mundo, mais do que tomarem partido nele. Mas se observarmos mais de perto, cada um destes lugares – pensados pela sua insignificância -, é tocado por uma luz distinta. Que projecta neles um sentimento, que os incarna. A luz reflecte um estado de espírito, faz com que Moving deixe de ser o testemunho de um passeio, para ser o de um trajecto. Aqui, a errância é interna. De facto, este projecto poderia remeter-nos para aquela experiência que todos conhecemos, mas que dificilmente partilhamos: aquele momento durante um trajecto onde nem o tempo, nem o sítio onde nos encontramos têm ainda importância, onde estamos sós face a nós mesmos, perdidos nos nossos pensamentos. Quando
André Cepeda nascido em Coimbra, 1976 André Cepeda nasceu em Coimbra e actualmente vive e trabalha no Porto. Entre 1991 e 1994 colaborou com os Encontros de Fotografia de Coimbra, ingressando depois no curso de fotografia da École des Art d’Ixelles de Bruxelles (1995-1996). De regresso a Portugal, Cepeda trabalhou como técnico no laboratório e departamento de digitalização do arquivo fotográfico do Centro Português de Fotografia no Porto (1997-1999). Também passou por “La Chambre Noire”, Paris, (1998) onde estudou técnicas de impressão com Guilhaume Geneste. Em 2002, foi convidado a participar num workshop para jovens fotógrafos, ASEF, Singapore. De 2003 a 2006 foi responsável pela digitalização e tratamento de imagens no projecto www. anamnese.pt e em 2006 fundou o Blues Photography Studio. Desde o período em que Cepeda era um artista em residência no Espace Photographique Contretype em Brussels (1999) que o seu trabalho tem sido exibido regularmente. Em 2001 recebeu duas encomendas: a primeira do programa do Porto 2001 – Capital Cultural Europeia, através do Centro Português de Fotografia/ MC; e a segunda dos Encontros da Imagem, através do Museu da Imagem de Braga. Recebeu uma bolsa do Centro Nacional de Cultura em 2002 e, em 2003, foi convidado a participar num projecto de residências artísticas da Galeria António de Arte Contemporânea António Henriques. Em 2007 foi seleccionado para o Prémio EDP – Jovens Artistas.
da série “Moving” (2006) Fotografia em caixa de luz, 100x120 cm Colecção Fundação Ilídio Pinho, Porto, Portugal
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as imagens da cidade ficam para trás, o flâneur torna-se passageiro, atirado para a sua própria solidão. É porque não é possível estabelecer uma relação com estes lugares de passagem que nos deparamos num confronto com nós mesmos. Extraídos de um pensamento funcional, interditam quem quer que seja a deter-se neles, sob pena de atrapalharem o sistema, ou de serem esmagados por ele. Ora, a proposta de Moving será precisamente a de nos deixarmos habitar por estes não-lugares, de nos determos neles e de os transformarmos em sítios. (…) O seu enquadramento [das imagens] força o olhar do espectador para além da imagem, convocando um forade-campo. É o sentimento desta falta, esta necessidade de completar a paisagem, que força o espectador a passar para a imagem seguinte, e por aí fora. Mas rapidamente, como num sonho ou numa sala de cinema, a imagem acaba por se lhe impor. Afinal, vai ter que voltar a ela. Pois estas caixas convidam o espectador a deixar-se penetrar, a abandonar-se a um perpétuo vaivém entre a imagem e ele próprio. A imagem torna-se fragmento de um discurso aberto, sem fim nem princípio. Ora travelling fragmentário, ora imagem autónoma e meditativa, Moving desloca o espectador entre diferentes temporalidades. Este vaivém, este perpétuo mudar da sua relação com as imagens acabarão por fazer dele um flâneur. Texto de Johan Vonck, para a primeira apresentação da série na SOLAR – Galeria de Arte Cinemática em Vila do Conde (traduzido do francês por Joana Caspurro)
André Cepeda
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Moving 2006
André Cepeda pourrait être dépeint comme un flâneur, qui est constamment à la recherche d’images précises, de clichés qui rendent compte de sa relation à la ville, d’images pour construire un portrait de la ville qui soit aussi intime que celui de leur auteur. Dans Moving, André Cepeda aborde la question de manière différente: il n’utilise plus les images que lui offre la ville mais part en quête de clichés, qu’il construit consciencieusement. (…) Les photographies de Cepeda sont dépouillées, mais jamais pauvres. Elles semblent recourir à une géométrie presque organique. Le cadrage est rigoureux, frontal, neutre. Il découpe des images statiques dans des paysages que l’on ne perçoit qu’en bougeant. À première vue, les photographies semblent «objectives», nous montrant le monde tel qu’il est sans parti pris. À y regarder de plus près néanmoins, ces lieux, conçus pour être insignifiants, sont chacun éclairés d’une lumière particulière qui projette un sentiment et leur donne ainsi vie. La lumière reflète un état d’esprit et Moving devient davantage que le simple témoignage d’une promenade, il devient celui d’un voyage, un voyage qui participe de l’errance. En fait, le projet rappelle une expérience qui nous est familière à tous mais qui est difficile à partager, à savoir ce moment dans un long voyage pendant lequel ni le temps ni l’endroit n’a d’importance, où l’on se sent seul, face à soi-même, perdu dans ses pensées. Lorsque les images de la ville s’en sont allées, le flâneur devient un passager, abandonné à sa solitude car il est impossible d’établir une relation avec ces espaces de passage auxquels l’on est forcément confronté. Puisant leur origine dans une pensée fonctionnelle, les images
André Cepeda née à Coimbra, 1976 André Cepeda vit et travaille maintenant à Porto. Entre 1991 et 1994, il a collaboré aux rencontres de photographie de Coimbra, à la suite desquelles il a suivi un cours de photographie à l’École des Art d’Ixelles, à Bruxelles (1995-1996). De retour au Portugal, Cepeda a travaillé comme technicien de laboratoire et a pratiqué la numérisation d’archives photographiques au Centro Português de Fotografia (19971999). Il a également passé un certain temps à «La Chambre Noire», Paris, (1998) où il a étudié les techniques d’impression avec Guillaume Geneste. En 2002, il a été invité à participer à un atelier pour jeunes photographes, ASEF, à Singapour. De 2003 à 2006 il a été responsable du traitement et de la numérisation d’images dans le cadre du projet www.anamnese.pt, et en 2006, il a fondé le Blues Photography Studio. Depuis l’époque où il était artiste résident à l’Espace Photographique Contretype à Bruxelles (1999), son œuvre a été exposée régulièrement. En 2001, il a reçu deux commandes: la première pour la programmation de Porto 2001 – Capitale culturelle européenne, à travers le Centro português de Fotografia/MC, et la seconde pour Rencontres de l’image à travers le Musée de l’image de Braga. Il a obtenu une bourse du Centre national de la culture en 2002 et en 2003, il a été invité à collaborer avec la Antonio Henriques Galeria de arte contemporánea en tant qu’artiste résident. En 2007, il a été sélectionné pour le prix EDP des jeunes artistes.
