BP 752 - JULHO 2017

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anos

REFORMA 1517 - 2017

Brasil Presbiteriano O Jornal Brasil Presbiteriano é órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil Ano 58 nº 752 – Julho de 2017

Foto: freeimages

Trabalho, economia e mordomia: uma abordagem Reformada Os reformadores, Calvino e Lutero, buscavam interpretar o trabalho humano como um modo de glorificarmos a Deus por meio do cumprimento de nossa vocação. Precisamos entender, por meio de uma ótica reformada, a função e repercussão de nosso trabalho na sociedade, e suas medidas práticas.

500 anos da Reforma Um lançamento especial

Página B3

Unidos pelo chamado

Obra com versão contemporânea da Confissão de Fé de Westminster e é publicada pela Editora Cultura Cristã Página 9

Projetos do Mackenzie Voluntário, em parcerias com igrejas presbiterianas, promovem mudanças de vidas por meio de ações sociais e mensagens de esperança. Página 11

Acampamento Betel

FederAcamps 2.0 – Insubstituível reuniu, em Alpinopólis (MG), 250 jovens e adolescentes durante 4 dias de louvor, adoração e comunhão. Página 7


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EDITORIAL

Reforma, História e Escritura

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omo parte da celebração dos 500 anos da Reforma, a Cultura Cristã acaba de lançar o Guia de Estudos da Confissão de Fé de Westminster, de Chad Van Dixhoorn (ver página ##). O Dr. Van Dixhoorn, maior autoridade sobre Westminster no mundo, faz nesse Guia uma abordagem histórico-doutrinária que nos remete ao próprio espírito da Reforma. Com o brado Post Tenebras Lux os reformadores admitiam ter havido uma época de pureza primitiva na história eclesiástica, encerrada, porém, com o distanciamento da Escritura por parte da Igreja, caracterizado de vários modos, dentre os quais o crescimento do papado.

Os reformadores reconheciam a importância de retornar ad fontes, ao estudo da História e aos Clássicos, mas viam ser fundamental retornar às Escrituras, dado o seu caráter único e sua superioridade como revelação de Deus. Citado por Timothy George em seu livro Lendo a Bíblia com os Reformadores (Cultura Cristã, p.36), Melanchthon declarou: “(...) não sei se nosso mundo sofrerá menos dano sem o sol, sua alma, por assim dizer, ou sem História”. O estudo da História e dos Clássicos foi recomendado por suas belezas intrínsicas e pelo modo como, com seus tesouros, destacavam a superioridade das Escrituras. Em

suas Institutas Calvino diz: “Basta ler Demóstenes ou Cícero; Platão ou Aristóteles, ou quaisquer outros desse plantel: em grau admirável, reconheço-o, são atraentes, deleitosos, comoventes, arrebatadores”, porém, continua ele, “(...) as Sagradas Escrituras (...) superam a todos os dotes e graças da indústria humana” (I.8.1). Com o mesmo cuidado com que à luz da Escritura escrutinavam o passado, os Reformadores avaliavam o presente e discerniam seus conflitos. Foi a partir dessa postura que se desenvolveu uma cosmovisão – não uma visão sectária da realidade – o que explica o olhar e a aplicação dos princípios da Reforma

à Economia, Política, Ciências, Educação, as mais diversas áreas de interesse humano – sempre sob a Soberania de Deus – e não apenas à Igreja e à religião. Essa mesma visão sistêmica marcou a Igreja Reformada no século 17 e orientou os teólogos de Westminster, atentos, sob a Escritura, à História e à sua época. Van Dixhoorn deixa isso claro em seu Guia de Estudos, enquanto analisa o conteúdo da Confissão e seu desenvolvimento, suas respostas às questões que foram sendo apresentadas. Um modo Reformado de celebrarmos os 500 anos: de olho na História, atentos aos nossos dias e firmados na Escritura.

Brasil Presbiteriano Ano 58, nº 752 Julho de 2017 Rua Miguel Teles Junior, 394 Cambuci, São Paulo – SP CEP: 01540-040 Telefone: (11) 3207-7099 E-mail: bp@ipb.org.br assinatura@cep.org.br Órgão Oficial da

www.ipb.org.br Uma publicação do Conselho de Educação Cristã e Publicações Conselho de Educação Cristã e Publicações (CECEP) Clodoaldo Waldemar Furlan (Presidente) Domingos da Silva Dias (Vice-presidente) André Luiz Ramos (Secretário) Alexandre Henrique Moraes de Almeida Anízio Alves Borges José Romeu da Silva Mauro Fernando Meister Misael Batista do Nascimento Conselho Editorial da CEP fevereiro 2016 a fevereiro 2018

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GOTAS DE ESPERANÇA

ESPIRITUALIDADE DA REFORMA

Sem poder não há eficácia na pregação Hernandes Dias Lopes

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Reforma Protestante restabeleceu na igreja a supremacia das Escrituras e a primazia da pregação. É o assunto que abordaremos agora. O evangelista Lucas encerra seu primeiro livro (o Evangelho), tratando da grande comissão. Jesus deixou claro para seus discípulos que eles deveriam, em seu nome, pregar arrependimento para remissão de pecados, a todas as nações, começando de Jerusalém (Lc 24.47). Em seguida, mostra a necessidade da capacitação de poder para pregarem: “Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24.49). Lucas começa seu segundo livro (Atos dos Apóstolos) retomando o assunto da grande comissão e mostrando mais uma vez a necessidade do revestimento do poder do Espírito Santo: “(...) recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). Não há missão, sem pregação e não há pregação sem poder. Não há testemunho eficaz sem o poder do Espírito Santo. Primeiro a igreja é reves-

tida de poder, depois ela prega com eficácia. Quatro lições podem ser aprendidas dos textos acima: Em primeiro lugar, o conteúdo da pregação (Lc 24.47). A mensagem que a igreja deve pregar não é prosperidade nem milagres, mas o arrependimento para a remissão de pecados. A menos que o homem reconheça que é pecador, jamais sentirá

O evangelho deve ser pregado por toda a igreja, em todo o mundo, a todo o tempo. Visão que não abrange o mundo inteiro não é a visão de Deus, pois o seu Filho morreu para comprar com o seu sangue aqueles que procedem de toda tribo, língua, povo e nação (Ap 5.9). Muito embora a pregação tenha começado em Jerusalém, não foi destinada apenas ao

mensagem divorciada de sua vida. A vida do pregador está inalienavelmente comprometida com a mensagem que proclama. Por essa mensagem ele vive e ele morre. Muitas vezes, ela sela com o seu sangue a mensagem que anuncia. Todos os apóstolos de Jesus foram mártires desse mensagem, exceto João, que foi exilado na Ilha de Patmos. Ainda hoje, mui-

Não há missão, sem pregação e não há pregação sem poder. Não há testemunho eficaz sem o poder do Espírito Santo.

falta do Salvador. Só os doentes reconhecem que precisam de médico. Sem arrependimento não há perdão de pecados. Que Deus abra nossos olhos para o conteúdo da grande comissão. Em segundo lugar, o alcance da pregação (Lc 24.47). Lucas diz que a igreja deve pregar arrependimento para remissão de pecados a todas as nações.

povo judeu, pois foi endereçada a todas as etnias da terra. Em terceiro lugar, o compromisso com a pregação (Lc 24.48; At 1.8). Tanto no Evangelho como no livro de Atos, Lucas enfatiza que os pregadores são testemunhas (Lc 24.48; At 1.8). Quem prega a palavra deve falar do que ouviu, do que viu e do que experimentou. Não é uma

tas testemunhas adubam o solo para a semente do evangelho com o seu sangue! Em quarto lugar, a capacitação para a pregação (Lc 24.49; At 1.8). No Evangelho, Lucas fala da promessa do Pai. Em Jerusalém os discípulos deviam aguardar a promessa do Pai, o revestimento de poder, com uma espera obediente, perseverante e

cheia de expectativa. Em Atos, Lucas fala que só depois de receberem poder, com a descida do Espírito Santo sobre eles, é que seriam testemunhas até aos confins da terra. Com isso, Lucas está ensinando que a capacitação precede a ação. O revestimento de poder precede a pregação do arrependimento para remissão de pecados. Não há pregação eficaz sem revestimento de poder. Primeiro, a igreja recebe poder do alto, depois ela vai cumprir a missão. Antes de Jesus enviar a igreja ao mundo, ele enviou o Espírito Santo para ela. Hoje, tristemente, nós temos negligenciado essa busca de poder. Substituímos o poder do Espírito pelos nossos métodos. Pregamos belos sermões, mas vazios de poder. Usamos os recursos mais modernos da comunicação, mas não alcançamos os corações. Fazemos muita trovoada, mas não há sinal da chuva restauradora. Que Deus nos faça entender que há tempo para esperar e tempo para agir. Tempo para ser revestido pelo poder do Espírito e tempo para pregar com gloriosos resultados!

O Rev. Hernandes Dias Lopes é o Diretor Executivo de Luz para o Caminho e colunista regular do Brasil Presbiteriano.


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AÇÃO SOCIAL

Projeto vida A

Igreja Presbiteriana de Guaranésia (MG), vem desenvolvendo um projeto social voltado às crianças e adolescentes da cidade mineira. Com aulas de violão – ministrada pelo líder do Ministério de Louvor, Felipe Cintra Correia, e por Thiago Tavares – e de Muay Thai – realizadas pelo mestre Guilherme Correia e seu auxiliar Rodrigo Fidelis, ambos da Academia Strong Corpus – as crianças da comunidade encontram oportunidade de aprender sobre músicas e artes mar-

ciais, e também de conhecer e estar próximas a Deus. As aulas são ministradas gratuitamente, mas com algumas exigências: os participantes precisam apresentar bom desempenho escolar e normas de boas convivências com os amigos e família. Afinal, a disciplina e valores se fazem presentes nas lutas marciais, tanto quanto no aprendizado de instrumentos musicais. O Rev. Geovani Cesário vê nesse projeto social uma maneira de apresentar Jesus e seus ensinamentos a

quem participa. “É um projeto bem missional, que visa integrar o ser humano, criar dignidade, respeito e mostrando princípios bíblicos”, afirma. “Durante os intervalos das aulas, há pequenas devocionais com o intuito de transmitir valores éticos e conhecimento da Palavra”, complementa o pastor. O projeto caminha de mãos dadas com a missão da Igreja local, que é “Amar a Deus e o próximo, servindo à comunidade”. E é realizado todos os sábados das 15h30 às 17h30 no

Vista aérea da cidade de Guaranésia-MG

salão da igreja. As aulas de Muay Thai podem ser feitas por crianças e adoles-

centes de 06 a 16 anos, e as de violão são abertas para todo o público.

