Tertúlia Açoriana - 93 anos de Eduíno de Jesus

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93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021

Não conheço à face da terra homem mais cuidadoso com as palavras que o nosso Mestre de Literatura Eduíno de Jesus. Este grande Poeta tem o culto pela beleza das palavras, como confessa na abertura do seu livro “Os Silos do Silêncio” que selecciona os seus poemas “... Mas... é a Beleza que procuro / em cada verso em cada palavra / e que não logro alcançar / é isso é isso o que me faz chorar”. Nas conversas dá valor às palavras faladas, e mesmo se elas parecem baralhadas, contêm sempre lições de experiência de vida. Partilhar com o Mestre um jantar a dois, é entrar num outro espaço temporal, onde o sabor das palavras trocadas nos transcende. Assistir a uma palestra sua, é compreender a grandeza da sua verve. Sempre modesto e afável, sem deixar de ser contundente quando entende, emana de um espírito muito sabedor e profundo.

Eduíno de Jesus, nascido a 18 de Janeiro de 1928, poeta, ensaísta e crítico literário. Conhecido como o Professor, o Mestre, Decano dos Açores, ou simplesmente o Eduíno. Reunimos neste “postal” saudações pelo seu 93º aniversário. PARABÉNS!

Nas conversas e na escrita utiliza as palavras pensando nelas, como esclarece no seu poema “Artesania Poética”: “Macerar as palavras / até fazerem sentido. / Depois macerar o sentido / até fazer palavras”. Quando lhe telefono, está sempre entregue a algo da escrita. É esta a fonte que lhe alimenta a vida. Neste dia de seu aniversário natalício, venho dizer-lhe: Muito obrigado Mestre Eduíno de Jesus. Ser seu amigo e beneficiar da sua amizade é meu imenso privilégio. Paulo Enes da Silveira


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 Escrever e falar sobre esse grande mestre que é Eduíno de Jesus não é fácil, a sua multifacetada obra (Poeta, crítico, ensaísta, ensaísta, dramaturgo) não se pode resumir à frase “Entre “Entre o Bar Jade e o jornal A Ilha cabia, afinal, o mundo todo e arredores.” Dedicou-se ao teatro (teoria, história e crítica) e às artes plásticas (teoria e crítica). Prefaciou dezenas de obras mas ninguém se pode dar ao luxo de prefaciar a sua vasta obra quando exclama “a “a reflexão sobre a verdadeira natureza da poesia (que não é uma questão de queda ou de jeito) e do poeta (que vai para além do simples habilidoso)” e denuncia denunciava va a “tendência para levar à conta de poesia o que não o era ” . Ele tem bem clara a noção de que, em poesia, o “menos” significa o “mais” “mais” como disse Assis Brasil. Brasil. Apesar de episódica, a sua escrita dramática é significativa. Na comédia em um ato Cinco Minutos e o Destino afirma-se partidário da «arte pela arte»: as personagens são remetidas ao anonimato e designadas no diálogo cénico pelo papel que desempenham... Foi conselheiro pedagógico do Ministério da Educação Nacional e, colaborador em estudos literários e linguísticos como Sintaxe Básica do Português, Português, 1982 e procedeu à reforma dos estágios para professores e preparação dos novos formadores. Participou em Introdução à Semiologia de Toussaint (1994)... Em 1979 a Universidade Nova de Lisboa convida-o para reger a cadeira de Teoria da Literatura. Convidado da Universidade Clássica, Clássica, ali leccionou cursos para estudantes estrangeiros (História da Literatura), no Departamento de Língua e Cultura Portuguesa, até 2000 2000.. Tornou conhecida a obra de vários escritores açorianos e criou, dirigiu e colaborou em dezenas de revistas de literatura. Ao ler a magnífica antologia que é Os silos do silêncio sabemos que queremos ficar, tal o ímpeto que nos impele a continuar a leitura até ao fim e a ansiar por mais. Segundo Couto Viana, «há «há meio século que é apelidado de «poeta modernista». «havendo quem o considere um dos mais significativos simbolistas da «geração de 50». Apesar de uma ou outra influência, o Surrealismo e o Concretismo passam de de raspão raspão na sua poesia, onde nem tão pouco se vislumbram ressonâncias da «Presença» ou do Neorrealismo….escreve afetos, emoções e sentimento sentimentos, s, … as encruzilhadas da vida e mitologias do quotidiano.” Eduíno é um ser extraordinário que há muito transcende com a sua humildade e imensa sabedoria, os portais de qualquer catalogaçã catalogação o literária apesar da amizade que nos une sinto-me sempre apoucado ao falar com ele pois não tenho capacidades para abarcar e digerir todos os conhecimentos que o seu pensamento encapsula. (continua na próxima página)


