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anos

REFORMA 1517 - 2017

Brasil Presbiteriano O Jornal Brasil Presbiteriano é órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil Ano 58 nº 755 – Outubro de 2017

Culto de Gratidão a Deus pelos 500 anos da Reforma

Páginas 10 e 11

Prelúdio do avivamento

Nabeel Qureshi

Enfrentamento da cultura secular Entenda como as filosofias dirigem os fatos da ciência e como isso nos afeta. Página 14

A crise nunca foi impedimento para a ação soberana de Deus. Página 3

Conheça o homem que procurou Alá mas encontrou Jesus. Página 15


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EDITORIAL

Brasil Presbiteriano

Reformados, nós?

A

herança da Reforma de que ouvi falar na infância e adolescência não ia muito além do Castelo Forte. Pouco se falava sobre a Aliança. Nas referências à Teologia Reformada não se incluía muito mais do que a doutrina da Predestinação ou a Perseverança dos Santos. É verdade, havia a memorização do catecismo, mas normalmente era só isso mesmo, memorização. Não havia debates para aprofundar o entendimento ou propor a aplicação das verdades aprendidas. Com o tempo, novos mestres passaram a dar palestras sobre os assim chamados Cinco Pontos do Calvinismo. Era como se a Teologia Reformada inteira se limitasse aos cinco pontos. A essa altura, porém, eu já havia lido Calvinismo, de Abraham

Kuyper, e os Símbolos de Fé da Reforma, adquirindo uma visão mais consistente da nossa teologia, que não se pode reduzir aos cinco pontos, ainda que estes sejam, como são, bíblicos, e devam por isso ser subscritos, o que faço alegremente. Esse apanhado histórico não fará justiça à situação em cada canto da IPB, mas refere-se ao que ocorria na maioria deles. Importante para a divulgação da Teologia Reformada na IPB foi a chegada dos irmãos estadunidenses que contribuíram para o início dos trabalhos do que veio a ser o Centro de Pós-graduação Andrew Jumper. Era um piedoso e erudito grupo de mestres, entre os quais se destacava o Dr. Gerard van Groningen. Homens de Deus. Reformados.

O conhecimento da Teologia da Reforma aumentou muito na IPB desde então. Uma das contribuições mais decisivas nesse sentido foi a da Casa Editora Presbiteriana, com a publicação de uma impressionante coleção de textos Reformados. A Teologia da Aliança pode agora ser ensinada com o apoio de diversos bons livros e vasto material de Escola Dominical. Calvino, Turretini, Kuyper, Bavinck, Berkhof, van Groningen, Packer, Sproul, Horton, Augustus Nicodemus, Heber Campos, Hermisten Maia e outros vão sendo reimpressos. O efeito positivo dessa agressividade editorial se viu na IPB e fora dela. Mas, o quão Reformados somos? Podemos falar de Cosmovisão Reformada, mas vivermos como evangélicos fundamentalistas, cren-

do numa dicotomia sagrado-religiosa, em um gueto religioso. Podemos falar da Aliança, mas não possuírmos uma compreensão bíblica de povo de Deus. Podemos falar em Soberania de Deus, mas, como neo-pentecostais, fazermos orações que, como cordéis, manipulam um deus -marionete-que-obedece-nossas-determinações, em vez de oferecê-las ao Senhor que tudo tem em suas mãos. Por outro lado, quais doutrinas e práticas escamoteamos para não nos parecermos com católicos, com espíritas, com marxistas, ou defensores de quaisquer outras teologias e ideologias? Sola Scriptura, bradaram os reformadores. Cristãos Reformados não têm outro referencial para sua fé e prática. Esse é o caminho para o cristianismo autêntico.

Ano 58, nº 755 Outubro de 2017 Rua Miguel Teles Junior, 394 Cambuci, São Paulo – SP CEP: 01540-040 Telefone: (11) 3207-7099 E-mail: bp@ipb.org.br assinatura@cep.org.br Órgão Oficial da

www.ipb.org.br Uma publicação do Conselho de Educação Cristã e Publicações Conselho de Educação Cristã e Publicações (CECEP) Clodoaldo Waldemar Furlan (Presidente) Domingos da Silva Dias (Vice-presidente) André Luiz Ramos (Secretário) Alexandre Henrique Moraes de Almeida Anízio Alves Borges José Romeu da Silva Mauro Fernando Meister Misael Batista do Nascimento Conselho Editorial da CEP fevereiro 2016 a fevereiro 2018

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GOTAS DE ESPERANÇA

ESPIRITUALIDADE DA REFORMA

Crise, um prelúdio do avivamento Hernandes Dias Lopes

O

s grandes avivamentos da História aconteceram em tempos de crise. Não nasceram do útero da bonança, mas foram gestados com dores e lágrimas em tempos de sequidão. A crise nunca foi impedimento para a ação soberana de Deus. É quando os recursos dos homens se esgotam que Deus mais visivelmente manifesta o seu poder. É quando todas as portas da terra se fecham é que Deus abre as janelas do céu. É quando o homem decreta sua falência, que o braço do onipotente mais se manifesta. O Brasil está vivendo, possivelmente, a sua mais aguda e agônica crise desde o seu descobrimento. A nação está rubra de vergonha, diante da desfaçatez de políticos e empresários que domesticaram os poderes constituídos, para assaltarem a nação e sonegarem ao povo o direito de viver dignamente. O profeta Miquéias, já no seu tempo, identificou essa associação para o crime, quando escreveu: “As suas mãos estão sobre o mal e o fazem diligentemente; o príncipe exige condenação, o juiz aceita suborno, o grande fala dos maus desejos de sua alma, e, assim, todos

eles juntamente urdem a trama” (Mq 7.3). A corrupção chegou ao palácio, ao parlamento, às cortes e em setores importantes do empresariado. Um terremoto devastador atingiu as instituições, abalou a economia e enfraqueceu a indústria e o comércio. A carranca da crise é vista

em muitos lugares, estão entregues ao descaso. Líderes com muito poder e apequenado caráter, favorecem os poderosos e tiram o pão da boca dos famintos, fazendo amargar a vida de um povo já combalido pela pobreza e desesperança. Nesse cenário cinzento,

tésico. Há igrejas cheias de pessoas vazias de Deus. Há igrejas onde os púlpitos já baniram a pregação fiel da palavra de Deus. Há igrejas onde o antropocentrismo idolátrico substituiu a centralidade de Cristo. Há igrejas mornas, apáticas, amando o mundo, sendo amigas do

na desesperança dos mais de quatorze milhões de desempregados em nosso país. A morte se apressa para aqueles que não têm direito a uma assistência digna nos hospitais, sempre lotados e desprovidos de recursos. Os acidentes trágicos se multiplicam porque nossas estradas estão sucateadas. A educação se enfraquece porque as escolas públicas,

muitas igrejas, por terem se afastado da sã doutrina e por terem hesitado com a ética, perderam a capacidade de exercer voz profética. Não confrontam os pecados da nação, como consciência do Estado, porque primeiro precisam embocar a trombeta para dentro de seus próprios muros. Há um silêncio gelado, um conformismo covarde, um torpor anes-

mundo e conformando-se com o mundo. Há igrejas que parecem um vale de ossos secos. Perdeu-se a vitalidade. Perdeu-se o vigor. Falta um sopro de vida! É nesse momento de prognósticos sombrios, que devemos nos humilhar sob a poderosa mão de Deus. É imperativo converter-nos dos nossos maus caminhos e orar-

mos, buscando a face do Senhor, a fim de que ele perdoe nossos pecados, restaure a nossa sorte e sare a nossa terra. O avivamento começa com a igreja e partir dela reverbera para o mundo. O avivamento é uma obra soberana do Espírito Santo que vem como torrentes do céu sobre a terra seca. O Espírito Santo é derramado sobre um povo que anseia por Deus mais do que pelas bênçãos de Deus. É quando decretamos nossa falência, nos convertemos dos nossos maus caminhos e nos prostramos diante de Deus, para desejarmos ardentemente sua presença manifesta, é que ele traz sobre nós o seu renovo. Então, a igreja florescerá como salgueiros junto às correntes das águas. Então, os crentes se levantarão para dizer: “Eu sou do Senhor”. Então, não haverá mais abismo entre o que se prega e o que se vive, porque os crentes escreverão na própria mão: “Eu sou do Senhor”. Que Deus levante sua igreja e restaure a nossa nação! Que neste tempo de crise e sequidão caiam sobre nós as torrentes abundantes do Espírito Santo! O Rev. Hernandes Dias Lopes é o Diretor Executivo de Luz para o Caminho e colunista regular do Brasil Presbiteriano.


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TEOLOGIA E VIDA

A necessidade de uma fé consistente Hermisten Costa

E

m seu período de consolidação teológica, a Reforma viu a necessidade de sistematizar a sua fé, distinguindo-se da igreja católica romana e também de outros grupos protestantes. Considerando a autonomia individual proclamada, esses ensinamentos deveriam ser inteligíveis ao cristão mais simples, para que ele pudesse filiar-se à igreja, conhecendo o que ela cria e ensinava. Calvino (1509-1564) já combatera a “fé implícita” (fides implicita) – patente na teologia católica –, declarando que a nossa fé deve ser “explícita” (fides explicita). Ou seja: o fiel deve conhecer aquilo em que crê. No entanto, nem tudo foi revelado por Deus, e também devido à nossa ignorância e pequenez, muito do que cremos permanecerá de forma implícita. Depois de um extenso comentário, Calvino nos diz: “(...) não nego (...) que muitas coisas nos sejam agora implícitas, e ainda o hajam de ser, até que (...) tenhamos chegado mais à presença de Deus (...). Com esse pretexto, porém, adornar com o nome de fé à ignorância temperada com humildade, é o cúmulo do absurdo. Ora, a fé jaz no conhecimento de Deus e de Cristo (Jo 17.3), não

na reverência à Igreja” (As Institutas, III.2.3). Em outro lugar: “Que costume é esse de professar o evangelho sem saber o que ele significa? Para os papistas, que se deixam dominar pela fé implícita, tal coisa pode ser suficiente. Mas para os cristãos não existe fé onde não haja conhecimento” (Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, p. 25). Pelas palavras de Calvino, podemos observar a necessidade latente do ensino e estudo constante da Palavra, a fim de que cada homem, sendo como é, um ser responsável, tenha condições de se posicionar diante de Deus de forma consciente. A fé explícita é patenteada pela igreja através do ensino da Palavra.

Bíblia de Lutero

Entende que a prática de afastar o povo da Palavra, mantendo-o na ignorância, é uma atitude anticristã e altamente prejudicial: “Daqui se faz evidente que espécie

de cristianismo existe dentro do papado, onde não só é a crassa ignorância exaltada em nome da simplicidade, mas também o povo é rigidamente proibido de buscar o real discernimento” (Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, p. 143). Tillich (1886-1965), a despeito de muitos desvios teológicos, interpreta corretamente que: “Cada indivíduo deve ser capaz de confessar os próprios pecados, experimentar o significado do arrependimento, e se tornar certo de sua salvação em Cristo. Essa exigência gerava um problema no protestantismo. Significava que todas as pessoas precisavam ter o mesmo conhecimento básico das doutrinas fundamentais da fé cristã (Paul Tillich, Perspectivas da Teologia Protestante nos Séculos XIX e XX, São Paulo: ASTE, 1986, p. 41). Essa necessidade determina o uso cada vez mais evidente da razão a fim de apresentar de forma mais razoável e mais simples possível a doutrina. Eis dois marcos do ensino ortodoxo: amplitude e simplicidade. O ser humano é responsável diante de Deus; ele dará contas de si mesmo ao seu Criador; portanto, tendo oportunidade, ele precisa conhecer devidamente a Palavra. Nesse período (séculos 16 e 17) são compostas diversas Confissões e

Catecismos que, além de visar preservar a sã doutrina, objetivavam tornar clara a fé dos crentes. Essas declarações precisavam ser, até certo ponto, completas. Entretanto, precisavam ao mesmo tempo ser simples, para que o crente comum (não iniciado nas questões teológicas) pudesse entendê-las. Confrontando esse ensinamento com a Palavra de Deus, o crente teria, assim, uma compreensão bíblica da sua fé.

