I GUERRA MUNDIAL

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ANO LX | JULHO 2014 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤

I GUERRA MUNDIAL

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LIÇÕES A TIRAR DE UM CONFLITO QUE FEZ 10 MILHÕES DE MORTOS

CONSOLATA QUER MAIS VOLUNTÁRIOS Pág. 12 RADICALISMO AMEAÇA Pág. 13 IRAQUE ENTREVISTA AO CARDEAL JOÃO BRAZ DE AVIZ Pág. 14


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

www.fatimamissionaria.pt | www.consolata.pt Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | tel: 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Dª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 AGUAS SANTAS MAI | tel: 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | tel: 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | tel: 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 | alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 AGUALVA-CACÉM | Telefone 214 265 414 | saomarcos@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt


editorial

FÉRIAS REGENERADORAS Vêm aí as férias de verão. Há quem as utilize para descansar, procurando o equilíbrio perdido num trabalho tenso e enervante. Há quem as viva optando por algumas semanas de descontração, respirando o ar puro da natureza. Há quem as aproveite para um crescimento humano e espiritual em encontros de formação ou no contacto com Deus. Há quem faça delas um tempo de contactos, sempre enriquecedores, em viagens e descobertas de mundos desconhecidos. E há quem as use para um serviço específico de voluntariado, esquecendo os seus problemas e mergulhando na vida difícil de outros irmãos mais necessitados. Quero dar atenção sobretudo a estes. “Em cinco anos dedicados à medicina, nunca me tinha sentido tão útil, tão preenchida, tão integrada como naquele centro de saúde onde falta muito, mas onde sobra ainda mais. Sobra humanismo, amor, partilha, profissionalismo, sobra espírito de sacrifício” (Maria João Lopes). É a afirmação segura de uma finalista do curso de medicina que em 2013 passou um mês na Costa do Marfim. São cada vez mais os jovens e menos jovens que dedicam o tempo das férias a um serviço exigente de voluntariado em territórios de missão dentro ou fora do país. Motivados pelos valores de participação e solidariedade, doam parte do seu tempo, trabalho e talento, de maneira não remunerada, para causas de interesse social e comunitário. Em 2013 foram algumas centenas. Foram 40 os integrados em iniciativas dos Missionários da Consolata.

desenvolvimento ou em Portugal. Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Brasil absorvem a maioria dos interessados. Mas há também quem parta para São Tomé e Príncipe, para Timor-Leste ou até para a Colômbia e Costa do Marfim. Geralmente estão ligados a fundações, IPSS, ONGD, associações ou grupos informais de jovens e adultos ou então integrados em iniciativas de congregações religiosas e missionárias ou dioceses. Trabalham sobretudo no campo da educação, na pastoral, na saúde, na animação sociocultural ou na construção de infraestruturas que permitam a promoção de pessoas ou comunidades. Certo é que a maioria desses jovens ou adultos regressam regenerados e mais motivados. A Catarina, no final de uma missão de um mês em Timor escreveu no seu blogue: “Cheguei de coração cheio para dar. Parto de coração cheio do que recebi. Cheguei a pensar que mudava o mundo. Parto a saber que o mundo me mudou a mim. Cheguei a pensar fazer. Parto a saber que o que mais importa é ser. Cheguei eu. Parto eu mais rica”. É assim mesmo. Quem mais dá, mais recebe. DARCI VILARINHO

Em tempo de festivais e viagens de lazer, há gente que prefere dedicar-se a projetos de voluntariado missionário em África, na América do Sul ou até na Ásia, em países em Julho 2014

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº7 Ano LX – JULHO 2014 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 24.900 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diamantino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma; Álvaro Pacheco – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção e Arquivo Capa LUSA Contracapa Ana Paula Ilustração H. Mourato e Ricardo Neto Design e composição Happybrands e Ana Paula Ribeiro Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€; Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€; Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

TAREFAS PARA HOJE

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18 13 PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL 100 ANOS DEPOIS 03 EDITORIAL Férias regeneradoras 05 PONTO DE VISTA A frágil recuperação 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Uma coisa de nada 08 MUNDO MISSIONÁRIO

Crianças do Equador com melhores condições Paquistão perigoso para as minorias religiosas Multinacionais de olhos postos em África Funchal reafirma empenho missionário 10 A MISSÃO HOJE Confirmação e esperança 11 PALAVRA DE COLABORADOR “Faço tudo o que posso” 12 A MISSÃO HOJE Consolata quer reforçar parcerias e voluntariado 13 DESTAQUE Iraque sob a ameaça do radicalismo 14 ENTREVISTA “Queremos viver o presente com paixão” 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Dia Internacional da Amizade 24 TEMPO JOVEM A verdade dói 26 SEMENTES DO REINO Reino de Deus em parábolas 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA Tinha um sorriso cativante 32 OUTROS SABERES Ambição: cautela com ela! 33 2014 ANO ALLAMANO A alma da missão 34 FÁTIMA INFORMA Ortiga cumpre tradição


ponto de vista

A FRÁGIL RECUPERAÇÃO Durante anos Portugal, no seu conjunto, viveu acima dos seus texto FRANCISCO SARSFIELD CABRAL* recursos. Viveu a crédito, que os estrangeiros nos concediam a juro baixo. Foi uma fase de aparente riqueza, que coincidiu com anos de fraco ou nulo crescimento da economia. Quando, em 2010, rebentou a crise da dívida da Grécia, os investidores externos corrigiram a sua atitude, passando a exigir juros muito mais altos aos Estados endividados. Acabou, assim, a nossa ilusão de prosperidade. Por isso tivemos fatalmente que empobrecer. As famílias foram as primeiras a mudar o seu perfil de gastos. Conseguiram, mesmo, poupar mais, apesar da diminuição dos seus rendimentos. É que deixaram de ter confiança em que o Estado lhes valeria no futuro, em caso de desemprego, doença ou morte. Pelo contrário, o Estado tarda a mudar – porque há muita gente que depende dos dinheiros públicos, de uma maneira ou de outra. Gente que não quer perder esses apoios, ainda que na maioria dos casos eles não vão para os mais pobres. E as nossas empresas habituaram-se a ter escassos capitais próprios, dependendo do crédito bancário. São as mais endividadas da Europa, o que trava a concessão de novo crédito pelos bancos.

atrás, se dermos sinais de que não iremos pagar aquilo que devemos. E continuaremos a precisar de crédito dos mercados durante anos. A saída para esta difícil situação está, claro, em intensificar o crescimento da nossa economia. Esta já passou a crescer, mas a ritmo ainda demasiado débil para reduzir a sério o desemprego. Só que a economia não cresce por decreto; é preciso que existam as condições, internas e externas, para que tal aconteça. Temos áreas de sucesso, até um tanto inesperado, como é o caso do aumento das exportações. Mas, ao invés, preocupa o baixo nível do investimento empresarial, até porque o investimento do Estado está limitado pelo imperativo de baixar o défice orçamental. A situação externa também não ajuda, sobretudo no quadro europeu. A União Europeia passa pela mais grave crise da sua história. Mas, pelo menos, temos que aproveitar bem os fundos de Bruxelas que em breve vamos receber. No passado houve demasiados maus investimentos. Numa palavra, temos que ter juízo e mudar de vida. *Jornalista

A austeridade imposta pelos credores internacionais levou a uma severa recessão. É certo que recuperámos a confiança dos credores, que hoje nos emprestam a juro baixo. Mas tudo pode voltar Julho 2014

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leitores atentos

RENOVE A SUA ASSINATURA Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o número ou nome do assinante. Na folha onde vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos estimados assinantes renovem a assinatura para 2014. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os donativos para as missões são dedutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA “a nossa revista”. É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Diálogo aberto Caros amigos missionários Devo dizer-vos que aprecio muito o vosso trabalho expresso na linda revista que aí em Fátima publicais. É muito completa, com rubricas que dão para todos os gostos e para todo o tipo de pessoas, mesmo para aqueles que não são muito de Igreja como é o meu caso. Aplaudo a vossa abertura às causas humanas e sociais. O mundo precisa de todos, mas sobretudo da vossa generosidade e dedicação.

António José - Viseu

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UMA GRANDE OBRA SOCIAL

Li com muito interesse a revista do mês de abril, parando sobretudo nas páginas dedicadas ao trabalho do cónego Francisco Crespo no Centro Social e Paroquial de São Vicente de Paulo. Porque já morei nesse bairro, sou também eu testemunha do grande trabalho que esse padre tem realizado em favor dos mais necessitados. É uma verdadeira obra social que faz inveja a tantas paróquias do nosso país. Respira-se de facto aí um bom ambiente. E trabalha-se com uma verdadeira alma missionária, fruto também dos missionários da Consolata que por aí passaram. Luís

LEIO COM AGRADO

Agradeço as revistas que me enviaram durante todo o ano 2013 e até agora. Gostaria de continuar a receber a FÁTIMA MISSIONÁRIA que há muito leio com agrado e que recebo na qualidade de benemérita. Os meus votos a toda a equipe da revista.

minhas preces e pela criança da Costa do Marfim, Yéo Issa. São pequenas quantias, mas neste momento não me é possível dar mais. Que Nosso Senhor o abençoe e faça frutificar. Maria Natália

GRAÇAS DE ALLAMANO

Sou devota do beato José Allamano a quem recorro frequentemente. No dia 5 de setembro de 2013 a minha filha foi operada ao coração. Pedi a Deus por intercessão do beato Allamano a quem fiz a novena. Graças a Deus tudo correu bem. A seguir à operação foi atacada por uma forte anemia. Eram oito dias em casa e um mês no hospital. Voltei a fazer a novena ao beato Allamano e ela não voltou a ser internada. Gostava que esta graça servisse para que o beato Allamano fosse canonizado. Angelina

Ana Maria

PARA YÉO ISSA

Segue pelo correio um vale postal para as obras do beato Allamano em ação de graças por atender às

Obrigado, amigo António José, pelo seu apreço e colaboração. Sim, de facto, é nossa preocupação que todos se revejam na nossa obra e todos possam colaborar para o bem dos mais esquecidos. É isso sobretudo o que mais nos interessa. A revista, como se lê no seu estatuto editorial “pretende chegar às cidades e aldeias, dentro e fora do país, e dirige-se a um público muito variado: crianças, jovens e adultos sem distinção de raça nem de credo” com o objetivo de dar a conhecer o mundo missionário e contribuir para o encontro de povos e culturas a nível mundial. O interesse dos leitores é fundamental

para que esta nossa missão tenha sucesso. Bem haja, pois, pelas suas palavras que nos estimulam a continuar a prestar este serviço.

