ANUARIO INTERNACIONAL DA COMUCIÓN LUSÓFONA I 2014 11
Outras cartografias no espaço Lusófono
Silvino Lopes Évora (Universidade de Cabo Verde, MEDIACOM, CECS -‐ Universidade do Minho, Portugal) Pensar o espaço lusófono é, cada vez mais, pensar na congregação das diferenças e na preservação de valores e similitudes. Desmembrando a expressão lusofonia, encontramos, de um lado, um luso-‐centro e, de outro, uma polifonia. O luso-‐centro remete-‐nos para uma base comum, um ponto de partida conjunto, uma viagem ao passado, um presente que se reformula diariamente e um futuro que se arquitecta e se preojecta. A nível do espaço africano, a propagação da fonia lusófona remonta ao Século XV, período de ouro de expressão estratégica da inteligibilidade lusófona no cenário transnacional, concatenando-‐se na montagem de uma engenharia forte, que permitisse encontrar mundos para lá dos limites impostos pela imponência dos oceanos. O próprio mar ganha uma expressão de relevo na edificação da identidade lusófona para lá de Ceuta e do Cabo da Boa Esperança. Na sua globalidade, a África tornou-‐se, entre os séculos XV e XVI, um palco de fonias com os ingleses, os franceses, os holandeses, os portugueses, numa luta titânica para a conquista do seu quinhão. Portanto, a procura de mecanismos que impulsionam a acumulação das riquezas está também na origem dessa congregação fónica que influenciou, de forma indelével, a roupagem cultural que o continente africano ganhou ao longo dos tempos. O lugar que a fonia lusa encontrou no espaço geográfico africano deve-‐se, em grande parte, não propriamente àquilo que Portugal ambicionava como um espaço luso-‐cêntrico, que se caracterizava essencialmente pela sua expressão transatlântica, mas mais pela medida de força que se fez no continente africano para, de entre as forças em presença, se consignar aquelas que maior espaço de expansão colonialista haveria de conseguir. Assim, temos, a partir do Séc. XVI os ingleses, os franceses e os holandeses a expulsarem os portugueses das principais zonas costeiras, em África, onde se gozava de condições propícias para o desenvolvimento dos negócios associados à escravatura. Quando olhamos para a relação que se estabelece entre as línguas, a estruturação do ambiente económico euro-‐africano, a luta por posições de influência no cenário internacional e a mentalidade estabelecida de “dominar para não ser dominado”, compreendemos, da melhor forma, o desenho linguístico operado no continente africano. Se formos contabilizar os países que surgiram do processo de descolonização francesa, de Marrocos à República Centro-‐Africana, serão cerca de duas dezenas de novos países. Da África do Sul a Zimbabwe, encontramos um número semelhante de países que saíram do processo de descolonização britânica. De resto, encontramos algumas porções como o Congo Belga (actual República Democrática do Congo), a Guiné Espanhola (actual Guiné Equatorial), a Líbia, a Eritreia e a Somália Italiana que passaram pelas mãos da Itália; o Togo, o Camarões e algumas outras porções que ficaram com os alemães. De resto, contam-‐se cinco porções de terra dominados pelos portugueses e que permitiram projectar o espaço lusófono para lá do Alentejo e do Algarve, mas também, ambicionar construir um universo luso-‐falante (quiçá, luso-‐pensante) para lá do prolongamento oceânico da Madeira e dos Açores. Entre Guiné-‐Bissau, Cabo Verde, Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe projectam-‐se espaços descontínuos de sonhos lusófonos, de vidas africanas, de vivências crioulizadas, de ritmos, de melodias, de expressividades, de sonoridades e de fonias, que se caracterizam em virtude do mundo que os rodeias e coloca a lusofonia perante uma crioulofonia em estado de simbiose, que se expressa entre a história (que o é o centro luso) e a sociografia (que é a realidade circundante).