O último homem bom

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Copenhague, Dinamarca Horas gélidas no distrito Noroeste da cidade. A chuva batia no teto do carro da polícia produzindo um ruído relaxado, monótono. As gotas estavam ficando mais pesadas. Logo aquela chuva que caía sobre Copenhague se cristalizaria e cobriria o solo de neve macia, pensou Niels Bentzon. Seus dedos tremiam quando ele tentou pegar um dos últimos cigarros do maço. Pelos vidros embaçados o mundo à sua volta era como um impenetrável véu de água, escuro, iluminado alternadamente pelos faróis dos carros que passavam. Ele se recostou e olhou para o espaço. Estava com dor de cabeça e agradeceu aos poderes elevados o fato de o chefe da equipe lhe ter pedido para esperar no carro. Niels não se importava com Dortheavej. Talvez porque aquela área tivesse uma enorme capacidade de atrair problemas. Ele não se surpreenderia minimamente se naquele momento não estivesse chovendo no resto de Copenhague. Niels tentou lembrar quem tinha fixado residência ali inicialmente. Teria sido a comunidade religiosa islâmica ou os ocupantes da Casa da Juventude? Os dois grupos foram um convite aberto para criadores de caso. Na força policial todo mundo sabia disso. Se pelo rádio da polícia chamavam de Dortheavej, na região Noroeste da cidade, isso significava manifestações, uma ameaça de bomba, incêndio criminoso ou confusão generalizada. Niels participara de batidas policiais na velha Casa da Juventude; quase todos os policiais do país já haviam sido convocados para isso. Ele tinha acabado numa rua lateral onde tentou apaziguar dois homens muito jovens que agitavam 24


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