Catecismo Maior de Lutero

Lutero (1483-1546) exerceu influência por meio de seus catecismos: O Catecismo Maior (abril de 1529) e principalmente, O Catecismo Menor (maio de 1529). No prefácio do Catecismo Menor, Lutero declara os motivos que o levaram a redigi-lo, e apresenta também sugestões de como ensiná-lo à congregação. No decorrer dos sete capítulos, ele quase sempre inicia dizendo: “Como

o chefe de família deve ensiná-lo à sua casa” ou: “Como o chefe de família deve ensiná-lo com toda a simplicidade à sua casa” e expressões similares. Transcreverei apenas o que Lutero disse a respeito das suas motivações: “A lamentável e mísera necessidade experimentada recentemente, quando também eu fui visitador, é que me obrigou e impulsionou a preparar este catecismo ou doutrina cristã nesta forma breve, simples e singela (...). O homem comum simplesmente não sabe nada da doutrina cristã, especialmente nas aldeias. E (...) muitos pastores são de todo incompetentes e incapazes para a obra do ensino (...). Não sabem nem o Pai-Nosso, nem o Credo, nem os Dez Mandamentos” (M. Lutero, Catecismo Menor: In: Os Catecismos, São Leopoldo, RS.; Porto Alegre, RS.: Concórdia; Sinodal, 1983, p. 363) Em síntese, podemos dizer que o princípio da fé explícita foi um dos fermentos poderosos na tradução das Escrituras para diversos idiomas, a elaboração de Confissões, a criação de escolas, o progresso nas ciências e, a sistematicidade do ensino cristão em nossas igrejas. O Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa integra a equipe de pastores da 1ª IP de São Bernardo do Campo, SP, e é Pastor-Efetivo da IP do Jardim Marilene, Diadema, SP.


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HISTÓRIAS DO PODER DE DEUS

Tora! Tora! Tora! “Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus” (Lc 18.27). Antônio Cabrera

N

este sábado (2/9) comecei a preparar minha mala para a Convenção Nacional dos Gideões, e como de costume, “carreguei a minha arma” com Novos Testamentos para serem distribuídos durante a viagem. Foi então que me lembrei de que, nessa data (2/9), mas de 1945, outras “armas foram descarregadas” com as forças imperiais do Japão se rendendo oficialmente a bordo do USS Missouri, ancorado na Baía de Tóquio. Segurando um desses pequenos “livretos”, lembrei-me do poder milagroso das Escrituras. Peço a sua atenção e leia a história abaixo. Jacob DeShazer foi selecionado para pilotar bombardeiros modificados B-25 Mitchell, lançados a partir de porta-aviões para atacar o Japão no início da II Guerra Mundial e acabou fazendo parte o “Doolittle’s Raiders”, o primeiro esquadrão americano a lançar bombas em terras japonesas. Em um desses ataques o seu avião ficou sem combustível por causa da distância extra que foi forçado a voar no início da operação, o que o levou a queda e posterior captura pelos japoneses. DeShazer foi enviado a

Tóquio com os sobreviventes de outra equipe do Doolittle, e foi mantido em uma série de campos de prisi oneiros de guerra no Japão e na China por 40 meses – 34 deles em confinamento solitário. Ele foi severamente espancado e malnutrido, enquanto três da equipe foram executados por um esquadrão de tiro, e outro morreu de fome. Mas durante esse tempo ele ficou de posse de uma Bíblia entregue por um dos guardas por apenas três semanas, mas o suficiente para ele entender que aquelas mensagens eram o motivo da sua sobrevivência e resolveu, com o coração aquecido, se tornar um cristão devoto. Terminado o conflito, mesmo sendo um herói de guerra com várias condecorações militares e a Medalha Presidencial da Liberdade, o prêmio civil mais prestigiado da nação, resolveu aprender japonês, tornou-se missionário e mudouse para Nagoya para estabelecer uma igreja cristã na cidade em que ele antes havia bombardeado. Um verdadeiro milagre, não? Mas leia o restante da história. Mitsuo Fuchida, um jovem e ambicioso aviador da Marinha Imperial do Japão, se especializou

em bombardeios aéreos horizontais, se destacando a ponto de se tornar instrutor da academia. Considerado um dos mais hábeis aviadores japoneses, Fuchida ganhou experiência em combates aéreos na China, na segunda metade dos anos 30, durante a Segunda Guerra SinoJaponesa. Com essas credenciais, foi escolhido para liderar o ataque a Pearl Harbor. Na madrugada da data escolhida, Mitsuo Fuchida liderou mais de quatrocentos aviões japoneses na operação. Decolando de porta-aviões e entrando em formação no céu ainda escuro, guiados apenas pelas luzes de sinalização dos aviões-guias, às 07:53h, o seu rádio-operador, a seu comando, enviou as palavras em código que assombraram o mundo: “Tora ! Tora! Tora!” Mas posteriormente, depois de muitos combates durante a guerra, sofre um ferimento grave e retorna ao Japão para tratamento. Nas suas palavras, “eu estava em Hiroshima no dia anterior à queda da bomba atômica. ... Felizmente, recebi uma chamada de longa distância da sede da Marinha, pedindo-me que voltasse para Tóquio.” Isso salvou Fuchida da hecatombe e, mais tarde, o

Pearl Harbor - 1941

Hiroshima - 1945

General MacArthur, com a derrota do Japão, o convoca para testemunhar em um tribunal militar. Após o depoimento, ao sair de um trem na Estação de Shibuya de Tóquio, ele recebe um folheto cristão intitulado “Eu era um prisioneiro do Japão” entregue pelas mãos de... Jacob DeShazer! O próprio Fuchida conta que “o que eu li foi o episódio fascinante que acabou por mudar minha vida... “. “Foi impactante e resolvi comprar uma Bíblia para mim. Aquilo me fez me tornar um cristão, evangelista pelo resto de minha vida” e sua história foi contada no livro “From Pearl Harbor to Calvary”

e “Samurai’s God”. E mais, em 1960, torna-se cidadão americano. Sim, cidadão do próprio país que antes ele havia bombardeado! Relembrando isso, segurei com mais força um dos NTs da mala. Tão pequeno, mas tão poderoso. Qual outro livro tem o poder de transformar vidas como as desses pilotos em lados diferentes da guerra? Resultado: “dobrei a carga de minha arma” e vou para essa Convenção com o meu grito de guerra: Hosana! Hosana! Hosana! Antônio Cabrera é membro do Conselho de Curadores do Mackenzie


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EDUCAÇÃO CRISTÃ

Perigo à vista A Educação dos Tempos Atuais Muitos pais cristãos abdicaram do direito e do dever de educar seus filhos, deixando isso para o estado. Estamos colhendo as consequências dessa atitude, mas ainda há tempo de fazer algo em favor de nossas crianças. Mary Hebling de Lima

P

essoas mal intencionadas querem mudar a mentalidade do povo e implantar a decadência moral e religiosa em nosso país. A malignidade chega ao ponto de buscarem alcançar seus propósitos através daquelas que são mais vulneráveis e indefesas: nossas crianças. O Ministério da Educação e Cultura (MEC), descumprindo as leis de um estado laico e as leis que garantem a educação moral e religiosa “dos pais aos filhos”, tem enviado às nossas escolas públicas e indicado às demais escolas, materiais que visam

ensinar religião (candomblé e umbanda), educação sexual precoce e a tão falada Ideologia de Gênero. Os materiais são tão dissimulados, que muitos professores nem percebem suas verdadeiras intenções. Esse material é utilizado em sala de aula, em todas as disciplinas, e não vai para casa, portanto, muitos pais ignoram o que está sendo ensinado aos seus filhos. O objetivo é utilizar o preceito de que uma mentira, repetida por várias pessoas e por muitas vezes, se tornará uma verdade. Apesar de muitos professores não utilizarem os livros paradidáticos que ensinam os assuntos acima, todavia, esses

ensinamentos se encontram nos livros didáticos de escolas públicas e particulares. Ouve-se muito, atualmente, a expressão “desconstrução da heteronormatividade”, o que em outras palavras quer dizer: “desconstrução do conceito de família” como o aceitamos, baseados na Palavra de Deus. Os meios de comunicação também não fazem por menos e utilizam-se de teorias que sequer têm comprovação científica, para inserir de forma gradativa conceitos contrários aos princípios cristãos. As escolas particulares não estão isentas dessas influências, já que essas ideologias também estão inseridas em vários sistemas de ensino apostilados. Nossas crianças estão em perigo! Embora respeitemos outras religiões e educação que famílias deem aos seus filhos, não podemos concordar que esses ensinos sejam dados aos nossos filhos! E

ainda mais, que isso seja feito sem o nosso conhecimento ou consentimento. Corremos o risco de nossas famílias serem desmanteladas, pois esses ensinos já estão sendo incutidos nas mentes de nossas crianças. Temos conhecimento de casos em que a filha, de quatro anos, ao chegar da escola disse à mãe: “Mamãe, quando eu crescer não vou mais ser menina, vou ser um menino”. Perguntada sobre onde aprendeu isso, a criança respondeu que aprendeu na escola. Sugere-se aos pastores, líderes, pais e comunidades que consultem os links abaixo, para melhor se informarem sobre o assunto. A Dra. Damares Alves, advogada e assessora parlamentar em Brasília faz circular a seguinte mensagem: “E aí, famílias brasileiras? E aí, Igreja Brasileira? Perdemos mesmo essa guerra? Vamos

nos curvar? Vamos admitir que fomos omissos e não acreditávamos que eles iriam tão longe? Vamos reconhecer que colocamos nossas crianças sob risco? E agora, vamos lamentar, chorar, perguntar onde erramos? Vamos nos entregar ou vamos reagir, nos unir em defesa de nossas crianças?”. Como cristãos não podemos nos omitir! É momento urgente e grave! Se não unirmos nossas forças, o inimigo nos terá vencido. Para maiores informações: Site e youtube: Guilherme Chelb, Procurador da República Site e youtube: Damares Alves – Advogada e Assessora parlamentar Blog do Prof. Orley Silva – De olho no livro didático Mary Hebling de Lima (ismael_ mary@uol.com.br), Mestre em Educação, Arte e História da Cultura é professora universitária e psicopedagoga.

O coração à luz das Escrituras Nos dias 7 e 8 de julho a IP em Praia do Canto realizou a sua 4a Conferência de Aconselhamento Bíblico, sob o tema “O coração à luz das Escrituras”. O preletor foi Paulo Sant´Ana, mestre em aconselhamento bíblico pelo Southeastern Baptist Theological Seminary e professor do Seminário Bíblico Palavra da Vida.

Milton Júnior

Na abertura o Rev. Milton Jr., da igreja local, falou sobre “O aconselhamento e o livro dos Salmos”, enfatizando a suficiência das Escrituras para o cuidado da alma. Paulo Sant´Ana falou em suas palestras sobre a cen-

tralidade do coração nos dilemas humanos, da relação entre os sentimentos e o coração, além de falar especificamente a respeito da ira. Na última palestra ele tratou dos conflitos de relacionamento instruindo os ouvintes sobre como resolver biblicamente os seus problemas.

O resultado da conferência foi excelente e a expectativa é que a cada ano o número de interessados no aconselhamento bíblico cresça na região da Grande Vitória. O Rev. Milton Coutinho Jesus Júnior é o pastor da IP Praia do Canto, ES.