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 Eduíno

(continuação) É uma enorme honra tê-lo como nossos associado, na AICL Colóquios da Lusofonia, onde já o homenageamos em 2012, 2015. 2016 e 2019. sendo actualmente o decano dos autores açorianos.

Como não saudar este jovem que nos deixa nos seus 93 anos

Espero que a sua mente lúcida nos continue a brindar com a sua filosofia enriquecedora. Ainda há dias numa das nossas tertúlias online, nos alertava para o fim da discussão civilizada, pois ninguém sabe discutir, ninguém sabe ouvir, ninguém sabe contrapor argumentos, pois o pensamento, a ciência, o saber foi substituído neste imediatismo atual pelas opiniões infundamentadas. Bem-haja grande mestre pela sua clarividência.

lhou com os outros.

uma lição de inteligência e dedicação? Dedicação à causa da literatura, que investigou apuradamente e generosamente partiParabéns, Eduíno, por esta longa vida e por uma obra séria e exigente! Um grande abraço, que a pandemia reduz a um simples gesto virtual. Urbano Bettencourt

Chrys Chrystello Presidente da AICL (Colóquios da Lusofonia) Caro Amigo Eduíno, Tua vida dá sinais De plena novidade: Os anos não contam mais, Oh! meu jovem sem idade! Ad Multos! José e Lourdes Costa


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 Conversas transatlânticas ao telefone com o Eduíno somam horas bem

Feliz Aniversário, Professor Eduíno de Jesus!

acrescentadas (quem conhece o Eduíno sabe que não há nunca um tema curto

Eu lembro-me perfeitamente do Eduíno ainda hoje. Eu era aluno

e qualquer palavra pode ser um bilhete de viagem para uma excursão

do Eduíno em Lisboa. Já lá vão mais de 30 anos. Como eu já

etimológica). Dos emails decididamente perdi a conta. De almoços e jantares nas minahs idas a Lisboa, idem. Dos encontros em outros lugares do planeta, muitas vezes completamente inesperados, também não há rol que consiga reuni-los todos, embora sobre alguns eu já tenha contado por escrito. Têm sido quarenta anos de riquíssimo intercâmbio de ideias e amizade (os de ideias começaram bem mais cedo, quando me pus a lê-lo a meados da década de 60). Por essas acrescentadas horas de convívio humano e cultural estou-lhe

tinha lido no Japão algumas obras do João de Melo, o Eduíno sugeriu-me o contacto com o João de Melo. Depois, conheci o Urbano Bettencourt, o Onésimo Teotónio Almeida, o Álamo Oliveira e o Dias de Melo. Depois de estudar muito, eu estou aqui em Tokyo dando as aulas de português. Por isso, agradeço e felicito pelo aniversário.

imensamente grato; mesmo quando expressámos as nossas discordâncias. Aliás, o Eduíno é o primeiro a manifestar a sua dissidência sem nunca se sentir na obrigação de engolir sapos ou reprimir o que realmente sente e em

Kiwamu Hamaoka Tradutor japonês de Já não gosto de chocolates de Álamo Oliveira e Pedras Negras de Dias de Melo.

que acredita. São assim mesmo as boas amizades. Aos 93 anos, a cabecinha do nosso Eduíno está finíssima, atenta e capaz de ir buscar factos e dados seguros aos arquivos mais recônditos do cérebro e deles extrair sumo para mais uma conversa de que os circunstantes (dialogantes ou

PARABÉNS!

não) saem sempre mais ricos.

