Cinemaque

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Uma Retrospectiva



Editorial

“Don’t You Forget About Me” A edição deste trimestre é mais uma daquelas que fazem os leitores se deixarem envolver pela nostalgia. E não à toa. Os anos 80, que deixamos para trás, fazem uma despedida emocionada e sentida, afinal os cinéfilos se apegaram a essa década. Entramos nos anos 90 com o desejo fervoroso de que a futura década não faça por menos, afinal durante os últimos 10 anos presenciamos obras que nos fizeram chorar, dançar, rir e nos impressionar com o talento de diversos diretores, atores e profissionais que fazem a sétima arte valer a pena. 1980 chegou para desbancar o mito de que o melhor fica sempre para o final. Scorsese inovou com técnicas de filmagem em Touro Indomável e Star Wars V – O Império Contra Ataca abasteceu os fãs da batalha intergaláctica com mais um episódio da saga que, por si só, já é um sucesso de bilheteria. Carruagens de Fogo, em 81, mostrou que uma cena e uma música podem ser responsáveis por fazer transcender um filme e perpetuá-lo por gerações. A composição de Vangelis será certamente uma das marcas dos anos 80, que ficará fixa na memória de todos. A década contou ainda com nomes mais do que comentados e alguns, até mesmo polêmicos como o Tony Montana de Al Pacino em Scarface, o episódio que deu o desfecho à saga Star Wars, com retorno de Jedi e alguns grandes personagens como o querido policial futurista, Robocop. Um ponto interessante destes anos foi que diversas esferas de espectadores foram atingidas de maneira positiva, com títulos diversos que fizeram imenso sucesso. O público infantil ganhou uma obra que explora a típica história de superação de um menino comum, em

Karatê Kid e milhares de jovens se emocionaram e identificaram com os dilemas, amores, dramas e confusões tipicamente adolescentes de cinco jovens que partiram do nada em comum para uma união completamente inesperada em O Clube dos Cinco, cuja história é completada pela marcante canção do grupo Simple Minds, Don’t You Forget About Me. No que tange aos musicais, Dirty Dancing reinou como o representante do gênero na década. Patrick Swayze e Jennifer Grey fizeram com que todos quisessem dançar ao som de Time Of My Life. O ano de despedida desta década não deixou a desejar e se os 80 começaram impressionando, a despedida não poderia ser diferente. Nesta edição buscaremos relembrar cada um destes momentos inesquecíveis para os fãs do cinema, com diversas matérias, tanto as nostálgicas, quanto as curiosas, trazendo, como sempre, diversas curiosidades do universo cinematográfico e, ainda que os sucessos sejam muitos, tentando relembrar cada música, cada cena ou cada figurino destes anos que, sem dúvida, ficarão marcados na história do cinema.

Por Thais Soares e equipe editorial Cinemaque.

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Índice Estreias Tops Os Melhores Filmes da Década..............................................................4 Os Filmes Mais Criticados........................................................................6 Trilhas Sonoras............................................................................................8

Bastidores Por Trás dos Bastidores..........................................................................10 Aniversariantes.........................................................................................12 Obituário....................................................................................................13

Pop Galãs e Divas.............................................................................................14 Moda...........................................................................................................16 Animação....................................................................................................18

Entrevista Capa..........................................................................................................20

Cult Cine Underground..................................................................................23 É Ruim Mas é Bom.................................................................................26

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Estreia

Estreias de Dezembro Estamos prestes a nos despedir da época mais divertida e marcante de todos os tempos. Não só o

ano, mas toda a década está caminhando para o seu fim. O jeito de se fazer cinema nos anos 80 foi único e infelizes são aqueles que não tiveram a oportunidade de acompanhar tudo de pertinho. Bateu saudade? Ainda não teve a chance de assistir a um filme que tenha marcado os últimos 10 anos? (É bem provável que isso seja impossível!) Então fica ligado nas dicas de filmes que estão por vir ainda nesse ano, pra você sentir o último gostinho dessa década maravilhosa e poder se gabar futuramente, dizendo como foi bom assistir a esses “filmaços” nas telonas!

Conduzindo Miss Daisy

Jessica Tandy e Morgan Freeman estrelam o que promete ser um dos filmes mais cativantes que teremos o prazer de assistir. Conduzindo Miss Daisy narra a história de Tandy, uma judia rica e excêntrica que é forçada por seu filho, Dan Aykroyd, a ter um afro-americano, Freeman, como seu motorista. A princípio, isso soa como uma péssima ideia, mas com o tempo cresce uma amizade capaz de quebrar barreiras sociais, raciais e culturais. Não vai esquecer a caixa de lencinho, para levar às salas de cinema, hein!

Tempo de Glória Matthew Broderick, nosso eterno Ferris Bueller, vive um jovem sem experiência, mas de uma influente família, que recebe o comando do primeiro batalhão composto exclusivamente por soldados negros. O filme ainda conta com a participação de Denzel Washington, Caryn Elwes e Morgan Freeman (ele outra vez!). Você também consegue sentir o cheiro de Oscar daí? Estreia também dia 15.

Negócios de Família Gostou do filme anterior e quer fazer uma dobradinha de filmes do Broderick? Então aproveita e já sai de uma sala de cinema direto pra outra e corre pra ver Negócios em Família. O filme conta a história de Sean Connery no papel de um velho acostumado a aplicar golpes que convida o neto, papel de Broderick, a ajudá-lo em um assalto, mesmo que contra a vontade de seu filho, papel de Dustin Hoffman. Esse trio promete! Mais um pro dia 15.

Além da Eternidade Dirigido por Steven Spielberg, o filme narra a história de Peter (Richard Dreyfuss), um bombeiro florestal morto num acidente aéreo que ao chegar ao Paraíso é apresentado a um anjo, que estimula o espírito de Peter a voltar para passar seu know-how para seu jovem sucessor, Ted Baker (Brad Johnson) e para ajudar Dorinda Durston (Holly Hunter), uma orientadora de vôo, a esquecê-lo. Vale lembrar que o filme ainda conta com a participação de Audrey Hepburn. Estreia dia 22.

Estreia dia 15. Por Vitor Pereira

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Tops

Os Maiores Filmes da Década

Alguns anos se passaram desde a última edição comemorativa. Mesmo mantendo a tiragem trimestral, percebemos que os leitores ficam muito ansiosos para os nossos tradicionais Tops, e essa seção não poderia estar melhor nesta edição. Apertem os cintos, calcem as sapatilhas e preparem-se, pois estão prestes a embarcar em uma aventura cinematogáfica. Em primeira classe. Por Luana Camará 1. ET - O Extraterrestre (1982) A maior bilheteria da história do cinema, o primeiro filme a ultrapassar a marca de 700 milhões de dólares e a consagração de Steven Spielberg. ET não ostenta apenas números e títulos, mas também os corações de milhões de pessoas que não esquecem a icônica cena da bicicleta. Cena marcante do filme E.T - O Extraterrestre.

2. Star Wars (1980/1983) O Império Contra-Ataca (Irvin Kershner) e O Retorno de Jedi (Richard Marquand) obtiveram rendas de 500 e 476 milhões respectivamente. Dois verdadeiros monstros cinematográficos lançados num intervalo de 3 anos apenas, para a alegria dos fãs.

Cartaz do filme “Star Wars - O Retorno de Jedi”.

3. Dirty Dancing (1987) Quando a gente pensa em Dirty Dancing, é impossível não lembrar do tema (I Had) The Time of My Life", ganhador do Oscar de melhor canção original. O último musical da década detém o título de ser o maior, seja pelas fãs do galã Patrick Swayze, pelo sucesso da música ou pela bilheteria. 4

Cartaz do filme “Dirty Dancing”.


Tops 4. Indiana Jones (1981/1984/1989) Mais três superproduções de Steven Spielberg com roteiro de George Lucas que alcançaram altíssimas bilheterias e conquistaram fãs do mundo inteiro. Os Caçadores da Arca Perdida foi o filme de maior sucesso em 1981 e indicado a oito oscars. Os outros dois, O Templo da Perdição e A Última Cruzada também não fizeram feio.