DV


horizontes

UMA COISA DE NADA

texto TERESA CARVALHO ilustração HUGO LAMI

– Faça o favor de entrar e sentar-se! Eu já chamo a irmã Rosa. Foi assim que a irmã Teresa acolheu Leonor e a conduziu à sala, com um sorriso gigante que abrilhantava o seu rosto queimado pelo sol de África e salpicado de algumas rugas esculpidas pelos seus 69 anos. Minutos depois, a irmã Teresa reentrava na sala com sumo e doces, logo seguida da irmã Rosa. – Agora que já há lanche, a irmã Rosa chega! – gracejou a irmã Teresa, mostrando o seu humor habitual e preparando-se para sair. – Não se vá já embora! – pediu a irmã Rosa – A sua ajuda seria bem-vinda na preparação do Encontro dos Jovens. A Leonor não sabe, mas a irmã Teresa dirige um colégio em Nampula, Moçambique. E foi ela a responsável pela sua construção! – Como se consegue fazer uma obra dessas? – Leonor olhava com admiração para aquela senhora serena e humilde. – Que exagero! Aquela obra tem sido feita à medida dos desejos das pessoas e da ajuda do Espírito Santo. O meu e o nosso trabalho têm sido uma coisa de nada. Sabe, Leonor, nós somos só instrumentos de Nosso Senhor. E Ele age de forma muito curiosa. No meu caso, Ele foi explicando o que queria e

nós só seguimos orientações. Veja bem: quando eu era professora numa escola em Nampula, a comunidade a que eu pertencia precisou comprar uma casa para as nossas noviças, que eram muitas. Descobrimos um terreno barato à venda. Mas as crianças da zona costumavam brincar nesse espaço. Para não lhes tirarmos o seu cantinho, decidimos construir um parque infantil. Então vimos que havia muitas crianças com fome e sem cuidados; por isso construímos uma creche e um jardim infantil. E para onde iam depois? As escolas eram muito distantes e as crianças eram ainda tão pequeninas… Foi então que os pais nos pediram que abríssemos uma escola. Assim fizemos: construímos uma escola para o 1º ciclo. – Que incrível, irmã Teresa! – Leonor estava extasiada. – Leonor, ainda não acabou! – ajuntou irmã Rosa, orgulhosa da sua irmã de congregação. – Depois, continuou a irmã Teresa, quando as crianças se aproximavam de concluir o 4º ano, novamente os pais pediram que continuássemos a educar os filhos nos valores que defendíamos. Foi assim que precisámos de aumentar a escola e organizámos um novo

nível de ensino, até ao 9º ano. – E agora? – quis saber Leonor. – Agora, estamos a construir um polidesportivo para a educação física e desportiva. Também precisávamos de uma sala de teatro com palco para os pais poderem assistir às atuações dos filhos. Já está construída. Eles são artistas brilhantes. – Não me diga que ainda há mais construções a fazer, riu-se Leonor. – Quanta coisa ainda falta! E uma “falta” precisa de um projeto para a solucionar. Nosso Senhor vai inventar forma de fazer acontecer. Nós só temos de estar lá, atentos, e seguir os seus comandos, “uma coisa de nada”. – Irmã Rosa, vamos alterar a sessão de catequese? – propôs Leonor – A irmã Teresa poderia ir falar ao nosso grupo das “coisas de nada” que ela faz. – Para isso, contem comigo. Sou só um instrumento do Fazedor da História. E Ele quer muitos mais: Ele quer todos! Que ninguém fique de fora!

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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA

CRIANÇAS DO EQUADOR COM PAQUISTÃO PERIGOSO PARA MELHORES CONDIÇÕES AS MINORIAS RELIGIOSAS Cerca de 100 mil crianças do Equador são abrangidas pelo projeto “Centros Infantis do Bom Viver”. O programa garante cuidados diários, alimentação saudável e instrução aos menores equatorianos. O próprio governo está empenhado em proporcionar-lhes um plano de alimentação e de tratamentos diários através do projeto “Creciendo con Nuestros Hijos” (Crescendo com nossos filhos), destinado à faixa etária do um aos três anos. O plano prevê uma atenção particular ao desenvolvimento de vários setores pedagógicos, como a afetividade, linguística e motricidade que, atualmente, envolve 210 mil crianças em todo o país. Este plano está particularmente orientado para crianças cujos pais ou avós se ocupam dos próprios filhos, mantendo-os em casa. O governo está preocupado com o problema do trabalho infantil que, desde 2007, já registou uma significativa redução.

O novo relatório da organização do Grupo Internacional dos Direitos das Minorias (na sigla inglesa MRG) afirma que o Paquistão é um dos países mais perigosos do mundo para as minorias religiosas. O documento sublinha que os ataques às minorias – cristãos, hindus, muçulmanos, hazara e armadi – têm vindo a aumentar constantemente desde 1980. Só em 2013 foram mortos 700 xiitas. Os homicídios planeados atingiram níveis sem precedentes. “Discursos de ódio contra as minorias são difundidos e circulam livremente”, lê-se no documento. Com uma resposta “totalmente inadequada”, em vez duma “mensagem clara” a fazer ver “que tais ataques são inaceitáveis e não ficarão impunes”, o governo “legitima uma cultura de impunidade entre os grupos militantes”. Enquanto as minorias vivem “no medo quotidiano”, multiplicam-se campanhas de ódio em mesquitas, escolas, espaços públicos e, cada vez mais, nos meios de comunicação, fomentando o “clima de terror”.

Férias papais

Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma

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Desde o início do seu pontificado, o Papa Francisco habituou-nos a ler nos seus comportamentos mais do que nos seus escritos e um desses comportamentos consistiu em passar as suas primeiras férias em Roma e não na residência de verão, em Castelgandolfo. Terminado o verão, ele pôde assim alegrar a Igreja e o mundo com a sua exortação apostólica Evangelii Gaudium – a Alegria do Evangelho – qual precioso fruto das suas férias de trabalho. Creio também que esta sua renúncia a umas férias “à rica” foi para ele uma escolha de solidariedade para com os pobres que não só não têm férias, mas nem sequer têm casa nem pão.


MULTINACIONAIS DE OLHOS POSTOS EM ÁFRICA

FUNCHAL REAFIRMA EMPENHO MISSIONÁRIO

A Nigéria é o principal mercado com maior atração para os investimentos das multinacionais americanas e europeias. Segundo um estudo do “Wall Street Journal”, 11 dos 20 mercados estudados são africanos. A Nigéria está em primeiro lugar, seguida pelo Quénia, Angola, Gana e Etiópia. O relatório foi elaborado na base das previsões dos próximos investimentos de 200 multinacionais. O dinamismo económico do continente africano ressalta com as iniciativas de vários Estados que pretendem investir e participar no desenvolvimento de África. Os Estados Unidos da América lançaram uma iniciativa para fornecer energia elétrica a mais de 240 milhões de africanos. Singapura já anunciou que em agosto vai realizar o terceiro Fórum África-Singapura com o objetivo de aumentar as trocas comerciais entre as empresas africanas e as empresas daquele país asiático.

Com 500 anos de existência, a diocese do Funchal relança o seu empenho em continuar a ser uma “Igreja em Missão”. António Carrilho, bispo do Funchal, augurou que as comemorações “possam contribuir para avivar a memória dos nossos valores, criar novos projetos e novas formas de compromisso da Igreja com as pessoas e a sociedade do nosso tempo”. Nas celebrações do 500.º aniversário da diocese madeirense, o prelado assumiu o empenho de “intensificar o espírito missionário das instituições da Igreja”, para que esta se apresente sempre mais como “Igreja em Missão”. Criada em 12 de junho de 1514, pelo Papa Leão X, Funchal foi a primeira e a maior diocese do início da expansão da Península Ibérica para além das fronteiras europeias. Foram-lhe atribuídas as terras “descobertas” pelos portugueses.

Ao escrever estas linhas ainda não sei se o Papa Francisco vai repetir este ano a escolha do verão passado, mas fala-se já dum documento sobre a proteção da integridade de toda a criação no qual ele estaria a dar os últimos retoques. Este seu verão, se me é permitido conjeturar, vai vê-lo ativo e presente como sempre, e comprometido em tornar melhor e mais humano este nosso mundo. Ouso deixar algumas sugestões: que as férias nos ajudem a ser mais humanos e a dedicar mais tempo aos outros e também às coisas do espírito. Boas férias!

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a missão hoje

VISITA DO PAPA FRANCISCO À COREIA

CONFIRMAÇÃO E ESPERANÇA texto PEDRO LOURO* foto LUSA São pobres as palavras para exprimir a alegria com que a Igreja da Coreia recebeu a notícia da visita do Santo Padre. “É quase um milagre”, exclamou o bispo de Tejon, monsenhor Lazaro, ao receber a confirmação do Vaticano, “que o Papa na Ásia em primeiro lugar visite a Coreia do Sul”. Um papel importante nesta decisão deve-se às Jornadas Asiáticas da Juventude que se realizarão no próximo mês de agosto na Coreia e na diocese de Tejon. Este evento proporcionará ao Papa a ocasião para encontrar num só lugar os jovens provenientes de tantas Igrejas da Ásia. Por outro lado é também o reconhecimento e a confirmação de uma Igreja que surpreendentemente continua a crescer quando em tantas partes do mundo o número de católicos diminui. Tanto a Igreja como a sociedade coreana olham cheios de esperança para esta visita como evento catalisador no processo de paz com a Coreia do Norte e de reconciliação a nível da sociedade voltando a dar à Igreja o papel de intermediária no diálogo social que nos últimos tempos foi perdendo. Tempos atrás, e no contexto do afundamento do barco Sewol, o Papa convidou a Coreia do Sul, cega pela competição desenfreada e desenvolvimento a baixo custo, a renovar os esforços para um renovamento moral e social. Por outro lado, o constante apelo do Papa Francisco a não esquecer os pobres e excluídos será também um desafio à própria Igreja da Coreia, que nos tempos difíceis soube estar do lado dos pobres, mas que recentemente corre o risco de se deixar levar pelo fluxo materialista da sociedade. O próprio Papa pediu à Igreja coreana que organize a sua visita sem pompas e procurando em tudo estar próximo da normalidade do dia a dia. A este desafio junta-se o desafio missionário. Numa Coreia que vai tendo sempre mais reconhecido o papel 10

