BP 753 - AGOSTO 2017

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REFORMA 1517 - 2017

Brasil Presbiteriano O Jornal Brasil Presbiteriano é órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil Ano 58 nº 753 – Agosto de 2017

Congresso Nacional da APECOM 2017

O Congresso, promovido pela Agência Presbiteriana de Evangelização e Comunicação (APECOM), com o tema “Coragem para ser Diferente”, aconteceu de 30 de junho a 2 de julho e surpreendeu os organizadores com o número de participantes: mais de 1,3 mil congressistas instalados em três hotéis da cidade de Águas de Lindóia, SP, e uma fila de espera de duzentas pessoas. Páginas 8 e 9

Reforma e Política

Edição especial da IPB, em comemoração dos 500 anos da Reforma

A missão e o plano de Deus

Como princípios reformados influenciam a ação politica Página B1

Jovens de São Bernardo e Alphaville embarcam em viagem missionária a Muizenberg, na África do Sul Página 4


Brasil Presbiteriano

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Agosto de 2017

EDITORIAL

Brasil Presbiteriano

O emblema da Reforma

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esta época em que a saudável e nutritiva pregação da Palavra tem sido amplamente substituída por açucaradas dicas de auto-ajuda ou confusas miscelâneas sobre coisa alguma, é hora de nos questionarmos o quão reformados somos. Segundo a Escritura, a salvação é dos que confessam a Jesus, crendo que Deus o ressuscitou dos mortos. É que “com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação” (Rm 10.10). Mas quem crerá, senão alguns dos que ouviram a pregação? Isso se alguém pregou a Palavra. Exatamente. Não teve pregação? Então ninguém a ouviu. Ninguém ouviu? Então ninguém crerá. Conquanto homens erudi-

tos tenham sido usados por Deus na obra da Reforma, ela não foi um movimento intelectual, apenas, mas abertamente prático. O alvo final dos Reformadores era glorificar a Deus, e não provar que ele existe, nem calcular quantos anjos conseguem se equilibrar na ponta de um alfinete. Fazer teologia visava a edificação dos crentes, mais do que a derrota dos adversários. Com essa perspectiva, os reformadores estudaram e ensinaram a Escritura, estimularam seu emprego na meditação diária e não negligenciaram seu espaço no culto público. Houve certamente muita pregação antes da Reforma, pregações ao ar livre na Inglaterra, na Boêmia, na Itália e na França. Por exem-

plo, Girolamo Savonarola trovejou sermões contra o mundanismo nas praças de Florença, até ser condenado e executado. A Reforma, porém, recolocou o sermão no centro do culto comunitário, pregado regularmente, e não apenas em ocasiões especiais. A Missa Católica dispensava o sermão na maioria das ocasiões. O Culto Cristão, jamais. Um emblema da importância dada ao sermão no meio Reformado é a colocação do púlpito à frente da congregação, no centro daquele espaço. Em várias igrejas atuais, porém, o púlpito foi colocado ao lado; em outras, lamentavelmente, a pregação foi posta de lado. Orientava a postura Reformada uma teologia

bíblica de pregação, que não mais ficou associada apenas ao sacramento de penitência, mas reconhecida como um meio de graça, marca da verdadeira igreja. Seu propósito não era apenas estimular os ouvintes a buscar perdão por meio da confissão de pecados. Lutero e os Reformadores ensinavam que, de fato, precisamos de contrição, de arrependimento e de confissão, e nada que façamos será suficiente para nos tornar aceitáveis diante de Deus. Mas o crente deve lançar-se na graça de Deus e viver por ela, recebendo-a regularmente por meio das ministrações da Palavra. Sem a Palavra, não teria havido a Reforma. Sem a Palavra, não pode haver cristianismo.

Ano 58, nº 753 Agosto de 2017 Rua Miguel Teles Junior, 394 Cambuci, São Paulo – SP CEP: 01540-040 Telefone: (11) 3207-7099 E-mail: bp@ipb.org.br assinatura@cep.org.br Órgão Oficial da

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GOTAS DE ESPERANÇA

ESPIRITUALIDADE DA REFORMA

Plenitude do espírito: ordem de Deus, necessidade da Igreja “(...) não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18). Hernandes Dias Lopes

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aulo, o apóstolo dos gentios, ensina uma verdade magna do Cristianismo: a plenitude do Espírito Santo. Há no texto bíblico duas ordens: uma negativa, outra positiva. A negativa é: “não vos embriagueis com vinho”; a positiva é: “enchei-vos do Espírito”. Entre as duas ordens há uma conjunção adversativa: “mas...”. Logo, em vez de embriagar-se com vinho, o cristão deve ser cheio do Espírito. A sobriedade não é necessariamente plenitude do Espírito. Além de ser sóbrio, o cristão precisa, também, ser cheio do Espírito. Se a embriaguez desemboca numa vida desregrada, a plenitude do Espírito conduz à comunhão, adoração, gratidão e serviço (Ef 5.19-21). Doravante, vamos nos deter apenas na segunda ordem do texto: “enchei-vos do Espírito”. Essa ordem ensina-nos quatro verdades: Em primeiro lugar, o

verbo está no imperativo. A ordem é clara: “Encheivos”. Isso significa que não ser cheio do Espírito é um pecado de desobediência à uma ordem expressa de Deus, assim como o é a embriaguez. Um cristão sem a plenitude do Espírito deveria ser um escândalo para nós, assim como é um escândalo um cristão embriagado. A plenitude do Espírito não é uma opção, mas um mandamento; não é uma sugestão, é uma ordem categórica. A expressa vontade de Deus para sua igreja é a plenitude do Espírito Santo. Você está cheio do Espírito? Em segundo lugar, o verbo está no plural. A ordem divina é insofismável: “Enchei-vos...”. Isso significa que a plenitude do Espírito não é apenas uma ordenança para um grupo seleto na igreja, mas para todos os membros da igreja. A plenitude do Espírito não deve ser uma exceção, mas a regra. Não deve ser apenas uma experiência sobrenatural,

mas também a dinâmica natural da igreja. A plenitude do Espírito não apenas está à disposição de todos os salvos, mas é, também, uma ordenança a todos eles, sem exceção e sem acepção. Em terceiro lugar, o verbo está no presente contínuo. Na língua grega o verbo “enchei-vos”, está no presente contínuo. Isso significa que a plenitude do Espírito não é uma experiência que acontece uma única vez na vida e nunca mais se repete, mas uma ordem que deve ser obedecida continuamente. Quando Jesus ordenou aos serventes, nas bodas de Caná: “enchei de água as talhas” tratava-se de uma ordem dada só a eles, para nunca mais ser repetida por eles; porém, quando a palavra de Deus nos ordena: “enchei-vos do Espírito” está nos orientando que a plenitude de ontem não serve para hoje. Todo dia é tempo oportuno e necessário para sermos cheios do Espírito. Em quarto lugar, o verbo está na voz passiva. Isso significa que nenhum cristão pode produzir essa plenitude para si mesmo ou transferi-la

para outrem. Muito embora a plenitude do Espírito seja uma ordem divina, somente o próprio Deus pode nos encher do seu Espírito. Para sermos cheios do Espírito é preciso primeiro esvaziar-nos do pecado que tenazmente nos assedia. Não dá para ser cheio de vinho e do Espírito ao mesmo tempo.

mas também a nossa maior necessidade. Sem a plenitude do Espírito Santo nós caminharemos trôpegos, em vez de fazermos uma jornada segura. Sem a plenitude do Espírito nós faremos muito esforço, mas teremos resultados pífios. Sem a plenitude do Espírito nós viveremos agarrados às coisas da

Não dá para abrigarmos no coração avareza, mágoa, impureza, lascívia e porfia e sermos cheios do Espírito. Somente vasos vazios podem ser cheios e enquanto nosso coração for como vasilhas vazias, o Espírito jamais deixará de jorrar para nos encher até à plenitude. Você está cheio do Espírito? Essa não é apenas uma ordem divina,

terra, mas não nos deleitaremos nas glórias do céu. Sem a plenitude do Espírito nós perderemos a alegria da comunhão, da adoração, da gratidão e do serviço, mas viveremos em aberto conflito uns com os outros. Você está cheio do Espírito Santo? O Rev. Hernandes Dias Lopes é o Diretor Executivo de Luz para o Caminho e colunista regular do Brasil Presbiteriano.


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MISSÕES

A missão e o plano de Deus Fotos: Priscila Moraes

Cínthia Vasconcellos

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o dia 24 de junho de 2017, jovens da IV IP de São Bernardo do Campo/SP e da IP de Alphaville/SP (organizadora), embarcaram em uma viagem missionária com destino a Muizenberg, na África do Sul. Nosso trabalho se concentrou em uma das townships (bairros de população pobre). Fomos bem recebidos e nos primeiros dias brincamos com crianças, conversamos com adolescentes, visitamos famílias e fizemos evangelização de porta em porta. Mas tudo isso parecia pouco, gostaríamos de fazer mais. Diversos imprevistos nos impediram de realizar o que havíamos planejado. Mas foi em meio a frustrações que Deus nos fez crescer. Estar no campo missionário nos fez sentir de perto a batalha espiritual como nunca antes, nos ensinou a vestir todos os dias a armadura de Deus (Ef 6.1020), a experimentar o poder da oração. Além das atividades na township, também servimos na base da Jocum, onde ficamos hospedados. Pintamos umas das salas de convivência, fizemos o jantar em uma das noites, lavamos, varremos e limpamos salas e corredores. Foi um tempo muito bom com estudantes de várias nacio-

Tarde de testemunhos e atividades com as adolescentes. No aeroporto de Guarulhos antes do embarque. Da esquerda para a direita: Bruna, João Paulo, Flávia, Rafael, Guilherme, Priscila, Ercy, Ana Paula, Caren e Cínthia.

