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PG/3 - Simplesmente... Simone A dois passos do paraíso PG/4 -Por que a gente é assim? PG/5 - ele não era mais um cara PG/9 - Livin’ On a Prayer PG/10 - I love rock n’ roll! PG/11 - Madonna - A Rainha do Pop PG/12 - Michael Jackson- O Rei do Pop PG/13 - I want my MTV!- Music Television PG/14 - Da cabeça aos pés PG/16 - BACK TO THE PAST PG/18 - Live aid PG/20 - ROCK IN RIO - 1985
Expediente: Maria Malafaia – Coordenadora/redatora Larissa Petrini – Editora/redatora Luiza Stevanatto – Revisora/redatora Bianca Battesini – Produtora/redatora André Buarque – Redator Vitoria Ferreira – Designer Thomaz Ambrosio – Designer Rener Pinheiro – Designer
TOP 10 >> NACIONAL
Os anos 80 foram o último suspiro do século 20. A década que fez explodir a produção artística de uma geração diferente das anteriores. Uma geração que cresceu durante a ditadura militar e foi buscar, na cultura pop-rock, uma alternativa de novos pensamentos sobre o mundo.
1- Barão Vermelho 2- Blitz 3- Cazuza 4- Chitãozinho e Xororó 5- Simone 6- Kid Abelha 7- Legião Urbana 8- Lulu Santos 9- RPM 10- Sidney MagaL
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EDIÇÃO 05 | NOVEMBRO 2014
Simplesmente... Simone Por Bianca Battesini
Muitos se espantam ao lembrar que Simone, a cantora que mais vendeu discos nos anos 80, cursou Educação Física com o Pelé. Porém, a artista sempre foi apaixonada por música e, depois de lesionada na profissão, resolveu seguir seus veios artísticos e entrou no mundo da música. Sua música “Começar de Novo”, além de tema de abertura de seriado, foi uma das primeiras canções feministas da música brasileira. Simone também foi a primeira a cantar “Pra não dizer que não falei das flores” após o fim da cen-
sura e, por causa de sua performance, ganhou um disco de ouro. Os anos 80, marcados pelo reconhecimento de grandes cantoras do MPB, Simone despontava como um grande nome da indústria. Seu repertório refinado lhe deu respeito, mas também o título de elitista, o que a levou à adoção de um novo repertório mais popular e configurou a fase mais obscura de sua carreira. Ainda assim, a artista era uma das poucas que ainda participavam de programas especiais televisivos, junto com Roberto Carlos e Cazuza.
A dois passos do paraíso Por Maria Malafaia
Em janeiro de 1982, tudo começou. No palco do Circo Voador, um espaço multicultural e democrático situado, na época, na zona sul do Rio de Janeiro, nascia a banda Blitz. Trocando os shows improvisados nos bares para virar mania no tablado do Circo, a banda começava a ganhar forma. Em julho do mesmo ano gravaram seu primeiro compacto que, de um lado, continha apenas uma música, “Você não soube me amar”, e no outro, uma voz repetia “nada, nada, nada”. Com seu estilo irreverente, bem-humorado e muito swing, a banda virou febre. O compacto vendeu 100 mil cópias em três meses e ainda em setembro lançaram seu primeiro LP “As aventuras de Blitz” que teve uma venda mais impressionante ainda. Tentaram classificar a banda como rock, mas seu estilo era único e inclassificável. Durante seus anos de ouro que foram de 1982 a 1986 a banda lançou mais três discos e fez centenas de shows pelo Brasil participando, inclusive, do Rock in Rio em 1985.
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Por que a gente é assim? Por Maria Malafaia
Para se firmar no cenário musical brasileiro eles ainda passariam por mais dois desafios. O primeiro quando tocaram com a Orquestra Sinfônica Brasileira e com o coro do Teatro Municipal diante da Praça da Apoteose completamente lotada. O rockconcerto foi considerado fenomenal. A consolidação da banda veio com a máxima aprovação do show que fizeram no Rock in Rio, em 1985.
Barão Vermelho na década de 80, ainda com Cazuza em sua formação.
Em 1981 nascia da vontade de tocar rock’n roll em estado puro a banda Barão Vermelho. Inicialmente com quatro integrantes, Roberto Frejat na guitarra, Guto Goffi na bateria, Maurício Barros nos teclados e Dé Palmeira no baixo, a banda não tinha vocalista e ensaiava na casa dos pais de seu tecladista. Só no ano seguinte, ao enxergar em Cazuza a peça que faltava, o Barão Vermelho estaria completo. Logo gravariam seu primeiro LP, que recebeu o próprio nome da banda, tendo como uma das principais faixas “Ponto Fraco”, “Todo Amor Que Houver Nessa Vida” e “Billy Negão”. Depois de alguns shows, o som do rock genuinamente brasileiro chamou atenção. Em 1983 lançaram o “Barão Vermelho 2”, e apesar de ter um futuro promissor, a banda não era considerada comerciável, e só depois que Ney Matogrosso gravou a música “Pro Dia Nascer Feliz”, as rádios começaram a tocar a versão original do quinteto. A repercussão foi tanta
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que em 1984 eles foram chamados para compor a trilha sonora do filme “Bete Balanço”, de Lael Rodrigues, a música de mesmo nome estava no disco “Maior Abandonado”, que alcançou o sucesso nacional vendendo mais de 100 mil cópias em apenas 6 meses e que rendeu para a banda um Disco de Ouro.