Numa Coreia que vai tendo sempre mais reconhecido o papel mundial no desenvolvimento tecnológico e económico, a Igreja coreana tem também vindo a crescer na consciência e empenho na missão “ad gentes”. Rica de clero e religiosos, ela não pode fechar a porta a uma Ásia de que faz parte e onde a maioria ainda não conhece Jesus Cristo


palavra de colaborador

mundial no desenvolvimento tecnológico e económico, a Igreja coreana tem também vindo a crescer na consciência e empenho na missão “ad gentes”. Rica de clero e religiosos, ela não pode fechar a porta a uma Ásia de que faz parte e onde a maioria ainda não conhece Jesus Cristo. As estatísticas mostram que a Igreja Católica coreana tem um milhar de missionários espalhados pelos cinco continentes, mas na verdade eles são uma ínfima parte se comparados com as dezenas de milhares de missionários enviados pelas Igrejas protestantes. Finalmente, espera-se que o Papa Francisco, à luz dos 124 mártires que irá beatificar bem no centro da capital Seul, lance à Igreja e à sociedade coreana o desafio a deixar-se iluminar pelo exemplo destes homens e mulheres que deram a vida pelo Evangelho e a ser testemunhas e fermento de novidade, luz que aponta um caminho novo na justiça e fraternidade. * Missionário da Consolata na Coreia do Sul Publicação conjunta MissãoPress

“FAÇO TUDO O QUE POSSO”

texto DARCI VILARINHO

Piedade Cristina Gomes Pombal é colaboradora da FÁTIMA MISSIONÁRIA há mais de 20 anos. Tem a seu cargo os assinantes de três localidades do concelho de Pombal: Guia, Ilha e Mata Mourisca. Felizmente não faz tudo sozinha. É ajudada neste serviço por Joaquim Marques Alberto e Fernanda Moderno na Ilha, por Graciete Fernandes na Mata Mourisca e por Luciano Carreira na Lagoa da Guia. Este espírito da missão está-lhe no sangue. Não fosse ela mãe do padre Patrick Silva, missionário da Consolata em Roma. Não é só da revista que ela se ocupa, mas de outras atividades ligadas aos missionários, como é o caso da peregrinação do beato Allamano, em fevereiro, ou da venda de calendários. São pequenos serviços que requerem tempo, paciência e força de vontade. Na sua conversa connosco manifesta uma certa preocupação por “nem todas as pessoas pagarem a tempo e horas” e até por algumas desistências, “que é uma pena, porque a revista não é cara e tem muito interesse”, acrescenta ela, ao mesmo tempo que propõe que se façam reuniões nas paróquias com os assinantes para que sejam motivados nesta causa missionária. Agradecendo o seu trabalho e a sua proposta, faremos o possível por não descuidar esta tarefa de contactos e motivações.

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a missão hoje

Nova direção: Eugénio Butti (esq.), Darci Vilarinho, António Fernandes, José Marçal e Albino Brás

CONSOLATA QUER REFORÇAR PARCERIAS E VOLUNTARIADO António Fernandes foi reeleito Superior Provincial do Instituto Missionário da Consolata em Portugal. Com a nova equipa de conselheiros pretende dar continuidade ao trabalho de abertura à sociedade e à criação de novas parcerias texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA “Queremos reforçar a proximidade às causas e às pessoas, no sentido afetivo e efetivo, abrir-nos mais às parcerias com outros organismos que também procuram praticar o bem, e continuar a colocar o nosso património ao serviço das causas sociais”, disse à FÁTIMA MISSIONÁRIA o padre António Fernandes, após ter sido reeleito para mais um mandato como Superior Provincial do Instituto Missionário da Consolata (IMC) em Portugal. Na Assembleia Provincial, em que participaram os missionários da Consolata ao serviço no nosso país, foi escolhido ainda um novo elenco diretivo, composto pelo padre Darci Vilarinho, que será o vice-superior, e pelos sacerdotes Albino 12

Brás, Eugénio Butti e José Maria Marçal, como conselheiros. É com esta equipa, empossada em meados de junho, que António Fernandes pretende “dar continuidade ao trabalho de abertura do IMC à sociedade e à procura de novas formas de comunicar a identidade missionária”. Ciente dos tempos difíceis que afetam a Europa em geral, e Portugal em particular, o Superior Provincial quer dinamizar a economia do Instituto, materializada no Hotel Pax, loja e fábrica de artigos religiosos, Museu de Arte Sacra e Etnologia (Fátima) ou a Quinta do Castelo, no Cacém, para poder colocar mais recursos ao serviço da economia social. “Embora por vezes as pessoas

não se deem conta, mas todo este património é fundamental para nos ajudar a apoiar as causas sociais em que nos envolvemos”, sublinhou o sacerdote. Para António Fernandes, os missionários, enquanto “homens de Deus”, devem pautar a sua ação pastoral e evangelizadora tendo em contra três características essenciais: “alegria, sentido de inclusão e disponibilidade para partir ao encontro dos outros”. Neste contexto, o IMC vai continuar “a abrir as suas casas à comunidade” e a apostar no voluntariado jovem, “apoiando, acompanhando e proporcionando experiências de voluntariado” aos mais novos.


destaque

EIIL OCUPA VÁRIAS CIDADES NO NORTE DO PAÍS

IRAQUE SOB A AMEAÇA DO RADICALISMO

texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA

A rápida progressão, em junho, dos rebeldes sunitas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), em direção a Bagdade, no Iraque, veio recolocar a questão do fiasco dos nove anos de intervenção dos Estados Unidos da América (EUA), ocorrida em 2003, e evidencia a debilidade do poder, das forças armadas e da unidade do país, numa região do globo altamente sensível. No dia 15 de junho, Bagdade garantia ter contido o avanço das forças do

EIIL, que ocupavam já a cidade de Mossul, a segunda maior do país e sede da província de Ninive, a cidade de Baji, onde se situa a maior refinaria petrolífera iraquiana, Tuz, Khurmatu e Tikrit. Mas a situação no terreno, a médio e longo prazo, revela-se muito mais complexa numa região dada a todo o tipo de extremismos. Desde a retirada das tropas americanas do Iraque, no final de 2011, que a situação da segurança no país não tem parado de se degradar. Esta situação coloca em causa todo o esforço militar norte-americano, durante os nove anos de ocupação, que custou cerca de 600 mil milhões de dólares aos cofres do Estado, a vida de 4.500 soldados norte-americanos e de 1,2 milhões de iraquianos, e deixou um país profundamente dividido entre grupos tribais, religiosos e movimentos jihadistas, defensores da guerra santa.

Milhares de pessoas abandonaram a cidade de Mossul por causa dos confrontos armados

O EIIL é resultado disso mesmo. Surge na sequência da invasão do Iraque, sob a liderança de um então quadro jordano próximo da Al-Qaeda, Abu Musab al-Zarqawi, ex-combatente dos soviéticos no Afeganistão, que conseguiu reunir à sua volta os grupos jihadistas nacionais e internacionais. Apesar da morte de Zarqawi, em 2006, o EIIL não deixou de se reforçar e é considerado um dos grupos mais fortes e radicais entre os movimentos afetos à guerra santa, não poupando os movimentos árabes e muçulmanos que não partilham as suas ideias.

Radicalismo numa região sensível O seu projeto de fundar um Estado islâmico será muito dificilmente tolerado pela comunidade internacional, a começar pelos próprios estados vizinhos e pelos EUA que, por enquanto, se recusam a apoiar o governo de Bagdade com tropas terrestres. Mas o poder que o EIIL alcançou junto das populações e tribos sunitas, quer no Iraque quer na Síria, e que detestam os seus respetivos líderes em Bagdade e em Damasco, não vai ser fácil de destruir.

Numa entrevista à agência noticiosa francesa, a France Presse, o antigo emissário internacional da ONU para a questão síria, Lakhdar Brahimi, referiu que a ofensiva da EIIL no Iraque é o resultado da inércia da comunidade internacional face ao próprio conflito sírio, que se arrasta desde 2011. Por seu lado, o Irão já manifestou a sua disponibilidade em colaborar com os americanos para combater o EIIL, em defesa das populações xiitas, que são a maioria no Iraque. Mas mais do que um sinal de pacificação entre dois velhos inimigos, o gesto de Teerão mostra bem a gravidade da situação e o potencial de alastramento do conflito que o poder do EIIL pode ter para toda a região.

