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História e Histórias da Cerâmica Portuguesa
AZULEJOS DAS ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS
por IP Património
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Introdução
Comemoram-se no próximo dia 28 de outubro, 166 anos de história do caminho-de-ferro em Portugal - história da construção e exploração de linhas e de estações por diversas companhias do setor ferroviário desde a sua inauguração, em 1856, até ao presente. A história do caminho-de-ferro é também a história do património histórico e cultural ferroviário nacional. A IP, Infraestruturas de Portugal é detentora de um vasto património constituído por um extenso conjunto de bens móveis e imóveis que testemunham a cultura rodoviária e ferroviária em território nacional. Na Unidade de Gestão do Património Histórico e Cultural da IP Património, o nosso trabalho baseia-se em quatro pilares: • Inventariar - Conhecer. • Conservar - Preservar. • Proteger - Salvaguardar. • Divulgar - Valorizar.
Património azulejar
Num universo de 900 estações e apeadeiros, quer com serviço de passageiros e/ou mercadorias quer desativadas, 308 têm azulejos, de diferentes tipologias: • Composições figurativas, • Composições não figurativas, • Composições de módulo padrão, de interior e de exterior, com motivos geométricos, nalguns casos relevados, • Composições de azulejos enxaquetados, • Toponímia, por vezes em paralelo com o nome da estação escrito a vidraço preto, em pavimentos de calçada portuguesa, • Azulejos de figura avulsa, • Azulejos isolados, • Azulejos lisos de uma só cor, • Painéis singulares: informativos, instalações sanitárias, publicitários, com assinaturas, moradas (rua, largo, avenida), legendas, sinalização (armazéns), outros, • PK/ponto quilométrico associado às PN / passagens de nível, • Suportes, quer de lanternas (antiga iluminação das plataformas), quer de horários e informação diversa, • “Escudos da Nação” animando os alçados dos edifícios construídos pelos Caminhos de Ferro do Estado, • Placas para atribuição dos prémios para as “Estações
Floridas”, com desenho original do pintor Carlos Botelho.
No caso dos painéis figurativos, e numa primeira fase, a temática escolhida foram as paisagens e sítios, usos e costumes, tradições e fainas agrícolas ou piscatórias, constituindo como que “bilhetes postais” de cada localidade. As diferentes fontes de inspiração derivaram muitas vezes de gravuras ou fotografias, revelando a intuição e competência dos pintores de azulejos na adaptação dessas imagens à escala monumental da arquitetura. Nalguns edifícios, com as composições de padrão conseguiu-se, num reduzido espaço de tempo, encontrar soluções plásticas para os diversos casos, empregando um
limitado número de padrões geométricos, introduzindo pequenas variantes controláveis com facilidade, de resto com notável capacidade inventiva. Este tipo de azulejo são uma solução de inegável inteligência pragmática. A conceção e a produção dos azulejos, o “saber fazer”, integra-se no registo das boas práticas de património imaterial e na história social do trabalho: por mais simples que sejam, são testemunhos de intenções, vontades, de técnicas e de criatividade.
Conservação e Restauro
Para a preservação dos azulejos têm sido desenvolvidas ações de conservação e restauro, adotando metodologias e técnicas definidas para trabalhos desta natureza, desde o registo da situação existente, remoção de argamassas, consolidações, estabilizações, colagens, reintegrações cromáticas e dessalinização. Nos painéis mais danificados, por força da forte presença de humidade no suporte, opta-se, por vezes, por fazer o seu assentamento num suporte móvel, evitando o contacto com a parede e, consequentemente, a migração de sais para os azulejos ou até por recorrer à manufatura de réplicas.
Protocolo de Cooperação com a Polícia Judiciária
No dia 28 de outubro de 2014, foi assinado um Protocolo de Cooperação entre a ex-REFER e a Polícia Judiciária, através da Escola de Polícia Judiciária, que integra o Museu de Polícia Judiciária, estabelecendo formas de cooperação de modo a alcançar, no domínio da missão do Projeto SOS Azulejo, maior proteção ao património azulejar associado à rede ferroviária nacional.
Rotas dos Azulejos
Rotas dos Azulejos é um projeto da IP Património, que tem como objetivo incitar à descoberta e à compreensão de um património que é de todos nós, patente em inúmeras estações da rede ferroviária nacional e em muitas das estradas sob gestão da IP. As estações são, como costumamos dizer, um museu ao ar livre. • Rotas Autoria: sobre a obra de um determinado pintor, como por exemplo as rotas da obra de Jorge Colaço e de Gilberto Renda; • Rotas Localização: sobre os azulejos das estações de uma determinada linha ou ramal, como as rotas da
Linha do Minho e a da Linha do Norte; • Rotas tipologia azulejar: sobre painéis figurativos, de padrão ou outros.
O acesso às rotas pode ser feito a pé, de bicicleta, de comboio, de carro ou, ainda, pela internet.