Porém, nem tudo são flores, ainda em 1985 anunciaram a saída do vocalista Cazuza que partiria em carreira solo. Durante dois anos batalharam para resgatar os bons momentos da banda. Dois discos foram lançados, mas não obtiveram grande repercussão. A banda voltou a brilhar quando nela foram integrados o guitarrista Fernando Magalhães e percussionista Peninha. Misturando rock pesado com letras românticas, o disco “Carnaval” recolocou a banda no lugar de onde nunca deveria ter saído. Ainda hoje a banda segue conquistando fãs com seus 15 discos e muito rock’n roll. Sua influência e contribuição para o cenário musical brasileiro, com ênfase no rock, são inquestionáveis.
A banda em uma de suas últimas formações.
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ele não era mais um cara
Por Bianca Battesini
Cazuza: ícone da música dos anos 80. Talento musical havia de sobra. Porém, ele tinha muito mais que isso. Cazuza mostrava seu jeito único e irreverente de ser desde antes da fama, como conta a sua história de vida. Por causa da promessa do pai, que disse que lhe presentearia com um carro caso ele passasse no vestibular, Cazuza foi aprovado em Comunicação, mas desistiu do curso após três semanas. Não muito tempo depois, começou a frequentar o Baixo Leblon, onde foi apresentado à vida boêmia, responsável por traçar seu caminho até os escritores da geração beat, os poetas malditos, que teriam grande influência em sua carreira. Foi nessa época, também, que ele cantou em um palco pela primeira vez. Começou sua carreira em parceria
com Frejat, no Barão Vermelho. A banda emplacou sucessos como “Todo Amor que Houver Nessa Vida” e “Bete Balanço”. O ano de 1985 foi determinante na vida de Cazuza. Ele decidiu abandonar o grupo e se aventurar em carreira solo, que teve cinco discos em quatro anos, shows mais bem elaborados e público cativo.
conscientização sobre a doença e seus efeitos. A maneira como se posicionou em relação à Aids fez dele um símbolo de luta e amor à vida. Em seu disco “Ideologia”, ele falou de suas experiências com a perspectiva de morte, além das questões sociais do país.
Sua inconfundível voz é considerada uma das melhores do Brasil, ao lado de Raul Seixas e Renato Russo. Cazuza também ficou conhecido por ser rebelde, boêmio e polêmico, tendo declarado em entrevistas que era bissexual.
Cazuza compareceu na cerimônia do Prêmio Sharp de cadeira de rodas, onde recebeu os prêmios de melhor canção para “Brasil” e melhor álbum para Ideologia. Seu último álbum, “Burguesia” (1989), foi gravado com o cantor numa cadeira de rodas e com a voz enfraquecida.
Em fevereiro de 1989, Cazuza declarou publicamente que era soropositivo, sendo um dos primeiros a tê-lo feito. Desse modo, colaborou para a campanha de
O poeta nos deixou em julho de 1990. Seu legado, no entanto, o mantém vivo e traz orgulho ao Brasil por, um dia, ter tido a chance de ver essa estrela brilhar no palco.
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Não temos tempo a perder
Por Maria Malafaia
Em 1982 a Legião Urbana aparecia para o mundo. A banda de Brasília se apresentou pela primeira vez no dia 5 de setembro na cidade mineira Pato de Minas, durante o festival Rock no Parque. Foi a primeira e única vez que a formação inicial da banda tocou junto. Depois da apresentação, o tecladista, Paulo Paulista, e o guitarrista, Eduardo Paraná, deixaram a Legião. Em março de 1983, a banda passou a ser composta por três integrantes, Renato Russo, vocalista e baixista, Marcelo Bonfá, baterista, e Dado Villa-Lobos, novo guitarrista. Através da indicação de Herbert Viana e Bi Ribeiro, que integravam a banda Paralamas do Sucesso, a fita demo da Legião chegou às mãos de executivos da gravadora EMI-Odeon. Não tardou e banda assinou contrato com a gravadora. Um pouco antes de gravarem o primeiro álbum, o baixista Renato Rocha passou a integrar a banda. Rapidamente as gravações começaram e o álbum “Legião Urbana” foi lançado em janeiro de 1985. Com canções de amor, mas também com letras muito politizadas que criticavam diversos aspectos da sociedade brasileira, a banda fazia uma mistura de amor e ódio, sofrimento e revolução, que era facilmente compreendida pelos jovens da época. O primeiro álbum emplacou grandes sucessos como “Será”, “Ainda é Cedo” e “Geração Coca-Cola”. No álbum seguinte, as músicas “Tempo Perdido”, “Índios”, “Metrópole” “Eduardo e Mônica” e “Quase Sem Querer” se tornaram hits e não paravam de tocar nas rádios de todo o Brasil. Mas, não saiu exatamente como a banda queria, o disco deveria ser duplo e se chamar Mitologia e Intuição, mas o projeto foi recusado pela gravadora, fazendo com que o disco saísse simples. Em seu começo é possível ouvir um pouco da canção “Será” envolto a ruídos de rádio e do hino da Internacional 6
Socialista. Apesar das mudanças e da simplicidade é o segundo álbum mais vendido com mais de 1,2 milhão de cópias, além de ser considerado um dos maiores discos de rock nacional da história. Em 1987, sai o terceiro álbum, que emplacou um improvável mega-hit de mais de nove minutos, a canção “Faroeste Caboclo”, que mesmo com toda sua complexidade é uma das mais ouvidas até hoje e virou filme em 2013. Ainda no mesmo ano Renato Rocha deixa a banda. Mas sem ter nada que os detivesse a banda seguiu seu rumo e em 1989 lançou o álbum Quatro Estações, que foi o mais vendido com mais de dois milhões de cópias só no ano do lançamento e o que mais colocou
música nas rádios nove entre as onze passaram a tocar sem parar. Tido como o álbum mais inspirador e “religioso” todos os aspectos da vida do cidadão eram rediscutidos. Juntando Camões com a filosofia de textos bíblicos e budistas, a poesia de Renato Russo chegava ao seu auge se tornava ainda mais precisa sobre os problemas do seu tempo. Desde os desgaste das relações familiares à Aids, da intolerância e dos preconceitos sexistas ao amor romântico idealizado e inatingível, a Legião Urbana encerrava os anos 80 traçando o panorama daqueles tempos e jogando luzes de esperança em tempos tão sombrios. A banda seguiu fazendo sucesso, gravou mais cinco álbuns e sempre será umas das maiores bandas que o Brasil já viu.