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entrevista

“QUEREMOS VIVER O PRESENTE COM PAIXÃO” A poucos meses da abertura oficial do Ano da Vida Consagrada, o cardeal João Braz de Aviz antecipou à FÁTIMA MISSIONÁRIA algumas das metas traçadas pela Igreja para esta comemoração. Num tom descontraído, abordou ainda a questão do celibato, do pecado social, das mudanças no Vaticano e da importância da teologia da libertação texto e foto FRANCISCO PEDRO

FÁTIMA MISSIONÁRIA Em 2015 celebra-se o Ano da Vida Consagrada. Que frutos esperam colher com esta iniciativa? João Braz de Aviz A vida consagrada é uma parte muito importante na Igreja, porque se trata de todos os consagrados, isto é, os que têm votos de pobreza, castidade e obediência, sejam eremitas, monges, frades, freiras, irmãs, ou os membros dos institutos seculares 14

que não formam uma congregação, mas que se consagram a Deus no mundo. E dar importância a todo este mundo era uma coisa que nós sentíamos como muito importante. Traçámos como objetivo não ficar remoendo tanto os problemas, mas olhar o passado com verdadeira gratidão, porque Deus deu à Igreja uma multiplicidade de carismas, de dons, de congregações, de ordens – são mais de duas mil só de direito pontifício e mais de um milhão e

meio de consagrados no mundo. Então, queremos olhar o futuro com esperança e viver o presente com paixão. FM Quando começam as atividades? JBA A sessão de abertura está prevista para o dia 30 de novembro deste ano e a de encerramento para fevereiro de 2016. Durante este período, vamos promover vários encontros. Queremos reunir as


PERFIL

João Braz de Aviz nasceu em Mafra (Brasil) a 24 de abril de 1947. Entrou no seminário com 11 anos, foi ordenado padre em novembro de 1972 e consagrado bispo em maio de 1994. O Papa Bento XVI nomeou-o Prefeito da Congregação para os Institutos da Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, em janeiro de 2011, cargo que ainda desempenha. Em 2012 recebeu o título de cardeal.

pessoas ligadas à formação da vida consagrada de todo o mundo, num encontro particular. Juntar os religiosos e religiosas, e promover um contacto direto com a vida consagrada contemplativa. No final, vamos ter um momento de encontro de todas essas vocações. Ao mesmo tempo, estamos a rever alguns documentos relacionados com a vida consagrada, como por exemplo a relação entre superiores maiores e bispos,

o documento sobre os irmãos leigos e o documento sobre a vida contemplativa, que é de 1950. FM Que mudanças poderão surgir? JBA Na vida contemplativa, queremos estudar sobretudo a clausura papal, a autonomia dos mosteiros e a questão da formação. Mais do que mudanças, queremos aprofundar o espírito do decreto Perfectae Caritatis [sobre

a renovação da vida religiosa], porque a motivação do Ano da Vida Consagrada assenta nos 50 anos desse documento. Portanto, as novidades que surgirão serão de vida mais intensa do próprio carisma. FM Todos os anos cerca de 3.000 consagrados deixam a vida religiosa. Há algum motivo especial para este índice de abandonos? JBA Muitas vezes são pessoas que não se adaptaram, depois de anos e anos de vida consagrada. Outras estão relacionadas com problemas particulares, e há ainda os casos das desilusões pelo testemunho das comunidades, ou porque a pessoa sente que não se vive o carisma. Ou seja, significa que estamos no momento de voltar aos fundadores. Não é tanto administrar obras ou cuidar de estruturas pesadas que foram criadas durante os séculos, mas entrar profundamente no espírito do fundador, verificar se a vida do Evangelho é a nossa vida e escutar de perto a cultura atual, porque Deus vai falando nos vários momentos da história. E aqui entra uma questão muito importante, que é a vida comunitária: temos que acentuar a espiritualidade de comunhão. FM O celibato é um dos fatores que pode contribuir para alguns destes afastamentos? JBA O celibato não é um mandamento de Deus, é um conselho evangélico, portanto um convite do Senhor para uma Julho 2014

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entrevista

Hoje, a Igreja tende a ser toda missionária, mas durante muito tempo foram os religiosos que partiram em missão para lugares distantes e difíceis. Acho que essa vida já existe. O aprofundamento deve ser sobretudo no espírito; temos que levar um testemunho claro de Jesus Cristo, não somos conservadores de obras e de estruturas, também não temos que formar multinacionais religiosas, temos que ter a nossa vida focada no que é mais importante, que é o testemunho da fé e do Evangelho

vida que se quer perfeita. Para os consagrados, o celibato é fundamental, porque uma vida de consagração é celibatária. O que pensamos hoje é que tem que haver uma maturidade maior em toda a questão da afetividade e da sexualidade. Não podemos viver do não conhecimento, ou de informações erradas, ou de problemas mal resolvidos dentro de nós. Se eu assumo o celibato, não é porque fujo de uma realidade da minha afetividade ou da minha sexualidade. Tenho que enfrentar essa consagração com a profundidade que isso deve ter também na maturidade humana, e quando isso acontece é mais fácil. FM O Papa Francisco tem pedido à Igreja que saia mais para a periferia. Os consagrados já fazem isso ou ainda estão muito absorvidos na obra construída? JBA Hoje, a Igreja tende a ser toda missionária, mas durante muito tempo foram os religiosos que partiram em missão para lugares distantes e difíceis. Acho que essa vida já existe. O aprofundamento deve ser sobretudo no espírito; temos que levar um testemunho claro de Jesus Cristo, não somos conservadores de obras e de estruturas, também não temos que formar multinacionais religiosas, temos que ter a nossa vida focada 16

no que é mais importante, que é o testemunho da fé e do Evangelho. FM Tem dito que sente uma vida diferente na Igreja com o novo pontificado. O que é que mudou? JBA Eu moro com a janela virada para a Praça de São Pedro, observo todo o movimento às quartas-feiras e aos domingos, nessas grandes presenças com o Papa. É impressionante como a praça tem sido presença dos jovens, das crianças e das pessoas de um modo geral. E a linguagem coerente que o Papa usa, muito simples e próxima do povo. Na Cúria Romana sentimos que as coisas se estão a simplificar, as estruturas estão menos pesadas e há um bem-querer da população em relação ao Papa, o que significa que ele tem esse canal de entendimento com o povo. É um homem profundamente

coerente e respeitado. Acho que o Papa trouxe uma vitalidade muito grande à Igreja. FM Mas há especialistas que dizem que será muito difícil mudar a Cúria Romana. JBA Não, as mudanças já estão a acontecer. Se pensarmos por exemplo no Instituto para as Obras da Religião [o chamado Banco do Vaticano], o que estamos vendo é uma mudança muito grande, seja no trato com a instituição, seja no modo de administrar as coisas. O Papa segue de perto todos os dicastérios e quem trabalha no Vaticano. Há uma vontade grande dessa reforma, não só do Papa, mas da Cúria também. Só que essa reestruturação é também das cúrias de bispos e das cúrias das congregações religiosas. É um momento em que precisamos purificar muita coisa, voltar ao Evangelho em muita coisa e deixar de lado o que não serve ao Evangelho. FM Tem-se falado muito da teologia da libertação na Igreja. Que sentido tem esse movimento nos dias de hoje? JBA O que aconteceu com a teologia da libertação, pelo menos em algumas áreas, foi que entrou

Na Cúria Romana sentimos que as coisas se estão a simplificar, as estruturas estão menos pesadas e há um bem-querer da população em relação ao Papa, o que significa que ele tem esse canal de entendimento com o povo. É um homem profundamente coerente e respeitado. Acho que o Papa trouxe uma vitalidade muito grande à Igreja


“Estou vivo porque Deus é bom” FM Quando ainda era sacerdote no Brasil foi confundido com um assaltante e atingido a tiro. Temeu pela vida? JBA Sim, foi um assalto a um carro forte, em 1983, no interior do estado do Paraná. Nesse assalto, que estavam fazendo, eu passei pela mesma estrada, fui apanhado pelos jovens que esperavam pelo carro forte e recebi um tiro de calibre 12, cano duplo. Os 130 chumbos em todo o corpo, que ainda carrego comigo, perfuraram-me um olho, atingiram um pulmão, furaram o intestino, mas estou aqui vivo

porque Deus é bom. Na época foi uma experiência para mim muito forte de fé. Os guardas do carro forte quando atiraram não sabiam que eu estava ali. Ainda tive um problema grande de depressão durante um ano, mas consegui superar. Vi pela luz da minha experiência de fé uma expressão do amor de Deus e pedi-Lhe a graça de poder estar vivo para continuar a ajudar no que for possível. E aí estou.

numa ideologia que não é a favor do Evangelho – a ideologia marxista, ou o instrumento da ideologia marxista – sobretudo na questão do método. Depois de João Paulo II fazer a correção do método, o que sobrou? Sobrou o problema real, que a teologia da libertação acentuou muito, que é a questão dos pobres e da miséria, e que não é apenas uma questão de natureza pessoal, mas das estruturas de pecado que mantêm essa situação e que precisam ser removidas. Há um pecado social que precisa ser removido, sem a gente pensar que não existe um pecado pessoal. É preciso evidenciar que a pobreza não é uma coisa inócua, mas é criada, é calculada por um sistema, como por exemplo o sistema capitalista, ou o sistema marxista-socialista. Então, quando se tira Deus da experiência humana, não sei se sobra a possibilidade de se realizar uma justiça verdadeira.

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dossier

EFEMÉRIDE Um século depois, ainda há lições a tirar de um conflito que mudou o mundo

13 PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL 100 ANOS DEPOIS Um herdeiro de um trono imperial morto por um militante nacionalista foi a causa improvável da Grande Guerra. Mas a verdade é que entre 1914 e 1918 se combateu na Europa, na África e na Ásia e ao todo morreram dez milhões de pessoas, com novas armas a serem testadas, incluindo gás de nervos. O mundo nunca mais foi o mesmo depois do armistício. E há lições a tirar ainda hoje dessa carnificina global que também envolveu soldados portugueses texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA fotos LUSA 18


E como os alemães precisam de uma vitória rápida numa das frentes, os seus soldados invadem a neutral Bélgica para contornarem as linhas defensivas francesas. Perante isto, a Grã-Bretanha declara guerra à Alemanha e vem em socorro dos franceses, a quem estavam ligados por uma aliança. 3. Mas há mais países que entram na guerra, como Portugal. É mais tarde?

Famílias belgas prestam homenagem a alguns dos militares que morreram na I Guerra Mundial

1. O assassínio a 28 de junho de 1914 do arquiduque Francisco Fernando em Sarajevo merece mesmo ser considerado o tiro de partida para a Primeira Guerra Mundial?

a 28 de julho de 1914, os austríacos declararem guerra à Sérvia.

Sim, sem dúvida. Quando o herdeiro do Império Austro-Húngaro, sobrinho do velho Francisco José, é morto na capital da Bósnia por um nacionalista sérvio, as peças do dominó começam a cair umas sobre as outras, mesmo que demore ainda um mês até,

Bem, assim que a Sérvia foi ameaçada, a Rússia mobilizou as suas tropas contra a Império Austro-Húngaro, em nome da solidariedade eslava, mas também para ganhar influência nos Balcãs. Em resposta, a Alemanha declara guerra à Rússia e também à França.