Votos das maiores felicidades e muita saúde.

Muito obrigado, Eduíno. E ad multos annos!

Forte abraço. Onésimo Teotónio Almeida

Emanuel Jardim


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 Era eu jovem! Enquanto estudava, e enquanto lia, surgiam no horizonte, e

Falar de Eduíno de Jesus, é falar da minha privativa enciclo-

nas páginas que devorava, nomes sonantes, como aqueles que achamos

pédia com duas pernas… Se tenho alguma dúvida no que a

habitar apenas os livros, que moldariam, indelevelmente, a minha forma

Literatura concerne, basta ligar ao senhor doutor e aguar-

de olhar para as palavras e de as amar. Longe estaria eu de adivinhar que,

dar... que ele sabe tudo e tira-nos logo todas as dúvidas! É

um dia, o destino haveria de materializar um desses nomes, transformando

um amigo precioso, meigo, afável e a quem dá gosto acom-

-o em carne e osso, em humildade e generosidade contínuas e imutáveis.

panhar no trajecto da vida!

Privar com Eduíno de Jesus é beber desta fonte inesgotável de conheci-

Agradeço aos deuses terem proporcionado que me cruzasse

mento.

com ele durante o meu percurso terráqueo! Envio-lhe um

Como escreveria o poeta: "Ninguém sabe/o destino da vida/nascida/ Nem

Beijinho repenicado e um chi-coração bem apertado e do

o Tempo // Ninguém sabe/ o destino do dado/ lançado/ Nem a Sorte". E

tamanho do mundo. Que Deus lhe dê ainda muitos anos de

que sorte temos nós de o poder ter por perto nas suas palavras, palavras

vida para nosso deleite!

que são imortais.

Teresa Machado Silveira

Parabéns, Mestre! Pedro Paulo Câmara

“A maior glória de viver não está em nunca cair, mas em nos erguermos de cada vez que caímos.”

Parabéns, muitas felicidades! Desejo que se repitam por muitos anos. Um

Muitos parabéns Eduíno!

grande abraço,

Abraço Eduardina Rocha

Fernando Vaz de Medeiros


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 Parabéns. Que a estrela continue a mostrar a sua luz no firmamento das letras açorianas e nacionais. Abraço amigo do

Que saudades tenho das preleções do Eduíno de Jesus a explicar a raiz etimológica das palavras. A última foi sobre pandemia que deriva do micaelense pãedemilhe. Quando o cereal

Octaviano Mota

escasseava, morriam que nem tordos, e o registo do óbito era: lá se foi mais um sem pãedemilhe. Com o passar dos tempos,

Parabéns e continue a deliciar-nos com os magníficos pensamentos e escritos.

os parnasianos agarraram o conceito e refinaram-no, até dar origem a pandemia. Parabéns ao Eduíno. Abraço.

Felicidades e (à boa maneira Açoriana): haja saúde.

Carlos Enes

Bem haja. Fernando Maciel

Nestes tempos que correm, em que andamos - Tod@s e cada um (a) de nós - a lutar contra um maldito vírus que teima em não querer ser derrotado, hoje, e para o Eduíno de Jesus, este não deixa de ser um dia importante.

Caro Professor Eduíno, Recordo constantemente as viagens que empreendemos ao Brasil, EUA, Canadá e Açores. Neste dia especial, permita-me um enorme abraço de PARABÉNS e que este aniversário seja continuado por muitos e muitos outros, carregadinhos de alegrias, saúde e muita paz.

É o dia do Seu Aniversário, um dia muito especial para quem, como ele, já tem tantos Janeiros. É ter a certeza de que todos os sonhos ainda se poderão realizar e, naturalmente, reconhecer que os Amigos se importam com a sua importância. Meu querido Eduíno de Jesus, um Feliz Aniversário !!!

