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Concluindo: patrimônio cultural é paisagem
from A Chancela da Paisagem Cultural Brasileira. Subsidios para a integração da Paisagem no Território
"Cabe a cada um de nós dispor dessas pequenas formas (elementos da paisagem, sensações olfativas e táteis e a literatura) para nossa própria apreensão, como cabe aos arquitetos paisagistas propor marcos ou armadilhas para nossa memória. No entanto, nem um, nem o outro, serão capazes de resolver a relação de essa grande forma constitutiva da paisagem que é a derrubada retórica do provável artifício da natureza-verdade." (Cauquelin, 2015, pág. 234)
Estamos numa nova fase de valorização do patrimônio cultural. Depois das diferentes etapas, sinalizadas por Castriota (Castriota, Paisagem cultural: novas perspectivas para o patrimônio, 2013), de preservação, conservação e reabilitação/revitalização entramos na era do patrimônio cultural entendido como paisagem (Hoyuela Jayo J. A., Paisagem como lugar versus Planejamento Sustentável, 2014 c), num amplo contexto, e desde uma visão que sintetiza ao tempo que entende e integra a diversidade.
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Dentro das paisagens cariocas e dos âmbitos analisados, as águas e as montanhas sempre cobram um enorme protagonismo. Como nas obras de Richard Long (Long, 1993) isso pode ser percebido desde o primeiro olhar, ou desde reflexões mais profundas, que entendam o patrimônio solo desde uma perspectiva paisagística, associada com os processos (principalmente os das águas), e com as sociedades que construíram e habitam essas paisagens. As serras dos maciços de Tijuca e Pedra Branca, e os morros das baixadas, assim como as águas, em movimento, ou paradas, doces, salobres, ou salgadas, sempre dominam e controlam a paisagem, tanto quanto justificam, definem e organizam o patrimônio cultural.
Defendemos uma abordagem da paisagem cultural como objeto de análise e como novo paradigma, uma nova epistemologia que inclui um método e um conteúdo paisagístico. Não é simplesmente uma nova categoria de patrimônio, mas sim uma nova forma de entender o patrimônio cultural reconhecendo que todo patrimônio cultural, e seu entorno, são paisagem.
Devemos superar a fragmentação e o isolamento do conhecimento setorial e das posições excludentes, que ainda são praticadas no campo do patrimônio cultural. A preservação deve abrir espaço para a trasformacao e o desenvolvimento de alternativas contemporâneas e utópicas, de novos projetos e horizontes. A paisagem deve integrar o patrimônio natural e cultural, o material e imaterial, o simbólico e o documental.
As paisagens culturais devem entender e ordenar e gerir a totalidade sistêmica e complexa da realidade que envolve os bens reconhecidos e declarados. Essa visão holística e territorial, desde múltiplas disciplinas e diversas escalas, exigem, para uma gestao sustentável, a conexão com as políticas de planejamento territorial intraurbano e regional, desde os diferentes setores (ambientais, urbanísticos, turísticos...), com os diferentes atores, e nas diferentes escalas (espaciais, desde o local até o global).
A patrimonialização das paisagens identificadas e valoradas como “excepcionais” ou “representativas” deve conviver com a comprensao e integração de aquelas ordinárias e cotidianas que as contornam, escalarecem e complementam, como componentes do território na sua complexidade.
O patrimônio deve ser tratado de forma viva e dinâmica, dentro da lógica das cidades, e seus territórios. De esa forma, os usos, as atividades, as identidades e as apropriações sociais, constroem relações entre as comunidades e sua paisagem. Dessa forma vao se criar as referenciais a memoria e a herança coletivas, e a prática cultural que constroe a paisagem, que justifica o direito à paisagem, e o consequente exercício de cidadania uma cidadania paisagística.
A ampliação da participação das comunidades no reconhecimento e gestão dos patrimônios e das paisagens, em paralelo a integração da percepção como elemento fundamental para compreender e ordenar a paisagem (como faz IFLA ou a Convenção Europeia da Paisagem) criam uma nova dimensão do conceito e do processo de planejamento.