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empêchent tout un chacun de s’arrêter, car cela risquerait de perturber, voire d’anéantir le système. Le vrai propos de Moving est peut-être toutefois de faire en sorte que le spectateur s’arrête et de transformer ces «nonlieux» en lieux (…). Leur cadrage incite le spectateur à regarder au-delà de l’image, il fait appel à un champ extérieur. Cela donne l’impression que quelque chose manque, que le paysage doit être complété, force le spectateur à passer à l’autre image. Cependant, très vite, comme dans un rêve ou au cinéma, l’image s’impose. À la fin, le spectateur devra y revenir car ces boîtes à lumière l’invitent à se laisser pénétrer, pour produire un mouvement perpétuel de va-et-vient entre lui et l’image. L’image devient partie intégrante d’une narration ouverte, sans début ni fin. Faisant apparaître parfois un travelling fragmenté, parfois une image autonome et méditative, Moving déplace le spectateur entre différentes temporalités. Ces allers et venues, ces changements perpétuels dans la relation qu’il établit avec les images font de lui un flâneur. Texte de Johan Vonck, pour la première présentation de la série à la SOLAR-Cinematic Art Gallery à Vila do Conde, Portugal (traduit par Ana Yokochi)
André Cepeda
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Approaches: photographs from Portuguese airports 2006
A stage for the encounter with the everyday, my work calls to our attention that all is flow, all boundaries are provisional, all space is permeable. It is the setting for spatial and temporal dislocation. In my work, the artist operates within a landscape of uncertainty, within a cultural landscape in permanent flux, transition and opposition. Spaces are primed with a sense of purpose, yet they are marginal, fragmented and dispersed. In the delicate weight of these landscapes, human perception seems to enter a different register. It is as if everything expresses contingency, as if space and time are about to simmer and disperse. In my images space cannot be essentialised as absolute form. It is fluid, relational, migratory. It demands a more heterogeneous conception. From rural to urban societies, from local to national economies, from international to global system networks, social and intellectual relations of any given spatial entity are intrinsically dependent on the way its people live and interact with their surrounding environment. My work assesses how various spaces have been forced to conform to increasingly urban and artistic ideals, adopting the codes and language that these ideal yield. At times my work seems to question whether space as a totality escapes the perception of the individual; whether our experience of place, as a whole, has become an incipient forum of disruptive experiences and expression; whether the movement of information
Edgar Martins 1977 in Évora Portuguese by birth, Edgar Martins grew up in Macau, China, where he published his first novel entitled ‘Mãe, deixa-me fazer o pino’. In 1996 he moved to the UK where he later completed a BA in Photography at The London Institute (currently known as The University of the Arts, London) and a MA in Photography and Fine Art at the Royal College of Art. He has exhibited extensively throughout Asia and Europe and has received numerous awards for his photographic and literary work. His first monograph entitled ‘Black Holes & Other Inconsistencies’ was awarded the Thames & Hudson and RCA Society Book Art Prize. A selection of images from this project was also awarded The Jerwood Photography Award in 2003. Martins was considered by UK art critics and media as ‘one of the most influential artists of his generation, working within the medium of photography’ (defocused.net). Edgar Martins lives and works in the UK.
Flores Airport: Ocean view (from the series “Approaches”), 2006 Chromogenic photography, 98x114 cm Courtesy Graça Brandão Gallery, Oporto and Lisbon, Portugal
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and people and the commodification of cultural forms outlines a unique body of flow and false consciousness. At other times, though, it simply suggests that we are no longer mere transients. My work is a journey of recognition: the city and, in a broader sense, space as our object of understanding is changing, and because of this one needs to find a new critical language that supports it, and a new system of knowledge from which to derive our glossary of life. In my work there is a permanent ambivalence between poetic-failure and the promise of success. E.M.
Edgar Martins
Santa Maria Airport: Aircraft parking area (from the series “Approaches”), 2006 Chromogenic photography, 98x114 cm Courtesy Graça Brandão Gallery, Oporto and Lisbon, Portugal
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Aproximações: fotografias de aeroportos portugueses 2006
Um palco para o encontro com o quotidiano, a minha obra chama a atenção para o facto de que tudo flui, todas as fronteiras são provisórias, todo o espaço é permeável. É um cenário para a deslocação espacial e temporal. Na minha obra, o artista opera numa paisagem de incerteza, numa paisagem cultural de fluxo, transição e oposição permanentes. Os espaços, dotados de um sentido de finalidade, são no entanto marginais, fragmentados e dispersos. No peso delicado destas paisagens, a percepção humana parece entrar num registo diferente. É como se tudo expressasse contingência, como se o espaço e o tempo estivessem prestes a efervescer e a dispersar. Sem artifícios, não premeditados, as minhas paisagens levantam a questão da complexidade do inconsciente colectivo. Nas minhas imagens, o espaço não pode ser entendido como forma absoluta, ele é fluido, relacional, migratório. Exige uma concepção mais heterogénea. Por vezes, a minha obra parece perguntar se o espaço enquanto totalidade escapa à percepção do indivíduo; se a nossa experiência do lugar, no seu todo, se tornou um fórum incipiente de experiências e expressividade perturbadoras; se o movimento de informações e pessoas e a transformação de formas culturais em produtos de consumo delimita um único corpo de fluxo e consciência falsa. Mas outras vezes ela declara simplesmente que já não somos transeuntes. A minha obra é uma viagem de reconhecimento: a cidade e, num sentido mais lato, o espaço enquanto objecto de entendimento, está a mudar e por essa razão é preciso encontrar uma nova linguagem crítica para apoiá-la e um
Edgar Martins nascido em Évora, 1977 Edgar Martins nasceu em Évora e cresceu em Macau. Passa a viver em Inglaterra desde 1996, onde completa a sua formação em Fotografia e Belas Artes, através do London Institute (University of the Arts, London) [BA (Hons)] e do Royal College of Art [MA], Londres. Expõe individualmente desde 1999, em Macau, Londres, York, Edimburgo, Porto, Coimbra, Lisboa, Madrid, Frankfurt, Nova Iorque, entre outras cidades. O seu trabalho fotográfico já foi publicado e divulgado em várias revistas da especialidade como: Blueprint, NextLevel, Portfolio, PLUK (Inglaterra); Eyemazing (Holanda); Aperture, Daylight (EUA); L+arte (Portugal); Posytyw (Polónia), entre outras. A sua primeira monografia, intitulada ‘Buracos Negros e Outras Inconsistências’ recebeu vários prémios incluindo o Thames & Hudson e RCA Society Book Art Prize e o Jerwood Photography Award de 2003. Edgar Martins foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Português de Fotografia, Fundação Oriente, Instituto de Estudos Europeus da China, Fundação Macau e Arts Council, entre 2000 e 2004. Edgar Martins vive e trabalha em Inglaterra.