Ruben Santos

Carlos Borges de Sousa


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 Ler o Eduíno é um deleite. Conhecer o Eduíno é uma No aniversário de Eduíno de Jesus É preciso, é preciso dar notícia aos grandes profetas do futuro!1 Profetas! Eis a notícia resgatada a uma vida amparada pelo lugar da poesia. Forma de entender o tempo. O Poeta devolveu ao futuro as afeições límpidas da modernidade. Do movimento dessa luz mítica, oferece versos à lentidão da vida, reconhecendo no espelho protector da vanguarda, os cristais da confidência a rasarem, por amor, renúncias, no caminho do mistério de deslizar no esvoaçar de aves a enorme e intransponível sombra deste muro!2 Construindo salvamos a memória! Parabéns Poeta! Henrique Levy Casa da Mediana, 18 de Janeiro de 2021 _________________________________ 1 Eduíno de Jesus – Poema do Amor Desesperado. 2 Ibidem.

honra. Ter o Eduíno como amigo é carregar no peito uma medalha para toda a vida. Obrigada, querido Amigo Eduíno, pelas conversas e risos. PARABÉNS!! Ângela Loura


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 Para expressar a minha admiração o meu carinho ao ser maravilhoso na grandeza do seu saber, na dimensão humana do poeta, do intelectual intelectual ímpar , do mestre, do cavalheiro, do querido amigo Eduíno de Jesus, no dia do seu aniversário, escolhi um artigo que escrevi há dezesseis anos sobre o seu esplendido “Os Silos do Silêncio” para homenageá-lo neste 18 de Janeiro de 2021 – “93 anos de Eduíno” – apresento-o de forma reduzida. UM SILO CHAMADO EDUÍNO Ainda não conhecera um silo que armazenasse poemas, alimento para a alma. Sim, este silo existe. Tem nome e criador. Falo da obra obra poética Os Silos do Silêncio, Silêncio, que reúne as mais representativas poesias de Eduíno de Jesus, no período de 1948 a 2004. Mais de meio século de trabalho poético e aventuras por muitos caminhos em recolhas para, finalmente, desaguar numa obra de impressionante luminosidade. Uma antologia antologia pessoal, que reúne, na I Parte, as três coletâneas poéticas: Caminho para o Desconhecido (1952), O Rei Lua (1955) e A Cidade Destruída durante o Eclipse (1957) e, na II Parte, Inéditos & Dispersos. Dispersos. Uma poesia que manteve longe dos olhos do público leitor desde o final dos anos cinquenta por extremo zelo, esmero, por não a considerar pronta, finalizada. Um perfeccionista, isto sim. A I Parte reúne os três volumes de poemas, publicados nos tempos de Coimbra, na década de cinquenta, por onde flui toda a sensibil sensibilidade idade e criatividade do seu genuíno talento já naquela época reverenciado, como a explicação dada por Armando Côrtes -Rodrigues sobre O Rei Lua em uma de suas Notas de Semana (1958), no jornal Açores, Açores, e citado no Posfácio Esboço de uma Bibliografia de Onésimo T. Almeida, em notável texto, rico em dados e perpassado de afeto: “Só um verdadeiro poeta – e nenhum como Eduíno de Jesus o consegue realizar – seria capaz de transformar a simplicidade do verso no malabarismo técnico de um grande virtuoso, sem descambar em desafino. (…)” (p.362) Na II Parte, sob o título de Inéditos & Dispersos, Dispersos, encontra-se um conjunto de poesias escritas entre 1948 e 2004, feitas, refeitas, alteradas e trabalhadas criteriosamente com a minúcia que lhe é peculiar. (continua na próxima página)


