Urbanismo Sustentável

Page 1



0. Introdução 1 - Por um Urbanismo Sustentável 1.a Do Global ao local 1.b Urbanismo Sustentável

2 - Princípios do Urbanismo Sustentável e relações coma área de estudo 2.a Crie bairros nos quais se possa caminhar; 2.b Proporcione uma variedade de escolhas de transporte; 2.c Promova lugares diferentes e interessantes com senso de lugar – considerando os elementos de paisagem; 2.d Misture os usos do solo – criando bairros saudáveis 2.e Crie uma gama de oportunidades e escolhas de habitações; 2.f Preserve espaços abertos e ambientes em situação crítica; 2.g Tire proveito de projetos e construções compactas; 2.h Estimule a colaboração de comunidade e dos envolvidos e reforce e direcione a urbanização para comunidades existentes;

3 - Diretrizes de planejamento. Decisões de urbanização previsíveis, justas e econômicas. 4. Referências


0. A Revolução do século XIX deixou vestígios, sobretudo, de condições insalubres consequentes das transformações físicas e o crescimento acelerado, fazendo com que as cidades não conseguissem suportar a grande demanda de pessoas em busca de trabalho e qualidade de vida. Em consequência, a população com renda mais baixa, muitas vezes foi alvo da

gentrificação e direcionada à periferias,

sem os direitos básicos necessários para o homem, saneamento e água. Os manifestos ambientais desenvolvidos nas cidades, entram em confronto com os pensamentos dos urbanistas, visto que as cidades são o maior agente causador da destruição do ecossistema e a maior ameaça para a sobrevivência humana. A arquitetura, agregada ao planejamento urbano inteligente e a tecnologia aplicadas ao urbanismo sustentável podem modificar tal ciclo de destruição e poluição ambiental, visando cidades quatro aspectos apresentados, apontados por Farh

Compacidade, Completude, Conectividade, Biofilia – contato humano com a (2013), no seguinte trabalho:

natureza. O presente diagnóstico tem como objetivo analisar as problemáticas urbanísticas encontradas no trecho do bairro da Iputinga, localizado a cidade de Recife – PE, a partir das leituras urbanas as disciplinas de PU1 E PU2 e embasamento teórico dos conceitos de urbanismo sustentável apon-

Douglas Fahr (2013) Richard Roger (2015). tados por

e


OBJETIVO

Elaborar diretrizes de Planejamento Urbano para a área de estudo localizada no bairro da Iputinga, a partir da leitura urbana realizada nas discciplinas de urbanismo 1, á luz dos conceitos e recomendações do Urbanismo Sustentável.



1.


1.a Do global ao local

O descaso para com recursos naturais e o meio ambiente proporcionou consequências significativas que ainda podem ser vistas desde as antigas civilizações. A revolução do século XIX deixou marcas de condições insalubres consequentes da transformação do meio físico, é evidente que o homem é o primeiro a construir uma cultura, sendo assim é o primeiro a enfrentar a expansão populacional, a destruição dos recursos naturais e do meio ambiente. Dessa forma, estando sujeito a leis de controle de sobrevivência da espécie no planeta. As crises ambientais são ocasionadas pelas cidades entrando em choque com alguns pensamentos dos arquitetos e urbanistas. Em meados do início do século XX apenas uma parte da população – um décimo – residia em cidades, atualmente mais da metade de toda a população mundial vivem nelas, este fato ocorreu em um prazo de 30 anos, podendo aumentar a cada ano. Por conseguinte, o crescimento da população urbana e a ineficiência de moradia estão acelerando a taxa de aumento da poluição e erosão.

As cidades caracterizam-se como o maior agente destruidor do ecossistema e a maior ameaça para com a sobrevivência da humanidade no planeta, sendo irônico tendo em vista

que elas são o habitat da humanidade e deveriam atender as necessidades existentes sem comprometer as futuras gerações e desenvolve-se a partir da sustentabilidade em prol da maioria do mundo – os mais pobres, visto que os padrões de comportamento econômico e social da humanidade são as causas principais do desenvolvimento das cidades, ocasionando desequilíbrio ambiental. A arquitetura, o planejamento urbano e a tecnologia podem evoluir cada vez mais para proporcionar maneiras fundamentais para garantir um futuro a partir da criação de cidades com ambientes sustentáveis e civilizados. O aumento da conscientização ecológica agregada aos fatores citados anteriormente são condições que podem contribuir para o desenvolvimento de uma cultura urbana pós-industrial ambientalmente consciente e socialmente responsável. 6


Os comportamentos sociais e econômicos da sociedade são as causas principais para a destruição do equilíbrio ecológico do planeta, promovendo o desequilíbrio ambiental. O anseio pelos bairros residências distantes nos países desenvolvidos, a migração das pessoas, atividades dos centros urbanos, construções de estradas, aumentou o uso de automóveis, ongestionamento, poluição do ar e principalmente a segregação. Em todo o mundo a população pobre é amplamente descuidada, consegue-se evidenciar mais ainda no mundo desenvolvimento no qual a classe com menos condições são excluídas da sociedade do consumo, estando isolados em comunidades nos centros urbanos, enquanto em países em desenvolvimento são postergados a miséria das favelas que estão cada vez mais crescendo devido a essa deslocação do pobre x rico.

O mundo está produzindo uma instabilidade social desproporcional que leva a um declínio ambiental.

Não obstante o aumento da riqueza – ultrapassa o aumento da população – o grau de pobreza e de pobres cresce no mundo, muitos deles vivem em ambientes desconfortáveis e desfavoráveis, expostas a descasos e pobreza ambiental, eternizando, dessa forma, o ciclo de destruição e poluição. Alguns fatores presentes nas cidades que caracterizam injustiças sociais em todas as suas formas, impossibilita a capacidade de uma cidade de ser sustentável do ponto de

“As cidades foram originalmente criadas para celebrar o que temos em comum. Agora, são projetadas para manter-nos afastados uns dos outros.” (ROGERS, 1997, p.11)

vista ambiental, são eles: pobreza,

desemprego, saúde de baixa qualidade, ensino comprometido. Algumas cidades

se expandem de forma mais rápida que outros, em vista disso se não for feito seus problemas sociais e ecológicos serão os protagonistas. Assim, fomentar

a ideia de que os ricos podem continuar virando as coisas para os problemas de sustentabilidade – poluição e pobreza – e agir isoladamente mina as chances de harmonização da sociedade e humanização das demais cidades.

7


O interesse político e comercial transporAs cidades são o princípio da civilização, tou o princípio do desenvolvimento urbano de são motores do desenvolvimento cultural de atender às necessidades mais amplas da uma comunidade, diante disso é primordial comunidade para atender às necessidades limitadas do indivíduo, com isso houve o dano que a cultura das cidades esteja em na vitalidade das cidades. Paradoxalmente, no primeiro plano no planejamento polímomento de ascensão da democracia há, tico, ainda assim possuindo caractecada vez mais, polarização da sociedade em rísticas inspiradoras mesmo que discomunidades segregadas, resultando em pondo de modo de vida precário. declínio da vitalidade dos espaços urbanos. O cientista político Michael Walzer classificou o espaço urbano em dois grupos: espa-

ços monofuncionais e multifuncionais. O espaço monofuncional aborda um

conceito de espaço que obtém uma única função e normalmente é produzido como efeito de decisões tomadas por incorporadores. Já o espaço multifuncional descreve uma variedade de usos, participantes e usuários, são exemplos praças, mercado, parque, café na calçada. Esse espaço pode ser classificado como pronto a olhar, encontrar e participar, já o primeiro pode se identificar como um espaço apressado que também atende ao desejo de autonomia e consumo particular da modernidade, sendo eficiente neste aspecto. Contrapondo o espaço multifuncional no qual reúne partes diferentes da cidade e desenvolve um sentimento de tolerância, consciência, identidade e respeito.

Atualmente o ponto principal da cidade não está baseado em inter-relações e comunidade, as atividades são organizadas com o intuito de aumentar o lucro para comerciantes e incorporadores. Os negócios

“[...]A esfera pública é o teatro de uma cultura urbana. É onde os cidadãos desempenham seus papéis, é o elemento que pode agregar uma sociedade urbana.” (ROGERS, 1997, p. 16)

são isolados em centros empresariais, lojas agrupadas em shopping e casas agrupadas em bairros residenciais, criando assim núcleos de sobrevivência. Como consequência as ruas das cidades são retiradas do dinamismo comercial e torna-se uma terra tomada por carros particulares e pedestres apressados – monofuncional –. O desaparecimento de espaços públicos multifuncionais pode inibir consequências sociais que prejudicam a vitalidade das cidades. Conforme a vitalidade dos espaços públicos diminui, há o desenvolvimento do desinteresse pelo o hábito de participar da vida urbana da rua, o policiamento natural, produzido pela presença de transeuntes, é tomado pela segurança oficial, logo os espaços passam a ser notórios como perigosos e o medo como a ser desenvolvido pela comunidade.