5. De Volta Para o Futuro (1985) Aclamado pela crítica, o filme foi o maior sucesso de 1985 com 380 milhões de bilheteria. Sua repercussão na cultura foi tanta, que o filme foi citado num discurso do presidente Ronald Reagan, em 1986. Para completar, acabamos de ganhar a sequência, De Volta Para o Futuro II, lançado mês passado.

Cartaz do filme “Indiana Jones - Em Busca da Arca Perdida

6. Clube dos Cinco (1985) O Longa de John Hughes termina a década sendo considerado um dos melhores filmes de colegial de todos os tempos. Conquistou o público jovem e a crítica com as descobertas de Andy, Brian, John, Claire e Allison, resultando em um clássico teen.

7. Top Gun (1986) Grande sucesso de público e crítica, o longa de ação ascendeu Tom Cruise como um dos galãs da década. O tema "Take My Breathe Away" foi hit nas paradas de sucesso e ainda ganhou o Oscar de melhor canção original.

8. Batman (1989) Foi nesse ano que o cinema ganhou mais um super herói. O filme de Tim Burton faturou mais de 400 milhões em bilheterias e foi muito bem recebido pela crítica especializada. Em menos de seis meses de lançamento, Batman já conquistou fãs e prêmios que garantem ao homem morcego o nosso oitavo lugar.

9. A Garota Rosa Shocking (1986) Dirigido por Howard Deutch e roteirizado por John Hughes - dono de clássicos -, não demorou para que a produção se tornasse uma. Com uma ótima recepção crítica, a história de Andie e Blane arrecadou R$49 milhões em bilheteria e ficou conhecido como um clássico cult entre o público.

Cartaz do filme “De Volta Para O Futuro”

10. Flashdance (1983) O musical de Jerry Bruckheimer e Don Simpson foi o terceiro maior sucesso de bilheteria em 1983, o sucesso de público compensou as críticas mistas e fez a trilha sonora do filme vender 700 mil cópias em apenas duas semanas de lançamento.

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Tops

Top 10

Trilhas Sonoras Por Luana Camará

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A década de 80 foi palco de excessos. Na música não poderia ter sido diferente. Organizamos uma lista dos maiores hits dessa fase, recheados de romantismo e sintetizadores.

1. Fame - Michael Gore O tema interpretado por Irene Cara na pele de sua personagem protagonista, Coco Hernandez, foi um tremendo sucesso em diversos países e rendeu ao musical Fama (1980) duas estatuetas do Oscar: melhor canção original e melhor trilha sonora.

2. Flashdance... What A Feeling - Irene Cara Irene Cara emplaca de novo. A trilha do musical Flashdance (1983) estourou no mundo todo e foi indicada a diversos prêmios, ganhando um Oscar, um Globo de Ouro e um Grammy nas categorias de melhor canção original e melhor trilha sonora, respectivamente.

3. (I Had) The Time Of My Life - Bill Medley e Jennifer Warnes O mega hit, que foi número 1 nas paradas musicais de vários países, é parte da trilha do último musical desta década: Dirty Dancing - Ritmo Quente (1987). Ganhou o Oscar de melhor canção original em 1988.

4. Say you, Say me Lionel Richie Uma das maiores baladas da década, o tema de O Sol da Meia-noite (1985) alcançou o topo das paradas de sucesso dos Estados Unidos e do mundo. Conquistou o Oscar de melhor canção original em 1986.

5. I Just Called To Say I Love You - Stevie Wonder e Dionne Warwick A trilha da comédia romântica Dama de Vermelho (1984) fez muito sucesso, atingiu as paradas musicais de vários países e venceu um Oscar na categoria de melhor canção original em 1985, além de abocanhar um Globo de Ouro na mesma categoria.

6. Take Me Breathe Away - Berlin A música tema do filme Top Gun - Ases Indomáveis (1986) estourou no mundo pouco depois do seu lançamento, levando a banda pop rock, Berlin, ao estrelato. De quebra, levou o Oscar de melhor canção original em 1987.

7. Glory of Love Peter Cetera A trilha de Karate Kid, Part II (1986) foi o primeiro sucesso de Peter Cetera em carreira solo. Ficou em primeiro lugar nas rádios de muitos países, e ainda foi indicado e venceu um Oscar na categoria de melhor canção original.

8. Don't You (Forget About Me) Simple Minds O tema do clássico cult O Clube dos Cinco (1985), atingiu o topo das paradas de sucesso. Mesmo em meio a controvérsias, como a recusa inicial do Simple Minds em fazer a gravação, foi o maior hit da banca escocesa até hoje.

9. Footloose - Kenny Loggins A trilha do musical de sucesso, Footloose - Ritmo Louco (1984), foi um dos grandes hits de Kenny Loggins. Recebeu uma indicação do Globo de Ouro de melhor trilha sonora.

10. Meet Me Half Away - Kenny Loggins A música de Falcão - Campeão dos Campeões (1987) foi mais um dos sucessos de trilhas de Kenny Loggings. Entrou para o top 10 das paradas musicais e ainda recebeu uma indicação ao Oscar de melhor canção original.


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Tops

Filmes para NÃO assistir mais de uma vez. O s anos 80 nos presentearam com grandes obras cinematográficas que hão de serem

lembradas por muito tempo. Umas por serem incríveis e únicas outras por serem incrível e unicamente ruins. Segue abaixo uma lista com os dez piores filmes da década, que a gente tanto ama odiar. Por Vitor Pereira

1. Karatê Kid 3 – O Desafio Final (1989) Às vezes, três realmente é demais: O primeiro “Karatê Kid” foi certamente um dos maiores e melhores marcos de 1984, a continuação deste nos fez vibrar, porém o terceiro fez com que os fãs de Daniel Larusso se decepcionassem como nunca antes. A magia da história foi perdida ao longo do tempo, os conselhos e frases prontas do nosso amado senhor Myiagi já não são mais comoventes e a atuação de Ralph Macchio deixa a desejar (e muito!). Deixamos aqui o nosso apelo para que esse tenha sido o (decepcionante) desfecho de uma trama que um dia tanto nos emocionou. Cena de luta em Karatê Kid 3.

2. A Música Não Pode Parar (1980) A pseudo autobiografia do Village People, apesar de divertida e cômica do início ao fim, beira a estupidez. Em alguns momentos, não sabemos se estamos rindo porque o filme é realmente engraçado ou se é porque este é tão ridículo a ponto de nos impedir de manter uma expressão séria. A falta de qualidade de “A Música Não Pode Parar” lhe rendeu um Framboesa de Ouro (o primeiro de todos!) de pior filme e roteiro, assim como indicações para pior ator, atriz, atriz coadjuvante, diretor e canção original. Apesar de tudo, o filme ainda é uma boa pedida para os fãs do Village People (a trilha sonora é bem divertida).

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Cena do filme “A Música Não Pode Parar”.

3. Xanadu (1980) Junto de “A Música Não Pode Parar”, citado anteriormente, “Xanadu” foi um dos responsáveis pela criação do Framboesa de Ouro, sendo nomeado a diversas categorias e vencedor na de pior diretor, merecidamente. Estrelado por Olivia Newton-John, o filme é um musical muito fraco e sem graça, o que lhe rendeu diversas críticas negativas.


Tops 4. Luzia Homem (1984) Baseado no romance homônimo de Domingos Olímpio e estrelado por Claudia Ohana, “Luzia Homem” é um grande motivo para nos envergonharmos do cinema nacional. Além da atuação de Ohana ser fraca, sua personagem não é nada cativante e foi incapaz de conquistar a simpatia do público. Apesar de a história ser um clássico literário, o filme é apenas algo sem grande expressão. 5. Howard, O Super-Herói (1986) Claudia Ohana em “Luzia Homem”.