Placa SOS Azulejo, dissuasora de roubo e vandalismo de azulejos . Colocada em 240 estações e apeadeiros de caminho-de-ferro
Rotas dos Azulejos que se encontram disponíveis:
Rota Autoria - Jorge Colaço A primeira Rota Autoria, apresenta o trabalho do pintor Jorge Colaço para nove estações da rede ferroviária
nacional e para algumas das antigas casas de cantoneiros. Foi lançada no Dia Nacional do Azulejo, 6 de maio de 2020. https://www.ippatrimonio.pt/pdfs/flipbook/RotaJorgeColaco/index.html
Rota Autoria - Gilberto Renda A segunda Rota Autoria apresenta o trabalho do pintor Gilberto Renda para oito estações ferroviárias. Foi lançada no dia 18 de dezembro de 2021, para comemoração dos 137 anos do nascimento do pintor. https://www.infraestruturasdeportugal.pt/pdfs/ flipbook/RotaGilbertoRenda/index.html
Rota Localização - Linha do Minho e Ecopista do Minho, ex-Ramal de Monção A primeira Rota Localização apresenta o património azulejar para a totalidade das estações da Linha do Minho e da Ecopista do Minho (ex-Ramal de Monção). Foi lançada no Dia Nacional de Azulejo – 06 de maio de 2021 https://www.ippatrimonio.pt/pdfs/flipbook/RotasdosAzulejosLinhadoMinho/index.html
Rota Localização - Linha do Norte entre Lisboa Santa Apolónia e o Carregado A segunda Rota Localização apresenta o património azulejar para as estações da Linha do Norte, entre Lisboa-Santa Apolónia e o Carregado. Foi lançada no dia 28 de outubro de 2021, para comemoração dos 165 anos da inauguração do caminho-de-ferro em Portugal e do Ano Europeu do Transporte Ferroviário. https://www.ippatrimonio.pt/pdfs/flipbook/RotasdosAzulejosLinhadoNorte/index.html
Rota Localização – Rota Travessia Ferroviária Norte – Sul A terceira Rota Localização apresenta património artístico azulejar e escultórico das 15 estações da Travessia Ferroviária Norte-Sul, com intervenções de artistas contemporâneos, em Roma-Areeiro, Entrecampos, Sete Rios e Campolide, na margem norte e Pragal, Corroios, Foros de Amora, Fogueteiro, Coina, Penalva, Pinhal Novo, Venda do Alcaide, Palmela, Palmela A e Setúbal, na margem sul.
As intervenções artísticas realizadas faseadamente neste percurso exibem uma linguagem arquitetónica semelhante, onde podemos apreciar o traço da modernidade e conhecer a obra de diversos autores contemporâneos: um símbolo do futuro da ferrovia sem esquecer a sua história. Foi lançada no Dia Nacional de Azulejo – 06 de maio de 2022 e será publicada em breve. As rotas estão disponíveis online no site da IP Património, seguindo os separadores: A Descobrir / Património Ferroviário / Património Azulejar. Prevê-se o lançamento de mais três rotas ainda este ano: • Rota Localização - Rota da Estrada Nacional 2 • Rota Localização - Restantes estações da Linha do
Norte entre o Carregado e Porto Campanhã • Rota Autoria - Rota Battistini
Toponímia. Estação de Pinhal Novo
Placa “Estações Floridas”
Estação de Venda do Alcaide . Autor René Bertholo
Estação de Penalva , Autor Querubim Lapa
Prémios e Reconhecimentos Estação Ferroviária de Porto São Bento Prémio “Intervenção de Conservação e Restauro SOS Azulejo 2013”.
Contributo para a valorização do património azulejar português pela reabilitação dos painéis de azulejo.
Prémio Brunel Awards, 2014 - Projeto de Reabilitação de Painéis de Azulejo
Classificada como Imóvel de Interesse Público
(IIP), em 31 de dezembro de 1997 - Estação Ferroviária de São Bento, incluindo a gare metálica, os painéis de azulejos e a boca de entrada no túnel
Estação Ferroviária do Pinhão Prémio “Intervenção de Conservação e Restauro SOS Azulejo 2013”.
Contributo para a valorização do património azulejar português pela reabilitação dos painéis de azulejo.
Prémio “Segurança SOS Azulejo 2016”
A IP foi distinguida com o Prémio Boas Práticas SOS Azulejo pelo trabalho desenvolvido na preservação do património azulejar, pelas ações na área da segurança (inventariação – manutenção – proteção).
Prémio “Intervenção de Conservação e Restauro SOS Azulejo 2019-2020”
Ana Bidarra – Cinábrio / RC3 / Infraestruturas de Portugal, pelo trabalho “Linha do Oeste – Conservação e Restauro dos painéis azulejares das estações de Caldas da Rainha, Valado, Outeiro, Bombarral, Mafra, Leiria e Óbidos.