nalidades, também hospedados lá. Tivemos noites de adoração e louvor a Deus, todos cantando e orando em seu próprio idioma, mas éramos todos um só corpo em Cristo. No último dia, fomos surpreendidos com uma festa de despedida. A casinha dos fundos feita de madeira, com chão de carpete, escura e sem ventilação, onde trabalhávamos com as crianças, se tornou um salão de festas com cadeiras forradas com lindos laços em cetim. As paredes estavam enfeitadas com tecidos e fitas brilhantes e na parede principal estava escrito em letras grandes e coloridas Farewell (adeus). Uma toalha branca cobria a mesa com flores enfeitando no centro. Os pratos, xícaras e talheres estavam dispostos de forma impecável. Eles nos serviram o melhor que

possuíam. Enquanto comíamos, as crianças e os adolescentes dançaram e cantaram suas músicas típicas. Tivemos poucos momentos em que realmente compartilhamos a Palavra de Deus por diversos motivos, e isso nos incomodava muito. Em nossa mente havíamos apenas “passado o tempo” com as pessoas, mas nos alegramos em saber que os momentos de conversa e brincadeiras fizeram diferença na vida delas, como foi relatado por uma das adolescentes. As palavras de Paulo em 2Coríntios 4.8-10 nos encorajaram durante as duas semanas em que estivemos lá: “Em tudo somos atribulados, porém, não desanimados; perseguidos, porém, não desamparados; abatidos, porém, não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para

que também a sua vida se manifeste em nosso corpo”. Assim como as palavras de Filipenses 1.6: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até o Dia de Cristo Jesus”, uma vez que vimos o poder de Deus em nosso meio, em nossos relacionamentos e a convicção de que Deus não queria apenas agir através de nós, mas também em nós particularmente. Atravessamos o oceano para impactar a vida de sul africanos e voltamos para o Brasil impactados por Deus e por eles. Deixamos a África no dia 9 de julho muito diferentes da forma como chegamos. Ficamos maravilhados com seu cuidado por nós, contagiados com a alegria daquele povo feliz, que canta e dança a sua história e que, embora triste, nos enche de alegria pelas vitórias conquistadas e pela liberdade de que desfruta hoje. Isso me chamou

muito a atenção principalmente porque muitas vezes esquecemos que fomos escravos do pecado e que o sangue de Cristo nos libertou. Deveríamos louvar a Deus com o mesmo entusiasmo, lembrando e agradecendo a Deus todos os dias pelo seu amor e pelo sacrifício de Jesus. Aprendemos a interceder pelos missionários transculturais e todos aqueles que estão em campo pregando o evangelho. Estamos esperançosos por mais experiências como essa, em que possamos crescer como homens e mulheres de Deus, cheios do Espírito Santo, prontos para servi-lo em qualquer lugar e em qualquer situação. Dispor-se à obra pode ser doloroso, mas imensamente gratificante e intensamente poderoso para nos moldar e para transformar quem está ao nosso redor. Cínthia Vasconcellos é membro da IV IP São Bernardo do Campo, SP, e colabora com a Cultura Cristã.


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AÇÃO SOCIAL

Caminhando até o próximo Gustavo Villa

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é sem obras é uma confissão intelectual morta: a confessionalidade não ultrapassa o pensamento. O conceito de fé que a Bíblia nos apresenta (Tg 2.14-26) é que fé não é algo “para mim”, mas uma realidade que nos coloca em movimento na direção de alguém. O texto oferece um exemplo dizendo que, se virmos uma pessoa necessitada de roupa e alimento, orarmos por ela sem buscar resolver o problema, nossa fé é morta. Em outras palavras, não adianta sermos porta voz de Deus, orar, mas nos recusarmos a ajudar. A fé nos empurra na direção de alguém. Quem tem fé, reparte seus recursos com quem possue pouco, coloca a mão no bolso e dá sem esperar aplauso do mundo.

Talvez, com a abordagem de Tiago, sejamos conduzidos à percepção de que fé não é demonstração de poder, mas de serviço. Então, o desafio à fé cristã não é apenas ver o que Deus tem feito em nosso favor, mas o que nós temos feito em favor do próximo. Como pastor, tenho buscado refletir essa fé na esfera pessoal e comunitária. Torna-se um grande desafio ensinar a igreja que fé é mais do que pedir para si. No contexto da igreja que pastoreio (Brasília/DF), temos vivido a doce realidade de ser mais felizes em dar do que receber. Há na vizinhança um hospital público. Geralmente, as pessoas passam grande parte do dia esperando o atendimento. Esse cenário é propício ao exercício da fé e obras por parte da igreja. Resolvemos preparar uma sopa para ser servida a todos que esperavam aten-

Membros da igreja voluntários no SOPÃO

dimento, oramos e entramos no hospital. Eu estava muito tenso. A televisão da recepção estava ligada tentando entreter as várias pessoas que estavam ali. Delicadamente, me apresentei à atendente do hospital perguntando de poderia dar uma pequena palavra às pessoas e servir uma sopa aos que estavam com fome. Tive o aval e me coloquei à frente da televisão ligada. Todos me olharam e viram o grande grupo que me acompanhava com grandes bandejas, muito parecidos com garçons de um restaurante. Após informar sobre a sopa, acrescentei: “Preciso dizer que esta sopa matará a fome momentânea do corpo. Há uma fome que acontece na alma e que alimento algum será capaz de saciar. A Bíblia diz que Jesus é o pão que mata a fome da nossa alma. Oferecemos a sopa para

o corpo e Cristo para sua alma. Caso queira conversar e orar, estamos à sua disposição”. Será que o povo ia aceitar a sopa? O panelão seria suficiente? Não era muita sopa? Perguntas como essas foram sendo dissipadas à medida que a sopa foi servida e as pessoas pedindo oração. Os funcionários do hospital também se serviram e tudo começou a ficar claro para mim. Quando a sopa terminou, voltamos para a igreja para avaliar e orar por todas as pessoas com quem conversamos naquela noite. Continuamos indo durante todo o mês um vez por semana. Agora era necessário organizar melhor todo esse esquema. Nós nos dividimos em dois grupos e cada grupo se responsabilizou pelo trabalho em semanas alternadas. Confeccionamos um logo-

Rev. Gustavo Villa e cozinheiras do SOPÃO

tipo, vários aventais com a identificação do grupo, compramos copinhos e talheres específicos para servir a sopa, Bíblias e um caderno de oração. Percebemos que poderíamos avançar um pouco mais no modo de servir. Começamos a colocar mesinhas e cadeiras bem arrumadas na entrada da igreja. Assim, não apenas as pessoas do hospital seriam servidas, mas todos que estavam ali por perto poderiam sentar, conversar, receber uma Bíblia e orar juntos. E isso deu certo também. Hoje, o SOPÃO (Servir, Orar, Pregar, Amar e Ouvir) caminha muito bem aplicando fé e obras há oito anos. “Qual é o proveito se alguém disser que tem fé, mas não tiver obra?” (Tg 4.14). O Rev. Gustavo Villa é o pastor titular da Igreja Presbiteriana do Guará – Brasília/DF


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EVANGELIZAÇÃO

Congresso Nacional da APECOM 2017 O Congresso Nacional de Evangelização da IPB, organizado pela APECOM, aconteceu pela sexta vez, com a participação de 1350 pessoas. Amanda Amorim

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Congresso, promovido pela Agência Presbiteriana de Evangelização e Comunicação (APECOM), com o tema “Coragem para ser Diferente”, aconteceu de 30 de junho a 2 de julho e surpreendeu os organizadores com o número de participantes: mais de 1,3 mil congressistas instalados em três hotéis da cidade de Águas de Lindóia, SP, e uma fila de espera de duzentas pessoas. Segundo o executivo da APECOM, Rev. Ricardo Mota, as inscrições para o congresso foram encerradas em abril. PALESTRANTES O congresso contou com a participação de líderes da IPB, como os Revs. Roberto Brasileiro, Hernandes Dias Lopes, Augustus Nicodemus, Jeremias Pereira e Ronaldo Lidório. Além disso, os congressistas tiveram a oportunidade de participar das oficinas oferecidas no congresso: “Coragem para ser diferente na política”, com o ex-ministro da Agricultura e Reforma Agrária, presbítero Antônio Cabrera; “Coragem para ser diferente na mocidade”, com o secre-

tário nacional da mocidade, presbítero Alexandre Almeida; “Coragem para ser diferente na comunicação”, com o Rev. Haveraldo Júnior; e “Coragem para ser diferente na criação de filhos”, com o professor de Educação Cristã, presbítero Solano Portela. “Eu creio que este tema é altamente pertinente para nossos dias atuais e desafiador. (...) coragem para ser diferente para falar que Cristo é a verdade”, ressalta o Rev. Ronaldo Lidório. Para o pastor e membro da equipe de voluntários da APECOM, Décio Madruga, o conteúdo abordado dá ênfase

à edificação pessoal e da igreja. PAINÉIS Além das palestras e oficinas, o evento teve dois painéis: um voltado para a liderança da igreja, denominado “Cá entre nós”, ministrado pelo presidente da APECOM, Rev. George Alberto Canêlhas; e o “Papo Jovem”, uma conversa sobre assuntos de interesse da juventude, com a participação dos Revs. Haveraldo Júnior, Rafael Diedrich, presbítero Alexandre Almeida e o cantor e produtor Paulo César Baruk. LOUVOR Paulo César Baruk con-

duziu os cânticos. “Eu estou aproveitando cada palestra e está sendo muito precioso (...) tem

sido um bálsamo de Deus para minha vida e estou muito agradecido”, completa Baruk.


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Hernandes Dias Lopes

Jeremias Pereira

STANDS O congresso também tem a participação de livrarias e editoras, como a Casa Editora Presbiteriana, Editora Z3 e outras como a Monergismo, a Puritanos, PES, Thomas Nelson e outras. Para o Rev. Sérgio Lima que lançou seu livro Jonathan Edwards: Missões para a Glória de Deus durante o evento, o congresso é sempre uma oportunidade de conhecer pessoas que tem gosto por evangelização, missões e

George Canêlhas

Antônio Cabrera

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JR Vargas

discipulado. “A força missional da IPB está nas suas igrejas locais. Então, nós escrevemos para os membros da igreja local para que eles voltem para suas igrejas levando do congresso obras de teologia saudável para uma prática missionária saudável”, explica Sérgio Lima. CONGRESSISTAS O congresso reuniu pessoas de todas as idades e famílias de vários lugares do país. O presbítero José

Painel com assuntos de interesse dos jovens.

