São Paulo - SP 15/12 a 17/12 de dezembro de 2017
OS CAVALEIROS DO ZODÍACO: A FEBRE DO BRASIL NOS ANOS 90 fenômeno nipônico no brasil e que atravessa décadas sem cair no esquecimento. Samanta Reis Pereira Diego Rodrigues Gomes da Silva
RESUMO O mercado de animação japonesa do Brasil na década de 90 era tímido e tinha pouca credibilidade junto ao empresariado. Em um cenário difícil como esse, investir na exibição de um animê na televisão aberta era enxergado como um movimento bastante arriscado. Porém, depois de receber negativas das maiores emissoras brasileiras, a empresa de brinquedos Samtoy conseguiu espaço para exibir Os Cavaleiros do Zodíaco na TV Manchete. O intuito era promover a venda de bonecos distribuídos por ela (Samtoy), em uma permuta que mudaria para sempre a história da animação nipônica em solo tupiniquim. O sucesso estrondoso chamou atenção de outras empresas, e provaria que animês podem ser um mercado muito lucrativo. Com estilo visual marcante e narrativa que valorizava valores como amizade, perseverança, trabalho em grupo e lealdade, a animação conquistou o público ocidental e influenciou toda uma geração. Palavras-chaves: animação japonesa, brinquedos, cavaleiros do zodíaco.
ABSTRACT The 90's market for japanese animation in Brazil was shy, and had very little credit among businessmen. In a tough scenario such as this, investing in the exhibition of an anime on public television was seen as a risky move. In spite of that, after being turned down by the biggest brazilian open broadcast networks, Samtoy, a toy company succeeded on getting air time to show Saint Seiya on TV Manchete. The goal was to advertise its toys, in an exchange that would permanently change the history of japanese animation in tupiniquim soil. The blustering success called the attention of other companies, and did prove that animes could indeed be a very lucrative business. With strong visuals, and a narrative that values traits such as friendship, perseverance, teamwork and loyalty, the series captivated the western audience e left its mark on a whole generation. Keywords: japanese animation, toys, saint seiya.
INTRODUÇÃO O trabalho celebra o legado da série animada “Os Cavaleiros do Zodíaco” nos anos 90, no Brasil, e a transformação cultural e econômica que ela causou em nossa sociedade. Influenciou milhares de crianças, que passaram a desenhar os personagens da série, em estilo mangá - algo incomum para a época - e mudou a cultura de venda de brinquedos por estas bandas. Em 1994, a finada TV Manchete receberia a proposta de uma distribuidora de brinquedos chamada Samtoy, representante da Bandai no Brasil, oferecendo 52 episódios do desenho japonês sem nenhum custo monetário, requisitando em troca espaço publicitário para a exibição de propagandas de brinquedos relacionados ao seriado. Tanto a TV Manchete quanto as suas concorrentes ofereceram resistência à proposta da Samtoy, mas por fim, Eduardo Miranda, então diretor da divisão de cinema da emissora na época, acabaria autorizando a exibição da série, que estrearia no dia 1 de Setembro daquele ano. Não demorou para que Cavaleiros do Zodíaco passasse a atingir uma audiência muito acima da média, mesmo com problemas de dublagem e disponibilidade. Alcançando 15 pontos no Ibope em alguns momentos, fez com que as emissoras concorrentes se sentissem preocupadas. O episódio final da Saga do Santuário foi exibido no horário nobre, entre as 19 e 20 horas. A Samtoy também lucrou muito com esse sucesso, e seu faturamento somou mais de 50 milhões de reais com a venda de bonecos do desenho, álbuns de figurinhas, CD’s e LP’s musicais, mochilas, estojos e todo tipo de quinquilharia imaginável. Era uma legítima mina de ouro, que também alcançou os cinemas brasileiros, com a exibição do longa “A Lenda dos Defensores de Atena”. Esse fenômeno chamou a atenção de outras emissoras, que passariam a partir daí a investir na exibição de outros animês japoneses. Seria decretado então o início da invasão nipônica da animação em terras tupiniquins. No dia 1 de Setembro de 2003, simbolicamente, a série foi relançada pelo canal pago Cartoon Network, em uma versão redublada pelos estúdios da Álamo, retendo boa parte dos dubladores e vozes originais. Na data de estreia, o evento de relançamento reuniu cerca de 5.000 fãs, em dois dias. Cerca de 40.000 bonecos seriam vendidos no natal daquele ano. Além disso, Cavaleiros do Zodíaco foi exibido também nas emissoras Rede Bandeirantes, Rede 21 e PlayTV. Em 2006, a distribuidora Playarte fez o lançamento da série completa em DVD.
Em comemoração aos 30 anos do desenho no Japão, a Rede Brasil passou a exibir todos os 114 episódios da série a partir de outubro de 2016.
DESENVOLVIMENTO Tendo em vista a importância que Cavaleiro do Zodíaco teve na infância e adolescência de inúmeras pessoas - essas agora adultas, e a maioria pertencente a geração Millennial -, nos sentimos inspirados a prestar as devidas homenagens a essa série, que conta com o carinho de milhares de fãs no Brasil e mundo afora. E apostando na nostalgia dessa geração de jovens adultos, assim como outras grandes marcas têm feito ultimamente, decidimos revisitar esse clássico. Porém, trazendo uma roupagem renovada. Assim como a Nintendo, que recentemente relançou o Nintendinho com saída hdmi e jogos na memória - e o console renascido esgotou no primeiro dia de vendas, tamanho o seu sucesso -; enxergamos grandes oportunidades de mercado para os membros dessa geração que agora contam com grande poder aquisitivo e são influenciadores nos meios de comunicação e redes sociais.