Howard, o pato, personagem principal da história em quadrinhos, da Marvel Comics, que leva o mesmo nome, (infelizmente) ganha vida em “Howard, O Super-Herói”. Como se um já não fosse o bastante, o produtor executivo George Lucas, escalou oito atores para interpretar o pato intergaláctico que cai na Terra e forma uma banda de rock, sendo Ed Gale quem assumiu o papel por mais tempo. Como já era de se esperar, o filme coleciona troféus e indicações do Framboesa de Ouro. 7. Doida Demais (1989)

6. Ishtar (1987) Considerado pela crítica como um dos piores filmes já feitos, “Ishtar” foi um total fracasso de bilheteria, tendo custado US$ 55 milhões e rendido somente US$ 14 milhões, e também acabou por pôr em risco as carreiras de Elaine May e da atriz francesa Isabella Adjani, que conseguiu se superar no ano seguinte com o notável “Camille Claudel”, sendo até indicada ao Oscar. Dustin Hoffman, que também estrelou o filme, saiu dessa ileso (seu Oscar de melhor ator, no ano seguinte, comprova isso).

Apesar de seus quatros Kikitos do Festival de Gramado, “Doida Demais” é um dos piores filmes da história do cinema brasileiro. A atuação de Vera Fischer deixa clara a sua falta de aptidão para a carreira de atriz, sendo esta somente mais um rostinho bonito nas telas do cinema e da TV. Os talentos de José Wilker e Paulo Betti são incapazes de fazer a história valer alguma coisa. “Doida Demais” decepciona não só os fãs do diretor Sérgio Rezende, como todos os seus espectadores. 8. Duna (1984) A maquiagem e os figurinos não foram bons o suficiente para salvar “Duna” de ser um grande desastre cinematográfico. O roteiro é visivelmente confuso, o que atrapalhou toda a estrutura do filme e o tornou uma verdadeira bagunça. Os efeitos especiais também deixam muito a desejar, em certos pontos, o que tornou o filme fisicamente feio. 9. Rambo II - A Missão (1985) Após o grande sucesso de “Rambo: Programado para Matar”, os produtores não pensaram duas vezes antes de realizar uma sequência. “Rambo II” foi um grande sucesso de bilheteria, ficando ao lado dos dois filmes mais bem sucedidos de 85 na América do Norte. O filme até chegou a ser indicado em sete categorias no Framboesa de Ouro, vencendo quatro destas.

Dustin Hoffman em “Ishtar”.

10. Grease 2 - Os Tempos da Brilhantina Voltaram (1982) Do primeiro filme para o segundo, “Grease” perdeu muito de sua qualidade. Seu enredo é demasiadamente fraco e nem as performances musicais foram capazes de salvá-lo, uma vez que os números do filme são insubstanciais a ponto dos personagens cantarem sobre acontecimentos muito banais. “Grease 2” é um verdadeiro sinônimo de “continuação completamente esdrúxula de um bom filme”. 9


Bastidores

Bastidores ! Profissionais importantes da produção falam sobre seu trabalho. Por Mariana Russo

O cinema é uma forma de entretenimento que mistura aspectos lúdicos da fantasia com outros

inerentes à realidade. Para um filme sair do papel, é necessário o envolvimento de centenas de pessoas que trabalham até vários meses para transpor fielmente as ideias primárias às telonas. Atores e alguns diretores consagrados obtêm frequente e publicamente seu reconhecimento quando a película faz sucesso. Porém, há um grupo de profissionais cinematográficos que trabalham “no escuro”, mesmo se sacrificando até mais do que aqueles que são geralmente reverenciados pela mídia. Um traje, um adereço, uma frase marcante ou uma cena bem capturada são fatores fundamentais que contribuem para um filme de sucesso. Escolhemos alguns profissionais conceituados dos bastidores do cinema para falar um pouco sobre sua experiência e área de atuação e, assim, levar ao público parte da sua cansativa, mas essencial, rotina.

Operador de câmera/direção de fotografia:

Willem Dafoe e Robert Richardson no set de filmagem de Platoon.

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É ele o responsável pelos enquadramentos dos planos que compõem uma cena, sejam planos fixos ou em movimento. Precisa também conhecer os tipos de lentes, filtros, acessórios de câmera e todos os modelos de usados no mercado cinematográfico. O cinegrafista Robert Richardson é exemplo de competência na área. Richardson, que já trabalhou em diversos filmes como Platoon (1986) e Nascido em Quatro de Julho (lançado esse ano nos EUA), relata: "Durante os ensaios é de minha obrigação perceber se há algum equipamento em quadro no take, defeitos tais como reflexo ou sombras de câmera." As filmagens se dão, na maioria das vezes, de forma descontínua. As cenas nem sempre são gravadas na ordem do roteiro. "Planos que sejam ambientados em um mesmo cenário, ainda que não sejam sequenciais, podem ser agrupados em um mesmo dia de filmagens para facilitar a produção", completa.


Bastidores

Roteirista: É o criador de um texto literário com trama de fatos reais ou de ficção de situações que se encadeiam, em determinados casos adaptado de outra obra. Um roteiro não é um romance, daí sua especificidade de escritura dividindo-o em seqüências por locação, determinando a hora da gravação (dia ou noite) e definindo o cenário onde se desenrola a ação. Destaque em sua área, ainda dominada por homens, a americana Melissa Mathison foi responsável pelo roteiro de um dos maiores sucessos da década: ET - O extra-terrestre. Ela ensina: "Um roteirista pode vir de uma escola de letras, de jornalismo, de cinema ou com experiência na escritura de textos teatrais, desde que tenha vocação para escrever situações e criar personagens. O seu diálogo deve ser coloquial e verossímil."

Steven Spielberg, Melissa Mathison e Harrison Ford em reunião de produção de Indiana Jones.

Efeitos Especiais: Os efeitos especiais são essenciais para aumentar a veracidade de cenas impossíveis, perigosas ou de grande efeito e impacto visual ou sonoro. Mas também são muito usados para cenas aparentemente banais. Na maioria das vezes sequer notamos que são efeitos especiais que estão por trás daquela cena ou outra. É uma profissão de curiosos e sobretudo de pessoas que são especialistas em informática. Stan Winston, supervisor de efeitos especiais de superproduções como "O exterminador do futuro", conta: "Os efeitos especiais podem ser categorizados em três tipos: efeitos sonoros, que são produzidos digitalmente ou com auxílio de mixagem de som; efeitos visuais, produzidos digitalmente com o mais recente auxílio da computação gráfica; e os efeitos físicos, que podem ser referenciados como sendo práticas ao vivo com auxílio de maquiagens, sets, entre outros." A criação e montagem dos efeitos especiais é perfeccionista e trabalhosa, mas seus resultados são sempre de impressinar qualquer um.

Figurinista: Figurinos sempre são uma parte muito importante de um filme. O figurinista esboça desenhos e apresenta aos diretores. É necessário um conhecimento de moda, de história e, sobretudo, dos hábitos e acessórios usados correspondentes a tais figurinos. É fundamental que o figurinista conheça a fundo a história a ser tratada no trabalho, pois o figurino tem que revelar muito dos personagens. A italiana Milena Canonero foi responsável pelos figurinos de sucessos como "O iluminado", “Laranja Mecânica", e “O Poderoso Chefão”, ganhando o Oscar de melhor figurino duas vezes: em 1976 por “Barry Lyndon” e em 1982 por “Carruagens de Fogo”. "Um figurino não é apenas uma vestimenta, é uma forma de comunicação e de identificação de um personagem em seu espaço-tempo." explica. De fato, certos figurinos marcam tanto seus personagens que superam os próprios títulos em si.

Milena prepara o fiurino da a filha de Don Corleone, para a cena do casamento.

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Bastidores

Aniversariantes do MĂŞs

Woody Allen - 01/12 (55 anos)

Kim Basinger - 08/12 (36 anos)

Steven Spielberg - 18/12 (43anos)

John Malkovich - 09/12 (36 anos)

Judi Dench 09/12 (55 anos) 12


Bastidores

R.I.P Especial Obituário Por Mariana Russo

N esta década que se encerra perdemos vários nomes de peso no cinema mundial. É difícil selecionar quem homenagear nesse espaço, mas com a proximidade do aniversário de 10 anos de sua morte, em abril do ano que vem, a escolha de Alfred Hitchcock parece merecida. Nascido na Inglaterra em 1899, em 1915 foi trabalhar na Henley Telegraph and Cable Company, sendo que já em 1919, aos 20 anos, começou sua carreira no cinema, ao conseguir um emprego de designer. Seu primeiro longa-metragem completo como diretor foi “The Pleasure Garden”. No ano seguinte, filmaria “The Lodger”, que marca a primeira aparição do diretor no filme, o que se tornaram uma marca pessoal. Em 1940, começou com o pé direito na sua "fase americana" ao filmar “Rebecca – A Mulher Inesquecível”, que ganhou o Oscar de melhor filme. Filmes como “O Homem que Sabia Demais”, “Um Corpo que Cai”, “Os Pássaros”, “Janela Indiscreta” e “Psicose” revolucionaram o gênero suspense e até hoje servem de inspiração para vários cineastas. Por sua genialidade, sua obra continuará cada vez mais viva com o passar dos anos.