Aeroporto de Faro: Taxiway (da série “Aproximações”), 2006 Fotografia cromogénica, 98x114 cm Cortesia Galeria Graça Brandão, Porto e Lisboa, Portugal
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novo sistema de conhecimento onde ir buscar o nosso glossário de vida. Na minha obra há uma ambivalência permanente entre fracasso e promessa de sucesso poético. As minhas imagens utilizam a metáfora da luta entre o homem e as forças da natureza para sugerir um lugar onde não há certezas sobre o seu futuro. A obra também compreende o conceito de paisagem como uma coisa idílica e distópica. Nas minhas imagens há paisagens de uma beleza irónica e uma fantasia deliberada. Estas paisagens traduzem graus de ansiedade e não certeza política. Dão prioridade à memoria poética sobre topografias concretas. As minhas imagens concentram-se numa relação paradoxal entre dois mundos. A força destas imagens vem do diálogo silencioso que se estabelece entre um fenómeno humano dramático e um mito romântico. Na minha obra, paisagens frágeis representam dramas culturais. E.M.
Edgar Martins
Aeroporto de Lisboa: XXXXX (da série “Aproximações”), 2006 Fotografia cromogénica, 98x114 cm Cortesia Galeria Graça Brandão, Porto e Lisboa, Portugal
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Approches: photographies d’aéroports portugais 2006
Un moment de rencontre avec le quotidien, mon travail vise à attirer l’attention sur le fait que tout est fluctuant, toutes les limites sont provisoires, tout espace est perméable. C’est le cadre de la dislocation spatio-temporelle. Dans mon travail, l’artiste opère dans un paysage d’incertitude, un paysage culturel marqué par le flux, la transition et l’opposition permanents. Les espaces sont dotés d’une intention, tout en étant marginaux, fragmentés et dispersés. Dans le poids délicat de ces paysages, la perception humaine semble entrer dans un registre différent. C’est comme si tout exprimait la contingence, comme si l’espace et le temps étaient en ébullition et sur le point de se disperser. Dans mes images, l’espace ne peut être essentialisé de manière absolue. Il est fluide, relationnel et migratoire. Il fait appel à une conception plus hétérogène. Des sociétés rurales aux sociétés urbaines, des économies locales aux économies nationales, des réseaux internationaux aux réseaux mondialisés, les relations sociales et intellectuelles d’une entité spatiale donnée, quelle qu’elle soit, sont intrinsèquement dépendantes de la manière dont les gens vivent et interagissent avec l’environnement qui les entoure. Mon travail rend compte de la manière dont on a forcé différents espaces à se plier à des idéaux urbains et artistiques, à travers l’adoption des codes et du langage que cet idéal produit. Parfois, mon travail semble poser la question de savoir si l’espace en tant que totalité échappe à la perception
Edgar Martins née à Évora, 1977 Portugais de naissance, Edgar Martins a grandi à Macao, en Chine, où il a publié son premier roman intitulé «Mãe, deixa-me fazer o pino». En 1996, il déménage au RU où il obtint plus tard une Licence en photographie au London Institute (connu comme l’Université des Beaux-arts de Londres) et ensuite une maîtrise de Photographie et de Beaux- arts au Royal College of Art. Il a beaucoup exposé en Asie et en Europe et a reçu de nombreuses récompenses pour son œuvre littéraire et photographique. Sa première monographie, intitulée ‘Black Holes & Other Inconsistencies’, a été distinguée par un prix: le Thames & Hudson and RCA Society Book Art Prize. Une sélection d’images de ce projet a également reçu le Jerwood Photography Prize en 2003. Martins est considéré par les critiques d’art et les médias du RU comme l’un des artistes les plus influents de sa génération parmi ceux qui utilisent la photographie (defocused.net). Edgar Martins vit et travaille au Royaume -Unit.
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de l’individu, si notre expérience d’un lieu, dans son ensemble, est devenue un forum naissant d’expériences et d’expressions perturbatrices; si le mouvement de l’information et des gens et la marchandisation des formes culturelles définissent une entité unique de conscience fluctuante et fausse. À d’autres moments toutefois, il suggère simplement que nous ne sommes plus uniquement de passage. Mon travail est un voyage de reconnaissance: la ville et, dans un sens plus large, l’espace en tant qu’objet de compréhension sont changeants et l’on doit par conséquent trouver un nouveau langage critique et un nouveau système de connaissances à partir duquel faire dériver notre glossaire de la vie. Il y a dans mon travail une ambivalence permanente entre l’échec poétique et la promesse d’un succès. E.M.
Edgar Martins
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The filmweek
MIGRATORY PHENOMENA IN RECENT PORTUGUESE DOCUMENTARIES by Nuno Sena, Director of the Indielisboa – International Independent Film Festival
A semana de filmes
FENÓMENOS MIGRATÓRIOS NO RECENTE DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS
por Nuno Sena, Director do Indielisboa – Festival Internacional de Cinema Independente
la semaine du cinéma
LES PHÉNOMÈNES MIGRATOIRES DANS LE FILM DOCUMENTAIRE PORTUGAIS RÉCENT
par Nuno Sena, Directeur du Indielisboa – Festival International du Film Indépendent
In seven films, this programme tries to demonstrate how the change from one migratory paradigm to another has been the main theme in the recent work of Portuguese documentary film makers (both in Portugal and abroad). We encounter the difficult memories of Portuguese immigration in France portrayed in A Fotografia Rasgada (The Torn Photograph) and O País aonde nunca se Regressa (The Country of No Return), as well as the multinational kaleidoscope of immigrants in the Portuguese capital today, as featured in Lisboetas (Lisboners) and À Espera da Europa (Waiting for Europe). Along the way, we also see how the old historical migratory flux between Portugal and the rest of the world has led to unexpected and profound intercultural exchanges, from the legacy of the Portuguese presence in Goa, revisited in Pátria Incerta (Homeland Uncertain), to the vitality of the current mix of African and Brazilian sounds in Lisbon’s urban music with Lusofonia, a (R) Evolução (Lusophony, the (R)Evolution). Bien Mélanger moves between different themes to portray the dilution of national identities (particularly Portuguese identity) in a context of growing “worldliness” and intense migratory movement.