CASAIS

XXI Encontro de casais em Águas de Lindoia

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os dias 01 a 03 de setembro de 2017, será realizado o XXI Encontro de Casais em Águas de Lindoia, com o objetivo de edificação dos casamentos e das famílias. Os preletores serão o Rev. Gildásio Reis e Rev. Nivaldo Furlan. Mestre em Educação Cristã e Ciências da Religião e Bacharel em Teologia e Psicanálise Clínica, o Rev. Gildásio é Capelão na Universidade Presbiteriana Mackenzie e Pastor na IP Parque São Domingos em São Paulo. O Rev. Nivaldo Wagner Furlan, Mestre em Missiologia e Bacharel em Teologia

Encontro de Casais

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Hotel Monte Real - Águas de Lindoia

e Administração de Empresas, integra a equipe pastoral da Igreja Presbiteriana de Curitiba. O local do evento será no Hotel Monte Real, na bela cidade do circuitos das águas, Águas de Lindoia.

As inscrições podem ser feitas pelos emails: cwfurlan@gmail.com e furlan@ ipb.org.br Também através do Facebook: Encontro de Casais – IPB. Ficha de Inscrição: http://migre.me/qFXm6

agência Luz para o Caminho (LPC), que tem como Diretor Executivo, Rev. Hernandes Dias Lopes, pastor presbiteriano e apresentador do programa Verdade e Vida, realizará de 6 a 8 de outubro, o Encontro da Família – Luz Para o Caminho. O evento será no “Casa Grande Hotel”, na cidade do Guarujá, Estado de São Paulo, com programação especial para casais com ou sem filhos. As inscrições já estão abertas, e podem ser realizadas pelo site www.encontrodafamilia.com, e mais informações com Jacqueline, secretária executiva, nos telefones (19) 3741-3024 ou (19) 3741-3000 ou e-mail jacqueline@lpc.org.br. Luz para o Caminho é uma agência missionária cujo compromisso é o de anunciar o evangelho através da mídia televisiva, bem como rádio, telefone, redes social, literatura e outros, com o objetivo de alcançar vidas com a mensagem da cruz, que é a salvação em Cristo Jesus.


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TEOLOGIA E VIDA

João Calvino e a oração Hermisten Costa

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teologia do Reformador João Calvino (1509-1564) nada mais é do que um esforço por comentar e aplicar as Escrituras. Neste texto esboçaremos alguns aspectos de seus ensinamentos sobre a oração, elemento fundamental de toda a sua teologia e vida.

1. A oração como exercício de fé na Providência de Deus Devemos confiar nossa vida ao cuidado de Deus. Ele nunca desaponta seus fieis adoradores, por isso é que “nenhuma oração lhe é oferecida em vão” (Calvino, Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, (Sl 65.2), p. 607). Portanto, todo o tempo é propício para buscarmos a Deus. Na oração revelamos a nossa fé em Deus e em seu providente cuidado, sabendo que ele jamais nos desampara. Orar é entregar confiantemente o nosso futuro a Deus a fim de que ele concretize sua eterna e santa vontade em nós. Portanto, oramos não para que Deus realize os nossos desejos, mas para que ele concretize os seus juízos. 2. A necessidade da oração Se Deus sabe todas as coisas, por que então orar? Mesmo tendo a consciência

do cuidado providente de Deus, devemos orar constantemente. Enumera alguns motivos: a) “A fim de que o nosso coração seja inflamado de um (...) desejo de buscar, amar e honrar sempre a Deus, o que nos fará habituar-nos a ter nele o nosso refúgio em todas as necessidades” (Calvino, Institutas: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v.3, p. 93). “Assim que as tentações nos assaltarem, que oremos sempre para que Deus faça a luz de sua verdade resplandecer sobre nós, a fim de que, recorrendo a invenções pecaminosas, não nos desviemos e perambulemos por desvios e caminhos proibidos” (Calvino, Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 25.4-5), p. 542). b) “A fim de que o nosso coração seja tocado de algum desejo, que nem sempre lhe ousamos confessar de imediato, como quando expomos diante dos seus olhos todo o nosso afeto e, por assim dizer, desenrolamos e abrimos todo o nosso coração perante ele” (Calvino, Institutas, v. 3, p. 93). c) “A fim de que sejamos habilitados a receber suas bênçãos com reconhecimento e ação de graças, visto que pela oração somos advertidos de que elas nos vêm da sua mão” (João Cal-

vino, Institutas, v. 3, p. 93). d) “Além desses motivos, este: a fim de que, tendo obtido o que pedimos, tenhamos em consideração o fato de que ele nos atendeu e, por isso, sejamos incitados a meditar mais em sua benignidade. E também tenhamos mais prazer em gozar os benefícios que ele nos faz, tendo em mente que os obtivemos por meio das nossas orações” (Calvino, Institutas, v. 3, p. 93). e) “Finalmente, a fim de que a sua providência seja confirmada e aprovada em nosso coração, na medida da nossa pequena capacidade, sendo que vemos que ele não somente promete jamais abandonar-nos, mas também nos dá acesso para buscá-lo e lhe fazer súplicas quando há necessidade” (Calvino, Institutas, v. 3, p. 93). De forma figurada, Calvino diz que “o coração de Deus é um ‘Santo dos Santos’, inacessível a todos os homens”, sendo o Espírito quem nos conduz a ele (Calvino, 1Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1997, (1Co 2.11), p. 88). Entende que “com a oração encontramos e desenterramos os tesouros que se mostram e descobrem à nossa fé pelo evangelho” (J. Calvino, As Institutas, (Edição Clássica), III.20.2.) e, que “a oração é um dever compulsório de todos os dias e de todos os momentos de

nossa vida” (Calvino, Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, (Sl 50.14-15), p. 410). Desse modo, “os crentes genuínos, quando confiam em Deus, não se tornam por essa conta negligentes à oração” (Calvino, Salmos, v. 1, (Sl 30.6), p. 633). Portanto, este tesouro não pode ser negligenciado como se “enterrado e oculto no solo!” (Calvino, As Institutas, (Edição Clássica), III.20.1). Contudo, reconhece o limite de sua compreensão diante da magnitude do privilégio da oração: “Agora, quanto é necessário, e de quantas maneiras o exercício da oração é útil para nós, não se pode explicar satisfatoriamente com palavras” (Calvino, Institutas, v. 3, p. 92). Todavia, ele tem a clara convicção de que “a oração

tem primazia na adoração e no serviço a Deus” (Calvino, Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, (Dn 6.10), p. 371). Daí o seu conselho: “A não ser que estabeleçamos horas definidas para a oração, facilmente negligenciaremos a prática” (Calvino, Daniel: 1-6, v. 1, (Dn 6.10), p. 375). No entanto, devemos ter sempre presente o fato de que é o Espírito “quem deve prescrever a forma de nossas orações” (Calvino, Romanos, São Paulo: Paracletos, 1997 (Rm 8.26), p. 291). Por sua ênfase à Escritura e ao Espírito, Calvino pode ser considerado o teólogo da Palavra e do Espírito. É o Espírito quem deve nos guiar em nossas orações. Ele o faz à luz da Escritura. O Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa é colunista regular do Brasil Presbiteriano.


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FORÇAS DE INTEGRAÇÃO

FederAcamps reúne jovens Com o tema Insubstituível, FederAcamps reuniu no Acampamento Betel 250 jovens e adolescentes do Presbitério Vale do Rio Grande, entre os dias 14 a 18 de junho.”

N

o mês de junho aconteceu, no Acampamento Betel, Alpinópolis (MG), o 2º FederAcamps. Organizado pela FEUPAM, Federação de Adolescentes e Mocidade do Presbitério Vale do Rio Grande (PVRG), o acampamento reuniu 250 jovens e adolescentes de 14 a 18 de junho. Com o tema Insubstituível, o FederAcamps teve como preletores os pastores Marcelo Gualberto e Anderson Esteves. A parte social do evento ficou responsável pela equipe JV na Estrada (Jovens da Verdade) – que participa do evento desde sua primeira edição. O acampamento também contou com

uma banda formada por jovens do presbitério que foram responsáveis pelos momentos de louvor e adoração. Os acampantes presentes no FederAcamps 2.0, se reencontraram no primeiro sábado deste mês. O Pós-FederAcamps, realizado na IP de Itáu de Minas, às 19h30min, em Itaú de Minas (MG), foi mais um momento de comunhão e adoração ao nosso Deus entre os jovens do PVRG. Segundo os organizadores do acampamento, o Seminarista Rômulo Leitão (Secretário Presbiterial dos Adolescentes) e Rev. Vanderlei Oliveira (Secretário Presbiterial dos Jovens), a FEUPAM já

está se preparando – com muita oração, planejamento e dedicação – para o

próximo acampamento da federação. Com o tema No Princípio, o FederAcamps

3.0 acontecerá de 30 de maio a 03 de junho, também em Alpinópolis.

CELEBRAÇÃO

IP Jardim Marilene, Diadema-SP – 30 anos Márcio Cantalício

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este mês de junho a Igreja Presbiteriana Jardim Marilene, Diadema, SP, comemora 30 anos de organização (07.06.1987). Foi a terceira igreja no município de Diadema – SP. Nesses 30 anos de existência a igreja passou por vários

momentos de crescimento e de dificuldade, mas sempre permanecendo firme na fé. A história dessa igreja não se inicia em 1987. Sua origem se deu através de um grupo vindo dos estados do Paraná e de Minas Gerais. Estabeleceram-se nos bairros de Promissão e Vila Nogueira, no municí-

pio de Diadema. Não sabendo de algum trabalho da IPB nessas regiões, resolveram filiar-se a Igreja Presbiteriana Independente de Vila Nogueira, mas resolveram em 1974 iniciar reuniões em seus lares. Posteriormente entraram em contato com a IP de Diadema (IPB) solicitando que ela assumisse

a direção. A solicitação foi aceita, iniciando assim uma rica história. Hoje 30 anos depois da organização e 43 anos de trabalhos iniciados, nossa Igreja continua crescendo. Em seu rol de membros se encontra a Dona Damiana Rozendo (membro fundador). São 43 anos de bên-

çãos, de amor e de fé. Que Deus continue fortalecendo-a, para que a igreja continue fiel, servindo a Deus e ao seu propósito aqui na terra. Desde 2016 a Igreja é pastoreada pelo Rev. Hermisten Maia O Diácono Márcio Cantalício é Professor de História


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FORÇAS DE INTEGRAÇÃO

UPH Irajá – 62 anos de organização N

o último 17 de junho, a UPH da Igreja Presbiteriana em Irajá – Rio de Janeiro, realizou um culto de gratidão ao nosso Deus pelos seus 62 anos de organização. Dentre os trabalhos da UPH Irajá, destacam-se os cultos nos lares, que ocorrem todas às quartas-feiras nas casas dos membros da igreja. Nesses cultos a palavra de Deus é pregada, louvores são cantados e orações por diversos fins

são feitas e principalmente, agradecemos ao Senhor por tantas bênçãos alcançadas nesses 62 anos de trabalho da UPH. A IP Irajá completou 71 anos de organização em fevereiro deste ano, e dentre as suas ações sociais destacam-se o curso de música, atendimento psicológico clínico realizado por psicólogas evangélicas, serviço de advocacia popular, além da distribuição mensal de cestas básicas.