TOP 10 >> INTERNACIONAL
Nos anos 80 “de renda e couro”, eu era editora da área de ficção em uma companhia de publicações em Nova York. Foi uma época ótima pra ser jovem e livre nas ruas de Manhattan - o punk rock e o folk estavam em todo lugar; Blondie, Eurythmics, Cyndi Lauper e Prince estavam todos desfilando na recém criada MTV; e o estilo dos anos 80 significava que eu poderia usar minha velha jaqueta de couro no escritório sem que as pessoas ficassem ohando.”
Terri Windling
1 - Michael Jackson 2 - Madonna 3 - Phil Collins 4 - Joan Jett 5 - Menudo 6 - Paul McCartney 7 - Lionel Richie 8 - Blondie 9 - Bon Jovi 10 - Cyndi Lauper
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Livin’ On a Prayer Por Lari Petrini
O hard rock aparecia com força total na década de 80. Como um dos principais representantes, Bon Jovi surgia em 1984 com o seu álbum de estreia - época em que abria shows de bandas maiores, como Scorpions e Kiss. Mas foi com o disco Slippery When Wet, de 1986, que o grupo realmente se firmou no cenário musical (atualmente encontra-se
na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame), com as famosíssimas canções You Give Love a Bad Name e claro, Livin’ On a Prayer; essa última é um marco na história da banda - seu clipe chegou a ser o mais exibido do canal MTV, junto com Thriller. O trabalho seguinte da banda, New Jersey, veio em 1988, trazendo
outras músicas conhecidas: Bad Medicine e I’ll Be There For You são algumas delas. Esse sucesso levou o grupo a realizar grandes (e até exaustivas) turnês, que abalaram a forte amizade entre os integrantes durante a vida na estrada. Isso, porém, não foi o bastante para o término da banda, que segue ativa até hoje como uma das bandas mais bem sucedidas da história do rock. 9
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I love rock n’ roll! Por Lari Petrini Sabemos que o cenário do rock carece de representantes femininas até hoje, mas isso era uma característica mais forte ainda na década de 80 - quando conceitos sexistas eram levantados a todo o tempo. Joan Jett, ou melhor, Joan Marie Larkin veio para mudar esse cenário. Nasceu no estado americano da Pensilvânia em 1958. Sua paixão por música começou cedo; inspirada por David Bowie e Suzi Quatro, ganhou sua primeira guitarra aos 14 anos e no ano seguinte já havia abandonado a escola para seguir sua carreira. Na mesma época, juntou-se com quatro meninas e fundou a primeira banda composta somente por mulheres a ser internacionalmente conhecida: The Runaways. Seu primeiro trabalho solo foi rejeitado por 23 gravadoras; com muito esforço conquistou a criação da sua própria, a Blackhearts Records, tornando-se a primeira mulher a dirigir uma gravadora. Poderosa é pouco. Em 1981, lançou um de seus principais hits - Bad Reputation -, e no mesmo ano lançou o seu álbum junto com a banda The Blackhearts. A faixa cover I Love Rock and Roll (que também dá título ao álbum) foi mundialmente difundida. Até hoje essa canção é relembrada; pela Billboard foi considerada a 28ª maior música de todos os tempos e a mais importante dos anos 80, tornando-se um verdadeiro hino. Em 2003, Jett foi nomeada como uma das 100 maiores guitarristas de todos os tempos em uma lista na qual só ela e Joni Mitchell apareciam representando as mulheres. Parece
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que um mercado tão fechado não foi problema para Jett. Seu trabalho serviu como base para o movimento Riot Grrrl que rolaria na década seguinte, no qual as mulheres poderiam ter voz com um ideal de igualdade de gênero e usando um tom de protesto. Várias
bandas desse período se inspiraram em JJ (com as Runaways ou com os Blackhearts), como L7, Bikini Kill e Babes in Toyland. Hoje, com 56 anos e uma trajetória marcada por atitude, estilo e talento, não é exagero ouvir dizer que Joan Jett é a rainha do rock. De qualquer forma, é uma consagração merecida.
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Madonna A Rainha do Pop
Por Lari Petrini Madonna Louise Ciccone revolucionou o mundo pop e escandalizou a mídia. Simplesmente Madonna, tornou-se uma das maiores estrelas da música internacional, com o seu boom na década de 80.
Prayer, banido pelo Vaticano. A polêmica estimulou ainda mais o sucesso deste hit.
Vinda de uma família de origem italiana, nasceu em 1958. Foi convidada a estudar dança em Nova York; chegou na cidade com apenas 35 dólares no bolso e acabou trabalhando como garçonete. Com um namorado, formou a banda The Breakfast Club, onde tocava bateria. Em 1982 lançou seu primeiro single, Everybody e, no ano seguinte, lançou seu primeiro álbum.
Destacamos aqui que todos esses sucessos são só da década de 80. Sua carreira se estende por muito mais tempo, já que Madonna está até hoje na ativa. A cantora já vendeu mais de 300 milhões de discos no mundo inteiro e é reconhecida como a artista musical feminina mais bem sucedida de todos os tempos pelo Guinness World Records; além, é claro, de outros vários recordes quebrados, como os das turnês mais rentáveis, o de cantora mais bem paga, artista com mais singles #1, etc, etc etc.