Construir um sistema sustentável de gestão, exige a pactuacão das múltiplas políticas públicas e privadas, entre os diversos setores e territórios. Uma necessária colaboraao interinstitucional entre as três esferas de governo, a sociedade civil, o mundo acadêmico e as empresas privadas e os cidadãos. A transdisciplinaridade e a visão holística devem converter-se em protagonistas, coordenando instrumentos setoriais, urbanístico, estratégicos e territoriais num contexto de forte participação cidadã.
Finalmente devemos incorporar sistemas de monitoramento e valorização do patrimônio cultural que incluam a paisagem como referente. Mas antes, devemos identificar os elementos componentes, os limites, os valores do bem e também a situação jurídica, urbanística, de pose, de gestão... A partir de ai devemos integrar os bens dentro de sistemas territoriais específicos de cada uma das dimensões de interesse analisadas, como econômicas (sistemas produtivos ou de interesse turístico), sociais (com as comunidades do entorno ou com tradições, ritos... históricos), urbanísticos, de corredores verdes, ou de corredores ecológicos, de sistemas de tipos de vegetação e arbolado (morfotipos naturais), ou de sistemas hidrológicos ou hidráulicos de maior impacto, abrangência, e, obviamente, tamanho.
Estamos diante de uma proposta muito inovadora na gestão das paisagens culturais, já antecipada por autores como Leonardo Barci Castriota (Castriota, Paisagem cultural: novas perspectivas para o patrimônio, 2013), quando fala que depois da preservação, conservação e reabilitação/revitalização entramos na era do patrimônio cultural entendido como paisagem (Hoyuela Jayo J. A., Paisagem como lugar versus Planejamento Sustentável, 2014 c). No periodo que denominamos de “modelo Paisagístico” continuamos preservando e protegendo, mas donde precissamos incorporar propostas e medidas para o desenvolvimento do nosso patrimônio e sua integracao em modelos de desenvolvimento sustentável (Hoyuela Jayo J. A., A paisagem como instrumento para um planejamento sustentável: uma visão dialética entre Europa e o Brasil, 2016).
Esse novo cenário exige pensar o lugar como território, como base, como suporte, como ambiência, e pensar o território, em paralelo, como infraestrutura para as atividades e os usos do homem, dos cariocas, no nosso caso. Integrar o discurso da natureza não é
comum ainda no IPHAN, mesmo que a paisagem nasce com a própria instituição como conceito. Mas no início, a etapa “gloriosa”, estava focada nas “pedras e na cal”, e isso perdurou mesmo com bens tão paisagísticos como o próprio Horto Florestal, hoje Jardim Botânico.
Neste amplo contexto, e desde uma visão que sintetiza ao tempo que entende e integra a diversidade, é muito necessário um olhar amplo, que integre as diversas disciplinas que trabalhamos sobre a paisagem, mas também os usuários, os outros administradores, os visitantes, e os que pensam a paisagem. Aqui, no Rio, não faltaram candidatos, como a Casa Rui Barbosa, a FGV, o próprio Jardim Botânico, Associações de Comunidades de Favelas, ambientalistas e ecólogos, a comunidade cientifica e académica, os amigos e associados dos tantos grupos que trabalham com as paisagens cariocas... enfim, múltiplos interesses, e múltiplas visões.
Por isso temos que começar definindo um método claro, expressivo, sistemático e já testado, e provado, em outros contextos. De aí, definiremos as ferramentas, os instrumentos e os elementos a serem identificados, os fins e os princípios da nossa proposta, sejam em forma diretrizes nos planos ou de normas nas Portarias. Depois devemos entrar naqueles assuntos que afetam ao caráter, mais genérico, das paisagens, que tem a ver com seu caráter tipológico homogéneo, funcional, artístico e repetitivo, seriado e por tanto sistémico. Depois passamos a aspectos particulares, específicos, de pontos ou áreas menores, paisagens de interesse, valiosos ou singulares, pensados para uma acupuntura da paisagem. Sua agrupação em entornos de forte identidade (normalmente coincidentes com uma bacia, ou sub-bacia hidrográfica), vão criar subunidades ou unidades da paisagem, que devem ter analises detalhados, cuidadosos, peça a peça, e que geram respostas personalizadas.