PROCESSO CRIATIVO O trabalho se iniciou com uma pesquisa teórica, tanto em veículos de comunicação que documentaram o legado da obra no Brasil, quanto em entrevistas em vídeo gravadas com os indivíduos responsáveis pela exibição na tv aberta. A partir desse ponto, reunimos a informação em formato de roteiro. A ideia era demonstrar o impacto que Cavaleiros teve sobre o público brasileiro e qual o contexto histórico que culminou em seu sucesso. Esse roteiro serviu de guia para a confecção de um storyboard, que mais tarde seria adaptado em uma narração realizada por um dos dubladores originais da série. Esse seria o suporte para que déssemos prosseguimento à confecção de duas peças principais que são complementares: um motion graphics narrado de 2’30’’ e um infográfico em formato de álbum de figurinhas com 27 cromos autocolantes.
Figura 1 – esboço de vendedor de ouro de rua. Fonte: Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.
Utilizamos uma identidade visual unificada para álbum e motion. O estilo flat traz um ar mais atual para o rebuscado estilo da série, enquanto permite que exploremos cores vivas, movimentos exagerados e transições ousadas nas animações. Partimos de rascunhos a lápis em papel para finalização em desenho vetorial.
Figura 2 – esboço de personagens. Fonte: Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.
O álbum de figurinhas traz um quê de metalinguagem pois referencia o contexto histórico ao passo em que é um objeto que evoca nostalgia por si só. Desde a experiência de abrir os pacotes fechados de figurinhas, encontrar o seu encaixe e fazer a colagem, todo esse ritual ajuda a criar uma experiência de transposição temporal e reforça a proposta de infográfico, pois a sua inerente linearidade ajuda a consolidar o conceito de linha do tempo adotado.
TIPOGRAFIA Frutiger: Fonte sem-serifa de excelente legibilidade, conta com boa variedade de pesos e se encaixa muito bem em projetos editoriais. Pieces of Eight: família tipográfica gótica, que remete à ideia de mitologia grega abordada pela série, mas que foi atualizada para atender melhor ao conceito de fácil leitura. Jersey M54: tipografia sem serifa, bastante geométrica e que se assemelha muito à tipografia usada originalmente no logo do seriado. A usamos para reconstruir a marca e para escrever alguns dos títulos do trabalho.
CONCLUSÃO É inegável a relevância da série, que apesar de ter chegado em seu trigésimo ano de vida recentemente, foi a porta de entrada para diversos outros animês no Brasil, e até hoje conta com o carinho de um grande número de fãs. Isso também levanta a questão o potencial do mercado em torno da nostalgia. Afinal, quem era criança naquela época pode hoje muito bem realizar os sonhos que antes se distanciavam por uma ausência evidente de poder aquisitivo. Esse trabalho se presta a apontar esses fatos e despertar mais uma vez a chama do cosmo dos apaixonados por animação e belas histórias focadas em amizade, trabalho em equipe, resiliência e força de vontade para vencer as adversidades da vida.
REFERÊNCIAS Referência: NASCIMENTO, André. CDZ - A Força do Pégaso no Brasi. 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=hLb6pG8br88>. Acesso em: 17 dez. 2016. Referência: LEONARDI, Pietro Francesco. INVASÃO ANIMÊ – A HISTÓRIA DA ANIMAÇÃO JAPONESA NO BRASIL. 2016. Disponível em: <http://lounge.obviousmag.org/pfvsmonstersist/2012/11/invasao-anime-a-historia-da -animacao-japonesa-no-brasil.html>. Acesso em: 17 dez. 2016.
Referência: SILVA, Bruno. Os 20 anos de Cavaleiros do Zodíaco no Brasil: Como o acaso trouxe para a TV brasileira a série que abriu as portas para os animes no país. 2014. Disponível em: <https://omelete.uol.com.br/series-tv/noticia/os-20-anos-de-cavaleiros-do-zodiaco-no -brasil/>. Acesso em: 17 dez. 2016. Referência: Autoria desconhecida. Introdução aos CDZ -> Emissoras no Brasil. 2016. Disponível em: <https://www.cavzodiaco.com.br/informacoes/introducao-aos-cdz/emissoras-no-brasi l>. Acesso em: 17 dez. 2016. Referência: ALVES, TarcÍsio. O que você pode aprender com a geração Millennial: Eles - ou vocês! - são quem mais influencia os negócios e as decisões de compra. 2016. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Caminhos-para-o-futuro/Desenvolvimento/noticia/2 016/06/experiencia-x-consumo-geracao-millennial.html>. Acesso em: 17 dez. 2016. Referência: MOGNON, Mateus. Nintendo lança versão mini do NES e console esgota no primeiro dia de vendas. 2016. Disponível em: <http://adrenaline.uol.com.br/2016/11/12/46760/nintendo-lanca-versao-mini-do-nese-console-esgota-no-primeiro-dia-de-vendas/>. Acesso em: 17 dez. 2016.