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FORTALEZA - CEARÁ,TERÇA-FEIRA, 28 DE JUNHO DE 2022
LEVI BANIDA / DIVULGAÇÃO
Registro da performance “O Mar não é Binário #2 – O Farol”, da interartista Levi Banida
| THEATRO JOSÉ DE ALENCAR | Mostra Ficções para Corpas Insurgentes acolhe sete performances alusivas ao Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+ na Praça do TJA
FABULAR VIDAS joaogabriel@opovo.com.br
Imagem do trabalho “Desvotos”, do artista visual Filipe Alves
Mostra Ficções para Corpas Insurgentes Quando: hoje, 28, a partir das 16 horas Onde: Praça José de Alencar (em frente ao Theatro José de Alencar — rua Liberato Barroso, 525, Centro) Gratuito Mais informações: @tja. theatrojosedealencar
FILIPE ALVES / DIVULGAÇÃO
Criar espaços de vida para vidas costumeiramente postas à margem. É por essa intenção afirmativa de existência e resistência que sete artistas apresentam performances na mostra Ficções para Corpas Insurgentes, realizada no âmbito do programa Theatro Cidadão, do Theatro José de Alencar. Em alusão ao Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+, comemorado justamente nesta terça-feira, 28, o evento traz para a Praça José de Alencar, a partir das 16 horas, trabalhos que buscam refletir sobre a criação de espaços seguros e possíveis para dissidências de gênero e sexualidade. Com curadoria da artista, arte-educadora e produtora cultural Aires e do artista e pesquisador Eduardo Bruno, a mostra entra no escopo da plataforma Imaginários, que estimula criação, difusão e circulação de arte contemporânea nordestina. A dupla curatorial escolheu sete trabalhos em performance para apresentação no evento, sendo quatro presenciais e três videoperformances: respectivamente “Museu do Amor Sapatão”, da artista e pesquisadora Marília Oliveira; “O Mar não é Binário #2 – O Farol”, da interartista Levi Banida; “Íntima”, da artista multilíngue Maruska Ribeiro; “Receita Para Criar Novas Espécies”, da artista visual e performer Sy Gomes; “Ânsio N°2”, do artista e arte-educador Bethoveen DaSilva; “Des-Votos”, do artista visual Filipe Alves; e “Para reflorestar uma terra seca ou como construir Fortalezas”, da artista, educadora e pesquisadora Maria Macêdo. “Quando a gente utiliza o termo ‘ficções’, ele está associado a outros dois, a fabulação e a imaginação. A gente traz esse recorte da ficção pensando a partir da potência de imaginar outras possibilidades de se manter viva nesse Brasil, que há onze anos é o país que mais mata travestis, pessoas trans e LGBTQIAP+ em geral”, ressalta Aires. “Essas criações se utilizam da potência dessa tríade — imaginação, fabulação e ficção — para pensar formas de se manter viva apesar desse Brasil”, segue a curadora. “A ficção está atravessando as criações
a partir de um lugar de poder se criar aquilo que nos é negado no presente e poder colocar em jogo, nesse presente, essa potência de vida e de existência”, reflete. Aproximados pela elaboração de dissidências e insurgências pela performance, os trabalhos apresentados trazem questões distintas entre si em termos de racialidade, gênero, sexualidade e geografia. Como define Eduardo, “o discurso comum entre eles é exatamente a produção da diferença”. “A escolha dos trabalhos se dá por uma ordem de pensar a partir da potência da diferença e como cada artista produz a criação, por mais que estejam dentro dessa composição de corpos e corpas de dissidência”, analisa o curador. Para existências e vivências não-normativas, a expressão pela performance soa como um encontro de potências irmanadas. “A performance é, de certa forma, um exercício de fuga. Das outras linguagens, dos cânones da arte. Ela não foge só deles, mas também dos regimes narrativos que estavam nessas linguagens. Durante muito tempo, elas eram construídas por regimes narrativos de pessoas cisgêneros, heterossexuais, brancas”, aponta Eduardo. “A performance elabora-se na contramão, no contrafluxo da norma”, dialoga Aires. “Ela está nesse lugar de se permitir, a partir da experimentação, se desconstruir, no sentido de reinventar as lógicas e o repertório de usos do nosso corpo, da relação do nosso corpo com a cidade, da nossa relação com o nosso corpo, com as questões políticas”, elenca a curadora. “O ponto comum é exatamente a instância ou o desejo de se gerar fugas, seja a fuga do discurso canônico da arte, seja a fuga da dimensão própria da ideia do que se pode e de quem pode narrar na arte”, arremata Eduardo.
MARÍLIA OLIVEIRA / DIVULGAÇÃO
JOÃO GABRIEL TRÉZ
Imagem do trabalho “Museu do Amor Sapatão”, da artista e pesquisadora Marília Oliveira