Finalmente devemos prestar especial cuidado com a gestão e com a integração de nossas propostas nos planejamentos tipo APAC, Planos de manejo da SNUC, LUSOL, PDU, OUC, planos estratégicos e setoriais... porque são eles que vão trabalhar mais facilmente com nossas propostas, para adaptá-las a casos concretos. Igualmente deve ser integrado a través das respostas do IPHAN aos Licenciamentos Ambientais. Os LA são uma obrigação legal prévia à instalação de qualquer empreendimento que possa causar danos ao meio ambiente. O Iphan deve ser consultado sobre os processos de licenciamento que afetem as áreas amb03 de proteção do bem (paisagem cultural), assim como no entorno (amb04), para avaliar se pode haver impacto no Patrimônio Cultural, e verificar a existência de sítios arqueológicos ou outros bens culturais protegidos nesses âmbitos seguindo a Instrução Normativa n° 01/2015, lançada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em abril de 2015vii, que baseia-se na tipologia dos empreendimentos e na avaliação do local do projeto.
Dentro das paisagens cariocas e dos âmbitos analisados, as águas e as montanhas sempre cobram um enorme protagonismo. Como nas obras de Richard Long (Long, 1993) isso pode ser percebido desde o primeiro olhar, na própria paisagem, ou desde reflexões mais profundas, polissemias (com muitos significados) e poliédricas (com diferentes ângulos e perspectivas), que entendam o patrimônio solo desde uma perspectiva paisagística, associada com os processos (principalmente os das águas), mas
também com as sociedades que construíram, se apropriaram e habitaram e habitam essas paisagens.
As serras dos maciços de Tijuca e Pedra Branca, e os morros, colinas e tabuleiros das baixadas de Jacarepaguá ou da Lagoa Rodrigo de Freitas, assim como as águas, em movimento, ou paradas, doces, salobres, ou salgadas, sempre dominam e controlam a paisagem carioca, tanto quanto justificam, definem e organizam os patrimônios culturais que destacam nesses espaços. Por isso as montanhas e as águas, a vegetação e a paisagem, são nosso foco, mas também nosso instrumento de intervenção, porque devemos trabalhar com a natureza, aproveitando soluções naturais, e o novo paradigma da infraestrutura verde.
As tecnologias vão nos ajudar muito e devemos aproveita-las e incorporar sistemas de monitoramento e valorização do patrimônio cultural que incluam a paisagem como referente, em colaboração com projetos como o SIURB da PRJ, porque a paisagem é um direito de todos, e por isso temos que colaborar na sua gestão e na sua defesa.
Estamos diante de uma nova etapa. Das pedras e da cal, estamos passando ao período da paisagem como instrumento e como fim, que exigem incorporar o meio natural, o espaço público e uma análise elemento como elemento, como princípio básico.
Na estratégia de gestão baseada em dois níveis planejamento do patrimônio cultural, elemento por elemento, e entorno (portarias), como base para um desenvolvimento sustentável, devemos incorporar os valores culturais, sim, mas também os valores sociais, económicos, e ambientais, como base e objetivo de nossas propostas.
Em definitiva, devemos passar da paisagem cultural, a um conceito de paisagem mais integrado, que entenda o contexto e o entorno dos bens como paisagem, em dois níveis de aproximação, como paisagem cultural, aquela que envolve diretamente caraterísticas e/ou valores do bem, e a paisagem como entorno, que considera aspectos complementares, mas não necessariamente vinculados com os valores culturais, e que poderiam ser ambientais, urbanísticos, turísticos, ligados a equipamentos e serviços públicos, etc... Utilizar a paisagem como foco e como instrumento, exige passar da paisagem cultural a uma visão da paisagem mais integrada, com gestão compartilhada e colaborativa.