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REFORMA 500 ANOS

O princípio da pregação cristocêntrica resgatado pela reforma protestante Jubal Gonçalves

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m dos princípios elementares da Hermenêutica Reformada diz que toda pregação fiel é cristocêntrica. Em 1Coríntios 2.2 Paulo escreveu: “(...) decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado”. O apóstolo Paulo apresentava Cristo em todas as suas pregações. Ele não forçava nem adulterava o texto para pregar Cristo, mas o fazia porque o Senhor é encontrado, direta ou indiretamente, em todas as perícopes bíblicas. O centro das Escrituras é Cristo. Todo o desenvolvimento da revelação se deu mediante este cerne, Jesus. O princípio da Pregação Cristocêntrica foi resgata-

do na Reforma Protestante e teve como um de seus defensores João Calvino. E a essência dessa Pregação Cristocêntrica pode ser extraída das próprias palavras de Cristo: “ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11.27). Pregação Cristocêntrica não diz respeito a um método, meramente, mas a uma interpretação correta, centrada em Deus, e não no homem. E para se interpretar corretamente o texto inspirado, cristocentricamente, é necessário que se recorra ao Espírito de Deus, naturalmente. A ausência desse tipo de pregação em boa parte dos púlpitos de nossos dias

Calvino pregando em Genebra

se dá porque muitos pregadores não assumem o compromisso de confrontar o pecado através das Escrituras. Ao contrário, se preocupam mais com os resultados visíveis, com o

que agrada às pessoas, a se pregar o que é necessário para uma genuína transformação de conduta. Diante da violência, injustiças sociais e imoralidade, fica evidente a

IP Campo Grande – um privilégio Márcio Antônio de Brito

A IP de Campo Grande, RN, através da Sociedade Auxiliadora Feminina (SAF) e do Conselho de Ação Social (CAS) visitou dia 19/08/2017 a Associação Filantrópica Jorge Gurgel Fernandes do Amaral, na cidade de Caraúbas/RN, onde foi realizado um culto. Os visitantes

viram de perto o dia a dia dos idosos que ali moram e o quanto são bem cuidados e vivem um ambiente saudável e limpo. O Rev. Márcio Brito, Maria do Rosário (SAF) e Angélica Viana (CAS) entregaram donativos à direção e em seguida houve um momento de confraternização. Essa associação tem grandes custos mas, mesmo em meio a

dificuldades mantém suas portas abertas com ajuda de várias fontes. A IP de Campo Grande/ RN, louva a Deus pelo privilégio de estar fazendo a obra de Deus. Fone para contato e doações: (84) 99898-9246 (Iraneide). O Rev. Márcio Antônio Gomes de Brito é pastor da IP de Campo Grande (RN).

grande necessidade de que os púlpitos estejam repletos de exposições e cristocêntricas. O púlpito não é uma plataforma de relações públicas, mas um trono a partir do qual todo o conselho de Deus deve ser proclamado fielmente na autoridade do Espírito Santo (At 20.27). É impossível se interpretar corretamente as Escrituras a não ser pelo entendimento de que a Bíblia é uma unidade cristocêntrica. Toda pregação fiel mostra o contexto redentor das Escrituras. Por isso, todo sermão deve ser cristocêntrico. O Rev. Jubal Gonçalves é Mestre em Pregação pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper e pastor da 4ª IP Carapicuíba – SP.


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MEMÓRIA

A História no Jornal O

jornal Brasil Presbiteriano nasceu em setembro de 1958, em Recife. As imagens ao lado são das duas primeiras capas do BP, edições de grande importante para a história não apenas de nosso jornal, mas também da IPB que, com a publicação do jornal iniciava os trabalhos do Departamento Administrativo Presbiteriano de Imprensa e Literatura (DAPIL) que, ao unir temporariamente os periódicos O Puritano e Norte Evangélico deu início à história do Brasil Presbiteriano. Desde o ínicio, o BP busca informar seus leitores sobre os acontecimentos e marcos importante da IPB – as notas sobre resoluções estabelecidas durante a 23º Reunião do Supremo Concílio (1958) nas capas das primeiras edições da publicação revelam isso. Durante as próximos meses, publicaremos outras capas das primeiras edições do BP, como um modo de mantermos viva e relembrarmos a história de nosso jornal e da IPB.

FALECIMENTOS

Edna Vasconcelos Aquoti

“Enganosa é a graça e vã a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada” (Pv 31.30). Edna Vasconcelos Aquoti, conhecida como Dona Diná, faleceu no dia 24 de agosto, aos 93 anos. Natural de Grama de Macabu, vilarejo chamado Pedra Branca, atual município de Trajano de Moraes (RJ), Edna foi batizada aos seis meses. Em 1940, a família Vasconcelos mudou-se para o distrito de Teçaindá, município de Martinópolis.

Casou-se em 1942 com Guido Aquoti, com quem teve sete filhos (Moacir, Edmar, Edegar, Natal, Leda, Eldo, Marta e Martinho), dezesseis netos e dezoito bisnetos. Edna era costureira e bordadeira, mas em tempos trabalhosos também atendia aos enfermos e necessitados. Lecionava corte e costura e alfabetizou aproximadamente 21 pessoas, dentre crianças e adultos. Apreciadora da leitura e escrita, lançou em 2010 o livro Minha Vida, Uma História. Dona Diná era membro da IP de Martinópolis (SP) e sócia ativa da Sociedade Auxiliadora Feminina (SAF). Também atuou como organista, professora da Escola Dominical e regente de corais. Somos gratos a Deus pela vida dessa mulher virtuosa, temente a Deus, corajosa, conselheira, amorosa e muito feliz. Que Deus console nossos corações, através do Espirito Santo. Família Aquoti

Guilherme Hermsdorff “Cremos na ressurreição do corpo e na vida eterna”, reafirmaram Iracílio Marques Hermsdorff (IP Ebenézer, Santana, SP); Erlindo Hevandir Biral Hermsdorff e Helenice Hermsdorff (IP de Osasco, SP) e Devanir Hermsdorff (IP de Natal, RN), por ocasião do falecimento de seu pai, Guilherme Hermsdorff, aos 101 anos, em 24 de março de 2017. Primeiro de oito irmãos, nasceu em Conceição de Grama de Macabu, estado do Rio de Janeiro, em 21/09/1915, filho de Guilherme Eduardo Hermsdorff e Amélia Marques da Fonseca Hermsdorff. Com quarenta dias foi apresentado à IP de Pedra Branca, no estado do Rio de Janeiro, onde também foi batizado aos 2 anos pelo Rev. Matatias Gomes dos Santos, autor do hino 27 do Novo Cântico. Fez sua pública profissão de fé, aos 17 anos na IP do Sana, RJ, com o Rev. Ben-

jamin César, e logo após mudouse para Martinópolis, antigo José Teodoro, no estado de São Paulo. Foi membro fundador da IP de Martinópolis e da IP da Figueira (SP), onde foi eleito presbítero e conheceu sua esposa Helena Biral Hermsdorff, iniciando um casamento de vinte e oito anos. Foi membro fundador da IP de Vila Escócia (SP). Em 1948, mudou-se para Rolândia, Paraná e lá atuou como presbítero de 1948 a 1952. Voltou a residir em Martinópolis e em 1961 mudou-se para Osasco (SP). Exerceu o presbiterato por duas vezes na IP de Osasco. Foi membro fundador da IP Ebenezer (Osasco-SP), lá permanecendo até sua entrada na morada celestial. Exemplo de zelo pelo evangelho, pregava desde sua juventude o zelo pela IPB, atuava nas sociedades internas e privile-

giava as publicações da Editora Cultura Cristã, em especial as revistas da Escola Dominical; também foi agente e divulgador do Jornal Brasil Presbiteriano, bem como da Associação Evangélica Beneficente. Deixou além dos filhos, oito netos e seis bisnetos. No culto por ocasião do seu sepultamento estavam presentes os reverendos Josafá Vasconcelos, João Marcos Vasconcelos, Ananias Feitosa de Souza, Edinaldo Fernandes de Almeida e José Antônio.


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REFORMA 1517 - 2017

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O Jornal Brasil Presbiteriano é órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil Ano 58 nº 755 - Outubro de 2017

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Entrevista com Martinho Lutero Uma livre criação do saudoso Rev. Elben Magalhães Lenz César (1930—1916), publicada em seu livro Conversas com Lutero – História e Pernsamento (Ed. Ultimato)

Lutero e a Reforma Repórter – O que o doutor chama de reforma? Lutero – Simplificando ao máximo, eu diria que é o movimento permanente na Igreja para restaurar a energia e a espiritualidade nas suas instituições, sempre necessário devido à fragilidade dos seus membros. Acrescentaria ainda que reforma é uma oportunidade ímpar para se rever qualquer desvio não só de comportamento, mas também de ordem dogmática. Repórter – O doutor quer dizer que em nenhum momento de sua história a Igreja pode declarar que não precisa de reforma? Lutero – Minha tese é ecclesia reformata semper reformanda est, isto é, igreja reformada tem de ser constantemente reformada. É preciso levar a sério o drama da fraqueza humana. Qualquer pessoa que leia a história de Israel, especialmente no período compreendido entre a posse da terra e a monarquia, encontrará seis vezes as expressões que revelam os desvios do povo eleito (Jz 3.12; 4.1; 6.1; 8.33; 10.6; 13.1). Repórter – Acho que só tenho mais uma pergunta. É algo que me intriga. Talvez nem seja pergunta, mas uma observação... Lutero – Não precisa rodear. Abra a boca e fale logo! Repórter – Estranho certas expressões suas. Vou citar alguns exemplos. Em 1521, o doutor se vangloriou: “Fiz cinco vezes mais que o reformador João Huss”; em 1522, o senhor escreveu ao príncipe-eleitor: “Ninguém pode negar que as coisas começaram por mim”; em 1527, afirmou ter “trazido à luz a Sagrada Escritura e a Palavra de Deus, como já não ocorria mais desde há mil anos”; em 1534, o doutor relatou: “Muita gente no mundo aceitou o evangelho por mim e agora me considero doutor da verdade, apesar da excomunhão pelo papa e da cólera de imperadores, de reis e príncipes, sacerdotes e de todos os diabos”; e, em data que não consegui encontrar, o doutor resume o seu trabalho com, pelo menos aparente, falsa modéstia: “Penso que fiz uma reforma... Cacei o pagão Aristóteles... Enfraqueci a grande magnificência e o sucesso das sedutoras indulgências... Consegui realizar muitas outras coisas que os papistas tiveram de deixar acontecer... Pude efetuar tanto, pela graça de Deus, que um menino ou uma menina de 7 anos sabem mais da doutrina cristã do que sabiam em outro tempo as universidades e os doutores”... Lutero – Fora do contexto, você tem toda a razão. Mas, posso garantir a todos que lerem esta conversa que eu sou e me considero um “saco de esterco”. Não quero me defender, mas devo lembrar que alguns autores bíblicos também usaram abundantemente o verbo na primeira pessoa do singular. Em seu critério, Davi seria soberbo quando escreveu: “Tenho mais discernimento que todos os meus mestres, pois medito nos teus testemunhos” (Sl 119.99). Veja Salomão: “Tornei-me mais famoso e poderoso do que todos os que viveram em Jerusalém antes de mim” (Ec 2.9). Poderia citar o próprio Paulo: “Eles são servos de Cristo? Mas eu sou um servo melhor do que eles, embora, ao dizer isso, eu esteja falando como se fosse louco” (2Co 11.23). Na leitura cuidadosa do contexto de cada citação acima, percebe-se claramente que não havia soberba nesses homens. Precisamos fazer diferença entre a necessária e própria consciência da vocação, da direção e da aprovação de Deus e entre a autoatribuição de posições carnais. Sem essa consciência, eu não teria a menor possibilidade de me colocar nas mãos de Deus para cobrar a supremacia da Sagrada Escritura em matéria de fé e obras, e muito menos para colocar Jesus Cristo no lugar do Anticristo! Tudo quanto faço, faço-o de alguma maneira sob coerção. Confesso livremente que o empreendimento da Reforma não o comecei de modo deliberado. Ora, tudo aconteceu pelo desígnio de Deus, tenho certeza!