Inácio Ramos, diretor presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie participou pela quarta vez do evento e destacou a grande repercussão do evento: “O congresso impacta a minha vida e percebo também o impacto enorme na vida de todos que ouvem palestras com temas extremamente importantes, relevantes e que nos incomodam muitíssimo, nos desafiando a, como cristãos, termos uma vida mais certa e mais adequada junto com nosso bom Deus”, complementa Ramos. TRABALHO INFANTIL Neste ano, durante o

congresso, tivemos a participação de cerca de 140 crianças até 11 anos e promovemos um trabalho diferenciado para elas, dividindo o grupo por faixa etária, berçário, culto das crianças e brincadeiras. O trabalho infantil foi dirigido pelo Rev. Rafael Diedrich e Nicolle Ferreira

Ronaldo Lidório

e por vários voluntários. O Congresso Nacional da APECOM tem sido realizado desde o ano de 2012, tendo como um dos destaques um número significativo de representantes de outras denominações evangélicas, a presença de pessoas que vêm de diferentes lugares, pregadores de estilos e ênfase ministeriais diferentes. Para o Rev. Ricardo Mota, “o Congresso tem esse poder de “agregar os diferentes”. A próxima edição do congresso acontecerá de 15 a 17 de junho de 2018 com o tema “Não me envergonho do evangelho” e as inscrições já estão abertas no site ipb.org.br/ congresso.


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AÇÃO SOCIAL

O exemplo de uma igreja reformada Beny dos Santos

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cidade de Rolândia, no norte do Paraná conta com um centro de recuperação da dependência química, que tem mantido um nível de excelência e a IP de Rolândia tem participado através de seus membros. O CERVIN – Centro de Recuperação Vida Nova, foi fundado em 28 de fevereiro de 1985. É uma organização não governamental, sem fins econômicos, que tem por finalidade, ajudar a pessoa com transtornos decorrentes do uso, abuso ou dependência de substâncias psicoativas, em regime residencial. Para isso oferece um ambiente protegido de substâncias psicoativas, possibilitando aos atendidos a manutenção da abstinência, tirando-os do seu meio social e preparando-os para enfrentarem os riscos decorrentes do uso. A instituição oferece dois programas terapêuticos: Programa Masculino (adolescentes e adultos) e Programa Feminino (adolescentes e adultas). Os programas possuem atividades distintas, cada um com equipe própria: coordenador, monitores e psicólogo. Complementam a equipe outros profissionais: enfermeiro, psiquiatra, capelão, assistente social, instrutores de ofi-

cinas (marceneiro, técnico agrícola, cozinheiro, vaqueiro). Parte da equipe possui especialização em dependência química ou outras áreas. Além das equipes que atuam diretamente nos programas, o CERVIN também conta com uma equipe administrativa, com contador,

mesma aprenda a auxiliar seu membro na construção do enfrentamento dessa problemática. Esse trabalho é realizado em conjunto com a rede socioassistencial do município de origem do atendido. Como instrumentos terapêuticos utilizam-se a psicoterapia individual e

fases, sendo a alta terapêutica condicionada ao progresso pessoal do interno. Na área de prevenção ao uso de substâncias psicoativas são desenvolvidos projetos em escolas, empresas, igrejas etc. O CERVIN tem primeiro um alcance regional, mas atende dependentes quími-

Vista do Centro de Recuperação Vida Nova - CERVIN

recepcionista, auxiliares administrativos, captador de recursos. O tratamento utiliza como pilares de sua metodologia: 1. Atenção ao estado físico, bem como a compreensão da dependência química; 2. Atendimento psicossocial; 3. Orientação espiritual. O trabalho com a família dos acolhidos é fundamental, para que a

em grupo, a laborterapia, devidamente orientada por grupos operativos. As oficinas oferecidas são: cozinha, padaria, horta, auxílio na manutenção e pequenos consertos da estrutura física, jardinagem, bovinocultura, piscicultura e pomar. Os programas terapêuticos são em regime de internamento, com duração média de 180 dias, subdivididos em quatro

cos de todo o país e até fora dele. A sede da instituição fica em Rolândia. Uma importante parceria tem sido firmada entre várias igrejas do Presbitério Norte Novo Paraná e o CERVIN. Uma vez que o custo do tratamento é elevado, são necessárias cada vez mais parcerias com igrejas, empresas, entidades e pessoas físicas. Várias igrejas

do Presbitério Norte Novo Paraná (PNNP) têm assumido um compromisso de contribuição mensal. Neste ano estão marcadas duas visitas especiais ao CERVIN. Em agosto, como um projeto da Secretaria de Evangelismo e Missões do PNNP, os membros das igrejas vão realizar um dia de serviço

e comunhão. No mês de setembro, a Federação da SAF realizará outra visita, dessa vez com as irmãs das várias igrejas. Nessas visitas, serão entregues especialmente alimentos não perecíveis e materiais de limpeza. Com essas visitas, os membros das igrejas estarão conhecendo mais a realidade dos alunos, bem como dos profissionais do CERVIN, e proporcionarão auxílio ao processo de tratamento através da sua presença e cooperação. Texto original do CERVIN (http:// cervin.org.br/ Tel. (43) 3256-3325 e-mail: adm@cervin.org.br) adaptado pelo Rev. Beny Vieira dos Santos, pastor da IP de Rolândia e Secretário Presbiterial de Evangelismo e Missões do PNNP.


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A Reforma Protestante – 2a Parte

A Reforma na Inglaterra Alderi Souza de Matos

Vários fatores contribuíram para a introdução da Reforma Protestante na Inglaterra: o anticlericalismo de uma grande parcela do povo e dos governantes, as idéias do pré-reformador João Wycliff, a penetração de ensinos luteranos a partir de 1520, o Novo Testamento traduzido por William Tyndale (1525) e a atuação de refugiados que voltaram de Genebra. Todavia, quem deu o passo decisivo para que a Inglaterra começasse a tornar-se protestante foi o rei Henrique VIII. Henrique VIII (14911547) começou a reinar em 1509. Sendo muito católico, em 1521 escreveu um folheto contra Lutero que lhe valeu o título de “defensor da fé”. Era casado com a princesa espanhola Catarina de Aragão, viúva do seu irmão, que não conseguiu dar-lhe um filho varão, mas somente uma filha, Maria. Henrique pediu ao papa Clemente VII que anulasse o seu casamento com Catarina para que pudesse casar-se com Ana Bolena (Anne Boleyn), mas o papa não pode atendê-lo nesse

desejo. Uma das principais razões foi o fato de que Catarina era tia do sacro imperador germânico Carlos V. Em 1533, Thomas Cranmer (14891556) foi nomeado arcebispo de Cantuária e poucos meses depois declarou nulo o casamento do rei. Em 1534, o parlamento apro-

os numerosos mosteiros do país foram extintos e suas propriedades confiscadas (1536-1539). Nos anos seguintes, Henrique ainda teria outras quatro esposas: Jane Seymour, Ana de Cleves, Catarina Howard e Catarina Parr. Henrique morreu na fé católica e foi sucedido

Thomas Cranmer (1489-1556)

vou o Ato de Supremacia, pelo qual a Igreja Católica inglesa desvinculou-se de Roma e o rei foi declarado “Protetor e Único Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra.” O bispo John Fisher e o ex-chanceler Thomas More opuseram-se a essas medidas e foram executados (1535);

no trono por Eduardo VI (1547-1553), o filho que teve com Jane Seymour. Os tutores do jovem rei implantaram a Reforma na Inglaterra e puseram fim às perseguições contra os protestantes. Foram aprovados dois importantes documentos escritos pelo arcebispo Cranmer, o Livro de Oração

Comum (1549; revisto em 1552) e os Quarenta e Dois Artigos (1553), uma síntese das teologias luterana e calvinista. Eduardo era doentio e morreu ainda jovem, sendo sucedido por sua irmã Maria Tudor (15531558), conhecida como “a sanguinária”, filha de Catarina de Aragão. Maria perseguiu os líderes protestantes e muitos foram levados à fogueira. Os mártires mais famosos foram Hugh Latimer, Nicholas Ridley e Thomas Cranmer. Muitos outros, os chamados “exilados marianos”, foram para Genebra, Estrasburgo e outras cidades protestantes. Com a morte de Maria, subiu ao trono sua meio-irmã Elizabete I (15581603), filha de Ana Bolena, em cujo reinado a Inglaterra tornou-se definitivamente protestante. Em 1563, foi promulgado o Ato de Uniformidade, que aprovou os Trinta e Nove Artigos. O resultado foi o acordo anglicano, que reuniu elementos das principais teologias evangélicas, bem como traços católicos, especialmente na área da liturgia. Além dos anglicanos, havia outros grupos protestantes na Inglaterra, como os

puritanos, presbiterianos e congregacionais. Os puritanos surgiram no reinado de Elizabete e foram assim chamados porque reivindicavam uma Igreja pura em sua doutrina, culto e forma de governo. Reprimidos na Inglaterra, muitos puritanos foram para a América do Norte, estabelecendo-se em Plymouth (1620) e Boston (1630), na Nova Inglaterra. Outro grupo protestante inglês foram os batistas, surgidos a partir de 1607 sob a liderança de John Smyth e Thomas Helwys. Este fundou em 1612 a primeira igreja batista geral. No século 17, no contexto da guerra civil entre o rei Carlos I e um parlamento puritano, foi convocada a Assembléia de Westminster (1643-1649). Essa célebre assembleia elaborou uma série de documentos calvinistas para a Igreja da Inglaterra, entre os quais a Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve, que se tornaram os principais símbolos confessionais das Igrejas reformadas ou presbiterianas. Continua na próxima edição: 3.2 A Reforma na Escócia Rev. Alderi Matos é historiador da IPB e colaborador regular do BP