Estamos num cenário mais abrangente que tenta integrar não só o conceito da paisagem cultural (envolvente imediata afetada pelo bem), mas sim, também o conceito de patrimônio cultural de origem natural, como valor e bem igualmente tombado (Floresta da Tijuca, ou o próprio Jardim Botânico) ou a serem preservado dentro do entorno, e como garantia para a preservação da chamada “ambiência”. E essa última ideia que nos faz pensar os entornos não só desde a perspectiva de cada um dos bens, mas também do conjunto e suas interações visuais e impactos sociais, ambientais e económicos que possam estar envolvidos no reconhecimento e valorização do local. A necessidade de monitoramento integrado e de disciplina deverão garantir a sustentabilidade da proposta em último termo
Naturalizar os tombamentos: verdear e azulejar o cinza.
Al contrario del paisaje, que a pesar de su complejidad constituye una realidad tangible, al ambiente no lo ha visto nunca nadie. Ni siquiera hay consenso a propósito de cuáles son los elementos que lo constituyen, más allá de considerar los vectores aire, agua y suelo, y de evaluar el estado de la vegetación o de la fauna. Distinto es que, en la percepción del común de la gente, se identifique ambiente con naturaleza. Ello supone que se suele equiparar ambiente a medio natural, por lo que un paisaje pretendidamente natural se suele identificar con un medioambiente saludable. (Folch & Bru, 2017, pág. 41)
Várias são as propostas para incorporar a natureza dentro dos processos de tombamento. Em primeiro lugar devemos separar os elementos construídos dos não construídos, identificando os pátios, jardins, varandas, praças, acessos e outros espaços vinculados com os bens e que fazem parte da “propriedade”, ou âmbito tombado total (envolvente), donde é possível aplicar a proteção e reconhecer, ao mesmo tempo, outros valores (ecológicos, ambientais, naturais...) mas sempre desde uma perspectiva cultural.
Em segundo lugar, dentro do âmbito que chamados da unidade da paisagem cultural, devemos incorporar os elementos naturais. Primeiro identificamos os sistemas territoriais complementares que interatuam com o bem. Um exemplo pode ser a captação de um aqueduto, ou uma paisagem agrícola, ou natural, que define e caracteriza uma fazenda, ou um engenho, ou um caminho, ou ponte, ou acesso, mesmo sem um valor destacado. Esses elementos devem ser protegidos, e por tanto, identificados e mapeados. Pode ser um acupim, uma área de cultivo, um rio, uma lagoa, uma mata ciliar, ou uma floresta... Nela aplicaremos normas plenas Incorporar os elementos do patrimônio natural.
A primeira ideia é quebrar os tabus a propósito da integração do patrimônio natural desde que tenha especiais valores, dentro dos processos de tombamento. Todo bem tem sua paisagem, e se no entorno cultural, o que nos denominamos a paisagem cultural (entorno imediato e de percepção cultural do bem), ou amb03, existem elementos de interesse, justificadamente devem incorporar Incorporar os valores ambientais e naturais dentro das declarações
Mesmo que estejam meramente ligados com a ambiência, os valores naturais, ecológicos, ambientais, e de ambiência (donde podemos considerar aspetos ligados com a paisagem histórica e as funções e as paisagens necessárias para a comprensao do bem), devem ser incorporadas em todos os processos de tombamento. Hoje, para a rerratificação que estamos propondo, dos bens sob nossa análise, estamos considerando:
Incorporar o espaço público como um elemento independente e focal nos entornos e áreas de amortecimento.
