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EDITORIAL

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CIÊNCIA

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Vigilância e controlo de saúde

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Frustração

Tarde serena, com versos maduros A reluzir na rama dos sentidos. Tento colher os mais apetecidos, Mas não chego a nenhum. Anão nas horas cruciais da vida, Em que o triunfo exige outra medida, Deixo fugir das mãos os sonhos um a um.

Coimbra, 14 de julho de 1985

Miguel Torga (1987) Diário XIV. Coimbra: Edição do autor, p. 168

A humanidade tem experiência de lidar constantemente com doenças endémicas, doenças epidémicas e doenças pandémicas, sejam elas de natureza infecto-contagiosa ou de outra natureza.

E para todas as doenças, seja qual for a forma com que se apresente, os sistemas e autoridades de saúde bem como os congéneres de proteção civil e social desenvolvem, em articulação proativa, sob a coordenação da autoridade própria, o plano específico de vigilância e controlo da doença, que reúna a evidência científica disponível e tendo em vista a atuação sincronizada de todos os agentes.

Pela decisão pública, política e executiva, são imprescindivelmente geradas as medidas excepcionais e criadas as condições que melhor propiciem a atuação de todos, que minimizem os danos causados e que protejam relativamente a todos os riscos, em especial, os cidadãos e as comunidades mais vulneráveis.

Acresce a importância fundamental do instrumento de comunicação de risco da emergência de saúde pública, pelo tempo que esta crise durar e de acordo sempre com cada fase, por forma a que as medidas, as ações, os comportamentos individuais e coletivos, sejam adoptados da forma mais harmoniosa possível.

Designadamente a comunicação que combina a informação da matriz de risco e as medidas de vigilância epidemiológica e controlo da COVID-19, no decurso do estado de calamidade em vigor em todo o território nacional, desde o dia 1 de maio de 2021, determinante para orientar a retoma programada das atividades até à cessação da vigência deste estado e dos de contingência ou alerta que lhe seguirão, inerentes ao longo do tempo de exposição a este evento adverso e ao índice de gravidade e extensão de efeitos atuais ou potenciais.

O controlo do surto neste momento em Portugal, face à situação mundial, coloca o país na 31ª posição com 930.685

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casos confirmados acumulados (24ª posição com 91.552 casos por milhão de habitantes), na 35ª posição com 17.207 óbitos associados à doença (27ª posição com 1.693 óbitos por milhão de habitantes), na 34ª posição com 1.413.253 testes realizados por milhão de habitantes e na 47ª posição com 176 doentes internados em cuidados intensivos (Worldometer Coronavirus, July 18, 2021 – https://www.worldometers.info/ coronavirus).

E ainda na 75ª posição com 1,9% de taxa de letalidade (JHU CRC COVID-19, July 18, 2021 – https://coronavirus.jhu.edu/ data/mortality).

A análise dos indicadores a esta data (vide DGS/INSA Relatório n.º 16, de 16 de julho de 2021), mostra a atividade epidémica de SARS-CoV-2 de elevada intensidade e tendência crescente, por todo o país e em todos os grupos etários, mais acentuada no Norte, Lisboa e Vale do Tejo e Algarve. O aumento da atividade epidémica está associado ao predomínio crescente da variante Delta e tem gerado um aumento progressivo da pressão sobre os serviços de saúde, mas distante ainda da linha vermelha quanto à ocupação de camas de cuidados intensivos.

O longo tempo da experiência com este acidente biológico da natureza tem feito perceber à sociedade que tem de aprender estratégias de como lidar com a ansiedade e a frustração por, mais uma vez, existir a sensação de incapacidade em momentos cruciais da vida coletiva e talvez o fim do surto poder ser alcançado com outras medidas.

Mas a imperiosa superação passa por se continuar a caminhar e não se deixar fugir os sonhos do horizonte.

A DIREÇÃO

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