8


1.b Urbanismo Sustentável

O Urbanismo Sustentável tem como base concreta o crescimento urbano inteligente, o Novo Urbanismo, construções

sustentáveis que visam o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, no qual supre as necessidades atuais dos seres humanos sem comprometer o futuro das próximas gerações. A

maioria dos fatores de preocupação da sociedade atual ligados ao futuro do planeta, são impactados pelo modo como as cidades são organizadas, esse fato pode ser notado desde a Revolução industrial com as condições insalubres consequentes das transformações do meio físico. Fahr (2013) aponta a integração de cinco atributos para que uma cidade seja

Completude, Conectividade e Biofilia.

sustentável, sendo: Compacidade,

COMPACIDADE A sustentabilidade é mais bem desenvolvida em bairros com densidade populacional e constitucional alta. Ampliar a densidade de um bairro e

dispor de usos mistos, que integra diversos usos de solo – comerciais, residenciais e serviços, resulta na melhoria da qualidade de vida, através de melhores condições de transportes públicos, oportunidades e qualidade o deslocamento a pé, uso de sistemas de infraestrutura na escala do bairro, reduzindo custos e consumo de energia, bem como poluição. O estímulo da caminhada e o uso de transportes públicos são eficazes, assim o aumento da densidade populacional amplia e traz melhorias oferecendo maior número de pessoas e reduzindo o uso de automóveis. Na noção do empreendimento compacto e aumento da densidade populacional evitam o uso do solo virgem e concentra a população em uma parte da bacia hidrográfica. Reduzindo as áreas pavimentadas e melhorando a qualidade da água.

9


COMPLETUDE O bairro deve ser um lugar que seja possível realizar todas as atividades diárias e necessárias a pé. Com um

bom desenvolvimento de desenho urbano, completo e detalhado nos seus pequenos detalhes como a acessibilidade a comunidade vai retomar a satisfazer suas necessidades a pé à utilizar automóveis, assim, gerando menos poluentes e favorecendo o urbanismo sustentá-

Uma grande variedade e número de usos comerciais no centro aumenta a completude e a atração dos transeuntes pelo bairro.

vel.

Relacionando com as habitações deve-se obter diversos tipos delas, admitindo seus variados usos ao percorrer da vida, de acordo com as necessidades de cada idade e etapa vigente, dessa forma, a comunidade pode permanecer no mesmo bairro mesmo que sus necessidades básicas mudem. Vale ressaltar ainda, as práticas comerciais apontadas por Fahr (2013), ele enumera diretrizes para práticas comerciais em bairros com desenhos tradicionais, destacando a manutenção público e ou privado e o funcionamento sedo 70% das vedas semanais ocorrerem após determinado horário – 17h30mi ou aos domingos, não se restringindo ao horário comercial. A área de análise do bairro da Iputinga obtém uma grande variedade de usos – mercados, salão de beleza, oficinas, igrejas, padarias, podendo atender a diversas demandas sem necessitar de um deslocamento maior.

CONECTIVIDADE

É evidente que os cinco atributos estão

conectividade versa sobre a mobilidade concomitante ao transporte e o uso do solo. Ruas curtas e interligados,

a

de velocidade reduzida, passeios agradáveis, ciclovias, trata o desenho urbano como ator principal da qualidade para a promoção da caminhabilidade e compartilhamento com ciclistas. O gráfico abaixo mostra a rede de vias estreitas mais seguras para os pedestres e que permitem compartilhamento do traçado urbano. O traçado urbano deve ser desenhado para um velocidade máxima de 40km/h a 50km/h e a rua mais larga não deve ter mais de duas faixas carroçáveis entre o meio-fio. As ruas de baixa velocidade permitem o compartilhamento do traçado urbano com ciclistas, que em vias de baixa velocidade podem transitar sem oferecer risco ao ciclista.

A área estudada, apesar de possuir uma multimodalidade diversa e caracterizada como média, possui uma carência na mobilidade devido à sua malha urbana com uma má legibilidade.

10


BIOFILIA Segundo Fahr (2013, p. 168) a falta de conexão com a natureza provoca inúmeros problemas psicológicos, tais como estresse, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. A biofilia é o nome dado ao amor dos

-

homens pela natureza. A probabilidade de deslocamento a pé é 3x maio em rotas com vegetação e árvores, assim, é notório o caminhar junto da caminhabilidade, vegetalização, bem como conectividade. Uma infraestrutura sustentável deve fornecer uma melhorias dos espaços públicos de convivência na cidade e da mobilidade das pessoas, tanto de pedestres como ciclovias. Vauban é um eco bairro localizado em Freiburg na Alemanha, é chamado do berço do movimento verde da Alemanha. Foi construído de forma planeada para ser sustentável e contou com a participação

popular nas decisões do bairro, tendo isto como diferencial. As casas são projetas para apro-

veitar o máximo do sol, tanto como fonte de energia como fonte e iluminação natural, as janelas são grande privilegiando a máxima insolação nos dias de frio. Cada telhado é adaptado para a captação de água da chuva, sendo distribuída para irrigação de jardins e banheiros. O bairro possui planos de infraestrutura verde em duas escalas. Uma na escala do município que determina redes de áreas de conservação e agrícola, que misturam os espaços urbanizados, utilizados para transporte de baixo impacto em CO2. Na escala local, um trabalho conjunto com os moradores para manter a consistência com o plano maior, visado as pessoas e a biodiversidade. A área em análise adquire poucos baixos focos de vegetação, ainda assim, a maioria não possui adequação ao solo e devidos cuidados. Pode-se observar com as análises de estudo que quase metade da arborização encontrada que sombreiam as calçadas, estão situadas dentro dos lotes e 16,57% são calçadas sombreadas, obtendo quase 85% das calçadas não sombreadas. -

11


O movimento do crescimento urbano inteligente legitimou uma pauta com a criação de 10 princípios para o crescimento urbano inteligente, tal planejamento obteve ascensão ao unir cidadãos locais, regionais e líderes a favor da bandeira do Crescimento Urbano Inteligente.

12


2.


2.a Crie bairros nos quais se possa caminhar

Ausência de calçada, pelo avanço do terraço da casa, fonte: autoral dos alunos da disciplina.

A dimensão humana vem sido esquecida e negligenciada no planejamento urbano das cidades: os grandes edifícios não possuem conectividade e permeabilidade visual com as ruas e calçadas. Com a falta de convites para o pedestre, o ser humano passa mais tempo dentro de um automóvel do que caminhando, o que aumenta o isolamento social. Esse estilo de vida destrói a cultura do caminhar, pois acaba criando um meio urbano onde o carro é necessário para a realização de quase todas atividades cotidianas. Como consequência disso há o grande aumento do uso de automóveis individuais, que por uma linha de continuidade gera outros problemas, como poluição, doenças respiratórias e psicológicas pela privação de ambientes abertos e de interação social. É necessário, para a mudança desse cenário, o desenvolvimento da segurança urbana, uma função fundamental nas ruas da cidade, onde o transeunte é o usuário e telespectador da vida urbana, são os “olhos que policiam as ruas” (Morte e Vida das grandes cidades, 1961, p.38) e isso ocorre com a oferta de ambientes acessíveis de qualidade proveitosa. A vida urbana depende de convites, quanto mais um espaço que possui qualidade é ofertado, mais é usado.

Acessibilidade é a qualidade do que é acessível, aquilo que é atingível, que tem acesso fácil para a utilização com segurança e autonomia total.

Sem maneiras fundamentais que reproduzam a sensação de conforto e segurança, dificilmente haverá estímulo para caminhar e permanecer nos espaços públicos. É necessário que, além disso, haja mobilidade urbana, para que ninguém fique preso à um tipo de transporte, seja público ou privado. Sendo assim, para estimular o transeunte a contribuir com seus olhos para manutenção das ruas é necessária uma caminhada agradável, que atenda quatro condições principais: ser proveitosa; segura; confortável e interessante; e que possibilite a locomoção. Pedestres caminhando pelo bairro, fonte: autoral dos alunos da disciplina.

Mobilidade urbana é o poder das pessoas se locomoverem entre as diferentes zonas de uma cidade.

14


Uma boa conservação, continuidade e largura das calçadas de um bairro, assim como a permeabilidade visual, boa iluminação e acessibilidade, são importantes fatores para fazer esse lugar ser mais acolhedor, agradável, amigável e seguro, assim como uma rua dinâmica em questão de uso, para que os moradores consigam realizar suas atividades a pé e ocupem a rua em diferentes horários. Cenários urbanos muito ocupados por pessoas são considerados lugares mais desejáveis de se viver e promovem conexão entre os moradores e um estilo de vida mais saudável. A análise feita no bairro da Iputinga, identificou que na Estrada do Barbalho, Rua São Mateus e Rua Monsenhor Ferreira Lima, devido a presença de várias edificações de uso misto, há um maior fluxo de pedestres, pela variedade nos setores de comércio e serviço, os moradores costumam realizar suas atividades a pé ou a bicicleta. A caminhabilidade é uma medida do urbanismo sustentável e o objetivo de medi-la é conseguir fazer as mudanças necessárias para transformar as cidades em lugares mais agradáveis de se viver, melhorando a convivência social e a experiência cotidiana de todos. Na Iputinga, foi observado que apenas uma pequena área possui uma boa caminhabilidade, a maioria das calçadas possuem obstáculos físicos, como rampas mal projetadas e postes, o que torna a acessibilidade para pessoas com deficiências físicas ou com a mobilidade reduzida nula, outras calçadas nem possuem largura suficiente para alguém caminhar, devido ao avanço dos terraços para as calçadas.

