Ano X nº 67 Outubro 2015 Distribuição Gratuita Editor: Antonio Cabral Filho Rua São Marcelo, 50/202 Rio de Janeiro – RJ Cep 22.780-300 Email: letrastaquarenses@yahoo.com.br http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC
HAICAIS Ao chegares, meu filho, Nos longes da minha idade, Pensarás em mim. João Justiniano da Fonseca – BA
Na banca flores, um vaso chama a atenção – gardênias azuis. Renata Paccola – SP
Muitos girassóis em uma só direção e o sol no poente. SF12 Manoel F. Menendez – SP
Espalhadas flores Quer pegar e pega apenas O vento da chuva. Fugiwara-no-Sadaye – Japão
Várias andorinhas pousam na torre da igreja: Procuram morada. João Batista Serra – CE
Brilho na mata: Os ipês – amarelos Estão florindo. José Lira – PE
Nas águas rasas os peixes em frenesi : rio de primavera. Sergio Pichorim – PR
Esquadria antiga – Os meus rabiscos não dormem Em noite de lua. Neide Rocha Portugal – PR
Bate breve o gongo. Na amplidão do templo ecoa O som lento e longo. Helena Kolody – PR
Primavera Hibiscos vermelhos floridos Pinhados de beija-flores. Selmo Vasconcelos – RO
Chuvinha vernal – O lavrador agradece De chapéu na mão. Hazel de São Francisco – SP
Luzes no pinheiro e o réveillon na varanda. Jogos de artifício. SF0712 Larissa Lacerda Menendez – SP
De mim se diga: Vivia de caquis E de poemas. Masaoka Shiki – Japão
Os balões no céu Já não são inocentes: Florestas em chamas. Eliana Ruiz Jimenez – SC
O sol nasce para todos, Mas a maioria prefere Dormir um pouco mais. Eno Teodoro Wanke – PR
Luas e flores: Quarenta e nove anos De vida inútil. Kobayashi Issa – Japão
Colibri esvoaça. Tem rosa nova, solteira, No jardim da praça. Antonio Augusto de Assis – PR
Ouço um bem-te-vi, Cujo canto espanta o frio Dos ventos do Norte. Edweine Loureiro – Japão
No velho tanque Uma rã mergulhando: Barulho d’água. Matsu Bashô – Japão
Rebrilhando ao sol, Um cardume de sardinhas... Moedas no mar. Hermoclydes S. Franco – RJ
No jardim bem cedo, Vi Louva-deus de mãos postas: Caçador exímio.
Adormecida Sobre o sino do tempo: A borboleta. Yosa Buson – Japão
Beleza e perfume. Deus desabrocha no galho Da rosa vermelha. Fernando Vasconcelos – PR
Sonhos de menino entre bolhas de sabão... - Mistério de um sopro. Humberto Del Maestro – ES
Uma árvore nua Aponta o céu. Numa ponta Brota um fruto. A lua ? Guilherme Figueiredo – SP
&
Cigarras cantando, Na manhã ensolarada: Início de outono. &
Enquanto garoa, Lambaris dão cambalhotas Sobre o espelho d’água. & Meu neto, nervoso, Com a nuvem lá no céu: Ela está voando! Antonio Cabral Filho – RJ
TROVAS Por não ser um astronauta, é que vivo pela rua, curtindo a paz que me assalta quando vem surgindo a lua! Gilson de Abreu Marinho – RJ
O mundo gira, lascivo, com todos os vícios seus, violento, injusto, opressivo, porque distante de Deus. Arthur Filho – RS
Questionado, Salomão sobre o que ele queria, respondeu, não sem razão: Só quero sabedoria... Gualberto Bruno de Almeida.ES
Duas vidas todos temos, muitas vezes, sem saber. A vida que nós vivemos e a que sonhamos viver. Luiz Otávio – RJ
Na velhice, uma cantada, corpo ruim, mas alma acesa, ela topar não foi nada, dar certo é que foi surpresa. Fernando Vasconcelos – PR
A voz não me sai dos lábios, mas pensando sempre eu fico, o rico nem sempre é sábio, mas o sábio é sempre rico. Antonio Pereira Mello – RS