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 (continuação) Eduíno de Jesus é um poeta modernista, afinado com a sua geração, com as tendências que dominavam a poesia portuguesa dos anos anos cinquenta. Uma poesia singular onde a palavra poética ressoa liberta, densa, forte, majestosa, comprometida com a beleza e a ética. ética. A poesia é o seu território, é o mar profundo em que mergulha numa prospecção íntima, subjetiva, sensível, plena. É neste imenso imenso mar azul que abraça a sua terra insular ou outros mares e terras, por outros mundos e culturas. Um percurso seu, aberto a todas as corren correntes tes como o realismo, o romantismo alemão, o simbolismo francês, o concretismo brasileiro ou o purismo do chileno Pablo Neruda, comenta o crítico lite literário rário e filósofo José Enes em Homenagem a Eduíno de Jesus, Jesus, publicada na Revista da Casa dos Açores (vol.I,nº16, 2002:07-09), 09), quando da homenagem prestada por aquela egrégia Casa, durante as III Jornadas Culturais da Casa dos Açores da Nova Inglaterra. Para ler Os Silos do Silêncio, Silêncio, que abraça um espaço de cinquenta e seis anos e onde a diversidade e amplitude da polifonia poética atravessam suas páginas, é preciso entrar pela borda devagarzinho e adentrar nos labirintos da palavra, nos meandros da arte, na filigrana filigrana delicada do verso, na dimensão humana do poeta. Foi desse jeito que entrei em Os Silos do Silêncio e deixei me envolver pelo encanto dos poemas e pela sensibilidade do poeta expressa de forma tão vívida. Senti o farfalhar das asas da poesia, na delicadeza do verso de uma sílaba em Anunciação (in:Poética (in:Poética Fragmentária, Fragmentária, p.221- 223). Fantasiei e no atalho do tempo fiquei à espera em Metamorfose (in: Caminho para o Desconhecido, Desconhecido, p.50-51) de que transcrevo a última estrofe. Esperei por ti todos os minutos do dia e da noite com os nervos a alma ansiosa afagando-te nas pétalas das rosas ou mordendo-te na polpa do fruto Uma profunda ternura emana da sua escrita, na mais pura tradição lírica ou de inspiração no cancioneiro medieval ou, ainda, da da influência influência de elementos do simbolismo revelados num sistema de variação e cadência também encontradas no brasileiro Cruz e Sousa, cujos versos versos apresentam aliterações e assonâncias como se fossem notas musicais, diz Ivan Teixeira na introdução de Broqueis (1994). Poesia musical, de ritmos novos e contagiantes, com uso sensual de palavras em metáforas deliciosas cheia de lirismo e de grande beleza estética. (continua na próxima página)


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 (continuação) Há em sua poesia uma verve espirituosa, uma graça provocativa onde o humor e a ironia sutil se esparramam por trilhas do imaginá imaginário rio na criativa escrita, no seu jeito de olhar os mistérios das coisas, de perquirir a alma, os conflitos, a vida. Gosto do seu delicioso e sensível humor aliado a um olhar sobre a cidade que o acolheu como Conquista (in:mA Cidade Destruída durante o Eclipse,p156-157): Eu sou homem de aldeia, cheguei à cidade de botas amarelas. Fazem lá ideia do que os homens da cidade riram de mim e delas! Pois, apesar disso, a cidade, conquistei-a! E continua, assim, deliciosamente pícaro como no surreal poema As figuras de cera do Museu das Janelas Verdes (p.187) ou com sabor de “piropo”, do lindo Madrigal a uma desconhecida (p.158-159), 159), ou ainda o inquieto Intróito (p.179): Pergunto… Eis o que faço. Mas não conto que respondas. Tal é o meu embaraço: Que, no fim das contas, nada há a esperar das perguntas que Te faço. (continua na próxima página)


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 Caríssimo Eduíno,

(continuação) Não responder é a Tua sabedoria; perguntar, a minha cegueira. Cada um entende a mesma luz do dia à sua maneira.

Recordando os longos anos percorridos em conjunto na Casa dos Açores, que tanto te deve, e que nos permitiram viver muitas cumplicidades e cimentar uma forte Amizade, aqui vão os meus votos para que tenhas um feliz aniversário nessa tua Ilha, onde sei que te encontras.

Todos estão contidos na coletânea A Cidade Destruída durante o Eclipse (1957), carregados de metáforas sedutoras, ternas, caricaturais, provocativas e aliciadoras, que cativam o leitor. Meu olhar perambula, fascinado com o sortilégio dos olhares tecidos em fios que vêm de dentro, lá do fundo da roca, na urdidura da palavra bordada pela sensibilidade e genialidade do poeta Eduíno de Jesus. Imaginário do poeta, imaginário do leitor que se encontram na aventura da descoberta do enigma – a poesia. Finalmente, um silo chamado Eduíno sempre disponível a produzir como poeta e escritor que é. Em boa hora abre as comportas e partilha a sua singular poesia com toda gente – Os Silos do Silêncio, Silêncio, obra de um mestre! Uma dádiva muito esperada.