Para o culto de gratidão a UPH, convidou o Rev. Guilhermino Cunha, pastor emérito da Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, que expôs a mensagem de Números 24. Que o Senhor abençoe cada vez mais as demais sociedades internas e a UPH Irajá cuja principal missão é “semear a santa semente” com zelo e eficiência. Que venham mais 62 anos de trabalho com o direcionamento do Senhor nosso Deus.

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62 anos de bênçãos


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INSTITUTO PRESBITERIANO MACKENZIE SUPES - Superintendência de Gestão de Pessoas e Suprimentos Ref.: Edital de Recrutamento 10/17 Público-alvo: Todos os colaboradores de todas as unidades e candidatos externos Cargo: Gerente de Tecnologia da Informação Horário: Horário comercial, de segunda à sexta-feira Local de trabalho: Rua da Consolação, nº 896, Higienópolis, São Paulo/SP Remuneração: Compatível com a prática de mercado Atribuições: • Desdobrar objetivos e metas para cada área/segmento de TI, considerando as diretrizes estratégicas de cada diretoria e desenvolvendo uma gestão coorporativa que segmente e priorize as demandas por desenvolvimento e inovações tecnológicas tanto da academia quanto dos novos negócios; • Gerenciar o desenvolvimento, operação e manutenção de toda a infraestrutura de TI da Instituição (servidores, redes, banco de dados, sistemas, estações de trabalho, mobilidade, laboratórios de informática acadêmicos entre outros), planejando ações e metas conforme necessidades das áreas clientes e estruturando medidores de desempenho para cada processo de tal forma que os recursos tecnológicos sejam reconhecidos por sua qualidade e eficiência; • Garantir o atendimento das demandas de desenvolvimento e manutenção de sistemas, em termos de hardware e software, conduzindo e acompanhando o entendimento dos colaboradores de setores acadêmicos e corporativos (RH, Financeiro, Controladoria, Marketing, Compras, etc.) dos processos desses setores, que deverão ser mapeados, bem como deverão ser observadas suas necessidades de otimização, simplificação de rotinas, automação, agilidade, segurança de dados e mobilidade de sistemas, com vistas à minimização de custos administrativos e operacionais, melhor gestão de tempo e manutenção da integridade das informações; • Garantir a aplicação de políticas de segurança da informação, fazendo cumprir as regras de governança para acessos, controle e revisão de senhas, medidas de proteção da rede, programação segura, aplicação de testes, análises de invasão, mapeamento e análise sistêmica de riscos e dimensionamento de seus impactos, assim como elaboração e aplicação de planos de contingências, visando evitar fraudes, acessos indevidos, perda de dados, indisponibilidade dos sistemas e prejuízos aos negócios; • Gerenciar todos os recursos tecnológicos digitais essencialmente utilizados no meio acadêmico (salas de aula, auditórios, laboratórios, eventos etc.), avaliando necessidades de aquisição e operação de sistemas para cada segmento acadêmico em âmbito global da Instituição, dimensionando os recursos adquiridos e planejando orçamentos para atendimento de todas as demandas existentes e estabelecidas em planejamento estratégico; • Garantir alta disponibilidade e performance da operação e

serviços de TI para públicos internos e externos em termos de hardware e software, validando e desenvolvendo indicadores para segurança das informações, recursos de infraestrutura, gestão de backup, mapeamento e monitoração de servidores, telecomunicações e sistemas, tratamento de ocorrências e controle de chamados, com o objetivo de promover mais ações preventivas e menos corretivas, mantendo constante funcionalidade das operações e negócios; • Promover o mapeamento e controle dos processos de TI atuais e que serão desenvolvidos, mantendo históricos de intervenções e mapeando riscos e ganhos gerados pelos processos, para cada projeto automatizado, de tal forma que seja implementado e administrado um modelo de governança de TI que alinhe os processos do setor de tecnologia, organize a demanda da equipe e estabeleça procedimentos e serviços necessários à criação de ferramentas que agreguem valor aos negócios de toda a Instituição; • Garantir inovações para o parque tecnológico da Instituição, participando e/ou promovendo eventos do segmento para benchmark, avaliando funcionalidades e premissas de eficiência e eficácia e custos x benefícios para a Instituição, planejando as ações de inovação, consolidando relatórios e submetendo-os para validações da diretoria, para fins de tomada de decisões sobre investimentos em tecnologias; • Avaliar as demandas de desenvolvimento, customização e/ ou manutenção dos recursos de hardware, software e telecomunicações, identificando as necessidades de alocação de parceiros terceiros; • Conduzir uma equipe na disponibilização e análise de escopo técnico e de avaliação de qualidade de entregas, validando as predefinições que melhor atendam às necessidades internas e apresentando à área de compras tanto a avaliação como a análise, para os aspectos apontados nos documentos serem considerados nas devidas negociações comerciais e fechamento de contratos de prestação de produtos ou de serviços, de forma também que todo o processo de aquisição e entrega final desses serviços sejam melhor geridos; • Fazer cumprir a política de suporte técnico a usuários, garantindo que a equipe de TI formalize os chamados e seus atendimentos, preparando-a, para isso, com treinamentos que a tornem hábil na operacionalização e no apoio ao usuário que utiliza recursos de hardware e software, seja ele cliente interno (áreas técnicas, administrativas e acadêmicas) ou externo (alunos e parceiros), para que, assim, os indicadores de desempenho desses serviços sejam formatados, os níveis de qualidade de atendimento monitorados, planos de ações preventivas elaborados e ações corretivas minimizadas; • Responder pelas aprovações do sistema que envolvem aquisições e/ou movimentações de recursos técnicos, mate-

riais e humanos requeridos pela área para atendimento de demandas corporativas e operacionais, e apresentar as justificativas devidas das aquisições e/ou movimentações, submetendo-as para as devidas validações da diretoria; • Gerenciar o orçamento da área de atuação, fazendo-o cumprir, com parâmetros definidos, e justificar eventuais variações de orçamento, para reporte à alta gestão; • Gerenciar o desenvolvimento contínuo da equipe, buscando o mapeamento e definição de possibilidades de desenvolvimento e crescimento na carreira, promovendo novos desafios e possibilidades de job rotation, avaliando o desempenho técnico e comportamental de cada colaborador, emitindo feedback e atuando como coach para cada um deles, de forma a assegurar o atendimento das demandas da área e atender expectativas de crescimento da Instituição e das pessoas. Conhecimentos Técnicos Requeridos: • Conhecimento em Gestão de Segurança das Informações e Telecomunicações; • Conhecimento em Infraestruturas de TI; • Conhecimento em Gestão de Processos e de Contratos. Requisitos: • Curso superior em uma dessas áreas: Ciências da Computação, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Engenharia da Computação e afins. Desejável: Especialização e/ou Mestrado nas áreas correlatas (Administração, Gestão de Negócios, Tecnologia, dentre outras); • Possuir experiência comprovada de, no mínimo, 5 anos no segmento, em instituição educacional ou empresarial de grande porte. Observações Finais: • Os interessados deverão enviar um CV com o título GER.GERTI + NOME para o e-mail: recrutamentointerno@ mackenzie.br; • Data limite para inscrição: 10/07/2017 (não serão aceitas inscrições após essa data); • Maiores informações: Diego/Talita/Joyce/Jéssica – Telefones: 2114-8356/8367 ou 2766-7623/7622. São Paulo, 20 de junho de 2017. TONY GERALDO CARNEIRO Superintendente de Gestão de Pessoas e Suprimentos JOSÉ FRANCISCO HINTZE JR Diretor de Desenvolvimento Humano e Infraestrutura


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REFORMA 1517 - 2017

Brasil Presbiteriano

O Jornal Brasil Presbiteriano é órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil Ano 58 nº 752 - Julho de 2017

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A REFORMA PROTESTANTE DO SÉCULO 16

A Reforma Protestante – 2a Parte Alderi Souza de Matos

João Calvino (1509-1564) João Calvino nasceu em Noyon, no nordeste da França. Seu pai, Gérard Cauvin, era secretário do bispo e advogado da igreja naquela cidade; sua mãe Jeanne Lefranc, morreu quando ele ainda era uma criança. Após os primeiros estudos em sua cidade, Calvino seguiu para Paris, onde estudou teologia e humanidades (1523-1528). A seguir, por determinação do pai, foi estudar direito nas cidades de Orléans e Bourges (1528-1531). Com a morte do pai, retornou a Paris e deu prosseguimento aos estudos humanísticos, publicando sua primeira obra, um comentário do tratado de Sêneca Sobre a Clemência. Calvino converteu-se provavelmente em 1533. No dia 1º de novembro daquele ano, seu amigo Nicholas Cop fez um discurso de posse na Universidade de Paris repleto de idéias protestantes. Calvino foi considerado o co-autor do discurso e os dois amigos tiveram de fugir para salvar a vida. Calvino foi para

a cidade de Angouleme, onde começou a escrever a sua obra mais importante, Instituição da Religião Cristã ou Institutas, publicada em Basiléia em 1536 (a última edição seria publicada somente em 1559). Após voltar por breve tempo ao seu país, Calvino decidiu fixar-se na cidade protestante de Estrasburgo, onde atuava o reformador Martin Bucer (1491-1551). No caminho, ocorreu um episódio marcante. Impossibilitado de seguir diretamente para Estrasburgo por causa de guerra entre a França e a Alemanha, o futuro reformador fez um longo desvio, passando por Genebra, na Suíça francesa. Essa

cidade havia abraçado o protestantismo reformado há apenas dois meses (maio de 1536), sob a liderança de Guilherme Farel (14891565). Este, sabendo que o autor das Institutas estava de passagem pela cidade, o “convenceu” a permanecer ali e ajudá-lo. A Reforma em Genebra Logo, Calvino e Farel entraram em conflito com os magistrados de Genebra e dois anos depois foram expulsos. Calvino seguiu então para Estrasburgo, onde passou os três anos mais felizes e produtivos da sua carreira (1538-1541). Naquela cidade, ele pastoreou uma igreja de refugiados franceses, casou-se

com a viúva Idelette de Bure (†1549), lecionou na academia de João Sturm, participou de conferências religiosas ao lado de Martin Bucer e publicou algumas obras importantes, entre elas a segunda edição das Institutas e o Comentário de Romanos, o primeiro dos muitos que escreveu. Eventualmente, os magistrados de Genebra insistiram no seu retorno. Calvino aceitou com a condição de que pudesse escrever a constituição da Igreja Reformada de Genebra. Essa importante obra, as Ordenanças Eclesiásticas, previa quatro categorias de oficiais: pastores, encarregados da pregação e dos sacramentos;