2. Qual foi a sequência inicial de acontecimentos?

A guerra torna-se generalizada, com combates também em África, no Médio Oriente e na Ásia Oriental, mesmo que as grandes batalhas tenham sido na Europa. Assim, o Império Otomano junta-se às Potências Centrais, seus parceiros financeiros, e acaba a ser desafiado pelos seus súbditos árabes, instigados pelos britânicos, em especial o famoso Lawrence da Arábia. A Bulgária também se junta em 1915 ao eixo Berlim-Viena, pois cobiça território sérvio, enquanto a Itália entra na outra coligação bélica por vislumbrar no conflito uma oportunidade para ajustar contas com os austríacos. Portugal, com uma secular aliança com os ingleses, entra também no conflito em 1916. E em 1917 é a vez de os Estados Unidos da América (EUA), exasperados pelos ataques dos submarinos alemães contra os seus navios, desistirem da neutralidade e desembarcarem tropas na Europa. 4. Portugal combate só por causa da velha aliança com a Inglaterra? Não. O governo da jovem República Portuguesa, proclamada em 1910, vê no conflito uma forma de romper o isolamento. Além disso, os alemães mostram-se agressivos nas suas colónias que confinam com Angola e Moçambique. Aliás, apesar de a maioria dos militares portugueses mortos (7.000) terem caído na guerra de trincheiras em França, Julho 2014

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houve também combates em África. Ter estado ao lado dos vencedores permitiu manter as colónias. 5. Voltemos ao assassínio do arquiduque por Gavrilo Princip. Qual a motivação? Os Habsburgos foram durante séculos a família mais poderosa da Europa e um dos seus era sempre eleito como imperador sacro-germânico. Mas desde a sua exclusão da nova Alemanha, unificada em 1871, a Áustria, que tinha dado larga autonomia aos húngaros, mantinha subjugados vários povos eslavos. E com a crescente fraqueza do Império Otomano até tinha absorvido nos Balcãs zonas de povoamento sérvio,

como a Bósnia. Ora o reino da Sérvia usava o nacionalismo eslavo para tentar criar uma união dos eslavos do sul, a futura Jugoslávia. O choque entre sérvios e austríacos era inevitável. Mas bizarro foi dar origem a uma guerra mundial, onde, por exemplo, até tropas australianas e neo-zelandesas vieram combater contra os turcos. 6. Porque ficou famosa a guerra de trincheiras? Após as primeiras semanas de progressão alemã, os franceses conseguiram travar a ofensiva. E a linha da frente passou a ser quase estável, com os soldados de um lado e do outro a observarem-se. Por vezes os combates podiam ser

Austrália assinalou o centenário da Grande Guerra com uma projeção no memorial, em Camberra

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terríveis, como a 22 de agosto de 1914, em que num só dia morreram 27 mil militares franceses. Mas também havia tréguas não oficiais, como a do Natal desse ano inicial da guerra, em que soldados britânicos e alemães jogaram futebol na chamada terra de ninguém. Batalhas famosas como as do Somme e de Verdun pouco ou nada definiram o rumo da guerra, apesar da avalanche de mortes. 7. Houve novas armas introduzidas? Sim, como os aviões e os tanques de guerra, estes usados pela primeira vez pelos britânicos na Batalha do Somme (julho-novembro de 1916), mas eram tão poucos que não tiveram influência


no desfecho final: um empate após um milhão de mortos. 8. Além da mecânica, também se usou a química, certo? Certo. Na Segunda Batalha de Ypres, em abril e maio de 1915, os alemães usaram pela primeira vez gás de nervos na frente ocidental. Além de matar, causava incapacidade permanente. Muitos soldados regressaram afetados, com comportamentos bizarros. Na linguagem popular começaram a ser chamados de esgazeados, sinónimo de loucos. Os britânicos também usaram gás, uma das vezes fazendo milhares de baixas nas próprias fileiras por causa de uma mudança súbita da direção do vento.

9. Antes da guerra, a Alemanha tinha começado a construir uma poderosa marinha para desafiar o domínio tradicional dos britânicos nos oceanos. Isso notou-se na guerra?

que seriam no século seguinte a potência dominante. E a criação da Sociedade das Nações, apesar do fracasso posterior, abriu caminho à atual ONU.

Não, até porque a única grande batalha naval, travada na Jutlândia, foi inconclusiva. A marinha britânica perdeu mais navios e marinheiros, mas a frota alemã ficou tão danificada que no resto da guerra teve pouca atuação.

12. Também se diz que da forma como se fez a paz no Tratado de Versalhes de 1919 se criaram as raízes da Segunda Guerra Mundial. Faz sentido?

10. Como se precipitou o fim da guerra? Apesar da revolução ter afastado a Rússia da guerra (que correu mal às tropas do czar), a Alemanha enfrentava uma coligação demasiado poderosa, sobretudo após a entrada americana na guerra. Aliás, fez esforços desesperados para tentar bater os franceses e acabar com o conflito antes dos americanos instalarem as suas próprias trincheiras. Com a acumulação de desaires, multiplicaram-se as deserções de soldados alemães e as revoltas. O imperador Guilherme II abdica a 9 de novembro e será já a República Alemã a assinar o armistício a 11 de novembro às 11 horas. 11. Que consequências teve o conflito? Além da elevada mortalidade, com dez milhões de mortos e 21 milhões de feridos, a Grande Guerra trouxe o fim de três impérios europeus, o alemão, o austríaco e o russo. Pôs fim também ao sonho colonial germânico, pois Camarões, Togo, Namíbia, Tanzânia e outros territórios mudaram de mãos. Do conflito surgiu a Revolução Comunista na Rússia e a emergência da União Soviética. Nasceram vários países no Leste europeu, como a Checoslováquia e a Hungria, e no Médio Oriente. E o Japão, um dos Aliados, ficou com as possessões alemãs na China, o que viria a ser trágico duas décadas depois. Os EUA, embora entrando tarde no campo vencedor, deixaram claro

Sim, sobretudo porque as humilhações impostas à Alemanha mergulharam o país em sucessivas crises e facilitaram a ascensão do nazismo na década de 1930. 13. E hoje em dia, que ensinamentos se podem tirar da Primeira Guerra Mundial? Passados 100 anos pode-se perceber que houve uma sucessão de mal entendidos que poderiam ser evitados com melhor comunicação entre os líderes. Convém, pois, nunca deixar de dialogar, caso contrário o inimigo pode interpretar como ameaça algo que não é e agir preventivamente, numa escalada interminável. Depois, é preciso não confiar demasiado nas aparências de tranquilidade: o rei de Inglaterra, o imperador alemão e a mulher do czar eram primos direitos e isso não significou capacidade para fazer a paz. Também não se deve acreditar demasiado na lógica económica: Grã-Bretanha e Alemanha eram grandes parceiros comerciais, com todo o interesse em evitar confrontos, e mesmo assim combateram. Por fim, cuidado com os pequenos conflitos regionais. O atentado de um nacionalista sérvio pôs o mundo a combater quatro anos.

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gente nova em missão

VERÃO Vamos aproveitar as férias para fazer novas amizades Olá amiguinhos missionários! Então e as férias, como estão a correr? Apostamos que cansadinhos de tanto brincar! Julho é um mês soalheiro e o sol é bom para a nossa saúde, mas não se esqueçam de pôr o protetor, usar o chapéu e evitar as horas perigosas! Neste mês, no dia 30, celebra-se o Dia Internacional da Amizade e como há já muito tempo queríamos falar convosco sobre o tema da tolerância, nada melhor do que aproveitar esta data tão bonita! texto ÂNGELA E RUI ilustrações RICARDO NETO

DIA INTERNACIONAL DA AMIZADE Durante o século XXI, foram tomadas várias iniciativas para a celebração de um dia da amizade em distintas partes do mundo. A iniciativa para o estabelecimento de um dia do amigo, reconhecido internacionalmente, teve como antecedente histórico a Cruzada Mundial da Amizade, que foi uma campanha em favor da 22

valorização e realce da amizade entre os seres humanos, de forma a fomentar a cultura da paz. Em 27 de abril de 2011, durante a sexagésima quinta sessão da assembleia geral das Nações Unidas, dentro do tratamento da “cultura de paz”, reconheceu-se “a pertinência e a importância da amizade como sentimento

nobre e valioso na vida dos seres humanos de todo o mundo” e decidiu-se designar como Dia Internacional da Amizade o 30 de julho. A iniciativa foi apresentada conjuntamente por 43 países (incluindo o Brasil e quase todos os países sul-americanos) e foi aceite unanimemente pela ONU.


carneirinhos no rebanho e excluir o vosso amiguinho, por este não andar vestido com os últimos gritos da moda. Mas também podem seguir Jesus, ignorar a moda e escolher a amizade. E fazerem aquilo que é mais difícil: colocarem-se ao lado dos excluídos.

A AMIZADE E A TOLERÂNCIA Há muitas palavras bonitas que podemos utilizar para descrever a amizade, sobretudo do ponto de vista cristão. E estaríamos aqui a fazê-lo durante muito tempo. Contudo, aquilo que queremos realçar no espírito do verdadeiro amigo é a sua tolerância. E o que é a tolerância? Pois bem, a tolerância reside na capacidade de “calçarmos os sapatos do amigo”. Muitas vezes nós temos a visão que nos é conferida pela nossa experiência pessoal. Mas para que consigamos aceitar as coisas menos boas ou apenas aquelas com as quais não concordamos no nosso amigo, temos de ser capazes de perceber que o outro vive experiências diferentes das nossas e pode ter certas atitudes por causa

NÃO SE ESQUEÇAM DE

disso mesmo. Mas se nutrimos este sentimento tão nobre por outras pessoas, é necessário que consigamos perceber e sair do nosso pequeno mundo para enxergarmos os pequenos mundos delas. Por exemplo, amiguinhos vossos que muitas vezes se comportam de forma errada, fazem-no porque não conseguem demonstrar o que pretendem de outras maneiras e muitas vezes têm experiências pessoais complicadas. Por esses é essencial que vocês rezem e consigam tocá-los com gentileza para que eles compreendam que há outros caminhos, outras possibilidades. A vossa tolerância também pode ir ao encontro daqueles vossos amiguinhos que não têm tudo de acordo com a tendência atual. A amizade também é isso. Vocês podem escolher ser como os

Ter presente que o amigo é aquele que conhece o meu “lado lunar” e ainda assim não desiste de mim e me aceita pelo que sou. Assim ele vai estar ao meu lado mesmo quando eu falho.

Disse Jesus: “Como o Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, como eu também guardei os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor” (Jo 15, 9-10). É assim a amizade explicada por Jesus: só o amor importa na hora de aceitarmos o outro como ele é e juntos podermos ter uma amizade verdadeira e verdadeiramente missionária!