Seu segundo trabalho, Like A Virgin, ocupou os primeiros lugares nas listas de vendas, em 1985. No clipe de Material Girl, a cantora imitava Marilyn Monroe e mostrou seu lado performático. Rapidamente, seu estilo começava a influenciar o público feminino e virou uma enorme tendência. Seu terceiro disco, True Blue, foi um sucesso de vendas em 1986, com os clássicos La Isla Bonita, Live To Tell, Papa Don’t Preach e Open Your Heart. Em 1989, lançou Like a
Ela é uma das poucas cantoras que são veneradas tanto pelo público quanto pela crítica especializada; seu trabalho possui um caráter liberal por tratar de temas controversos como a religião e a sexualidade, dando a ela uma visibilidade única e bastante merecida. Atualmente com 56 anos, seu posto de rainha do pop é a representação de sua carreira já consagrada, marcada por tantas reinvenções de uma artista tão original.
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Michael Jackson O Rei do Pop
Por Luiza Stevanatto Colecionador de prêmios e polêmicas, dono do álbum mais vendido de todos os tempos e conhecido mundialmente como Rei do Pop, Michael Jackson foi um cantor, compositor, dançarino e produtor. Seu estilo único e suas inovações influenciaram e influenciam artistas até os dias de hoje. Nascido na cidade de Gary, no estado de Indiana nos Estados Unidos, começou sua carreira muito cedo. Aos oito anos de idade, passou a fazer parte do grupo Jackson 5 e junto a quatro de seus irmãos fez grande sucesso com os hits “I Want You Back”, “ABC” e “I’ll Be There”, assinando em 1969 com a grande gravadora Motown. Em 1978, gravou seu primeiro álbum solo com a produção de Quincy Jones, levando Michael a ganhar seu primeiro Grammy com “Don’t Stop Til’ You Get Enough”. Nessa época, ele ainda fazia turnê com os Jackson 5, mas em 1982 iniciou de vez sua carreira solo com o lançamento do emblemático disco Thriller. Vencedor de oito Grammys, o álbum “Thriller” é um marco na história da música, vendendo aproximadamente
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65 milhões de cópias ao redor do mundo. Quebrando preconceitos e barreiras raciais, o vídeo da música que dá nome ao álbum levou Michael ao auge de sua carreira, mostrando o que ele sabia fazer de melhor: cantar, dançar e entreter. Ainda lançou mais quatro CDs: “Bad”, “Dangerous”, “HIStory” e “Invincible”, não obtendo o mesmo sucesso de “Thriller”, mas ainda assim emplacando hits como “Bad”, “Dirty Diana”, “Man in the Mirror”, “Black and White” e “Scream”. Com o sucesso, a vida pessoal do cantor acabou ofuscando sua carreira, marcada por vários escândalos. Michael sofreu maus tratos do pai na infância, foi acusado de abuso de menores e fez inúmeras plásticas, deformando completamente seu rosto. Em sua casa em Los Angeles, sofreu uma parada cardíaca no dia 25 de junho de 2009 e faleceu aos 50 anos, logo quando ensaiava um retorno com a turnê This Is It. Michael Jackson marcou gerações, deixando para a música um legado único e eterno.
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I want my MTV! Music Television Por Lari Petrini Em 1981, aparecia uma novidade nas telinhas americanas. A primeira frase foi anunciada: “Damas e cavalheiros, rock and roll”. E desde então, o canal MTV surgia como o primeiro a dedicar vinte e quatro horas de sua programação exclusivamente ao público jovem, transformando completamente a maneira de escutar e divulgar música e influenciando a geração seguinte de séries e filmes. O primeiro videoclipe exibido na MTV foi Video Killed the Radio Star, da banda The Buggles. A emissora conseguiu expandir as fronteiras musicais em um período no qual não havia a internet para cumprir esse papel. Mais do que isso, acabou por disseminar maneiras de se vestir e se comportar - criando uma chamada “MTV way of life”. Os videoclipes exibidos na emissora, principalmente durante a década de 80, focavam bastante na realeza pop - Michael Jackson e Madonna (já ouvimos falar sobre eles aqui nessa edição, né?). As superproduções musicais começaram nesse período também. A rainha sempre a ousar e brilhar (Like a prayer, lembrados?); o rei sempre a surpreender e arrebatar (Thriller, conhecem?). Muitos eventos marcaram a história do canal. Uma Muitos eventos marcaram a história do canal. Uma parte deles são os incríveis Acústicos MTV, com edições de diversos artistas. Outra atração marcante são os anuais VMA’s, desde 1984 premiando os melhores videoclipes e seus colaboradores. Cada edição guarda uma história especial. Até hoje, uma tal
de Madonna é a maior colecionadora de prêmios - 21 no total -, e o maior premiado em uma edição foi o Peter Gabriel, com o super criativo clipe da música Sledgehammer - levando 9 prêmios em uma só noite. É importante destacar que essa emissora impactou a indústria da
música de tal modo que até hoje se mantém como um dos canais mais assistidos do mundo. Como eles mesmos entoavam, “you’ll never look at music the same way again”. E assim foi feito. Com a sua disseminação, filiais foram surgindo. A filial da MTV no Brasil surgiu em 1990. Mas isso fica para a próxima edição...
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Da cabeça aos pés Por Bianca Battesini Na década de 80, surgiram vários ícones que influenciaram tanto a moda quanto o comportamento da sociedade. Toda a combinação de elementos na hora de compor o visual resultou na construção da moda única dos anos 80. Era a eufórica e extravagante época do disco, na qual a regra era ousar, ser sexy e se divertir! E quem melhor pra fazer tudo isso, se não os artistas? . Certas peças marcaram época. Atuavam não só como vestimenta, mas também para chamar atenção do público para o artista. Mas a cantora que pode ser considerada o ícone dos anos 80, é a Madonna. Ela usou e abusou das leggings, dos couros, do cabelo poodle, dos acessórios exagerados, da postura rebelde, da sensualidade – e por tudo isso, é, até hoje, a Rainha do Pop.