A rampa é um obstáculo na calçada, fonte: imagem autoral.

15


4.2 POR UMA CIDADE INTEGRADA E INCLUSIVA 4.2.3 Mapa de acessibilidade Unidade de medida: Metro linear de calçadas contínuas, conservadas e largas. Grau de acessibilidade: percentual de calçadas que se apresentam, ao mesmo tempo, contínuas (sem obstáculos), bem como conservadas e largas.

LEGENDA Quanto ao estado de conservação da pavimentação Ruim Regular Bom

Quanto a largura

Quanto a continuidade dos fluxos de pedestres (presença de obstaculos verticais)

Largura de 0 a 1,50 Largura de 1,50 a 2,50 Largura acima de 2,50

Contínuo Descontínuo

Quanto a largura

Quanto ao estado de conservação da pavimentação e continuidade dos fluxos de pedestres

2,50m < x 35%

Estreita (de 0 a 1,50) Média (de 1,50 a 2,50) Larga (acima de 2,50)

Ruim Regular Bom

0m < x < 1,50m 16% Bom 35%

Ruim 36%

1,50m < x < 2,50m 49%

Regular 29%


No segundo semestre de 2018, foi realizada uma reforma na área em estudo, as calçadas foram restauradas em alguns trechos, embora isso não esteja sido feito da maneira mais adequada, pois existem rampas que ainda fogem completamente dos parâmetros de acessibilidade. Na questão de iluminação pública, após a reforma, todos postes passaram a funcionar, o que traz uma sensação de segurança, embora os mesmos estejam voltados pros carros, invés dos pedestres. Existem outras problemáticas, uma delas é a ausência de vegetação nas calçadas, excluindo a biofilia, o que torna a caminhada desagradável considerando o clima de Recife, também existem algumas ruas, que tem em sua grande maioria, fachadas sem permeabilidade visual, o que passa uma certa sensação de insegurança ao caminhar. A praça Arari Fonseca é o ponto mais agradável da área, pois possui edificações de uso misto e instituições de ensino ao seu redor, o que reflete na quantidade de pedestres e ciclistas no local, que é movimentado praticamente o dia todo, embora eles tenham que caminhar na via muitas vezes, já que boa quantidade das calçadas não se encontram em condição para caminhar.

Praça Arari Fonseca. Fonte: Atelier vivo.

Quanto mais espaços de qualidade forem ofertados, mais serão utilizados.

Para a criação de um bairro onde se possa caminhar, é de extrema importância proporcionar uma boa caminhabilidade. O oferecimento de uma caminhada deve seguir uma linearidade, com segurança, conforto e entretenimento. As pessoas que residem na área, tem o hábito de caminhar e utilizar transportes sustentáveis, o que torna mais fácil o desenvolvimento de calçadas para caminhar, pois é um costume comum praticado por todos no bairro. O desafio da área nesse quesito se dá pelo dimensionamento para as calçadas mediante as condições da Iputinga, pois foi analisado que em algumas vias as calçadas foram utilizadas para construção dos terraços das casas, e não existem recuos frontais. Isso também implica no conforto térmico, pois é necessário um maior estudo para que se possa implantar árvores e mobiliários urbanos, de maneira adequada para que não virem obstáculos devido às condições do passeio, assim como a implantação dos parâmetros de acessibilidade corretos, para que as rampas sejam bem locadas e tenham um dimensionamento coerente.

Moradores aproveitam a sombra da árvore, fonte: autoral dos alunos da disciplina.

As calçadas foram redesenhadas para fornecer um passeio mais amplo para o pedestre. Fonte: nacto.org, elementos de design da rua

17





2.b Proporcione uma variedade de escolhas de transporte Uma cidade que dispõe de várias alternativas de transportes integradas possui maiores condições de proporcionar uma melhor mobilidade urbana.

Estrada do Barbalho. Fonte: imagem autoral.

Transporte público na Estrada do Barbalho. Fonte: autoral dos alunos da disciplina.

A mobilidade urbana é o poder de deslocamento no perímetro urbano, e para que ocorra de maneira eficiente é necessária uma boa integração entre as diferentes formas de deslocamento, que seja convidativa e comporte toda demanda, que tenha interação e integração entre veículos motorizados e não motorizados, de modo que cada pessoa escolha como vai locomover-se, sem que ninguém fique refém de um único modal. Na Iputinga, podemos identificar diferentes modais, motorizados e não motorizados, como: caminhada, bicicletas, charretes, transporte público, motocicletas e carros. Na área em estudo, são priorizadas pelos moradores, na maioria das vias, a caminhada e a bicicleta, o que é um ponto positivo para área, embora não haja uma infraestrutura adequada para isso. Algumas ruas na área em estudo, chamadas de vias micro-locais, possuem uma dimensão reduzida que impossibilita o acesso da grande maioria de modais, permitindo apenas a passagem do pedestre e ciclista, o que pode vir a ser um dos fatores que influenciam esse pedestrianismo. Apesar disso, as vias de maior tráfego, que comportam diversos modais, estão bem próximas, senão conectadas com as de menor dimensão, como a Estrada do Barbalho e a Rua São Mateus, que são via urbanas onde encontramos o acesso ao transporte público, que por sua vez possui paradas de ônibus onde todas atendem um raio de 300 metros na área, embora não tenham uma infraestrutura coerente. A população residente tem a cultura de utilizar transportes sustentáveis, a grande problemática é a falta de convites para a utilização desses modais, como a caminhada, pela ausência de um passeio adequado - qualidade das superfícies de deslocamento não é adequada, possuindo superfícies desniveladas, irregulares e sem arborização, que repelem os usuários - e a bicicleta, pela falta de ciclovias e ciclofaixas – o que faz os moradores se apropriarem da rua como sua ciclovia, embora as mesmas nem sempre estejam em boas condições para tal atividade. 21


2.b PROPORCIONE UMA VARIEDADE DE ESCOLHAS DE TRANSPORTES

É uma situação incomum na cidade do Recife, onde existe uma grande cultura e prioridade ao carro, cidadãos que preservam parâmetros sustentáveis ao se locomover, como acontece na Iputinga, sendo isso uma grande potencialidade, pois mediante a implantação de ciclofaixas e ciclovias, de transportes coletivos que possuam uma maior qualidade em suas viagens de forma segura, sustentável e do Barbalho. Fonte: para saudável e a Estrada adaptação das calçadas promover um imagem passeio autoral. agradável, a área se tornaria um ótimo exemplo de um deslocamento integrado e sustentável.

Uma cidade que dispõe de várias alternativas de transportes integrados possui maiores condições de proporcionar uma melhor mobilidade urbana.

A mobilidade urbana é o poder d deslocamento no perímetro urbano, e para qu ocorra de maneira eficiente é necessária uma bo integração entre as diferentes formas d deslocamento, que seja convidativa e comporte tod demanda, que tenha interação e integração ent veículos motorizados e não motorizados, de modo qu cada pessoa escolha como vai locomover-se, se que ninguém fique refém de um único modal. Na Iputinga, podemos identificar diferent modais, motorizados e não motorizados, como: caminhada, bicicletas, charretes, transporte públic motocicletas e carros. Na área em estudo, sã priorizadas pelos moradores, na maioria das vias, caminhada e a bicicleta, o que é um ponto positiv para área, embora não haja uma infraestrutur adequada para isso. Algumas ruas na área em estud chamadas de vias micro-locais, possuem um dimensão reduzida que impossibilita o acesso d grande maioria de modais, permitindo apenas passagem do pedestre e ciclista, o que pode vir a s um dos fatores que influenciam esse pedestrianism Apesar disso, as vias de maior tráfego, qu comportam diversos modais, estão bem próxima senão conectadas com as de menor dimensão, com a Estrada do Barbalho e a Rua São Mateus, que sã vias de eixo urbano onde encontramos o acesso a transporte público, que por sua vez possui paradas d ônibus onde todas atendem um raio de 300 metros n área, embora não tenham uma infraestrutura coeren

“A qualidade do ambiente urbano define a qualidade de vida dos cidadãos” (ROGERS, 2015)

Transporte público na Estrada do Barbalho. Fonte: autoral dos alunos da disciplina. 22




2.c Promova lugares diferentes e interessantes com senso de lugar A identificação é formada a interação entre o eu e a sociedade, o sujeito tem um núcleo/essência interior que é chamado de “eu real”, mas este é formado e modificado em um diálogo com as diversas culturas e as identidades que o mundo oferece. Sendo assim, a identidade é algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes e não algo que já existe a consciência o momen-

Ela está sempre em processo e formação.

to que nasce.