Quando fores para o leito, leva-me entre os teus seios, que se mostram, em teu peito, e mexem com meus (an)seios. Silvério da Costa – SC
A manhã recita o salmo, passa o vento, mais amigo e é nesse momento calmo que deus conversa comigo. Humberto Del Maestro – ES
As horas vão caminhando através dos meses novos e todos concretizando: - Paz, união entre os povos. Francisco A. Nascimento – GO
Basta de guerras, senhores dos mais nefandos mercados. Façam dos tanques, tratores; das bombas, foices e arados. Luis Antonio Pimentel – RJ
O canto do bentivi, alegre, sempre a lembrar, que a paz um dia eu senti nos seus olhos a brilhar. Henny Kropf – RJ
O berrante da tristeza repica abrindo o sertão e desperta a natureza que habita meu coração. Ziney Santos Moreira – SP
Paixão não se debilita... mesmo longe, ainda te vê. Qualbandeira em que está escrita a saudade por você. José Feldman – PR
As graças que sempre faço, têm o poder de encobrir a tristeza que o palhaço faz de conta não sentir... Renata Paccola – SP
Quando mãe Eva, imprudente, provou, também, da maçã, a serpente foi semente das gerações do amanhã. Pedro Giusti – RJ
Ver para crer, eis o lema, o lema de São Tomé; a desconfiança é o tema para o enredo pouca-fé. Arlindo Nóbrega – SP
A neve cobrindo o campo é um tapete de algodão, é tão solitário e branco tal minha alma – solidão. Ivone Vebber – RS
Uma surpresa graúda, na vida de todos cabe: quanto mais a gente estuda vai vendo que menos sabe. Nato Azevedo – PA
No nascer da poesia, entoei minha canção, ser trovador: Alegria! Muito amor no coração. Osael de Carvalho – RJ
Cidadania é saber manter a honra constante, ser sincero no dever e servir ao semelhante. Ruth Farah – RJ
Mineirinho caloteiro, perante o credor, se trai. - Pague a dívida, mineiro! - Eu não sou mineiro, uai ! Arlindo Tadeu Hagen – MG
Tua beleza que atrai, não a afogues na vaidade, aproveite-a que ela vai, um dia, virar saudade.
Já de miolo torrado, não percebo nem de leve: - Que lucra o aposentado que ameace entrar em greve?
Quero um amor que me valha, e espero o tempo que for, pois sou celeiro de palha pronto a queimar por amor.
João Batista Serra – CE
Diamantino Ferreira – RJ
Eliana Ruiz Jimenez – SC
Na ajuda ao necessitado, Sugiro-te esta postura: Não lhe dês pronto o melado; Antes dá-lhe a rapadura. José Fabiano – MG A vovó, quando inda em vida, - Que fé alardeava ter! - A qualquer dor concebida, Vinha logo nos benzer. Milton Mariano de Souza – MG Se o meu silêncio diz tudo, que a minha boca não diz, o amor no peito é escudo que me faz viver feliz. Walter Siqueira – RJ Vem o amor e depois... Se houver entendimento, há união entre os dois, celebrada em casamento. Euclides Cavaco – Canadá Que mais desejo da vida, além do que sempre quis ? É que ao final desta lida, possa dizer: Sou feliz! Jessé Nascimento – RJ
Ouvi hoje tititis A respeito da fofoca, Dizem que por um só triz Quase que virou pipoca. & O rosto que Deus nos deu, Por ser sua semelhança, Quem ocultar é ateu, Não merece confiança. & Batatinha é mulher fácil, Se esparrama até no chão, Mamãezinha come alface, Abre até o coração. & Bateu asa o tico-tico, Mas ficou o sabiá. Não sei vou nem se fico, Mas não lhe dou meu fubá.