P()rn Of View Aqui elas também gritam. Mas é por prazer.

Rua da Carioca, 51. Rio de Janeiro. Tel.: 2557-9076 13


Pop

Galãs e Divas! É inegável que o cinema e, principalmente, os filmes de sucesso têm o poder de alavancar a carreira e eternizar a imagem de um ator ou atriz. Mas não é só de talento que vivem os atores de Hollywood. Muitos deles ganharam conhecimento e tornaram-se famosos por uma beleza acima do padrão ou até mesmo um charme que poucos tem. Por Thais Soares

Um exemplo de ator que reúne no mesmo pacote

muito talento, beleza e charme com as mulheres é Robert De Niro. Talvez seu momento de destaque na década de 80 tenha sido no longa “Touro Indomável”, onde interpreta o arredio protagonista Jake LaMotta e impressionou diversas fãs mostrando seu físico atlético durante boa parte do filme. Também já havia se destacado como coadjuvante de “O Poderoso Chefão II”, em 74 tendo inclusive ganhado o prêmio de melhor ator coadjuvante. Na seqüência, em 76 e, logo após, em 78, estrelou os filmes Taxi Driver e O Franco Atirador, respectivamente, nos quais deu mostras de seu vasto talento.

Cena do filme Touro Indomável. De Niro interpreta um lutador durão e arredio.

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Outro artista que teve não só a beleza, mas principalmente o charme como característica de destaque, foi Patrick Swayze, como Johny de Dirty Dancing. No filme, ele interpreta um professor de dança que se apaixona por uma das hóspedes do hotel em que trabalha ao dar aulas de dança a ela. O ritmo de Patrick, seu corpo bem talhado e as cenas sensuais em que dança com Jennifer Grey deram a ele o status de galã da década. E se charme é fator preponderante quando elegemos um galã, Richard Gere correspondeu às expectativas no filme “American Gigolo”. Interpretando Julian Keye, o sensual e envolvente gigolô, Gere foi capaz de mostrar toda sua capacidade de sedução com um personagem que pedia basicamente esse lado do ator. O cabelo grisalho e o aparente dom com o público feminino fizeram com que Richard Gere ganhasse a fama e a imagem do queridinho das mulheres no cinema. Mel Gibson segue a linha de Gere como queridinho das mulheres por sua envolvência, mas seu filme de destaque na década nada teve de sensual, pelo menos não de forma direta. Em “Máquina Mortífera”, de 87, que em 89 ganha uma continuação, Gibson interpreta o detetive Martin Riggs e marca o tipo machão no filme, que é lotado de ação, tiros e adrenalina. Ainda assim, Mel possui um charme inexplicável que atrai diversas fãs e o consagra neste público. Fechando o comitê masculino de galãs do cinema, Tom Cruise talvez ganhe o maior destaque deste grupo. Em 86, o ator estrelou o filme Top Gun que marcou sua carreira no meio cinematográfico. Em seu primeiro título de grande sucesso, Cruise já se destacou por sua beleza e o rostinho de príncipe. O romance vivido junto a Kelly McGillis foi o suficiente para não só o talento do ator, mas, principalmente sua beleza serem assunto em meios aos fãs e críticos do cinema. Sua participação em “A Cor do Dinheiro” ao lado de Paul Newman, também um galã, mas das antigas, ajudou ainda mais a posicionar Tom Cruise como o galã de 80.


Pop Mas não só de homens se faz um belo elenco. Muitas mulheres deram também o ar da graça em filmes da década, chamando atenção pela aparência.Uma delas foi a lendária Princesa Léia, vivida por Carrie Fisher. A atriz que eternizou o penteado característico da princesa intergaláctica, com uma traça envolvendo o topo da cabeça, teve sua carreira marcada por esse personagem e habitou a fantasia de diversos fãs da saga, carregando o título da mulher mais bela da guerra das estrelas.

Michelle Pfeiffer e Al Pacino juntos em cena em Scarface.

McGillis foi o par romântico de um dos belos rapazes desta matéria e Michelle Pfeiffer ocupa a mesma posição aqui. Ela deu vida à estonteante esposa de Tony Montana, em Scarface, e, com o papel onde se destacou por sua imagem de “esposa troféu”, teve a oportunidade de mostrar seu talento aos críticos e espectadores. Carrie Fisher interpreta a Princesa Leia na saga Star Wars

Kelly McGillis também teve sua imagem muito conectada a um personagem, em seu caso, a instrutora de vôo do galã Tom Cruise em Top Gun. O casal foi tão famoso e aderido pela platéia dos cinemas que deu a ambos os atores o estigma de musos da década de 80. E de fato, merecidamente, já que a beleza e também o talento dos jovens é inegável.

Brooke Shields em cena de A Lagoa Azul de 80.

O casal emblemático, Tom Cruise e Kelly McGillis em Top Gun

E se vamos falar de musas de 80, é impossível deixar de fora Brooke Shields, estrela de Lagoa Azul, ao lado de Christopher Atkins. A atriz já tinha sido alvo de polêmicas em 78 devido à sua participação no longa de Louis Malle, “Pretty Baby”, no qual, aos 13 anos, apareceu nua. Desta vez, no entanto, ainda que o figurino ao longo do filme tenha sido econômico, Brooke teve seu nome comentado não por polêmicas judiciais, mas pelo enorme sucesso que o título teve nas bilheterias e pelo impulso que isso proporcionou à sua carreira. Nesta década, Brooke Shields ainda estrelou títulos como “Amor Sem Fim”, de 81 e o infantil “Os Muppets conquistam Nova York” de 84. 15


Pop

Moda dos anos 80 A década que se despede foi marcada por inúmeras novidades, inovações e estilos que, de início, impressionaram por sua marcante diferença, mas, ao mesmo tempo, fascinaram a todos. Por Thais Soares

A

s descobertas tecnológicas e inovações no campo da informática foram responsáveis por influenciar diversas áreas, dentre elas o design e a moda. O Japão se consolidou como centro de inspiração, com muitas luzes, cores e conceitos techno que deram às passarelas e ao street style oitentista um ar de novidade futurista. O apego ao corpo perfeito, a busca pela saúde nas academias e a apreciação pelo estético delineado trouxeram para as roupas, em união com a tendência futurista, um show de lycras, stretch, polainas e peças tipicamente destinadas à ginástica que dissolveram o limite entre moda de rua e moda de academia, tornando-os quase um e abusando das cores fortes, do neon e do brilho. Para as adolescentes, o estilo de Molly Ringwald em “Sixtten Candles”, “O Clube dos Cinco” e “A Garota de Rosa Shocking” foi inspiração. Além dela, Mia Sara, em “Curtindo a Vida Adoidado”, ajudou a consolidar a moda da cintura alta e do cabelo volumoso e escovado, estilo decorrentes das meninas da década.

Em Curtindo a Vida Adoidado, Mia Sara faz uso da moda de cintura alta, comum entre homens e mulheres.

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Os collants, meias calça e tops fizeram a união entre a moda de rua e a moda das academias.

