Antonio Fais
A Invenção do Diabo AF editores
Antonio Fais nasceu em Jaú-SP. Mudouse para São Carlos, onde mora até hoje, quando ingressou no curso de Ciências da Computação na Universidade Federal de São Carlos. Colaborador de vários jornais e revistas com contos e crônicas, desenvolve vários projetos literários e culturais em escolas públicas, particulares e universidades. Ministra o curso “A Arte de Escrever” para universitários que têm que escrever teses, dissertações e trabalhos de conclusão de curso; e “Literatura na Formação Básica” para professores de todas as áreas que veem a literatura com base na formação humana e acadêmica.
antoniofais@gmail.com
A Invenção do Diabo
Antonio Fais
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Antonio Fais A Invenção do Diabo. São Carlos :AF Editores. 2012. 1. Literatura Brasileira. 2. Ciências humanas. 3. Autor. I. Título. CDD - 869
AF Editores Telefone: (16) 9782-6955 antoniofais@gmail.com São Carlos - SP 2012
Era uma época em que a vida era simples: as pessoas nasciam, viviam cerca de 30 anos, sofriam um tanto, morriam e iam para o Céu. Tudo simples e claro! Não havia dúvidas quanto ao destino. Assim se deu com Lúcifer. Criança e homem reto, ascendeu ao Céu e logo tornou-se um dos preferidos do Senhor. Razoável supor-se que fosse feliz, mas não era. Sentia dentro de si um vazio. Queria, assim como o Senhor, ser perfeito. Havia, porém, perdido algo no caminho, mas não sabia nem quando nem onde. E, além de tudo, sentia-se só, pois nenhum de seus pares parecia entender o que se passava. Sabia algo errado. Mas o quê? Corajoso, foi ter com seu Mestre que, beijandolhe a face, disse: Procures entre os mortais por uma mulher chamada Lilith. Ela tem a chave de teu destino.
Lúcifer então vagou por todo o mundo em busca da tal mulher. Qual não foi sua surpresa ao encontrá-la: Senhora, andei por todo o mundo à sua procura. Sei que tem a chave da perfeição. Não sei o que procura, meu belo jovem, mas eu só posso lhe dar o que os homens se dispõem a pagar por algumas horas de prazer e nada mais. De dinheiro e riquezas não disponho, mas posso lhe dar algo que todos querem: o caminho que leva a Deus. Ainda não sei como eu, uma reles pecadora, posso lhe ajudar, mas estou disposta a ouvi-lo. Lúcifer passou a descrever a Lilith sua vida e seus caminhos, as vantagens de ser justo e bom e,
principalmente,
como
vencer
o
mal
e
conquistar para sempre a felicidade. Ela, que, por força da profissão, sempre foi uma boa
ouvinte, em momento algum o interrompeu. E, ao final de toda sua explicação, disse: Meu querido, há anos recebo aqui homens de todas as idades, cor e posição social. Nunca soube lhes responder suas dúvidas, mas aprendi que quando são bem formuladas as perguntas, cabe a cada um achar a resposta adequada. Você não é diferente de nenhum deles. Portanto, vou apenas lhe perguntar: “De que vale ser feliz? Como pode entender de felicidade se não há mais tristeza? O mundo se resume no Bem e no Mal?”. Vá e ache suas respostas. E assim, Lúcifer passou meditando 40 dias e 40 noites antes de voltar ao Mestre. Senhor, após muito pensar, cheguei a uma conclusão: para ser perfeito, o homem precisa pecar, errar e desenvolver suas próprias teorias. Nossos ensinamentos impedem que isso aconteça.
E o que sugere? Que, enquanto mortal, ele aprenda com seus próprios
erros.
Mas,
para
recuperar-se,
precisaria viver 150 anos. Mas Eu não quero assim. Esse não seria mais o Meu mundo. Quero que viva apenas 30 anos como mortal, assim pouco sofrerá e que seja feliz. Então, Senhor, com todo o respeito, quero que me permita partir e viver as minhas próprias idéias, pois
eu quero
que todos
sejam
perfeitos. De que vale saber a perfeição, se nunca pudermos alcançá-la? Sabes que se partires todos estarão contra ti? Mesmo os que queres ajudar! Que estarás só e terás
nomes
horríveis?
Diabo,
Demônio,
Satanás, Belzebu e outros tantos. Que de ti inventarão calúnias e mentiras? Não te verão bonito como és. Para todos, terás rabo e chifre. Sei-o bem, Senhor.
E mesmo assim irás? O Senhor sabia isso desde o começo. Houve aí um grande silêncio. Um quase arrependimento, não fosse tão tarde. E sem os 150 anos? Como lutarás? O Homem aprenderá a viver. Daqui milhares de anos viverá 50, 60, 70, 100 anos. Até conquistar o tempo necessário. Agora temos tempo. Sabes que meu poder é infinito. Sabes que posso acabar contigo. Sei que se me destruíres, destrói-te a ti mesmo. Agora tenho a eternidade. E, isso dito, partiu para sua longa missão.
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