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A Reforma e os Reformadores Silas Nobre

Com certeza você já ouviu essa suposição: “Se Lutero tivesse vivo hoje, pregaria a necessidade de outra Reforma na igreja” O QUE FOI A REFORMA? Inicialmente liderada por Martinho Lutero, foi um movimento que provocou a ruptura com a Igreja Católica Romana, quando, em 31 outubro de 1517, afixou 95 teses à porta da igreja do castelo em Wittenberg, contra a venda das indul-

gência papais, que oferecia o perdão dos pecados e a libertação do purgatório à troco de dinheiro. A Reforma foi também a revolução religiosa que deu origem ao Protestantismo, e marcou a História, como um dos mais importantes eventos da transição da Idade Média para a Idade Moderna. A reforma da igreja, antes mesmo de Lutero, foi desejada por homens como John Wyclif, Jon Hus e Jerônimo Savonarola, entre outros. Contudo, maiores destaques foram

Martinho Lutero, Ulrico Zuínglio e João Calvino. Outros, menos citados, tiveram importante papel, dando continuidade e magnitude a esse tão relevante acontecimento, tais como: Felipe Melanchthon, na Alemanha; Gulherme Farel e Henrique Bulinger na Suíça; William Tyndale e Thomas Cranmer, na Iglaterra, e John Knox na Escócia. Outros líderes se sucederam nos séculos seguintes da história do protestantismo, tais como George Whitefield, Jonathan Edwards,

Charles Spurgeon, Charles Hodge, Benjamim Warfield, e por que não dizer, o pai do presbiterianismo brasileiro, Ashbel Green Simonton. Como esses, Deus tem levantado na época presente, também outros líderes. Hoje, no entanto, há muitos movimentos chamados evangélicos, que não aceitam e não pregam as bases teológicas da Reforma Protestante. Muitos desses líderes contemporâneos são verdadeiras estrelas (no sentido secular da palavra), cujos nomes pessoais

vem sempre precedido de títulos majestosos, alheios às Sagradas Escrituras. O máximo que seguramente poderíamos dizer é que são “estrelas cadentes”. Concluo usando as palavras do reformador João Calvino, que reconheceu: “Onde quer que vejamos a Palavra de Deus pregada e ouvida com pureza, ali existe uma igreja de Deus, mesmo que ela esteja repleta de falhas”. O Rev. Prof. Silas Rebouças Nobre é o Coordenador do Departamento de Teologia Histórica do Seminário Presbiteriano Brasil Central

“No Princípio Era o Verbo: 500 Anos da Reforma” Evento acontece em Pinheiros (SP) A 13ª edição do Fórum de Ciências Bíblicas acontecerá dias 31 de agosto e 1° de setembro, no Espaço Cultural Presbiteriano de Pinheiros, em São Paulo (SP). O evento promovido pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) dará um destaque especial ao legado da Reforma Protestante por meio do tema “No Princípio Era o Verbo: 500 Anos da Reforma”. Com inscrições on line abertas a professores e estudantes de Teologia, Ciências da Religião e Linguística, como também a lideranças religiosas e cristãos em geral, o 13º Fórum de Ciências Bíblicas tem como custo o valor de R$40,00 (equivalente à

oferta do valor de duas Bíblias) e R$20,00 para pastores e seminaristas. Segundo Erní Seibert, secretário de Comunicação, Ação Social e Arrecadação da SBB, esta edição do Fórum abordará a Reforma, pois ela é mais do que um evento passado, já que até hoje o estudo da Palavra de Deus é transformador e atual. Legado deixado por Martinho Lutero, pioneiro da Reforma Protestante na Europa, que buscava comunicar a mensagem bíblica de maneira compreensível, sempre destacando a centralidade da Escritura Sagrada para a fé e vida cristã.

SERVIÇO 13º Fórum de Ciências Bíblicas Tema: No Princípio Era o Verbo: 500 Anos da Reforma Data: 31 de agosto e 1º de setembro de 2017 Horário: Das 14h30 às 21h30 Local: Espaço Cultural Presbiteriano de Pinheiros Rua Guerra Junqueiro, 315 – Pinheiros – São Paulo (SP) Inscrição: R$ 40,00 (o equivalente à oferta no valor de duas Bíblias) e R$ 20,00 para pastores e seminaristas Link Inscrição: https://www.eventbrite.com.br/e/13o-forum-de-ciencias-biblicas-tickets-31875221646 Informações: (11) 3474-5827 ou www.sbb.org.br


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Reforma e Política Christian Brially

As relações que envolvem o contexto da Reforma Protestantes do século 16 são múltiplas, contudo, o objetivo é de caráter uno. Uma abordagem histórico-teológica que reduza a Reforma Protestante às suas implicações de ordem política será tão equivocada quanto uma abordagem estritamente espiritualizada. Possivelmente a maior tendência dentre historiadores materialistas, já há algum tempo, seja interpretar a Reforma meramente em seu caráter político e/ou econômico. No entanto, enfatizamos que a Reforma Protestante tem unicamente motivações teológicas e religiosas, contudo, é parte de um processo histórico que tanto sofre influências das mais diversas vertentes do pensamento humano, como também as influencia estruturalmente, e a política não foi exceção. A Reforma seguiu caminho oposto ao vigente na relação teologia/moral, agora a lógica foi a restauração da teologia como o fundamento determinante da vida das pessoas, a moralidade passou a ser norteada pela teologia. Deve-se perceber que a Reforma Protestante possuía um caráter prático em sua ênfase teológica ao tencionar promover em

seus seguidores a transposição de suas teses do intelectual e implícito ao vivencial real. A separação vital entre reformados e católicos fora exatamente no âmbito da teologia; não qualquer teologia, mas uma teologia biblicamente fundamentada que

filósofos ou políticos, mas única e tão somente como pastores, contudo, a Reforma necessitava de posicionamentos bíblicos firmes no que concerne à política e à filosofia política, e eles não se furtaram a responsabilidade de dar respostas extraídas da Bíblia aos

um lado, não faltam desatinados e bárbaros que tentam arruinar toda autoridade estabelecida por Deus, e, por outro, os aduladores dos príncipes lhes engrandecem ilimitadamente a autoridade que não duvidam em compará-la ao senhorio que é próprio de

apontava para uma prática vivenciada. Isso significa que, na Reforma, a compreensão era a de que a teologia deveria ser o parâmetro determinante das ações humanas, portanto, primeiro a compreensão e aceitação da teologia, que depois transformaria em vida prática esse conhecimento teológico. Uma ressalva é necessária. Tanto Lutero quanto Calvino não se viam como

anseios de sua época. A implicação mais básica é que não será possível a compreensão desses posicionamentos à parte de suas formulações teológicas mais amplas. Diante dessas advertências iniciais, duas questões fundamentais sobre política são abordadas por Calvino: 1) Por que tratar desse assunto, a política? “…sou compelido a fazê-lo sobretudo porque, por

Deus. Por isso, a pureza da fé ficaria ofuscada caso não refutássemos esses dois erros” (Institutas IV.XX.1). 2) Qual o seu propósito? “Esse assunto de muito nos serve para que nos mantenhamos no temor de Deus, reconhecendo quão grande é a sua bondade ao prover o gênero humano desses meios, a fim de que nos sintamos ainda mais incentivados a servi-lo e testemunhar que

não lhe somos ingratos” (IV.XX.1) Segundo Emile Léonard, Calvino considerava a sua obra eclesiástica, política e social em Genebra o seu principal legado, para tanto cita as Ordenanças Eclesiásticas como exemplo de sua dedicação e influência na vida pública da cidade que iria afetar a toda a Europa com seu sistema de governo representativo extraído do ensino bíblico. O historiador Daniel Boorstin ratifica que “foi Calvino quem forneceu um modo de organização de igrejas que abriu caminho para o moderno mundo ocidental de democracia, federalismo e governo representativo” e, aponta que: “a forma presbiteriana de direção da igreja, da qual Calvino foi o fundador, estava muito presente no espírito das modernas instituições políticas representativas ocidentais”. Por fim, cabe ressalvar as motivações e objetivos fundantes da atuação reformada no âmbito da política: 1) A glória de Deus; 2) O homem criado à imagem de Deus; e, 3) A mordomia cristã. Eis alguns princípios que estão presentes em nossa tradição reformada quanto à necessidade de atuação no âmbito da política. O Rev. Christian Brially é professor de História no JMC.