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Linha do tempo da Reforma Protestante Alderi Souza de Matos 1483 Martinho Lutero nasce em Eisleben, na Saxônia, leste da Alemanha. 1484 Ulrico Zuínglio nasce em Wildhaus, no cantão suíço de St. Gall. 1505 Lutero ingressa na Ordem dos Eremitas Agostinianos, em Erfurt. 1509 João Calvino nasce em Noyon, na Picardia, norte da França. Henrique VIII torna-se rei da Inglaterra aos 18 anos. 1511 Lutero é transferido para a casa agostiniana de Wittenberg. 1512 Lutero torna-se doutor em teologia e no ano seguinte começa a lecionar sobre os Salmos na Universidade de Wittenberg. 1514 Provável ano do nascimento de John Knox, o reformador escocês. 1515 Zuínglio conhece Erasmo, o humanista holandês, e no ano seguinte lê sua tradução do Novo Testamento (Novum instrumentum). 1517 No dia 31 de outubro, Lutero publica as Noventa e Cinco Teses sobre as indulgências. Começa a Reforma Protestante. 1518 Lutero defende sua teologia em Heidelberg e comparece diante do cardeal Cajetano em Augsburgo. Zuínglio é nomeado sacerdote da catedral de Zurique; começa a pregar uma série de sermões sobre o Novo Testamento. 1519 Lutero entende a “justiça de Deus” como uma “justiça passiva com a qual Deus nos justifica pela fé”. Debate com o dominicano João Eck em Leipzig; defende João Hus e nega a autoridade suprema de papas e concílios. Carlos V é eleito sacro imperador germânico. 1520 A bula papal Exsurge Domine dá a Lutero 60 dias para retratar-se ou ser excomungado. Ele queima a bula e um exemplar da lei canônica. Escreve três textos fundamentais: À nobreza cristã da nação alemã, O cativeiro babilônico da igreja e A liberdade do cristão. A

Reforma alastra-se na Alemanha e na Europa. 1521 Lutero é excomungado pela bula Decet romanum pontificem, de Leão X. Na Dieta de Worms, recusa-se a renegar seus escritos e é condenado como herético e proscrito. É sequestrado e ocultado no Castelo de Wartburg, onde começa a traduzir o Novo Testamento. 1521 Calvino recebe um cargo eclesiástico que lhe serve como bolsa de estudos. Henrique VIII escreve um folheto contra Lutero e recebe do papa Leão X o título de “defensor da fé”. 1522 Lutero deixa o seu esconderijo e retorna para Wittenberg. No ano seguinte, é publicado o Novo Testamento em alemão. A primeira geração de anabatistas suíços começa a estudar a Bíblia. Zuínglio se opõe ao jejum da quaresma e ao celibato clerical. Escreve seu testemunho de fé e renuncia ao sacerdócio, sendo contratado pelo Conselho Municipal como pastor evangélico. 1523 Sob os auspícios do Conselho de Zurique, Zuínglio promove um debate público de 67 teses (Sessenta e sete artigos): salvação somente pela graça, autoridade das Escrituras, sacerdócio dos fiéis, ataque ao primado do papa e à missa. Realiza um segundo debate público sobre as imagens e a missa. O movimento reformado difunde-se na Suíça alemã e no sul da Alemanha. 1523 Calvino vai para Paris a fim de estudar humanidades e teologia. Primeiros mártires protestantes nos Países Baixos. No segundo debate de Zurique, os seguidores radicais de Zuínglio rompem com ele (Conrado Grebel, Félix Mantz, Jorge Blaurock e outros). 1524 Lutero debate com Andreas Karlstadt sobre a Ceia do Senhor. Explode a Revolta dos Camponeses. Mantz leva para Zurique folhetos de Karlstadt sobre o batismo infantil e a Ceia do Senhor. Os radicais entram em choque com Zuínglio e as autoridades, e sofrem as primeiras punições. 1525 Lutero escreve Contra os profetas celestiais, questionando Karlstadt,

e Contra as hordas roubadoras e assassinas, criticando a Revolta dos Camponeses. Casa-se com a ex-freira Catarina de Bora. Escreve O cativeiro da vontade, contra Erasmo de Roterdã. Morte de Frederico, o Sábio.

une-se às tropas protestantes no dia 11 de outubro e é morto em combate. É sucedido por Henrique Bullinger. Calvino regressa a Paris e reinicia estudos humanísticos. Publica comentário do tratado De clementia, de Sêneca.

é ordenado sacerdote. Menno Simons rompe com Roma e tornase o líder anabatista da Holanda. Hutter é torturado e morto na fogueira. Início da dissolução dos mosteiros na Inglaterra. William Tyndale é executado na Bélgica.

tes alemães proposta pelo imperador Carlos V.

1525 Debate público sobre o batismo infantil marca o início do movimento anabatista (Irmãos Suíços). Primeiro batismo de adultos ocorre em Zurique. Primeira igreja anabatista é fundada em Zollikon. Bolt Eberle é executado no cantão de Schwyz, tornando-se o primeiro mártir protestante e anabatista. Depois que o conselho ordena a suspensão das missas, Zuínglio institui a Ceia do Senhor.

1532 Lutero recebe o mosteiro agostiniano de Wittenberg como sua residência.

1537 Lutero redige os Artigos de Schmalkald como seu “testamento teológico”. No ano seguinte, ataca os judeus em Contra os sabatarianos.

1547 Henrique II sobe ao trono da França; é mais severo que o seu pai contra os huguenotes. É sucedido por Francisco II em 1559; o governo é controlado pela família católica Guise-Lorraine.

1526 Lutero escreve a Missa Alemã. Na Dieta de Spira, os príncipes recusam-se a aplicar o Edito de Worms. No ano seguinte, Lutero luta contra enfermidades e intensa depressão; escreve “Castelo Forte”. Publicação do Novo Testamento de William Tyndale em Worms. 1527 União Fraternal de Schleitheim aprova a Confissão de Fé anabatista redigida por Miguel Sattler. Sattler e a esposa são mortos em Rotemburgo; Mantz é afogado em Zurique. Henrique VIII procura anular o seu casamento com Catarina de Aragão, tia do imperador Carlos V. 1528 Zuínglio aceita o convite de Berna para um debate público que resulta na eliminação da missa, das imagens e dos altares naquela cidade. Calvino estuda direito em Orléans e Bourges. 1529 Dieta de Spira: intolerância contra os luteranos. Surge o nome “protestantes”. Lutero e Zuínglio se encontram no Colóquio de Marburgo, mas não alcançam acordo sobre a Ceia do Senhor. Lutero publica o Grande Catecismo e o Pequeno Catecismo. Zuínglio acompanha as tropas de Zurique na Primeira Guerra de Kappel. 1530 Sendo um proscrito, Lutero não comparece à Dieta de Augsburgo, realizada na tentativa de pôr fim à divisão religiosa do império. Filipe Melanchton apresenta a Confissão de Augsburgo, uma declaração das convicções luteranas. 1531 Envergando sua armadura, Zuínglio

1533 Calvino experimenta repentina conversão; foge para Angoulême no final do ano e começa a escrever as Institutas. Jacó Hutter une-se ao grupo de morávios que tornamse conhecidos como huteritas. O padeiro Jan Matthys reivindica a liderança anabatista em Amsterdã e envia 12 discípulos aos pares. 1533 Thomas Cranmer torna-se Arcebispo de Cantuária. Tribunal eclesiástico declara nulo o casamento de Henrique com Catarina de Aragão. Henrique é excomungado pelo papa Clemente VII. 1534 Lutero publica a Bíblia Alemã completa. Anabatistas vencem uma eleição local em Münster, Alemanha, e tentam implantar o reino de Deus à força. Ato de Supremacia reconhece Henrique VIII como “chefe supremo” da Igreja da Inglaterra. Inácio de Loiola funda a ordem jesuíta a fim de renovar a Igreja Católica. 1535 Cerco e queda de Münster. No início do ano seguinte, Jan van Leiden e outros são executados; seus restos, colocados em gaiolas na torre da igreja, servem de advertência até o século 20. 1536 Na tentativa de sanar as diferenças com outros reformadores, Lutero aceita a Concórdia de Wittenberg sobre a Ceia do Senhor, mas os zuinglianos a rejeitam. 1536 É publicada em Basileia a primeira edição da Instituição da Religião Cristã, de Calvino; o prefácio contém um apelo em favor da tolerância religiosa. O autor pretende fixar-se em Estrasburgo. Ao passar por Genebra, Guilherme Farel o convence a ficar na cidade, que havia abraçado a Reforma recentemente. 1536 João Knox se forma na Universidade de St. Andrews e

1538 Calvino é expulso de Genebra, indo para Estrasburgo, onde passa três anos proveitosos. Casa-se com Idelette de Bure, publica nova edição das Institutas e escreve o Comentário da Carta aos Romanos. 1539 Lutero escreve Sobre os concílios e a igreja. Em 1539-40, Menno Simons publica Fundamento da doutrina cristã, obra básica da fé anabatista. Na Inglaterra são publicados os Seis Artigos; perseguição aos protestantes. 1540 Kaspar Schwenkfeld publica sua Grande confissão e é condenado pelos luteranos em uma convenção liderada por Melanchton. Perseguidos em várias partes da Europa, seus seguidores foram para a Pensilvânia no século 18. A Sociedade de Jesus é formalmente reconhecida pelo papa Paulo III. 1541 Calvino retorna a Genebra e escreve as Ordenanças eclesiásticas. Lutero escreve Exortação à oração contra os turcos. 1542 Papa Paulo III cria a Congregação do Santo Ofício da Inquisição (Inquisição romana), que tem como um de seus alvos os protestantes. 1543 John Knox se converte ao protestantismo. 1545 Morre o arcebispo Alberto de Mogúncia. Tem início o Concílio de Trento, que aprova dogmas contra as doutrinas protestantes e reformas práticas. 1545 Knox se torna companheiro e guarda-costas de George Wishart, o introdutor da fé reformada na Escócia. No ano seguinte, Wishart é martirizado e o cardeal Beaton é assassinado. O papa Paulo III apóia a guerra contra os protestan-

1546 Lutero morre no dia 18 de fevereiro em Eisleben. Sua esposa irá morrer em 1552.

1547 John Knox foge para o Castelo de St. Andrews e prega seu primeiro sermão protestante. O castelo é tomado e Knox é aprisionado na França por 19 meses. Henrique VIII morre segurando a mão do arcebispo Thomas Cranmer. Eduardo VI, filho de Jane Seymour, torna-se rei aos 9 anos. Seus tutores implantam a Reforma na Inglaterra. 1549 Knox começa a pastorear em Berwick, Inglaterra; torna-se afamado como pregador. No ano seguinte, conhece sua futura esposa, Marjory Bowes. Ato do Parlamento inglês ordena o uso do Livro de Oração Comum, de Cranmer. 1552 Knox muda-se para Londres; questiona a prática de ajoelharse na comunhão; recusa-se a assumir o bispado de Rochester. Cranmer revisa o Livro de Oração Comum e escreve os Quarenta e Dois Artigos, que prescrevem uma doutrina calvinista para a Igreja da Inglaterra. 1553 Miguel Serveto é queimado em Genebra por heresia quanto à trindade. Eduardo VI morre e Maria, a filha de Catarina de Aragão, torna-se rainha da Inglaterra. As perseguições levam muitos ao martírio ou ao exílio. 1554 Knox foge para a França e depois para Zurique e Genebra; pastoreia uma congregação inglesa em Frankfurt. 1555 Paz de Augsburgo: a legalidade do luteranismo é assegurada pelo princípio “Cuius regio, eius religio”. Carlos V abdica em favor do seu filho Filipe II, que intensifica a repressão contra os reformados nos Países Baixos.