Derrotas, eu não conheço, Vitórias, já tive muitas, Todas a custo e apreço Pois andaram sempre juntas. & No mar que remo sem remo, Preciso ter muita fé; Remar sem saber se temo, Seguir sem ver a maré. Antonio Cabral Filho – RJ PEDRAS No caminho do poeta Havia uma pedra. Mas ele a retirou Com uma singela pluma. Triste de quem Não vê pedra alguma; E caminha, vaidoso, Perdido entre brumas... Edweine Loureiro – Japão Rumo Sem rima A canção da minha vida É verso livre Michelle C. Buss - (gp29) PEPINO EM CONSERVA Na parede quase nua Em que a janela flerta a rua, Mas se escancara para a lua, Somente um quadro me observa. Será que ele não se cansa De me ver coçando a pança, Levando essa vida rança De pepino em conserva? Denivaldo Piaia – SP CANUDOS Belo Monte de Canudos, Alto Alegre o coração, Descortinar entre as serras Tanto sonho, plantação. Essa vila sertaneja
Nasce da convicção Nos olhos de quem mareja A certeza de então. Um conselho, companheiro, Vem zunindo pela história Resistindo o tempo inteiro Na certeza da vitória. Coelhão – Juazeiro – BA SÓ, NETO Amar o inexistente É um árduo exercício Que exige simplesmente Mergulhar num precipício. É preciso renunciar A um amor de carne e osso Para só se dedicar À construção de um colosso. Amar verdadeiramente É amar o abstrato, É querer nada e ninguém. Apenas com um fio em mente, É consigo só ter trato, Sempre almejando ir além. Aristides A. Soffiati Netto – Uff METÁFORA Poeta não é quem transa A terra e o mangue Poeta não é quem traça A troça e o chiste Poeta É quem põe A terra em transe. Simão Pessoa-DF
CONTRAPONTO Ruas & becos Castelos & casebres Mil & um Menino Sem canção de ninar João B.S. Filho – SP
SIMPLESMENTE A visão Do destino E o gear da alma Provocaram-me, Simplesmente, Uma feliz Grandeza humana. Zanoto – MG
TERCEIRA IDADE
HISCÓRIA DO BRASIL
Ainda gosto do resto Que me resta.
Ia começar a partida Assaltantes x Assaltados,
Restando assim, Dissabores e sabores
Mas entrou em campo O Extorção Footbol Club
Na caminhada dos dias Que ainda me sobram
Para decidir o jugo Com o Scoria Club Socyete.
Sou hoje sem futuro, Só presente até partir. Lírian Tabosa – RJ
Aí acabou a graça, Quer dizer, a grana.
ARESTAS Um sol que saiba pulsar, Saiba ferir sem calor, Ruminando com esgar Até mesmo a própria dor. Iacyr Anderson Freitas – MG RES NON VERBA Estrelas, sonhos de espera longa. Ousadia de amar em vão. Pintura, aquarela, borrão de tinta a vagar lembranças daqueles tempos crianças, algazarras parques bolas templos, pensamentos como garras. Alceu Brito Correa – DF GONZAGUIANA Em tronco de velho freixo Exposto à lixa dos ventos Ao vitríolo do tempo Não gravo teu nome não: Gravo-o no meu coração. José Paulo Paes – SP FRAGMANTO... Quando me sentarei contigo Na ternura das coisas justas E tu me envolverás Em teu perfume selvagem E violento? Quando te darei de presente Minha alma inquieta? José Jackson C. Sampaio-CE
VERSO MAL’ARMAICO NÃO DESISTA DE SEUS SONHOS Brigando comigo mesmo Brigando com todo mundo Brigando com a família Filhos carteiro cachorro E a minha própria sombra. Brigando mas sem perder o diálogo E nem monologando: Aprimorando a palavra. Redescobrindo os caminhos Que a briga respeitosa Apresenta: compre esta briga, E siga comigo! Eduardo Waack – SP RIO Descem vacas No cristal. Param plantas No cristal. Descem ramos No cristal. O cristal permanece Na superfície. As águas não conseguem Levar o reflexo. Clovis Moura – BA
Não arranca-me nem um tchum Chamarem Malarmé de simbolista Pois não dependo de mestres nem bajulo os escolistas. A mim basta-me planar Livremente o céu sem deuses Pra desgraça de seus rapapés, Feliz por ser uma alm’anarca! CEMITÉRIO DE MARINES Ninguém navega mais Que este que aqui jáz, Ninguém conhece maior porto Que este em que jaz posto, Ninguém tem menos razão Que quem serviu como cão, Ninguém marchou mais largo Que quem legou-se ao diabo, Ninguém requer mais olvido Que quem humilha um oprimido. Antonio Cabral Filho – RJ