Guilherme Farel insiste com Calvino para retê-lo em Genebra

doutores para o estudo e ensino da Bíblia; presbíteros, com funções disciplinares; e diáconos, encarregados da beneficência. Os pastores e os doutores formavam a Companhia dos Pastores; os pastores e os presbíteros integravam o Consistório, uma espécie de tribunal eclesiástico. Calvino teve um relacionamento tenso com as autoridades municipais até 1555. No final desse período, em 1553, o médico espanhol Miguel Serveto foi condenado e executado por heresia. Calvino teve uma participação nesse episódio, lamentada por seus herdeiros, o que não anula a sua grande obra como reformador, escritor, teólogo e líder eclesiástico. Em 1559, um ano especialmente significativo, o reformador tornou-se cidadão de Genebra, fundou a sua Academia, embrião da Universidade de Genebra, e publicou a última edição das Institutas. A visão do reformador francês era tornar Genebra uma cidade-cristã-modelo através da reorganização da Igreja, de um ministério bem preparado, de leis que expressassem uma ética bíblica e de um sistema educacional completo e


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gratuito. O resultado foi que Genebra tornou-se um grande centro do protestantismo, preparando líderes reformados para toda a Europa e abrigando centenas de refugiados. O calvinismo veio a ser o mais completo sistema teológico protestante, tendo por princípio básico a soberania de Deus e suas implicações, soteriológicas e outras. Foi essa a origem das Igrejas reformadas (continente europeu) ou presbiterianas (Ilhas britânicas). Os principais países em que se difundiu o movimento reformado foram, além da Suíça e da França, o sul da Alemanha, a Holanda, a Hungria e a Escócia. Calvino também se notabilizou como um erudito bíblico. Escreveu comentários sobre quase todo o Novo Testamento e os principais livros do Antigo Testamento. Seus sermões e preleções também expuseram amplamente as Escrituras. Além disso, escreveu muitos opúsculos, tratados e cartas. Mas a maior das suas obras são as Institutas, nas quais ele expôs todos os aspectos da doutrina cristã, apelando às Escrituras e ao testemunho dos antigos pais da igreja. Em muitas de suas obras, se vê uma mão que sustenta um coração, e ao redor as palavras Cor meum tibi offero Domine, prompte et sincere (“O meu coração te ofereço, ó Senhor, de modo pronto e sincero”). Continua na próxima edição: 3. A Reforma Protestante – 2ª Parte 3.1 A Reforma na Inglaterra

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A Academia de Genebra, uma escola missionária Hermisten Costa

Nos seus poucos anos de vida (1509-1564) João Calvino executou tarefas gigantescas. Até hoje não conseguimos compreender como ele conseguiu desempenhá-las com tanto brilho. Neste texto pontuaremos apenas alguns aspectos da sua visão missionária. 1. A Academia: Escola de Missões Fiel ao seu princípio de que “(...) as escolas teológicas são berçários de pastores”, Calvino criou uma Academia em Genebra (5/6/1559) – contando com 600 alunos, aumentando já no primeiro ano para 900 alunos. Genebra se tornou um grande centro missionário, porque os foragidos que lá se instalaram, puderam, posteriormente, levar para os seus países e cidades o evangelho ali aprendido. “O estabelecimento da Academia foi em parte realizado por causa do desejo de suprir e treinar missionários evangélicos”, informa-nos Mackinnon. Destacamos que, com exceção de Isaías, todos os comentários de Calvino sobre os profetas “consistem em sermões direcionados a alunos em treinamento para o trabalho missionário, principalmente na França”. O envio de missionários era uma questão delicada

para a qual a Companhia de Pastores manteve, enquanto pode, sigilo absoluto até mesmo do Conselho Municipal. A primeira vez que os nomes deles são mencionados na Companhia de Pastores de Genebra foi em 22 de abril de 1555, Jehan Vernoul e Jehan Lauvergeat, enviados para as igrejas dos vales de Piemonte e Jacques Langlois Tours, Lausanne e Lyon, onde seria martirizado em 1572. Outro exemplo: o envio de dois ministros para a missão no Brasil, em resposta ao apelo de Villegagnon, é descrita de forma sumaríssima: O registro simplesmente menciona (25/08/1556) que Pierre Richier († 1580) e M. Guillaume Charretier (Chartier) foram enviados. 2. O evangelho deve ser oferecido a todos os povos “O nome de Deus nunca é melhor celebrado do que quando a verdadeira religião é extensamente propagada e quando a Igreja cresce, a qual por essa conta é chamada ‘plantações do Senhor, para que ele seja glorificado’ [Is 61.3]”. Esse objetivo da Academia faz jus à compreensão missionária de Calvino. Considerando que o reino de Deus envolve todos os povos, a mensagem do evangelho deve ser anunciada a todos. Comentando 1Timóteo 2.4, Calvi-

no afirma: “(...) nenhuma nação da terra e nenhuma classe social são excluídas da salvação, visto que Deus quer oferecer o evangelho a todos sem exceção”. Por isso, “O Senhor ordena aos ministros do evangelho (que preguem) em lugares distantes, com o propósito de espalhar a doutrina da salvação em cada parte do mundo”. O nosso trabalho deve ser feito com total confiança de Deus, sabendo que cabe a ele converter o coração do homem e, que a rejeição do evangelho neste momento não implica necessariamente na rejeição absoluta. Essa convicção nos estimula a trabalhar com fervor e alegre perseverança: “Visto que a conversão de uma pessoa está nas mãos de Deus, quem sabe se aqueles que hoje parecem empedernidos subitamente não sejam transformados pelo poder de Deus em pessoas diferentes? E assim, ao recordarmos que o arrependimento é dom e obra de Deus, acalentaremos esperança mais viva e, encorajados por essa certeza, aceleraremos nosso labor e cuidaremos da instrução dos rebeldes. Devemos encará-lo da seguinte forma: é nosso dever semear e regar e, enquanto o fazemos, devemos esperar que Deus dê o crescimento (1Co 3.6). Portanto,

nossos esforços e labores são por si sós infrutíferos; e no entanto, pela graça de Deus, não são infrutíferos”. A nossa responsabilidade: “(...) é nosso dever proclamar a bondade de Deus a toda nação”. Considerações Finais A Academia tornou-se grandemente respeitada em toda a Europa; o grau concedido aos seus alunos era amplamente aceito e considerado em universidades de países protestantes como, por exemplo, na Holanda. O historiador Marc Venard (1929-2014) comenta que a Academia “será daí em diante um viveiro de pastores para toda a Europa reformada”. A Academia contribuiu em grandes proporções para fazer de Genebra “um dos faróis do Ocidente” admite Daniel-Rops. A formação dada em Genebra era intelectual e espiritual; os alunos participavam dos cultos das quartas-feiras bem como em todos os três cultos prestados a Deus no domingo. Um escritor referiu-se a Genebra deste modo: “Deus fez de Genebra sua Belém, isto é, sua casa do pão”. Schaff chega dizer que Calvino “de certo modo, pode ser considerado o pai da Nova Inglaterra e da república Americana”. O Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa é colunista regular do Brasil Presbiteriano.


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Trabalho, economia e mordomia: uma abordagem Reformada Em sua densa e vasta obra, João Calvino conferiu ao trabalho humano uma dignidade tal que teve uma grande repercussão na sociedade. Na ética do trabalho, Lutero (1483-1546) e Calvino (1509-1564) afirmavam a responsabilidade do homem de cumprir a sua vocação por meio do trabalho glorificando a Deus no desempenho de sua vocação.

emprestado a juros seja permitido ‒ prática tão comum na Europa muitos séculos antes de Calvino ‒, o trabalho honesto, fruto do nosso labor é que deve ser a fonte de recursos para a manutenção de nossa família. Não devemos nos aproveitar das necessidades alheias, vivendo simplesmente de transações financeiras. Um princípio justo é que em todas as negociações, haja benefícios para ambas as partes.

1. Trabalho como atividade teocêntrica

2. Trabalho, frugalidade e poupança com fim social

Calvino entendia que todo trabalho lícito é importante aos olhos de Deus. O amor ao próximo faz com que o nosso honesto trabalho não se limite a satisfazer as nossas necessidades, mas, também, a ajudar aos nossos irmãos: “O amor nos leva a fazer muito mais. Ninguém pode viver exclusivamente para si mesmo e negligenciar o próximo. Todos nós temos de devotar-nos à ação de suprir as necessidades do próximo” (Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998, Ef 4.28). Entende que a preguiça e a ociosidade são amaldiçoadas por Deus. O trabalho está relacionado com o progresso de toda a raça humana, logo, a um crescimento sustentável. Assim, o ganho ilícito, por meio do qual exploramos desonestamente o trabalho do outro e dilapidamos o seu patrimônio, é, na realidade não um sinal de inteligência, mas, de iniquidade: é, portanto, uma forma de furto. Ainda que o dinheiro

Calvino defendeu três princípios éticos fundamentais: trabalho, poupança e frugalidade. Devemos trabalhar para a glória de Deus. Ter uma vida frugal, sem desperdício. O que pudermos economizar deve ter também um propósito social. Ele nos adverte quanto ao perigo de transformarmos o nosso trabalho em objeto de avareza justamente pela falta de fé na provisão do Senhor. Portanto, a certeza do cuidado de Deus não nos deve conduzir à letargia, antes a nos tornar agentes desse cuidado. Devemos ter em vista que o cuidado de Deus envolve pessoas das quais ele cuida e, ao mesmo tempo, pessoas por meio das quais ele assiste. Desse modo, somos agentes ordinários de Deus no seu socorro. Muitas vezes em nossas ações ordinárias estamos sendo agentes de Deus em resposta a orações dos fiéis. Existe ética porque há um Deus providente. A ética cristã é uma resposta à certeza do

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cuidado de Deus. Somos responsáveis diante de Deus por levar adiante o que nos compete, dentro de nossa esfera. Calvino entende que o ato de repartir o que temos consiste em uma prática de justiça relacionada ao propósito de nossa existência: não nascemos apenas para cuidar de nossas necessidades, antes, devemos ter o espírito generoso, repartindo com os nossos irmãos conforme as nossas possibilidades e a necessidade deles. A nossa “riqueza”, ou seja, suficiência, como resultado da bondade de Deus, tem um sentido social: “O Senhor administra em nosso favor tanto quanto nos é proveitoso, às vezes mais e às vezes menos, mas sempre na medida em que ficamos satisfeitos e que vale muito mais do que ter o mundo inteiro e sermos consumidos. Dentro desta suficiência devemos ser ricos para o bem de outrem. Porque Deus não nos faz o bem com o fim de cada um de nós guardar para si mesmo o que recebe, mas para que haja mútua participação entre nós, de acordo com os reclamos das necessidades” (Calvino, 2Coríntios, 2Co 9.8). A ajuda aos nossos irmãos só se torna possível quando nos despimos da primazia de nossos interesses pessoais; quando renunciamos ao nosso direito em prol do outro. Pregando em 30 de outubro de 1555, disse: “Deus mescla rico e pobre de um modo que eles podem se reunir e manter comunhão um com o outro, de maneira que o pobre recebe e o rico dá” (Sermon Dt 15.11-