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1555 Uma discussão sobre a liturgia força Knox a ir para Genebra, onde pastoreia uma igreja inglesa. Morte na fogueira de Hugh Latimer e Thomas Ridley, os mais famosos mártires marianos na Inglaterra. No ano seguinte, Thomas Cranmer, o arcebispo de Cantuária, também é executado na fogueira. 1557 Grupo de calvinistas chega à França Antártica, no Rio de Janeiro; no ano seguinte, escrevem a Confissão de Fé da Guanabara. 1558 Knox escreve o Primeiro toque da trombeta contra o monstruoso regimento de mulheres, defendendo a rebelião contra governantes ímpios. Maria Tudor morre e é sucedida por sua meia-irmã Elizabete, filha de Ana Bolena. 1559 Calvino torna-se cidadão de Genebra e inaugura a Academia. Publica a última edição das Institutas. Primeiro sínodo nacional da Igreja Reformada da França

aprova a Confissão Galicana. Knox volta para a Escócia. Papa Paulo IV publica o Índice dos Livros Proibidos. 1560 Carlos IX torna-se rei da França, sendo regente sua mãe Catarina de Médicis, inicialmente tolerante com os huguenotes. Na Escócia, o Parlamento Reformador adota a Confissão Escocesa. Primeira assembléia geral da Igreja da Escócia. 1561 Colóquio de Poissy entre católicos e protestantes. Segue-se um longo período de guerras religiosas na França (1562-1598). Guido de Brès escreve a Confissão Belga. 1563 Ato de Uniformidade na Inglaterra aprova os Trinta e Nove Artigos. É publicado o Livro dos mártires, de George Fox. Surgem os puritanos – Thomas Cartwright, Thomas Goodwin, Richard Baxter, John Owen, John Bunyan e outros. É publicado na Alemanha o Catecismo de Heidelberg.

1564 João Calvino morre em Genebra no dia 27 de maio. É sucedido por Teodoro Beza. É publicada a Confissão de Fé Tridentina. 1566 Knox escreve a maior parte da História da reforma da religião na Escócia. No ano seguinte, Maria Stuart abdica em favor do seu filho Tiago VI, que será também o sucessor da rainha Elizabete na Inglaterra. 1567 O Duque de Alba torna-se regente da Holanda e inaugura um reino de terror. A oposição contra os espanhóis passa a ser liderada pelo príncipe Guilherme de Orange, o Taciturno. 1569 Papa Pio V incita Catarina de Médicis ao extermínio completo dos hereges na França. 1570 Excomunhão da rainha Elizabete pelo papa Pio V.

1571 Sínodo nacional holandês realizado em Emden adota a forma presbiteriana de governo eclesiástico. É adotada a Confissão Belga. Essa confissão e o Catecismo de Heidelberg tornam-se os padrões teológicos da igreja reformada holandesa. 1572 Massacre do Dia de São Bartolomeu (24 de agosto); almirante Gaspar de Coligny e milhares de reformados são mortos à traição. Knox morre em Edimburgo e é sepultado na catedral de St. Giles. Andrew Melville, outro ex-exilado em Genebra, torna-se o principal defensor da fé reformada na Escócia. 1575 Fundação da Universidade de Leiden, na Holanda, centro de estudo da teologia calvinista. 1587 Maria Stuart, rainha da Escócia, é executada na Inglaterra.

B-3 11 1588 A Inglaterra destrói a “Invencível Armada” espanhola. 1589 O calvinista Henrique IV torna-se rei da França. 1593 Publicação de As Leis de política eclesiástica, de Richard Hooker. 1598 Henrique IV promulga o Edito de Nantes, concedendo tolerância aos huguenotes. O edito seria revogado em 1685 por Luís XIV. 1603 Com a morte da rainha Elizabete, Tiago I sobe ao trono da Inglaterra (Tiago VI da Escócia). 1610 Os seguidores de Tiago Armínio reúnem suas idéias na Remonstrância. 1618 O Sínodo de Dort, na Holanda, aprova os “cinco pontos do calvinismo” (Cânones de Dort), conde-

nando a Remonstrância. A Guerra dos Trinta Anos envolve o Sacro Império Germânico, Dinamarca, Suécia, França e Espanha. 1620 Chegada dos puritanos ingleses ao Novo Mundo (América do Norte). 1625 Carlos I torna-se rei e tenta impor o anglicanismo aos puritanos ingleses e aos presbiterianos escoceses. 1636 A Igreja Reformada da Holanda organiza um presbitério em Pernambuco. 1643 Parlamento puritano em guerra contra o rei Carlos I convoca a Assembléia de Westminster. 1648 Parlamento inglês aprova a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster. A Guerra dos Trinta anos termina com a Paz de Westfália, que fixa as fronteiras políticas e religiosas da Europa.

Martinho Lutero sobre a salvacão pela fé somente Encontramos muitos que (...) conduzem uma boa vida perante os homens e, no entanto, se você lhes perguntar se eles têm certeza de que agradam a Deus, eles dizem: “Não”; eles não sabem, ou duvidam. E há alguns homens muito sábios, que os enganam e dizem que não é necessário ter certeza disso; e, no entanto, por outro lado, esses mesmos homens não fazem mais nada do que ensinar boas obras. Agora, todas essas obras são feitas fora da fé, portanto não são nada e completamente mortas. (...) Daí que, quando exalto a fé e rejeito tais obras feitas sem fé, me acusam de proibir boas obras, quando na verdade estou tentando ensinar verdadeiras boas obras de fé (Um tratado sobre boas obras). O sacerdote não é feito. Ele deve nascer um sacerdote; deve herdar seu ofício. Refiro-me ao novo nascimento: o nascimento da água e do Espírito.

Assim, todos os cristãos devem se tornar sacerdotes, filhos de Deus e co-herdeiros com Cristo, o Sumo Sacerdote. (...) O sacerdócio cristão custa vida, propriedade, honra, amigos e todas as coisas mundanas (Sermões completos de Martinho Lutero, vol. IV, “Primeiro domingo após Epifania”, pág. 9). Só essa fé, quando baseada nas promessas seguras de Deus, deve nos salvar (...). E à luz de tudo, eles devem se tornar tolos que nos ensinaram outros modos de se tornar piedosos. (...) O homem pode sempre fazer o que quiser, ele nunca consegue entrar no céu, a menos que Deus dê o primeiro passo com a Palavra, o que lhe oferece graça divina e ilumina seu coração para chegar no caminho certo (Na fé e Vindo a Cristo). http://www.christian-history.org/martin-luther-sola-fide-quotes.html


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As 95 teses de Martinho Lutero 1. Ao dizer: “Arrependei-vos”2, etc. (Mt 4.17), o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse de arrependimento. 2. Essa penitência não pode ser entendida como penitência sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes). 3. No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; penitência interior seria nula se não produzisse externamente todo tipo de mortificação da carne. 4. Consequentemente, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus. 5. O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones. 6. O papa não tem o poder de perdoar culpa a não ser declarando ou confirmando que ela foi perdoada por Deus; ou, certamente, perdoados os casos que lhe são reservados.3 Se ele deixasse de observar essas limitações, a culpa permaneceria.

fora do estado de mérito ou de crescimento no amor. 19. Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena certeza disso.

38. Contudo, o perdão distribuído pelo papa não deve ser desprezado, pois – como disse – é uma declaração da remissão divina.

21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.

39. Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar simultaneamente perante o povo a liberalidade de indulgências e a verdadeira contrição.

22. Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida. 23. Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.6 24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena. 25. O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular.

8. Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.

26. O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele não tem), mas por meio de intercessão.

9. Por isso, o Espírito Santo nos beneficia por meio do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade.4

27. Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando (do purgatório para o céu).

10. Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório.

28. Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, pode aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.

11. Essa disputa de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.

29. E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resgatadas, como na história contada a respeito de São Severino e São Pascoal?

12. Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da absolvição, como verificação da verdadeira contrição.

30. Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão.

14. Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais quanto menor for o amor. 15. Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras coisas) para produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do horror do desespero. 5 16. Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o semidesespero e a segurança. 17. Parece desnecessário, para as almas no purgatório, que o horror diminua na medida em que cresce o amor. 18. Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da Escritura, que elas se encontrem

37. Qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, participa de todos os benefícios de Cristo e da Igreja, que são dons de Deus, mesmo sem carta de indulgência.

20. Portanto, por remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs.

7. Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.

13. Pela morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas.

plena tanto da pena como da culpa, que são suas dívidas, mesmo sem uma carta de indulgência.

31. Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo. 32. Serão condenados eternamente, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação por meio de carta de indulgência. 33. Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus pela qual a pessoa é reconciliada com ele. 34. Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos. 35. Os que ensinam que a contrição não é necessária para obter redenção ou indulgência, estão pregando doutrinas incompatíveis com o cristão. 36. Qualquer cristão que está verdadeiramente contrito tem remissão

40. A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abundância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, ou pelo menos dá ocasião para tanto. 41. Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor. 42. Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.7 43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências. 44. Ocorre que por meio da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena. 45. Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus. 46. Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência. 47. Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui obrigação. 48. Deve ensinar-se aos cristãos que, ao conceder perdões, o papa tem mais desejo (assim como tem mais necessidade) de oração devota em seu favor do que do dinheiro que se está pronto a pagar. 49. Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por causa delas. 50. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exigências descabidas dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas. 51. Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto – como é seu dever – a dar do seu dinheiro àqueles

muitos de quem alguns pregadores de indulgências extorquem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro. 52. Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas. 53. São inimigos de Cristo e do papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a Palavra de Deus nas demais igrejas. 54. Ofende-se a Palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela. 55. A atitude do papa necessariamente é: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões e cerimônias. 56. Os tesouros da Igreja, a partir dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo. 57. É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos pregadores não os distribuem tão facilmente, mas apenas os ajuntam. 58. Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior. 59. São Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época.

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graças mais ínfimas em comparação com a graça de Deus e a piedade da cruz. 69. Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários de indulgências apostólicas. 70. Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbidos pelo papa. 71. Seja excomungado e amaldiçoado quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas. 72. Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências. 73. Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma, procuram defraudar o comércio de indulgências, 74. muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, procuram fraudar a santa caridade e verdade. 75. A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes a ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura. 76. Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados venais no que se refere à sua culpa. 77. A afirmação de que nem mesmo São Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o papa.

60. É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem esses tesouros.

78. Dizemos contra isto que qualquer papa, mesmo São Pedro, tem maiores graças que essas, a saber, o evangelho, as virtudes, as graças da administração (ou da cura), etc., como está escrito em 1 Coríntios 12.

61. Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos especiais, o poder do papa por si só é suficiente.

79. É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, erguida como bandeira, eqüivale à cruz de Cristo.

62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo evangelho da glória e da graça de Deus.

80. Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que semelhantes sermões sejam difundidos entre o povo.