A moda das academias veio muito presente em “Flashdance” e em traços de “Dirty Dancing- Ritmo Quente”. As polainas, calças justas, moletons e cabelos muito armados marcaram o estilo da jovem Jennifer Beals que vivia a corajosa dançarina. Em Dirty Dancing, Jennifer Grey e Cynthia Rhodes foram as responsáveis por inspirarem as moças com seus cortes cheios e armados e os vestidos rodados, que faziam aparições nas impressionantes apresentações de dança, enquanto os collants e polainas eram reservados aos incansáveis ensaios com o galã da década, Patrick Swayze. Além dos grandes nomes do cinema, outros artistas e famosos influenciaram no modo de vestir. Madonna ousou em seu estilo e ignorou críticas, mantendo um visual mais chamativo e singular. Os grandes brincos, o cabelo volumoso, já estigmatizado e os acessórios em profusão, além de muitas meias arrastão e uma maquiagem carregada e pouco discreta formaram o estilo icônico da cantora, cuja imagem de sucesso se deve não só ao talento musical, mas muito também à seu estilo único e lotado de personalidade.


Pop and The Banshees e Robert Smith, do The Cure. Desses grupos, cada um tinha seu próprio modo de se vestir, condizentes com suas regras de comportamento, tornando a moda um espaço menos ditador e mais plural.

Madonna foi ícone de moda e estilo pras centenas de fãs.

Além de Madonna, Cindy Lauper não poderia ter sido mais icônica como estrela pop da década. Se o estio de Madonna era chamativo, o De Cindy a fazia parecer uma das cantoras mais discretas do mundo pop. Cindy abusou das cores até mesmo no cabelo, desfilando com os fios numa mistura radiante de vermelho, amarelo e laranja. As roupas se sobrepunham num carnaval de cores e materiais, com uma maquiagem que seguia o mesmo estilo e os acessórios muitas vezes se confundiam com bibelôs de tão grandes, diversificados e coloridos.

Robert Smith e Siouxsie Sioux: ícones da música gótica.

A moda masculina perpetuou algumas características remanescentes dos 70. O topete de John Travolta em “Grease” e a jaqueta de couro continuaram principalmente na pele de Patrick Swayze, que personificou toda a sensualidade do estilo, mantendo também a cintura alta, comum, principalmente, no contexto musical que estava inserido em Dirty Dancing. A parcela mais sóbria da moda na ala masculina ficou por conta das camisas sociais estampadas combinadas com as calças e bermudas de alfaiataria, estilo característico de Ferris (Mathew Broderick) em “Curtindo a Vida Adoidado”. Os jovens expressavam sua rebeldia com estilos mais diversificados, jeans rasgados e peças que, ainda buscassem passar a idéia de despreocupação com o estilo, acabaram inconscientemente criando sua própria vertente.

A cantora Cindy Lauper, com seu estilo ousado e colorido, lotado de acessórios e cores chamativas.

Embora algumas características de estilo tenham se ressaltado e tornado-se marcantes, um ponto interessante desta década foi a democracia de estilos. Cada tribo causou e marcou com um estilo próprio. Além dos estereótipos marcados pelo cinema e pela música, grupos punks e góticos. Exemplos de ícones desse estilo foram Siouxsie Sioux, vocalista do grupo Siouxsie

As camisas sociais estampadas são peça comum para os personagens Johnny Castle e Bob em Dirty Dancing

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Pop

Quando o Mundo Mágico da Disney perdeu um pouco da sua magia... A animação no cinema é um assunto um tanto quanto delicado: há quem diga que os filmes animados são restritos às crianças e os mais velhos que ainda apreciam o gênero são imaturos e/ou demasiadamente desocupados. Se for esse o caso, é preciso que essa matéria já comece com uma revelação, que os nossos leitores fiéis bem sabem: nós, do Cinemaque, devemos ter muito a amadurecer porque somos a-pai-xo-na-dos por desenhos animados! E como todo bom amante desse jeito peculiar de se fazer cinema, ficamos um tanto quanto chateados (e esperançosos) com a situação das animações cinematográficas durante toda a década. Por Vitor Pereira

É

quase impossível pensar em filmes animados sem que se faça uma associação a Walt Disney, que a gente tanto ama. A produtora viveu seus melhores anos nas décadas de 40, 50 e 60, lançando diversos longas-metragens que foram bem sucedidos, como “Fantasia” (1940), “Cinderela” (1950), “Peter Pan” (1953), “101 Dálmatas” (1961), entre outros. A década passada foi uma verdadeira montanha russa para a empresa, que não conseguiu manter o nível da qualidade elevado durante todo o tempo. Além disso, infelizmente, a produtora passou por algumas complicações com a chegada dos anos 80; seus filmes deixaram de agradar, como uma vez fizeram e nenhum outro grande sucesso foi emplacado por muito tempo.

Já no início da década, em 1981, foi lançado o filme de animação mais caro até então: o meigo “O Cão e a Raposa”, que apesar do dinheiro investido, não é tão surpreendente, chegando a beirar a mediocridade. E assim a Disney se manteve até o ano em que estamos: medíocre, o que abriu portas para outros estúdios espalhados ao redor do mundo.

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Em 1984, o estúdio japonês Topcraft lançou “Nausicaä do Vale do Vento”, que foi um sucesso em todo o Japão. Dois anos depois, o mesmo estúdio, só que com outro nome, Studio Ghibli, lançou o emocionante e premiadíssimo “O Castelo no Céu”. O seu maior sucesso até então veio em 1988 com “Meu Vizinho Totoro”, que é capaz de arrancar suspiros até mesmo dos menos sentimentais. Nesse ano, o estúdio lançou “O Serviço de Entregas da Kiki”. Todos esses foram escritos e dirigidos por Hayao Miyazaki, a quem devemos manter os olhos atentos, uma vez que se trata de um dos diretores com o futuro mais promissor da atualidade.


Pop A produtora francesa Dargaud Films também se sobressaiu lançando “Asterix e a Surpresa de César” (1985), “Asterix Entre os Bretões” (1986) e “A Grande Luta” (1989), sequências dos quatro filmes já existentes desde 1967 do famoso herói gaulês, Asterix. Já no Brasil, os Estúdios Maurício de Sousa junto da Black & White & Color, lançaram “As Aventuras da Turma da Mônica” (1982) e “A Princesa e o Robô” (1983), que foram dois grandes sucessos nas bilheterias brasileiras e acabaram por serem mais dois grandes motivos que temos para nos orgulharmos do nosso cinema.

Personagens Asterix e Obelix em cena.

“Uma Cilada para Roger Rabbit” (1988) foi um dos grandes destaques da década. Produzido por Spielberg, o longa juntou animação com live-action (filmes com atores reais), algo inusitado até então. Não nos surpreende saber que o filme arrecadou milhões e milhões nas bilheterias e foi aclamadíssimo pela crítica, se tornando um clássico moderno.

Cartazes dos filmes da Turma da Mônica.

Em meio ao crescente aumento de concorrência (vale lembrar-se de “Em Busca do Vale Encantado”, do ano passado, lançado pela Universal Studios), foi somente nesse ano que a Disney voltou a mostrar sinais de qualidade elevada, com o lançamento do esperado “A Pequena Sereia”, que superou todas as expectativas e nos deixa curiosos a respeito de como será a próxima década para a produtora.

Cena do filme “ Meu Vizinho Totoro”.

Cena do filme “Uma Cilada Para Roger Rabits”.

E é claro que estamos todos com os dedos cruzados! Sendo para criança ou não, o cinema animado é surpreendente. A associação feita aos filmes de animação à infância ganha coerência se lembrarmos de que quando éramos pequenos vivenciamos a época mais mágica e divertida de nossas vidas. Personagens de “A Pequena Sereia”.

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Entrevista

E o Oscar vai para... Steven Pan? Humilde e admirador do cinema brasileiro, o diretor diz que a violência no cinema estimula o espectador a imitá-la, revela o que lhe inspira e admite não ser um bom diretor em casa. Por Marcus Salvador

O nosso entrevistado adora super-he-

róis e se arrisca nas temáticas de seus filmes. Ele está por trás de grandes produções como ET, A Cor Púrpura, Contatos Imediatos de Terceiro Grau e mesmo tendo sido nomeado diversas vezes ainda não conseguiu ganhar um Oscar. Em 1969 teve seu curta metragem, Amblin, exibido no festival de Atlanta e ganhou prêmios em festivais importantes como o de Veneza, com apenas 23 anos. Depois disso,teve grande reconhecimento com o filme Tubarão, uma das maiores bilheterias já vistas e que coleciona muitos prêmios também. Já sabe de quem estamos falando? Sim, é de Steven Spilberg. Por que a Academia de Hollywood ainda não o presenteou com nenhuma estatueta é um mistério, mas a seguir vamos conhecer mais sobre essa mente precoce e deixaremos você decidir se ele é mesmo um gênio que deixará sua marca na história do cinema ou se é apenas um menino com muita criatividade que se recusa a crescer.