15 Sermão 95: In: Herman J. Selderhuis, org. Calvini Opera Database 1.0, Netherlands: Instituut voor Reformatieonderzoek, 2005, v. 27), p. 342). 3. Algumas medidas práticas “(...) a pregação do reformador é o prolongamento de sua ação. A modéstia em que vive com seus colegas é proverbial e toca as raias da pobreza. Suas providências em favor dos deserdados são constantes. Importuna persistentemente os conselheiros da cidade para que tomem medidas de atendimento aos pobres. Depois da chacina dos protestantes em Provence, em 1545, organiza pessoalmente uma coleta geral, subindo as escadarias dos edifícios repletos de refugiados para recolher a esmola de todos” (A. Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, São Paulo: CEP, 1990, p. 230). Calvino combateu o monasticismo e à pobreza voluntária (fruto da compreensão de salvação pelas obras). A sua dinâmica consistia em abrir postos de trabalho, ensinando profissão e, até mesmo comprando instrumentos de trabalho para os que passavam por esse treinamento. Criou escolas inclusive para meninas (1536), culminando na Academia (1559). Genebra recebia muitos imigrantes. Muitos chegavam sem recursos. Havia uma metodologia para tratar dessa questão: “Um supervisor distrital fazia a triagem de todos os pedidos e apresentava aos diáconos os que ele achava que deviam ser aprovados. Os diáconos visita-

vam as casas para verificar as necessidades. Cerca de 5% da população de Genebra receberam ajuda financeira, quase sempre por pouco tempo. Os diáconos, pensando com uma mentalidade empresarial, às vezes usavam os recursos da igreja para comprar ferramentas, matéria-prima ou pagar o aluguel inicial de uma loja. Os refugiados que eram artesãos podiam trabalhar” (Marvin Olasky, O Roteiro Secular no Teatro de Deus: Calvino sobre o significado cristão da vida pública: In: John Piper; David Mathis, orgs. Com Calvino no Teatro de Deus: A Glória de Cristo e a Vida Diária, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 88) Nesse espírito, os antigos ourives que trabalhavam com joias como motivos religiosos, em sua nova fé perceberam gradualmente a incompatibilidade de suas produções. Muitos redirecionaram o seu trabalho para a fabricação de relógios. A Suíça era também conhecida por seus jovens que se tornavam mercenários de reis e príncipes. Um elemento fomentador para isso era a falta de emprego. Com a Reforma esse quadro gradualmente foi sendo transformado. A Reforma foi um movimento espiritual e ético, influenciando todas as áreas da vida. Afinal, tudo pertence a Deus. Ele mesmo nos colocou neste mundo para glorificá-lo por meio de nossa obediência expressa em uma fé operosa. Como Reformados, temos esse legado que, se torna em um abençoado desafio. Caminhemos, pois.


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As Institutas de João Calvino A obra de uma vida e uma vida para o Reino As Institutas, obra concluída em agosto de 1535, teve a sua primeira edição em março de 1536 (Basiléia). O nome original é Institutio Christianae Religionis, uma cartilha concernente à fé cristã que objetiva voltar aos fundamentos originais da teologia cristã. A sua estrutura foi certamente inspirada no Catecismo Menor de Lutero (1529), recebendo também a influência de outros reformadores mais antigos. Hermisten Costa Calvino escreveu as Institutas num primeiro momento para apresentar a fé cristã de forma consistente visando defender cristãos que aderiram à Reforma. Desse modo, preparou a primeira edição de sua obra com o prefácio dedicado ao Rei Francisco I (1494-1547) da França. Nessa confissão doutrinária, Calvino demonstra a integridade bíblica de seus irmãos, desmentindo falsas acusações sectárias e declara a distinção desse movimento em relação aos anabatistas. Calvino apresenta as marcas pelas quais a igreja de Cristo deve ser identificada: a Palavra e os Sacramentos. A obra pode ser dividida em cinco capítulos nos quais expõe a Lei, Credo Apostólico, oração, os sacramentos do batismo e da ceia do Senhor, e a liberdade cristã. Na medida em que escrevia os seus comentários da Bíblia, Calvino ampliava a sua Instituição da Religião Cristã, tendo em vista os novos questionamentos e os debates de seu tempo. Por sua vez, nos seus comentários não raramente ele remete o leitor às Institutas.1 Nesse sentido a obra apresenta um esboço estrutural de uma Apologética Cristã. Aliás, a sua teologia nada mais era do que um esforço para comentar as Escrituras. Por isso, sua obra pode ser chamada de uma “teologia bíblica”, escrita por um comentarista bíblico e teólogo sistemático que tão bem sabia se valer dos recursos da exegese e da hermenêutica e,

considerando a graça comum, recorria às demais ciências, dispondo tudo isso de forma erudita, devocional e pedagógica. Por isso a história dos comentários bíblicos de Calvino e a das sucessivas edições das Institutas se completam. A sua exegese tinha um escopo teológico e a sua teologia estava amparada em uma sólida exegese. Não obstante as diversas revisões e adições das Institutas, o seu propósito permanecia o mesmo: “(...) preparar e instruir os candidatos à Sagrada Teologia, que não só lhe tenham fácil acesso, mas ainda possam nessa escalada avançar sem tropeços”.2 Na tradução francesa de 1541,3 feita pelo próprio Calvino, no prefácio, diz que a sua obra poderia servir como “uma chave e uma abertura para dar acesso a todos os filhos de Deus para entenderem bem, e diretamente, a Escritura Sagrada”. No parágrafo anterior justificara: “Redigi-a primeiramente em latim, para que pudesse servir a todos os estudiosos, de qualquer país que fossem, então, ao depois, almejando comunicar o que daí poderia advir de proveito à nossa gente francesa, traduzi-a também para nossa língua”. Calvino pretende, portanto, diante de variadas interpretações que surgem, apresentar um guia seguro para a leitura das Escrituras.4 Difusão e ampliação das Institutas A edição original escrita em latim dispunha de 6 capítulos

em apenas 514 páginas, com formato aproximado de 15x10 – um livro de bolso para transporte discreto; a última – passando por algumas ampliações, revisões e reorganizações [1536, 1539, 1543 (reimpressa em 1545), 1550 (quando é introduzida subdivisão dos capítulos em parágrafos) (reimpressa em 1553 e 1554)], até atingir a forma definitiva – publicada em Genebra (1559). Esta foi reimpressa quatro vezes em 1561: em Genebra: duas vezes em francês e uma vez em latim. Londres: uma vez em inglês. Tive acesso à edição latina editada em Genebra por Antonius Rebulins, constando de 980 páginas e mais 67 páginas de índice remissivo (formato: 18x11, tipo 8), dividida em 80 capítulos. As Institutas foi logo traduzida para diversos idiomas (italiano: 1557; holandês: 1560; inglês: 1561; alemão: 1572 e espanhol: 1597), sendo amplamente lida: “Nenhum livro seria mais lido durante o século 16”, especula o conceituado historiador católico Daniel-Rops (1901-1965).5 Calvino exerceu poderosa influência por meio da palavra falada e escrita. Institutas tornara-se um sucesso editorial desde o seu lançamento em 1536: “de 1550-1564 [ano da morte de Calvino], serão publicadas 256 edições, das quais 160 em Genebra. A Institution chrétienne é, então, sozinha, objeto de 25 reedições, nove latinas e dezesseis francesas das quais a maioria provém dos prelos genebrinos (...)”.6 Warfield (1851-1921) faz

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uma comparação das Institutas com outros trabalhos: “O que Tucídides é para os Gregos (...) o que Platão é entre os filósofos (...) é o que as ‘Instituições’ de Calvino é entre os tratados teológicos”.7 Para William Cunningham (1805-1861), na ciência teológica, a Instituição ocupa um lugar semelhante ao Novum Organum de Bacon e os Princípios Matemáticos de Newton nas ciências físicas.8 A última edição latina das Institutas (1559), Calvino a reorganizou em quatro Livros, inspirado no modelo do Credo Apostólico: I) O Conhecimento de Deus o Criador; II) O Pecado e a Pessoa e obra de Cristo o Redentor; III) A Obra de Cristo aplicada pelo Espírito Santo; IV) A Igreja de Deus e os Sacramentos. Objetivando facilitar a difusão da obra de Calvino na França, parte da segunda edição latina (1539) circulou subscrita sob o pseudônimo Alcuinus, um anagrama do seu próprio nome9 que visava despistar seus inquisidores, protegendo aqueles que a difundiam em territórios dominados pela igreja romana. Essa edição agora consta de 17 capítulos, seus assuntos foram reorganizados tendo sido triplicada em seu tamanho. Ela exerceria poderosa influência sobre as Igrejas da França, tendo o Parlamento francês inclusive interditado a obra e destruído alguns volumes (1542) e tendo a Faculdade de Teologia a incluído entre os livros censurados (23/06/1545).10 Apesar das sucessivas edições ampliadas das Institutas, a realidade é que a sua teologia não mudou. As modificações refletem, na realidade, mais uma preocupação pedagógica do que metodológica e menos ainda teológica. É bom lembrar que toda a sua obra foi produzida não num clima de sossego e paz, numa “torre de marfim”, mas em meio a inúmeros problemas: calúnias, difamações, incompreensões, questões administrativas, domésticas, financeiras e, principalmente, de saúde.

Considerações finais Nas Institutas temos a essência do pensamento do Reformador estruturada de forma lógica e didática. A sua contribuição maior talvez seja o de conduzir os fiéis de volta às Escrituras, demonstrando a sua atualidade, organização e solidez na estruturação da Fé Cristã. Humanamente falando, grande parte do sucesso do empreendimento reformador em sua expansão e solidez teológica deve-se a essa obra que permanece “como o maior e mais influente de todos os tratados dogmáticos”.11 Devemos ser gratos a Deus pela contribuição de Calvino no Reino. Somos grandemente devedores a ele que aprendeu que “o princípio da genuína sabedoria consiste em que o homem se desvencilhe do orgulho e se submeta à autoridade de Cristo”.12 1 Vejam-se, por exemplo: At 6.3; Rm 3.21,28; 1Co 1.1; 3.9,14; 5.5; 9.5-6; 2Co 4.17; 5.10; Ef 3.18-10; 1Tm 2.6; 3.8; 1Pe 1.20. 2 João Calvino, Prefácio à edição da Instituição, (1559). 3 Esta edição foi publicada em português: João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, 4v. 4 Veja-se: Alister McGrath, A Revolução Protestante, Brasília, DF.: Palavra, 2012, p. 97. 5 Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante, São Paulo: Quadrante, 1996, p. 383. 6 Lucien Febvre; Henry Jean-Martin, O Aparecimento do Livro, São Paulo: Hucitec, 1992, p. 442-443. 7 B.B. Warfield, Calvin and Calvinism, Grand Rapids, Michigan: Baker, (The Work’s of Benjamin B. Warfield), (Reimpr. 2000), v. 5, p. 374. 8 Ver: William Cunningham, The Reformers and the Theology of the Reformation, Carlisle, Pensilvânia: The Banner of Truth Trust, © 1862 (1979) (Reimpr.), p. 295. 9 Emile Doumergue, Jean Calvin: Les hommes et les choses de son temps, Lausanne: Georges Bridel & Cie Editerurs, 1899, v. 1, p. 563. 10 Veja-se: Jean Cardier, In: Prefácio à edição Francesa: Jean Calvin, L’Institution Chrétienne, p. IX. 11 B.B. Warfield, Calvin and Calvinism, Grand Rapids, Michigan: Baker, (The Work’s of Benjamin B. Warfield), (Reimpr. 2000), v. 5, p. 8. 12 João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 2.10-11), p. 74.