63. Mas esse tesouro é certamente o mais odiado, pois faz com que os primeiros sejam os últimos. 64. Em contrapartida, o tesouro das indulgências é certamente o mais benquisto, pois faz dos últimos os primeiros. 65. Portanto, os tesouros do evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas. 66. Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens. 67. As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendidas como tais, na medida em que dão boa renda. 68. Entretanto, na verdade, elas são as

81. Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil nem para os homens doutos defender a dignidade do papa contra calúnias ou questões, sem dúvida argutas, dos leigos. 82. Por exemplo: Por que o papa não esvazia o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas – o que seria a mais justa de todas as causas –, se redime um número infinito de almas por causa do mortal dinheiro para a construção da basílica – que é uma causa tão insignificante? 83. Do mesmo modo: Por que se mantêm os funerais e os aniversários dos falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos

redimidos? 84. Do mesmo modo: Que nova piedade de Deus e do papa é essa que, por causa do dinheiro, permite ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, mas não a redime por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta por amor gratuito? 85. Do mesmo modo: Por que os cânones penitenciais – de fato e por desuso já há muito revogados e mortos – ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor? 86. Do mesmo modo: Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos mais ricos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos uma basílica de São Pedro, em vez de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis? 87. Do mesmo modo: O que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição perfeita, têm direito à plena remissão e participação? 88. Do mesmo modo: Que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e participações cem vezes ao dia a qualquer dos fiéis? 89. Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que suspende as cartas e indulgências, outrora já concedidas, se são igualmente eficazes? 90. Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e fazer os cristãos infelizes. 91. Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido.8 92. Portanto, fora com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo “Paz, paz!” sem que haja paz! 93. Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo “Cruz! Cruz!” sem que haja cruz! 94. Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno. 95. E que confiem entrar no céu passando por muitas tribulações, e não por meio da confiança da paz. Wittenberg, 31 de outubro de 1517

Para Lutero, “penitência”. 2 Lutero não rejeitava ainda o papado, com se verá em outras teses. 3 Ver nota 2. 4 A doutrina reformada, posteriormente desenvolvida, haveria de rejeitar como antibíblica a doutrina do purgatório. 5 Mesmo o benefício da dúvida, aqui encontrado, não seria admitido posteriormente. 6 Lutero ainda tinha nessa época a ilusão de poder poupar o papado. 7 De novo, a tentativa de preservar o papa. 1


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EDUCAÇÃO CRISTÃ

Professor que é professor Cláudio Marra

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sta editoria continuará em uma série durante vários meses. A primeira parte foi publicada na edição anterior (setembro 2017) discutindo a manutenção da forma espiritual do professor. Vimos que o professor alimenta-se bem, medita na Palavra, relaciona-se com o Senhor pela oração e valoriza a companhia dos irmãos. Nesta edição veremos que o bom professor... Tem preparo físico Preocupação com boa forma nem sempre esteve na moda. Eu me lembro de ver há muito tempo uma foto do ator Tony Curtis (1925–2010) – grande sucesso nos anos 50 e 60 – muito fraquinho fazendo flexões em

seu quarto, ao lado da cama. Coisa mais acanhada, mas não havia uma academia em cada esquina. Alguns atores eram musculosos, como Kirk Douglas (1916–) ao lado de quem Curtis atuou em Spartacus (1960). Coisa rara, então. Mesmo os jogadores de futebol não malhavam como os de agora. Com ou sem técnica e habilidade, os atletas atuais correm 90 minutos, batem e apanham e ainda dão entrevistas cheias de gás ao fim do jogo. A ideia de que o obreiro cristão deve se exercitar, porém, não é de hoje. Verdade que, segundo a Escritura, o exercício físico é pouco proveitoso (1Tm 4.8), mas isso comparado aos exercícios espirituais, que produzem efeito agora e na eternidade. No dia a dia ainda

precisaremos estar em forma física. Mais ainda o professor, um obreiro que trabalha a semana toda e, quando encerra cada dia o expediente, ainda tem leituras para fazer, pesquisas em uma pilha de livros e na internet, visitas aos seus alunos, períodos de oração sozinho e em grupo, sem nunca se esquecer do primordial cuidado de sua vida espiritual (veja edição anterior do BP) e de sua família. Mal vai dar tempo para incluir academia e... cama. Sim, cama, e o tempo que for preciso. “Vinde repousar um pouco, à parte” (Mc 6.31), foi o convite de Jesus a seus discípulos depois que retornaram de uma missão e lhe deram seu relatório. Parar e desaparecer planejadamente com a fre-

quência necessária não é mundanismo nem acomodação. Ao contrário. O próprio dia do Senhor – surpresa para alguns – é dia de descanso. O professor precisará de boa forma como testemunho de ser bom mordomo do pedaço da criação limitado por seu próprio corpo. Precisará de boa forma para uma agenda semanal digna de um professor, e ainda para seus dinâmicos momentos de aula, mesmo que a sua seja a classe da terceira idade. Os alunos não devem se preocupar se o professor tem ou não pique para chegar ao segundo sinal! Na sequência, O professor que é professor trata de conhecer seus alunos. O Rev. Cláudio Marra é o Editor do Currículo Cultura Cristã e autor do livro A Igreja Discipuladora.

MEDITAÇÕES

Cântico de romagem “Com efeito, grandes coisas fez o SENHOR por nós; por isso estamos alegres” (Sl 126.3). Frans Leonard Schalkwijk

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elo pecado perdemos o Paraíso, mas pela graça podemos reavê-lo! Para isso devemos nos tornar peregrinos espiritualmente. É possível começar nas últimas horas da vida como fez o ladrão na cruz a quem Jesus disse: “Hoje estarás comigo no Paraíso”. Mas tornar-se peregrino cedo é muito melhor para poder

servir a outros e evitar problemas. Sigamos cantando! Os “cânticos de romagem” se ouviam quando o povo subia para Jerusalém. São quinze salmos, curtos e lindos (Sl 120—134). O salmista começa lembrando que é difícil morar no meio de incrédulos (Sl 120), mas confessa que o Guarda de Israel é também seu guarda (Sl 121). Na hora de receber o convite

de ir à casa do FIEL (Sl 122), aparecem também os zombadores (Sl 123). Às vezes é quase insuportável, mas o nosso socorro está em o Nome do SENHOR (Sl 124)! Por isso, peregrinos sabem que sua firmeza está somente em Deus (Sl 125). Apesar dos problemas pelos quais passaram e ainda passam, cantam, pois grandes coisas fez e faz o SENHOR por eles (Sl 126). É interessante que quanto mais anos se passam, tanto mais os peregrinos re-

conhecem que é tudo pela graça, embora nem todos os filhos entendam isso ainda (Sl 127). A família sempre será base da sociedade e é uma bênção poder educar sua prole no temor do SENHOR, orando para que cada um deles seja um instrumento da Paz (Sl 128). Finalmente, olhando para trás, percebemos que Deus nos livrou de muitos males (Sl 129) e por isso confiamos nEle também agora, reconhecendo mais do que nunca que somos pecadores remidos pela graça (Sl

130). Isto faz com que nos sintamos como crianças (Sl 131), filhos da Aliança por amor do Filho de Davi (Sl 132). Chegando mais perto da casa de Deus, nos alegramos com os outros sobre a Paz que enche nossos corações (Sl 133) e nos faz cantar com os coros terrestres e celestiais (Sl 134):“Com efeito, grandes coisas fez o SENHOR por nós; por isso estamos alegres!” Extraído de Meditações de um Peregrino, de Frans Leonard Schalkwijk, Cultura Cristã, 2014.


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Culto de Gratidão a Deus pelos 500 anos da Reforma

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lanejado e conduzido pelos Sínodos do Estado de SP, aconteceu no dia 16 de setembro o Culto de Gratidão a Deus pelos 500 anos da Reforma Protestante. A celebração, realizada no auditório Ruy Barbosa da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Higienópolis (SP), contou com a participação do Coral Intersinodal – formado pelos membros de IP dos Sínodos Leste de São Paulo, Norte de São Paulo, Paulistano, Unido, Grande ABC, Sorocaba e Piratininga; com regência de Hozéa B. Stroppa, Fábio Maciel e Sandra Regina B. Vargas -, dos líderes do Supremo Concílio e do Rev. Dr. Samuel Logan, Presidente Emérito do Westminster Seminary.

Rev. Davi Charles Gomes, Presbs. José Inácio e Benedito Guimarães e Revs. Mauro Meister e Ageu Magalhães

Pres. Clodoaldo Furlan, Presidente do CECEP, discursa na Assembleia Legislativa

O Rev. Roberto Brasileiro, Presidente do SC/ IPB, saudou a todos que estavam presentes no culto que teve início às 16 horas. Membros de diversas igrejas dos Sínodos do Estado de São Paulo compareceram e acompanharam o Coral Intersinodal na

execução dos hinos Quinhentos Anos da Reforma (Letra e Música de Stenius Marcius e Edilson Botelho; Arranjo de Cláudio Roberto Cardozo), Maravilhosa Graça (Haldor Linares) e Castelo Forte (Martinho Lutero; Arranjo de Mark Hayes).

Rev. Ageu de Magalhães, Diretor do JMC, discursa na Assembleia Legislativa

Com programa de culto preparado pelo Rev. Waldomiro Nunes da Fonseca Júnior, o evento contou com a exposição bíblica do Rev. Dr. Samuel Logan – interpretado pelo Rev. Davi Charles Gomes, Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie – que

Rev. Juarez Marcondes, SE do SC da IPB, discursa na Câmara Municipal de SP

abordou os valores da Reforma e a soberania de nosso Senhor. As palavras finais e a Benção Apostólica foram ministradas pelo Rev. Roberto Brasileiro e o Coral Intersinodal encerrou com o hino Aleluia (George Friedrich Haendel).

Rev. Roberto Brasileiro, Presidente do SC da IPB


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O culto fez parte de uma série de celebrações organizada pelos Sínodos do Estado de São Paulo. A programação começou no dia 15 de setembro com Sessões Solenes no Auditório Juscelino Kubitschek e no Palácio Anchieta, ambos na cidade de São Paulo; e com

a realização de Oficinas Teológicas no sábado na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Toda a programação foi realizada tendo em mente os pilares da Reforma: Somente a graça, Somente a fé, Somente a Escritura, Somente Cristo e Somente a Deus a glória.

Rev. Davi Charles Gomes, Chanceler do Mackenzie, interpreta mensagem do orador, Rev. Samuel Logan Jr.

Presb. José Inácio, Presidente do Mackenzie, discursa na Assembleia Legislativa

Coral na Câmara Municipal

Participação musical de Stenius Marcius e Diego Venâncio

Lançamento do livro Calvino e a Vida Cristã

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conteceu no auditório Ruy Barbosa da Universidade Presbiteriana Mackenzie a Conferência Andrew Jumper e Mackenzie – 500 anos da Reforma, uma conferência teológica comemorativa que ocorreu de 30 de agosto a 01 de setembro. Com o tema A Relevância da Reforma para o século 21, o evento contou com participação dos reverendos e professores brasileiros Augustus Nicodemus Gomes Lopes, Davi Charles Gomes, Jonas Madureira, Mauro Fernando Meister, Roberto Brasileiro, e do palestrante internacional Michael S. Horton

(PhD, University of Coventry e Wycliffe Hall, Oxford), que é Professor de Teologia Sistemática e de Apologética no Westminster Seminary, Califórnia, e pastor auxiliar da Christ United Reformed Church, em Santee, Califórnia. Horton é autor ou organizador de mais de vinte livros, entre outros A Grande Comissão, A Lei da Perfeita Liberdade, As Doutrinas da Maravilhosa Graça, A Vida segundo o Evangelho, Creio, Cristianismo sem Cristo, Cristo o Senhor, Doutrinas da Fé Cristã, O Cristão e a Cultura, O Deus da Promessa, Um Caminho

Melhor, publicados pela Cultura Cristã. Após a última palestra do primeiro dia da conferência o Rev. Cláudio Marra, editor da Cultura Cristã, autor de inúmeros artigos e do livro A Igreja Discipuladora, fez com Michael S. Horton o lançamento do livro Calvino e a Vida Cristã. Escrita por Horton e publicado pela Editora Cultura Cristã, a obra nos leva a uma grande jornada por toda a teologia calvinista, revelando que a visão reformadora genebrina da vida cristã é inigualável. A obra está disponível em www.editoraculturacrista.com.br.