Forte abraço Miguel Loureiro

Ao querido Eduíno de Jesus, maior exemplo da cultura açoriana que me foi dado a conhecer ao longo dos últimos 20 anos de Casas dos Açores de Lisboa e do Norte, dos Colóquios da Lusofonia, do Arquipélago de Escritores, saúdo neste dia de forma especial, neste pequeno tributo compilado pela minha Filha Ângela, juntando a minha admiração e o meu carinho às que ela lhe dedica, e agradecendo todas

Já não era sem tempo.

as oportunidades de o ouvir e conhecer melhor. Que muitas mais

Bem haja!

oportunidades me sejam dadas. Lélia Pereira da Silva Nunes Florianópolis, Ilha de Santa Catarina

A cultura nos Açores está de parabéns pelos 93 anos de vida de Eduíno de Jesus. Festejemos! Ana Loura


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 Poeta, que continues a levar na mão a luz do mundo. Nós preciDá-se a conhecer pelo sorriso, pela cordialidade, pela disponibilidade e pela generosidade, mas também pelo humor e pela inteligência, pela

samos caminhar sob a tua claridade. Feliz aniversário!

beleza e profundidade da sua obra, pelo conhecimento enciclopédico e por muito mais que não caberia num “postal” como este.

Eleonora Marino Duarte

Enfim, eis um Homem como poucos com quem tive a sorte de me cruzar na vida e com quem espero poder vir a partilhar muitos momentos no futuro. Assim esta pandemia nos autorize.

Ao distinto Amigo Eduíno de Jesus.

Muitos parabéns, estimado amigo Eduíno de Jesus. Muitas felicida-

Muitos parabéns e votos das maiores felicidades é o que lhe deseja,

des.

do fundo do coração, este seu conterrâneo, que muito o admira, Roberto Rodrigues

Eduardo Coelho

Com muito prazer e honra, associo-me a esta feliz iniciativa da Tertúlia Açoriana, que justamente não quis deixar sem a devida celebração celebração o dia 18 janeiro, data do nascimento de Eduíno de Jesus. Trata-se de um Amigo pessoal de longos anos de convívio, que sempre distingui com com o meu apreço, pela sua vasta cultura, o seu fascinante poder de comunicação, o elevado nível da sua criatividade poética. Para além do inestimável inestimável serviço prestado ao nosso Arquipélago, em funções diretivas na Casa dos Açores em Lisboa. Por tudo isso, meu caro Eduíno, aqui vai um cordial, afetuoso abraço. (Metaforicamente falando, claro está, nestes tempos difíce difíceis.) is.) Norberto Ávila


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 Ser amigo de Eduíno de Jesus é uma das maiores alegrias que tenho No espaço de um quase século, cabem muitas histórias e muitas rea-

em termos pessoais e literários.

lidades. Na parca história de uma vida como a minha, almeja -se o

Vamberto Freitas

saber ser, o saber da vida, o saber comunicar e, principalmente, o sensato discernimento sobre todas as coisas. Num podium merecido como quase nenhum outro conterrâneo, a sensibilidade, o carinho e

Ao meu querido amigo Eduíno, memória viva da literatura açoria-

o respeito pelo Ser, são marcas indeléveis da pessoa do Professor.

na, alma sensível para a beleza da palavra, dos sons e das artes, e

Poucos foram, são e serão aqueles que merecem as maiúsculas que

livre pensador da realidade contemporânea, um forte abraço. José Rebelo

a escola, a escola da sua vida, lhe presenteou. Uma gratidão imensa por fazer parte da sua jornada, caríssimo Professor Eduíno de Jesus. Carolina Cordeiro

As datas de pouco valem sem os grandes homens que as fazem. Que tantas outras venham e mil sorrisos também! Pedro Almeida Maia A dimensão intelectual, o sentido de humor, o olhar brilhante de um menino – Eduíno de Jesus é um exemplo e uma inspiração. E no próximo

O meu afecto e admiração pelo escritor e doce poeta Eduíno de

ano aqui estarei para repeti-lo.