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TEOLOGIA HISTÓRICA

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500 anos da Reforma

Conexão com Deus – Zona Leste

Um lançamento especial

Em parceria com a IP da Penha e demais igrejas presbiterianas da região, o projeto chegou à zona leste.

uia de Estudos da Confissão de Fé de Westminster, Chad Van Dixhoorn, São Paulo: Cultura Cristã, 2017. 480 páginas. A Confissão de Fé de Westminster é uma confissão de fé reformada, de orientação calvinista. Adotada como símbolo de fé pela Igreja Presbiteriana do Brasil e igrejas presbiterianas e reformadas ao redor do mundo, essa Confissão de Fé foi produzida pela Assembleia de Westminster e aprovada pelo parlamento inglês em 1647. Lançado no mês de junho pela Editora Cultura Cristã, em cerimônia realizada no Centro de Pós-graduação Andrew Jumper – por ocasião do 1º Seminário de Teologia Histórica – o Guia de Estudos da Confissão de Fé de Westminster é uma obra que faz não uma “releitura” da Confissão no estilo pós-moderno, mas um rigoroso estudo dela, gramatical e histórico, no sentido da hermenêutica Reformada. O texto original é apresentado sem retoques em uma coluna e, na coluna ao lado é apresentada uma versão contemporânea dele, que atualiza a linguagem e incorpora as mudanças aprovadas ao

longo dos séculos, sem, porém, altera seu viez Reformado. Na edição em português, mantivemos o texto antigo em inglês e traduzimos o contemporâneo, bem como, obviamente, os comentários de Van Dixhoorn. Alterações adotadas pela igreja ao longo dos anos são claramente discutidas, seu conteúdo e razões. Em alguns casos, uma terceira coluna, posicionada entre a antiga e a contemporânea, apresenta o texto com aquelas mudanças.

A

O livro poderá ser adquirido em www.editoraculturacrista.com.br ou pelo 0800-0141963

Dr. Chad Van Dixhoorn Dr. Chad Van Dixhoorn (PhD, Cambridge University) é Professor de Teologia Histórica e Professor Associado de História da Igreja no Reformed Theological Seminary. Em 2013 foi eleito membro da Royal Historical Society em reconhecimento à sua obra de cinco volumes sobre a Assembleia de Westminster, publicado com Oxford University Press. Van Dixhoorn serviu durante nove anos como pastor, primeiro em Cambridge, no Reino Unido e depois em Viena, na Virgínia. É autoridade mundial no tema.

IP da Penha, a partir de 15 de maio, passou a realizar em seu templo, o culto “Conexão com Deus – Zona Leste”, que acontece todas as segundas-feiras, às 20h. O projeto Conexão com Deus já é promovido e financiado pela IP de Pinheiros – São Paulo, desde fevereiro de 2011. Agora, em parceria com a IP da Penha e demais igrejas presbiterianas da região, o projeto chegou à zona leste. O objetivo da programação é alcançar famílias do entorno e de lugares distantes, com a transmissão ao vivo, apresentando com mensagens evangelísticas de forma séria e santa. No culto inaugural (15/05), cerca de 400 pessoas estiveram presentes e ouviram a Palavra de Deus sendo pregada pelo Rev. Paulo Júnior. Para o Rev. Amauri Oliveira, pastor titular da IP Penha, esse é um privilégio que a região recebe de Deus, e cada crente tem responsabilidade nessa

benção. “Cristão da zona leste, em especial os presbiterianos, precisam de assumir essa responsabilidade como sal da terra e luz do mundo, para que o projeto Conexão com Deus seja uma benção na vida de famílias na zona leste e de outras regiões. O que é o projeto? O projeto Conexão com Deus é um encontro semanal que reúne pessoas para falar com Deus e ouvir sua voz. É um tempo agradável de oração, música e meditação bíblica. A fé é a senha que nos dará acesso a Deus, mas para tê-la você precisa ouvir o ensinamento bíblico. Os objetivos do projeto Esclarecer e disponibilizar para as pessoas a mensagem bíblica do evangelho de Jesus; Encorajar pessoas através da pregação bíblica; acolher e cuidar de pessoas feridas e doentes espiritualmente.

Transmissões ao vivo: www.conexaocomdeus.com.br www.ippenha.org.br – clicar em Culto ao Vivo www.facebook.com/ippenha


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EDUCAÇÃO CRISTÃ

II Congresso Regional em Rolândia

Beny Vieira

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os dias 9 e 10 de junho de 2017, foi realizado o II Congresso Regional de Educação Cristã, na IP de Rolândia, PR. O tema foi A Escola Dominical Reformada no Contexto da Pós-Modernidade e as oficinas foram ministradas pela equipe da Casa Editora Presbiteriana. Participaram várias igrejas do Sínodo Norte do Paraná e do Sínodo Metropolitano de Londrina. Do Presbitério Norte Novo Paraná: Igrejas Presbiterianas de Rolândia, Apucarana, Sabáudia, Colorado, Betel de Arapongas, Porecatu, e a Congregação Presbiterial de Jaguapitã. Do Presbitério de Maringá, as igrejas: Central de Maringá, Quarta de Maringá e Marialva. Do Sínodo Metropolitano de Londrina, do Presbitério Grande Londrina: a IP de Cambé, a Oitava IP Londrina e a IP Ebenézer. Do Presbitério de Londrina: a IP Ágape de

Londrina. Houve também a participação de irmãos da Igreja Evangélica de Califórnia, PR. O total foi de 97 participantes inscritos. A abertura ocorreu no dia 9 de junho, à noite. No sábado foram ministradas as oficinas, num total de cinco: 1. Ensino para Crianças: Dinamismo em Sala de Aula. Parte 1, O Ministério do Professor e Parte 2, Metodologia (Márcia Barbutti – São Mateus ES). 2. Pré-adolescentes na EBD: Desenvolvendo uma Cosmovisão Bíblica (Roberta Leonardo Fonseca – Rio de Janeiro, RJ). 3. Ensino para Jovens (André Filipe Noronha Silva – São Paulo SP). 4. “O Ensino Reformado para Jovens e Adultos na Pós-Modernidade” (Sandra Salum Marra – São Paulo, SP). 5. Educação e Reforma (Cláudio Marra – São Paulo, SP). O encerramento com um painel aconteceu das 16h às 17h30. A avaliação geral do Congresso foi muito positiva.

Cada oficineiro se esmerou em trazer conteúdos relevantes com a temática proposta e dentro da faixa etária específica de cada oficina. Diante das ministrações e discussões, todos saíram do Congresso com a consciência da necessidade de compreender o tempo em que vivemos e ao mesmo tempo trazer o legado da Reforma, especialmente a centralidade das Escrituras, para os nossos alunos da Escola Dominical. Outra convicção presente em todos é que a Escola Dominical é uma ferramenta fundamental e ao mesmo tempo viável para os nossos dias. O que precisamos fazer é nos esmerar para alcançar o maior número possível de pessoas. Pudemos conhecer o testemunho de igrejas que, de um ano para cá, desde o nosso primeiro congresso, experimentaram uma renovação na Escola Dominical, com um maior investimento em materiais e cursos e também

com a resposta dos irmãos que passaram a participar mais ativamente. Terminamos este congresso com uma alegria imensa pela participação das igrejas, o conteúdo das oficinas e o aprendizado adquirido. Estamos muito gratos à Casa Editora Presbiteriana (Editora Cultura Cristã) por idealizar esse tipo de

Congresso para treinamento dos professores da Escola Dominical e também agradecemos de modo especial aos preletores que se dispuseram a estar conosco, bem como suas famílias que os liberaram e os apoiaram nesse trabalho. O Rev. Beny Vieira dos Santos é o pastor da IP de Rolândia.

Reorganização da Sinodal de UCPs Vale do Rio Grande

N

o dia 29 de abril aconteceu na IP Jd. Itapuan em Santo André, SP, a reorganização da Sinodal de UCPs. O tema do congresso foi: “A Reforma na infância”. Contamos com a presença do presidente do Sínodo Rev. Zedequias Alves. Recebemos cerca de 150 pessoas, sendo a maior parte crianças. Cânticos, devocional, eleição da diretoria do próximo biênio, gincanas bíblicas e um gostoso lanche fizeram parte desse evento. O ABC caminha se estruturando e trabalhando para receber o Congresso Nacional Mãos e Coração que acontecerá em setembro, também sediado na IP Jd. Itapuan. Contamos com as orações e apoio dos irmãos.

Clayton e Elaine, secretários da Infância em Santo André. Informações: elaine@o2informatica.com.br


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FORÇAS DE INTEGRAÇÃO

Unidos pelo chamado O

Mackenzie Voluntário é um programa do Instituto Presbiteriano Mackenzie que tem fomentado a cultura de voluntariado e mobilizado parceiros com vistas à transformação social. Ao longo dos treze anos de programa, milhares de pessoas colocaram seu tempo, recursos, dons e talentos a serviço do bem – e tudo isso, voluntariamente. Apenas em 2016, o Mackenzie Voluntário contou com mais de 45 mil voluntários, distribuídos em 266 projetos, em todas as regiões do Brasil. Como resultado, cerca de 518 mil pessoas foram beneficiadas nas áreas de educação, saúde, cultura, entre outras. A Igreja Presbiteriana do Brasil é responsável por grande parte desses resultados. Nos últimos anos, mais de 50% dos projetos de voluntariado foram desenvolvidos em parceria com as igrejas. Dessa

forma, as comunidades não são atendidas apenas em suas necessidades materiais, mas recebem dos voluntários uma mensagem de esperança e transformação duradoura. Um excelente exemplo de projeto voluntário confessional é o B.O.M. – Bíblia, Oração e Mobilização, que acontece anualmente no município de Jacobina, interior da Bahia. Além de doação de roupas, brinquedos, apresentações musicais e atividades recreativas, cerca de 80 voluntários da igreja também distribuíram Bíblias e oraram pelas pessoas. “O maior benefício foi o de orarmos por eles”, conta o pastor da Igreja Presbiteriana da Redenção, Rev. Marcelo Rocha, líder desse projeto. Já o projeto A plenitude do evangelho aos povos distantes atua em Ponta Porã, na fronteira do Mato Grosso do Sul com o Para-

guai, para resgatar vidas em um contexto de grande vulnerabilidade social. Os voluntários realizam desde atendimentos básicos de saúde e doação de alimen-

tos, até palestras e oficinas para geração de renda. “O nosso propósito é atender a população carente na tentativa de minimizar o problema gerado pela falta de

recursos materiais e a proliferação do uso de bebidas e entorpecentes na população, em especial entre as crianças e moradores de rua”, diz a líder do projeto e missionária, Leni de Freitas Folly. Muitos outros projetos estão em andamento nessa virtuosa parceria entre Mackenzie Voluntário e Igreja Presbiteriana do Brasil. Assim, cumpre-se o propósito de iluminar um mundo em trevas, como está escrito: “(...) resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16).