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PRESBITERIANISMO EM FOCO

Presbiterianismo na Coreia do Sul (1a parte) Marcone Bezerra

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m fato conhecido é o grande número de presbiterianos na Coreia do Sul. Dentre a população de 51.446.201 pessoas, pelo menos 7.5 milhões participam em alguma das mais de cem denominações presbiterianas no país. Esse contingente faz com que o presbiterianismo seja o principal grupo protestante nacional e concede à Coreia do Sul o status de país com o maior número de presbiterianos no mundo. Diversos fatores contribuíram para esse fenômeno. Alguns deles, contudo, são frequentemente citados por estudiosos. Antes de comentá-los, é necessário ter em conta que a introdução da fé reformada no país aconteceu por meio de coreanos convertidos em Manchúria, China, por volta de 1879. Devido à ação de missionários escoceses, a Bíblia começou a ser traduzida do chinês para o coreano e porções dela circularam entre os nativos. Quando os missionários estadunidenses, canadenses e australianos desembarcaram na Coreia, a partir de 1884, encontraram convertidos à espera de doutrinamento e parte da Bíblia já traduzida. Vê-se, assim, que a origem da Igreja Presbiteriana na Coreia antecede à chegada dos missionários. O missionário pioneiro, Horace N.

Allen, era médico. A primeira igreja foi estabelecida em Seul, em 1887. Por sua vez, a base da missão ficava em Pyongyang, cidade que foi tão impactada pelo evangelho que passou a ser chamada pelos missionários de “Jerusalém do Oriente”. Plano Nevius. Em 1890, o experiente Rev. John Livingstone Nevius, norte -americano que servia como missionário na China desde 1854, viajou pela Coreia e durante duas semanas apresentou os princípios que ele defendia para a plantação e o desenvolvimento de novas igrejas. Seu método propunha os threeselves (três autos): autosustento, auto-propagação e auto-governo. Nevius criticava o pagamento de obreiros nativos pela missão. A igreja deveria ser ensinada a sustentar seus próprios líderes e a construir seus templos. Os missionários deveriam, o quanto antes, treinar e colocar os nacionais em

posições de autoridade. As nascentes igrejas coreanas abraçaram essa filosofia. A aplicação desses princípios aconteceu concomitantemente às reuniões de estudo da Bíblia e à observância das “semanas de oração”, a “oração regular da madrugada” e a “oração do meiodia”, práticas que vinham sendo estimuladas pelos missionários. Ainda em 1890, em Seul, através de classes de instrução bíblica mantidas pelo Rev. Horace G. Underwood, iniciou-se o treinamento em Bíblia para homens e mulheres. No transcurso dos anos, esse modelo foi implantado em outras regiões do país. A combinação desses três elementos – instrução bíblica para os crentes, ênfase em oração e o plano Nevius – mostrou-se muito bem sucedida na Coreia. O avivamento no começo do século 20

Templo da Igreja Presbiteriana SaRang, em Seul

O período entre 1903 e 1910 foi marcado pela ênfase na oração, tanto individual como coletiva. Relatos do avivamento no País de Gales fomentaram orações para que o mesmo sucedesse no país. Consolidou-se o que ficou conhecido como “encontros de avivamento”, isto é, semanas dedicadas ao estudo bíblico e oração que aconteciam uma ou duas vezes por ano. Essa época coincidiu com o domínio japonês sobre a Coreia. O ódio para com os japoneses era notório. Missionários e crentes coreanos passaram a interceder pela situação política e a clamar por um quebrantamento espiritual. As primeiras manifestações de avivamento se deram em Wonsan, entre os metodistas, e alcançaram seu clímax em Pyongyang, em janeiro de 1907, durante a conferência bíblica realizada por metodistas e presbiterianos. Registros dão conta de que Deus usou grandemente o

médico missionário Robert A. Hardie (metodista) e o Rev. William N. Blair (presbiteriano), que reiteradamente pregava sobre a necessidade de arrependimento do ódio para com os japoneses. O próprio Blair deixou seu testemunho registrado no livro O pentecoste coreano (Editora Cultura Cristã, 1998). Uma das características desse avivamento foi que ele manifestou-se não somente entre os adultos, mas também entre os jovens e adolescentes. 1907 foi um ano abençoadíssimo para o presbiterianismo na Coreia. A igreja teve um crescimento de 34% em sua membresia (de 54.987, em 1906, para 73.844, em 1907), o Seminário em Pyongyang formou sua primeira turma e se organizou o primeiro presbitério com 38 missionários e 40 presbíteros coreanos. Algumas decisões tomadas nesse concílio revelam o progresso da obra: aprovou-se a dissolução do comitê missionário, passo essencial para a nacionalização eclesiástica; aprovou-se a ordenação dos sete primeiros pastores coreanos; criou-se a Junta de Missões Estrangeiras, que aprovou o envio do primeiro missionário, Rev. Ki Poong-Lee, à Ilha de Jeju. O Rev. Marcone Bezerra Carvalho é pastor da 1ª IP de Santiago, Chile, e colunista regular do Brasil Presbiteriano.


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HISTÓRIA

O Centenário no Sertão do Ceará A Fundação da Igreja Presbiteriana Ebenézer Folton Nogueira

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o início do século passado, no sertão do Ceará, Joaquim Cândido de Sena, encontrou uma Bíblia entre livros do pároco local, seu amigo, mas o padre não a emprestou. Condoída, a irmã dele lhe emprestou a que possuía. A condenação da idolatria, logo no segundo livro, o impressionou muito e quanto mais lia a Bíblia mais desgostoso ficava com a Igreja Romana. Alguns anos mais tarde conheceu o Sr. Antônio Leão, colportor e membro da IP de Fortaleza. Comprou dele uma Bíblia e com ele – muito versado nas Escritura – conversou durante três dias sobre a salvação em Jesus. Não demorou muito e viajou 200km a cavalo até a cidade de Quixadá, onde tomou o trem e viajou outro tanto até Fortaleza à procura da Igreja Presbiteriana. Foi recebido por pública profissão de fé em 11 de janeiro de 1905, pelo Rev. Reynold Baird. Em 1911, Joaquim Cândido faleceu e seus familiares foram impedidos de sepultá-lo no cemitério local e nos cemitérios das cidades vizinhas, que eram administrados pela Igreja Católica. Trouxeram o corpo para o Sítio Vencedor, e o sepultaram em um local que se transfor-

Joaquim Cândido de Sena

Rev. Natanael Cortez

mou no cemitério daquela comunidade, onde hoje descansam os corpos de mais de 47 membros de sua família. Em 1917, o Rev. Natanael Cortez, novo pastor da IP de Fortaleza, ficou sabendo de “uns crentes no Sítio Vencedor”. Era a família de Joaquim Cândido. O Rev. Natanael os procurou a custo de 70km a cavalo. Então, em 9 de agosto de 1917, após o jantar, celebrou, com 37 presentes, o primeiro culto no Sítio Vencedor. O sermão do Rev. Natanael foi sobre João 1.29: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Cantaram os hinos “Junto ao trono de Deus preparado”, “Meu pecado resgatado” e “É franca a porta divinal”. Em 1918, o Rev. Natanael Cortez recebeu por pública profissão de fé, Francisco Xavier Nogueira de Souza, João Evangelista Nogueira de Souza, Ana Nogueira, Raimundo

Nogueira, Maria Firmina Nogueira de Souza, Belizário Nogueira de Queiroz, Leonília Nogueira, Coleta Nogueira Queiroz e Cândida Nogueira Queiroz. Desde seu início até sua organização em Igreja, o Rev. Natanael Cortez a acompanhou, vindo periodicamente de Fortaleza (mais de 300km). Em 1921 foi formalizada a Congregação da IP de Fortaleza no Sítio Vencedor. Após oito anos, em 8 de dezembro de 1929, com 114 membros comungantes e 89 membros meno-

IP Ebenézer

Membros da Congregação em 1920. Rev. Natanael é o primeiro assentado na cadeira à esquerda.

res, foi organizada Igreja, jurisdicionada ao Presbitério Ceará-Amazônia. Seus primeiros presbíteros foram: Laudelino Nogueira de Souza, João Evangelista de Souza e Antônio Joaquim de Lima Rola. Seus primeiros diáconos foram: Belizário Nogueira de Queiroz e Joaquim Ferreira de Lima. E seu primeiro pastor foi o Rev. Alcides Nogueira. O evangelho chegou às fazendas ao redor: Mangabeira, Santa Luzia, Massapê, Riacho Verde, Suçuara-

na, Olival e outras. O Conselho decidiu construir um templo maior em um lugar mais central para todos. A pedra fundamental foi assentada em 12 de outubro de 1925 e a construção foi concluída em 1928: é hoje a IP Ebenézer. O templo menor, no Sítio Vencedor, onde tudo começou, é hoje congregação dela. Comemoramos esse centenário no Sítio Vencedor, de 21 a 23 de julho de 2017 (da fundação dos trabalhos pelo Rev. Natanael Cortez). Os cultos vespertinos foram realizados na Congregação (onde tudo começou) e os estudos bíblicos ocorreram na IP Ebenézer, dirigidos por Ageu Magalhães, Edson Márcio do Carmo, Fôlton Nogueira e Stênio Marcius. Ebenezer: até aqui nos ajudou o Senhor! O Rev. Fôlton Nogueira é Capelão e Professor do Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição.


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RESENHA

Enfrentamento da cultura secular Cínthia Vasconcellos

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riacionismo, Deus, identidade sexual, liberdade de expressão e educação são alguns dos temas abordados por Phillip E. Johnson em seu livro As perguntas certas, da Cultura Cristã. A obra mostra como as filosofias dirigem os fatos da ciência e como isso afeta o pensamento e o comportamento humano. Ou seja, se questionarmos corretamente os ensinamentos e valores que nos são transmitidos ao longo da vida, chegaremos às conclusões corretas sobre eles. A filosofia naturalista que há séculos vem ganhando espaço na sociedade, afirma que somente as leis e as forças da natureza atuam no mundo. “A ciência tem sido atraída para o campo dos naturalistas e apresenta um pouco mais do que o naturalismo aplicado”, deixando os fatos serem influenciados por essa perspectiva. Se aceitarmos que tudo no mundo se desenvolveu de um processo natural, sem a necessidade de um criador, então as demais áreas da vida humana como a ética e a religião também se desenvolveram da mesma forma, e ao longo do tempo foram produzidas naturalmente pela mente humana. Diante disso, o autor se propõe a esclarecer a busca pela verdade e devolver à

religião a sua moralidade, ao perguntar “por que devemos admitir que os naturalistas deem as regras?” ou “por que não desafiarmos as regras e insistir que a ciência siga os dados aonde quer que eles a conduzam?” e então, o autor mostra que perguntar corretamente é “agrupar as questões periféricas com a finalidade de se concentrar em um ponto crucial”. De maneira inteligente, ele não parte de perguntas sobre “o que a Bíblia ensina, mas de perguntas sobre o que se pode conhecer através dos meios científicos: os sinais podem ser verificados empiricamente?”, elevando a teologia de um patamar de crença para o de uma proposta de conhecimento autêntico. Para exemplificar, Phillip mostra que debater questões sobre a origem da vida baseadas somente no relato de Gênesis pode ser frustrante, uma vez que, para a comunidade científica e acadêmica, ele não passa de um mito. Portanto, o autor estabelece um ponto de contato com a ciência, a partir do texto de João 1, em que lemos “ No princípio era o Verbo”, em contraste com o “No princípio eram as partículas”, dos cientistas naturalistas. Uma vez revelada a relação da ciência com as demais áreas da vida humana e a influência da filosofia naturalista, é possí-

vel entender as origens da nossa sociedade pluralista e seu relativismo, ao observarmos que “o que é certo ou errado depende da preferência de quem quer que possua o poder para impor sua vontade”. Também é ressaltado pelo autor que