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A Igreja Presbiteriana do Brasil e seus Tribunais Disciplinares Jorge Corrêa

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Igreja Presbiteriana do Brasil é uma Igreja de Confissão Reformada, que atua de forma federativa, através de Igrejas, que tem seus Conselhos, ligadas federativamente aos Presbitérios, estes aos Sínodos e todos ligados ao Supremo Concílio. Essa federatividade se denota pela independência de poderes entre os Concílios, uma vez que cada um deles tem jurisdição exclusiva sobre determinados assuntos (art. 62, CI/IPB), e assim se relacionam pela Gradação de Poderes (art. 61, 64 e parágrafo, CI/IPB), com os Concílios Superiores supervisionando as atividades dos inferiores. Todos esses Concílios devem se reunir em Tribunal, toda vez que houver qualquer necessidade de julgamento por indisciplina de cada um dos Membros ou Concílios em suas esferas (art. 62 CI/IPB). Ou seja, o Conselho da Igreja se reúne em tribunal para julgar os membros da Igreja ou qualquer ato ligado às suas organizações internas (art. 19 CD/IPB); o Presbitério para julgar os Ministros e Conselhos das igrejas a ele jurisdicionadas e ainda suas organizações internas (art. 20, CD/IPB); O Sínodo para julgar os Presbitérios e suas organizações internas (art. 21, CD/IPB) e o Supremo Concílio para julgar os Sínodos e suas organizações

internas (art. 22, CD/IPB). Haverá tanto no Sínodo, quanto no Supremo Concílio um Tribunal de Recursos (artigos 21, 22 e §§, do CD/ IPB). Esses tribunais se reúnem com fim específico de julgar as causas não administrativas, mas sim disciplinares da Igreja ou do Concílio que integre. E ainda, esses tribunais devem se orientar pelo Código de Disciplina da Igreja Presbiteriana do Brasil impresso e expresso no seu Manual Presbiteriano, que é composto pela Constituição da IPB, Código de Disciplina da IPB, Princípios de Liturgia da IPB e também seus Estatutos. Os passos normativos para enquadramento do que seja falta passível de disciplina eclesiástica estão contidos no Código de Disciplina, em que, no seu artigo 4º, estabelece que “falta é tudo que, na doutrina e prática dos membros e concílios da Igreja, não esteja de conformidade com os ensinos da Sagrada Escritura, ou transgrida e prejudique a paz, a unidade, a pureza, a ordem e a boa administração da comunidade cristã”. Sendo a disciplina bíblica uma das marcas da Igreja, então se torna imprescindível conhecer o Código de Disciplina para observância dos seus dispositivos e a aplicação correta e justa da disciplina em si. Os Tribunais dos Con-

cílios julgam as causas próprias de suas esferas, enquanto os Tribunais de Recursos, tanto do Sínodo como do Supremo Concílio, julgam os chamados Recursos Extraordinários (art. 114, “a”, CD/IPB), as regras para a identificação desses recursos estão nos artigos de 127 a 132 do Código de Disciplina. Ao longo dos anos, o Tribunal de Recursos do Supremo Concílio tem recusado muitos documentos em razão de erros no processamento. Alguns estão com erros que numa análise simples denotam ter havido desconhecimento e aplicação errônea no manuseio do CD/IPB. Em razão disso, muitas são às vezes em que se deixa de corrigir um erro, confirmar acertos ou aplicar a disciplina no caso concreto. São básicos para ter início de um processo disciplinar em caráter de Tribunal Eclesiástico: 1º) saber

se a denúncia ou queixa é contemplada na Escritura Sagrada; 2º) saber se houve o cumprimento do que preceitua o Evangelho de Mateus no capítulo 18, versículos 15 e 16. A partir daí, então, usa-se o CD/IPB. E ainda, antes de iniciar o Processo propriamente dito, há algumas iniciativas que precisam ser tomadas para que haja a clareza, legitimidade do devido processo e legalidade do mesmo. Cumpridas essas medidas tidas como preliminares, agora passa-se a utilizar o Código de Disciplina, que contém instrução de como se recebe os documentos próprios para o Tribunal; prazos a serem observados, e outras orientações do seu andamento. Excetuando o Processo Sumaríssimo perante o Conselho (artigos de 97 a 102 do CD/IPB), a primeira observação será de que todo processo inicia por uma denúncia ou uma quei-

xa (art. 42 e seus parágrafos, CD/IPB). Mesmo com todos os documentos próprios, e até mesmo havendo confissão do cometimento da falta, é necessário observar os procedimentos cabíveis; aplicar os meios suasórios (art. 43, CD/IPB), que consiste em ouvir a pessoa queixosa ou denunciante sobre os fatos, assim como confrontar a pessoa faltosa sobre os fatos. Daí segue com o julgamento preceituado no artigo 46 do CD/ IPB. Se esses itens foram observados, então a partir daí pode-se dizer que o processo está minimamente instruído para o seu correto processamento. Precisamos dar testemunho do Senhor e a disciplina é um dos elementos consistentes desse testemunho. O Rev. Jorge Corrêa dos Santos Filho (revjorge@gmail.com) é pastor da IP em César de Souza, Mogi das Cruzes, membro titular do Tribunal de Recursos do SC/ IPB, membro titular do Tribunal de Recursos do SVP e Capelão do Mackenzie.


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PROJETO SARA

95 Teses de Lutero, um chamado ao debate “O justo viverá pela fé” (Rm 1.17). “Movido pelo amor e pelo empenho em prol do esclarecimento da verdade, discutir-se-á em Wittenberg, sob a presidência do Rev. Padre Martinho Lutero, o que segue. Aqueles que não puderem estar presentes para tratar do assunto verbalmente conosco, poderão fazêlo por escrito. Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.” (LUTERO, 31/10/1517) Raquel de Paula

U

m emissário do papa Leão X foi enviado à Alemanha para vender indulgências que ofereciam redução das penas do purgatório. Afinal, a basílica de São Pedro estava sendo construída e era preciso financiá-la.

Ao ver que o povo estava sendo afastado das Escrituras, Lutero decidiu enfrentar esse abuso. Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero afixou à porta da igreja do castelo de Wittenberg, de acordo com um costume da época, um assunto para debate que constava de suas 95 teses sobre

indulgências. O fato marca o início da Reforma Protestante, e representa um ponto de partida para a volta à Bíblia, ao ensino dos apóstolos e, consequentemente, a rejeição a toda e qualquer doutrina sem base nas Escrituras. Mesmo depois de 500 anos do início da Reforma Protestante, ainda hoje, precisamos voltar às Escrituras, resgatar princípios bíblicos que norteiam nosso dia-adia. Precisamos debater sobre os abusos que nos afrontam constantemente, sobretudo os que interferem na educação de nossos filhos, desviando cada vez mais dos valores morais e éticos fundamen-

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tados na Palavra de Deus. Precisamos nos comprometer intensamente, com o hábito da oração e leitura da Bíblia em nossos lares, inculcando em nossos filhos, “(...) e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te” (Dt 6.7). Nossa fé tem impactado nosso lar? Temos evidenciado que vivemos pela fé? Nossa expectativa de vida está fundamentada na esperança da vida eterna com o Senhor? Nossos maridos tem sido alcançados pelo nosso testemunho, de mulheres que temem ao Senhor (Pv 31.30)? “Em tudo somos atribula-

dos, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos (...) porque todas as coisas existem por amor de vós, para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações de graças por meio de muitos, para glória de Deus” (2Co 4.8-9,15). Que Deus continue abençoando nossas famílias e que a Palavra de Deus seja o alimento santo, vivo e eficaz presente todos os dias em nossas mesas, fortalecendo nosso lar, com a graça de nosso Deus. Raquel de Paula é membro da IP Praia Grande (SP)


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PRESBITERIANISMO EM FOCO

O ministério do casal Marvin no Brasil Marcone Carvalho

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participação dos missionários estadunidenses na história da IPB é bem contada no livro Uma longa jornada missionária, de Frank L. Arnold, publicado pela nossa editora. Ao longo de mais de 120 anos, de 1859 a meados da década de 1980, algumas centenas de homens e mulheres colaboraram para sermos o que somos hoje. Em 1964, por exemplo, eram 243 funcionários da missão norte-americana em atividade no Brasil. O casal Robert Murray Marvin (1927-) e Phyllis Yates Marvin (1929-2014) faz parte dessa história. Sua atuação entre nós durante 33 anos é digna de reconhecimento. Robert e Phyllis se conheceram na Bob Jones University, na Carolina do Sul, onde estudaram de 1947 a 1952. Casaram-se em 1951. Ele se graduou em Estudos Bíblicos, e ela, em Economia Doméstica. Mudaram-se para Geórgia, onde ele estudou teologia, de 1952 a 1955, no Columbia Theological Seminary (CTS). Ordenado pela Igreja Presbiteriana do Sul (PCUS), o Rev. Marvin pastoreou por um ano no Arkansas. Os Marvin e sua filhinha desembarcaram no Brasil em 1956 e, após meses em Campinas-SP, no ano seguinte, estabeleceram-se em São Luís-MA. Nessa época, havia somente duas igrejas

presbiterianas no Maranhão e uma no Piauí. Congregações e pontos de pregação espalhados na área entre São Luís e Parnaíba-PI careciam de assistência. Outra necessidade era a educação escolar dos adolescentes e jovens. Os pais não tinham condições de prover instrução formal aos seus filhos. Foi esse cenário que o casal encontrou: pobreza, um enorme campo de trabalho e escassez de obreiros. Em 1960, o casal e as três filhas se mudaram para Parnaíba. Localizada na divisa entre o Piauí e o Maranhão, a cidade serviu como base para a diversificada atuação dos Marvin na região. Durante 25 anos, Robert e Phyllis trabalharam com evangelização, supervisão de igrejas, educação geral e religiosa e serviço humanitário. O ministério deles impactou muita gente, sendo inclusive reconhecido fora da igreja. Obra eclesiástica. Em uma época em que não se usava a expressão “plantação e revitalização de igrejas”, Robert e Phyllis fizeram isso regularmente. A congregação de Parnaíba, que existia desde 1950, sendo muito beneficiada por sua ação, foi organizada igreja em 1965. Em algumas cidades e povoados do Maranhão e do Piauí, a obra de evangelização foi iniciada ou desenvolvida por Marvin e seus ajudantes. Durante o ministério do casal, foram organizadas as

igrejas em Tingidor (1968), Porto de Areias (1969), Frexeira Grande (1969), Barreirinhas (1978) e Lagoinha (1979). No campo piauiense, sabe-se que o casal atuou em Parnaíba, Buriti dos Lopes, Piracuruca, Campo Maior e Piripiri, havendo residido nessa última cidade a partir de 1983. Obra educativa. Nessa área, a atividade do casal foi desenvolvida em três frentes: o Internato Presbiteriano, o colégio – que atualmente é a Escola Presbiteriana Rev. Erasmo Martins Ferreira –, e o Instituto Bíblico 12 de Agosto. O internato existiu de 1959 a 1987 e serviu de pensionato para dezenas de adolescentes e jovens oriundos das igrejas presbiterianas do interior que, devido à moradia gratuita, puderam realizar seus estudos escolares em Parnaíba. Vale mencionar que os rapazes e moças residentes no internato cooperavam, nos fins de semana, na obra eclesiástica. A escola, cujas origens remon-