Martinho Lutero, Resposta à Dieta de Worms, 18 de abril de 1521 “Uma vez que sua serena Majestade e vossas senhorias procuram uma resposta simples, eu a darei desse modo, sem enfeites. A menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou por uma razão clara (pois não confio nem no papa nem nos concílios, por ser bem sabido que

eles muitas vezes erraram e se contradisseram), eu estou preso às Escrituras que citei e minha consciência é cativa da Palavra de Deus. Não posso e não vou retirar nada, já que não é seguro nem certo ir contra a consciência. Que Deus me ajude. Amém.”

Martinho Lutero, Luther’s Works, 33: Career of the Reformer III


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O CONSULTÓRIO BÍBLICO REVISITADO

Quantas mortes são possíveis ao homem Editoria assinada primeiramente pelo Rev. Galdino Moreira (1889-1982) e em seu último formato redigida desde 1977 pelo Rev. Odayr Olivetti até seu falecimento (1928-2013) Odayr Olivetti

Pergunta – “Se os homens morrem só uma vez (Hb 9.27), o que dizer dos que ressuscitam, como os mencionados em Mateus 27.52-53?” Resposta: vejamos: 1. Todos os homens passam necessariamente pela experiência da morte (1Co 15.22). Todos os seres humanos morrem; é a regra. Exceções: a. Enoque e Elias (Gn 5.24; Hb 11.5; 2Rs 2.10-12; Mt 27.52,53); b. Os crentes fiéis que estiverem vivendo na terra por ocasião do retorno glorioso do Senhor Jesus. Eles não

morrerão, mas serão transformados. Ver 1Co 15.51 (passagem em que “dormir” significa “morrer”, como em Jo 11.11-14); 1Ts 4.17. Os que passaram pela experiência da ressurreição não continuaram vivendo nesta existência, mas tornaram a morrer. Morreram fisicamente duas vezes. 2. Há um sentido mais profundo em que todos os seres humanos morrem uma só vez, e só se livram dessa morte pela regeneração (nova criação) espiritual. O pecado tornou o homem “morto” aos olhos de Deus (Ef 2.1: “Ele vos

deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”). Os pecadores não regenerados pelo poder de Deus são “por natureza filhos da ira” (Ef 2.3). Por isso é que só Deus, por sua graça, pode nos salvar (“[...] pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus”, Ef 2.8). Sim, porque o morto não pode fazer nada, nem por si nem por ninguém. Por isso também os salvos são descritos como nascidos de novo (Jo 3.3-7), pelo poder de Deus em Cristo, que os faz filhos de Deus (Jo 1.12,13), “feitura dele (de Deus), criados

em Cristo Jesus” (Ef 2.10). Vale a pena concluir transcrevendo Romanos 8.6-11: “(...) o penhor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz. Por isso o penhor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita

em vós. E se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida3 por causa da justiça. Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos, vivificará também os vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito que em vós habita.”

MISSÕES

Notícias do Instituto Bíblico Rev. Felipe Landes Lenis Lang

M

ais uma turma de evangelistas indígenas se forma neste ano no Instituto da Missão Evangélica Caiuá. Durante três anos há o teste do chamado, alguns não ficam, mas os que permanecem se firmam, pelo estudo da Palavra, que é a ferramen-

ta espiritual; pelo trabalho conjunto, com ferramentas que recebem para lavrar a terra, deixar suas casas e o Instituto em ordem, como zelo pelo que o Pai nos tem dado e como testemunho de nova vida em Jesus Cristo. Ou se firmam indo a outras aldeias para pintar a congregação (Sassoró) e participar dos trabalhos

da igreja (Gwiraroká e Sucuri). Na Capelania, continuamos a ajudar o hospital “Porta da Esperança”, assim os alunos podem se preparar semanalmente para falar com crianças e adultos, confeccionando ou separando os visuais das histórias bíblicas a serem contadas. As pregações nas Congregações e

na sede da Missão, preparam esses alunos para assumirem a importante tarefa de evangelista entre seu povo. Em agradecimento aos parentes e professores, os alunos promoverão um almoço no final do ano. Para conseguirem os recursos fizeram um bazar e vendem artesanato. Sabemos que Deus move

corações, mesmo durante a crise que passamos no país, agradecemos a Deus pelos que nos sustentam em oração, aos professores e às igrejas e irmãos da IPB, que fielmente doam para o Instituto. Sabemos pois, que o trabalho no Senhor, nunca será em vão. Lenis Lang de O. Lima é diretora do IBFL


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MEDITAÇÕES

Bíblia e ciência “Os céus proclamam a glória de Deus e (...) a lei do SENHOR restaura a alma (...)” (Sl 19.1,7) Frans Leonard Schalkwijk

A

s vezes parece haver um choque entre ciência e Bíblia. Isso pode causar até conflitos no coração daqueles que amam a Palavra do Senhor. Em alguns casos, pode levar até ao abandono da fé em Deus, substituindo-a pela fé na ciência. O que tem me ajudado muito nesse ponto é esse pequeno diagrama. São quatro livros

em duas prateleiras. Na prateleira debaixo encontram-se os livros básicos, a natureza (N) e a Bíblia (B). Na prateleira de cima estão os comentários sobre a natureza (cN) e a Bíblia (cB). Os dois livros básicos foram escritos pelo mesmo Autor sobre assuntos diferentes. Não são como 1ª e 2ª edição revisada do mesmo livro. Mas reconhecemos que pode haver

aparentes contradições e podemos nos enganar sobre o significado. Longe de admitir que Derrida estava certo ao relativizar o significado de praticamente qualquer discurso, admitimos que equívocos podem ser reais. Enganos têm ocorrido nos diálogos. Ao combaterem (↔) o cientista Galilei, teólogos (cB) se enganaram tanto na leitura da Bíblia como da natureza (↙↓). Depois reconheceram que a Bíblia não é um manual sobre astronomia, mas fala a língua diária do homem comum. Por outro

lado, cientistas (cN) se enganaram tanto na leitura da natureza como da Bíblia (↓↘) ao ridiculizarem (↔) teólogos por acreditarem na existência do rei babilônico Belsazar, mencionado no livro de Daniel. Depois, arqueólogos descobriram que esse último rei da Babilônia de fato era uma figura histórica, que estava substituindo seu pai. Finalmente, lembramos que muitos cientistas como Kepler e Galilei, Newton e Maxwell, Dekker e McGrath, antigos e atuais, reconheceram e reconhecem com gratidão: “Os céus

proclamam a glória de Deus e... a lei do SENHOR restaura a alma ...” E é esse o alvo dos dois livros: que os mordomos da natureza cuidem bem dela e louvem ao seu Criador. Extraído de Meditações de um Peregrino, de Frans Leonard Schalkwijk, Cultura Cristã, 2014.

PROJETO SARA

O trabalho à luz da Reforma “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. Compartilhai as necessidades dos santos; praticai a hospitalidade.” (Rm 12.10,13) Raquel de Paula

P

ara Calvino, o homem só poderia conhecer a si próprio e o seu papel na sociedade a partir do conhecimento de Deus. Ele trata da questão do trabalho entendendo que o crente é chamado por Deus para servi-lo em todas as esferas

da sociedade, dando um novo significado e estabelecendo a ética no trabalho à luz das Escrituras. A influência da Reforma no trabalho e na economia repercutiu no modo de vivenciar a fé cristã de nossos irmãos do passado. Entenderam que o trabalho era uma oportunidade de

honrar a Deus de forma digna e reta. O salário, na forma de dinheiro, é o meio de Deus para proporcionar não só ao homem o que é necessário para o seu sustento, mas também ao seu próximo. De forma que Deus coloca à nossa disposição nossos bens como instrumentos de sua divina providência, para sermos fieis, tanto na entrega dos nossos dízimos, reconhecendo e agradecendo seu cuidado para conosco, quanto na administração de nossos recursos para organização de nossa vida

e ainda, com condições de suprir as necessidades de nosso próximo que se encontra em situação desfavorável. Não devemos, portanto, buscar os bens materiais por cobiça, mas precisamos obedecer ao que Jesus nos ordenou: “Buscai (...) em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33). Deus nos dará sabedoria para vivermos de modo equilibrado e moderado, tendo todas as nossas necessidades supridas, sem

nada nos faltar, considerando as bênçãos recebidas a cada dia e reconhecendo que tudo vem das mãos do nosso Pai celestes, a quem vamos prestar contas. Assim, podemos refletir o amor de Deus, sendo luz do mundo e sal da terra, uma vez que usamos daquilo que Deus nos deu para darmos testemunho da sua maravilhosa graça em nossos lares. Acudimos ao necessitado e glorificamos a Deus com nossos bens. Raquel de Paula é membro da IP Praia Grande (SP)


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IGREJA PERSEGUIDA

Perseguição a cristãos na África e Oriente Médio aumentou

D

e acordo com uma ONG que monitora perseguição por motivos religiosos, 7.100 assassinatos de cristãos foram reportados em 2015. Desses, 4.028 ocorreram na Nigéria A perseguição religiosa na África e na Ásia está cada vez mais intensa. No Oriente Médio, milhões de cristãos são forçados a fugir de suas casas para campos de refugiados lotados e se arriscam pelas perigosas rotas até a Europa. Segundo a organização Open Doors, que monitora casos

de violência e perseguição por motivos religiosos, a intolerância contra os cristãos só cresceu no último ano. A Coreia do Norte é o primeiro país do mundo quando se trata de perseguição a adeptos do cristianismo. Mas, segundo a organização que produz um relatório anual sobre o tema, em 2015, o maior número de cristãos mortos por sua fé foi registrado na Nigéria. Foram 4.028 mortes no país, de um total de 7.100 assassinatos reportados em todo o mun-

do. Das 50 nações listadas pela Open Doors, as seis em que mais cristãos foram mortos por motivos religiosos estão na África subsaariana: Nigéria, República Centro-Africana, Chade, República Democrática do Congo, Quênia e Camarões. “Em termos numéricos pelo menos, não em grau, a perseguição de cristãos na região supera o Oriente Médio”, diz o relatório da organização. Fonte: http://veja.abril.com.br/ mundo/perseguicao-a-cristaos-na-africa-e-oriente-medio-aumentou/