Passar de um sistema passivo de planejamento a um flexível
A primeira questão que queremos identificar faz respeito a como entendemos hoje a preservação, só desde a perspectiva da proteção, e não desde a perspectiva do desenvolvimento. Por isso devemos trabalhar para um planejamento integrado que, cumprindo o requisito constitucional “defenda e valorize” o patrimônio a partir da programação de ações, e da sustentabilidade económica ambiental e social das propostas que garantam um crescimento sustentável e continuo. Reconhecer os bens integrantes, os valores e os limites do tombamento.
Elementos integrantes
I.
II.
III. IV.
V. VI.
VII. VIII. Arquitetura. Construções auxiliares. Obras de Arte. Espaços livres vinculados (Pâtios, Jardins, Logradouros...). Documentos primários y secundários descritivos do bem. Elementos de interesse natural (remanescentes florestais, árvores valiosas, arboretos, praias, rochas, rios, lagos, paisagens singulares ou de interesse no entorno,...). Acervos científicos, artísticos ou culturais. Visuais de interesse perceptivo, sensitivo, paisagístico, ou pela intervisibilidade.
Valores
I. II. III. IV. V. Valores Histórico, Artísticos, Culturais e/ou Científicos Valores Naturais, Ambientais, Ecológicos ou Paisagísticos. Valores documentais, arqueológicos e científicos. Valores imateriais, simbólicos e/ou etnográficos. Valores perceptivos e/ou visuais (estéticos).
Limites
Amb.I – ELEMENTOS. Os elementos inventariados como edificações, construções, áreas naturais de singular valor (massas florestais, rios, morros, tabuleiros...) ou espaços livres de singular interesse (hortos, jardins, pátios, acessos, edificações auxiliares e de apoio, canais...). Amb.II – PROPRIEDADE. A área de abrangência do tombamento, normalmente lotes, ou propriedades afetas aos principais elementos e valores a serem preservados, tem escala local e envolve não só os elementos, mas também os espaços livres imediatos e relacionados com o bem (parques, jardins, áreas arborizadas, caminhos, acessos, espaços públicos...).
Amb.III – UNIDADE DA PAISAGEM CULTURAL. Bairro, bacia hidrográfica (ou sub-bacias) ou unidade da paisagem principal na qual se encontram os bens analisados, a partir da análise das bacias visuais, conexões ecológicas, ambientais, culturais e funcionais básicas dos bens e seus diferentes entornos.
Amb.IV – ENTORNO URBANO OU NATURAL. Pedaço de cidade e/ou entorno de maior abrangência donde os bens impactam ou podem ser impactados por decisões ou ações que coloquem em risco os elementos e os valores a serem preservados. Pode ser desde uma bacia fluvial até um bairro ou um distrito, etc... Amb.IV – ÂMBITOS SISTEMICOS. São os âmbitos de cada um dos sistemas territoriais relacionados com o bem, por exemplo, os corredores ecológicos, ou o sistema hidrográfico/hidráulico. Não tem que ser definidos nem concretizados geograficamente já que podem incluir multiplex elementos e áreas de escala territorial e até regional. Valorar os bens e incorporar várias categorias de proteção.
Quando analisamos os elementos componentes de alguns tombamentos, ou os elementos que deveriam formar parte, como fizemos em Taquara, achamos diversas tipologias de elementos (abertos, fechados, públicos...) e com diferentes grados de interesse e diferentes.
Os valores culturais devem basear-se em aspectos artísticos, estéticos, culturais, históricos, etnográficos, ou de ambiência (poderíamos dizer paisagísticos) que justifiquem sua “feição notável”. Nos entornos, deveremos incorporar as proteções previstas nos planos de zoneamento costeiro, nos PDU, também nas leis do Código Florestal, e na Lei das Águas. Incorporar diferentes tipos de conteúdo.
E necessário analisar em detalhe, por áreas: reservas legais, anistias (e seus impactos), e a redução das APP e transferir esses conceitos para o patrimonio paisagístico.
Devemos usar os instrumentos de ordenamento e gestão da paisagem, urbanísticos (PDU, LUOS...), ambientais (Planos de manejo), ou estratégicos (Plano de Combate as Mudanças Climáticas...) para proteger as águas, seus ecossistemas associados e suas bordas e infraestruturas e serviços associados, assim como os usos ligados a uma gestão eficiente do recurso.