É notório que o tecido urbano agrega exemplares de arquitetura ao longo de sua extensão e ao passar do tempo sofrem alterações de acordo com as transformações da cidade. Todavia, esses pontos arquitetônicos são a expressão do que chamamos de identidade do lugar, tornando-o específico e distinto dos outros. Rogers (2001), afirma que os edifícios devem enriquecer o espaço público, adensar a área, atender às variadas necessidades diárias dos usuários e explorar tecnologias sustentáveis, alcançado o ideal urbanismo sustentável. Entretanto, as construções estão sendo feitas com o pensamento no lucro, sem considerar as demandas sociais das comunidades e o respeito aos elementos de paisagem já existentes. Este modo de produzir arquitetura não gera incentivo para o aumento da compacidade, completude, conectividade e biofilia, indo contra seus conceitos. Os edifícios, além de emoldurar a vida pública, apenas atendem a necessidade de seus usuários se permitir a flexibilidade de usos, afirma Rogers (2001), visto que a comunidade necessita de arquitetura capaz de se adaptar às necessidades apresentadas nas sociedades, sendo mais eficientes de recursos e utilização. Um exemplo de arquitetura adaptável com conceito de um espaço flexível é o Museu de Mineralogia de Éolo Maia e Sylvio Podestá, em Minas Gerais – Ouro Preto. A obra agrega os elementos de paisagem na edificação, além de abrir banheiros públicos, centros comerciais que visa o turismo, anfiteatro aberto e um foyer fazendo a ligação entre exterior e interior. Tal flexibilidade de usos deve ocorrer respeitando o já existente e as edificações históricas que, algumas vezes, podem ser modernizadas para atender as demandas sociais atuais, criado um diálogo entre o novo x 25


“Além de criar edifícios multifuncionais, devemos pensar em maneiras de adaptar edifícios já existentes” (ROGERS, 2001)

A arquitetura de edificações históricas e de espaços públicos compõe a paisagem das cidades, sendo responsáveis pela sensação de pertencimento das pessoas ao senso de lugar, bem como a arquitetura

cívica que gera senso de comunidade dentro das edificações fazendo com que as pessoas possam exercer interações, assim, favorecendo a caminhabilidade e aumentando a completude – pois oferece eventos agradáveis à comunidade. Tais sensos devem estar presentes na criação de ambientes distintos e atrativos que respeitam os patrimônios históricos e paisagísticos para alcançar a compacidade, completude, conectividade e biofilia. Faz-se necessário também, a promoção de espaços que conecte as a sociedade, sendo notório quando há permissão uma alta conectividade através da multimodalidade, diversidade de tipos de transportes, suporte aos ciclistas, transeuntes e transportes públicos, diminuindo os impactos ambientais gerados. Diante disso, para que haja apropriação de um local, é primordial ter completude, conectividade e biofilia. Na área delimitada de análise do bairro da Iputinga, foram encontrados 5 tipos arquitetônicos. A recorrência de certos tipos arquitetônicos marca a identidade da área, especificamente os tipos “edifício de dois pavimentos” e “casa de porta e janela”, sendo a identidade da área em análise considerada alta, visto que engloba mais da metade dos imóveis analisados – 92,97%. Vale ressaltar que, mesmo a área tendo uma alta identidade, é necessário que tenha uma boa multimodalidade e vegetalização, visto que sem elas não há apropriação do lugar. Na iputinga a comunidade se apropria de algumas parte, como é notório ao passar uma tarde e observar crianças brincando nas ruas, praças e adultos no meio fio conversando. As pessoas possuem uma cultura de ponto de encontro, mesmo que podendo ser intensificada com a melhoria da vegetalização, caminhabilidade. Dessa maneira, para promover lugares com senso de lugar, tem-se que levar em consideração os elementos de paisagem do local concomitante a identidade das edificações, os aspectos da multimodalidade, caminhabilidade e vegetalização, aspectos esses que fornecem diversidade de usos, transportes, bem como percursos curtos e favoráveis ao conforto garantindo o alcance da compacidade, completude, conectividade e biofilia

26







2.d Misture os usos dos solos criando bairros saudáveis No urbanismo sustentável a atuação da completude como atributo é de extrema importância. O nível de completude de um lugar, seja um bairro ou uma cidade, é fator diretamente relacionado ao percentual de usos identificados no solo, ofertando uma gama de possibilidades ao lugar e aos moradores dele. Uma peça fundamental no urbanismo sustentável é o pedestre e para atraí-lo para as ruas, é necessário que o espaço urbano tenha uma boa qualidade física, seja acolhedor, protegido e interessante. “Os usos do solo atuam como atratores urbanos” (Por um espaço urbano cidadão, 2015) e são uma excelente estratégia para trazer vida e movimento a rua, pois todos tendem a ver a movimentação da cidade, onde o pedestre é o protagonista da vida urbana. É conveniente que esses usos do solo, estejam misturados, de maneira que o morador possa fazer tudo a pé, seja ir à padaria, farmácia ou comprar roupas. O uso misto gera benefícios em 3 áreas: no transporte - a cada moradia com espaço de trabalho, é eliminado pelo menos um carro no trânsito nos horários de pico; na habitação – os moradores criam raízes e conhecem melhor os vizinhos; e na ocupação do bairro – que é movimentado em diferentes horários, pois as pessoas estão mantendo o contato com a sua rua em seu espaço de trabalho, o que gera uma boa vigilância social. Para identificar o nível de completude devemos observar o percentual de usos presentes no bairro, de acordo com a tabela “Destinos possíveis para pedestres/usos do solo urbanizados” do livro Urbanismo Sustentável de Douglas Farr, 2013.

32


A Iputinga é um bairro residencial e no recorte da área que está sendo analisado há a presença de habitações que possuem usos mistos, possibilitando que atividades cotidianas, sejam elas opcionais ou necessárias, sejam feitas a pé. Mediante a localização desses usos, através de mapas, pode-se observar que, o nível de completude da área é de 52,17%, sendo assim, considerado como satisfatório. Nota-se que a predominância dos usos no bairro é habitacional, seguido de usos mistos, composto por residência + comércio ou serviço. A nível dos olhos, como transeunte, a rua apresenta um aspecto vivo por ter essa presença e diversidade de usos. É necessário, além de tudo, para que se possa aproveitar a potencialidade que é uma completude satisfatória, –uma boa infraestrutura no espaço urbano, para que o pedestre se sinta convidado e possa realizar suas atividades, praticando o urbanismo sustentável. Isso ocorre no

33


bairro em partes, apesar da boa iluminação existente no bairro, as calçadas não se encontram em bons estados, possuem obstáculos físicos, como postes e rampas irregulares, estão quebradas ou foram invadidas pelos terraços das casas, onde algumas utilizaram esse espaço para construção de um local de trabalho, tornando assim, os usos dos solos uma potencialidade na Iputinga mas também um desafio quando se atrela a caminhabilidade. O desafio ocorre em toda formulação para que a Iputinga seja um bairro saudável, pois em um bairro saudável há biofilia – o contato do homem com a natureza, e isso não acontece na área, a grande maioria das edificações dão as costas para o Rio Capibaribe e comunidade de palafitas existentes na área contribui para poluição. Há ausência de árvores públicas pelo bairro, fator que tem um resultado direto no conforto ambiental, gerando um clima desagradável, que mais uma vez inibe a caminhabilidade, que pode vir a afetar o proveito dos usos do solo existentes na área.

34



2.e Crie uma gama de oportunidades e escolhas de habitações Pessoas como indivíduos têm distintos pontos entre si, como: opiniões, vivências, necessidades, dentre outros.

Para que um bairro (onde se encontra um grupo de indivíduos) seja sustentável deve garantir que essas diferenças possam ser atendidas em diversos fatores, sendo um deles a moradia.

Figura 26: Habitaçãos da Iputinga Fonte: Autores

Desde o século XX a moradia passou a ser considerada um direito fundamental pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, ou seja, ter acesso à moradia é um direito básico de todo ser humano. Mas em muitos lugares esse direito não vem sendo cumprido de maneira justa para com todos. A democracia parece não constituir tal direito, tendo em vista que uma parcela da população não usufrui do mesmo, a exemplo das pessoas que se encontram em situações de rua.

A falta de moradia é um problema comum em diversos países, mas os números de imóveis vazios que não exercem suas funções lociais são bem maiores, ou seja há mais casa sem gente do que gente sem casa.