Em sete obras, este programa pretende dar a ver como a passagem de um paradigma migratório a outro tem sido tema privilegiado na mais recente produção de documentário feita por autores portugueses (sintomaticamente, alguns a viver em Portugal e outros no estrangeiro). Das difíceis memórias da emigração portuguesa em França retratadas em A Fotografia Rasgada e O País Aonde Nunca se Regressa até ao caleidoscópio multinacional dos imigrantes na capital portuguesa na actualidade que se revela em Lisboetas e em À Espera da Europa. De caminho, dá-se a ver igualmente o modo como os antigos fluxos migratórios entre Portugal e o Mundo permitiram inesperadas e profundas trocas interculturais, do legado da presença portuguesa em Goa revisitado em Pátria Incerta até à vitalidade da actual mestiçagem da música urbana de Lisboa com as sonoridades africanas e brasileiras em Lusofonia, a ( R)Evolução. Entre um e outro tema, a diluição das identidades nacionais (nomeadamente da portuguesa) num contexto de crescente mundialização e de mais intensos fluxos migratórios é o cerne de Bien Mélanger.
En sept films, cette manifestation tente de démontrer comment le changement d’un paradigme migratoire à un autre constitue le thème principal de l’œuvre récente des réalisateurs portugais de films documentaires, tant au Portugal qu’à l’étranger. Avec A fotografia rasgada (La photo déchirée) et O País aonde nunca se regressa (Le pays du non-retour), le spectateur découvre la mémoire, difficile, de l’immigration portugaise en France; avec Lisboetas (Lisboètes) et À Espera da Europa (En attendant l’Europe), il se familiarise avec le kaléidoscope multinational des immigrants dans la capitale portugaise d’aujourd’hui. Chemin faisant, nous comprenons également comment, à travers l’histoire, le flux migratoire traditionnel entre le Portugal et le reste du monde a conduit à des échanges interculturels inattendus et profondément enracinés, qu’il s’agisse de l’héritage de la présence portugaise à Goa dans Pátria Incerta (Patrie incertaine) ou de la vitalité du mélange actuel des sons africains et brésiliens dans la musique urbaine de Lisbonne avec Lusofonia, a (R ) Evolução (Lusophonie, une (R ) Évolution). Le film intitulé Bien mélanger explore différents thèmes et brosse un portrait de la dilution des identités nationales (et particulièrement de l’identité portugaise) dans un contexte de mondialisation croissante et d’intensification des mouvements migratoires.
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Lisboetas (Lisboners) Portugal, 2004-2005, 100’, Prod. Faux
A documentary about the wave of immigration that has changed Portugal in recent years. This is a portrait of a unique moment, where the country and the city begin a process of irreversible change. The film is a secret window on new realities: ways of life, the job market, rights, religious cults, and identities. This is trip to an unknown city, to places where we have never been and ones that are right here.
Sérgio Tréfaut Sérgio Tréfaut was born in Brazil in 1965, son of a Portuguese father and French mother. After a Master’s at the Sorbonne and two years as a journalist, he decided to dedicate himself to directing and film production. His most important works as a director are the documentaries Outro País (Another Country, 1999), Fleurette (2002) and Lisboetas (Lisboners, 2004-2005), all shown at a large number of film festivals and winners of various awards.
Lisboetas Portugal, 2004-2005, 100’, Prod. Faux Um documentário sobre a vaga de imigração que nos últimos anos mudou Portugal. É o retrato de um momento único em que o país e a cidade entraram num processo de transformação irreversível. O filme é uma janela secreta sobre novas realidades: modos de vida, mercado de trabalho, direitos, cultos religiosos, identidades. É uma viagem a uma cidade desconhecida, a lugares onde nunca fomos e que estão aqui.
Sérgio Tréfaut Sérgio Tréfaut nasceu em 1965 no Brasil, filho de pai português e de mãe francesa. Após o mestrado de filosofia na Sorbonne e uma experiência de dois anos como jornalista, passou a dedicar-se exclusivamente à produção e à realização de filmes. Os seus principais trabalhos como realizador são os documentários Outro País (1999), Fleurette (2002) e Lisboetas (20042005), todos eles exibidos em inúmeros festivais internacionais de cinema e objecto de várias distinções.
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Lisboetas (Lisbonnais), Portugal, 2004-2005, 100’, Prod. Faux Un documentaire sur la vague d’immigration qui a changé le Portugal ces dernières années. C’est un instantané d’un moment unique, celui du début d’un changement irréversible pour le pays et la ville de Lisbonne. Le film ouvre une fenêtre secrète sur les nouvelles réalités: modes de vie, marché du travail, droits, cultes religieux et identités. C’est un voyage au cœur d’une cité inconnue, d’endroits où ne sommes jamais allés mais qui sont pourtant tout près.
Sérgio Tréfaut Sérgio Tréfaut est né au Brésil en 1965, d’un père portugais et d’une mère française. Après un master à la Sorbonne et deux ans de journalisme, il décide de se consacrer à la réalisation et à la production de films. Ces travaux les plus importants en tant que réalisateur sont les documentaires Outro País (Autre pays, 1999), Fleurette (2002) et Lisboetas (Lisbonnais, 2004-2005), tous présentés dans un grand nombre de festivals et plusieurs fois primés.
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A Fotografia Rasgada (The Torn Photograph) France, 2001, 52’, Prod. La Huit Production At the beginning of the 60’s thousands of Portuguese arrive illegally in France. It is the “Leap”, the leap into the unknown, illegal immigration to flee Salazar’s Portugal. Acts of resistance and disobedience, where some would leave their life behind. Sometimes, the police would fire on them as if they were prisoners in flight. Odysseys lost in the memory and found in this unique document.
O País Aonde Nunca se Regressa (The Country of No Return), France, 2006, 52’, Prod. La Huit Production To leave, to become someone, to return, this is the dream of any immigrant. But over time, this dream is diluted into a new way of life. Until the day of return arrives. If indeed it does arrive. Then, a second break is made, one of readjusting to one’s own country, now a different country, transformed and not the one that was originally left behind.