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Steven Spielberg ao lado do icônico personagem E.T.


Entrevista O que determina o sucesso de um filme? A surpresa é essencial: dar ao público algo que ele nunca viu antes, uma história que jamais imaginou, e que seja tão intrigante que cada espectador comente sobre o filme com amigos, que também irão assisti-lo. Isso nos Estados Unidos se chama Word of mouth, a publicidade boca a boca, e é o que determina o sucesso ou o fiasco de um filme. Não existem fórmulas ou códigos secretos que os diretores dominem e que usem para fazer filmes de sucesso. Os espectadores, e não os diretores são os mágicos que produzem a aura que um filme adquire. O que o senhor acha da tese de que a violência no cinema estimula muito mais a prática violenta do que a TV? Acho correta. Assistir à violência no cinema estimula muito a prática dela. No cinema, a violência é filmada com iluminação perfeita, em cenas espetaculares, em câmera lenta, se tornando até romântica. Já no noticiário o público tem uma percepção muito melhor de como a violência pode ser horrorosa, e usada com finalidades que não existem no cinema.

olhando pela janela sobre o quintal de casa. Afinal, o cinema é o lugar onde podem acontecer coisas que não aconteceriam em qualquer outro lugar.

A necessidade de rodar grandes sucessos de bilheteria não é uma pressão muito grande para um artista? Eu só me sinto pressionado quando algum executivo do estúdio me chama para dizer que está contando comigo e que "por favor produza algo de grande sucesso", como eu sempre faço. Isso me faz sentir mal. Como vê seus próprios filmes? O próximo é sempre melhor que o anterior? Um diretor de cinema não é como um pianista, que vai melhorando com a prática. Alguns filmes começam como uma paixão e acabam como um dever. Outros começam como um dever e terminam como uma paixão. E.T. começou como paixão e terminou como paixão. Filmes mais difíceis que eu fiz começam como uma paixão e terminam como um dever.

“Não faço filmes para

O senhor dirigiria um filme ultraviolento como O Exterminador do Futuro? Não. E até hoje eu não deixei meu filho de 6 anos ver Tubarão, que eu mesmo dirigi, porque tem muito sangue, nem os filmes da série Indiana Jones. Não seria adequado para sua idade. Só fiz filmes como Indiana Jones, nos quais muita gente morre, porque a violência apresentada é um pouco diferente. Os bandidos geralmente são nazistas e a violência ocorre com A literatura te influenciou? Sou um diretor visual e não um diretor literário. um piscar dos olhos, o que dá a impressão de Mas gostaria muito de ser mais literário do que que não está acontecendo de verdade. sou.

crianças nem para adultos, mas para as crianças que moram dentro dos adultos.”

Por que todos os filmes americanos hoje têm finais felizes? É uma regra de mercado? O público quer sair do cinema satisfeito com o fim do filme. Ele pode ser trágico, ou triste, o personagem principal pode morrer, mas tem que haver algum sinal de esperança. Ninguém gosta de passar duas horas conhecendo um grupo de personagens e de repente todos eles estão mortos. As platéias não querem sair do cinema se sentindo pior do que quando entraram. O público não vai ao cinema para ver a realidade, para ver a mesma coisa que poderia ver

Como o senhor encara as freqüentes críticas de que é um grande diretor, mas incapaz de fazer filmes para adultos? Não faço filmes para crianças nem para adultos, mas para as crianças que moram dentro dos adultos. Hook e E.T. são filmes assim. Os críticos os classificam como filmes para crianças, mas, na realidade, são para adultos que ainda lembram o que era ter um cachorro que fugiu ou que morreu. 21


Entrevista

“A Disney é a minha

principal e constante fonte de inspiração.” Quais os melhores diretores de cinema até hoje? Frank Capra me influenciou. Alfred Hitchcock é o botão que eu aperto quando quero causar medo, e Preston Sturges, diretor de Papai por Acaso, influenciou o comediante em mim. Mas Walt Disney é o ícone que uniu os três na minha imaginação. A Disney é a minha principal e constante fonte de inspiração.

Por enquanto, não. O número de pessoas que vai ao cinema não tem crescido nos últimos anos nos Estados Unidos, mas também não tem caído. Eu atribuo essa estagnação mais à recessão do que à chegada do videocassete. Mas faça a mesma pergunta daqui a cinco anos, quando a tecnologia de alta definição explodir no mercado, e a resposta poderá ser muito diferente.

Os efeitos especiais são cada vez mais usados nos filmes. Não há o risco de cansar o público com eles? Os efeitos especiais devem ser vistos como os temperos na cozinha. Quando alguém prepara uma macarronada, usa temperos bem suaves que vão determinar o resultado final do prato. Para ele dar certo, não se pode sentir um gosto muito forte de orégano ou de qualquer outro O que o senhor acha de atores que se transtempero. Os efeitos especiais têm de ser usados formam em diretores, como Kevin Costner e como os temperos dessa macarronada. Eles não Jodie Foster? Acho ótimo que isso aconteça. Há um monte de podem ser as estrelas do filme, esse papel cabe atores e atrizes por aí que não fazem nada além à história e aos atores. Para dar certo, o efeito de esperar que o diretor esteja pronto para eles especial tem que passar quase despercebido. entrarem em cena. Eu dirigi Kevin para um O senhor já assistiu a algum filme brasileiro? programa de televisão e ele, em vez de ficar no Gosto muito dos filmes de Bruno Barreto, que trailer quando não estava em ação, ficava ao está rodando uma produção de TV para a meu lado me observando trabalhar. Ele fazia minha empresa, e dos de Hector Babenco, que o mesmo com todos os outros diretores porque admiro muitíssimo. estava se preparando para dirigir.

“Me dê o nome de uma pessoa que não gosta da Sonia Braga e eu lhe mostro um maluco.” Por esse raciocínio, filmes como os da série De Volta para o Futuro não deveriam ter fracassado? Não, é justamente por segui-lo que De Volta Para o Futuro deu certo. O melhor efeito especial dos últimos episódios são os dois Marty e os dois Doc. No início do filme o público pode achar a duplicidade um pouco estranha, mas logo a aceita como parte da história. O senhor acredita que o videocassete e a televisão a cabo representam uma ameaça para as salas de cinema? 22

O que acha da atriz brasileira Sonia Braga? Me dê o nome de uma pessoa que não gosta da Sonia Braga e eu lhe mostro um maluco. E quanto mais velha, mais interessante ela fica. Acho que pode se tornar uma atriz muito importante no cinema americano. O senhor tem uma câmera de vídeo? Tenho, e faço filmes dos meus filhos o tempo inteiro. Tenho um diário do desenvolvimento de cada um deles. Mas meus vídeos não são grande coisa. Quando estou segurando a câmara, os vídeos ficam bem tremidos e fora de foco. Sou um péssimo diretor na minha casa. Esse ano o senhor dirigiu Além da Eternidade que estréia agora dia 22, já tem outra história em mente? Sim, gosto muito da história do Peter Pan e me identifico muito com ele, é um tema que desejo abordar em breve.


Cult

Cine Underground Europeu O s anos 80 foram “o período em que o cinema propriamente dito começou a deixar de existir”,

culpando o vídeo doméstico pelo encerramento de metade das salas europeias. Ainda assim, não podemos negar que nessa época foram realizadas algumas das maiores obras primas cinematogáfricas do cinema do velho mundo. Vamos relembrar alguns.

Por Marianna Seixas

Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos - 1987

Fitzcarraldo - 1982

Filme que trouxe à tona o excêntrico cineasta espanhol Pedro Almodóvar - ao ser indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro - Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos é um banquete kitsch. A trama que mais parece uma novela mexicana é recheada de melodrama, emoções exageradas, cores vibrantes e mulheres excêntricas todas reunidas em um apartamento. Todos esses elementos mais a direção firme de Almodóvar contribuem para a construção de um senso de humor bastante peculiar e singularmente louco.