Jesus. Joel Neto

Beijinhos de parabéns. Margarida Madruga


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 Conheci o nosso querido amigo Prof. Eduíno de Jesus e a sua esposa há muitos anos seguramente mais de quarenta. Era já amigo de meu Pai e habituei-me em casa a ouvir falar dele sempre com a maior admiração e estima. Foi fácil ficar a gostar de uma Pessoa como ele, tão rico em saber e conhecimento e tão simples e modesto no convívio e na sua postura em sociedade. O que mais admiro nele é o humor que tem e que ao primeiro contacto ninguém poderia imaginar. Ao Professor, poeta, escritor mas acima de tudo ao amigo, deixo um abraço de parabéns com votos de muita saúde e a estima e admiração de sempre! Lopes de Araújo


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 Escrever sobre o Professor Doutor Eduíno de Jesus é difícil não vou dissertar sobre a sua obra um homem que trata a língua portu portuguesa guesa e a cultura como ninguém. A sua poesia e escrita é tão cheia, tão envolvente, mas ao mesmo tempo as palavras são elevadas ao máximo do purismo. Só posso falar a nível pessoal e sentimental. sentimental. Conheço o Prof. Dr. Eduíno de Jesus desde que me lembro (os meus três anos de idade talvez). talvez). Os serões em que 3 crianças brincavam no chão e os dois casais falavam das banalidades do dia até ficar o Eduíno e o meu pai a converconversar sobre o panorama cultural português e o que se estava a passar lá fora tudo muito em surdina porque as paredes tinham ouvidos... ouvidos... Em Sintra os passeios e piqueniques, as tardes na Brasileira com os intelectuais da altura, as exposições, as festas em atos oficiais oficiais que tínhamos de vestir para a ocasião... E todo o passar dos anos e acontecimentos dos bons e dos maus momentos do nosso percurso de vida que quando oiço o nome Jónica (nome que os meus pais, família e amigos me carinhosamente me chamavam) leva a sentimentos e pensamentos até aos dias de hoje. O Eduíno de Jesus é um tesouro que o meu pai me deixou em herança. Nunca terei palavras suficientes para exprimir o que me vai na alma... E sempre grata porque para mim é sempre o Eduíno. Sou uma privilegiada em ter o Eduíno de Jesus como meu amigo pessoal e família de coração. Caxias 16 de Janeiro de 2021 Maria João Bual


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 Um Mestre precisa de tempo e de silêncio, e nós vive-

Lisboa

mos num mundo onde já é raro aquele escorrer lento das horas

13. Junho. 83

que faz germinar o significado de cada coisa.

A noite acabou aconchegada em casa de amigo de infância – o poeta e ensaísta Eduíno de Jesus. Quarenta anos de amizade que vem dos tempos da escola primária do senhor Resendes e da rua da Vila Nova de Baixo n.º 14. Vinte anos de Lisboa encheram-lhe paredes e móveis de recordações de viagem, de objectos de arte, de miudezas de briqueà-braque. Depois, não se trata, propriamente, de uma casa com biblioteca particular mas, antes, de uma biblioteca que serve de casa.

Encontro no Eduíno um desses Mestres. Quem já o ouviu numa das suas preleções sabe que ele tem uma forma única de se expressar, naquele seu tom calmo e introspetivo, como quem pede desculpa por saber tanto. A par do intelectual, há um homem igualmente singular e fascinante, de um finíssimo trato já tão raro. Ele representa uma geração para a qual as letras, a arte e o saber faziam parte da essência humana e estavam no seu devido lugar.

– E S. Miguel? Falámos de gente. De gente e de coisas tornadas (mais?) apetecidas por via da ausência. Da nossa importância no que resta de pátria. Do nosso ser ilhéu por dentro e por fora. – Às vezes queria regressar! – disse-me ele. Nunca mais se regressa.