Quem não se lembra de Michael Jackson com sua jaqueta de couro vermelha em Thriller? Naquela época, o rei do pop não só revolucionava o mundo da música, mas alavancava a moda do couro.
E no âmbito da irreverência, Cyndi Lauper era rainha. E se houvesse coroação, melhor: sua coroa, certamente, seria extremamente brilhante e colorida, como sempre foram os seus acessórios. A cantora não economizada nos colares, nas megapulseiras e brincões, e havia cores para todos os gostos.
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Outro estilo marcante lembrado até hoje foi Axl Rose, que arrancava suspiros da mulherada, mesmo sendo um homem com cabelo grande, um tabu que foi quebrado na época. Será que era por causa da famosa bandana na cabeça?
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Não se sabia se a banda era mais importante que roupa, ou se a roupa era mais importante que a música. O visual era tudo.” Tom Leão Duas peças de roupas extravagantes que foram imortalizadas na mente de qualquer pessoa que tenha vivido ou não os anos 80: a calça boca de sino e as ombreiras. Presença garantida nas discotecas, a banda ABBA teve papel fundamental para sua disseminação de seus usos.
Quem nunca viu uma foto de algum parente que aderiu à febre que foi o corte de cabelo poodle? E não foi só a sua tia, não. Famosos como a Cher adotaram o look que marcou a década. Mas o cabelo que chamava mesmo a atenção era o da Tina Turner! O look armado foi copiado até para novela brasileira.
Uma coisa que de fato ajudava a destacar os artistas era a maquiagem colorida. E os representantes da década de 80 eram mestre na arte de criar novas estampas para o rosto. David Bowie, talvez um dos cantores de visual mais polêmico – se é que é possível alguém dos anos 80 não se encaixar nessa lista – não podia deixar de ser citado.
Mas os homens não ficaram de fora. O nome do corte era mullet, mas no Brasil, o ficou conhecido como “Chitãozinho e Xororó” e hoje, o que já foi moda, rende boas gargalhadas!
São tempos inesquecíveis que não voltam mais... Fala aí, bateu a saudade, não é? 15
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BACK TO THE PAST Por Maria Malafaia e Luiza Stevanatto
Cinema e música se completam. Quando a trilha sonora dá vida aos filmes que por sua vez personificam o que música quer passar para o mundo, não existe combinação melhor. E a década de 80 dá uma aula sobre como fazer a combinação perfeita. Filmes que eternizaram canções, músicas que moldaram grandes interpretações. Para começar filmes como Flashdance e Dirty Dancing onde a dança está em presente em todas as principais cenas. E é claro que suas trilhas sonoras maracaram a época, até porque não existe dança sem música. Em Dirty Dancing de 1987, Bill Medley e Jennifer Warnes com (I’ve Had) The Time of My Life conseguem transfomar uma simples dancinha de uma colônia de férias em um grande show. Já em Flashdance a música What a Feeling interpretada por Irene Cara embalava o sonho da protagonista de se tornar uma bailarina. O filme é um dos mais conhecidos da década, foi o
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terceiro mais assistido em 1983, ano de seu lançamento, e sua trilha sonora dava ritmo a ginástica feita em casa que virou moda entre as mulheres. Outro grande sucesso da década foi O Clube dos Cinco, onde cinco adolescentes de personalidades diferentes passam um sábado juntos na detenção. Ao serem obrigados a conviver durante algumas horas eles acabam compartilhando suas histórias e aprendem a respeitar e compreender as diferenças. A musica tema, Don’t You Forget About Me, do Simple Minds foi feita especialmente para fazer a abertura do filme, e sintetiza perfeitamente a mensagem que é passada pelos cinco adolescentes. Além disso, a grande repercussão do filme elevou a banda para outro patamar. As loucuras do clássico De volta para o Futuro ganharam ainda mais vida com a música principal da sua
trilha sonora, The Power of Love interpretada por Huey Lewis e The News. A grande repercussão do filme e da canção permitiu que a banda alcançasse pela primeira vez o topo das paradas da Billboard.
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Top Gun também nos deixou algumas boas lembranças como a música Danger Zone de Kenny Loggins que ditava o ritmo dos aviões norte-americanos. Mas o que mais deixou saudade foi a trilha romântica do filme ao som de Take My Breath Away da banda Berlin. A canção chegou ao primeiro lugar das paradas em vários países e ganhou o Grammy de melhor canção original em 1987. Ainda na década de 80 tivemos o que deve ter sido a trilha sonora mais bem sucedidade da série de filmes 007. Entre as músicas que dramatizavam as missões de James Bond, estava A View To a Kill de Duran Duran, que chegou ao primeiro lugar do Billboard nos Estados Unidos e ao segundo lugar no Reino Unido. Provavelmente, Rocky IV foi uma das grandes heranças dos anos 80. Nos deixando uma trilha sonora com músicas como Living in America de James Brown, Burning Heart e Eye of The Tiger da banda Survivor. Canções que embalavam os treinos, as lutas e a vida de Rocky Balboa. Músicas que se tornaram hinos esportivos, principalmente, Eye of The Tiger, feita em 1982 para estar no filme, ficou durante algumas semanas nas paradas de sucesso, ganhou o Grammy e é até hoje lembrada em histórias de superação e conquista no esporte.