Figura 27: Ocupação Marielle Franco Fonte: https://www.folhape.com.br acessa do em 07/05/2019

Em Recife o assunto é pauta para deb tes, e com o surgimento da ocupação Marielle Franco, encontrada no Ediífico SulAmerica, ficou mais evidente que na cidade há uma grande quantidade de edifícios desocupados e com grandes dívidas, edifícios esses que poderiam estar sendo usados pela a própria população que trabalha em áreas próximas, mas que possuem moradia em bairros distantes. Sua não ocupação dá viés para a sua degradação e especulação imobiliária. A moradia também tem impacto na saúde psicológica da população, especialmente, nas crianças. Segundo o epidemiologista psiquiátrico, James KirkBride, que estuda como um ambiente afeta a saúde psiquiátrica, afirma que quando jovens devemos criar conexões, como amizades, e que frequentes mudanças associadas a grandes distâncias causam ruptura em ligações sociais como também dificultam o acesso a suportes sociais quando necessário, podendo aumentar os riscos de psicoses. 36


Importante criar oportunidades para que não sejam necessárias mudanças.

A segregação social através da moradia é um outro ponto a ser abordado. A separação entre ricos e pobres é proveniente desde os primórdios das civilizações, ocasionando os problemas que encontramos hoje, principalmente em cidades espraiadas, “São mais caras, mais distantes, mais desiguais e geram enormes gastos para todos por conta do perímetro a ser mantido” (ARRUDA, Ângelo, 2017). Arruda traz a densidade e a diversidade como palavras-chave para corte de gastos e ampliação de oportunidades. Um bairro não será sustentável se prover ou beneficiar apenas uma parcela da população. A partir disso é possível compreender a importância de ser obter uma a gama de oportunidades e escolhas de habitações e com isso permitir a pluralidade de pessoas e um local de direitos democráticos. Oferecendo vitalidade para o espaço, durabilidade da vizinhança, igualdade social, envelhecimento no local assim como a construção sólida dos outros aspectos que constituem o urbanismo sustentável.

O que é gentrificação?

A palavra Gentrificação é proveniente de uma expressão inglesa que significa pessoa rica ou ligada à nobreza. O termo surgiu em Londres quando um grupo de ‘gentriers’ (gentrificadores) migraram para um bairro que se constituía em sua maioria por cidadãos da classe trabalhadora. Com isso aumentando o custo de vida no local e consequentemente ‘expulsando’ seus antigos moradores. O processo de gentrificação assemelha-se com um projeto de revitalização urbana, no qual segundo a Carta de Lisboa sobre a Reabilitação Urbana Integrada declara que tal ato visa relançar a vida econômica e social de uma determinada área em decadência. O que os distingue é o fato de quem se beneficia com dessas melhorias. A gentrificação é comumente motivada por interesse privado, mas também tem participação do poder público. Está relacionada com a especulação imobiliária, assim tendo como áreas passivas dessa ação bairros centrais, históricos, ou com potencial turístico.

Figura 28: Espraimento de Phoenix, EUA. Fonte: http://urbanismodiario.blogspot.com em 07/05/201

Figura 29: Processo de gentrificação Fonte: http://www.courb.org acessado em 07/05/201

Figura 30: Imóvel do centro de Paris Fonte: https://www.archdaily.com.br acessado em 07/05/201

37


É possível encontrar exemplos de gentrificação em qualquer lugar do globo. Seja qual for o lugar em que aconteça é notório a saída de um grupo de baixo poder aquisitivo após a ‘revitalização’ não usufruindo das suas melhorias, praticamente obrigados a fincar suas raízes longe do seu local de origem. Esse novo lugar nem sempre supre suas necessidades, e por vezes afetando o estilo de vida dessas pessoas a exemplo de morarem muito distantes de seus trabalhos alterando sua forma de locomoção na cidade ou a ruptura em seus ciclos sociais. Pensando nesse problema que a prefeitura de Paris surgiu com uma solução legislativa para impedir que áreas passivas de gentrificação fossem atingidas. Com isso foram divulgados 257 endereços (8.021 apartamentos) onde a prefeitura tem direito de impedir a venda com o intuito de transformá-los em moradias subsidiadas. Evitando a evasão dos moradores para a periferia e com isso dando vazão à chegada de ‘guetos milionários’.

Como funciona a medida?

Os imóveis escolhidos atendem 3 pontos: • Tipo de condomínio; • Porcentagem de déficit de moradias sociais na região; • Edifícios onde existia ao menos 15% de demanda social. Em prática, quando um dos 257 endereços for colocado à venda deve ser ofertado para o governo metropolitano e vendido a preço de mercado. O valor a ser pago será decidido pela prefeitura, podendo ou não ser aceito pelo vendedor e caso não seja aceito, poderá apelar para um juiz por nova oferta ou retirar do mercado, mas o imóvel não será capaz de ser vendido para terceiros sem antes ser oferecido para o governo.

Por que a gentrificação não deve ocorrer?

“Optar por diversidade e solidariedade, contra a exclusão, o determinismo e a lógica centrífuga do mercado (imobiliário). Também ajuda a reduzir a desigualdades entre o leste e o oeste de Paris. Em particular, onde o desenvolvimento da oferta social é insuficiente.” (BROSSAT, Ian, 2015) A resposta de Brossat, funcionário da prefeitura de Paris, justificando a medida tomada pode ser apresentada como resposta para a pergunta acima. É importante em qualquer que seja o lugar preservar a garantia de um espaço democrático e que seus benefícios atendam a todos de forma igualitária. Todos merecem ter uma vida digna independente de suas distinções. Assim sendo, na Iputinga por sua baixa variedade habitacional a sua

38


população também não varia, mas por se tratar em sua maioria de uma população de baixa renda alguns pontos levantados por Farr não se fazem presente por apresentar uma cultura já estabelecida em que o envelhecimento no local é possível não pela diversidade habitacional, mas sim pela ação da própria população que edifica de acordo com suas necessidades excluindo assim normas e códigos pré-estabelecidos e resultando num desenvolvimento informal. Outro ponto importante sobre a área de análise é por ser composta de zonas especiais, de conservação natural e preservação que tentam proteger perante lei esses ambientes que poderiam ser vistos como passíveis de gentrificação.

Figura 31: Variedade na paisagem Fonte: Autores

39




2.f Preserve espaços abertos e ambientes em situação crítica

Figura 32: Espaços abertos com boa permeabilidade do solo Fonte: Google Earth

Para compreender a importância de se preservar espaços abertos e ambientes em situação crítica é preciso entender o que é biofilia e como seus aspectos são trabalhados dentro desses dois contextos. Como já explicado anteriormente no item 1b Urbanismo Sustentável, biofilia é um termo usado para demonstrar o grau no qual os seres humanos estão conectados com a natureza. Sendo assim um ambiente que trabalha bem a biofilia segundo Timothy Beatley apresentará tais características: ° Natureza abundante em suas proximidades; ° Afinidade entre cidadãos, fauna e flora nativa; ° Poder estar ao ar livre e aproveitar a natureza; ° Espaços multissensoriais; ° Educação sobre a natureza; ° Infraestrutura social para compreensão da natureza;

Medidas de conservação

Todos os pontos citados por Beatley devem ser atribuídos para atingir um bom grau de conexão com a natureza, mas ao se falar em urbanismo sustentável, que visa garantir para as próximas gerações um futuro sem crises e com recursos suficientes para a continuidade das atividades humanas, é preciso trabalhar em primeiro lugar a conservação. Em sua obra, Urbanismo Sustentável Desenho Urbano com a Natureza (2013), Farr aborda itens que podem sofrer com a baixa biofilia nos espaços urbanos, mas que se bem desenvolvidos alcançará uma boa biofilia. São eles:

Espaços abertos:

Nove york livre de carros. fonte: New York City Department of Transportation/Flickr-CC. Image Cortesia de TheCityFix Brasil

Ambientes de grande impacto direto na qualidade de vida de um bairro. Funcionam como “terceiros lugares” onde convivem várias gerações, encontros sociais e construção de capital humano. Quando apresentam grande percentual de área verde e solo natural culminam em lugares agradáveis (caso bem equipados e com áreas específicas), influenciando na preservação natural, manutenção da temperatura e filtragem das águas pluviais. Parques pequenos são relativamente simples com um plano diretor, porém apresentam-se de difícil aplicabilidade em cidades existentes, devido ao preço do solo e de da localidade não coincidir onde devem ser implantados. Farr traz algumas normas para se alcançar um espaço aberto de qualidade, deve-se estar a uma distância de três minutos a pé de cada 42


moradia (um raio 90m); ter área mínima de 650 m²; tamanho médio mínimo de todos os parques do bairro deve ser 2 mil m²; dois dos seus lados devem ser limitados por vias públicas.