MISSÕES

Igreja em Sevilha comemora 11º aniversário

N

os dias 13 e 14 de maio, a igreja em Sevilha, Espanha, comemorou o seu 11º aniversário de organização. Como parte das comemorações, foi realizado no sábado um curso intensivo de evangelização, com o objetivo de treinar e formar a primeira equipe de evangelização da igreja. O curso foi dado pelo Rev. Cláudio Renato de La Jara, convidado para a ocasião. No domingo foi realizado um culto de gratidão a Deus

Sevilha - um desafio missionário

pelo aniversário da igreja, com a participação de vários irmãos, seguido de um

almoço de confraternização. Informações: Rev. Everton Pita / Fonte: www.apmt.org.br

No BRASIL E NO MUNDO

Paquistão profere inédita sentença de morte por blasfêmia em rede social

T

aimoor Raza, 30, foi considerado culpado por declarações derrogatórias sobre o profeta Maomé, as mulheres dele e outros, no Facebook e WhatsApp. Raza foi sentenciado à morte no sábado pelo juiz Bashir Ahmed, na província do Punjab. Foi a primeira vez que alguém recebeu uma sentença de morte por blasfêmia na mídia social, na história do Paquistão. Raza pode recorrer da sentença. A questão da blasfêmia continua a ser muito contenciosa no Paquistão, onde uma simples acusação quanto a esse delito pode resultar em violência e linchamentos praticados por multidões de justiceiros autodeclarados. As autoridades detiveram Raza em uma estação rodoviária em Bahawulpur, em abril de 2016. Ele foi acusado de ter conteúdo blasfemo em seu celular, e policiais declararam que ele estava exibindo esse conteúdo a pessoas na estação de ônibus quando foi detido. Raza foi acusado inicialmente sob uma seção do Código Penal que pune declarações derrogatórias sobre outras personalidades religiosas com até dois anos de prisão. Mais tarde, no curso das investigações, ele foi acusado sob uma lei cujo foco específico são atos derrogatórios contra o profeta Maomé. Violá-la é passível de pena de morte. FORTE REPRESSÃO A sentença de Raza surge em um momento de repressão cada vez mais forte ao conteúdo blasfemo na mídia social, especialmente Facebook e Twitter. Neste ano, o ministro do Interior paquistanês pediu que o Facebook revelasse a identidade de pessoas suspeitas de cometer blasfêmia, para que pudessem ser processadas. Os críticos dizem que a decisão do governo vem causando medo e intimidação e resultou em violência e na ação de grupos de linchamento. SALMAN MASOOD DO NEW YORK TIMES, EM ISLAMABAD 13/06/2017 07h00 http://m.folha.uol.com.br/mundo/2017/06/1892431-paquistao-profere-inedita-sentenca-de-morte-por-blasfemia-em-rede-social.shtml?mobile. Tradução de PAULO MIGLIACCI


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PRESBITERIANISMO EM FOCO

Um desafiador campo missionário Marcone Carvalho

O

percurso da Igreja Reformada na França serviria de roteiro para um dramático filme. Após um vigoroso início (15591661), a igreja experimentou os horrores da perseguição (séculos 17 e 18) e, de 1802 a 1905, teve de se manter subalterna às condições do Estado. No século 20, diversos fatores contribuíram para o seu declínio. Hoje, o seguimento reformado luta para não desaparecer e depende de ajuda externa. Antes de gozar da liberdade religiosa promulgada pelo Édito de Nantes (1598), os calvinistas organizaram seu primeiro sínodo nacional (1559) e lutaram por sua sobrevivência. Quase um século depois, em 1685, o Édito de Nantes foi revogado e instaurou-se a fase conhecida como “Igreja do Deserto”: período de dura perseguição aos huguenotes. Estatísticas conservadoras apontam que 800 mil deixaram o país. Suíça, Holanda, Reino Unido, Alemanha e América do Norte foram os principais refúgios. Aos que permaneceram na França, restaram duas opções: renúncia pública de sua fé ou esconder-se das dragonnades (caravanas de soldados – os “dragões” – enviadas para capturar os “hereges”).

Sob as condições estabelecidas por Napoleão Bonaparte, o culto protestante voltou a ser tolerado em 1802. Debilitada após um longo período de clandestinidade, a Igreja Reformada teve de organizar-se em meio aos efeitos do Iluminismo, da Revolução Francesa e do liberalismo

origem a Église Réformée de France (ERF), uma denominação que, no decurso das décadas, foi tornando-se cada vez mais liberal, ecumênica e inclusiva. Em 2013, a ERF uniu-se à Église Évangélique Luthérienne de France. Desde então, os dois corpos formam a Église Protestante Unie.

de membros por igreja é de 25 pessoas, majoritariamente idosas. Poucas são as igrejas que podem sustentar um pastor em tempo integral. Alguns templos estão fechados porque não há ministros e não é incomum um obreiro cuidar de duas ou três comunidades. Por essa razão, a denomi-

Rev. André Geske, pastor da Igreja de Marselha

teológico. Fragmentou-se. Após a Primeira Guerra, com uma regulamentação distinta à lei de 1802, que permitiu que igrejas protestantes passassem a funcionar sem qualquer controle ou relação com o Estado, os reformados se encontravam divididos em três grupos: Églises Réformées Évangéliques (mais conservador), Églises Réformées (mais liberal) e Églises Libres. Por sua vez, em 1938, os três grupos se uniram e, com a adesão da Église Méthodiste, deram

Ainda em 1938, algumas igrejas decidiram não fazer parte da ERF e se desligaram do grupo ao qual pertenciam (Églises Réformées Évangéliques). Essas igrejas correspondem à atual Union Nationale des Églises Réformées Évangéliques de France (UNEPREF), que constitui-se a única denominação conservadora no país. A UNEPREF é composta por cerca de 40 congregações e esforça-se para manter-se de pé diante de tantos obstáculos. A média

nação tem contado com a presença de missionários do Brasil, Estados Unidos e Holanda. Um deles é o Rev. André Luiz Geske, brasileiro que fez seus estudos de mestrado na Faculté Jean Calvin e que está à frente da Igreja de Marselha. Segundo o Rev. Geske, o pluralismo de ideias, o secularismo e a laicidade são os maiores desafios enfrentados na lida pastoral. “A mentalidade é sintética. Para um típico francês, a diferença entre o certo e o er-

rado, entre o bom e o mau, não é tão clara. Pelo contrário. A mentalidade francesa busca agrupar polos contrários a fim de buscar uma resposta que acomode visões antagônicas, mesmo que para isso determinados conceitos sejam esvaziados para que a acomodação seja feita. O francês típico não enxerga branco e preto, mas cinza. A ideia humanista de um teísmo universal tão abrangente que consiga agrupar todos os tipos de tradições eclesiásticas é ainda um ideal forte na cultura. Por conseguinte, o francês escuta aquilo que quer ouvir. Tudo termina em discussões e reflexões que problematizam absolutamente tudo e pouco se aproveita. Objetividade não é algo tão importante. É muito difícil se manter fiel às Escrituras e pregar o Cristo que ressuscitou por nossos pecados. As pessoas simplesmente não veem sentido nessas palavras... a confusão e a ignorância sobre temas bíblicos são enormes.” A promissora igreja huguenote do passado é, atualmente, uma senhora que requer cuidados especiais. A APMT tem enviado obreiros ao país. A pátria de Calvino transformou-se em um desafiador campo missionário. O Rev. Marcone Bezerra Carvalho é historiador e colunista regular do Brasil Presbiteriano.


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Boa Leitura Lado a Lado

Edward T. Welch

“Algumas pessoas precisam de ajuda; algumas pessoas ajudam.” Neste livro, Welch escreve para pessoas que estão dispostas a ajudar pessoas em dificuldades, por meio do ministério da amizade – um chamado de Cristo à todos. Em Lado a Lado, você encontrará verdades simples e bíblicas que nos auxiliam de maneira excelente a carregar nossos fardos e suportamos os fardos dos outros. Afinal, precisamos de ajuda e ajudamos.

o que significa fazer nossas orações em nome de Jesus? Embora pronunciemos as palavras, sabemos o que elas significam? E o que muda no conteúdo e no caráter de nossa oração se o soubermos? Começando pelo Amém introduz os crentes no processo de começar nossas orações em nome de Jesus – não pelo simples mover da frase, mas pela compreensão e aceitação do significado por trás dela. Para orar verdadeiramente em nome de Jesus é preciso reordenar nossas prioridades na oração e na vida. É orar: “Não seja feita a minha vontade, mas a tua”. É orar com coragem esperançosa e persistentemente.

A União das Naturezas do Redentor Heber Carlos de Campos

Começando pelo Amém Bryan Chapell

Como os letreiros de créditos de um filme, a expressão em nome de Jesus dá o sinal de que uma oração chegou ao fim. Mas

A União das Naturezas do Redentor, é um livro para quem gosta de ler teologia fundamentada na infalível Palavra de Deus. Por meio de verdades bíblicas, raciocínio lógico e a presença do trabalho acadêmico, o Dr. Heber C. Campos busca esclarecer verdades sobre a Unio Personalis do Redentor, revelando o quão preciosa é para ele a pessoa do nosso Deus.

Sobre esses e outros títulos acesse www.editoraculturacrista.com.br ou www.facebook.com/editoraculturacrista ou ligue 0800-0141963

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Entretenimento e reflexão O Brasil Presbiteriano não necessariamente endossa as mensagens dos filmes aqui apresentados, mas os sugere para discussão e avaliação à luz da Escritura.

Histórias Cruzadas

Incondicional

Até o Último Homem

Vivendo numa época em que a discriminação racial começava a ser debatida na sociedade norte-americana, através das palavras do Pr. Martin Luther King, Skeeter (Emma Stone) é uma jornalista que começa a colher relatos de mulheres negras que dedicaram a vida aos serviços domésticos e a criação dos filhos da elite branca local. Por meio desses relatos, nasce um livro com temas como direitos civis, que a faz rever seus conceitos e os dos moradores de Jackson.

Samantha Crawford (Lynn Collins) é uma escritora e ilustradora de livros infantis que perdeu toda sua alegria de viver quando seu marido Billy (Diego Klattenhoff) foi assassinado. Determinada a encontrar o criminoso, Samantha acaba reencontrando com um amigo de infância, Joe Bradford (Michael Ealy), um ex-presidiário que assume a direção de uma ONG. Um encontro que muda sua vida e que traz renovo e fé para sua vida.

Baseado em fatos reais, Até o Último Homem (2016) relata a história do médico do exército Desmond T. Doss (Abdrew Garfield) que, durante a Segunda Guerra, se recusa a pegar em uma arma e matar pessoas. Durante a Batalha de Okinawa ele trabalha na ala médica, sendo responsável por um feito jamais visto no exército americano, tornando-se assim o primeiro Doss (médico em batalha) a receber Medalha de Honra do Congresso.

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