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Live aid Quando a música uniu o mundo
Por André Buarque Nascido da mente empreendedora e criativa dos músicos Bob Geldorf e Midge Ure, o Live Aid foi o até então maior concerto beneficente da história. Reuniu em sua essência os mais famosos músicos da atualidade, que se apresentaram em dois locais diferentes ao mesmo tempo. Em Londres o show foi realiado no Wembley Stadium e contou com a presença de 72.000 pessoas, enquanto em Filadélfia, nos EUA, o show foi simultaneamente realizado no John F. Kennedy Stadium para um público presente de 100.000 pessoas. No mesmo dia, concertos envolvidos com o mesmo tema em uma conjuntura completamente beneficente foram realizados em países como Austrália e Alemanha, e o que mais alcançou o mundo não foram os presentes nos eventos, e sim os que assistiram os shows na cobertura televisiva e radiofônica do evento, a maior até então de um show na história da comunicação: estima-se que 1.9 bilhões de pessoas tenham sido a audiência global do evento, espalhadas por 150 países diferentes, todos acompanhando a transmissão ao vivo. Os fundos recolhidos no evento, além da sua publicidade e mensagem internaciona, foram direcionados para dar fim na fome que ocorria na Etiópia, uma situação alarmante que chegou aos olhos do mundo inteiro e ainda serviu para abrir em uma amplitude global a necessidade de se ajudar a África. A partir de outubro de 1984 as imagens das milhões de pessoas que passavam fome cronicamente na Etiópia, evidenciadas pelas reportagens da BBC News, organizadas pelo jornalista britânico Michael Buerk. Ao ver a reportagem, o compositor irlandês Bob Geldorf ligou para o escocês Midge Ure da banda Ultravox, e os dois compuseram a música “Do They Know It’s Christmas?”, na esperança de acumular fundos suficientes para aliviar o problema pelo qual o povo etíope passava. Geldof também contactou outros amigos do meio musical, e em pouco tempo organizou um supergrupo chamado Band Aid, que gravou o single e já contava com inúmeros músicos e artistas diversos. Isso abriu um precedente para que colaborações musicais fossem utilizadas em prol da caridade, algo que seguiu adiante e hoje em dia é um padrão da filantropia artística. No ano seguinte, 1985, Michael Jackson tomou a mesma iniciativa com o mundialmente bem-sucedido “We Are The World”, demonstrando o poder que a iniciativa destes britânicos teve no mundo. A músicaada pelo Band Aid to ficou no primeiro lugar das paradas por cinco semanas, um feito imenso para um projeto tão audacioso. O projeto original era arrecadar pelo menos 70 mil libras, mas o resultado final foi de mais de 8 milhões, muito
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Bob Geldof (esquerda) e Midge Ure.
mais do que qualquer um dos músicos poderia almejar. Com o sucesso monetário imediato e surpreendente, Bob Geldof instantaneamente teve a visão de realizar um grande show beneficente e acumular ainda mais capital para combater a miséria e a fome. A idéia de realizar um concerto beneficente de tamanha magnitude veio por indicação de Boy George, que tocava no Culture Club na época, e que trabalhou no single “Do They Know It’s Christmas?”. Então os organizadores decidiram realizar um evento simultâneo, algo que ocorreria ao mesmo tempo na Inglaterra e no Reino Unido, enquanto o evento seria televisionado para o mundo inteiro. O famoso anúncio de Geldof foi o de que “O show deve ser do tamanho do que for humanamente possível”. A idéia de que Duran Duran poderia estar tocando em Londres, e logo após acabar o setlist o canal passaria a transmitir o show americano, com Bruce Springsteen tocando, era inovadora e finalmente alcançável com a tecnologia de transmissão moderna.
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Live Aid.
Os dois empresários que organizaram e administraram o show inglês e o americano foram, respectivamente, Harvey Goldsmith e Bill Graham. Os dois tinham um histórico com bandas que lotavam arenas como Led Zeppelin e Yes, então foram instintivamente as mãos certas para depositar o show. Para o show britânico ficaram consagradas apresentações como as das bandas Queen, Paul Mccartney e The Who, enquanto o show americano ficou marcado como a noite que uniu Bob Dylan, Mick Jagger e até Madonna em prol da filantropia. Como um evento beneficente, a apresentação excedeu em muito os resultados estimados: a estimativa para a arrecadação britânica foi de alguns milhões de libras, com o ingresso a 25 libras cada um, e o resultado final foi de aproximadamente 150 milhões. Tais números representaram a salvação de uma população inteira e um marco na história dos eventos beneficentes para o mundo todo.
‘‘Feed the World’’ é o lema do projeto
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EDIÇÃO 05 | NOVEMBRO 2014
ROCK IN RIO - 1985 Se o mundo fosse nosso de vez
Por Thomaz Ambrosio Rio de Janeiro, Jacarépagua, 11 de janeiro de 1985. Ao meio-dia de sexta feira, começava o maior festival de rock da história da América Latina. Com oito dias, vinte e quatro shows e mais de um milhão de presentes ao longo do festival, o Rock In Rio se tornou um marco na história da música brasileira, posicionando a cidade no mapa da música mundial de forma definitiva e dando início a um legado que vive até hoje. Idealizado pelo empresário Roberto Medina, o evento contou com renomadas bandas estrangeiras e nacionais, que, apesar do line-up confuso, conseguiram dar conta do recado. Para celebrar a liberdade de um país recém saído de uma longa ditadura militar e assolado por uma crise econômica, Medina apostou na boa impressão deixada pelo público brasileiro com shows solo de diversas bandas no ínicio da década, como Queen, Kiss e Van Halen (embora a última tenha sido roubada e prometido nunca mais voltar). Apesar da economia 20
fragilizada, do teor inédito (nunca antes um evento dessa proporção havia sido realizado por terceiros no país), e de diversos imprevistos, o evento foi um sucesso completo, e marcou os anos 80 e a história. Ambicioso em todos os aspectos, o RiR impressionou não pela música, mas pela magnetude de sua estrutura. Para a realização do festival, foi construída a Cidade do Rock, num terreno de incríveis 250 mil metros quadrados, localizado na Barra da Tijuca. O Rock in Rio começou de forma animadora, com uma suposta previsão do apotecário e médico francês Nostradamus (1503-1556), que previa um desastre com diversas fatalidades num festival na América do Sul. Por via das dúvidas, a organização contratou Bola, um astrólogo, e o encarregou de fazer o mapa astral do evento. A previsão mostrou-se infundada, e tudo correu bem. Porém, não foram só flores. Apesar do sucesso histórico, Dias antes do festival, Rick Allen, o baterista da banda Def
Leppard, (uma das principais atrações) sofreu um acidente de carro enquanto dirigia-se a casa de sua família, em Sheffield, Inglaterra. Por não estar usando cinto de segurança, Allen foi
A Jukebox revela curiosidades, bastidores e momentos do maior evento musical da historia do Brasil.