O MEU MOMENTO DE ORAÇÃO

Amigo Jesus: Abençoa os meus amigos e tira-me a venda dos meus olhos Pois quero tal como Tu estar ao lado dos excluídos Ser um bom amigo é um dom E eu quero ser tolerante o suficiente para não ferir o outro E respeitar as diferenças Colocar-me no seu lugar e com isso chegar ao fim do dia E ao falar contigo descobrir o caminho que ainda tenho de percorrer Perdoa-me se às vezes não o faço Mas tentarei todos os dias (um bocadinho) ser mais tolerante e mais compreensivo E rezar por todos. Pai-Nosso… Julho 2014

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tempo jovem

A VERDADE DÓI

texto LUÍS MAURÍCIO foto ANA PAULA

Há dias tive uma sã discussão com um amigo meu, médico e escritor, que defendia com afinco um tradicional ditado muito utilizado na nossa aldeia, ditado esse que moldou os comportamentos de muita gente: “A verdade dói”. É um adágio que justifica diretamente o mal-estar com que fica uma pessoa depois de ouvir uma “hipotética” ou “relativa” verdade. Acredito profundamente que a dor bem assumida leva qualquer um ao crescimento pessoal, mas este processo envolve outras dimensões

e reflexões da própria vida que não têm nada a ver com a dor que pode provocar uma verdade mal comunicada ou pessimamente transmitida. A habilidade na comunicação é fundamental quando se quer transmitir uma mensagem carregada de autenticidade. A sinceridade, a coerência e veracidade das nossas palavras, a honestidade, são qualidades muito bem conceituadas na sociedade. Porém, já muitas vezes me interroguei se a “sinceridade”, alicerçada na minha verdade, parcial e subjetiva, não teria um limite perante alguém que tem os mesmos direitos, condições e condicionamentos do que eu. A situação piora ainda mais quando o alicerce da suposta verdade é um preconceito ou um “zum-zum”

lançado aos nossos ouvidos por um terceiro. De que sinceridade e verdade podemos falar se nem sequer somos honestos com a nossa própria perceção da realidade? Lembro-me de ter lido um livro de um autor francês que dizia mais ou menos isto: ser sincero não é dizer ou exprimir tudo aquilo que pensamos, mas sim não usar argumentos contrários daquilo que pensamos e acreditamos. Com isto quero dizer que muitas vezes confundimos sinceridade com o ato de valentia de dizer ao outro, na sua cara, tudo o que pensamos sem a necessidade de medir ou avaliar o impacto que a “hipotética honestidade” pode provocar na pessoa que escuta. “Apesar de doer, o que te digo é para o teu bem” ressoa dos lábios de quem muitas vezes esquece que

Acredito profundamente que a dor bem assumida leva qualquer um ao crescimento pessoal, mas este processo envolve outras dimensões e reflexões da própria vida que não têm nada a ver com a dor que

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não tem a verdade absoluta ou não se questionou ainda sobre que tipo de “bem” pode surgir de uma transmissão falida que só provoca feridas. Quem em nome da sinceridade e honestidade diz tudo o que pensa e não mede as palavras, só procura a prática de um hábito que gera bem-estar pessoal a si próprio, um bem-estar diretamente proporcional à dor e à ferida de quem escuta. A verdadeira e correta verdade dita ao outro é aquela que é filtrada pelo prisma da assertividade. Dizer as palavras certas, à pessoa adequada e no momento justo, é fundamental para ajudar os outros a crescer na liberdade, porque a verdade bem dita liberta e faz crescer qualquer pessoa.

EIS ALGUMAS DICAS PARA QUE A TUA VERDADE NÃO PROVOQUE DOR NOS OUTROS: A verdade dita ao outro não dói mas liberta

A expressão e a força da verdade

não é mais importante que o “impacto” que ela pode produzir na pessoa que escuta

Procura o equilíbrio entre aquilo que pensas e aquilo que queres partilhar ou dizer ao outro Aprende a tomar consciência do impacto que provocam as tuas palavras.

Assume com simplicidade e humildade que a tua verdade não é universal nem total Escuta com atenção aquilo que o outro também tem para te dizer Se sabes que aquilo que vais dizer acabará por ferir e romper uma relação, deixa-o amadurecer, não o digas ainda

pode provocar uma verdade mal comunicada ou pessimamente transmitida. A habilidade na comunicação é fundamental quando se quer transmitir uma mensagem carregada de autenticidade

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sementes do reino

REINO DE DEUS EM PARÁBOLAS texto PATRICK SILVA foto ANA PAULA Os gestos e as palavras de Jesus não passavam despercebidos. De todas as suas palavras, destacam-se as “parábolas”: são expressivas, questionam e convidam ao envolvimento. Talvez fosse por isso que eram tão usadas pelo Mestre para explicar a realidade do Reino de Deus.

Leio a Palavra Mt 13, 24-43

A primeira parábola (do trigo e do joio) chama à atenção para a reação do dono. Ao ser informado de que, no campo onde semeara trigo, tinha aparecido também o joio, era de esperar que o dono enviasse os seus trabalhadores a retirar essa “praga”, mas não é isso que acontece. Tudo é deixado para o tempo da ceifa, onde se fará a seleção, com sortes diferentes para o trigo e para o joio. Seguem-se as parábolas do pequeno grão de mostarda e do fermento. São parábolas muito parecidas, onde o que importa é fazer notar a diferença entre a pequenez (quase insignificância) inicial e o estado final.

Saboreio a Palavra

As parábolas apresentadas por Jesus pretendiam ser “provocatórias” para os seus ouvintes. A primeira parábola apresenta um Deus muito diferente da lógica humana, um Deus paciente e misericordioso, sempre pronto a dar uma nova oportunidade. Num campo 26

onde convivem o bem e o mal, muitos perguntarão porque não erradicar desde logo o mal. Esquecem, porém, que é difícil “arrancar” o mal, sem tocar no bem. Esse campo é também o nosso coração, onde co-habitam raízes de bem, mas também de mal. Os trabalhadores da parábola, dispostos a erradicar desde logo o mal, parecem ser bem mais rígidos que o dono, o qual, com a sua paciência, deseja dar oportunidade a todos. As duas outras parábolas apresentam o dinamismo do Reino de Deus. Inicialmente parece insignificante, mas será grandioso o resultado final. É só uma questão de tempo.

oração peça a Deus a ousadia de ser um bom construtor, testemunhando com alegria a presença de Deus entre nós.

Vivo a Palavra

Nas nossas conversas sobressai a tentação de ver tudo em apenas duas cores: preto ou branco, comportamentos bons ou maus. Mas a realidade é bem diferente. Entre o preto e o branco, dizem que é possível distinguir 256 variações de cinzento. É por isso que facilmente encontramos cristãos com excesso de zelo, muitas vezes duros e intolerantes, incapazes de olhar com a bondade e a misericórdia de Deus.

Rezo a Palavra

As parábolas recordam-nos que fazemos parte deste Reino de Deus, onde somos chamados a ser construtores ativos. Na sua

As parábolas recordam-nos que fazemos parte deste Reino de Deus, onde somos chamados a ser construtores ativos. Na sua oração peça a Deus a ousadia de ser um bom construtor, testemunhando com alegria a presença de Deus entre nós


intenção pela evangelização

A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO JULHO

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14º Domingo Comum Zac 9, 9-10; Rm 8, 9-13; Mt 11, 25-30 APRENDEI DE MIM No coração de Cristo, sempre aberto, cabe a humanidade inteira. É aí que podemos entrar para encontrar alívio e repouso e aprendermos a abrir o nosso coração a toda a gente. “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”. Vinde a mim! Aprendei de mim! É nele que cabem todas as nossas mágoas. Ensina-nos, Senhor, a estrada do teu coração para aprendermos a usar de mansidão para com todos.

13 15º Domingo Comum

Is 55, 10-11; Rm 8, 18-23; Mt 13, 1-23 DEUS SEMEIA SEMPRE Jesus não renuncia à sua missão de semear a Palavra. Aposta sempre no nosso terreno, apesar dos fracassos e recusas, egoísmos ou indiferenças. Toda a sua vida foi semear misericórdia e perdão. Do alto da Cruz foi ainda capaz de dizer: “Pai, perdoa-lhes, que não sabem o que fazem”. O seu “hoje estarás comigo no paraíso” foi o fruto precioso da sua misericórdia. Ajuda-me, Senhor, a cultivar o meu terreno, para que cada palavra que em mim semeias produza frutos abundantes.

20 16º Domingo Comum

comunidade cristã fosse perfeita, pura, limpa e sem defeitos. Somos todos chamados a ser tolerantes e misericordiosos, vencendo o mal com o bem. Ensina-nos, Senhor, a tua paciência, tolerância e misericórdia, para amarmos a todos sem distinção.

27 17º Domingo Comum

1Re 3, 5-12; Rm 8, 28-30; Mt 13, 44-52 À PROCURA DO TESOURO Cada pessoa tem dentro de si a luz de um desejo de felicidade que o mantém vivo. Quem descobre esse tesouro sente uma enorme alegria e é capaz de renunciar a tudo para o conquistar. É a alegria de ter encontrado que o faz decidir. Não há alegria nem tesouros sem renúncia. Cristo é essa pérola de valor inestimável. Vale a pena vender tudo para a possuir. Senhor que nos revelaste em Cristo o tesouro escondido da nossa vida, ajuda-nos a procurá-lo e a dar-lhe valor. DV

Para que o Espírito Santo sustenha o serviço dos leigos que anunciam o Evangelho nos países mais pobres

ÉO povo a hora dos leigos de Deus é constituído,

na sua maioria, por fiéis leigos. São chamados por Cristo, como Igreja, a exercer no mundo, vinha de Deus, uma tarefa evangelizadora indispensável. São hoje especialmente para eles as palavras do Senhor: “Ide também vós para a minha vinha” (Mt 20, 3-4). Felizmente vamos tendo hoje um grupo numeroso de leigos muito conscientes no serviço da Igreja missionária. Em todos os serviços eclesiais, mas sobretudo no campo da responsabilidade social. Não só na ajuda às vítimas da pobreza ou eventuais calamidades, mas na implementação de leis justas, e no trabalho direto com os mais pobres, na defesa dos seus direitos. Não se pode todavia descuidar a sua formação humana, teológica e espiritual no seguimento de Jesus. Será vão o seu trabalho, por mais vasto que seja, se o Espírito Santo não sustiver este serviço apostólico. Porque é a força do Evangelho que inspira a vida e é a força do Espírito Santo que renova as pessoas, e é Ele que a todas chama para colaborar no crescimento do Reino de Deus. DV

Sab 12, 13-19; Rm 8, 26-27; Mt 13, 24-43 UMA LIÇÃO DE TOLERÂNCIA “Deixai que ambos cresçam”. É o que diz o Senhor a quem lhe propõe medidas radicais para extirpar as ervas ruins que estorvam o crescimento da boa semente. Que lição de tolerância da parte de Jesus! Gostaríamos que a Julho 2014

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o que se escreve VIA HUMANITATIS O caminho da humanidade

MONSENHOR JOAQUIM MABUIANGUE Uma vida a várias vozes

O livro que aqui se apresenta é um raro documento histórico, que traça a vida deste ilustre filho de Moçambique, através de “um conjunto de depoimentos de pessoas amigas, com quem trabalhou e com quem se cruzou na sua vida”. Diz a autora, Maria Carlos Ramos: “Quando entrei pela primeira vez na catedral (de Maputo) e ouvi o monsenhor Mabuiangue percebi que estava perante um homem invulgarmente inteligente, com uma capacidade de comunicação extraordinária, duma grande densidade espiritual, dum rigor litúrgico e de uma sabedoria teológica assombrosa”. Isto e muito mais é testemunhado em 23 depoimentos de homens de Estado, bispos, sacerdotes, religiosas, colegas e jornalistas. Resulta uma história factual muito significativa da Igreja e do povo moçambicano. Um livro que vale a pena ler para conhecer a história da Igreja moçambicana e o seu caminho de incultaração. Autora: Maria Carlos Ramos 208 páginas | preço 10,00€ Consolata Editora

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PLANO DE FORMAÇÃO PARA LEITORES E MINISTROS DA PALAVRA

Trata-se de um pequeno opúsculo enviado pelo beato Tiago Alberione aos membros da Família Paulista por ocasião do Natal de 1947. É uma oração nos moldes da via-sacra. Mas, enquanto esta se ocupa da memória da paixão, morte e sepultura de Cristo, a Via Humanitatis aqui proposta tem uma dimensão cósmica. Não é só uma oração, mas também uma proposta teológica, ilustrada por gravuras significativas, centrada em Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Autor: Tiago Alberione 64 páginas | preço: 3,00€ Paulus Editora

Na atualidade, a Igreja conta com um elevado número de leigos comprometidos que exercem diversos ministérios e funções nas comunidades eclesiais. Mas é necessário que recebam uma formação adequada às suas funções. Este livro vem na hora certa porque contém as ferramentas necessárias para atingir esse objetivo através do estudo, da oração e da aproximação à Palavra de Deus. Autores: Carlos Herley e Oviedo Gómez 320 páginas | preço: 17,00€ Paulus Editora

VIVER A PALAVRA

COMPROMETER-SE Paulo arrebatado por Cristo

Hoje em dia na abundância, por vezes ruidosa, de palavras, muitos gostariam de saber discernir, ouvir e pronunciar a “palavra” que faz viver, que cumpre a sua função de criar relacionamentos e de nos fazer saborear e gozar a vida, não de modo efémero, mas substancial. Neste volume é-nos apresentada a experiência de uma mulher do nosso tempo, Chiara Lubich, com o convite ao leitor de partilhar este caminho na vivência da Palavra que não morre. Autora: Chiara Lubich Elaboração: Florence Gillet 120 páginas | preço: 6,00€

Aqui está mais um livrinho precioso do cardeal biblista Gianfranco Ravasi sobre a figura do grande apóstolo São Paulo. “A história de Paulo concretiza-se num cruzamento de culturas e as suas identidades de judeu, romano e grego são indispensáveis para a compreensão da sua obra e das suas aventuras pessoais, que se desenrolam em toda a bacia do Mediterrâneo, abrindo-se ainda ao sonho de atingir o extremo ocidental, a ‘finisterra’ espanhola, isto é, as praias do Portugal moderno”. Autor: Gianfranco Ravasi 80 páginas | preço: 4,00€ Paulus Editora


o que se diz

Guardar a criação inteira “Parece estar na forja um novo documento pontifício acerca dos valores ambientais. Dispomos da mensagem bíblica, da atitude pioneira de algumas Conferências Episcopais, sobretudo da América Latina, e do exemplo heroico de missionários que têm arriscado a vida para salvaguardar, ao mesmo tempo, o meio ambiente e os direitos humanos. Mas ainda há quem considere este assunto de somenos importância para o cristão”. Abílio Pina Ribeiro | Mensageiro de Santo António | junho de 2014

Construir pontes “Hoje é preciso construir muitas pontes, que levem os povos e a DIÁRIO DE VIAGEM COSTA DO MARFIM

É assim: primeiro há um contacto prolongado com os missionários da Consolata que gera conteúdos e sobretudo a paixão pela missão. E daí nasce uma viagem à Costa do Marfim para conhecer localmente a realidade missionária. Não foi turismo, foi o encontro com uma “verdade autêntica” feita de pessoas, objetos e situações muito significativas que dois artistas souberam observar e desenhar. Foi preciso saber parar diante de pessoas que carregam histórias expressivas e experimentar como “o desenho é definitivamente um novo modo de relação com as pessoas” para um melhor conhecimento e maior proximidade. O produto é um livro original e interessante, em português e francês, que narra uma viagem através da relação entre o desenho e a escrita. Os desenhos e aguarelas de Mário Linhares e Keta Cabral mostram que são artistas que vale a pena ter em conta. Estão de parabéns os autores e a Editora. Autores: Mário Linhares e Keta Cabral Linhares 192 páginas | preço 18,90€ Consolata Editora

humanidade a encontrar-se, para que conviva em paz e construa um futuro melhor. Cristo foi e é a ponte entre o céu e a terra e também entre os povos, as culturas, as pessoas, a natureza, de modo que tudo seja unificado em Cristo, no respeito pela diversidade e beleza de cada ser”. António Vitalino |Notícias de Beja | 12 de junho de 2014

Abrir-se ao Espírito “Acredito que só saberemos ser verdadeiros instrumentos do amor

de Deus quando nos abrirmos ao Espírito Santo. E só com Ele poderemos ir ao encontro dos planos que Deus tem para cada um de nós. Todas as nossas atividades, desde as mais simples, como um sorriso a quem nos ofendeu, um abraço amigo de acolhimento, às mais complexas, devem estar direcionadas sempre para cumprir a vontade de Deus”. Carlos Magalhães de Carvalho | Presente | 12 de junho de 2014

Fátima e Aparecida “A experiência de encontro, de celebração comum e de partilha

da mesma fé faz-nos experimentar a universalidade de Fátima e reaviva a consciência da nossa responsabilidade pelo dom de termos sido visitados pela Mãe de Deus, que em Fátima nos deixou uma mensagem de penitência e conversão, de esperança e misericórdia; uma mensagem que nos desafia à oração e à adoração, a dar a Deus, Santíssima Trindade, o lugar central que Lhe cabe nas nossas vidas”. Carlos Cabecinhas | Voz da Fátima | 13 de junho de 2014

Disse que preferia morrer “A condenação à morte de Meriam surgiu por ela ter casado com

um homem cristão, o que, segundo a lei do Sudão, a sharia, não é permitido. Ela alegou que sempre foi educada na religião cristã e é cristã, mas o tribunal deu-lhe três dias para ela abandonar a sua fé, senão seria enforcada; ela disse que preferia morrer a renegar a Cristo”. Manuel Ventura Pinho | O Amigo do Povo | 15 de junho de 2014

Julho 2014

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gestos de partilha

COSTA DO MARFIM Anónimo 110,00€; Adelaide Franco 30,00€; Flora Mira 13,00€; Aleshandra Rodriges (Sofia – Bulgária) 75,00€; Anónimo 120,00€; Conceição Gameiro 20,00€; Maria José Ribeiro 50,00€; Anónimo 300,00€; Fátima Matias 10,00€; Anónimo (Fiães) 125,00€. Total geral = 16.155,65€. BOLSA DE ESTUDO Maria José Ribeiro 250,00€. CRIANÇA YÉO ISSA – COSTA DO MARFIM Fernanda Castanheira 18,00€; Natália Vasconcelos 5,00€; Bárbara Silva 5,00€. CRIANÇAS DE MOÇAMBIQUE Anónimo 5,00€. OFERTAS VÁRIAS AMC – Zona Centro 1.200,00€; Anónimo (Fiães) 100,00€; Carminda Duarte 43,00€; Liete Cruz 43,00€; Fernando Antunes 43,00€; Anónimo 120,00€; Manuel Fernandes 40,00€; José Júnior 93,00€; Elvira Martins 53,00€; Fátima Domingos 65,00€; Manuel Domingos 65,00€; Lucília Martins 43,00€; Maria Cardoso 150,00€; Marcelina Carneiro 43,00€; Anónimo 263,00€; Anónimo 60,00€; Albina Magalhães 50,00€; Luís Almeida 43,00€; Maria Sousa 33,00€; Maria Vieira 43,00€; Carolina Fonseca 43,00€; António Gomes 36,00€; António Cunha 43,00€; Manuel Costa 26,00€; António Gomes 243,00€; Palmira Guimarães 27,00€; Artur Pais 916,00€; Maria Gomes 143,00€; Armindo Coelho 43,00€; Esperança Ferreira 28,00€; Trindade Ferreira 13,00€; Gonçalo Nunes 43,00€; Manuela Queiroz 93,00€; Adelaide Simão 25,50€

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 ÁGUAS SANTAS MAIA | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRAGA | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt

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vida com vida

Canadá, paróquia que pertencia aos Missionários da Consolata. Ao Superior Geral escrevia: “Sinto grande vontade de me adaptar a esta realidade canadiana tão nova para mim”. Interessado nos novos movimentos cristãos de então, entrou perfeitamente no movimento do “Encontro Matrimonial”, com uma perceção realista das capacidades deste movimento. Nele formou centenas de pessoas a viverem uma vida cristã imitadora do mistério da união de Cristo à sua esposa missionária, a Igreja. Aliou a esta obra o trabalho no Movimento Carismático – uma união que produziu grandes frutos de bem, especialmente na paróquia em que trabalhou vários anos, a paróquia da Consolata em Montreal – onde ele e eu vivemos lado a lado bastante tempo. Trabalhou também pastoralmente nas várias escolas primárias dessa mesma paróquia.