José Vieira Born in Portugal, José Vieira emigrated with his parents to France in the 60’s when he was a child. Since 1985, José Vieira has directed around 30 documentaries for television, particularly for the French channels France 2, France 3 and ARTE. Many of these documentaries focussed on a study of his family and other Portuguese emigrants. He made the DVD Les Gens du Salto, which brings together seven films that trace the history of illegal Portuguese immigration in France. He has never lived in Portugal since his departure, while his father’s return in the early 80’s was the subject of his films A Fotografia Rasgada (The Torn Photograph, 2001) and O País Aonde Nunca se Regressa (The Country of No Return, 2006).
A Fotografia Rasgada França, 2001, 52’, Prod. La Huit Production No início dos anos 60, milhares de portugueses chegam clandestinamente a França. É o “Salto”, o salto para o desconhecido, a imigração clandestina para fugir ao Portugal de Salazar. Actos de resistência e desobediência onde alguns deixaram a vida. Por vezes, a polícia atirava sobre eles como prisioneiros em fuga. Odisseias perdidas nas memórias e recolhidas neste documento único.
O País Aonde Nunca se Regressa França, 2006, 52’, Prod. La Huit Production
Partir, tornar-se, regressar, eis o sonho de qualquer emigrante. Mas com o tempo, esse sonho dilui-se num novo modo de vida. Até que o dia do regresso chega, se chegar. Então, uma segunda ruptura é criada. A da readaptação ao país de origem, agora diferente, transformado e que já não é igual ao que se deixou.
José Vieira Nasceu em Portugal, tendo emigrado em criança com os pais para França nos anos 60. Desde 1985, José Vieira realizou uma trintena de documentários para televisão, nomeadamente para os canais franceses France 2, France 3 e ARTE. Vários desses documentários foram dedicados ao estudo da história da sua família e à dos outros emigrantes portugueses. Editou em DVD Les Gens du Salto, o qual reúne sete filmes que traçam a história da emigração clandestina portuguesa para França. Nunca mais voltou a viver em Portugal, enquanto o seu pai regressou no princípio dos anos 80, tema que o ocupou nos seus filmes A Fotografia Rasgada (2001) e O País Aonde Nunca se Regressa (2006).
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A Fotografia Rasgada (La Photo Déchirée) France, 2001, 52’ , Prod. La Huit Production Au début des années 60, des milliers d’immigrants portugais arrivent en France illégalement. C’est le «saut», le saut dans l’inconnu pour fuir le Portugal de Salazar. Des actes de résistance et d’insoumission, qui coûteront la vie à certains. Parfois, la police les abattait lorsqu’elle les appréhendait dans leur fuite. Autant d’odyssées oubliées et redécouvertes dans ce document unique.
O País Aonde Nunca se Regressa (Le Pays du non-retour), France, 2006, 52’, Prod. La Huit Production Le départ pour devenir quelqu’un, et revenir ensuite au pays, tel est le rêve de tout immigré. Mais au fil du temps, ce rêve s’estompe dans un nouveau mode de vie. Jusqu’à ce que le jour du retour arrive, si tant est qu’il arrive. C’est alors que se produit un second déchirement avec la nécessité de se réadapter à son propre pays, désormais différent, qui s’est transformé et n’est plus celui que l’on avait laissé derrière soi.
José Vieira Née au Portugal, José Vieira a émigré avec ses parents en France dans les années 60 alors qu’il était encore enfant. Depuis 1985, José Vieira a réalisé près de 30 documentaires pour la télévision, notamment pour les chaînes françaises France 2, France 3 et ARTE. Nombre de ses documentaires étudient sa famille et celles d’autres immigrés portugais. Son DVD Les Gens du Salto est une compilation de sept films qui retracent l’histoire de l’immigration clandestine portugaise en France. José Vieira n’est jamais retourné vivre au Portugal depuis son départ. Le retour de son père au pays au début des années 80 est le sujet des films A Fotografia Rasgada (La photographie déchirée, 2001) et O País Aonde Nunca se Regressa (Le pays où l’on ne revient jamais, 2006).
A Fotografia Rasgada, 2001
O PaĂs Aonde Nunca se Regressa, 2006
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À Espera da Europa (Waiting for Europe) Portugal, 2006, 58’, Prod. C.R.I.M. Produções The young Vania of À Espera da Europa came from Bulgaria to live in Portugal, in search of independence and to achieve her dream of a better life. She experiences fear and hope while trying to find the answers to the big questions in her life. When she begins a new life in Spain she is suddenly aware of her isolation and the fact that she is caught up in a typical cycle of dependence. This film is about emigration from a female perspective. It’s a film about growing up and postponing real life ... while one waits for the utopias of Europe to become a reality.
Christine Reeh Born in Germany, Christine Reeh has lived in Portugal for 10 years. She studied editing and directing at Escola Superior de Teatro e Cinema in Lisbon and wrote her Master’s thesis on Aesthetics and Philosophy of Art “From the Unreality of the World to the Reality of Cinema” at Lisbon’s Faculdade de Letras. With Isabel Machado she founded the Europeu Asterisk Productions group and the company C.R.I.M. Produções Audiovisuais. As a director she has concentrated on documentaries with strong characters that she uses as actors, restaging reality, working with light, shots and camera movement in a planned way. Her film Exile won an award in 2000 at the Malaposta International Meeting for Documentary Film. Other films: Paraíso em Lugar Nenhum (Paradise Nowhere, 2001); Requiem para a Minha Mãe (Requiem for my Mother, 2002); Outros Sonhos (Other Dreams, 2003), Olhar por Dentro (Looking Inward, 2003), Fragmentos de um Tempo Lento (Fragments of a Slow Time, 2003), No Fio dos Limites (At the Edge, 2003), Mundo Silencioso (Silent World, 2003), À Espera da Europa (Waiting for Europe, 2006).
À Espera da Europa Portugal, 2006, 58’, Prod. C.R.I.M. Produções A jovem Vânia que protagoniza À Espera da Europa veio da Bulgária para viver em Portugal à procura da sua independência e de realizar o sonho de uma vida melhor. Passa por medos e esperanças, enquanto tenta encontrar respostas para as grandes decisões da vida. Quando começa a viver em Espanha apercebe-se de repente do seu isolamento e que se encontra num ciclo típico de dependência. Este filme é sobre a emigração de uma perspectiva feminina. É sobre crescer e adiar a vida... enquanto se espera que um dia as utopias da Europa se realizem.