Foram consumidos • 1,6 milhão de litros de bebida • 4 milhões de copos; • 900 mil Sanduíches • 7.500 quilos de massa • 500 mil fatias de pizza
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Entre diversos objetos de palco que acompanhavam a banda em sua turnê, estava um sino de metal pesando 1,5 tonelada, que apareceria no panco durante a música Hells Bells. Com o orçamento baixo e o alto custo do transporte do objeto, houve um impasse entre Medina e a banda, que avisou que não viria para o festival sem todos os elementos. Medina acabou cedendo, e o sino veio com a banda. Com o sino já no Brasil, percebeu-se que o palco não sustentaria os 1500 quilos a mais o que resultou na construção de uma réplica de gesso, que foi utilizada no show. A troca funcionou, e AC/DC arrebentaram no palco principal.
Cronograma do festival.
arremessado para fora do carro, o ferindo gravemente e causando a amputação de seu braço esquerdo. Embora tenha voltado a tocar com a banda (foi desenvolvida uma bateria especial que o permitia tocar), a recuperação não se deu a tempo do festival, e a banda foi substituída pela banda de metal Whitesnake. Além de Def Leppard, outras bandas, confirmadas previamente, não puderam comparecer, como os australianos do Man At Work. A banda, que inclusive chegou a receber parte do cachê, encerrou suas atividades no ínicio de 1984,
Outro fato curioso ocorreu com ma das principais atrações do festival: Ozzy Osbourne. Numa fase ruim da carreira, fez um show aquém do esperado, mas passagem do cantor por terras tupiniquins naquele ano ficou marcada por outra questão: a infame relação do vocalista com animais. Em um show nos Estados Unidos em1982, já em carreira solo, Ozzy mordeu e arrancou a cabeça de um morcego, que acreditava ser de borracha. Para perplexidade da platéia e do próprio, o morcego não só era de verdade como estava vivo, gerando uma das histórias mais conhecidas no mundo da música. A organização do festival, ciente do ‘’histórico’’ do cantor e sofrendo pressão dos grupos de defesa dos animais, o obrigou a assinar, no contrato, uma cláusula que o proibia de comer animais no palco. Seu show correu sem problemas, mesmo com uma galinha arremessada no palco.
Rick Allen em show, já sem o braço.
se reunindo ao final do mesmo ano. Porém, devido a conflitos durante os ensaios, a banda foi novamente desfeita, só voltando em 1986. Para seu lugar, o grupo Gogo’s foi chamado. O Rock In Rio marcou não só pela música, mas por diversos acontecimentos curiosos e momentos bonitos. Um desses acontecimentos envolveu a banda australiana de rock AC/DC.
Então eu trouxe o sino. Mas quando foram montá-lo, ele era tão pesado que quebrou a estrutura e se espatifou no chão. Aí eles fizeram um sino de gesso mesmo. Só me contaram uns três meses depois, com medo de que eu fosse ter um treco.” Roberto Medina
Phil Soussan (esquerda), Ozzy e a galinha.
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Redenção em pleno palco Além dos fatos curiosos, diversos belos momentos ocorreram durante o festival. O mais notório talvez seja o de James Taylor, escalado no segundo e no quarto dia do festival. Depois de um início de carreira promissor, Taylor estava em um momento delicado de sua vida: Mesmo emplacando sucessos comerciais, divorciou-se de sua mulher, em 1981, e logo depois perdeu seus amigos Jonh Belushi e Dennis Wilson. Apesar de ter se recuperado de seu vício em drogas, pelos filhos, considerava a aposentadoria. Foi quando recebeu o convite para o Rock in Rio. Num dos momentos mais marcantes do evento, tocou para 300.000, que cantaram empolgadas hits como ‘’You’ve got a friend’’, ‘’Fire & Rain’’, e ‘’Carolina in my mind.’’ Tal empolgação supreendeu James (é possível ver o semblante de espanto após o refrão de ‘’You’ve got a friend’’.), que nunca escondeu o impacto que o festival teve em sua vida. Em uma entrevista em 1995, Taylor disse ‘’Eu havia chegado no fundo do poço, com drogas, depois o fim do casamento
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Todos numa direção Uma só voz numa canção Todos num só coração Um céu de estrelas Que a vida começasse agora Que o mundo fosse nosso de vez Que a gente não parasse mais de se amar De se dar, de viver Ôôôô Ôôôô Ôôôô Rock in Rio’’ Jingle oficial do festival lidarada por Evandro Mesquita, contagiou o público com seu estilo animado e dançante enquanto Cazuza e o Barão vermelho, no auge da carreira, foram responsáveis por um dos melhores show de todos os oito dias de música. No mesmo embalo, Paralamas do Sucesso sacudiram a cidade da música, com direito a discurso do então jovem Hebert Vianna, criticando a animosidade com a qual os fãs haviam recebido diversos artistas brasileiros em vários momentos do evento, devido ao line-up confuso.
