Ano VIII nº53 Jan/Fev 2014 Distribuição Gratuita Editor:Antonio Cabral Filho Rua São Marcelo, 50/202 Curicica-Rio de Janeiro – RJ Cep 22.780-300 Email: letrastaquarenses@yahoo.com.br http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC
ACADEMIA CELESTIAL DA TROVA E agora no final Este quesito me enleia: Quem terá sido, afinal, O garçon da Santa Ceia? Eno Teodoro Wanke – RJ Uma jovem, na janela, Deixando o tempo passar, Canta uma canção singela. Cantando... só por cantar. Pedro Giusti – RJ Ser eterno ele queria, Sem ater-se ao principal... Todo artista morre um dia, Só a arte é imortal. Fernando Vasconcelos – PR Quando a saudade chegar, Não ponhas as mãos no peito. A vida é para se amar, Sem mágoa, ódio ou desgosto. Osael de Carvalho – RJ Por vezes, na revisão, Dá um branco no revisor E o texto sai com senão: “Errar é humano”, leitor. Sinésio Cabral - CE HAICAIS Tão plascidamente O sete de abril revela A nova manhã. Eliana Ruiz Jimenez – SC Folha caída No quintal do casarão: Bilhete da vida. Olivaldo Junior – SP Só eu e o salgueiro – Que procuram nossos olhos Sempre para o chão? Neide Rocha Portugal – PR
Conta mil façanhas Para a amada impressionar: Fogo que não queima. João Batista Serra-Ce
Por mais que as regras morais Moldem o bom cidadão, Dia a dia os imorais Na vida melhor se dão.
No meio da noite, Um súbito despertar: Pernilongos a postos. Renata Paccola – SP
Jessé Nascimento – RJ
Muita ventania Nas avenidas e praças. - A tarde cai fria. Humberto Del Maestro – ES À noite, na rua, Pelo caminho de sempre. Jasmineiro em flor. Manoel F. Menendez – SP O silêncio divino Diviniza o sonho. Chega a ser enfadonho. Silvério da Costa – SC Chove de mansinho Na manhã de primavera: Frio tropical. No baile das flores, Beija-flores fazem festa: Eis a primavera. Caminho do mar: A navalha no meu rosto, Corta que nem gelo. Trilha do mosteiro: O andarilho vai convicto, Busca paz de espírito. Antonio Cabral Filho - RJ TROVAS Sonho ainda ser criança, Neste instante matinal, Brincando com a esperança Nas sombras do meu quintal. Humberto Del Maestro – ES
Vem chegando a primavera, Os jardins ficam floridos... Almas cheias de quimera E corações coloridos. Henny Kropf – RJ Suscitando a inquietude De uma longa odisséia, A trova, mais que virtude, É gênese de uma idéia. Silvério da Costa – SC Urubu sobre o telhado E voando abertamente Ficou muito bem olhado Pelo suspiro da gente. FranciscodeAssisNascimento Contemplando o próprio rosto, Sem saber do que é preciso, Sou “Narciso” e tenho o gosto Que provém do meu sorriso. Olivaldo Júnior - SP Sorte, aleatório caminho Que cada destino traça: Para alguns, tão forte vinho; A outros, vazia taça. Eliana Ruiz Jimenez - SC Camomila e poesia Mais o cobertor de orelhas Fazem a minha alegria Numa noite sem estrelas. & No Largo da Abolição Ouvi berimbau nos ares, Lembrei que a escravidão Fez do Brasil seu Palmares.
Minha pedra, minha vida, Diz o craqueiro a cantar, Sem saber que aquela “vida” Acaba de se queimar... & Amizade não tem preço Nem é presente que enjeito, É sempre mais que mereço E guardo aqui bem no peito. & Eis que surge nova lei: Rico gera violência, Diz a filha do Sarney Num acesso de demência. Antonio Cabral Filho – RJ Se existe coisa mais bela Que o luar do eu sertão, Deus então ficou com ela E fim de papo, meu irmão. Arlindo Nóbrega – SP Grande mesmo é quem descobre Que ser grande é ser alguém Que abre espaço para o pobre Tornar-se grande também. A. A. de Assis - PR Um instante pensamento Quando você renasceu: Floriu fértil sentimento Que a todos fortaleceu. Agostinho Rodrigues – RJ Ao acordar, que beleza, Ver sol bater na janela! Parece que a natureza Me chama de filho dela. Murilo Teixeira – MG A saudade de você Dói demais – você nem sabe. É duro ter que viver Suportando esta saudade. Araci Barreto da Costa – RJ Para a vida ter valor É preciso meditar, Fazer o bem com amor Deixar o mal se calar. Ivone Vebber – RS
A trova, de qualquer jeito, Chega forte e vai bem fundo: Em seu contexto perfeito Já percorre todo o mundo. Diamantino Ferreira – RJ
COMO ( EU ) VIA Aquela paisagem Que eu via da janela Era triste Porque perdi meu irmão.