Dirigido por Werner Herzog, o filme conta a história de Brian Sweeney Fitzgerald, um homem engenhoso que pretende construir uma ópera no meio da Amazônia. O filme conta com cenas perigosas, filmadas sem efeitos especiais. Conta ainda, com Milton Nascimento em pequeno papel. Foi indicado a vários prêmios sendo vencedor da Palma De Ouro de Cannes como melhor filme estrangeiro.

Fanny & Alexander - 1982 Dessa vez os fãs mais taciturnos do ícone do cinema sueco tiveram que dividir espaço com os telespectadores menos exigentes. O diretor e roteirista Ingmar Bergman, reconhecido por retratar em seus filmes as condições mais sombrias e profundas da alma humana sob um olhar alegórico e onírico, faz de Fanny & Alexander um de seus trabalhos mais belos e acessíveis. A história parcialmente autobiográfica, retrata a vida de dois irmãos que tem que se adaptar à morte do pai e ao casamento da mãe com um religioso detestável. A narrativa mistura fantasia e realidade levando o espectador a percorrer os caminhos entre o encanto e a angústia. O ritmo lento ainda pode afastar os mais apressados, mas a iluminação cuidadosa transforma cada fotorama em uma experiência única. Vale lembrar que o longa faturou 4 de suas 6 indicações ao Oscar. Um recorde para um filme estrangeiro.

Asas do Desejo - 1987 O filme foi muito bem recebido pela crítica sendo indicado a diversos prêmios e ganhando a maioria desde seu lançamento em 1987 até hoje. Só esse ano foi nomeado a seis premiações - incluindo o BAFTA - das quais quatro foi vencedor. Conta a história de um anjo que se apaixona por uma humana. A mesclagem de imagens coloridas e em preto em branco para retratar cada plano espiritual produz um efeito muito interessante.

Meu Pé Esquerdo - 1989 Dirigido pelo estreiante irlandês Jim Sheridan, o filme, lançado esse ano, foi arrebatador. Inspirado pela autobiografia do artista plástico Christy Brown, o longa promete ganhar muitos prêmios ainda nos próximos anos. Cinema Paradiso - 1988

Cena de Cinema Paradiso, 1988.

Dirigido por Giuseppe Tornatore, e lançado no ano passado, o longa italiano emocionou diversos espectadores. Contando a história de Totó, um menino que adora cinema, e sua relação com Alfredo, o projecionista do pequeno cinema do vilarejo. Esse ano foi vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, e promete ainda receber muitas outras premiações nos anos seguintes.

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Cult

Tupiniquim Por Marcus Salvador

Desde antes da década de 50 o cinema americano

já estava se desenvolvendo enquanto aqui ainda caminhávamos a passos lentos. Durante a década de 70 vivemos um ciclo de expansão econômica, ao contrário do declínio atual. Podemos dizer que os anos 80 trouxeram o fim do “milagre econômico”. O PIB está caindo enquanto o desemprego e a inflação crescem. Tivemos crises econômicas mas, por outro lado, o regime ditatorial teve um fim. Podemos dizer que esse cenário político não foi muito diferente do cinematográfico. Na nossa edição de 1969 celebramos a criação da Embrafilme, que em incentivando a produção e distribuição de filmes. Os anos 70 tiveram vários longas de sucesso, o que não se percebe tanto atualmente em que poucos se destacam. Por volta de 1976 foram exibidos Dona Flor e seus dois maridos, A Dona do Lotação. Essa época ficou caracterizada pela popularidade do gênero Pornochanchada, responsável pelo aumento de participação do cinema brasileiro no mercado. Contendo muitas cenas eróticas, mesmo que não explícitas, foi muito comparado ao cinema pornô. Para completar a fórmula possuía também muito humor, a chanchada. Daí a origem do termo. Faziam sucesso também os filmes dos Trapalhões que obtiveram cada um mais de 3 milhões de ingressos vendidos. Com o recuo econômico nada mais natural do que o observado: o brasileiro não tem mais dinheiro para ir ao cinema. Sem mercado consumidor a indústria cinematográfica tem sofrido muito. Há notícias até mesmo de donos de cinemas que pararam de exibir filmes brasileiros. Com a censura cada vez mais branda, os filmes passaram a conter muitas cenas explícitas de sexo e palavrões. Há alguns anos se criou a Lei do Curta a qual obriga que filmes de curta duração brasileiros sejam exibidos antes de qualquer longa estrangeiro. Essa lei veio numa tentativa ainda de salvar o cinema brasileiro, que parecia fadado ao fracasso, e ao que tudo indica, tem dado certo. Novos cineastas têm surgido no país e alguns curtas estão sendo até premiados. Um exemplo disso é o curta lançado esse ano, Ilha 24

das Flores”, dirigido por Jorge Furtado, que vem ganhando prêmios e promete arrecadar muitos outros . Além desses filmes de pequena duração alguns documentários mais voltados para a política ganharam espaço agora com o fim da ditadura como Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho, e principalmente Jango (1984), de Sílvio Tendler. O mais recente, Eu Sei Que Vou te Amar (1986), de Arnaldo Jabor, tem Fernanda Torres como atriz principal e essa atuação lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no festival de Cannes. Apesar disso, esses anos não tem sido os melhores para o cinema no país, só podemos esperar e torcer para que nos próximos anos, com o fim dessa crise, a qualidade dos filmes aumente e que essa indústria seja mais bem aproveitada.

Anos 80... Com o fim da ditadura chegou a hora de tirar das gavetas, aos poucos, os roteiros de cunho um pouco mais politizado. A indústria do cinema nacional continua dependente da Embrafilme e os cineastas agraciados com verbas costumam ser os mesmos sempre. Mesmo assim, muitos filmes surgiram. A maioria puro lixo. Mas entre eles, destacamos dez filmes realmente muito bons: 10. Festa 1989 – Ugo Giorgetti. Um tocador de gaita, um jogador de sinuca e seu velho assistente são convidados para animar uma festa de sociedade, mas o tempo vai passando e eles nunca são chamados para se apresentarem. Durante sua espera no hall de entrada, presenciam todo tipo de absurdos conforme a festa prossegue e os convidados vão ficando cada vez mais desinibidos. Uma visão ácida da sociedade, pelos olhos de um diretor com personalidade. 9. Eu Sei Que Vou Te Amar 1986 – Arnaldo Jabor. Uma sessão de psicanálise filmada. Em um apartamento, um jovem casal resolve viver em duas horas um jogo da verdade sobre tudo o que já lhes aconteceu. Prêmio de melhor atriz em Cannes para Fernanda Torres.


Cult 8. A Cor do Seu Destino 1986 – Jorge Duran. Um garoto chileno vem morar no Brasil, depois que seu irmão é assassinado pela repressão de seu país. Anos mais tarde, ainda marcado pelas lembranças do golpe, ele sofre uma crise ao saber que sua prima foi presa em Santiago. Falava-se de golpe militar, mas era o dos vizinhos. 7. O Beijo da Mulher Aranha 1985 – Hector Babenco. Primeira grande coprodução Brasil - Estados Unidos. Dois prisioneiros um preso político e outro homossexual acusado de atos imorais - estão na mesma cela onde se conhecem até acabarem se respeitando. Oscar, Cannes, Bafta e vários outros prêmios para William Hurt em grande atuação.

Cena de O Beijo da Mulher Aranha, 1985.

6. Nunca Fomos Tão Felizes 1984 - Murilo Salles. Rodado no último ano do regime militar. Um rapaz é retirado de um colégio interno por seu pai, de quem está afastado há 8 anos. É acomodado num grande apartamento temporariamente. Ele começa, então, a investigar o mistério que o cerca, em busca de sua identidade.

soltar o prisioneiro, mas ele decide terminara missão que lhe foi confiada, mesmo que tenha de matar para completá-la. 3. Inocência 1983 – Walter Lima Júnior. Baseado no clássico do Visconde de Taunay. No Brasil imperial, Édson Celulari é um médico itinerante, que em suas andanças conhece uma moça acometida de malária - Fernanda Torres – por quem se apaixona, sendo correspondido. Entretanto, o pai da jovem já a prometeu para um rico fazendeiro da região. Bela fotografia e uma história bem contada.