Propostas de proteção
Propostas de desenvolvimento
Propostas de difusão e de conhecimento
Propostas para educação ambiental e cultural
Introduzir soluções a través de modelos mais sustentáveis.
Não podemos ficar no tombamento como um elemento exclusivamente restritivo. Hoje o patrimônio cultural requer uma visão paisagística Por isso hoje a gestão das águas requer uma ação que incorpore o uso de soluções baseadas na natureza (Herzog C. , Cidades para todos. Re-aprendendo a conviver com a Natureza, 2013), utilizando projetos de restauração da paisagem (como fez Mario Moscatelli com sua equipe em Jacarepaguá ou na Lagoa Rodrigo de Freitas) e promovendo um uso sustentável das águas (Sonia, IPHAN departamento de educação).
Como proteger? Tombamento, portarias e Planos de Ação. Valores reconhecidos no processo de tombamento, ou na rerratificação.
As águas desde a perspectiva do ordenamento e da gestão patrimonial, quando tiverem valores destacados, devem ser tratadas como um bem de interesse paisagístico, que une, num objeto só as dimensões naturais, culturais e perceptivas caraterísticas da paisagem. Por tanto, no processo de tombamento podem ser incorporadas suas componentes (o próprio bem, as infraestruturas e construções de apoio), e nas áreas de entorno ou amortecimento, incorporados os usos e atividades associados, assim como as bordas e paisagens das águas dependentes e complementares tanto para sua valorização e compreensão como para sua preservação e sustentabilidade. Nos entornos “culturais” dos bens (amb03).
Outra reflexão que queremos fazer é que mesmo nos entornos de bens, conjuntos ou sistemas de claro perfil cultural, as águas devem ser tratadas, nas portarias, nos planos de ação ou nos planos diretores, que desenvolvam ações sobre esses bens, ou regulem esses entornos, ou áreas de amortecimento, como bens paisagísticos, considerando sempre as suas dimensões culturais e ambientais, para a preservação da qualidade do ambiente, e das áreas de amortecimento como berços dos bens tombados.
Por tanto esses bens, as águas, devem ser considerados nas áreas de portaria como bens de grande valor, mesmo que não patrimonial, e incorporadas numa categoria de proteção equivalente, por exemplo, aos bens preservados que as APAC no Rio de Janeiro definem como instrumento de detalhe do PDU. Também requer uma visão sistêmica donde sejam integradas medidas e ações para a revitalização, melhoria ou restauração das áreas da propriedade (amb02) e nos elementos componentes (amb01), mas também nas áreas de entorno, seja este cultural (amb03). Outra conclusão direta será aquela de pensar o patrimônio das águas das baixadas, desde as restingas, mangues e áreas orgânicas das baixadas (gleisolos, podsoles úmidos...) como bem a serem pensado junto com os engenhos na ideia de preservar a paisagem histórica que os sustentou, mas também na ideia de garantir a qualidade do ambiente e a sustentabilidade do modelo urbano donde estão inseridos esses bens.
Alguns instrumentos de interesse para a gestão. Boas práticas:
• manter os microrganismos que fazem a depuração das águas (e que vivem pelos ecossistemas)
• agricultura sustentável (ecológica, urbana,... ) que reduça a maior demanda, a agricultura, 69% (e até 90% em países em desenvolvimento) do consumo total de água doce (1% do total de água no mundo) Tipos de Normas • Poderemos definir diretrizes gerais a través de planos estratégicos, p.e. para sistemas territoriais, ou normas básicas, dentro de planos de ação, donde adquirem rango de lei, mas devem ser desenvolvidas dentro de planos de maior detalhe (PDU, OUC, APAC,...) e também poderemos ter normas de aplicação direta dentro de portarias ou normas específicas para os bens e para seus entornos, como vem acontecendo com o IPHAN de forma tradicional.