“As filosofias dirigem os fatos da ciência e isso afeta o pensamento e o comportamento humano”. negar o Criacionismo de Gênesis é negar a origem da sexualidade e do casamento, mostrando o quanto a sociedade está perdida e seguindo pela direção errada. Porém, o motivo que levou Johnson a assumir a posição de sobrenatura-

lista, foi resultado de uma experiência com Deus em um momento de crise espiritual. O autor revela seus momentos de revolta e de conflitos internos ocasionados por um derrame que quase o tornou inválido. Tal experiência resultou na apuração e no fortalecimento de sua fé e o entendimento de que mesmo possuindo uma mente brilhante, apoiar-se e confiar em sua autossuficiência e conhecimento eram sinais de um cristianismo superficial. Para Phillip, quando o caos se instala em nossa vida é praticamente impossível perceber de imediato os benefícios que podem ser obtidos dele. De certa forma, a crise nos leva a avaliar os caminhos pelos quais percorremos e que nos levaram a tal situação. O autor ainda afirma que “todas as vezes que as perguntas certas são feitas, em vez das erradas, podemos ter uma experiência benéfica do caos, mesmo que dolorosa”. Phillip E. Johnson apresenta temas bastante atuais e relevantes, e a cada página são evidenciados seu vasto conhecimento e autoridade. Formado pela Harvard University e pela University of Chicago Law School, e tendo trabalhado com Earl Warren, Juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, e ensinado lei por mais de

trinta anos na University of Califórnia, sua escrita é densa, o que requer uma leitura bastante atenta e a companhia de um bom dicionário. O autor traz dados, artigos científicos, além de várias fontes de estudos realizados anteriormente, bem como citações de outras obras de sua autoria e também de autores, enriquecendo os debates propostos. Durante o desenvolvimento do livro, o casamento homoafetivo ainda não havia sido aprovado. Para efeito ilustrativo, Phillip compara a legalização do divórcio com um trem que está sendo conduzido por trilhos que o levarão muito em breve à aprovação de uma lei que permita o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O que de fato aconteceu. Muitos outros trens têm ganhado velocidade para atingir destinos que nos causam preocupação, com respeito a nossa futura geração, a menos que nos empenhemos em mudar os trilhos de direção, e que resulte em um enfrentamento da cultura secular. As ferramentas dadas por Phillip são bastante encorajadoras para nos esforçarmos em mudar não só os trilhos do trem da nossa vida, mas por que não da nossa sociedade? Cínthia Vasconcellos é membro da 4ª IP de SBC, São Paulo, é colaboradora da Cultura Cristã.


Brasil Presbiteriano

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REPOUSO DOS SANTOS

Nabeel procurou Alá, mas encontrou Jesus, agora face a face N

abeel A. Qureshi (1983–2017) nasceu na Califórnia, filho de pais paquistaneses que fugiram da perseguição religiosas para os EUA. Foi criado seguindo os preceitos da seita Ahmadi do Islã – que difere do islamismo ortodoxo em algumas doutrinas menores, mas compartilha com ela uma crença nos seis artigos de fé: crença em tawheed [monoteísmo absoluto], nos profetas, nos livros, no invisível, no dia do julgamento, no decreto de Deus, e detém os cinco pilares da fé recitando a Shahada (testemunha de fé), orando o Salaat (oração ritual), pagando o Zakaat (esmola), jejum realizando o Hajj (peregrinação a Meca). Seus pais também o treinaram em apologética para que ele não só acreditasse no Islã, mas pudesse defendê-lo perante outras religiões, como o cristianismo. E foi dessa maneira que Nabeel conheceu Jesus. Em agosto de 2001, iniciando seus estudos na Universidade Old Dominion, em Norfolk, Virgínia, Nabeel conheceu David Wood, um jovem cristão que em seu tempo livre lia a Bíblia. Nabeel lia regularmente o Corão, mas ver um cristão lendo

a Bíblia tinha um ar de estranheza para ela. Nabeel e David se tornaram amigos e tiveram longas discussões e reflexões sobre suas religiões. David apresentava o evangelho de Cristo a seu amigo que cada vez mais questionava o islamismo. Em grande parte de sua vida, Nabeel procurou Alá, mas acabou encontrando Jesus. Um encontro que transformou sua vida, que o fez ver sua família o abandonando e que o inspirou a escrever o livro Procurei Alá, encontrei Jesus – publicado no Brasil pela Cultura Cristã,

– que o colocou na lista dos mais vendidos do New York Times e rendeu-lhe o prêmio Christian Book por “Best New Author” e “Melhor livro não-ficção” de 2015. Nabeel experimentou em diversos momentos da sua vida a presença e grandeza de Deus: quando estudou apologética cristã na Universidade de Biola, com um mestrado em 2008; ao completar seu curso de Medicina na Eastern Virginia Medical School, em 2009. Em 2012, quando completou uma mestrado em religião na Duke University e

entrou um programa MPhil e PhD na Universidade de Oxford em estudos do Novo Testamento; e em 2015, quando sua esposa Michelle deu à luz a filha do casal, Ayah Fatima Qureshi. Nabeel pode contar sua história e cultura não apenas no seu livro que se tornou best-seller, mas também em obras como Answering Jihad: A Better Way Forward e No God But One: Allah ou Jesus?. E foi no dia do lançamento de No God But One: Allah ou Jesus?, que em sua página no Facebook, Nabeel anunciou que estava com câncer no estômago. Ele e sua família lutaram bravamente contra sua doença, passaram

por inúmeras tempestades – como um aborto espontâneo de Michelle –, mas sempre descansaram na vontade de Deus. Não pudemos ver a glória de Deus por meio da cura de Nabeel, mas cremos que ele viu face a face a glória do Pai. Nabeel faleceu no dia 16 de setembro, deixando um grande legado: uma nova visão e compreensão do mundo muçulmano e do poder do nosso Criador. Um fundo foi criado com o intuito de ajudar Michelle e Ayah Qureshi, disponível em <https:// w w w. g o f u n d m e . c o m / NabeelQureshi>. Nabeel lutou o bom combate, terminou a corrida e guardou a fé.


Brasil Presbiteriano

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Boa Leitura Calvino e a Cultura – David W. Hall e Marvin Padgett (Org.)

Um livro que busca mostrar como a cosmovisão reformada afeta todas as áreas do estudo e da atividade humana. O Dr. David W. Hall ataca, por meio da teologia Reformada, qualquer ideia de que o cristianismo representa uma fé anticultural e fechada. O legado da Reforma não abrange apenas o campo da Teologia, mas vai além, sendo aplicado na História, Direito, Artes, Economia, Literatura, Filosofia, Política, Ciência, Negócios, Medicina e Jornalismo. Dr. David W. Hell também é autor ou organizador de mais de 20 livros, entre eles Calvino e o Comércio e Calvino em Praça Pública, da Cultura Cristã. A Fé e os Credos – Cristianismo para todos – Livro 1 Alister McGrath

A obra de Alister McGrath trata

da natureza da fé cristã e relevância dos Credos. Com um abordagem diferente, o autor procura enfatizar a importância de ver o todo em conjunto, ou seja, ver o panorama geral das crenças – como, por exemplo, a encarnação, a redenção ou os credos – para entendermos as apresentações tradicionais da fé cristã. A Fé e os Credos nos leva a refletir sobre o que realmente queremos dizer quando declaramos “eu creio”, e a compreendermos como essa afirmação traz sentido a todas as áreas de nossas vidas – desde como enxergamos o mundo ao nosso redor até a o que experimentamos dentro de nós.

Outubro de 2017

Entretenimento e reflexão O Brasil Presbiteriano não necessariamente endossa as mensagens dos filmes aqui apresentados, mas os sugere para discussão e avaliação à luz da Escritura.

Apologética Além da Razão – James W. Sire

“Há um milhão de sinalizadores apontando para a verdade específica de Deus em Cristo”, e muitos deles estão presentes na literatura, a qual Jim Sire usa para nos ajudar a perceber e testemunhas a realidade de Deus de um modo que o argumento racional por si só não consegue. Com reflexões sábias e espirituosas, Sire apresenta em sua obra uma apologética mais holística, que inclui não apenas a verdade, mas também a bondade e beleza de Deus. Mostrando como uma boa literatura – sendo escrita a partir do ponto de vista cristão ou não – exibe exemplos e sinais de Deus, de modo que seja um testemunho da existência de uma esfera transcendente e da verdade da fé cristã.

Sobre esses e outros títulos acesse www.editoraculturacrista.com.br ou www.facebook.com/editoraculturacrista ou ligue 0800-0141963

Planeta dos Macacos: A Guerra

Presságio

Pastoral Americana

(2017)

(2009)

(2009)

O último filme da trilogia Planeta dos Macacos (iniciada em 2011) não é simplesmente uma superprodução hollywoodiana. Com muitos efeitos, cenas de ação e a famosa saga do herói, o filme recém-saído dos cinemas nos leva a uma reflexão sobre a humanidade. O longa nos apresenta uma mistura bíblica de conflito e recomeço, nos levando a rever valores, prioridades e a refletir sobre assuntos atuais e de imensa relevância: saber lidar com as diferenças entre os povos. Vivemos em um cenário de intolerância, em que constantemente nos deparamos com notícias sobre casos de xenofobia – principalmente por conta da questão da imigração. O filme de Matt Reeves é um ótimo ponto de partida para discussões sobre como o cristão deve ser portar a frente desses assuntos contemporâneos, e mais ainda, sobre o caminho ascendente ou descendente da sociedade humana.

Com Nicolas Cage como um dos personagens principais, o filme de 2009 é claramente apocalíptico. Na década de 50, uma cápsula do tempo é enterrada por alunos de uma escola americana. Cinquenta anos depois, a cápsula é aberta pelos alunos atuais e Caleb Koestler (Chandler Canterbury), filho do astrofísico John Koestler (Nicolas Cage) recebe uma carta com números supostamente sem sentido. John descobre que os números são presságios sobre acontecimentos catastróficos que estão para acontecer no planeta. O filme serve de pano de fundo para discussões interessantíssimas sobre o sentido do universo, o fim do mundo e o Paraíso – o longa conta com muitas cenas inspiradas em passagens bíblicas –, e sobre as ligações de acontecimentos da humanidade. Afinal, o filme nos deixa uma mensagem bem clara: nada ocorre por acaso.

Com grande elenco, Ewan McGregor, Jennifer Connelly e Dakota Fanning, Pastoral Americana não critica apenas o “Sonho Americano”, mas também bate de frente com o fundamentalismo. O filme conta a história do casal “perfeito” Seymour e Dawn Levov que precisa lidar com a rebeldia de sua filha Merry Levov. A jovem vivida por Dakota Fanning acaba se envolvendo com grupo extremista durante a Guerra do Vietnã e desaparece de casa. Durante o longa, assuntos relevantes e provocativos nos são apresentados, como o fundamentalismo – seja ele religioso, econômico ou político –, sobre problemas familiares e, principalmente, sobre o amor de um pai que não mede esforços para ajudar e acolher sua filha “perdida”. O filme, que está disponível em serviços de streaming, é excelente para fomentar discussões acerca de assuntos que fazem parte do nosso dia a dia.

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