Christine Reeh Nasceu na Alemanha e vive em Portugal há dez anos. Estudou montagem e realização na Escola Superior de Teatro e Cinema em Lisboa e terminou a tese de mestrado em Estética e Filosofia da Arte “Da Irrealidade do Mundo à Realidade do Cinema” na Faculdade de Letras de Lisboa. Funda com Isabel Machado o agrupamento Europeu Asterisk Productions e a empresa C.R.I.M. Produções Audiovisuais. Como realizadora aposta em documentários com personagens fortes, que pretende tratar como actores, reencenando a realidade, trabalhando com luzes, enquadramentos e movimentos de câmara planificados. O seu filme Exile foi premiado em 2000 nos Encontros Internacionais de Cinema Documental da Malaposta. Outros filmes: Paraíso em Lugar Nenhum (2001); Requiem para a Minha Mãe (2002); Outros Sonhos (2003), Olhar por Dentro (2003), Fragmentos de um Tempo Lento (2003), No Fio dos Limites (2003), Mundo Silencioso (2003), À Espera da Europa (2006).
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À Espera da Europa (An attendant l’Europe) Portugal, 2006, 58’, Prod. C.R.I.M. Produções La jeune Vania de À Espera da Europa a quitté la Bulgarie pour venir vivre et travailler au Portugal, en quête d’indépendance et dans l’espoir de réaliser son rêve d’une vie meilleure. Elle connaît la peur et l’espoir tout en cherchant des réponses aux grandes questions de sa vie. Lorsqu’elle commence une nouvelle vie en Espagne, elle se rend soudain compte de son isolement et du fait qu’elle est prise dans un cycle typique de dépendance. Ce film aborde l’immigration dans une perspective féminine. Le thème pourrait en être: «grandir et remettre à demain le moment d’entrer dans le vie réelle... en attendant que les utopies de l’Europe deviennent réalité.
Christine Reeh Née en Allemagne, Christine Reeh a vécu au Portugal pendant 10 ans. Elle a étudié l’écriture et la réalisation à l’École supérieure de théâtre et de cinéma à Lisbonne et a écrit un mémoire de master (Faculté de lettres de Lisbonne) sur l’esthétique et la philosophie de l’art intitulé: «De l’irréalité du monde à la réalité du cinéma». Avec Isabel Machado, elle a fondé le groupe de production Europeu Asterisk Productions group et la société C.R.I.M. Produções Audiovisuais. En tant que réalisatrice, elle s’est concentrée sur des documentaires mettant en scène des personnages forts, qu’elle utilise comme des acteurs, refaçonnant la réalité, jouant avec la lumière, les plans, les prises de vue et une caméra en mouvement avec une préparation préalable. Son film Exile a été primé en 2000 à la Rencontre internationale du film documentaire de Malaposta. Ses autres films: Paraíso em Lugar Nenhum (Paradis Nulle Part, 2001); Requiem para a Minha Mãe (Requiem Pour ma Mère, 2002); Outros Sonhos (Autres Rêves, 2003), Olhar por Dentro (Regarder à l’Intérieur, 2003), Fragmentos de um Tempo Lento (Fragments d’un Temps Lent, 2003), No Fio dos Limites (Sur le Fil, 2003), Mundo Silencioso (Monde Silencieux, 2003), À Espera da Europa (En Attendant l’Europe, 2006).
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Pátria Incerta (Homeland Uncertain) Portugal, 2006, 52’, Prod. Filmes do Tejo II Pátria Incerta looks at an aspect of colonisation that no one speaks of: the talent that the colonised people demonstrate when producing their own civilisational construction. For 450 years Goa was part of the Portuguese colonial empire, detached from the rest of India. For the first 60 years of occupation, half of the population (very cultured, very structured, very Hindu) was forced to convert to Catholicism. Just like the Goan humid climate makes wounds difficult to heal, the past seems destined to be much the same. The memory of Portuguese culture survives in Goa and is seen in the vitality of the ever-strong and omnipresent Hindu culture - even in the Goan Catholics, descendents of the converted Hindus.
Inês Gonçalves and Vasco Pimentel Born in 1964 in Málaga (Spain), Inês Gonçalves lives in Lisbon. She has worked in the press since 1986 and started work as a photographer on the O Independente weekly in 1988. Her work has been shown in solo exhibitions in Madrid, Paris, Lisbon, Coimbra, Idanha-a-Nova, Toulouse and Cabo Verde, and has been published in books such as Fotografias de Moda (Fashion Photographs, 1995), Obras do Metro (Underground Works, 1996), Cabo Verde (1999), Goa: História de um Encontro (Goa: Story of a Meeting, 2001) and Imagens Médicas (Medical Pictures, 2001). Outros Bairros (Other Neighbourhoods, 2000), a documentary co-directed with Vasco Pimentel and Kiluange Liberdade, was shown at a number of film festivals. She directed the short film Inácio (2004) when attending the Varan Studios’ Documentary Film Directors’ course, which was part of the Gulbenkian Artistic Creativity and Creation programme in 2004. Pátria Incerta (Uncertain Homeland) is the second film she has co-directed with Vasco Pimentel.
Born in Lisbon in 1957, Vasco Pimentel did his training at Escola Superior de Teatro and Cinema do Conservatório Nacional. From 1979 onwards he has been an assistant, sound director, has worked in mixing, picture and sound editing in more than 100 Portuguese and foreign feature-length films, such as those of João César Monteiro, Teresa Villaverde, Werner Schroetter and Robert Kramer. In 2000, he made his directing debut with Outros Bairros (Other Neighbourhoods), a documentary made with Kiluange Liberdade and Inês Gonçalves, the latter co-directing the feature-length documentary Pátria Incerta (Uncertain Homeland) with him.
Pátria Incerta Portugal, 2006, 52’, Prod. Filmes do Tejo II Pátria Incerta olha para um aspecto da colonização de que nunca ninguém fala: o génio que o povo colonizado revela ao produzir uma síntese civilizacional própria. Durante 450 anos, Goa fez parte do império colonial português, de costas voltadas para o resto da Índia. Nos primeiros 60 anos da ocupação, metade da população (intensamente culta, intensamente estruturada, intensamente hindu) foi forçada a converter-se à religião católica. Tal como o clima húmido de Goa dificulta o sarar das feridas, também o passado parece não conseguir cicatrizar. A memória da cultura portuguesa sobrevive em Goa e revela-se à vitalidade da cultura hindu, nunca enfraquecida, presente por toda a parte - até nos católicos goeses, descendentes de hindus convertidos.