As normas e diretrizes a aplicar, sobre morfotipos, sistemas ou paisagens de interesse, ou unidades (ou subunidades da paisagem) serão diferenciadas em três categorias: I – Plenas (P): deverão ser diretamente aplicadas nos âmbitos referidos. Um exemplo são as atuais portarias, suas áreas e seus controles de gabaritos e ocupação do solo, mas queremos ir além com normas sobre o caráter do espaço livre e dos espaços públicos, ou sobre normas de preservação ambiental, ou de usos ou atividades de interesse social o econômico que possam afetar ou impactar aos bens e seus entornos imediatos.
II – Básicas (B): serão aplicadas através de Projetos, Programas ou Planos, cujos conteúdos deverão adequar-se às diretrizes do Plano, e especialmente a través do PDU, do Plano Metropolitano e dos Planos de gestão e de manejo das diferentes figuras do SNUC incluídas dentro dos âmbitos analisados. Os conteúdos deverão adequar-se às diretrizes do Plano específico, de forma justificada, mediante memoria, e a través de processos de co-decisão, e de debate e aprovação específica, donde formará parte o IPHAN, para garantir que os conteúdos finais concordem com as determinações aprovadas no Plano Diretor. III – Orientativas (O): têm um caráter não obrigatório e são sugestões a serem consideradas nos instrumentos futuros que podam propor ações de desenvolvimento dentro dos âmbitos dos respetivos Planos Diretores, Planos Estratégicos, Estratégias ou Recomendações (guias técnicas, etc...). Portarias
Planos de Ação
Passar das portarias, de normas de aplicação direta, a um sistema de planejamento mais flexível donde possamos começar com Planos de Ação, com diretrizes orientativas e normas básicas (a serem desenvolvidas e concretizadas por outros planos) Planos Diretores
Os planos diretores poderiam planejar e desenvolver, a partir dos primeiros análises sistémicos e territoriais de conjuntos patrimoniais das águas, um conjunto de ideias, programas, ações e planos de pormenor para os diferentes sistemas das águas, naturais ou antrópicos, que envolvem elementos de interesse patrimonial (sistemas complementares como o sistema de Jacarepaguá) ou que formam parte, como elementos integrantes, de áreas como a floresta da Tijuca, ou o Jardim Botânico. Diretrizes ou estratégias
As diretrizes ou estratégias podem ajudar a transferir para o contexto carioca as exigências do direito e dos acordos internacionais, assim como as boas práticas, aplicando-as em contextos específicos a partir de análises territoriais que tomem conta das caraterísticas dos ecossistemas e dos biomas donde devem ser aplicadas, assim como da sua biodiversidade e situação socio – económica. Instrumentos como as instruções normativas ou as notas técnicas podem nos ajudar na formulação dessas ideias.
Infraestruturas verdes, um novo paradigma
Por tanto tombar as paisagens, e proteger as águas, exige não só atuar sobre o recurso, ou na área tombada (a propriedade), mas também sobre as infraestruturas, sobre as paisagens associadas a sua presença e sobre os usos do solo e atividades humanas ligadas a seu uso, e por tanto vira fundamental o trabalho sobre o entorno cultural, e sobre a área de amortecimento (urbana ou natural, ou aquela sistémica).
O Patrimônio Cultural contemporâneo deve ser analisado no seu contexto paisagístico e territorial. Devemos passar do período da pedra e da cal ao período da paisagem, do território e da pactuacão e a participação. Para isso devemos ler a paisagem como a somatória dos ecossistemas naturais e culturais que nos envolvem. Os territórios nascem, por outro lado, de um reconhecimento, de uma apropriação, de uma posse. Pode ser um animal ou até uma espécie, uma pessoa ou grupo de pessoas, uma organização ou uma instituição, um povo, ou até um estado, mas o território tem “dono” e está associado a narrativas ou expressões que conectam esses possuidores, esses ocupantes e dominadores do espaço.