Correio do processo

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primeira pĂĄgina do prĂŠ livro do carlos


livro scrolin


ANDRÉ – Não é “se vire”. Eu te ensino muito feliz. LIOR – É criar uma tentativa de autonomia, em relação a essa indústria, a essa técnica ANDRÉ – É então tipo uma escola de gráfica. Universidade Gráfica. ANDRÉ – A gente já tem várias invenções, a gente inventa coisas VIDI – A gente tá sempre inventando jeitos mais rápidos de fazer ANDRÉ – O problema não é tanto as invenções, o que é difícil é outra coisa. IDJAHURE – Vai ter um livro final mas esse livro vai ser uma versão que poderia ser outra CAROL – E a gente pode ir alterando, aperfeiçoando essa versão IDJAHURE – Normalmente o cara entrega o manuscrito e fica totalmente à mercê da editora. O resultado final sai muito longe do seu pensamento. IDJAHURE – O livro do Carlos é muito coletivo! Ele escreve na presença das outras pessoas. É claro que é ele que é o autor, ele que escreve, mas... (várias reações contrárias) eu tô provocando, claro, ele que tornou material CAROL – A morte do autor LIOR – Mas na verdade é trazer o autor para todas as partes do processo. No limite ele é autor do processo todo, ele pode fazer tudo sozinho. VIDI – Pode mesmo? CAROL – Na prática, a verdade é que ele só pode fazer tudo se fizer junto. ANDRÉ – Carol, a empresa é realmente uma prancheta? Como você falou que a sua fábrica de cadernos era. CAROL – Não somos empresa, porque uma empresa... uma empresa só quer fazer certo.... porra, porquê a gente quer zoar, experimentar! Fala alguma coisa!! ANDRÉ – Se eu faço algo que poucos fazem, já surge uma centralização LIOR – É um território. Uma impressora, um espaço, um encontro. ........ - A transexualidade gráfica ANDRÉ – Ela vem da HP americana e passa pela pirataria da uruguaiana, os dois mundos do capitalismo LIOR – Transgrafismo, transformismo IDJAHURE – Você imprimiu todo o facebook!



O livro do Carlos: quem estava digitando era ele, mas totalmente agenciado pelos encontros, pelas pessoas, influenciado pelo que ouvia e via. Ele tornou material a experiencia de circular pelo Rio em transportes publicos. Postava na hora e compartilhava as conversas e atmosferas que vivia. É muito descritivo, mas as situações disparam memórias nele. Refle-

xões são poucas, é quando o livro é mais chato, é mais legal quando ele descreve, o que ele escolhe enquadrar em sua descrição. Estavamos numa mesa de bar, depois que um amigo brigou com a gente, e por isso estavamos tendo uma conversa profunda. Logo Carlos aparece declarando um amor pela revista que já faziamos, dizendo que queria lancar os textos com a gente. Ele enviou para nós a selecao que já tinha mandado para uma editora, mas achamos pouco, queriamos mais, todos! Toda a materia prima para criar do comeco. Comecamos a testar formas de encadernar e quando recebemos os textos, fizemos um primeiro mutirao, um encontro para produzir 20 livros. Eles foram distribuidos aleatoriamente e lemos. Encontramos em reunioes de leitura onde conversavamos sobre a vibe do livro. Nos perguntamos como editar e comecamos a votar os textos que gostavamos, sempre desenvolvendo o processo nunca com uma forma definida. Fizemos o primeiro corte a partir do resultado das votacoes. Agora nos perguntavamos como organiza-los, como iam se encadear numa narrativa pelo Rio. Fomos pruma casa em Tiradentes fazer uma imersao no livro e ordenamos os fragmentos num varal. De volta, experimentamos outras encadernacoes e descobrimos o scrolin, que voce esta segurando agora, que reproduzia uma leitura continua, aliás como no computador. Outra mutirao para produzir mais 13 livros com os textos na sequencia que tinhamos definida. E com eles em mao no formato novo, lemos para entender o que


estavamos fazendo. Nos encontramos mais algumas vezes para o acordo ortografico. Tivemos medo de alterar a visao global, a leitura da vibe do Carlos, com pequenas correcoes no texto entao ignoramos o que seria considerado errado gramaticalmente. Se não atrapalhava a fluidez e ritmo do livro, ignoramos. Enquanto isso, achávamos que o nome do livro ia surgir naturalmente, mas naaaaao. Discutimos interminavelmente varias opcoes de nomes mas nunca chegamos em nenhuma conclusao. Até agora todos os nomes valem, e se isso não mudar, o leitor, na compra do livro, vai escolher um titulo que carimbamos na hora. Fizemos uma rifa pra arrecadar fundo para custear a primeira tiragem do livro. Muitos já venderam suas rifas e agora com o dinheiro disso mais doações compramos uma impressora maior, uma Manuelona. Com o texto já fechado, o formato da encadernação scrol desenvolvido, estamos lembrando todas as etapas do processo pra escrever o prefácio.





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