Inês Gonçalves e Vasco Pimentel Inês Gonçalves nasceu em 1964 em Málaga (Espanha) e vive em Lisboa. Colabora na imprensa desde 1986, lançando-se como fotógrafa no semanário O Independente em 1988. O seu trabalho foi apresentado em exposições individuais e colectivas em Madrid, Paris, Lisboa, Coimbra, Idanhaa-Nova, Toulouse e Cabo Verde, tendo sido publicado em livros como Fotografias de Moda (1995), Obras do Metro (1996), Cabo Verde (1999), Goa: História de um Encontro e Imagens Médicas (2001). Outros Bairros (2000), documentário co-realizado com Vasco Pimentel e Kiluange Liberdade, foi apresentado em inúmeros festivais de cinema. Realizou a curta metragem Inácio (2004) no âmbito do curso de Realização de Cinema Documental dos Ateliers Varan do programa Gulbenkian de Criatividade e Criação Artística de 2004. Pátria Incerta é o seu segundo filme em co-realização com Vasco Pimentel.
Vasco Pimentel nasceu em 1957 em Lisboa. Formado na Escola Superior de Teatro e Cinema do Conservatório Nacional, desenvolve a partir de 1979 actividade ininterrupta como assistente, director de som, misturador, montador de imagem e de som em mais de cem longas metragens portuguesas e estrangeiras, entre as quais se destacam filmes de João César Monteiro, Teresa Villaverde, Werner Schroetter e Robert Kramer. Em 2000, estreia-se como realizador em Outros Bairros, obra documental que assina com Kiluange Liberdade e Inês Gonçalves. Com esta última, voltou a dividir a realização na sua segunda longa metragem documental Pátria Incerta.
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Pátria Incerta (Patrie Incertaine) Portugal, 2006, 52’, Prod. Filmes do Tejo II Pátria Incerta aborde un aspect de la colonisation dont personne ne parle: le talent des colonisés pour produire leur propre substrat civilisationnel. Pendant 450 ans, Goa a fait partie de l’empire colonial portugais, détaché du reste de l’Inde. Au cours des 60 premières années d’occupation, la moitié de la population (très cultivée, très structurée, très hindoue) a été obligée de se convertir au catholicisme. Le climat humide de Goa rend difficile la guérison des blessures et il semblerait qu’il en soit allé de même pour ce qui est d’effacer le passé. La mémoire de la culture portugaise survit à Goa et ressort de la vitalité de la culture hindoue si solide et omniprésente, même chez les catholiques, descendants des hindous convertis.
Inês Gonçalves et Vasco Pimentel Née en 1964 à Malaga (Espagne), Inês Gonçalves vit à Lisbonne. Elle a travaillé dans la presse jusqu’en 1986. En 1988, elle a commencé à travailler comme photographe pour l’hebdomadaire O Independente. Ses travaux ont été exposés dans des expositions individuelles à Madrid, Paris, Lisbonne, Coimbra, Idanha-a-Nova, Toulouse et au Cap Vert, et ont été publiés dans des livres: Fotografias de Moda (Photographies de Mode, 1995), Obras do Metro (Travaux du Métro, 1996), Cap vert (1999), Goa: História de um encontro (Goa: histoire d’une rencontre, 2001) et Imagens Médicas (Images Médicales, 2001). Outros Bairros (Autres Quartiers, 2000), un documentaire coréalisé avec Vasco Pimentel et Kiluange Liberdade, qui a été présenté dans plusieurs festivals de films. Elle a réalisé le courtmétrage Inácio (2004) tout en suivant la formation de réalisation de documentaires des studios Varan, qui faisait partie du programme 2004 sur la créativité artistique et la création de la Fondation Gulbenkian. Pátria Incerta (Patrie Incertaine) est le second film qu’elle a coréalisé avec Vasco Pimentel.
Né à Lisbonne en 1957, Vasco Pimentel est diplômé de l’École supérieure de théâtre et de cinéma du Conservatoire national. Depuis 1979, il a travaillé comme assistant et ingénieur du son - dans le mixage et le montage de son et d’images – pour plus d’une centaine de long-métrages portugais et étrangers, y compris plusieurs de João César Monteiro, Teresa Villaverde, Werner Schroetter et Robert Kramer. En 2000, il fait ses débuts comme réalisateur avec Outros Bairros (Autres Quartiers), un documentaire qu’il a coréalisé avec Kiluange Liberdade et Inês Gonçalves. Il a fait à nouveau équipe avec Inês Gonçalves pour réaliser un documentaire long-métrage Pátria Incerta (Patrie Incertaine).
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Lusofonia, a (R) Evolução (Lusophony, the (R)Evolution) Portugal, 2006, 60’, Prod. Red Bull Music Academy Portugal is seeing the emergence of a generation of musicians, producers and DJs that, sensitive to the aesthetic and technological mutations of music, are regaining the distinctive heritage of a Portuguesespeaking culture that they are part of. This musical movement is five centuries of history and through it Lisbon emerges as a forum for musical mixtures that grasp this legacy with both hands: Cape-Verdean beats with jazz, Angolan Kuduro with hip-hop, reggae and crioulo. Lusofonia, A ®Evolução is a look at a moment of creative fervour in the life of Portuguese music.
Red Bull Music Academy Created in Berlin in 1998, the Red Bull Music Academy brings together DJs and music producers from diverse musical and cultural backgrounds to exchange their ideas about music and their knowledge of how life in the music industry works. From then on the Red Bull Music Academy has been regularly organizing workshops in different countries all over the world open to students and professionals from the music scene.
Lusofonia, a (R) Evolução Portugal, 2006, 60’, Prod. Red Bull Music Academy Está a afirmar-se em Portugal uma geração de músicos, produtores e DJs que, atentos às mutações estéticas e tecnológicas na música, reivindicam o traço distintivo herdado da cultura lusófona de que fazem parte. Este movimento musical resume cinco séculos de história e através dele Lisboa afirma-se com um palco de misturas de elementos musicais que pegam na herança lusófona: ritmos de coladeras juntos a jazz, beats de kuduro com hip hop, reggae e crioulo. Lusofonia, A (R )Evolução é um olhar sobre um momento de fervor criativo na vida da música em Portugal.
Red Bull Music Academy O projecto Red Bull Music Academy foi criado em Berlim em 1998 com o intuito de reunir DJ’s e produtores de música provenientes de diferentes contextos musicais e culturais para uma intensiva troca de experiências e de ideias. Desde então a Red Bull Music Academy tem realizado periodicamente workshops em vários países com a participação de estudantes e profissionais da cena musical.
