ANUARIO INTERNACIONAL DE COMUNICACIÓN LUSÓFONA
2012 25
A Relegitimação do Serviço Público de Televisão em Portugal no contexto de hiperfragmentação da oferta Francisco Rui Cádima – frcadima@fcsh.unl.pt (Universide Nova de Lisboa)
Resumo No actual contexto de transição para o digital e ainda no contexto de crise do audiovisual público, neste caso sobretudo nos Estados membros do sul da Europa, é fundamental abrir o debate no sentido de se procurar uma religitimação da presença do Estado no sector dos media e também no sector dos novos media, e na Web em geral. Este artigo procura chamar a atenção para a necessidade de reforçar essa legitimidade através da componente qualitativa da programação da televisão generalista, a par do que já está a ser feito nalguns países europeus em matéria de "public value tests" aplicados aos conteúdos produzidos pelos mesmos operadores públicos para os ambientes web. Palavras-chave: Televisão, Serviço Público, Legitimação, Qualidade, Web
Abstract In the current context of migration to digital and also in the context of the crisis of public broadcasting, concerning in this case mainly the member states of southern Europe, it is essential to open the debate in order to seek a relegitimation of state presence in the media sector and also in the field of new media, and in the Web in general. This article seeks to draw the attention to the need to strengthen this legitimacy through the qualitative component of public television programming, in parallel with what is already being done in some European countries in terms of "public value tests" applied to content produced for the Internet, by the same public operators. Keywords: Television, Public Service, Legitimation, Quality, Web
É um facto que no actual contexto de crise europeia, sabendo-se que o sector público de media é o terceiro sector mais subsidiado na União Europeia, torna-se evidente a necessidade de explicar e reforçar, com toda a clareza, a legitimidade desse investimento estatal nos operadores públicos de televisão. A verdade é que o reforço dessa legitimação não é coisa pacífica. Há quem considere, por exemplo, que a pulverização das audiências no novo paradigma digital conduz por si só a uma crise de legitimidade do serviço público, dada a potencial perda de públicos no novo panorama face ao passado, nomeadamente face ao modelo de fragmentação dos anos 80, onde pontuava o satélite e emergiu o cabo. Há, por outro lado, quem remeta a perda de legitimação para factores de financiamento, colocando a lógica dual público/privado como central neste problema, o que implicaria a redução do financiamento público e, em consequência, opções comerciais e "ratings" mais consistentes. Nesta matéria, surgem inclusive sugestões menos ortodoxas no actual contexto de discussão sobre o problema da legitimidade. Se não há dúvida de que o reforço do apoio político ou de políticas públicas mais claras no sentido de explicitar os operadores públicos como "public interest enablers" (Candel, 2012:77), já subordinar a questão da legitimidade ao próprio sistema de distribuição, nos parece algo mais arrevesado: