Fatima Missionaria | Novembro 2016

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Ano LXII | Novembro 2016 | Assinatura Anual Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€

VOCAÇÕES

COMUNIDADE FORMATIVA NO CACÉM PREPARA JOVENS SEMINARISTAS DESTAQUE

Guterres surpreende com vitória na ONU

Eleição do ex-primeiro-ministro é uma conquista dos valores cívicos

DOSSIER

Um muro que divide a própria América Construção de novas barreiras fronteiriças ameaça mexicanos

MÃOS À OBRA

Quando uma bicicleta faz toda a diferença

Missionários criam projeto para ajudar na deslocação dos professores


Apoie a formação de novos missionários Com uma BOLSA DE ESTUDOS em seu nome ou em nome de quem desejar. Por 250€, valor que poderá ser repartido em prestações, se assim o desejar

BENEFÍCIOS DA BOLSA

Fica inscrito no livro dos benfeitores dos Missionários da Consolata Participa na ação apostólica dos missionários Beneficia de uma missa diária celebrada por todos os benfeitores

CONTACTOS Rua Francisco Marto, 52 – Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800–048 LISBOA Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt IBAN: PT50 0033 0000 45441863347 05

Um abraço entre a fé e a vida


SUMÁRIO

Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 10 Ano LXII NOVEMBRO I 2016 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

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ESTATUTO EDITORIAL http://www.fatimamissionaria.pt/quem.php

“ UM MURO QUE DIVIDE A PRÓPRIA AMÉRICA

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial Eugénio Butti Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 22.500 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor Executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Albino Brás, Álvaro Pacheco, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, João Nascimento, Leonídio P. Ferreira, Teresa Carvalho Diamantino Antunes (Moçambique) Tobias Oliveira (Roma) Fotografia Arquivo, Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção Capa Ana Paula Contracapa Lusa Ilustração David Oliveira Design BAR Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00 € Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da Assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) transferência bancária IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

04 | EDITORIAL Quase um testamento

11 | PERFIL SOLIDÁRIO Mãe de coração imenso

05 | PONTO DE VISTA Guterres: infinitamente pequeno, infinitamente grande

12 | A MISSÃO HOJE “Há um preconceito grande em relação aos índios”

06 | HORIZONTES Não podemos ficar atrás

13 | FÁTIMA INFORMA ‘Milagre do Sol’ recriado em Fátima

07 | DESTAQUE A vitória dos valores cívicos

14 | ATUALIDADE “Ainda é possível viver com autenticidade”

08 | MUNDO MISSIONÁRIO • Síria: Crianças de Aleppo clamam por paz na rua • Peru: Abandono escolar atinge nove em cada dez meninas • Venezuela: Revolta contra a situação nas cadeias • Guiné: Desenvolvimento contra a migração clandestina ou legal • Jordânia: Aumento de refugiados perigoso e insustentável • Nigéria: Altos magistrados acusados de corrupção 10 | A MISSÃO HOJE Meninos de Mkundi já têm escola

TAREFAS PARA HOJE: ATUALIZAR A ASSINATURA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA

16 | DOSSIER • Um muro que divide a própria América • Nenhum hispânico, só um católico • Hillary, campeã das minorias • Trump, defensor da velha América 22 | MÃOS À OBRA Quando uma simples bicicleta faz toda a diferença 23 | IMAGENS DE MISERICÓRDIA 24 | GENTE NOVA EM MISSÃO Testemunha do amor 26 | TEMPO JOVEM Paixão pela vida 28 | SEMENTES DO REINO “Lembra-te de mim quando estiveres no Teu reino” 30 | VIDA COM VIDA “Trabalhar e rezar” 31 | LEITORES ATENTOS 32 | GESTOS DE PARTILHA 33 | O QUE SE ESCREVE 34 | MEGAFONE

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editorial

Quase um testamento Saiu em setembro um livro intitulado “Últimas conversas”, como fruto de uma longa entrevista de Bento XVI ao jornalista alemão Peter Seewald, com prefácio do Papa Francisco. Nele o Papa emérito, de 89 anos, fala de si, da Igreja, dos momentos difíceis do seu pontificado, dos problemas que antecederam a sua renúncia, e responde, com surpreendente sinceridade, às muitas perguntas sobre a sua vida pública e privada: a amizade com João Paulo II, os escândalos da pedofilia, as fugas de informação dentro da Santa Sé, e a eleição do Papa Francisco. Numa espécie de testamento espiritual, Bento XVI alterna memórias de pessoas com palavras profundas e repletas de esperança sobre o futuro da fé e do cristianismo. E faz algumas revelações curiosas que contrariam muito do que se escreveu a seu respeito logo após a renúncia. Que o texto da renúncia foi ele próprio que o escreveu em latim, duas semanas antes. Que o seu gesto não foi devido à “pressão dos acontecimentos”, nem sequer foi “uma fuga devido à incapacidade de lhes fazer frente”. Que não é verdade que se encontrava desiludido ou algo semelhante. “Graças a Deus, estava num estado de alma pacífico de quem ultrapassou as dificuldades. O estado de alma em que se pode passar tranquilamente o leme a quem vem depois.” Refere depois as primeiras impressões sobre o seu sucessor: tocou-o o facto de Francisco tentar

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Fátima Missionária

telefonar-lhe logo após a eleição. O modo como rezou por ele, o momento de recolhimento e a cordialidade com que saudou as pessoas. Mas confessa uma certa surpresa na sua eleição. Conhecia-o, mas não pensava nele. “Não pensei que estivesse no grupo restrito dos candidatos. Quando ouvi o nome, fiquei primeiramente inseguro. Mas quando vi como falava, por um lado com Deus, por outro com os homens, fiquei verdadeiramente contente. E feliz”. Feliz também porque a eleição de um cardeal latino-americano mostra que “a Igreja está em movimento, é dinâmica, aberta… Que a Igreja está viva e transborda de novas possibilidades.” Com franqueza, Bento XVI aceita as diferenças entre ele e o Papa Francisco, “o homem da reforma prática”, que tem ânimo para meter mão em ações de carácter organizativo. E confessa humildemente que esse não é o seu ponto forte. Os grandes homens são também humildes.

Mudança de diretor

A partir do mês de dezembro, a revista terá um novo diretor: o padre Albino Brás. Do seu trabalho pastoral nas favelas do Rio de Janeiro passou para a animação missionária e juvenil em Fátima e daí para o trabalho pastoral no Bairro do Zambujal, Amadora. A ele e a toda a equipa de FÁTIMA MISSIONÁRIA desejo uma comunicação aberta, e a todos os leitores deixo aqui um sincero obrigado pela vossa atenção e apoio. Darci Vilarinho


PONTO DE VISTA

GUTERRES INFINITAMENTE PEQUENO INFINITAMENTE GRANDE CARLOS LIZ . ESPECIALISTA EM ESTUDOS DE OPINIÃO E DE MERCADO .

No jornal El País de 6 de outubro lê-se a seguinte história: “num recente encontro com jornalistas estrangeiros, Guterres encarregou-se pessoalmente de colocar cada cadeira numa única fila, de modo que não houvesse uns jornalistas à frente de outros. Quando acabou a sessão, nós os jornalistas saímos em debandada, enquanto ele colocava as vinte cadeiras no mesmo lugar onde as havia encontrado”. Este pode ser um bom retrato do novo secretário-geral da ONU: o seu lugar é o de ocupar o centro, ser o orador e o líder com escala global, o que convive com as maiores estrelas mundiais, mas é igualmente dele o lugar nos acampamentos de refugiados, dos bairros pobres da Lisboa antiga. E como conta esta crónica de Javier Martín o lugar de desarrumador de cadeiras, para criar paridade e de arrumador de cadeiras para restabelecer a ordem, que importa respeitar. Curiosamente, esta amplitude de gestos em António Guterres, esta maneira de ser atenta e praticante do muito grande e do muito pequeno, não está sozinha na atual paisagem mediática de origem portuguesa: com ele se encontra a figura de Marcelo Rebelo de Sousa – Presidente, que faz da Proximidade um programa político para um país com “grandeza secular”– e Fernando Santos, selecionador da

equipa de futebol campeã da Europa, que toma como direção depois da consagração “trabalhar mais, mais e mais”. Para os leitores da FÁTIMA MISSIONÁRIA esta é uma sugestiva coincidência: três nomes portugueses de primeiro plano, portadores de uma rara combinação de sucesso em alta escala com humildade e proximidade e todos assumidamente católicos… Os leitores não deixarão de se lembrar da radical vida de serviço proposta e vivida por Jesus Cristo e não passarão ao lado dos novos gestos do Papa Francisco. E falar de Fé é falar de humano pleno. No seu discurso, na aclamação como novo secretário-geral, Guterres sublinha a importância de combater a desigualdade de género e anuncia que “a proteção e capacitação das mulheres e das meninas vão ser uma prioridade”. Ao leitor ocorrerá, provavelmente, a decisão de Francisco, a 12 de maio, de criar uma comissão para estudar a possibilidade do diaconado feminino e ao apontar para um melhor reconhecimento do lugar das mulheres onde se tomam decisões na Igreja. Decididamente, como escreveu António Rego no CM de 18 de setembro: “O Espírito sopra onde quer e está em todos nós. Nada de bom fazemos sem Ele”. Deixemo-nos levar, então, pelo irrequieto Espírito que estamos a ver à nossa frente…

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horizontes

NÃO PODEMOS FICAR ATRÁS Texto | Teresa Carvalho Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Doutor Duarte veio à sala de espera receber o seu novo paciente. – Senhor Nuno?! Levantou-se um rapazinho aparentando 16 anos. Ao seu lado, um senhor de barba grisalha permaneceu sentado, mas seguiu Nuno com o olhar, encorajando-o quando este olhou para trás. O que chamou de imediato a atenção do doutor Duarte foi a palidez e o olhar triste de Nuno. Dir-se-ia que se sentia perdido. – Quer que o seu pai entre, Nuno? – Ah, não é meu pai. Aquele senhor vem acompanhar-me, mas eu nem o conheço. – Não!? – Não. Eu estava sentado num banco do Centro Comercial, cheio de dores e este senhor veio perguntar-me se eu precisava de alguma coisa. Disse-lhe que estava com muitas dores. Ele fez-me muitas perguntas e depois ofereceu-se para me trazer a um médico que tinha fama de ser muito bom. Eu recusei, mas ele insistiu e disse que ficaria muito contente se eu aceitasse que ele pagasse os tratamentos necessários. – E que dirão os teus pais? – Eu só tenho mãe, mas ela trabalha muito e eu não quero preocupá-la com mais este problema. Depois da observação cuidadosa e de prescrever os exames e terapêutica necessários, o doutor Duarte propôs chamar o senhor de barba grisalha, para perceber melhor a situação. – Senhor doutor, estou aqui para assegurar que o Nuno terá tudo o que precisa para ficar bem. – No caso do Nuno precisamos de vários exames algo dispendiosos e… – Nesse caso, penso que o Nuno não se recusará a fazê-los. O resto, será comigo. Deixo o meu cartão e agradeço que me contactem para algo que seja necessário. 06

Fátima Missionária

Duarte agradeceu e olhou para o cartão – apenas o nome, Carlos Mello, e o telefone. Cumprimentaram-se e Nuno saiu com o senhor Carlos, deixando o médico surpreso, a olhar para aquele cartão como se tentasse descobrir a razão para uma atitude tão digna. No fim da tarde, o doutor Duarte foi à reunião marcada com Ricardo, o seu sócio da clínica. Contou-lhe o sucedido. Aquele acontecimento lembrara-lhe uma história do Evangelho, a Parábola do Bom Samaritano. Fazendo o paralelo, nesta história do Nuno ele tinha o papel de estalajadeiro, mas este não era o papel que ele queria ter. – Ricardo, se um desconhecido do rapaz que passou a ser nosso paciente vem aqui para lhe pagar o tratamento, nós não podemos ficar atrás! Devemos ser nós a fazer isso. – Isso é interessante, Duarte! Há dias li um artigo de um economista que dizia que tudo o que temos de sobra não nos pertence: pertence a quem não tem o suficiente. Segundo ele, esta seria uma premissa para resolver o problema da pobreza. Fiquei com vontade de fazer alguma coisa, mas não te disse nada porque pensei que me ias achar louco. – Até hoje, talvez, mas depois disto… Decididos a pôr em ação “Não Podemos Ficar Atrás”, naquela clínica passou a haver um número mensal de “consultas especiais”, atribuídas aos que não podiam tratar-se por falta de meios financeiros. A partir de então o doutor Duarte e o seu colega Ricardo passaram a realizar o papel que escolheram ter na parábola do Bom Samaritano: o de “Bom Samaritano”. Tal como acontecera com eles naquele encontro com o senhor de barba grisalha, outros houve que se deixaram envolver e “não quiseram ficar atrás”. E a cadeia de Bom Samaritano continua a aumentar!


destaque

o conflito na Síria, a tensão entre a Europa, os EUA e a Rússia e o aumento da tensão na Ásia devido à disputa da hegemonia regional por parte de países como a China e o Japão. Para além disso, Guterres herda uma instituição que tem sofrido algum desgaste internacional e a exigir profundas reformas internas. Não admira que, face a esta complexidade, a eleição de Guterres para o mais alto posto da administração da ONU fosse considerada uma vitória pessoal, não obstante todos os esforços político-diplomáticos que certamente envolveram.

António Guterres, secretário-geral da ONU

A vitória dos valores cívicos Texto | CARLOS CAMPONEZ Foto | LUSA

A eleição de António Guterres para secretário-geral da Organização das Nações Unidas surpreendeu-nos e vale a pena pensar porquê. Guterres nasceu num país pequeno, supostamente pouco valorizado no xadrez internacional; candidatou-se ao mais alto cargo de uma organização mundial, onde as decisões políticas predominam; apresentou-se num contexto em que o perfil privilegiava uma mulher e/ou alguém da Europa de Leste; apostou numa estratégia de transparência, numa estrutura que é conhecida pela sua opacidade. À partida, Guterres tinha como principais trunfos da sua candidatura o trabalho realizado durante os dez anos (2005-2015) como

Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, o reconhecimento internacional acerca da solidez das suas convicções, a sua capacidade de diálogo e o conhecimento interno acerca do funcionamento da ONU. A embaixadora dos Estados Unidos da América (EUA) na ONU comentou com humor que “ser mulher não é uma das muitas qualidades” de António Guterres, nem tão-pouco, poderíamos nós acrescentar, o de ter nascido no Leste europeu e de dominar línguas eslavas. Porém, Guterres conseguiu reverter os condicionalismos, que à partida se colocaram ao perfil do futuro secretário-geral, e impor a qualidade da sua candidatura num contexto político internacional complexo:

A política como causa pública

Fundamentalmente, Guterres conseguiu reverter a seu favor o facto de, desta vez, as Nações Unidas terem permitido que os candidatos apresentassem publicamente as suas propostas e as submetessem ao escrutínio dos seus 187 membros. O tom praticamente unânime e expectante acerca da sua eleição parece fazer esquecer uma questão fundamental: que o cargo do secretário-geral da ONU é o de um alto funcionário administrativo, fortemente dependente da vontade dos Estados-membros, em particular, dos membros do Conselho de Segurança, bem como dos seus financiamentos. As expectativas, que muitos já consideram de excessivas, colocadas em torno da figura do novo secretário-geral da ONU reside no seu profundo significado cívico, raramente evidenciado pelos media. Guterres mostrou, para já e em contra corrente, que a força das convicções não é um esforço inútil dos idealistas, que o trabalho sério de preparação vale a pena e que a política é uma das funções mais nobres quando posta ao serviço dos outros. Do resto nos falará o futuro.

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mundo missionário

por E. assunção

Síria

Crianças de Aleppo clamam por paz na rua Centenas e centenas de crianças de Aleppo e de várias outras cidades da Síria desceram à rua, no início de outubro, para pedir a paz para todo o país. Os seus cânticos e orações opunham-se fragilmente aos estrondos das bombas que, ao mesmo tempo, caíam sobre os bairros da cidade de Aleppo, provocando mortos e feridos. No final da manifestação, as crianças e jovens assinaram

um apelo à paz, para entregar aos representantes das Nações Unidas e da União Europeia. Segundo o bispo de Aleppo, Antoine Audo, vive-se “numa situação generalizada de terror, embora se procure manter abertos os organismos públicos”. Diariamente a cidade é atingida por uma chuva torrencial de disparos de artilharia e de armas sofisticadas que espalham o terror e a morte. Lamentando o

silêncio dos meios de comunicação ocidentais, o prelado acrescenta: “A nós que estamos aqui [a sofrer], parece-nos que todo o aparelho mediático global seja manobrado por interesses geopolíticos que manipulam a informação. Tudo se transforma em pretexto de propaganda. E continua-se a esconder o papel e as operações montadas por países como a Turquia, o Qatar e a Arábia Saudita”.

PerU

Venezuela

A pobreza e a falta de instrução estão a causar graves problemas no desenvolvimento de milhares de jovens nas zonas mais precárias do Peru. Nove em cada dez meninas da Amazónia não terminam os estudos. O mesmo acontece a sete meninas de língua quechua. O abandono escolar tem várias causas, sendo a pobreza extrema a principal. Em geral, as famílias mandam os filhos à escola, mas descuidam as meninas. As longas distâncias são outro fator, sucedendo que, por vezes, não há escolas nas zonas rurais. Além disso as mães que não tiveram essa possibilidade, não percebem a importância que a escola tem na vida das suas filhas. Deste modo gera-se o ciclo da pobreza que se perpetua de geração em geração.

A situação nas prisões da Venezuela tem vindo a degradar-se progressivamente e está a atingir níveis intoleráveis. Há notícia de presos mortos devido à tuberculose e à falta de assistência médico-sanitária, além de falta de alimentação. “Apoiamos o apelo que as famílias, designadamente esposas, filhos e mães dos presos, estão a fazer pelos seus familiares detidos: são seres humanos, cidadãos venezuelanos, que têm direito a ser ouvidos e respeitados”, denuncia a Comissão Justiça e Paz da Venezuela. “Falta de informações credíveis, morte de presos por tuberculose, proibição de visitas, falta de alimentos e maus tratos” constam na denúncia da Comissão. Os próprios detidos lançaram vídeos na internet com a súplica para não os deixar morrer sós, mostrando a triste situação em que vivem. Tal facto causou enorme indignação entre os seus familiares, impotentes para intervir.

Abandono escolar atinge nove em cada dez meninas

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Fátima Missionária

Revolta contra a situação nas cadeias


MUNDO MISSIONÁRIO GUINÉ

DESENVOLVIMENTO CONTRA A MIGRAÇÃO CLANDESTINA OU LEGAL

África está horrorizada diante da tragédia da migração clandestina que provoca a morte de tantos jovens africanos que perdem a vida na miragem de conseguir uma vida melhor na Europa. Num convénio organizado em Conacri, capital da República da Guiné, sobre juventude e migração, foi denunciada a ilegalidade da migração clandestina, tendo sido afirmado que só num quadro legar o migrante pode

conseguir benefícios. Por outro lado, o ex-ministro guineense dos Negócios Estrangeiros deixou bem claro que é necessário redistribuir a riqueza para opor-se à migração: “É inconcebível para um país pobre como a Guiné que os recursos nacionais estejam concentrados nas mãos de poucos. Hoje a aposta é colocar à disposição dos jovens meios para que possam permanecer no país e progredir na vida”.

JORDÂNIA

AUMENTO DE REFUGIADOS PERIGOSO E INSUSTENTÁVEL

Com 2,7 milhões de refugiados e deslocados, a Jordânia ocupa o primeiro lugar na classificação das Nações Unidas, a que se seguem a Turquia (2,5 milhões), o Paquistão (1,6) e o Líbano (1,5). De acordo com dados da Amnistia Internacional, metade dos refugiados de todo o mundo está concentrada em 10 dos 193 países membros das Nações Unidas. A esta realidade, que poderá ser bem mais pesada, acresce que os países mais ricos e desenvolvidos são os que acolhem um número muito reduzido de refugiados. O diretor da Cáritas jordana, Wael Suleiman, afirma que “a Jordânia está aberta a todos e estamos conscientes de que desenvolvemos uma missão humanitária importante e queremos continuar”. Todavia chegou-se ao ponto em que “os jordanos são hoje mais pobres que muitos refugiados. Se a comunidade internacional não toma consciência desta situação explosiva e não intervém apoiando o esforço de todo o país, chegará o momento em que as portas de entrada serão fechadas, obrigando a repatriar quem fugiu à fome e às guerras”.

NIGÉRIA

ALTOS MAGISTRADOS ACUSADOS DE CORRUPÇÃO

Quinze juízes da Nigéria estão a ser inquiridos por serem acusados de terem furtado mais de 700 mil euros, após investigação realizada aos seus domicílios. Por sua vez, sete altos magistrados foram presos e acusados de corrupção, tendo sido libertados mediante caução. “É sabido que quem tem dinheiro consegue obter uma sentença favorável”, explicou o arcebispo de Abuja, cardeal John Onaiyekan. “Na minha opinião chegou a hora dos juízes corruptos serem expulsos da magistratura, depois de um processo claro e transparente, de modo que o país inteiro saiba do que se trata”.

TOBIAS OLIVEIRA MISSIONÁRIO PORTUGUÊS DA CONSOLATA EM ROMA

ANO DA MISERICÓRDIA A 20 de novembro termina o Ano Santo da Misericórdia. Em Roma este ano foi vivido como uma graça extraordinária e os peregrinos que aqui acorreram foram para nós um desafio, ao mesmo tempo que o Papa Francisco, com a sua palavra e exemplo, nos manifestava que a misericórdia não é só para ser recebida, mas também para ser distribuída. Esperamos que a Igreja, ou seja cada um de nós, nunca deixe de ser distribuidora de misericórdia. Deixai que vos convide a considerar a nossa condição humana que habitualmente nos leva a um certo desconcerto porque observamos que tudo caminha para o fim. Acaba a juventude, fragiliza-se a saúde, chega a velhice e é fácil esquecer que cada fim é porta aberta para um novo início. O Ano da Misericórdia termina, mas os seus ensinamentos permanecem. A Bíblia diz-nos que “há um tempo para cada coisa debaixo dos céus” e que portanto não podemos confiar na saúde ou nas riquezas e nem sequer na vida do corpo porque tudo passa até à grande passagem quando “a vida não acaba, apenas se transforma”. Tudo isto para reiterar que a misericórdia não vai terminar. Temos à nossa frente o desafio “sede misericordiosos como é misericordioso o vosso Pai que está nos céus”.

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a missão hoje Tanzânia

Meninos de Mkundi já têm escola “Asante Sana”, que em português significa “muito obrigado”, foi a palavra mais ouvida pelos jovens voluntários de Águas Santas (Maia), que este verão rumaram à Tanzânia, com um duplo objetivo: conhecer e ajudar o povo de Mkundi. No regresso, trouxeram mais do que uma lição de humildade. Trouxeram o caloroso agradecimento da comunidade, por terem ajudado a dar corpo ao projeto anual dos Missionários da Consolata em Portugal - “Quero ir à escola, ajudas-me?” Participaram na construção da nova escola e na reabilitação de dois infantários Texto | Thomas Mushi Fotos | CRISTINA SILVA

As crianças de Mkundi, na Tanzânia, vão iniciar o próximo ano letivo em janeiro de 2017 na nova escola construída com a ajuda dos jovens voluntários portugueses

Era muito trabalho para um mês. Mas os jovens acreditaram que era possível. Ergueram duas salas de aula, pintaram paredes, e concretizaram tudo o que tinham programado cuidadosamente antes da partida. Com o apoio de todos os que contribuíram para o projeto, conseguiram deixar uma ‘semente’ que 10

Fátima Missionária

promete transformar a vida das crianças da aldeia de Mkundi, na região de Morogoro. Daí terem sido brindados constantemente com a expressão “Asante Sana”, em swahili. A todos estes agradecimentos, eles responderam: “Valeu a pena”. Mas demos a palavra aos protagonistas.


perfil solidário

Cristina Soares: “Atrevo-me a dizer que me sinto inteiramente feliz, de coração cheio, por ter acreditado em mim, por ter partido para tão longe a abraçar este projeto. Houve momentos em que me senti triste, desanimada, confusa e com muitas saudades de casa. Confesso que pensei desistir… Ainda bem que não pude. Vivi intensamente a aventura até ao fim.” Pedro Ribeiro: “Os sorrisos das crianças e os seus braços estendidos quando chegámos a Mkundi. Foi indescritível! Fiquei extasiado, quase sem reação. Acho que só aí percebi a magnitude da iniciativa. Espero sinceramente voltar”. Sónia Cunha: “Há uma imensidão de necessidades básicas ainda por suprir, mas há também um povo muito acolhedor e com uma alegria genuína em nos receber. O espírito de comunidade e entreajuda são muito vivos. As pessoas cuidam e preocupam-se umas com as outras e o tempo livre é passado em comunidade”. Cristina Silva: “São pessoas muito acolhedoras, preocupam-se com o bem-estar dos seus convidados. Dão o pouco que têm e não se importam que não chegue para eles. Vivem muito o presente sem fazer grandes planos para o futuro. São felizes à sua maneira. O que mais me impressionou foram sem dúvida os orfanatos. Crianças tão pequeninas e indefesas e já com histórias de vida muito tristes. Para além de bens materiais, as crianças têm muita carência afetiva”. Vanessa Cardoso: “Todos os dias, este povo fantástico com que me cruzei me mostrava algo novo, uma nova e diferente perspetiva, que me levou a mudar a maneira de viver e ver certas coisas. A alegria com que as crianças vivem é surpreendente, carecem de necessidades básicas, mas contagiam com o seu entusiasmo e sorriso genuíno. A humildade e o acolhimento dos mais velhos sensibilizou-me imenso, fizeram sempre com que me sentisse em casa, mesmo estando a milhares de quilómetros da minha zona de conforto. A missão significou para mim a mudança de hábitos, a valorização e simplificação das mais diversas realidades que enfrentamos no dia a dia”.

Mãe de coração imenso Texto | FP

Alexandra Borges, 48 anos, é jornalista, mas não se fica pela objetividade da informação. Procura sempre ir mais longe, deixar-se envolver nas causas, sobretudo as relacionadas com os direitos humanos. Foi assim, que em 2007, insistiu com a direção da TVI para que a deixassem ir fazer uma reportagem ao Gana, onde se suspeitava existir escravatura infantil, na região do Lago Volta. O que encontrou no terreno, ao ver milhares de crianças a trabalhar 14 horas por dia, sete dias por semana, em troca de um prato de mandioca por dia, mudou a sua vida. “É a indiferença que está a matar aquelas crianças. E aquele silêncio ensurdecedor que ouvi no Lago Volta, quando estamos perante milhares de crianças e não ouvimos um sorriso ou uma voz, é assustador. Decidi quebrar aquele silêncio e ser a voz daquelas crianças. Elas não conseguem chegar a ninguém, falam dialetos, não têm documentos, se elas desaparecerem ninguém as vai procurar”, disse a jornalista numa entrevista. Sensibilizada, Alexandra Borges começou por resgatar três destas crianças da mão dos traficantes e assumiu os custos com a sua educação. Já em Portugal, fundou a Associação Filhos do Coração, que financia – em parceria com a Touch a Life Kids – um Centro de Acolhimento no Gana, onde vivem 72 das 93 crianças resgatadas à escravatura infantil.

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a missão hoje

da situação, e a perceber que há ali muita desumanidade e injustiça. No fundo, são os índios que acabam por converter os missionários e, juntos, vão criando uma história nova.

Passada uma década após a homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, que desafios se colocam agora às comunidades indígenas dessa região?

Lêda Martins, antropóloga, conta publicar o resultado a sua investigação até ao final do ano

“Há um preconceito grande em relação aos índios” O papel dos missionários junto dos povos indígenas de Roraima, no norte do Brasil, tem passado um pouco ao lado dos estudos antropológicos. A antropóloga brasileira Lêda Martins mergulhou nos arquivos do século passado e pondera lançar um livro sobre o tema Texto e Foto | FRANCISCO PEDRO

Está a fazer um estudo antropológico sobre o trabalho dos Missionários da Consolata, em Roraima, no Brasil. Qual é o foco da pesquisa?

os índios yanomami, é louvável e até inovador em termos culturais e humanos. Mas do ponto de vista amazónico, o trabalho revolucionário foi com os povos do lavrado.

O ponto de partida é a década de 1960, quando os missionários assumem fazer uma opção pelos pobres e pelos desfavorecidos, e mudam de uma relação com a elite e com os fazendeiros de Roraima, para uma relação com os índios, em particular com os macuxi, wapichana e ingarikó, do lavrado da Raposa Serra do Sol. O trabalho dos missionários no Catrimani, com

Revolucionário porquê?

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Fátima Missionária

Através da leitura dos primeiros relatos dos missionários, vê-se claramente que eles não chegaram a Roraima direcionados para o trabalho com os índios. Num primeiro momento, eles centraram a sua ação junto da elite e das fazendas. Depois, talvez fruto do Concílio Vaticano II, começam a fazer uma outra leitura

Bem, desde que foram retirados os fazendeiros e os arrozeiros, os índios vivem o seu quotidiano com muito mais tranquilidade, porque têm o controlo da terra pela qual lutaram mais de 30 anos. Porém, confrontam-se agora com o desafio de se inserirem no mercado, na sociedade ocidental e capitalista, sem com isso perderem a identidade e autonomia. E, neste momento, não têm respostas claras sobre como o conseguir. Penso que os missionários e a Igreja de Roraima podem, mais uma vez, ajudar nesse processo de reflexão, estabelecendo uma espécie de diálogo amazónico, sem perder o interesse pelos indígenas.

Ainda há um sentimento anti-indigenista em Roraima? Sim, há um preconceito muito grande em relação aos índios. Ainda há uma classe política muito conservadora e anti-indigenista, com muitas críticas ao papel da Igreja. Mas há também uma visão diferente, sobretudo das novas gerações, que demonstram curiosidade e entendimento pela riqueza cultural dos indígenas. E esse é o momento para um novo diálogo dos missionários e da Igreja com a população local, para explicar o que a Igreja fez e o porquê dessa relação com os índios.


FÁTIMA INFORMA

‘Milagre do Sol’ recriado em Fátima Obras de arte e outros testemunhos materiais reproduzem o fenómeno através de uma exposição

Texto | JULIANA BATISTA Foto | ARQUIVO SANTUARIO DE FÁTIMA

Vários “mecanismos sensoriais” recriam o ‘Milagre do Sol’ na nova exposição do Santuário de Fátima, que abre ao público dia 26 de novembro, no Convivium de Santo Agostinho, localizado no piso inferior da Basílica da Santíssima Trindade. Com o título “As cores do Sol: a luz de Fátima no mundo contemporâneo”, a mostra recorda o dia da última aparição da Virgem Maria em Fátima, a 13 de outubro de 1917. A exposição não apresenta o ‘Milagre do Sol’ como o “momento de clausura” da história das aparições, mas sim como “o dia inicial de uma história em que o peregrino passa a ser verdadeiro protagonista”, referem os serviços de comunicação do santuário.

Fraternidade

O Movimento dos Focolares, que procura contribuir para a realização da unidade e da fraternidade universal, celebra 50 anos de presença em Portugal e vai reunir os seus membros para uma celebração no Santuário de Fátima, no dia 6 de novembro.

Padroeira da Europa

A vida e obra de Edith Stein, “judia, filósofa, cristã, carmelita, mártir, santa e padroeira da Europa”, será recordada durante um congresso na casa Domus Carmeli, em Fátima,

No ano do Centenário das Aparições, esta exposição é apresentada como a “mais ambiciosa” de sempre. A mostra conta com peças confiadas por colecionadores particulares e instituições como o Museu da Fundação Calouste Gulbenkian e o Núcleo de Documentação e Arquivo da Direção de Serviços de Documentação, Comunicação e Relações Públicas do Ministério da Economia. Com comissariado e museologia de Marco Daniel Duarte, arquitetura de Maria Joana Delgado e design de Inês do Carmo, a exposição pode ser visitada todos os dias, das 09h00 às 19h00, até 31 de outubro de 2018. A entrada é livre.

de 25 a 27 de novembro. Com o nome “A busca da verdade em Edith Stein”, o encontro é organizado pelos Carmelitas Descalços.

Novo trajeto

Com 53,2 quilómetros, o “Caminho Poente” é um novo percurso para peregrinos que liga Nazaré a Fátima, desde o passado mês de outubro. O trajeto é considerado “o mais bonito e o mais duro” de todos os caminhos para peregrinos assinalados pela Associação de Amigos dos Caminhos de Fátima.

Agenda

NOVEMBRO

DIA 14 Assembleia dos Superiores dos Institutos Religiosos ATÉ DEZEMBRO Exposição coletiva 25 anos, no Consolata Museu DIAS 3 e 4 Dezembro

Retiro de Advento na Consolata

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Fรกtima Missionรกria


ATUALIDADE

“Ainda é possível viver com autenticidade” A partir de uma quinta no Cacém, jovens de várias nacionalidades ajudam os portugueses enquanto rumam ao sacerdócio Texto | JULIANA BATISTA Foto | Ana Paula

Cinco jovens, oriundos do Uganda, Tanzânia, Quénia, Brasil e Colômbia, estão em Portugal a dar o seu contributo em hortas comunitárias, a apoiar escuteiros, a aconselhar e a animar adolescentes, a estudar, a trabalhar e a rezar. Todas estas atividades são parte de um percurso que os tornará sacerdotes. O noviciado e os primeiros votos já estão feitos. Agora é tempo de fazer a licenciatura e mestrado integrado em Teologia. No horizonte têm em vista a profissão perpétua, o diaconado e a ordenação sacerdotal. O projeto em que estão inseridos é denominado como Comunidade Apostólica Formativa e iniciou pela primeira vez em Portugal este ano letivo, no Centro Missionário Padre Paulino, espaço também conhecido como Quinta do Castelo, localizado no Cacém, em Lisboa, e propriedade dos Missionários da Consolata. É dirigido pelo italiano Ermanno Savarino, de 39 anos, e pelo queniano Bernard Obiero, de 33, ambos missionários da Consolata. O sacerdote europeu identifica o projeto como “um pequeno seminário”. “A diferença entre os grandes seminários e este, é que aqui há poucas pessoas. A ideia é que sendo menos pessoas, seja um pouco mais fácil viver a dimensão fraterna.” Por sua vez, o missionário africano destaca o “ambiente pastoral e social” vivido por um grupo que é “multicultural”. A variedade de culturas é apenas um dos benefícios que os jovens identificam. “É muito importante e bonito poder partilhar isto com pessoas de nacionalidades distintas. Aqui posso conhecer a cultura deles dentro de um país e de uma cultura que não é a nossa”, exemplificou o colombiano Carlos Andrea Erazo Giraldo, de 24 anos. Para o queniano David Murimi, é a possibilidade de fazer a sua formação, estando ao mesmo tempo em missão, que tanto lhe agrada. “Estamos a preparar-nos para ser padres e aqui estamos todos os dias em missão porque a comunidade formativa está inserida na missão”, realçou o jovem de 25 anos.

Já a natureza e os seus sons, tão característicos do local, são especialmente valorizados pelo ugandês Malunga Francis, de 28 anos. “Este é um lugar muito grande, com árvores e paisagens muito bonitas. Quando eu rezo junto da natureza sinto-me muito tranquilo”, contou. O tanzaniano Delphinus Kalatunga, de 26 anos, pensa já na mais valia que este projeto representa para o seu futuro. “Acho esta formação muito boa para seguir o caminho do sacerdócio”, disse. A vida comunitária é o elemento que mais cativa Leandro Baseggio. “A partir do momento em que vivo em comunidade, não é só a minha vontade que conta, mas é a vontade do David, do Delphinus, do Carlos e do Francis, e eu tenho de passar a respeitar isso. Numa sociedade onde se procura muito a individualidade, na vida comunitária deixamos de exercer um pouco essa individualidade para sermos mais irmãos. Acho que são coisas que hoje chocam um bocadinho, mas que nos fazem também repensar nos valores de tudo isto. Hoje mostramos que ainda é possível viver com autenticidade os votos de pobreza, castidade e obediência”, frisou o brasileiro de 26 anos. A solidariedade é uma prática diária no local. Na residência dos Missionários da Consolata, à hora das refeições, todos se sentam à mesma mesa: sacerdotes, seminaristas, cozinheiras e restantes trabalhadores. Entre os que moram no espaço há quem lute por se reintegrar na sociedade. “Vive connosco uma pessoa que enfrentou problemas de dependência de álcool. Quer combater esse problema, mas não tem habitação própria nem laços familiares. Por isso, partilha connosco a casa e a mesa. Oferece-nos a sua ajuda, restabeleceu já os contactos com os serviços sociais e está a fazer o seu percurso de recuperação”, explicou Ermanno Savarino. Para o missionário italiano, este é um exemplo real de missão. “Acreditamos que é fundamental para uma comunidade a abertura real aos pobres e aos últimos. A presença na nossa mesa de um pobre é uma riqueza. Tentamos fazer o pouco que podemos, mas estamos a mexer com a vida de uma pessoa com um problema real. Acho que isto é a missão.”

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Um muro que di a própria Amér 16

Fátima Missionária


divide rica

DOSSIER

Dia 8 de novembro os americanos vão escolher entre a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump quem vai ser o próximo presidente. De um lado, uma política experiente, ex-primeira-dama, ex-senadora e ex-secretária de Estado. Do outro, um magnata que marcou a campanha com tiradas protecionistas, sexistas e xenófobas. Uma das promessas de Trump é construir um muro na fronteira com o México, ideia que mais do que separar esse país dos Estados Unidos da América está a dividir os próprios americanos, pois os hispânicos fazem parte da alma do país, cada vez mais multicultural e cada vez menos anglo-saxónico Texto e Fotos | Leonídio Paulo Ferreira*

Estende-se da Califórnia ao Texas a fronteira entre os Estados Unidos da América (EUA) e o México. São 3.200 quilómetros que Donald Trump promete, caso seja eleito Presidente americano a 8 de novembro, bloquear para que a imigração ilegal de mexicanos seja travada. Ora, se esse muro de Trump for construído, começará aqui, às portas de San Diego, no posto fronteiriço de San Ysidro. “É um racista. Não lhe admito que diga que os mexicanos não são trabalhadores. Olhe para a minha cara. Estou cansada porquê?”. As palavras de indignação pertencem a Carmen, uma mexicana de Tijuana que todos os dias se levanta antes das cinco da manhã para cruzar a fronteira antes da hora de ponta. Faz limpezas na casa de um advogado de San Diego e é um dos 25 a 30 mil ‘commuters’ transfronteiriços, gente que vive no México mas trabalha na segunda maior cidade

da Califórnia. Carmen, de 40 anos, prefere não dizer o apelido. Explica apenas que está a regressar a meio da tarde porque conseguiu sair um pouco mais cedo do trabalho. É “um dia abençoado”, conta, daqueles em que vai chegar a casa com os filhos acordados. Tem dois rapazes, um já adolescente, o outro pequeno. Chega-se a San Ysidro, vindo de San Diego, de elétrico. Do centro da cidade até à fronteira, sempre cruzando bairros, demora-se uns 40 minutos. Parece muito tempo, pois a distância é de apenas 25 quilómetros, mas as paragens são constantes, com o nome a ser anunciado em inglês e em espanhol. É preciso não esquecer que até à Guerra Mexicano-Americana de 1846 a Califórnia era uma província do México e se não ficaram cá assim tantos falantes de espanhol, a imigração das décadas mais recentes fez com que 40 por cento dos

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californianos sejam hoje hispânicos, cerca de 15 milhões de pessoas. Olhando-se para San Ysidro até parece já haver muro. Há barreiras por todo o lado, com materiais muito diversos, desde betão a arame, e com alturas também irregulares. Só subindo a uma passagem sobre a autoestrada que avança para o posto fronteiriço se consegue ver o lado mexicano. Lá está uma enorme bandeira, lá estão as casas cor de terra que se espalham pelas colinas de Tijuana. Dizem as estatísticas que todos os anos cruzam San Ysidro no sentido sul-norte dez milhões de peões e 25 milhões de carros. Será o posto fronteiriço mais movimentado do mundo, costuma especular-se, mas as autoridades dos EUA limitam-se a reclamar ser o mais usado das Américas. “Já há muros. E câmaras de vigilância por todo o lado. Trump deve querer construir é uma nova muralha da China”, comenta Jorge Larriva, de 50 anos, engenheiro e funcionário público. A conversa decorre na baixa de San Diego, num edifício que pertence à câmara. Larriva tem dupla cidadania e explica a opção de viver em Tijuana com a facilidade de lá comprar casa, muito mais barata do que nos EUA. No seu caso, a travessia da fronteira é facilitada, pois tem um cartão que lhe dá prioridade, mas admite que chega a haver filas enormes, com algumas pessoas, em certos dias, a terem de esperar duas horas. Larriva é outro hispânico que não esconde a revolta com a atitude do candidato presidencial republicano em relação aos mexicanos. Aliás, sempre se manteve afastado da política, mas agora foi-se recensear e conta votar na democrata Hillary 18

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Clinton. A prioridade é manter afastado da Casa Branca o homem que há um ano, ao lançar a candidatura, chamou traficantes e violadores aos mexicanos e prometeu construir um muro que mantivesse longe os candidatos à imigração ilegal e não só. “No outro dia vi na televisão que há um movimento chamado Hispânicos com Trump mas a verdade é que não conheço nenhum”, acrescenta o engenheiro da câmara de San Diego com certa ironia. Hoje os hispânicos representam 17 por cento dos americanos. São já a principal minoria, à frente dos negros. Apesar de origens diversas,

pois tanto podem ter raízes no México como em Porto Rico ou em Cuba, os 55 milhões de hispânicos (também chamados de latinos) tendem a votar nos candidatos do Partido Democrata. Este ano essa tendência deve ser ainda mais notória, culpa de Trump. E pode mesmo cair para níveis mínimos a percentagem de apoio dos hispânicos, depois de ter sido 40 por cento em 2004, quando George W. Bush foi reeleito, 31 por cento em 2008, quando John McCain perdeu para Barack Obama, e de 27 por cento em 2012, quando Mitt Romney também cedeu frente a Obama, o Presidente democrata agora de saída – a tomada de posse do sucessor


O cozinheiro Adrian Caballero, tal como muitos outros mexicanos, encontrou o sucesso profissional nos Estados Unidos da América

de 2004, e não só promete dados novos sobre a comunidade hispânica naquele que é o mais populoso estado americano como também um capítulo extra dedicado a Trump. “É preciso sublinhar que Trump não é nada de novo na história dos EUA. A cada 20 anos, mais ou menos, surge uma onda nativista, com gente que pensa que ser americano é ser branco, protestante e anglo-saxónico”, afirma o médico e académico, ele próprio um hispânico e claramente em desacordo com o republicano.

Hoje os hispânicos representam 17 por cento dos americanos. São já a principal minoria, à frente dos negros

está marcada para 20 de janeiro, como manda a tradição americana. Muito concentrados em alguns estados fronteiriços e também em Nova Iorque e na Florida, os hispânicos até teriam algumas razões para votar no Partido Republicano, pois o catolicismo que professam e os valores familiares a que estão apegados jogam bem com o conservadorismo, mas na realidade o discurso anti-imigrantes tem-nos empurrado para os democratas, cuja ideologia multicultural seduz mais as minorias. Médico em Los Angeles, David Hayes-Bautista prepara a republicação do seu livro ‘La Nueva California’,

Hayes-Bautista também recorda que os hispânicos têm uma história bem antiga nos EUA e que boa parte do território pertenceu em tempos à Espanha ou ao México, como é o caso não só da Califórnia, como do Novo México, do Arizona, do Texas ou da Florida. E relembra que “o hispânico típico hoje não é imigrante, é nascido nos EUA e Trump faz muito mal em desprezá-los fazendo-lhes acusações injustas”. Em marcha parece estar uma mobilização de hispânicos para este processo eleitoral, importante mesmo que as sondagens de final de outubro mostrem que a vantagem de Hillary é substancial, com Trump a ser mais penalizado pelas tiradas sexistas do que pelas xenófobas. No restaurante Loma Bonita, em San Diego, a ementa é 100 por cento mexicana. Tacos, quesadillas, enchilladas, burritos, tudo a preço de atrair americanos, tenham ou não origens a sul da fronteira. Nascido em Guadalajara, mas há tantos anos nos EUA que já é cidadão, o cozinheiro Ádrian Caballero explica que “aqui quem trabalha tem sucesso. E muitos mexicanos sonham por isso com a oportunidade de emigrar”. Sobre as propostas de Trump de

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mandar construir um muro de 3.200 quilómetros e ainda fazê-lo pagar pelos próprios mexicanos, Caballero não mede as palavras: “É um fascista. Não tem maturidade intelectual para dirigir um país, ainda mais um tão grande como os EUA”. Garante que vai votar em Hillary, até porque costuma apoiar os candidatos democratas e sente que os republicanos, e isso já acontecia antes de Trump, “estão a virar as costas aos hispânicos”. O curioso é que foi o Partido Republicano a apresentar nestas eleições, durante as chamadas primárias, candidatos hispânicos, como Marco Rubio, da Florida, e Ted Cruz, do Texas. Mas ambos eram de origem cubana, a comunidade que por razões históricas sempre foi próxima da direita, e de qualquer forma não tiveram hipóteses frente a Trump, que acabou por ser confirmado como candidato do partido. Já no campo democrata, chegaram a ser apontados nomes de hispânicos para o candidato a vice-presidente de Hillary, como Tom Perez e Julian Castro, ambos membros da administração Obama. A escolha, porém, foi Tim Kaine, senador e ex-governador da Virginia, um católico que chegou a ser missionário com os jesuítas na América Central e que fala espanhol. *jornalista do DN, em San Diego

NENHUM HISPÂNICO, SÓ UM CATÓLICO Estas presidenciais americanas podem ser históricas: se Hillary Clinton ganhar será a primeira mulher presidente, tão marcante como em 2008 Barack Obama ter-se tornado o primeiro negro eleito para a Casa Branca. Mas nunca houve um hispânico presidente, nem um asiático. Mesmo em termos de religião, a regra tem sido sempre a eleição de um protestante, 20

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como acontecerá de novo ganhe Hillary ou Donald Trump. O único presidente católico dos Estados Unidos foi John Kennedy, de origem irlandesa. Em 2012, o candidato republicano, Mitt Romney, era mórmon. E este ano, nas primárias democratas, disputando a nomeação pelo partido, destacou-se o judeu Bernie Sanders.


HILLARY, CAMPEÃ DAS MINORIAS

TRUMP, DEFENSOR DA VELHA AMÉRICA

Hillary Clinton sabe que o voto hispânico é dela. A maior minoria dos Estados Unidos vota nos democratas. E mais ainda quando o candidato republicano é um Donald Trump que promete construir um muro na fronteira com o México. Mas mesmo assim não quis arriscar. Se não escolheu um candidato a vice-presidente latino – e Julian Castro era um nome forte – a antiga primeira dama optou por Tim Kaine, um ex-governador que aprendeu espanhol com os missionários jesuítas nas Honduras. Se alguém tinha dúvidas, esta foi mais uma prova da experiência da candidata democrata. Aos 69 anos (feitos a 26 de outubro), Hillary passou mais de metade da sua vida na alta política americana. Começou como primeira dama do Arkansas, depois foi primeira dama dos Estados Unidos e por fim senadora por Nova Iorque e secretária de Estado de Barack Obama, o homem que a derrotou nas primárias democratas de 2008. Nascida em Chicago, esta filha de um republicano chegou a fazer campanha por Barry Goldwater em 1964. Formada em Ciência Política em Wellesley, a guerra do Vietname e a luta pelos direitos cívicos dos negros fizeram Hillary aproximar-se dos democratas. Em Yale, onde tirou Direito, conheceu Bill Clinton. Casados desde 1975 e pais de Chelsea, nascida em 1980, os Clinton tornaram-se no casal mais poderoso da política americana. Muito ativa mesmo durante a presidência do marido, Hillary decidiu em 2000 candidatar-se ao Senado. Venceu. Em 2008 fez a primeira tentativa para se tornar a primeira mulher presidente dos EUA. Um fenómeno chamado Barack Obama tirou-lhe o sonho logo nas primárias. Agora, oito anos depois, mais experiente e mais sábia, volta a tentar. Vamos ver se desta vez é Trump quem lhe barra o caminho de regresso à Casa Branca. Desta vez seria provavelmente de vez.

Construir um muro na fronteira com o México. Em mais de um ano de campanha para as presidenciais americanas esta é uma das poucas medidas concretas que Donald Trump apresentou. Desde o primeiro momento que o candidato republicano se destacou pela oposição aos imigrantes. Começou por ameaçar expulsar os 11 milhões de ilegais que vivem neste momento nos Estados Unidos da América, chamou “violadores e traficantes” aos mexicanos, declarações que veio depois suavizar. Mas só um bocadinho. Os imigrantes não seriam todos expulsos, mas mesmo assim seriam “milhões” logo “na primeira hora em que chegar à Casa Branca”. A verdade é que nunca pediu desculpas pelos insultos. Trump é assim. Diz tudo sem temer as consequências. Nascido em Queens, foi em Nova Iorque que cresceu e ali que começou o seu império, com um “pequeno empréstimo” de um milhão de dólares do seu pai, de quem herdou ainda o negócio do imobiliário. Hoje, aos 70 anos, tem várias Torres com o seu nome, a mais conhecida na Quinta Avenida, a mais luxuosa de Nova Iorque. A sua fortuna é avaliada em 3,7 mil milhões de dólares pela revista Forbes, mas ele garante que é muito maior. Surpresa da campanha, quando Trump anunciou a candidatura à Casa Branca, em junho de 2015, poucos acreditavam que fosse a sério. Com uma mensagem antissistema, anti-imigração, anti-islâmica, o milionário ganhou uma base de apoio numa classe média descontente com os políticos profissionais e com uma recuperação da economia que não sente. Se conseguirá chegar à presidência, é a grande dúvida. Se os Estados Unidos sobreviveriam a uma administração Trump? Sobreviveriam.

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mãos à obra

Quando uma simples bicicleta faz toda a diferença No mundo tecnológico em que a generalidade da sociedade dita desenvolvida está mergulhada, uma bicicleta será apenas mais um artigo desportivo, de diversão ou de lazer. Mas na República Democrática do Congo, ainda é um importante e quase inacessível meio de locomoção que pode fazer toda a diferença, sobretudo para os professores Texto | Francisco Pedro Foto | DR

Imagine uma zona de floresta densa, atravessada por trilhos sinuosos, esburacados na época da seca, enlameados no tempo das chuvas. Agora imagine-se a fazer esse caminho a pé, todos os dias da semana, muitas vezes na companhia apenas dos sons da selva, durante o tempo suficiente para cumprir entre seis a 20 quilómetros. Parece um mero desafio, fruto da imaginação? Puro engano. Esta é a realidade que enfrenta a maioria dos professores do

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ensino básico e secundário da região de Neisu, na província oriental da República Democrática do Congo (RDC). E é aqui que entra a importância da bicicleta. Se a tiverem, os docentes podem chegar às aulas a horas, menos cansados e mais disponíveis para ensinar. Por outro lado, ao fim de semana e nas férias podem emprestá-la aos familiares, para que possam transportar os produtos agrícolas da aldeia para o mercado ou do mercado para a aldeia, e assim assegurarem o sustento do lar. A pedaleira tem ainda a vantagem de não necessitar de combustível e requerer pouca manutenção. O problema é comprá-la. É necessário importá-la do Uganda e o negócio não se consegue fechar por menos de 160 euros por unidade. E é aqui que entram em cena os missionários da Consolata que trabalham na missão de Neisu. Os religiosos criaram um projeto, orçado em 26 mil euros, que tem como objetivo final a compra de bicicletas para fornecer a cerca de 160 professores. Os primeiros 3.500 euros já chegaram, pela mão de uma benfeitora privada, e permitiram a aquisição de duas dezenas de velocípedes, que foram distribuídos pelos docentes mais pobres e mais distantes dos estabelecimentos de ensino, explicou o missionário italiano Rinaldo Do, um dos responsáveis pela campanha.


IMAGENS DE MISERICÓRDIA

Foto | ARQUIVO

“Sede misericordiosos, como Deus é misericordioso”. A misericórdia abrange todas as dimensões do ser humano: corpo e espírito. Nesta palhota queniana, onde o missionário reunia os fiéis para que aí pudessem louvar a Deus, acolher a sua Palavra e celebrar os seus Mistérios, os nativos tinham a possibilidade de contactar com Aquele que é fonte de misericórdia e de aprender a dar os primeiros passos no caminho da fé

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# gente nova em missão misericórdia

TESTEMUNHA DE Olá amiguinhos! Este mês termina o ano litúrgico com a Festa de Cristo Rei no dia 20; mas é também o dia em que oficialmente termina o Ano da Misericórdia. Porém, a misericórdia não tem tempo nem lugar determinados: é o modo de vida do cristão. As obras de misericórdia são sinais de amor que cada um vive, todos os dias e em qualquer lugar, na sua relação com o outro e que testemunha o amor infinito de Deus Texto | Cláudia FEIJÃO Foto | DAVID OLIVEIRA

Ao longo dos últimos tempos, todos nós temos visto e ouvido o que tem acontecido em alguns países, mais ou menos longínquos, quando a falta de respeito e de amor ao próximo colocam em causa a própria vida humana. Mais do que nunca o Dia Mundial para a Tolerância (16 de novembro), apresenta-se como atual numa chamada de atenção para a adoção de ações que visam a dignidade da vida dos irmãos. É, pois, necessário que cada pessoa pratique sempre boas ações, que saiba acolher, cuidar, ajudar, consolar, escutar os que mais precisam, se transforme em esperança para os que estão perdidos, e, fruto do perdão, tenha um coração puro e belo. Para o cristão é tornar-se testemunha de amor e da misericórdia do Senhor, amando Jesus em cada irmão. Pequenos missionários, também vocês são testemunhas da misericórdia de Deus. De acordo com a capacidade de cada um e como bons “atletas” de Deus há que mostrar a todos a grande meta que é Cristo. Para tal, a experiência de viver as obras de misericórdia torna-se percurso que a Ele conduz e cujo testemunho é constituído pelas vossas ações diárias que, apesar de parecerem naturais, para

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AMOR os outros são especiais e fazem a diferença transformando os seus corações, como por exemplo acolher e ajudar aquele colega novo na escola; apressar-se a chamar para o jogo de futebol o vizinho que, apesar de menos dotado para os chutos na bola, não pode ficar de fora (afinal o importante é o divertimento); partilhar os brinquedos ou o lanche com aquela amiga que não tem; visitar a prima que está doente; perdoar o vosso irmão que não sabia que o caderno novo não era para ele fazer aqueles rabiscos que ele insiste em chamar de jardim. E todos os dias rezar por eles e por todas as pessoas que em muitos lugares precisam de conforto, consolação e esperança. Amiguinhos, em família e na catequese, procurem encontrar, através da partilha, novas formas de viver as obras de misericórdia para serem testemunhas atuantes do amor de Deus todos os dias e em qualquer lugar.

MOMENTO DE ORAÇÃO Senhor, agradeço-te por me amares. Ajuda-me a ser exemplo do Teu amor e a viver constantemente o Teu perdão e a Tua misericórdia. Ilumina Senhor o caminho de todas as pessoas que procuram viver num mundo fraterno, e em particular dos meninos e das famílias que, abandonando os seus países e arriscando as suas vidas, procuram quem os acolha, console e ame como irmãos. E dá coragem a todos os que sentem o sofrimento dos irmãos perseguidos e maltratados para que, com a sua vida, sejam testemunho de esperança, amor e misericórdia. Pai Nosso, Avé Maria, Glória …

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tempo jovem

PAIXÃO PELA VIDA

O mundo é cada vez mais uma aldeia… e Deus envia cada um de nós a fazer a sua parte na construção de uma aldeia mais fraterna e justa, começando por quem nos é mais próximo

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há também quem seja enviado para outras latitudes e culturas, porque Cristo é ainda desconhecido pela maior parte dos “aldeões” da nossa aldeia global


Texto | ÁLVARO PACHECO Foto | DR

Há tempos partilhava uma conversa repleta de memórias de um passado não muito distante com um nosso missionário, porque ambos estudámos teologia em Londres. Recordávamos, entre outras coisas, pessoas que nos marcaram durante esses anos memoráveis, em particular alguns dos nossos professores que eram também eles missionários e religiosos. Mais ainda, tinham a particularidade de ter feito experiências de missão noutros países. Um dos que mais me impressionou e contagiou com a sua experiência foi um “velho” missionário dos Padres Brancos, que tinha trabalhado na Índia. Como sabeis, este é o segundo país mais populoso do mundo e é, na verdade, um pequeno “continente” de fortes contrastes culturais, sociais e religiosos, sendo o hinduísmo a religião predominante. Ele era um dos nossos professores de missiologia e dado que fazia frequentes referências à sua experiência pessoal e comunitária, eu ficava maravilhado e fascinado com o que nos contava, até porque sempre me senti fascinado pela Ásia. Felizmente, acabei por trabalhar no Extremo Oriente, mais propriamente na Coreia do Sul, podendo pôr em prática muitos dos conselhos que nos deu na altura. Das suas aulas recordo principalmente a paixão que nutria por Deus, pela missão e pelas pessoas com quem partilhava a sua vida e a sua fé. Esta paixão era transmitida na forma profundamente respeitosa como falava da cultura e tradições e, curiosamente, do quanto aprendeu sobre Deus através do contacto com pessoas de outras confissões religiosas, não só hindus como também muçulmanas. Para ele, ser missionário era uma das formas mais concretas e profundas de ser irmão da humanidade e filho do Deus criador. Esta paixão pela cultura e pelo povo a quem tinha sido enviado foi das melhores lições que partilhou connosco. Mais do que ensinar, ele partilhava a sua vida connosco, sendo genuíno no conteúdo e expressão do que tinha vivido com aquele povo.

Este missionário tocou-me de forma muito especial, pois nunca fui apreciador dos que ensinam quase exclusivamente coisas que outros “criaram ou pensaram”, mas de quem fala de si, do que viveu, aprendeu e partilhou com outros, nomeadamente no campo da teologia e da missão, como na própria vida em geral. Por isso, a dimensão do “sair ao encontro do outro” – de que muito se fala desde que o Papa Francisco convidou a Igreja a sair, de forma mais explícita e concreta – é uma das principais e mais eficazes formas de viver a missão. Tanto que era precisamente isso que Jesus fazia: Ele podia ter montado uma empresa de milagres e de formação teórica sobre Deus, mas preferiu adotar o método do acolhimento, encontro, partilha e convite à conversão e ao amor, baseados no serviço ao próximo através do que somos e temos. Ia, por isso, ao encontro das pessoas no contexto das suas vidas, sem discriminações ou atos de intolerância, sem exigências a não ser uma só: a do amor a Deus e ao próximo, como a nós mesmos. A sua vida foi centrada na vontade do Pai e no dar vida a quem a tinha perdido, vida no sentido de dignidade, valor e beleza. Por isso aquele meu professor de missiologia, que deu parte da sua vida ao povo da Índia, ficará para sempre na minha memória e no meu coração, pois fez sempre tudo para viver a vida de forma apaixonada, uma vida plena de sentido, intensidade e partilha. E nós? Por quem vivemos a nossa vida? Com quem a vivemos e com que objetivo concreto a partilhamos com os outros? Somos todos convidados a fazer da nossa vida um dom para o próximo, seja ele meu familiar ou amigo, vizinho ou estrangeiro, conhecido ou desconhecido. O mundo é cada vez mais uma aldeia… e Deus envia cada um de nós a fazer a sua parte na construção de uma aldeia mais fraterna e justa, começando por quem nos é mais próximo. Mas há também quem seja enviado para outras latitudes e culturas, porque Cristo é ainda desconhecido pela maior parte dos “aldeões” da nossa aldeia global.

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sementes do reino

“Lembra-te de mim quando estiveres no Teu reino” Texto | JOÃO NASCIMENTO Foto | ANA PAULA

Jesus Cristo não veio ao mundo para reinar à maneira dos reis da terra. O seu reino é um reino de Paz, de Justiça e de Amor. É um reino que já está presente no meio de nós e todos somos convidados a reconhecê-lo e a construi-lo até alcançar a imagem perfeita do reino glorioso e definitivo que se há de manifestar no final dos tempos.

Leio a Palavra (Lc 23, 35-43)

Jesus é verdadeiramente “rei” para os homens e para Deus, sim ou não? É a questão que se coloca neste

texto enquanto Ele agoniza e sufoca lentamente na cruz. As respostas são diversas: começam por ser negativas e hostis (que, paradoxalmente, O consideram como “Salvador”, “Escolhido de Deus”, “Rei dos Judeus” e “Messias”), manifestadas pela atitude dos líderes religiosos, soldados e um dos criminosos crucificados; avançam para a hesitação das pessoas comuns que permanecem como testemunhas silenciosas e se afastam, batendo no peito uma vez confirmada a morte de Jesus, e alcançam a revelação de Deus e o Seu plano de salvação através

de Jesus crucificado pela resposta positiva de fé e arrependimento do outro criminoso crucificado ao lado de Jesus. O ladrão “convertido” acredita profundamente que Jesus, que está morrendo ao seu lado, é realmente o “rei” que pode conceder perdão e misericórdia, de forma real, isto é, de si mesmo. É o que Jesus faz, libertando-o do pecado, e convidando-o a participar do Seu reino.

Saboreio a Palavra

O nosso pecado provocou o maior dom de amor de Deus na entrega total de Jesus entre o desprezo, o escárnio e o abandono. Tal como o bom ladrão, podemos transformar uma cena dolorosa numa manifestação deslumbrante da misericórdia divina: cada um de nós só tem que se voltar para Jesus e acreditar que não existe pecado, por maior que seja, que nos possa separar do seu amor. Basta esse momento de coragem para lhe pedir, tal como o bom ladrão, que se lembre de nós.

Rezo a Palavra

Tantas vezes pensamos que Deus nos esquece. Poderá Ele esquecer-nos quando foi por nós que Ele morreu e sabe que no mais secreto e profundo do nosso ser nós aspiramos a partilhar o Seu amor, a Sua felicidade, a Sua vida, o Seu reino?

Vivo a Palavra

“Que vim eu fazer a este mundo?”; “De que maneira testemunho a paz, a justiça e o amor? Ou ainda: “Quem reina no meu coração?”

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Ao celebrarmos Cristo como “Rei” e ao pensarmos nos “reis” desta terra, não nos é difícil descobrir o porquê de tantas injustiças, tanto ódio, tantas guerras neste mundo. Mas cada um de nós é também “rei” ou “rainha” à sua maneira. Este Evangelho e esta festa de “Cristo Rei”, são uma ótima oportunidade para nos avaliarmos e nos perguntarmos: “Que vim eu fazer a este mundo?” ; “De que maneira testemunho a paz, a justiça e o amor? Ou ainda: “Quem reina no meu coração?”


A palavra faz-se missão

NOVEMBRO

01 Património da humanidade

Festa de Todos os Santos | Ap 7, 2-14; 1Jo 3, 1-3; Mt 5, 1-12

“O melhor do mundo são os santos”. “O melhor do mundo são as crianças”. Dois aforismos que se equivalem. Os santos são as crianças do Evangelho, em tudo dependentes de Deus, livres, espontâneas, limpas de alma e coração. Espelho da beleza de Deus, são os mais felizes do mundo.

Intercedei por nós, santos do paraíso para vivermos, como vós, em santidade e justiça.

06 Creio no Deus dos vivos

32º Domingo Comum | Mac 7, 1-14; 2 Tes 2, 16-3, 5; Lc 20, 27-38

Sim! “Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, porque todos para Ele vivem”. Creio num Deus vivo, se acredito na sua presença, se me alimento da sua Palavra, se recebo o pão da Eucaristia, se anuncio o seu amor a quem dele precisar, repetindo no mundo os gestos de Jesus.

Que a Palavra de Cristo, semeada nos nossos corações, seja para nós penhor seguro de vida eterna.

13 Quando será?

33º Domingo Comum | Mal 3, 19-20; 2 Tes 3, 7-12; Lc 21, 5-19

Cada pessoa está inscrita no registo de dois mundos: o mundo presente, com a terra que pisamos e o ar que respiramos, marcado pelo limite e pela finitude. E o outro mundo que se habita no além, mas que se constrói já hoje no aquém: o mundo da eternidade e o do triunfo da misericórdia.

Ajuda-nos, Senhor, a viver a realidade presente com os olhos fixos na realidade futura.

20 Um rei crucificado

Festa de Cristo Rei | 2 Sam 5, 1-3; Col 1, 12-20; Lc 23, 35-43

JNRJ: é o título que encima a cruz de Jesus: Jesus Nazareno Rei dos Judeus. Escrito em hebraico, grego e latim, para que todo o povo compreenda o motivo da sua morte. É um rei crucificado, que se imola para que no mundo triunfe a verdade, a justiça e a paz. Ele procura seguidores.

Ajuda-nos, Senhor, a construir já neste mundo o teu Reino de justiça e de verdade, de graça e de santidade, de amor e de paz.

30 Desce até nós, Senhor!

1º Domingo do Advento | Is 2, 1-5; Rom 13, 11-14; Mt 24, 37-44

O Advento é o grande desejo, já realizado, de que Deus desça até nós. Sem Ele não conseguimos acertar no caminho do entendimento entre nós. O mundo precisa do Emanuel, o Deus Connosco, que nos abra os olhos e nos ensine a viver. Haja corações abertos às suas orientações.

Vem, Senhor, Jesus! Vem encher os nossos dias com a tua presença salvadora. Vem renovar o nosso mundo com a tua força redentora. DV

intenção pela evangelização NOVEMBRO Para que, nas paróquias, os sacerdotes e os leigos colaborem no serviço à comunidade sem ceder à tentação do desânimo

Colaboração entre sacerdotes e leigos Já lá vai o tempo em que o pároco era tudo na sua comunidade. Ainda bem que já não é assim. Cada vez mais se recorre, por necessidade ou por conveniência, ao serviço dos leigos: preparação dos batismos, preparação dos noivos, catequese, visitas aos doentes, celebração das exéquias, administração paroquial… Nisto os territórios de missão, onde estão bem organizados os vários ministérios, estão muito mais à frente. É a Santa Sé que o recomenda: “Os pastores devem reconhecer e promover os ofícios e as funções dos fiéis leigos que têm o seu fundamento sacramental no batismo e na confirmação bem como, para muitos deles, no matrimónio. E quando a necessidade ou utilidade da Igreja o pedir, podem, segundo as normas estabelecidas pelo direito universal, confiar aos leigos certos ofícios e certas funções…” (Ch. L, nº 23). São funções laicais que cada vez mais será preciso promover e formar. Pede-o sobretudo a escassez de ministros ordenados. O mais importante é que todos, sacerdotes e leigos, colaborem na evangelização e em todos os serviços pastorais. Sempre em comunhão e sem desanimarem. DV

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Fátima Missionária

Não percebo o que significa “comunhão dos santos”. Podeis explicar-me? Manuel Veríssimo – Penafiel

“Creio… na comunhão dos santos”, é uma das verdades da nossa fé. Não tem nada a ver com a comunhão eucarística ou sacramental. É muito vasto o seu significado. Pertencem à “comunhão dos santos” todas as pessoas que colocam a sua esperança em Cristo e Lhe pertencem pelo batismo, tenham elas já morrido ou vivam ainda. Porque somos um “corpo” em Cristo, como ensina São Paulo, vivemos uma comunhão que abraça o Céu e a Terra. A Igreja é maior e mais viva do que pensamos. A ela pertencem conhecidos e desconhecidos, grandes santos

Partiu mais uma colaboradora

É com grande tristeza que vos comunico o falecimento da vossa colaboradora de muitos e muitos anos Maria da Assunção de Sousa Oliveira, mais conhecida por Miquinhas. Foi através dela que conheci os Missionários da Consolata, o seu fundador José Allamano e a vossa revista Fátima Missionária. Há oito anos atrás a doença fê-la acamar, mas mesmo nessa altura rezava, cantava e dava-me força para que não desistisse quando as coisas não corriam tão bem. Deixou substitutas, também elas fascinadas pelas palavras do fundador, uma ligada à vossa

e pessoas modestas, os vivos e os mortos, encontrem-se estes ainda em processo de purificação ou estejam já na glória de Deus. Por esta comunhão entre nós podemos ajudar-nos mutuamente até para além da morte. Podemos pedir ajuda aos santos que mais nos dizem ou têm o nosso nome, e inclusivamente aos nossos familiares falecidos que cremos estarem já em Deus. E podemos ajudar os nossos falecidos, ainda em purificação, mediante a nossa oração. Tudo o que uma pessoa faz ou sofre em Cristo e por Cristo torna-se proveitoso para todos. Infelizmente isto também significa que cada pecado feito por nós danifica a comunhão. DV

revista indo de porta em porta receber as assinaturas e outras duas organizando a vossa peregrinação anual a Fátima. Mostrou-nos tanto amor por tudo o que fazia, que também nós esperamos conseguir manter o mesmo legado por ela. Obrigada, Miquinhas, por me teres dado esta maravilhosa instituição… Sei que pelo bem que sempre fizeste, pela catequese, pelo arranjo e zelo do teu altar, como dizias, e como vicentina ao serviço dos mais pobres, estarás agora junto de Jesus e sua Mãe que tanto amaste. Olha por todos nós, principalmente por mim que tanto gostei de ti… Descansa em paz! Da amiga Constança Barros (Nina)


gestos de partilha

Apoie os nossos projetos e ajude-nos a concretizá-los Quero ir à escola Os Missionários da Consolata estão a apoiar o projeto destas 700 famílias de Mkindu, na Tanzânia e lançam um apelo: Warda Baththromeo 7 anos

ajudas-me? Envie a sua contribuição para: MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Projeto “Quero ir à escola” Rua Francisco Marto, 52 2496-448 FÁTIMA

Ajudem a construir a escola para crianças de Mkindu tijolo 1,00€ saco de cimento 5,00€ balde de tinta 10,00€ mesa + banco 25,00€ porta 50,00€

IBAN: PT50 0033 0000 45441863347 05

Crianças de Mkindu – Tanzânia Bernardina (Bairro Zambujal) 10 €; Assinante nº 56299 50€; Carminda Lopes 10€; Fátima Matias 20€; Ivone Petrony 10€; Emília Carreira 20€; Albertina Carmo 20€; Filomena Bacelo 50€; Bruno Pires 25€; Águeda Ramos 126€; Regina Silva 40€; Adélio Costa 10€; Anónimo 0,15€; Jorge Gomes 15€; Fátima Madeira 20€; Glória Neto 30€; Anónimo 50€; Sandra Martins 50€; Ana Venâncio 10€; Lucinda Ferreira 50€; Ofertas entregues na Consolata - Hotel 1.075€; Alberto Faria 5€; Ana Rodrigues 50€; Emília Fernandes 53€. Total geral= 20.346,35€. Bolsas de estudo Madalena Pereira 15€. Ofertas várias Anónimo 130€; Palmira Beites 93€; Fátima Pereira 36€; Peregrinação da 3ª Idade da Paróquia de Fiães 165€; Graça Lucas 33€; Fátima Portela 86€; Manuel Rosa 156€; Margarida Antunes 50€; Felícia Ribeiro 46€; Estela Barroso 43€; Francisco Santos 53€; Alice Fernandes 93€; Augusta Martins 43€; Águeda Ramos 42€; Família Lorenzini Bruno 90,50€; José Ferreira 113€; Olívia Jesus 40€; Anónimo 30€; Fernando Esteves 36€; Glória Azevedo 36€; Laurinda Martins 36€; Emília Lopes 36€; Emília Silva 50€; António Ventura 29€; Marcelina Carneiro 50€; Fátima Martins 43€; Anónimo 30€; Fátima Cipriano 79€; Nuno Belo 43€; Ermelinda Oliveira 26€; Maria Gil 93; António Sousa 32€; Lurdes Real 65€; João Monteiro 100€; Fernanda Simões 43€; Joaquim Nunes 100€; Maria Gomes 93€; José Santos 33€; Armando Alves 250€; Zeferino Soares 25€; Rosa Costa 53€; Pedro Moutinho 30€; Inácio Ferreira 72€; Tomás Rebelo 523€; Anónimo 60€; Manuela Gama 43€; Ana Laires 33€; Marcília Santos 40.50€; Lucília Santos 36€.

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vida com vida

Irmão Xavier Racca

“Trabalhar e rezar” Texto | AVENTINO OLIVEIRA Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Quando o Xavier era jovem, era um trabalhador incansável. Quando partiu para a Segunda Guerra Mundial, disse-lhe o pai: “Filho, não sei se ainda nos veremos aqui na terra. Mas recorda bem que a única coisa importante é salvar a nossa alma, pois Deus criou-nos para o Paraíso. Caminha sempre com Deus, e reza sempre!” Quando, depois da guerra, pediu ao pai para entrar nos Missionários da Consolata, disse-lhe o pai: “Filho, escolhes uma estrada que não é fácil. Ou trilhas o caminho da perfeição, ou não prestas para nada!” E durante toda a vida, quando falava do pai, o Xavier comovia-se até às lágrimas, tanta devoção tinha por esse seu formador espiritual. O Xavier nasceu em Volvera, Turim, Itália em 1919. Entrou nos Missionários da Consolata em 1946, apresentado por sacerdotes que bem o conheciam e o consideravam um jovem “moralmente ótimo e um trabalhador incansável e consciencioso”. Um defeitozito: era bastante falador! Depois da profissão religiosa e dum tempo de estudo da língua inglesa em Londres, partiu para as missões do Quénia em 1952. Para financiar as imensas despesas nas muitas missões, tinham os missionários nesses tempos algumas fazendas de café: nestas trabalhou o irmão Xavier durante vários anos com um zelo religioso. Possuia um espírito alegre e forte. “Tinha um coração grande e generoso. Mas todos os que com ele viveram concordam em dizer que o Xavier não largava por nada a sua participação nas práticas de piedade. E o irmão Xavier, recorda um colega, tinha sempre coisas alegres a partilhar com os outros”. E, ficar calado, não quadrava bem com a sua maneira de ser. Em 1983, a sua saúde começa a fraquejar. Tem de abandonar a África e voltar para a Itália. E chega um calvário que o Xavier aceita com tanta fé que mesmo no hospital todos ficam admirados perante a sua serenidade ao sofrer uma colostomia. Teve em seguida de se submeter a tratamentos de quimioterapia e de cobalto radioativo. 32

Fátima Missionária

Fé, amor ao trabalho e uma grande devoção à sua família religiosa – foi esta a tríade que emoldurou a vida do irmão Xavier O trabalhador esforçado amansava a olhos vistos. Agora, era vê-lo sentado calmamente na enfermaria da Casa Mãe em Turim, a fazer terços e a escutar com um leve sorriso a Rádio Maria. A um confrade pediu: “Quando eu partir, quero que me vistam com o hábito religioso: a batina, o cordão e o crucifixo que me puseram ao peito quando parti para as missões”. Fé, amor ao trabalho e uma grande devoção à sua família religiosa – foi esta a tríade que emoldurou a vida do irmão Xavier.


O QUE SE ESCREVE

Docat – Português Como agir?

Na continuidade do Catecismo para Jovens, o Youcat, sai agora este livro, Docat, que contém a Doutrina Social da Igreja. Diz o Papa Francisco no prefácio que “é como um manual de instruções que nos ajuda, com o Evangelho, em primeiro lugar a transformar-nos a nós mesmos, depois a transformar o nosso ambiente mais próximo e, por fim, o mundo inteiro”. É um instrumento precioso de ensinamentos sociais.

Recuperar o projeto de Jesus José Antonio Pagola, sacerdote jesuíta e teólogo espanhol, é um homem apaixonado por Jesus. Ao longo de todos estes anos, os seus escritos e as suas conferências têm estimulado a vida cristã de muitos fiéis. O objetivo deste novo livro é ajudar a pôr em marcha um processo de renovamento, inspirado e motivado por Jesus, abrindo caminhos para o projeto humanizador do Reino de Deus. Não podemos deixar em herança às gerações vindouras “receitas pastorais”, mas podemos e devemos deixar-lhes paróquias mais centradas na pessoa de Jesus. Este livro poderá seguramente ajudar a atingir esse objetivo. Autor: José Antonio Pagola 256 páginas | preço: 15,60 € Paulus Editora

Autor: Conferência Episcopal Austríaca 320 páginas ilustradas | preço: 12,50 € DNPJ e Paulus Editora

Santa Teresa do mundo inteiro Vida, obra e mensagem

A árvore cresce e dá frutos Missionários da Consolata em Moçambique

Este livro é uma síntese histórica dos vários períodos da missionação da Consolata em Moçambique. Passam diante de nós os 225 evangelizadores que desde 1925 para cá lançaram a semente, cultivaram a árvore, cuidaram dos vários ramos e deixaram marcas por onde passaram. Ficam gravados a letras de ouro nos anais das missões que fundaram, das escolas que dirigiram, das capelas ou centros catequéticos que construíram. Autor: Diamantino Guapo Antunes 192 páginas | preço: 5,00 € Consolata Editora

LusoFonias em missão

Muito se disse e escreveu sobre Santa Teresa de Calcutá, num esforço compreensível de compreender a sua figura exemplar. Nesta biografia afirma-se que ela foi “a mulher mais amada e mais famosa do séc. XX”, “transformada, já em vida, no paradigma quase insuperável de solidariedade e filantropia, que os cristãos chamam caridade”. Única religiosa católica galardoada com o Prémio Nobel da Paz, é aplaudida hoje por crentes e incrédulos.

É uma coletânea de textos da autoria do padre Tony Neves, editados a partir de um programa radiofónico “Igreja lusófona”, mais tarde chamado “LusoFonias”, produzido pela Fundação Fé e Cooperação (FEC) e realizado pela Rádio Renascença. É sempre positivo, útil, humano e cristão construir pontes entre as Igrejas. Por isso em boa hora Tony Neves nos brindou com mais esta rica publicação.

Autor: José Luis González-Balado 246 páginas | preço: 15,00 € Paulus Editora

Autor: Tony Neves 236 páginas | preço: 5,00 € Editora LIAM

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MEGAFONE

por albino brás

“Na procura da realização e da sua felicidade, as pessoas seguem por diferentes caminhos. O facto de que não estejam no teu caminho, não significa que se tenham perdido” Dalai Lama líder espiritual do budismo tibetano

“Os pobres sentam-se muitas vezes às portas das igrejas. Na realidade, eles não estão sentados à frente da porta, são eles a porta para chegar a Deus, este Deus que nos pergunta sempre: «Onde está o teu irmão?». Os pobres mostram-nos Deus” José Tolentino Mendonça presbítero, teólogo e poeta português 34

Fátima Missionária

“Se queres saber se alguém crê realmente em Deus, não repares em como fala de Deus, mas em como fala do mundo”

Simone Weil (1909-1943), escritora, mística e filósofa francesa

“Não viemos ao mundo para vegetar, para fazer da vida um sofá que nos adormeça. Viemos para deixar uma marca” Frei Bento Domingues teólogo português

“O nosso trabalho é amar o próximo, sem mais, sem nos determos a perguntar se são ou não dignos” Thomas Merton (1915-1968), monge trapista, escritor e poeta


100 ANOS

DEPOIS Com os Missionários da Consolata

Aprofundar e rezar

a Mensagem de Fátima Contemplar as maravilhas de Deus

Nas aparições de Nossa Senhora em Fátima Na vida e santidade dos Pastorinhos Na atualidade da Mensagem de Nossa Senhora Na Missão que deriva dessa mensagem Retiro de Advento 3 e 4 de dezembro de 2016 Orientador Padre Darci Vilarinho Retiro de 4 de fevereiro de 2017 Orientador Padre Aventino Oliveira 1º Retiro da Quaresma 4 e 5 de março de 2017 Orientador Padre Simão Pedro 2º Retiro da Quaresma 1 e 2 de abril de 2017 Orientador Padre Jorge Amaro Retiro de 27 de maio de 2017 Orientador Padre João Batista Amâncio

Férias com Deus Contemplar as maravilhas de Deus, trilhando os caminhos de Fátima

Retiro 20, 21 e 22 de julho de 2017 Orientadores Padre Ermanno Savarino e Padre Kennedy Orero

Preços

Só inscrição 5,00 € Um dia 15,00 € (inscrição, almoço e materiais) Dois dias 50,00 € (inscrição, alojamento, refeições e materiais) Três dias 70,00 € (duas dormidas + refeições)

Os retiros começam sempre às 10h00 e terminam às 18h00, exceto os de dois dias que terminam com o almoço de domingo. Mínimo de 10 e máximo de 30 participantes por cada retiro.

Inscrições Cristina Henriques ou Sandra Mateus 249 539 460 (FÁTIMA MISSIONÁRIA) 915 139 778 (SECRETARIA) email: secretaria@consolata.pt

FÁTIMA MISSIONÁRIA Rua Francisco Marto, 52

Apartado 5 2496-908 FÁTIMA


Tu amas-me primeiro Falamos de Ti como se Tu nos tivesses amado primeiro uma só vez. É, porém, dia após dia, a vida inteira, que Tu nos amas primeiro. Quando acordo pela manhã e elevo para Ti a minha alma, Tu és o primeiro, Tu amas-me primeiro. Se pela madrugada me levanto, e logo para Ti a minha alma e a minha mente elevo, Tu precedes-me. Tu já me amaste primeiro. É sempre assim. E nós, ingratos, falamos como se Tu nos tivesses amado primeiro uma só vez… Soren Kierkegaard

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