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Lusofonia, a (R) Evolução (Lusophonie, la ( R)Evolution) Portugal, 2006, 60’, Prod. Red Bull Music Academy On assiste aujourd’hui au Portugal à l’émergence d’une nouvelle génération de musiciens, producteurs et DJs qui, sensibles aux mutations esthétiques et technologiques de la musique, sont en train de redécouvrir l’héritage caractéristique de la culture orale portugaise dont ils font partie. Ce mouvement musical s’inspire de cinq siècles d’histoire, et via Lisbonne, se développe en tant que forum de métissages musicaux qui puisent dans cet héritage à deux mains: rythmes capverdiens mélangés à du jazz, Kuduro angolais se mariant au hip-hop, reggae et crioulo. Lusofonia, A ( R ) Evolução rend compte d’un moment de fièvre créatrice dans la musique portugaise actuelle.
Red Bull Music Academy
Le projet Red Bull Music Academy a été créé à Berlin en 1998 dans le but de réunir des DJ’s et producteurs de musique originaires d’horizons musicaux et culturels divers pour un échange intensif d’expériences et d’idées. Le Red Bull Music Academy a depuis lors régulièrement organisé dans différents pays des ateliers ouverts aux étudiants et professionnels de la scène musicale.
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Bien Mélanger, Canada, 2006, 75’, Prod. Locomotion Films Directed by a Canadian of Portuguese parentage, Bien Mélanger is a documentary about identity through the eyes of the young children of immigrants, particularly those in the Portuguese community in Canada, and deals with issues of globalisation and tourism. The film also includes statements from globalisation experts, such as Anthony Giddens and Pico Iyer.
Nicolas Fonseca Born in Montreal in 1977, son of Portuguese parents that emigrated to Canada in 1975. Nicolas Fonseca is currently completing a Master’s at Montreal University after completing a Bachelor’s degree in Communication Studies at Concordia University. He is the director of Locomotion Films, which has been the vehicle that helped him produce a number of short films and the documentary Bien Mélanger.
Bien Mélanger, Canadá, 2006, 75’, Prod. Locomotion Films
Bien Mélanger, realizado por um canadiano lusodescendente, é um documentário sobre a identidade através da perspectiva de jovens filhos de emigrantes, designadamente os pertencentes à comunidade portuguesa no Canadá, sobre questões como a mundialização e o turismo. O filme conta ainda com os depoimentos de vários estudiosos da globalização, entre os quais encontramos Anthony Giddens e Pico Iyer.
Nicolas Fonseca Nasceu em Montreal em 1977, filho de pais portugueses que emigraram para o Canadá em 1975. Nicolas Fonseca está actualmente a finalizar um mestrado na Universidade de Montreal e já completou um bacharelato em Estudos da Comunicação na Universidade Concordia. É o director da empresa Locomotion Films, com a qual já produziu diversas curtas metragens e o documentário Bien Mélanger.
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Bien Mélanger, Canada, 2006, 75’, Prod. Locomotion Films Réalisé par un Canadian d’origine portugaise, Bien Mélanger est un documentaire sur l’identité vue à travers le regard de jeunes enfants d’immigrés, en particulier de la communauté portugaise installée au Canada, qui traite de questions telles que la mondialisation et le tourisme. Le film intègre également des déclarations d’experts en mondialisation tels qu’Anthony Giddens et Pico Iyer.
Nicolas Fonseca Née à Montréal en 1977, de parents portugais qui ont émigré au Canada en 1975, Nicolas Fonseca est actuellement en train de terminer un Master à l’Université de Montréal. Il a une licence en communication de l’Université Concordia. Il dirige Locomotion Films, qui a permis de produire plusieurs court-métrages, et le documentaire Bien Mélanger.
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This publication appears in connection with the exhibition and film week whatNEXT? PORTUGAL | «Between Departures and Arrivals», which was held at the European Economic and Social Committee in Brussels from 03.10.2007 to 11.12.2007. The film week was presented at the Commission’s Berlaymont cinema from 15 – 19 October 2007. The project was an initiative of Institute Camões in partnership with the European Economic and Social Committee, the European Commission (Cabinet Ferrero-Waldner) and the Permanent Representation of Portugal to the EU, during the Portuguese Presidency of the European Council. The European Economic and Social Committee (EESC) is a consultative body which advises the European Union’s three major institutions – the European Parliament, the Council of the European Union and the European Commission. The EESC acts as a bridge between the European Union and organised civil society through its 344 members who belong to socioeconomic, professional and civic society organisations in their home countries.
Esta publicação surge ligada à exposição e à semana de cinema “whatNEXT? PORTUGAL | Entre partidas e chegadas”. A exposição decorreu no Comité Económico e Social Europeu, em Bruxelas de 3 de Outubro a 11 de Dezembro de 2007. A semana de cinema teve lugar no cinema Berlaymont da Comissão Europeia de 15 a 19 de Outubro de 2007. O projecto foi uma iniciativa do Instituto Camões em parceria com o Comité Económico e Social Europeu, a Comissão Europeia (gabinete da comissária Benita Ferrero-Waldner) e a Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia, durante a Presidência Portuguesa do Conselho Europeu. O Comité Económico e Social Europeu (CESE) é um órgão consultivo das três principais instituições da União Europeia – o Parlamento Europeu, o Conselho e a Comissão Europeia. O CESE funciona como ponte entre a União Europeia e a sociedade civil organizada através dos seus 344 membros que pertencem a organizações socioeconómicas, profissionais e da sociedade civil nos respectivos países.
Cette publication paraît à l’occasion de la semaine d’expositions et de projections de films whatNEXT?» - Portugal «Entre départs et arrivées», qui s’est déroulée au Comité Économique et Social Européen à Bruxelles, du 03.10.2007 au 11.12.2007. La semaine du film a été présentée au cinéma de la Commission, au Berlaymont, du 15 au 19 octobre 2007. L’Institut Camões est à l’origine du projet, mené en collaboration avec le Comité Économique et Social Européen, la Commission (Cabinet Ferrero-Waldner) et la Représentation permanente du Portugal auprès de l’UE pendant la présidence portugaise du Conseil européen. Le Comité Économique et Social Européen (CESE) est un organe consultatif qui conseille les trois institutions majeures de l’Union européenne – le Parlement européen, le Conseil et la Commission européenne. Le CESE sert de pont entre l’Union européenne et la société civile organisée par l’intermédiaire de ses 344 membres qui sont issus d’organisations socioéconomiques, professionnelles ou qui représentent la société civile dans leur pays.
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