tam aos anos 60, oferecia educação primária às crianças carentes do bairro. Algumas moças do internato, estudantes de magistério, sob a direção da Sra. Phyllis, ensinavam no estabelecimento. Por sua vez, tendo em vista capacitar obreiros para o trabalho evangelístico, o casal deu importante contribuição no Instituto Bíblico, que funcionou de 1982 a 1985 nas dependências da IP Central. Obra humanitária. A disposição para ajudar as pessoas, fossem crentes ou não, marcou o ministério dos Marvin. Frequentemente, os recursos que a missão dispunha ao casal – avião monomotor, barco, jipe e Kombi – eram usados para auxiliar enfermos e fazer viagens de emergência dos interiores até os centros mais desenvolvidos (Parnaíba, São Luís ou Teresina). O respeito obtido pelo casal em Parnaíba é até hoje recordado, passados mais de 30 anos desde sua saída. Em Barreirinhas, o Rev. Marvin recebeu o título

de cidadão emérito. Como possuía conhecimento de engenharia aeronáutica, o missionário era solicitado por donos de aviões pequenos e também por funcionários da Força Aérea Brasileira para a reparação de aeronaves. Nos últimos anos no Piauí, o Rev. Marvin dirigiu um programa de tratamento para pessoas dependentes de álcool, assunto que foi o objeto da sua tese doutoral defendida no CTS, em 1985. A última fase do ministério do casal em solo brasileiro ocorreu na cidade de Pelotas-RS, de 1986 a 1990, como missionários da JMN. Eles dirigiram e ajudaram na consolidação da congregação local e muito colaboram na construção do templo, inaugurado em 1988. Em 1992, Robert e Phyllis voltaram aos Estados Unidos e viveram em Clinton, Carolina do Sul, estando sempre ativos, haja vista que ele era frequentemente designado pelo presbitério para dar assistência às igrejas em dificuldade. Após o falecimento de Phyllis, em 2014, o veterano missionário voltou a viver no Brasil com uma de suas filhas. Os que conheceram o casal mencionam a piedade que caracterizou a vida de Robert e Phyllis. A Deus toda a glória pelo ministério dos Marvin em nosso país. O Rev. Marcone Bezerra Carvalho é pastor da 1ª IP de Santiago, Chile, e colunista regular do Brasil Presbiteriano.


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FORÇAS DE INTEGRAÇÃO

Centenário do coral da Primeira IP de BH Jesus, a razão de nossa história 1917–2017 Um século louvando a Deus e proclamando o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Rm 8.37). Esse é o nosso sentimento ao ver nosso Coral celebrar seu centenário. Edson Silva

O

louvor contagiante é resultado de uma disciplina de ensaios e dedicação intensa. Tributamos o louvor, a honra e a glória a Deus, e reconhecemos a dedicação dos coristas e regentes que passaram por nosso Coral ao longo de tantos anos, até o grupo atual. As mais antigas referências escritas ao nosso coral datam de 1917, segundo Abdênago Lisboa, nosso primeiro historiador, em seu livro História da Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte. Com apenas cinco anos de fundação a Primeira Igreja possuía um harmônio adquirido por 350$000 (trezentos e cinquenta mil contos de réis), e um coral que ajudava a conduzir a congregação nos hinos. Foi o embrião do que temos em nossa Igreja agora em termos musicais. O Deus Providente não deixou sua Igreja aqui sem rumo nessa

área. Um incontável número de irmãos e irmãs que por aqui passaram cantando, continuam na presença de Cristo experimentando a verdade bíblica que diz: “Bom é render graças ao Senhor, e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo”. Aqui cantou Victório Emmanuel Bergo, primeiro corista de que se tem notícia. Na organização da Igreja da Estação de Moeda o coro cantou o hino 534 do hinário da época, e a missionária Morgan executou vários números ao harmônio. Aqui cantou e ainda permanece entre nós, nossa mais antiga corista, nossa querida irmã D. Gersonita Alves dos Santos. Cerca de 70 anos servindo à igreja no Coral. As organistas e pianistas também merecem destaque: Leila Cabral, Eva Elizabeth Lehman (conhecida como Bessie), Márcia Westin, Silvânia Gripp, Débora Simões, Maria Guilhermina, Eleonora Santos, Vera Lúcia e o jovem e talentoso pianista Pedro Reis.

Aqui regeram o Presbítero Benício Barbosa de Castro, D. Lígia Mafra e Dr. Athos Vieira de Andrade, que já estão com o Senhor. Também regeram Nida Gibran, Elda Lisboa, Selva Léo Ribeiro, de mais longa permanência na direção do Coral – cerca de 30 anos. Regeu o Maestro Cláudio Simões, que também escreveu belíssimas peças dedicadas ao coral, e também são de sua lavra os arranjos instrumentais do concerto do centenário do Coral – “De boas palavras transborda o meu coração. Ao Rei consagro o que compus” – salmo dos filhos de

Corá. Desde 2002 a direção musical está a cargo da maestrina Ana Elvira de Souza Gomes. Louvamos a Deus por sua vida. Uma curiosidade importante. Nosso coral é uma família, e grande. Cerca de 50% dos membros tem algum grau de parentesco dentro do grupo. Somente casais, são oito. Salvo engano, houve época em que oito ou mais irmãos da família Faria de Melo integraram o coral ao mesmo tempo. Além de participar ativamente dos cultos regulares da igreja, o coral realiza há mais de trinta anos um programa de

evangelização mensal na Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, visita igrejas irmãs, atende convites de órgãos públicos e privados. Ao celebrar o centenário do coral, reconhecemos a sua importância, ocupando ao longo deste século um lugar de edificação. Que o Senhor, pai das misericórdias, continue com sua destra estendida para o nosso coral centenário e que em tudo, o nome excelso do Senhor seja engrandecido e nossas vidas edificadas no seu louvor. O Rev. Edson Costa Silva é o pastor titular da Primeira IP de Belo Horizonte.


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O CONSULTÓRIO BÍBLICO REVISITADO

Rebatismo de católicos Editoria assinada primeiramente pelo Rev. Galdino Moreira (1889-1982) e em seu último formato redigida desde 1977 pelo Rev. Odayr Olivetti até seu falecimento (1928-2013) Odayr Olivetti

Pergunta – “É certo que, à luz de Efésios 4.5 (‘um só batismo’), não se deve rebatizar o professando oriundo da Igreja [Católica] Romana?” Resposta: 1. Pensemos um pouco: a. A passagem citada fala de “um só Senhor”. Passagens como as de Mateus 6.24; 7.21 e Apocalipse 19.16 mostram que existem senhores. Quer dizer, há pessoas que aceitam outro ou outros senhores que não Cristo. As crenças romanistas nos santos e na pretensa infalibilidade papal dividem o senhorio de Cristo. No texto em foco, Paulo se refere ao único Senhor do salvo em Cristo. b. O texto

fala de “uma só fé”. Se a referência fosse à fé como doutrina (como em Jd 3,20), haveria contradição ou erro, pois, como variam os credos da cristandade! Mas a fé mencionada em Efésios 4.5 é a fé salvadora em Cristo, fé que é a única porque só é real a fé que tem por objeto Cristo como Senhor e Redentor. E nisso os romanistas se distanciam muito, pois dividem sua fé entre muitos objetos, incluindo até o próprio adorador, uma vez que, em seu falso conceito, suas obras pesam na balança para a salvação. c. E então, “um só batismo”. Se o texto se referisse à forma exterior do batismo, estaria contradizendo outros passos da Escritura que falam de outros batismos. Exemplos: Atos 19.3-5; Hebreus 6.2.

Mas o texto se refere ao rito único pelo qual os cristãos são admitidos à comunhão da igreja de Cristo. O rito apresenta o seu aspecto externo, menos importante, e o seu aspecto interno, que é o que realmente caracteriza a sua unicidade, a sua singularidade. OBSERVAÇÕES SOBRE O BATISMO CRISTÃO No conceito bíblico, o batismo simboliza purificação, representada pela água. É símbolo que não garante a presença da realidade simbolizada na pessoa batizada. Esta pode ser cristã de verdade ou não. Há cristãos que morrem sem ter recebido o batismo. Para começar, temos o exemplo do ladrão que se converteu pouco antes de morrer, no

Calvário (Lc 23.43). O batismo não causa a salvação; a falta do batismo não impede a salvação. Que significa o batismo para a Igreja Católica Romana? Aqui respondo ligeiramente. “O batismo é a fonte da vida nova”, é o título da seção 63 do Catecismo Católico (Editora Herder, São Paulo, 1958, 6ª. edição), em que se vê uma errônea interpretação de João 3.5. Como todo sacramento, para a Igreja Católica Romana o batismo tem poder mágico. Administrado como manda a referida igreja, o batismo realiza efetivamente a obra de expulsão do diabo, vida nova em Cristo, garantia

de outras graças, etc. Em contraste com essa crença, a Escritura Sagrada ensina que somos salvos pela graça de Deus, em Cristo Jesus, com a operação do Espírito Santo que regenera o pecador e lhe administra os benefícios da obra redentora realizada por Jesus Cristo em sua vida, morte e ressurreição. Não é o sacramento que salva ou que dá vida nova. O sacramento simboliza e sela a obra realizada por Deus no interior do ser humano. Sendo tão diferentes os significados, como dizer que o batismo da Igreja Católica Romana e o batismo bíblico, evangélico, são “um só batismo”?

CELEBRAÇÃO

Igreja Presbiteriana 12 de Agosto celebra os 67 anos da Sociedade Auxiliadora Feminina Stephanie Macêdo

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o dia 09 de julho, domingo à noite, as sócias se reuniram com a igreja em culto de adoração e renovaram votos de compromisso com o papel que lhes cabe, de serem auxiliadoras idôneas da igreja de Cristo. Estiveram presentes na comemoração o secretário Sinodal, Rev. Luciano Gusmão; a presidente da Sinodal, Célia Souza; a presidente da Federação Sul-Sergipe, Valdira Monteiro, e

sócias da SAF da região. O culto festivo contou também com a presença do presbítero Cleiton Feijó, que é o conselheiro da SAF da IP 12 de Agosto. A mensagem foi proferida pela sócia Jane Lopes, que é a coordenadora do departamento Estrela da Manhã da SAF. Na ocasião, convidou as mulheres da igreja a se engajarem nas diversas atividades exercidas pela SAF da 12 de Agosto, atualmente a sociedade é composta por 35 sócias.