O Eduíno é daqueles homens sem idade, que continua a comover-se, sobretudo com o belo, e a questionar-se sobre os mistérios da existência. E esse desejo e encantamento são, no fundo, o segredo de uma juventude que ele mantém eterna. Do seu percurso tão rico é impossível falar nestas linhas. Longa vida, meu querido Mestre!

Fernando Aires, Era uma Vez o Tempo

Maria João Ruivo


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 Fora eu tua filha e não precisava de mostrar a testa, teria o estranho hábito de fazer tudo ao contrário, como o teu irmão e a tua tua mãe canhotos, e daria um mortal mesmo ao teu lado e no meio da rua, porque sabia que te faria rir. Fora eu tua filha e talvez até tomasse o gosto pelos livros e pelas letras (de que, desconfio, tu até gostas). Fora eu tua filha e haveria de rumar um dia às Ilhas, por paixão pela terra toda (enfim, com algum desvio, ficando assim o nosnosso amigo Tavares Rebelo a cognominar-me de “Terceirense Compulsiva!”). Fora eu tua filha e teria uma menina linda, que te havia de chamar avô a vida toda e eu chamava -te pai, o das cumplicidades e charme irresistível, o que se ri das mesmas coisas que eu, o que insiste que a cortesia e o saber se cultivam, o que me deu u ma cara igual, embora com mais cabelo e menos bigode…. Mesmo assim, se não for tua filha, porque me encontraste num caixote do lixo, valeu a pena! Mas agora a sério: encontraste-me num caixote do lixo? Preciso mesmo de mostrar a testa outra vez? Muitos parabéns, meu pai! Finalmente um aniversário na tua Terra, o sítio mais longe mas mais certo para pousares os sapatinhos e a bengala! Luísa


93 anos de Eduíno de Jesus 18 de Janeiro de 2021 O que seria de nós se o nosso cérebro guardasse memórias de tudo o que vivemos: o bom, o mau, o mais ou menos e o "nem me quero lembrar disso!". Era cá uma confusão... Então, para que este fenómeno das recordações de uma vida não seja uma grande trapalhada, estas nossas massas cinzentas (que são coisas inteligentes, às vezes), fazem uma seleção minuciosamente aleatória, aleatória, de momentos relevantes, de situações insignificantes e de informações um tanto ou pouco importantes. No meu caso não foi exceção. Mas, ao que parece, o meu cérebro não foi assim tão aleatório nas escolhas que fez - assegurou em todas elas um elemento comum: tu. Vejamos se não é curioso: se faço um disparate qualquer, lembro-me de quão fácil foi quando tive que te confessar ter partido o frasco de perfume da avó, e do quão rapidamente encontraste uma solução para ser um segredo só nosso; se vejo desenhos animados (e engana-se quem acha que, por já ser crescida, não o faço mais), lembro -me de quanto te rias a ver o Tom & Jerry; se como uma maçã, lembro-me de quando dividias mal as maçãs para eu comer mais do que tu; se me penteio, lembro -me do quão contente ficaste por te oferecer um pente (ainda hoje acho que se te oferecesse uma mansão não ficarias tão feliz); se me vou deideitar triste, com saudades de alguém, lembro-me de quando me ajudaste a colar setinhas no chão, da entrada de casa à minha cama, para que a minha mãe soubesse como me encontrar quando chegasse e, assim, eu parasse de chorar; se me arranjo para sair à rua, rua, ou ir a uma festa, lembro-me de todas as vezes que me pediste “vem comigo ao café, para me enfeitares”; e bom, não me lembro de ti sempre que ando a pé, mas devia, porque se não fosses tu a dar -me a mão eu nunca teria andado, afinal de contas não confiava em mais ninguém para me segurar! Por isso, olha, da próxima vez que me pedirem "não te esqueças de...", talvez seja melhor pedir que te envolvam nisso, assim não me esquecerei de certeza. Esta foi a forma mais longa que encontrei de te dizer: estou sempre a pensar em ti, és muito importante para mim. Gosto muito de ti vovô. Renata


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