Expresso com emoção E com orgulho bendigo, O que diz meu coração: Como é bom ser teu amigo. OEFE de Souza – SP
Aquela paisagem Que eu via da janela Não me comovia Porque eu era só.
A trova, rica magia, Da mais ampla distinção Tem o toque da harmonia E o bater do coração. Vidal Idony Stockler – PR
Essa paisagem Que vejo da janela É bela Porque encontrei um amigo. Renata Paccola – SP
Canta a poesia na janela Do meu feliz coração Tornando a vida tão bela Como a luz de uma oração.
POEMAS DO TOUCHÉ
Ziney Santos Moreira – SP Há um casal que sintetiza Todo amor que o céu projeta: - A minha alma de poetisa E o teu coração de poeta... Laura da Fonseca e Silva – RJ Jamais deixe no caminho A semente de um pecado, Leve amor e muito carinho Ao menor abandonado. Antonio Fernando de Andrade Nenhuma vida é pequena Restrita em sua pequenez, Ora... viver vale a pena, Só se entra em cena uma vez. Milton Dias Fernandes – MG Lapidador de palavras Sou poeta e trovador, De versos eu tenho lavras Num peito cheio de amor. Miguel J. Malty – DF
Sei o que quero dizer Mas não encontro palavras: Inspirar-se é florescer. & Por entre rosas e primaveras Desce a tarde púrpura: Com poemas me esperas. & A claridade da manhã Desenhava o horizonte: Como um sorriso de mãe. Antonio Luiz Lopes – SP AUTOBRIOGRAFIA A história quis fazer mártir O amor me fez mulher A poesia me levou além Da história, do martírio. Me afundou no vazio Para poder criar E recriar-me Noutra forma de ser Sendo sempre mulher. Ilma fontes – SE DAS CARÍCIAS Minha mão percorre teu corpo Como água seguindo o rio. Encontrando emoções. Encontrando sentimentos. Walmor DS Colmenero – SP
MULHERES DO TALIBÃ Anônimas, sem rosto, Escondidas atrás de um muro Que não é de concreto Ou de pedra Mas é tão sólido e forte Como se fosse de matéria dura E não fina, leve,fechada,escura. Atrás desse muro Existe alguém, Embora não apareça. Alguém que de tanto Viver escondido Perdeu a própria identidade. Agora,sem rosto, sem nome, Sem lágrimas, Enfrenta um mundo Que lhe é desconhecido. Ela também é desconhecida, Sem nome, sem Rosto, sem sorrisos. Vera Puget - RJ OSÓRIO PEIXOTO SILVA CHEGA AO CÉU Depois que esse cara Chegou por aqui Combatendo a hipocrisia Esse lugar virou uma zona Ta pior do que o inferno! Rogério Salgado – MG CONVOCATÓRIA Os jovens vão ao encontro Na praça nacional para Uma demonstração de protesto Exigindo um fim à violência Um pouco de justiça Mais transparência no governo E na política financeira, A consigna é demandar Respeito a seu direito À escola e educação Ao trabalho sustentável E alimento para seus sonhos. Os estudantes vão marchando Com sua coragem
E suas esperanças, Com o futuro Em seu pensamento Braço a braço com o povo Até à vitória, sempre! Terezinka Pereira - EUA
EM BUSCA DAS BORBOLETAS À Irmã Marina Lopes
VERTENTE
Se preciso suportar larvas Para conhecer as borboletas Por que então, eu não as conheci? As borboletas de Exupéry?
Tente ver A vertente verde. Tente ser Exemplar vertente.
Eu as suportei dia a dia Desde a primavera ao outono! Hoje, o inverno vem chegando As larvas continuam queimando.
Percorra Caminhos da mente Sem acidentes.