O Coral da igreja participou e, ao final do culto, as sócias distribuíram para a igreja uma lembrança significativa e com um foco específico: um livreto de João, a ser entregue a uma pessoa desconhecida como meio de evangelização. A IP 12 de agosto é localizada na cidade de Aracaju, Sergipe, e é pastoreada pelo Rev. Emanuel Meneses Costa, auxiliado pelo Rev. Lucas Apolinário. Stephanie Macêdo, Jornalista, é membro da IP 12 de Agosto e Assessora de Comunicação da 12 de Agosto


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MEDITAÇÕES

Calebe “... eu relatei (a Moisés) como sentia no coração (e)… perseverei em seguir o SENHOR meu Deus” (Js 14.7,8). Frans Leonard Schalkwijk

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alebe, já com 85 anos, estava conversando com Josué. Uns 45 anos antes, os dois estavam entre os doze espias enviados para reconhecer a terra de Canaã. O resultado da missão é conhecido: somente esses dois deram relató-

rio favorável à entrada na terra; os outros causaram muitos problemas, inclusive uma peregrinação de quarenta anos pelo deserto (Nm 14). Quando espia, apesar de tudo o que viu, o coração de Calebe se baseava na promessa do FIEL e perseverou nela (Js 14.14). Essa

decisão arraigada no centro da sua personalidade influenciou todas as funções da sua alma. A partir de lá, engatou a alavanca da sua vontade e disse: vamos! A partir de lá, falou às suas emoções: calma! A partir de lá seu intelecto concluiu: venceremos! Como adrenalina, a decisão do seu coração influenciou também todo seu corpo. Seus olhos não refletiam medo, mas coragem. Seus pés não se arrastavam

em desânimo, mas marchavam para a batalha. Seus braços não caiam frouxos ao seu lado, mas pegavam com firmeza o arco. Sua boca não gritou “fujam!”, mas deu um brado de vitória (Nm 14.9). Tudo a partir da sua própria fé? Não, Calebe não era como um Barão de Münchhausen, que, de acordo com a lenda, se livrou de morrer atolado em um lamaçal puxando seus próprios cabelos para cima.

Será que Calebe, depois das vitórias, disse à sua fé: “Muito obrigado”? Ridículo, pois Calebe não se baseou na sua fé, mas sim na promessa do SENHOR. O verbo é “confiar” e o substantivo é “fé” (Is 26.3). A fé foi o seu instrumento. Com muita razão, Calvino sempre comparava a fé com uma mão que se abre para aceitar a promessa de Deus. Extraído de Meditações de um Peregrino, de Frans Leonard Schalkwijk, Cultura Cristã, 2014.

MISSÕES

Chegada de Ashbel Green Simonton no Brasil Aconteceu em 12 de agosto de 1859

O

fundador o trabalho presbiteriano no Brasil nasceu em West Hanover, no sul da Pensilvânia, EUA. O nono filho de uma família piedosa foi consagrado ao ministério da Palavra ao ser batizado. O despertamento para seu ministério ocorreu em outubro de 1855, após ouvir um sermão sobre a tarefa da igreja pregado pelo Dr. Charles Hodge. Seu chamado para missões o levou até o seminário de Princeton, em Nova Jersey. Já formado, Simonton resolveu trabalhar no Bra-

sil, e para cá veio em 1859, um país pobre e assolado por doenças endêmicas. Entregando seu ministério nas mãos do Senhor, Ashbel cria que sua segurança estava em Deus, pois “Sob a direção de Deus, o lugar e perigo é lugar de segurança e, sem a sua presença, nenhum abrigo é seguro”. O jovem missionário marcou a história do presbiterianismo e do evangelismo nacional por meio de seu trabalho: em 22 de abril de 1960 organizou a escola dominical – usando

como livros base a Bíblia, o Catecismo e o Peregrino, de John Bunyan; já em 12 de janeiro de 1862 organizou a Primeira Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro; Simonton também deixou marcas na imprensa, criando em 5 de novembro de 1862 o jornal A Imprensa Evangélica. Depois de um período de muitas obras e frutos no Brasil, o pioneiro presbiteriano, voltou aos Estados Unidos ao saber da enfermidade de sua mãe. Infelizmente, ao chegar no país, sua mãe já havia falecido. Então, Simonton resolveu ficar no EUA durante um

ano. Nesse tempo, conheceu Helen Murdock, com quem se casou. Após dois meses de casado, o jovem regressou ao Brasil na companhia de sua mulher. Em junho de 1864, nove dias após o nascimento de sua filha, Helen Murdock faleceu. Mesmo com a perda de sua esposa, Simonton continuou seus trabalho missionário e em 17 de janeiro 1865 organizou o Presbitério do Rio de Janeiro, mesmo dia da ordenação ao sagrado ministério do ex-padre José Manoel da Conceição. Simonton também criou e fundou o primeiro

seminário teológico em 14 de maio de 1867. Aos 34 anos, em 9 de dezembro de 1867, o pioneiro do presbiterianismo brasileiro morreu com febre amarela. Sua irmã, Elizabeth Wiggins Simonton, esposa do Rev. BlackFord perguntou a seu irmão durante seus últimos minutos de vidas sobre o que seria dos crentes e do trabalho iniciado. A resposta de Simonton: “Deus levantará alguém para tomar o meu lugar. Ele fará o seu trabalho com os seus próprios instrumentos. Nós só podemos apoiar-nos nos braços eternos e estar quietos”.


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No BRASIL E NO MUNDO

Pedreiros formam brigada para reconstruir cidades na Síria Quando o pedreiro Abu Salem tapa o buraco de projétil em uma casa no sul da Síria, controlado pelos rebeldes, sabe que pode não ser o último serviço que faz na residência. “Existe a possibilidade de os prédios serem atingidos novamente”, disse ele à agência de notícias Reuters. “Mas no curto prazo as pessoas deveriam poder buscar refúgio em suas casas.” Abu Salem lidera um grupo de doze pedreiros que reconstroem e consertam construções danificadas por bombas, ataques aéreos e projéteis dentro e nos arredores da cidade de Deraa. Sem acesso a ferramentas modernas e enfrentando o preço alto dos materiais devido à guerra, os homens de Abu Salem misturam concreto e carregam cargas com as mãos. Apesar das dificuldades, eles mantêm o senso de humor. Três meses atrás um vídeo circulou nas redes sociais sírias mostrando homens mascarados de joelhos, brandindo varas e se erguendo aos gritos de “Deus é Grande”. À primeira vista parece um exemplo típico das filmagens de propaganda beligerante publicadas com frequência por grupos armados envolvidos no conflito da Síria, mas não é disso que se trata. “Em nome de Deus, eu sou Abu Salem al-Muhameed e anuncio a formação da Brigada de Concretagem nas áreas livres!”, grita Salem para a câmera, uma paródia inconfundível dos líderes rebeldes exaltados que combatem o ditador sírio, Bashar al-Assad. “Se vocês destroem, por Deus, nós reconstruímos!”, grita enquanto seus homens sacodem picaretas e pás e depois caem na gargalhada. Depois que o vídeo da “Brigada Vocês Destroem e Nós Reconstruímos” apareceu, as pessoas começaram a abordar Abu Salem nas ruas: “Vocês são a melhor brigada formada desde o início da crise síria”. A guerra da Síria destruiu a economia nacional e dividiu a nação em uma colcha de retalhos de áreas de controle que cruzam rotas comerciais, provocando o aumento dos preços e a escassez local de produtos vitais. Mas, às vezes, o dinheiro fala mais

alto do que a lealdade política, e em toda a Síria se encontram bens nas frentes de batalha graças às altas propinas e impostos pagos em postos de controle.

Afro-americanos e a Bíblia

impregna com uma cosmovisão cristã”. Fundada em 1993 com 10 escolas membros, a Associação das Escolas Cristãs Clássicas cresceu para 279 com 43 mil alunos. Cerca de 100 outras escolas similares não são membros, e muitos alunos escolarizados em casa usam uma abordagem clássica cristã similar.

Haddon Robinson

Os afro-americanos estão mais envolvidos com a Bíblia do que qualquer outro grupo naquele país, de acordo com uma pesquisa da American Bible Society: 71% são “amigáveis à Bíblia” em comparação com apenas 58% de todos os americanos. Quando os afro-americanos se sentam para ler a Bíblia, 29 por cento lêem por uma hora ou mais. Um pequeno segmento (6 por cento), reconheceu ser hostis em relação à Bíblia, enquanto 4 por cento eram céticos e 19 por cento eram neutros.

Cresce educação clássica cristã nos Estados Unidos

Um número crescente de crianças está recebendo uma educação clássica cristã, que “olha para a educação dos pais fundadores dos Estados Unidos, derivada da Grécia clássica e da Idade Média, e a

Faleceu dia 22 de julho de 2017, aos 86 anos, o Dr. Haddon W. Robinson, Th.M. pelo Dallas Theological Seminary, e Ph.D. pela Universidade de Illinois. Respeitado mestre de Homilética, Robinson foi Professor de Pregação, Diretor Sênior do Programa de Doutorado em Ministério e ex-presidente interino no Gordon-Conwell Theological Seminary. Robinson também presidiu o Denver Seminary (1979-1991) e ensinou homilética no Dallas Theological Seminary por 19 anos. Escreveu sete livros, incluindo Pregação Bíblica, um dos mais notáveis livros sobre pregação expositiva. Robinson ensinava que “Pregação expositiva é a comunicação de um conceito bíblico, derivado de, e transmitido por meio de um estudo histórico, gramatical e literário de uma passagem em seu contexto, que o Espírito primeiro aplica à personalidade e experiência do pregador e, depois, através dele, aos seus ouvintes”.