Tipos de parques

- Campo de esportes: Especialmente projetada e equipada para a recreação em grande escala. Devem estar localizados nas periferias dos bairros por seu tamanho prejudicar a fina rede necessária para o deslocamento de pedestres. - Área verde comunitária: Disponível para recreação em áreas não construídas, circunscrito por fachadas de edificações, cujo tratamento paisagístico consiste de áreas gramadas e arborizadas.

parque em curitiba. Fonte : http://www.curitibacvb.com.br

- Praça: Raramente maior que uma quadra, localiza-se na intersecção de ruas importantes, circunscrita espacialmente por fachadas. Consiste em passeios pavimentados, gramados, ruas e prédios cívicos, formalmente distribuídos. - Praça cívica: Localizado na interseção de ruas importantes, reservado para propósitos cívicos e atividades comerciais. Tem piso duradouro adequado ao estacionamento de veículos e árvores de pouca manutenção. - Jardim comunitário: Agrupamento de pequenos jardins para o cultivo em pequena escala. Devem acomodar propósitos individuais. Com papel recreativo e comunitário. - Escuridão pública: A escuridão pública não necessariamente está relacionada com a uma má ou ausência da iluminação públicas, porém como se apresenta. A iluminação muitas vezes resulta em uma poluição luminosa, sendo desperdiçada e causando outros problemas como o ofuscamento, aumento do efeito de brilho celeste, reduz a visibilidade das estrelas de mesmo modo apresentando efeitos nocivos à fauna e flora e no ritmo circadiano. Para evitar esses problemas é preciso projetar a iluminação de modo que seja voltada para os pedestres, analisando o nível de brilho de acordo com o tipo de lugar. - Sistema de gestão de água pluvial: O uso contemporâneo do solo tem alterado drasticamente os padrões históricos e estáveis da hidrologia e a qualidade da água. Ao não se preocupar em manter o ciclo natural hidrológico e trata as águas pluviais como resíduos é possível observar aos seus efeitos como enchentes e erosão do solo.

ofuscamento por iluminação publica, onde é dificil inclusive notar a presença de estrelas no ceu. Fonte: Conexled

Telhado verde em Toronto, no Canadá. Uma de suas características é reduzir a velocidade e o volume do escoamento da água da chuva. Fonte: Massive Change

43


Ao se trabalhar replicando os padrões históricos somados com qualquer tipo de tecnologia que efetivamente colete, limpe, recicle e infiltrar a água in loco é viável encontrar estratégias para lidar com esse desafio. - Produção de alimentos: As grandes distâncias percorridas pelos alimentos acabam exigindo medidas cada vez mais elaboradas para mantê-los conservados, ocasionando nos usos de pesticidas e agrotóxicos nocivos ao meio ambiente e ao ser humano. Outro ponto negativo que pode ser tratado é uso de combustível para essas distâncias. A produção local a exemplos das hortas urbanas surge em contrapartida a essa cultura existente, possibilitando também a reciclagem do lixo alimentar para fertilização natural. “Alimentos de boa qualidade são vitais à saúde pública de uma população. Os benefícios econômicos dos sistemas de alimentação baseados na comunidade revertem na criação de empregos e marcados autossustentáveis.” (Farr, 2013, p.180) - O tratamento de esgoto ao ar livre e em ambiente fechado: O tratamento de esgoto ao livre e em ambiente fechado é uma questão complexa, envolvendo meio ambiente, política, cultura e ciência. Busca soluções sustentáveis de acordo com o terreno, pensando no reuso dos resíduos e da água de maneira benéfica visando administrar os dejetos humanos. Farr apresenta metas de desempenho de um sistema de tratamento de esgoto para um urbanismo sustentável, sendo elas, o reuso de 75% da energia do fluxo de resíduos; consumo de operação e manutenção não deve exceder 80k quilowatt-hora por ano per capita e reuso de 75% da água do fluxo de resíduos. Através dessas informações é possível visualizar o porquê de se preservar os espaços abertos e ambientes em situação crítica, pois são elementos cruciais para se obter um menor consumo de energia e água, ciclo naturais ininterruptos, alimentação mais saudável, boa gestão de eliminação de dejetos, dentre outros aspectos positivos que influenciarão em não apenas uma melhoria na qualidade de vida como também um ótimo suporte à biofilia. Na Iputinga é possível encontrar espaços abertos com solo permeável sem uso que propiciam a projetos como os que Farr cita em seu livro, e outros que estão dando lugar para parques de pequeno porte, mas ainda sim existe uma carência na qualidade desses espaços, para obter “terceiros lugares”. O uso do

informal do solo a exemplo do avanço dos terraços residenciais para a calçada mostra como o parcelamento do solo não respeitado na área e isso acarreta em problemas principalmente ao lidar com o escoamento das águas pluviais. As áreas arborizadas são escassas e infligem em temperaturas altas tendo em vista a cidade de Recife, mas através das análises também é cabível a aplicação de métodos que melhoram na coleta dos resíduos. A sementeira do bairro poderia comportar uma unidade de compostagem de lixo orgânico, transformando-o em adubo para hortas locais que por sua vez proporcionaram uma produção de alimentos de pequena escala local como também mais áreas verdes

Uma horta orgãnica urbana plantada num terreno outrora abandonado em São Paulo. Fonte: Veganagente

Compostagem Urbana como gestão comunitária de residuos. Fonte: https://www.menos1lixo.com.br

44





2.g Tire proveito de projetos e construções compactas

Figura 34: Vista área Iputinga Fonte: Google Earth

Atualmente, o crescimento exponencial da população, o êxodo rural e grandes centros urbanos consumidores e causadores de poluição independente de sua localização afeta a todos de maneira global. O efeito de se ter um espaço com um funcionamento degenerativo não inflige apenas nos consequentes desequilíbrios naturais já conhecidos, como efeito estufa e aquecimento global, mas diretamente na qualidade dos recursos utilizados e na vida dos seus habitantes. A compacidade, adensamento construtivo ou populacional, é uma das estratégias do urbanismo sustentável para evitar que essa forma de desenvolvimento urbano continue a

Um ambiente compacto facilita na diminuição do consumo e na implantação de projetos que maximizam a reutilização de recursos/dejetos (quando há possível reutilização).

acontecer.

A cidade de Londres durante a Revolução Industrial. Mostra as péssimas condições de vida da população. Fonte: BENÉVOLO, 1999

“Uma cidade densa e socialmente diversificada onde as atividades eco nômicas e sociais se sobreponham e onde as comunidades sejam concen tradas em torno das unidades de vizinhança” (Rogers, 2015, p.33)

Com esse pensamento que Herbert Girardet chegou ao ‘metabolismo’ circular nas cidades. (Ver figuras x e x) No século XX o pensamento de cidades adensadas era visto como algo negativo, dado que as cidades industriais na época, bem populosas, apresentavam vários problemas, sendo um deles a ausência de saneamento básico, presença de doenças e uma baixa expectativa de vida. Tal pensamento não se sustenta hoje em dia, por esse cenário não fazer parte da realidade, cidades adensadas não apresentam mais riscos, mas soluções para as questões atuais. Como é enfatizado por Richard Rogers em seu livro “Cidades para um pequeno mundo”, cidades densas por meio de um planejamento integrado ajudam no aumento da eficiência energética, menor consumo de recursos, menor nível de poluição bem como evitar a expansão sobre as áreas rurais. “Uma cidade densa e socialmente diversificada onde as atividades econômicas e sociais se sobreponham e onde as comunidades sejam concentradas em torno das unidades de vizinhança” (Rogers, 2015, p.33) A visão de cidade dividida por zonas ainda é dominante em boa parte dos países, como nos Estados Unidos, onde a divisão por áreas acarretam em grandes distâncias a serem percorridas e que muitas vezes em conjunto com um transporte de massa defasado auxilia na criação de cidades onde a cultura 48


do carro é ainda mais fortalecida. O automóvel possibilita a vida longe dos centros urbanos, mas com isso exigindo cada vez mais espaço, mais combustível e como visto em uma pesquisa em San Francisco o nível de interação social entre vizinhos é inversamente proporcional à quantidade de trânsito, ou seja, afetando assim o senso de comunidade. Para que uma cidade seja compacta é preciso ter uma mistura nos usos dos solos, rejeitando assim o desenvolvimento monofuncional. Deve permitir não apenas o deslocamento a pé, mas integrar as atividades sociais e comerciais em conjunto com um transporte de massa, reduzindo a necessidade de locomoção e criando um local sustentável e cheio de vitalidade. Recolocando a cidade como meio ideal para uma sociedade fundamentada na comunidade. Segundo Farr (2013) a densidade ideal está em torno de 17,5 a 20 unidades por hectare (10.00 m²) Um bom meio de alcançar uma boa compacidade é através do planejamento urbano, de zoneamentos juntamente com ilustração plano diretor da cidade de são paulo. códigos convenções e restrições (CCR). O uso Fonte: Gestão urbana SP de instrumentos de política urbana como o plano diretor e o uso do solo são essenciais para a construção de uma cidade compacta favorecendo por sua vez os outros pontos necessários para obter um urbanismo sustentável como a biofilia, completude e conectividade. Um exemplo da melhoria por meio de tais artifícios está na cidade de Curitiba onde seu prefeito, Jaime Lerner, sua pauta urbana mudou o cenário que sofria com problemas comuns da rápida expansão, agora obedecendo a um sistema de zoneamento onde os edifícios mais altos , residenciais e de escritórios , alinham-se ao longo dos cinco principais eixos de transporte de massa. Dentre outras mudanças que visivelmente fazem a diferença no cotidiano urbano e também a longo prazo da cidade, as decisões tomadas por Lerner desde assentamentos informais a transformações de antigas pedreiras asseguraram a compacidade, completude, conectividade e biofilia com uma boa colaboração local. Na área de análise há presença em sua Espaço público acessível, seguro para todos em maioria uma única tipologia habitacional. Curitiba. Fonte: Mariana Gil/EMBARQ Brasil) Apresenta adensamento alto, porém de maneira desordenada em algumas parcelas. Mesmo com defasagem nos aspectos de seu adensamento possibilita o ato de caminhar, mas por ter uma variedade maior habitacional afetando por sua vez na mistura do uso dos solos. Tipos de densidade: Populacional: Número de pessoas por área. Habitacional: Número de habitações por área. Ocupacional: Projeção da área construída de

49


Aprovado plano diretor de sĂŁo paulo. Fonte: folha de sĂŁo paulo


Tipos de densidade:

área.