2. Eles Não Usam Black-Tie 1981 - Leon Hirszman. Uma greve começa numa empresa. Um operário, com a namorada grávida, decide se casar. Para não perder o emprego, ele fura a greve, que é liderada por seu pai, iniciando um conflito familiar que se estende às assembleias e piquetes. Um bom drama familiar e um retrato do país na época. Ganhador de vários prêmios.lack Tie. 1. Pixote, A Lei do Mais Fraco 1981 – Hector Babenco. Um garoto abandonado nas ruas rouba para sobreviver. Com apenas 11 anos, após passar por reformatórios e aprender a se virar, torna-se um pequeno traficante de drogas, cafetão e assassino. Um importante retrato violento da infância perdida, com vários prêmios internacionais e uma atuação brilhante de Marília Pêra.

5. Memórias do Cárcere 1984 – Nelson Pereira dos Santos. Baseado na autobiografia de Graciliano Ramos. Carlos Vereza vive o escritor, que acusado pelo Estado Novo de colaborar com subversivos, é levado ao presídio de Ilha Grande, onde convive com prisioneiros políticos e com todo tipo de marginais. 4. Sargento Getúlio 1983 – Hermano Penna. Lima Duarte está brilhante como um rude sargento que tem a missão de levar um prisioneiro, inimigo político de seu chefe, de Paulo Afonso a Aracaju. No meio do caminho, o panorama político muda e o sargento recebe a ordem para

Cena do filme Pixote, 1981.

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Cult

É Ruim... Mas é Bom! Por Luana Camará

O terror cinematográfico desta década foi representado pela nudez gratuita, o humor tosco, a violência exarcebada e a personificação do medo nonsense. Diga "olá" ao gênero trash, que a cada ano vem ganhando mais fãs e adeptos, fazendo o segmento de produção se destacar no cenário alternativo. Aqui vamos falar do surgimento, das inspirações, dos clássicos atuais e de quem produziu o melhor do pior da sétima arte na última década.

M

as tecnicamente, o que é um filme trash? O baixo orçamento, a imaginação fértil e a falta de um roteiro brilhante são os ingredientes para um bom filme bizarro. O custo não é o fator determinante. Muitas vezes a intenção do diretor é que a produção, mesmo que cara, seja tosca, com intuito de chocar de uma forma tão - carinhosamente falando - pífia, que o terror e o humor conseguem ser transmitidos simultaneamente. Diríamos que o trash é paradoxal. É tosco, mas é cult. Cena do filme Sexta-feira 13.

Cartaz do filme A Noiva do Monstro, 1955.

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O gênero nasceu há cinco décadas, num modelo chamado Poverty Roll. Mas o que é isso? Calma, o Cinemaque explica. Em paralelo com o sistema principal, chamado de Block Booking de Hollywood (na compra de um filme top de linha, era necessário comprar pelo menos três de baixa produção), o Poverty Roll era mantido por produtoras pequenas às margens do cenário cinematográfico, que faziam os chamados filmes B, hoje o nosso trash. Dessa época, surgiram classicões que foram inspirações para os nossos exemplares oitentistas. Os inesquecíveis “A Noiva do Monstro” (1955) e “Plano 9 do Espaço Sideral” (1959) de Ed Wood (o mestre do trash, considerado o pior cineasta do mundo), ressuscitados junto com vários outros clássicos pela cultura VHS nascente desta década, reascendeu as chamas do segmento. A partir daí o fluxo criativo dos cineastas de terror foi incessante. Logo em 1980 tivemos “Sextafeira 13”, que mostra a fuga de dois adolescentes de um acampamento que são mortos a facadas. Muito cabível ao trash, em menos de uma década de lançado mas já com oito franquias, é considerado um clássico.


Cult Mas não são apenas destes nomes que é feito o cinema trash. Peter Jackson lançou o top do trash, "Trash - Náusea Total". Michael Muro produziu outro gigante, "Boca do Inferno" (1987). A pareceria entre Lloyd Kaufman e Michael Herz resultou no "Monstro do Armário" (1986). Larry Cohen criou "A Coisa" (1985), que deixa qualquer um com nojo de tomar iogurte por bom tempo. E por último mas não menos importante, Stephen Chiodo dirigiu o ultra trash "Palhaços Assasinos no Espaço Sideral" (1988).

Cena do filme A Morte do Demônio,1981.

Em 1981, Sam Raimi estreou no gênero com a produção que hoje já é considerado ícone: "A Morte do Demônio". O filme, totalmente dentro dos padrões trash, mostra a jornada de cinco amigos que se isolam numa cabana em uma área isolada e passam a ser assombrados por um espírito maligno. O longa gerou uma continuação ainda melhor, em 1987.

Personagens do filme Palhaços Assassinos do Espaço Sideral, 1988.

Cena do filme A Hora do Pesadelo, 1984.

Em 1984, Wes Craven nos dá o maior vilão com o melhor humor negro já visto: Freddy Krueger. Em "A Hora do Pesadelo", a jovem Nancy começa a ter pesadelos que inicialmente guarda para si, mas quando descobre que pessoas próximas também têm sonhos com a mesma figura amedrontadora, a moça procura pela polícia mas é ignorada. Daí desenrola toda uma trama que resultou em cinco franquias até agora. Enquanto o respeitado Tobe Hooper dirigia sob a tutela de Steven Spielberg uma interessante e assustadora reflexão do sobrenatural com "Poltergeist" em 1982, Dan O’Bannon fazia sua própria versão trash de um ataque zumbi com "A Volta dos Mortos-Vivos" em 1985.

Vale lembrar que, sendo difícil categorizar o trash, não há critérios oficiais para subjugar qualquer produção. Sem verdades absolutas, as pessoas elegem os filmes trashes. Basicamente, se reconhece por trash aquela produção com elenco neoprofissional, com iluminação precária, com erros de continuidades, takes misturados, e o uso de imagens de arquivo (imagens de algum documentário inserido num filme, por exemplo). Assim, você pode escolher qualquer filme com tais características para ser seu trash. Caso não tenha o feito ou ainda não assistiu os citados na reportagem, Cinemaque recomenda a você uma maratona trash! Se assustando ou rindo, garantimos que você não vai se arrepender.

Cena do filme Trash-Náusea Total, do estreiante Peter Jackson.

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Promessas

Promessas dos anos

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Os anos 80 foram palco do surgimento de várias estrelas nas telonas, e não podíamos nos despedir em maior estilo, senãotentando adivinhar o que vai rolar na próxima edição comemorativa, a de 99. Como a gente adora uma aposta, selecionamos alguns nomes do entretenimento que se destacaram atualmente e em que apostamos que irão brilhar nas produções cinematográficas da próxima década: Por Mariana Russo

Johnny Depp Ao coestrelar o filme “A Hora do Pesadelo” e participar nos últimos três anos da série “Anjos da Lei”, aos 26 anos ele hoje é ídolo teen e símbolo sexual da nova geração. Ao provar com suas atuações que não é só mais um rostinho bonito ele promete marcar presença nas telonas dos próximos anos.

Patrick Swayze Atingiu o reconhecimento do público e da crítica tardiamente, aos 35 anos com Dirty Dancing. Hoje, aos 37 anos, figura entre o seleto grupo de atores que cantam e dançam. Swayze se encontra atualmente envolvido nas filmagens de Ghost, junto com Demi Moore, esposa de Bruce Willys, que também alcançou a fama recentemente em O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas.

Johnny Depp, 1984.

Julia Roberts Tendo participado de apenas dos filmes, esse ano foi indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por Flores de Aço. A bela de 22 anos começou com o pé direito, já causando alvoroço na crítica e arrebatando corações, e mostra que quer alçar vôos cada vez mais altos.

Julianne Moore

Julia Roberts, 1983.

A atriz de 29 anos estreiou na televisão em 1985 na série “As the World Turns”, na qual vem obtendo ótimas críticas. Revelou em recentes entrevistas que está estudando interpretação e linguagem corporal e que sonha em atuar no cinema.

Patrick Swayze, 1984.

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Julianne Moore, 1985.




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