Peterson se retrata após declaração explosiva LifeWay Christian Resources reverteu a decisão de suspender a venda de livros de Eugene Peterson, o que inclui A Mensagem, a sua paráfrase da Escritura, após ele ter voltado atrás de uma declaração anterior em que afirmara estar disposto a realizar um casamento do mesmo sexo. Peterson negou o que havia dito em entrevista ao Serviço de Notícias de Religião, que desencadeou uma tempestade de fogo e afirmou sua crença de que o casamento é entre um homem e uma mulher. “Afirmo uma visão bíblica de tudo”, disse Peterson. Fonte: http://cbaonline.org/?wysija-page=1&controller=email&ac tion=view&email_id=88&wysijap=subscriptions&user_id=67504


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MISSÕES

Uma Bíblia dada a um analfabeto Natanael Soares Filho

O

que adianta dar uma Bíblia a quem não sabe ler nem escrever? Em termos meramente humanos, a resposta é “não adianta nada!”. Mas não podemos nos esquecer de um fator importante: a Providência Divina. Meu avô analfabeto ganhou uma Bíblia. Assim como meu pai, João Firmino Filho. Eles foram presenteados com uma Bíblia enquanto trabalhavam no desmate de terras para a construção de um ferrovia na região de Araraquara (SP) em direção a São José do Rio Preto (SP). Um missionário, cujo nome meu pai não recorda, passava todos os meses pela casa de meu avô. Sua visitas eram acompanhadas de

cultos que reuniam todos os trabalhadores do serviço de desmate da região. Mesmo nas noites em que o missionário não estava na região, a família de meu pai se reunia na sala e, à luz de lampião, meu avô abria a Bíblia e encarava a Palavra do Senhor pensando e meditando no que o missionário havia lido na última vez que passará por sua casa. Mesmo sem conseguir ler uma palavra, a meditação nas Escrituras era feita e seguida pela oração do Pai Nosso. Meu pai ficava indignado com o fato de ninguém da casa conseguir ler a Bíblia, então fez uma promessa: iria aprender a ler e escrever para poder meditar na Palavra. Providência Divina Vinte anos se passaram,

meu pai saiu de Sapezal, lugarejo perto de Paraguaçu Paulista, e mudou-se para Assis (SP). Trabalhando como ajudante em um restaurante, meu pai começou a alfabetização para adultos em um escola em frente ao seu local de trabalho. A promessa se cumpriu. João Firmino Filho começou a ler a Bíblia, aprendeu a escrever e ajudou na alfabetização de muitas pessoas. Com meus avós já idosos, meu pai retorna para Sapezal. A volta para casa trouxe momentos difíceis, como o falecimento de minha avó, mas também de muitas alegrias: trabalhando como carpinteiro para os sitiantes locais, meu pai conheceu Augusta Soares, minha mãe, filha do fundador de Sapezal. Em 12 de junho de 1931 se casaram.

Sapezal contava com a assistência religiosa do Rev. Rodolpho Garcia Nogueira, pastor da IP de Paraguaçu Paulista. O reverendo decidiu comprar um lote de terreno em Sapezal para a construção de uma Congregação. Meu pai não apenas ajudou na construção do salão para as reuniões, mas também auxiliava nos trabalhos da Congregação local. Depois de alguns anos, infelizmente, o Rev. Rodolpho mudou-se de Paraguaçu Paulista, e a Congregação de Sapezal foi desfeita, tendo seu salão e terreno vendidos. Mas a obra não parou. Meu pai participava das reuniões que aconteciam durante as tardes de domingo nas casas dos sitiantes evangélicos. A IP de Para-

guaçu mantinha seu apoio enviando alguns presbíteros ou o próprio pastor para dirigir as reuniões. Anos depois, meu pai era o dirigente desses trabalhos. Assim, a Providência Divina fez de meu pai um mensageiro das Boas Novas! Em 1945, nos mudamos para Paraguaçu Paulista, onde minha família frequentava a IP local. Meu pai pode ver todos os seus sete filhos envolvidos e ativos nos trabalhos da igreja, como uma resposta de Deus para o ministério do missionário que décadas atrás dera uma Bíblia a um analfabeto. A Palavra de Deus “não volta vazia” (Is 55.11), “é viva e eficaz” (Hb 4.12).

EVENTOS

Reencontro da turma JMC 2002 N

o dia 15 de julho, nas dependências do Seminário JMC, parte da turma “Hermisten Maia Pereira da Costa” reuniu-se após quinze anos desde sua formatura. Dez dos 35 graduados compareceram. Os egressos exercem o ministério em diversos estados do Brasil, sendo que cinco deles atuam no exterior (EUA, Chile e Nova Zelândia). O encontro foi iniciado as 9h e encerrado com um almoço de confraternização em uma churrascaria do bairro conhecida por todos os colegas. Na ocasião, em um

ambiente de alegria, nostalgia e descontração, cada pastor informou aos demais acerca de sua vida, família e caminhada ministerial. Em seguida, houve um tempo de oração e foi reiterada a decisão de seguirem em contato e de se reunirem a cada cinco anos. Ao final, o sentimento era de gratidão a Deus e de expectativa pelo aniversário de vinte anos em 2022 no mesmo Seminário JMC. Revs. Marcone Bezerra Carvalho e Mauro Filgueiras Filho

Natanael Soares Filho é presbítero da 1ª IP de Bauru e membro de Os Gideões Internacionais


Brasil Presbiteriano

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Boa Leitura Bandeirantes da Fé Maria de Melo Chaves

Com o intuito de tornar conhecida as histórias e os feitos dos missionários norte-americanos, dos ministros evangélicos brasileiros e dos dedicados crentes que abriram, como ousados bandeirantes, as estradas dos sertões de Minas ao evangelho de Jesus Cristo, Maria de Melo Chaves escreveu Bandeirantes da Fé. O livro conta sua história com retalhos de biografias diversas e detalhes desafiadores. Relatos simples, mas comoventes que nos arrebatam o espírito e elevam-nos às alturas celestiais. Você Consegue Mudar Tim Chester

Um livro que vai à raiz do padrão pecaminoso do comportamento, abordando de forma prática o desenvolvimento do cristão – não de uma forma moralista, mas

simples e honesta. Uma obra gloriosamente repleta de esperança. Tim Chester, pastor Grace Church, Boroughbridge, usa os mais profundos sentidos da teologia da Palavra com uma lente que busca nos ajudar a compreender nós mesmos e entendermos o caminho da mudança por meio do poder transformador de Deus para nosso comportamento pecaminoso e nossas emoções negativas. Você Consegue Mudar conta com as seções “Reflexão” e “Projeto de Mudança”, que foram pensadas para nossa meditação e crescimento espiritual.

Agosto de 2017

Entretenimento e reflexão O Brasil Presbiteriano não necessariamente endossa as mensagens dos filmes aqui apresentados, mas os sugere para discussão e avaliação à luz da Escritura.

Procurei Alá, encontrei Jesus Nabeel A. Qureshi

Mãos Talentosas: A História de Ben Carson (2009)

Procurei Alá, encontrei Jesus conta a emocionante jornada de um muçulmano piedoso que abraça o evangelho. Nabeel A. Qureshi começou a estudar a Bíblia para questioná-la e, de uma forma maravilhosa, conheceu Jesus. O livro de Qureshi nos ajuda a compreender como é para alguém imerso na cultura islâmica arriscar tudo para descobrir a verdadeira identidade de Deus, mostrando a força do evangelho em contraste com o Islã e os sacrifícios e dúvidas de muçulmanos que lutam com a Palavra de Deus. Um história muito pessoal que nos dá uma nova visão e compreensão para o mundo muçulmano.

Sobre esses e outros títulos acesse www.editoraculturacrista.com.br ou www.facebook.com/editoraculturacrista ou ligue 0800-0141963

Baseado em fatos reais, Mãos Talentosas conta a história de Ben Carson, um neurocirurgião de fama mundial. De origem humilde e protestante em Detroit, Bem, um menino pobre, com um futuro incerto e desmotivado – só tirava notas baixas na escola – encontrou em sua mãe todo o apoio necessário para vencer na vida. Sempre com os joelhos no chão em oração, Sonya Carson viu todo seu esforço na criação dos filhos valer a pena quando Ben torna-se diretor do Centro de Neurologia Pediátrica do Hospital Universitário Johns Hopkins, em Baltimore. É no cargo de diretor que Ben precisa tomar uma grande decisão: realizar ou não uma cirurgia de separação de gêmeos siameses.

Wildflower (2016)

Contra o Sol/ À Deriva (2014)

Chloe Morray é uma estudante universitária que encontra na arte um consolo para sua difícil infância, marcada por um relacionamento complicado com sua mãe, e de muitos mistérios. A jovem aparentemente conta com forte poder de resiliência, mas que é posto à prova quando um sonho aterrorizante começa a se repetir noite após noite, fazendo com que Chloe passe a acreditar que o pesadelo na verdade é uma memória reprimida de seu passado. Buscando respostas, Chloe cruza seu caminho com Josh – um jovem missionário que enfrenta uma grande perda em sua vida e em sua fé. Wildflower é um longa que nos lembra do grande poder de cura de Deus, e no quão importante é descansarmos no Senhor.

Durante a Segunda Guerra, três pilotos da marinha norte-americana caem no oceano Pacífico, onde têm de lutar contra o tempo, a fome, tubarões e o desespero para sobreviver em alto mar e navegarem 1.600 quilômetros para serem resgatados. O intrigante do filme é o desenrolar da convivência entre os tripulantes do pequeno bote salva vidas – Harold Dixon, Tony Pastula e Gene Aldrich. De origens e fé diferentes, os três precisam lidar com suas divergências para passarem pelo turbulento momento que enfrentam. Mas é graças a fé no Senhor do jovem Aldrich, que os pilotos encontram forças e esperança para lutarem até o fim. O filme, baseado em fatos reais, pode ser encontrado nos serviços de streaming.

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