PADRE FRANCO COCCO

TINHA UM SORRISO CATIVANTE

texto AVENTINO OLIVEIRA ilustração H. MOURATO Nascido no Piemonte, Itália, em 6 de fevereiro de 1933, fez a sua profissão religiosa no Instituto da Consolata em 7 de outubro de 1953, e foi ordenado sacerdote em 14 de março de 1959. Foi seu primeiro campo de missão o Quénia, na África Oriental, nos tempos da alvorada da independência do país. Fundada pelos Missionários

da Consolata, a Igreja celebrava os novos acontecimentos com alegria e prudência. Era então o padre Franco mestre de cerimónias no seminário da zona. Trabalhou depois em várias missões nesse mesmo país.

Tinha um sorriso cativante que atraía e levava a decisões sobre a vida com Deus. Conhecia as suas falhas, como a sua timidez natural, herança talvez da sorte de seu pai que, durante a 2ª Guerra Mundial, fora deportado para a Alemanha donde nunca mais voltou. O padre Franco evitava decisões precipitadas no seu apostolado. Mas algo de perigoso crescia nele: a sua doença de diabetes. Teve de finalmente voltar para a sua Itália natal, para a Casa Mãe, em Turim. Ali passou silenciosamente os últimos tempos da sua vida, à espera de vez na viagem final para Deus e a Virgem Consolata a quem devotara a sua vida. Partiu para a Casa do Senhor em 29 de janeiro de 2004, 103º dia aniversário da fundação do Instituto dos Missionários da Consolata.

Em 1970 encontramos o padre Cocco na paróquia de São João Bosco na cidade de Montreal, no Julho 2014

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outros saberes

AMBIÇÃO: CAUTELA COM ELA! texto NORBERTO LOURO foto LUSA A palavra ambição encerra em si significados contraditórios: ela tanto pode ser a alavanca do sucesso e do progresso, como degenerar em ganância e cobiça demolidoras da felicidade, pois, a verdadeira grandeza está no ser e não no ter e quem não sente a ânsia de ser mais, só com o ter não chegará a ser nada. Nos tempos que estamos vivendo, a palavra mais gasta é ter ou não ter; ter tido e ter deixado de ter. Em todos os quadrantes culturais e literários se encontram advertências para evitar estragar o sentido positivo de ambição pois ela é “o maior estímulo humano com que se edifica”. Eis algumas dessas advertências:

“Quem compra o que não precisa, vende o que precisa”

(provérbio árabe). Não será isso que nos leva ao consumismo desenfreado, arrastados pela publicidade insinuante e enganosa de comprar hoje e pagar depois, de comprar três e pagar um? E a recorrer a empréstimo atrás de empréstimo? Não será também pela ilusão de viver acima das próprias possibilidades?

“Os nossos desejos são como crianças pequenas: quanto mais cedemos, mais exigentes se tornam” (provérbio chinês). É um problema psicológico como

o que regula a gestão dos nossos vícios. Cada vez que lhes interpomos resistência mais robustecemos a força de vontade, cada vez que lhes cedemos, mais vulneráveis a eles nos tornamos.

“Queres ser rico? Não te fadigues a aumentar os teus bens, mas a diminuir a tua cobiça” (padre António Vieira).

Aqui é que bate o ponto! É questão de equilíbrio e de prioridades. Trabalhar é um dever. Possuir com dignidade é um direito. Viver com moderação é uma opção dignificante. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma? Sem levar nada!?

“Queres ser rico? Não te fadigues a aumentar os teus bens, mas a diminuir a tua cobiça” padre António Vieira 32

“À fome (e privações) não se foge com as pernas (ou outros estratagemas), mas com a enxada”(provérbio macua).

Sabedoria de quem incita a não se acomodar “à sombra da bananeira” mas a viver com o fruto do próprio trabalho, sem recorrer a estratagemas parasitários, sofisticados e desonestos. Viver com o necessário abdicando do supérfluo, alcança um alto grau de genuína alegria de viver.


2014 ano Allamano

A ALMA DA MISSÃO texto DARCI VILARINHO foto FM No coração dos missionários ecoam sempre muito fortes as palavras de Allamano: “Que sejais santos, é o meu principal desejo e a minha preocupação constante”. Que tem a ver isto com a missão? Responde o fundador: “Seria um erro dizer: ‘Vim para me fazer missionário e isso me basta!’ Não, não basta, de maneira nenhuma. Não podemos trocar os termos: primeiro, a nossa santificação, depois, a conversão dos outros. Missionários e missionárias sim, mas santos”. Não se trata de uma espiritualidade desencarnada da vida. Trata-se de ver as coisas pelo prisma justo. Corre-se o perigo de se deixar envolver por um ativismo desenfreado e trocar os papéis, pensando que se resolvem todos os problemas. Nas cartas que Allamano enviava aos seus missionários, é essa a sua preocupação constante. Apreciava os relatórios com o elenco de tudo o que faziam. Mas interessava-lhe mais saber que se vivia em concórdia

e fidelidade a Deus e uns aos outros, através das coisas pequenas de cada dia. “Não me importa se administrastes dez mil batismos; interessa-me que sejais ótimos missionários, cheios de fervor, fiéis, exatos em tudo o que fazeis. Deveis ser superlativos em tudo. Nada de coisas extraordinárias, mas sim extraordinários nas coisas ordinárias”. A santidade é a alma da missão. A mensagem é clara: “Podemos administrar um sacramento sem sermos santos, mas converter as pessoas, não. Ordinariamente, Deus não concede a graça de tocar os corações a quem não vive unido a ele por meio dum amor tão grande que quase seja capaz de fazer milagres. Acreditai no que vos digo: quem não arde não é capaz de incendiar, quem não tem o fogo da caridade, não pode comunicá-lo aos outros”. Allamano não falava pelos livros, mas por experiência direta. Na sua vida espiritual o que mais se destaca é o equilíbrio de valores humanos e sacerdotais, de ação e contemplação, de trabalho e oração. Aqui reside o segredo da sua atividade e os seus êxitos como homem e como sacerdote. Sabia o que era fundamental.

Mais algumas pinceladas na figura do beato José Allamano (1851-1926), que ao longo deste ano a ele dedicado queremos retratar. Para que seja mais conhecido e amado e a sua vida exemplar seja um estímulo Cinquenta anos depois, João Paulo II dirá que a missão exige missionários santos. “Não basta renovar os métodos pastorais, ou então organizar e coordenar melhor as forças eclesiais: é preciso suscitar um novo ‘ardor de santidade’ entre os missionários e em toda a comunidade cristã, especialmente entre aqueles que são os seus colaboradores mais íntimos”. Uma ideia que o Papa Francisco tem acentuado.

Allamano pedia aos missionários que fossem fiéis e fervorosos no contacto com as populações

Julho 2014

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fátima informa

ORTIGA CUMPRE TRADIÇÃO Na primeira terça-feira de julho, manda a tradição que se participe na festa de Nossa Senhora da Ortiga, no santuário com o mesmo nome, a três quilómetros do Santuário de Fátima texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto ANA PAULA

A festa tem três dias – de 6 a 8 de julho – mas o ponto alto será no último dia, em que se montam as tendas e se estendem as mantas para o almoço de família. É também nesse dia que se realiza uma missa campal, em frente à capela do santuário, que nestas ocasiões se revela demasiado pequena para o número de fiéis, e que a imagem da Nossa Senhora da Ortiga é levada em procissão pelos rapazes e raparigas, que

em 2014 completam 20 anos. Os festejos realizam-se desde 1801, por concessão do jubileu do Papa Pio VII, e atraem todos os anos centenas de devotos, que aproveitam para viver momentos de convívio e de partilha. Conta a tradição que Nossa Senhora terá aparecido a uma pastorinha muda, a quem pediu uma ovelha. A menina sentiu a língua solta e respondeu que não daria a ovelha sem licença do pai. Indo o pai ao

Peregrinação aniversária

13 e 16 de julho e entre 4 e 6 de agosto. Destina-se a crianças entre os 10 e os 13 anos.

O novo bispo auxiliar de Braga, Francisco Senra Coelho, presidirá à peregrinação internacional aniversária de 12 e 13 de julho, no Santuário de Fátima. O prelado pretende “lembrar a todos a esperança que nos vem da Fé e o testemunho de alegria e de unidade, que o mundo espera de nós”.

Oficinas musicais

Música e criatividade estão interligadas numa semana de atividades para divertimento num “contexto cristão e espiritualmente enriquecedor”. A iniciativa do Santuário “Oficinas musicais criativas” decorre entre 34

Férias solidárias

O Santuário de Fátima oferece uma semana de repouso aos pais que têm filhos deficientes. É um momento em que podem descansar ou até mesmo ficar com os filhos em Fátima. O primeiro turno realiza-se de 30 de julho a 5 de agosto. Os restantes, de 8 a 14 de agosto, de 18 a 21 de agosto e de 28 de agosto a 3 de setembro.

local, encontrou sobre uma pedra, entre ortigas, uma imagem de Nossa Senhora, que levou para o Casal de Santa Maria, mas a imagem desapareceu dali sendo vista mais tarde novamente entre as ortigas. Foi ali construída uma pequena capela, mais tarde ampliada.

Julho em agenda 5/6 Peregrinação da Família Espiritana 26 Celebrações do Dia dos Avós 28 a 1 de agosto – Encontro da Pastoral Litúrgica



O TRIGO E O JOIO Crescem juntos o trigo e o joio. Mas, no mesmo forno, um é lenha e o outro é pão: o dia da razão é um fio de espada. Que não me engane, Senhor, na forma ou na cor das coisas apenas iguais aos olhos distraídos: a balança dos sentidos está mal aferida. Dá-me, Senhor, a Sabedoria, paladar do espírito, essencial iguaria no prato da verdade. João Aguiar Campos Encontros


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