Populacional: Número de pessoas por área.

Habitacional: Número de habitações por área.

Construtiva: Quantidade de área construída em uma

Ocupacional: Projeção da área cons truída de uma edificação. É a ocupa ção em forma de planta baixa, não sendo possível obter a altura do imóvel.



uma edificação. É a ocupação em forma de planta baixa, não sendo possível obter a altura do imóvel. Construtiva: Quantidade de área construída em uma área.

A IMPORTÂNCIA DE HAVER UM PLANO DIRETOR MUNICIPAL BASEADO NA FORMA

Os códigos baseados nas formas enfatizam na forma da edificação e como afetará os espaços públicos, se distinguiram com base nas preferências da comunidade. Diferentemente, do zoneamento convencional, como é utilizado em Recife, que ignora a forma e foca apenas no uso, resultando em edificações genéricas inadequadas aos empreendimentos existentes e às preferências da comunidade. “Ao voltar as edificações para as ruas e os espaços públicos em vez de para estacionamentos e pátios privados, os espaços públicos são redefinidos de escala orientada para automóveis para a escala orientada para os seres humanos” (Farr, 2013, p. 79) Alguns dos aspectos mais importantes desses códigos são: Foco na forma: Ter detalhada para cada tipo de edificação sua implantação, do seu estacionamento, imposições de fachadas e usos e gabarito. Plano diretor: São criados distritos, cada qual apresentando um tipo de empreendimento, edificação ou espaço aberto. A análise de cada lote e quadra, individualmente, não estabelecendo deste modo grandes faixas de um tipo de distrito. Além de mapear os tipos das construções e espaços abertos também detalhou como as vias se desenvolvem de acordo com tais tipos. Representação visual dos códigos baseados na forma: Se fundamenta através de ilustrações facilmente identificadas que agregam as informações mais relevantes em um único lugar para explicar as normas, trazendo uma maior compreensão para o leitor. Normas de paisagens, estacionamento, iluminação e sinalização gráfica: Procura estabelecer uma conexão entre as construções, vias e espaços abertos no intuito de garantir o aprimoramento do ambiente imaginado. Um conjunto completo de posturas para empreendimentos: Para promover um empreendimento sustentável normas de loteamento e de administração devem ser pensadas em conjunto com zoneamento baseado na forma, juntos facilitando o uso. O Plano Diretor do Recife consiste no zoneamento tradicional, como citado acima, apresentando diretrizes através de fórmulas e

tabelas. Podendo assim impossibilitar na orientação de criação de bairros ativos e sustentáveis, pois suas demandas como cidade e comunidade não ficam bem estabelecidas. Em contrapartida o Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo trabalha baseado na forma, procurando ilustrar bem o que é exigido em seu município e o que deve ser feito para alcançar tais objetivos, como o bom parcelamento do solo e fachadas ativas.

53


2.h Estimule a colaboração da comunidade e dos envolvidos e reforce e direcione a urbanização para comunidades existehntes Ações urbanísticas são modificadoras dos espaços de um bairro, cidade ou região, tanto quanto no setor da sociabilidade quando no setor econômico. Revitalizar, renovar, reabilitar e requalificar podem contribuir diretamente para resolução de diferentes problemáticas encontradas no meio urbano. Partindo da premissa que cada comunidade tem suas potencialidades e seus desafios, podemos encarar a urbanização como ferramenta facilitadora e solucionadora para criação de espaços urbanos bem-sucedidos, ou seja, espaços acessíveis, ativos, confortáveis e sociáveis. Algumas metodologias como o placemaking e a charrete são extremamente eficazes para que ações urbanísticas se encaixem com interesses e necessidades da comunidade, beneficiando todos os envolvidos. A charrete é uma oficina colaborativa de desenho e planejamento urbano com intuito de produzir um plano viável que se beneficia do apoio de todos envolvidos, ou seja, junta todos os envolvidos nas tomadas de decisões para a criação de uma solução na qual todos saem ganhando e tem duração de cerca de 3 dias. Enquanto isso, o placemaking significa fazer lugares, que estimulam as conexões- entre pessoas entre si e entre as pessoas e a cidade, melhorando-a e fazendo-a de palco para a vida pública. “É preciso de um lugar para criar uma comunidade. E de uma comunidade para criar um lugar.” (Guia do espaço público, 2015) Para que uma intervenção urbanística tenha impacto positivo é necessário que haja total sincronia do projeto com a comunidade, caminhando lado a lado com os interesses e necessidades da mesma, permitindo uma conexão com o lugar, para que desperte o sentimento de pertencimento em quem ali habita. No mapa de zonas, podemos diagnosticar a qual cada área pertence e a sua legislação, que deve ser levada em conta em ações e reformas urbanas, para que as mesmas se adequem ao interesse da comunidade e possa ter um impacto positivo na área. Analisando o mapa de diversidade, pode-se notar que a área estudada é uma comunidade habitacional, o que faz mais necessário a criação de espaços públicos

54



conectados com os interesses do ser humano e consequentemente ao urbanismo sustentável, que agreguem um senso de pertencimento a área. Há também a presença de outras comunidades, como a de comércio/serviço e educacional, que carregam consigo a identidade da área e ofertam eventos colaborativos na Iputinga, como se foi analisado no mapa de colaboração. É necessário o cruzamento de vários dados, para se obter um desenvolvimento satisfatório na urbanização de comunidades já existentes e com isso, os maiores beneficiários são os habitantes dali, mas também traz benefícios diretos para quem por ali passa, pois gera ambientes agradáveis ao transeunte, lugares bem sucedidos que atraem e faz com que as pessoas sempre voltem, propiciando uma maior atividade econômica do local, a socialização, a vigilância social, a caminhabilidade, entre outros parâmetros do urbanismo sustentável. No segundo semestre de 2018, o atelier vivo fez uma ação urbanística de design-build na praça Arari Fonseca, direcionada para a primeira infância, utilizando uma metodologia semelhante a uma charrete, onde foi feito um diagnóstico do que as crianças desejavam pra praça, com base em seus desenhos e conversas com os moradores, antes da execução do design-build, para um alinhamento de propósitos. É um exemplo real da área de estudo, que mostra como a conexão do urbanismo com a comunidade pode fazer diferença no espaço urbano. A potencialidade dessa área é a existência de espaços abertos, como a sementeira e a praça Arari Fonseca, que podem acomodar intervenções de melhoria pro bairro, potencializando seu poder de sociabilidade. O desafio, em parte, se trata da conservação desses ambientes. “Nada se mantém intacto sem conservação e preservação” (Espaços Públicos: a transformação urbana com a participação da população, 2017).

56





3.


DIRETRIZES DE PLANEJAMENTO DECISÕES DE URBANIZAÇÃO PREVISÍVEIS, JUSTAS E ECONÔMICAS 2a.

Crie bairros nos quais se possa caminhar:

Comunidade e Prefeitura a favor da caminhabilidade. Parceria entre Prefeitura e comunidade para conscientizar e explanar sobre a situação das calçadas, mostrando os motivos de não avançar os espaços destinados para as calçadas e de não criar obstáculos nas mesmas. Posteriormente alargando e redimensionando de acordo com os parâmetros urbanísticos e das normas de acessibilidade. 2b.

Proporcione uma variedade de escolhas de transporte:

Novos modais e infraestrutura adequada. Criar e melhorar as infraestruturas para a utilização de modais distintos: Calçadas caminháveis; pontos/paradas de ônibus adequadas; ciclovias e ciclofaixas, já que é notório a utilização de diversos modais, mas que não há espaços conveniêntes para tal. Como também criarnovas opções de modais, como o deslocamento pelo Rio capibaribe.

Promova lugares diferentes e interessantes com senso de lugar - considerando os 2c. elementos de paisagem Se voltar para o rio e suas oportunidades Desenvolver oportunidades de participação efetiva e de integração da comunidade com o Rio Capibaribe, proporcionando uma proximidade maior com esse espaço tão importante na paisagem local, mas que é muito negligenciado. Pondo em prática de investimento socioambiental da secretário de recursos hidrícos do Estado de Pernambuco, que prevê medidas de recuperação dos rios que cortam a cidade, em especial o Capibaribe. 2d.

Misture os usos do solo - criando bairros saudávei

Assegurar a diversidade e potencializa-lá através da biofilia Como já visto anteriormente foi constatado que a área em análise obtem uma boa diversidade de usos, porém a carência da biofilia afeta outros aspectos do urbanismo sustentável. Portanto está sendo proposta uma diretriz que incentive a continuidade da diversidade e outra para implantar mais vegetação de caráter público e manter sua presença.

2e.

Crie uma gama de oportunidades e escolhas de habitações

Garantir habitações distintas Através da legislação desenvolver parâmetros para o uso do solo no âmbito habitacional voltado para sua tipologia. Assim dividindo para cada tipo de moradia garantindo diferentes formas de morar em um mesmo bairro, tendo um espaço democrático podendo evitar uma possível gentrificação.

61


DIRETRIZES DE PLANEJAMENTO DECISÕES DE URBANIZAÇÃO PREVISÍVEIS, JUSTAS E ECONÔMICAS 2f.

Preserve espaços abertos e ambientes em situação crítica

Tirar proveitos de espaços abertos. Criar ambientes de uso comum para a comunidadeque proporcionam o aumento da biofilia. Como há na Iputinga espaços ociosos, podem assim ser executados projetos comunitários como uma compostagem de lixo orgânico de rua produzindo adubo para uma possível horta urbana, parques/praças para crianças. 2g.

Tire proveito de projetos e construções compactas

Trabalhar a compacidade de maneira ordenada Promover rodas de diálogo entre a prefeitura e a comunidade de modo a solucionar coerentemente o problema do adensamento habitacional que cresce deforma desordenada no local.

Estimule a colaboração da comunidade e dos envolvidos e reforce e adicione a urbanização para as comunidades existentes 2h.

Placemake Elaboração de placemake para estimular a urbanização nas comunidades existentes e criar uma conexão entre as pessoas e a cidade, e entre si.

62


4. REFENRÊNCIAS ARRUDA, Marcos (2017). A utopia das cidades compactas e sem separação de classes. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/869355/a-utopia-das-cidades-compactas-e-sem-separação-de-classes BALAKAR, Nicholas (2018). Mudar de casa muitas vezes pode aumentar o risco de psicose. <Dispnível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/mudar-de-casa-muitas-vezes-pode-aumentar-risco-de-psicose-23005910> BRITTO, Fernanda (2017). O que é uma cidade biofílica? <Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/01-99393/o-que-e-uma-cidade-biofilica CARTA DE LISBOA SOBRE A REABILITAÇÃO URBANA INTEGRADA 1º Encontro Luso-Brasileiro de Reabilitação Urbana Lisboa, 21 a 27 de Outubro de 1995 CHUVA, Márcia Regina Romeiro. Os arquitetos da Memória. Editora UFRJ, 2019. Páginas 43 a 57. COSTA, Emannuel (2016) “O que é Gentrificação e por que você deveria se preocupar com isso”. Disponível em:http://www.courb.org/pt/o-que-e-gentrificacao-e-por-que-voce-deveria-se-preocuparcom-isso/ Definição de ZEPH e IEP segundo a normativa. Densidade, dispersão e forma urbana Dimensões e limites da sustentabilidade habitacionalGeovany Jessé Alexandre da Silva, Samira Elias Silva e Carlos Alejandro Nome http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.189/5957 Direito a moradia: todos tem direito a um lar. <Disponível em: https://www.politize.com.br/direito-a-moradia> Dívidas de R$ 346 milhões de IPTU expõem abandono e cobiça no Centro do Recife. <Disponível em: http://marcozero.org/dividas-de-r-346-milhoes-de-iptu-expoem-abandono-e-cobica-no-centro-do-recife/> Gestão urbana de SP. <Dispinível em: https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/marco-regulatorio/plano-diretor/texto-da-lei-ilustrado/> GHEL, Jan (2015). Boas Cidades para Caminhar in Cidades para Pessoas(p. 119 – 133) e A cidade ao nível dos olhos – projetando o térreo (p. 240-241) GHEL, Jan (2015). Cidades para Pessoas.(Páginas 19 à 29 / 232 e 233). HEEMANN, Jeniffer; CAIUBY, Paola Santiago (2014). Guia do espaço Público. Disponível em:https://www.placemaking.org.br/home/wp-content/uploads/2015/03/Guia-doEspa%C3%A7o-P%C3%BAblico1.pdf Identidade (segundo HALL, Stuart. Identidade cultural na pósmodernidade. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2006) e Paisagem (se¬gundo a Recomendação Europa – 1995). ILUSTRAÇÕES E PROJETO GRÁFICO PARA O "PLANO DIRETOR ESTRATÉGICO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. <Disponível em:http://www.aporoarquitetura.com/p_i_pde.html> LEITE, Carlos (2016). Instrumento inovadores urbanos. <Disponível em: https://www.arcoweb.com.br/noticias/artigos/carlos-leite-instrumentos-urbanos-inovadores> MONTANDON, Daniel (2017). Plano Diretor estrátegico e novo zoneamento em São Paulo.

63


<Disponível em: https://www.slideshare.net/VictorMinghini/aula-9-daniel-montandon-p1> NÓBREGA; DUARTE; CÂMARA; SILVA; ROLIM (2014 ) “Por um espaço Público Cidadão: o encontro do edifício com a rua”. Disponí¬vel em: https://issuu.com/vaastu_/docs/por_um_espa__o_cidad__o_o_encontro_ NBR 6023. Disponível em: https://www.usjt.br/arq.urb/arquivos/abntnbr6023.pdf “Crescimento urbano inteligente; A consciência ambiental do urbanismo sustentável”. (p. 14 à 16) em Farr (2013) NBR 10520. Disponível em: https://www.usjt.br/arq.urb/arquivos/nbr10520original.pdf “O que é Placemaking” e “Placemaking, urbanismo e o futuro dos espaços públicos “e outros textos disponíveis em http://www.placemaking.org.br/home/ Plano Diretor da Cidade do Recife (2008). Quais as formas derivadas desse plano que estão presentes na sua área de estudo? Mostrar os tipos volumétricos que o plano propõe “Por um espaço público cidadão: a mobilidade e a conquista da rua” (2015). Disponível em: https://issuu.com/senge-pe/docs/arquivo_final_cartilha "POR UM ESPAÇO PÚBLICO CIDADÃO: o encontro do edificio com a rua ", (2014). Disponívl em: <https://issuu.com/vaastu_/docs/por_um_espa__o_cidad__o_o_encontro_> Proporcione uma variedade de escolhas de transportes. <Disponível em: https://prezi.com/p/e2ptw36tbgil/urbanismo-ii-item-8/> RABELO, Juliana. Mirantes do Poço da Panela. (Página 01) Recomendação Europa http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Recomendacao%20Europa%201995.pdf TANSCHEIT, Paula (2017) Espaços Públicos: a transformação urbana com a participação da população. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/875364/espacospublicos-a-transformacao-urbana-com-a-partici¬pacao-da-populacao When is a charrette appropiate <Disponível em: https://pashekmtr.com/when-is-a-charrette-appropriate/>

64



TABELA POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA A ÁREA DE ESTUDO Síntese de todos os itens estudados

CAPÍTULOS

POTENCIALIDADES

DESAFIOS

COMPACIDADE CONECTIVIDADE

2a. Crie bairros nos quais se possa caminhar

2b. Proporcione uma variedade de escolhas de transporte

2c. Promova lugares diferentes e interessantes com senso de lugar - considerando os elementos de paisagem

2d. Misture os usos do solo - criando bairros saudáveis

2e. Crie uma gama de oportunidades e escolhas de habitações

2f. Preserve espaços abertos e ambientes em situação crítica

2g. Tire proveito de projetos e construções compactas

2h. Estimule a colaboração da comunidade e dos envolvidos e reforce e adicione a urbanização para as comunidades existentes

Cultura do caminhar

Cultura de utilizar transportes sustentáveis

Senso de lugar - espaços como ponto de encontro

Edificações de usos mistos com diversidade de usos

Oportunidade de envelhecer no local

Presença de espaços abertos e lotes vazios que podem se tornar espaços de sociabilidade

Área bem adensada no quesito populacional, habitacional e construtivo

Senso de pertencimento da população em relação ao bairro e espaços abertos que permitem a urbanização em sintonia com os interesses da comunidade

Calçadas que não proporcionam caminhabilidade - calçadas estreitas e com obstáculos

Ausência humanizada - iluminação para carros, carência arbórea

Ausência da Biofilia (negação do Rio Capibaribe e carência de vegetação pública)

A ausência de biofilia gera desconforto térmico que inibe a caminhabilidade afetando o proveito dos usos do solo na área

Falta de variedade de habitação e espaços para fornecimento de novos.

Desusos dos espaços que podem resultar no não aproveitamento de um espaço com potencial para a sociabilidade Adensamento informal

Promoção e conservação de tais ambientes

COMPLETUDE BIOFILIA


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.