Mas...dentro de mim há uma força Que os olhos do mundo desconhecem Que, mesmo as larvas me queimando Vou as lindas borboletas esperando!
Renasça. Esqueça O mal devastador, Tente ver a vertente Verde. Sorria. Alcance a nascente, Beba nas águas da fonte Vida que ali se sente. Eduardo Waack – SP POEMAS Apesar De tantas mudanças Montanhas Arredondadas Continuam circundando Meu território Assim me reconheço. Djanira Pio - SP
Espero!...Espero!...Peço a Deus Que não canse de esperar! Mesmo qu’elas custem a aparecer... Que as borboletas um dia eu possa ver! Ondina de Aquino Carrilho Cruz – RJ O FÉRETRO DOS VIVOS 3 Linha dura Linha férrea Corpo partido Doído esquartejado Menos uma mão-de-obra. Corpo desfigurado Banhado de sangue Verde, vermelho e amarelo. Feriado nacional trem vazio Apenas algum marginal.
QUEM? Airton R. Oliveira – RJ Tudo é cru e tudo universo Mais se renova do que perece? Não o real o que enxergamos? GONZAGUIANA O mais está sempre mais longe? Sinal mais longe, mais que o som, Em tronco de velho freixo Exposto à lixa dos ventos Então: quem disse Ao vitríolo do tempo De cada coisa Não gravo teu nome não: O verdadeiro nome? Gravo meu coração. Aricy Curvello - ES
José Paulo Paes – SP
BANDEIRA
LARGO DA BATALHA
HORA DA RVOLUÇÃO
Nunca participei De escaramuças literárias, Não por medo de escaramuças, Mas por não ser tropa Nem chegado a general.
Já diz tudo O nome do local Que nos lembra Algo longe Transido de combates E ainda agora Nos seus arredores Chegam avisos da pólvora: Seguem escaramuças Por seu corpo escarpado, Todo respingado de rubro.
É hora da revolução! É hora da revolução!
SALDO ESCASSO Após devorar A sagrada esperança De Agostinho Neto, Com gosto de suor africano Explorado em solo brasileiro, Regada a muito café E mergulhado em insônia, Vou passear no quintal Ver se colho um poema Ou o sal da escassez. NOITE Depois de trabalhar O dia inteiro A noite fica exausta E se dependura Lá do céu sobre nós E dorme como os morcegos... É por isso que acordamos Chamuscados de escuridão. METAPOÉTICA De tanto Alavancar o poema Acabei pavimentando O verso E instalando a poesia Sempre no ponto final. COMPLEXO DE KAFKA Não fossem os calafrios Da pobre coitada mãe Que vivia em panos quentes Pra manter seu pai Em banho-maria Teríamos mais psicanalistas Tentando livrar as pessoas Dos estados parasitários E Kafka transformado em barata.
Não! Não é nenhum Sinal dos tempos Nem devido à queda De algum ditador. É que eu vi Um homem no ônibus Lendo o Manifesto Comunista. PRÊMIO JUSTO
PONTO CEM RÉIS Não sei quantos reis Passaram por este ponto E não sei ainda Se era sem réis Caso houvesse pedágio Transitar livremente. ENQUETE O vovô anarquista Perguntou para o netinho Se acreditava em Papai Noel: - Por quê, vai me dar presente? Inquiriu o garoto, todo serelepe, Enquanto o avô confabulava Com seus bigodes: - Que menino materialista!
Corredor polonês Só para o maldito inventor Do corredor polonês, Que eu fui..... CACETE BAIANO Depois de apanhar Até gato morto miar, Por dizer gracinhas Para a menina dos olhos Do paizão ciumento, Diz que ganhou O maior cacete baiano. APROPRIAÇÃO INDÉBITA Eu sei que o boca-a-boca É a melhor propaganda,
ANTI GULLAR Inútil a luta corporal Sem poemas concretos Sobre romances de cordel A sós dentro da noite veloz Pra cometer poema sujo E acender uma luz no chão Em plena vertigem do dia Causar crime na flora E sair por aí fazendo barulhos Com muitas vozes E argumentação contra A morte da arte Pleno de antologias...
Mas não adianta resmungos Nem choro pelos cantos. Só devolvo o beijo Que te roubei dormindo, Se vieres tomá-lo Boca-a-boca... NOITE O dia em seu desfile Monótono Pede passagem E fecha a porta. Antonio Cabral Filho - RJ