2021” Prémio “Trabalhos de Divulgação SOS Azulejo
Trabalhos de divulgação do Património Azulejar nas Estações Ferroviárias
HISTÓRIA DA CERÂMICA EM COIMBRA
por Câmara Municipal de Coimbra
A Cerâmica é uma das atividades artesanais preferidas pelo povo português. Vermelho ou vidrado, preto ou engobado, é infinito o número de formas e aplicações que o povo sempre lhe deu. O documento mais antigo, escrito, que faz referência à existência desta arte em Coimbra, data de 1145. Encontra-se depositado/arquivado na Câmara Municipal e alude aos fabricantes de telhas. Outro documento reporta a compra, de uma Tenda de Louças a Pedro Soares, com dois fornos, pelo Mosteiro de Santa Cruz, em 1203, sendo outro documento de 1213 e reporta outra compra a Paio Gonçalves. Outras evidências que remetem para a indústria cerâmica em Coimbra estão patentes na toponímia das ruas. A atual Rua Direita, nos séculos XIII | XIV, dividir-se-ia em Rua dos Caldeireiros e Rua da Figueira Velha; nos séculos XIV | XV, os dois troços chamavam-se Rua das Caldeirarias e mais tarde, já no século XVI, surge referida como Rua de Sansão. Não obstante, as referências à cerâmica coimbrã só começam a surgir com mais abundância a partir do século XV.
Do século XVI, até meados do século XVIII, verifica-se uma grande evolução no número de fábricas de cerâmica existentes em Coimbra. No século XVI, ainda é possível aos artesãos instalarem-se no interior das muralhas, passando posteriormente a ocupar zonas mais próximas do rio Mondego. A Rua da Madalena é mais tarde integrada na Av. Fernão Magalhães, a Rua Lopo Martins não se conhece o local exato, o Terreiro das Olarias é hoje o Largo das Olarias, no “Bota Abaixo” e a Rua Estevão Nogueira corresponde à atual Rua da Fornalhinha. É também provável que nas Ruas Simão de Évora, João Cabreira, de Santo António, da Louça e dos Oleiros, se encontrassem outras olarias. O fabrico da faiança em Coimbra data de finais do século XVI. Surge então o novo ofício de pintor de louça, que transcrevem, em versão popular, motivos eruditos e orientais para as peças que fabricam. Na segunda metade do século XVIII, já Coimbra exportava a sua faiança para outras terras e mesmo, através do porto da Figueira da Foz, para o Algarve, Ilhas adjacentes e Inglaterra. Na segunda metade do século XVIII, surgem dois nomes que se destacam na produção e fabrico da faiança em Coimbra: - Manuel da Costa Brioso, um dos nomes maiores à época, responsável pela produção de peças decoradas com ramalhetes de delicados filamentos, muitas vezes rodeados de tarjas, folhagem, silvas, grinaldas, concheados e outros motivos; em termos de cor, destaca-se a policromia, com preferência pelos azuis e roxos acetinados, que contrastam com os verdes e os amarelos-torrados; não raro as peças, designadamente os pratos, são marmoreadas ou esponjadas no reverso. - Domingos Vandelli, médico e naturalista, funda, em 1784, uma fábrica no Rossio de Santa Clara, cuja faiança foi muito apreciada graças à qualidade das suas peças. Na decoração, preponderavam os ramalhetes compostos com rosas, tulipas e folhas (miúdas e largas), por vezes delineadas ou preenchidas com pinceladas verdes, simples e vistosas. No século XIX, existem ainda registos de 10 unidades fabris de pequena dimensão. Com as Invasões Francesas, a indústria cerâmica portuguesa para a produção quase por completo, fazendo-se sentir fortemente a concorrência da Louça Fabril Inglesa. Nos anos 80 do século XX, subsistiam na cidade e na sua periferia algumas empresas artesanais que se dedi-
cavam ao fabrico da faiança vidrada, no estilo dos séculos XVII e XVIII. Entre as principais características da louça de Coimbra, destaca-se a textura da pasta, muito macia e regular, pinturas manuais com preferência pelas cores roxo, azul-cobalto, castanho, verde e amarelo. Em termos de produção, são consideradas peças típicas da cerâmica coimbrã as Tobias, Canecas de peixe, Jarras de leque, Jarras de dedos, Pratos de morrão, Travessas, Talhas, Potes e Boiões. Entre as principais indústrias cerâmicas com atividade em Coimbra destaca-se a Sociedade Cerâmica Antiga de Coimbra, Lda., que, num primeiro momento, foi conhecida como Fábrica do Lagar segundo vários registos, por ter sido erguida num edifício onde anteriormente funcionava um lagar. Em 1925, a fábrica tinha sido já adquirida por Alfredo de Oliveira, ficando esta conhecida por Fábrica de Louça | Viúva Alfredo D’Oliveira, sendo uma das raras fábricas de cerâmica que ainda subsistem na cidade.