James Taylor durante o Rock in Rio
com Carly, e eu fique basicamente deprimido e perdido por um tempo. Era um ponto baixo na minha vida, e então fui chamado pra tocar no Rio de Janeiro, num festival lá. Juntamos uma banda e fomos, e tivemos uma resposta incrível. Eu toquei pra 300.000 pessoas. Elas não só conheciam minha música, como sabiam coisas a respeito e estavam interessados em aspectos dela que até aquela altura só eu havia me interessado. Ter aquele tipo de reconhecimento, naquela fase da minha vida, foi o que realmente me ajudou a voltar ao eixo.’’ Após o festival, continuou bem sucedido musicalmente, inclusive lançando uma música chamada ‘’Only a dream in Rio’’ (Apenas um sonho no Rio), dedicada a sua experiência naquele janeiro de 1985. Os artistas brasileiros, alem de performances excepcionais, também protagonizaram momentos emblemáticos. Blizt, 22
Artistas como Eramos Carlos e Ney Matogrosso, respeitados no cenário nacional, foram vaiados e hostilizados pelo público, que esperava bandas com estilos diferentes, como Iron Maiden e Scorpions. Erasmo atribuiu tal comportamento a falta de conhecimento dos gostos variados do público (já que nunca antes havia acontecido um evento musical tão grande no país) “Não tínhamos, naquela época, uma ideia tão clara de quem eram essas diferentes “tribos” que estavam surgindo. “Estávamos todos com nossas carreiras, junto aos nossos fãs e achando que todo mundo nos amava. Mas o metaleiro não queria ouvir o Tremendão cantando Sexo Frágil”, comentou. Outra vítima da implacável insatisfação com estilos diferentes, Ney Matogrosso, foi o responsável pela abertura do primeiro dia, sendo a primeira performance da história do festival, e, apesar das vaias, entrou para a história como o show inaugural do Rock in Rio. Além das bandas citadas, gigantes como Rod Stweart, o ex-Mutantes Alceu Valença, e Yes também fizeram shows apotéticos, e ajudaram a eternizar o festival e dar início a um legado que dura até os dias de hoje, com sua sexta edição, no Brasil, -o festival teve diversas ediçoes na Europa, em Lisboa-, acontecendo em 2015. Apesar do sucesso geral, uma banda em especial escreveu seu nome no Hall da fama da música brasileira e mundial, de forma definitiva, correspondendo a toda a expectativa criada (veio como principal atração) e fazendo dois dos maiores shows da história do Rock: Queen.
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Queen em ação no festival
À sua majestade, a coroa Seguindo a turne do album The Works, que contava com sucessos como ‘’Radio GaGa’’ e ‘’I want to break free’’, a banda desembarcou no Brasil sendo a principal atração do festival e prometendo ser o ápice do evento. Com o maior cachê entre todas as atrações (600 mil reais, um preço elevadíssimo para a época) e contando com uma série de regalias -algumas folclóricas-, a expectativa era elevadíssima. Pois Freddie Mercury, Brian May, Jonh Deacon, e Roger Taylor deram fim as dúvidas e realizaram os melhores shows de todo o Rock in Rio, nas duas sextas-feiras do festival. O público, completamente dominado por Mercury, cantou junto em todas as músicas, gerando momentos que marcaram a música, como o coro a capella no primeiro verso de ‘’Love of my life’’, impressionando inclusive os integrantes da banda. Nos bastidores, a banda se comportava como se fosse, de fato, a grande atração. Diversas regalias foram exigidas, como por exemplo, o saquê de Freddie Mercury, que deveria estar a exatamente 21 graus celsos. O cantor, que chegou de helicóptero e só se locomovia com motorista particular (com o qual teve um caso durante sua estadia no Rio de Janeiro), causou
enorme desconforto nos bastidores ao desdenhar dos artistas brasileiros. Ao ver Erasmo Carlos e Ivan Lins no corredor de seu camarim, chamou Amin Khader (produtor do festival) e perguntou: ‘’Quem são eles?`` Amin respondeu que se tratavam de artistas brasileiros do mesmo cacife que o de Freddie, que prontamente negou, afirmando que eles o conheciam, mas ele não os conhecia, e exigiu que todos fossem retirados do corredor. Depois de quebrar o camarim inteiro em protesto,
Freedie Mercury no Rio de Janeiro
seu pedido foi acatado, e os artistas brasileiros foram retirados vociferando ‘’bicha’’ na direção do cantor, fazendo alusão a sua sexualidade. Apesar da atitude, Queen definitivamente carimbou seu nome na história. Uma das maiores bandas de todos os tempos, brindaram o Rio de Janeiro e o Brasil com duas performances que despertam admiração dos que não viram, e calafrios nos que estavam presentes. Com vocais impecáveis, harmonias belíssimas, letras conscientes e complexas e o talento que nenhum outro frontman na história foi capaz de ter, eliminaram qualquer dúvida ou questionamento a respeito sobre seu valor. O mundo do rock nunca mais foi o mesmo, e com o falecimento de Mercury, pela AIDs, menos de 10 anos depois, a performance da banda no festival é uma das principais referência mundias quando se trata de controle de público, carisma, e admiração mútua; É também a maior memória de um período especial. Embora Queen tenha continuado após a perda, a lembrança dos dias que consagraram o quarteto permanecem, e, a cada edição do Rock in Rio, celebra-se as mágicas noites dos dias 11 e 18 de janeiro. Em 2015, mais uma edição vem aí. Porque, como diria Mercury: The show must go on. 23
TO BE CONTINUED