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Certificação
A CERTIFICAÇÃO DAS PRODUÇÕES ARTESANAIS TRADICIONAIS PORTUGUESAS NO SECTOR DA CERÂMICA
por Teresa Costa, Diretora e Responsável de Certificação da A.CERTIFICA
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Cada vez mais, é necessário preservar os nossos “saberes fazeres”, e transmiti-los às novas gerações. É unanimemente reconhecida a importância das artes e ofícios na afirmação da identidade nacional e na defesa da genuinidade dos seus produtos, é por isso importantíssimo a sua proteção e valorização, quer no mercado nacional quer internacional, é o que se propõe desde sempre A.CERTIFICA enquanto Organismo de Certificação. Certificar para proteger, fomentar, dignificar e promover as produções e os seus artesãos e/ou unidades produtivas artesanais. O Sistema Nacional de Qualificação e Certificação de Produções Artesanais Tradicionais (SNQCPAT) existe desde 2015 através do Dec.Lei 121/2015. A.CERTIFICA é o único Organismo de Certificação de produções artesanais tradicionais acreditado pelo IPAC (Instituto Português da Acreditação), contando até à data com a certificação de 21 produções de várias áreas de produção, tais como os têxteis, as fibras vegetais, os instrumentos musicais e naturalmente dos processos cerâmicos. Para que se perceba melhor são certificáveis todos os produtos com referente geográfico associado à origem histórica ou centro difusor mais relevante dessa produção, desde que comprovada a sua importância cultural, considerando a tradição da atividade no território; e a sua expressão económica e social. Para que se possa certificar uma produção é essencial que todos estes processos tenham como base um Caderno de Especificações. Diríamos que é facto assente que as artes e ofícios tradicionais devem ser estudadas séria e aprofundadamente, pois são prova inequívoca de saberes, técnicas, modos de estar e de viver das comunidades, documentos essenciais para o conhecimento da cultura popular e para o reconhecimento das linhas que definem as características próprias de uma identidade. Esta necessidade de estudo das artes e ofícios tradicionais torna-se ainda mais premente quanto sabemos que há atualmente produções completamente descaracterizadas, totalmente desvinculadas da sua história de origem, desenquadradas do seu contexto socio cultural, e ainda outras em vias de extinção, sem seguidores, que se apagarão dos registos caso não sejam tomadas medidas urgentes tendentes ao seu estudo e revitalização. Este Caderno de Especificações dará lugar à sua publicação em DR (Diário da República) e posterior ao respetivo registo de Indicação Geográfica, que são a marca necessária e obrigatória para proteção nacional, como são o caso dos processos cerâmicos da Olaria de Barcelos, o Figurado de Barcelos, a Louça Preta de Molelos - Tondela, o Barro Preto de Olho Marinho – Vila Nova de
Poiares, o Boneco de Estremoz, ou as Cantarinhas dos Namorados de Guimarães. Processos cerâmicos tradicionais ainda são alguns em Portugal continental e ilhas, assim para além das produções que já se encontram certificadas, podemos ainda referir produções como Barro negro de Vilar de Nantes – Chaves; Olaria negra de Bisalhães – Vila Real; Olaria pedrada de Nisa; Olaria do Redondo; Olaria de S. Pedro do Corval (Reguengos de Monsaraz); Olaria de Viana do Alentejo; Olaria do Carapinhal (Miranda do Corvo); Olaria da Bajouca (Leiria); Figurado das Caldas da Rainha, e nas ilhas temos em Vila Franca, em S. Miguel, e Angra do Heroísmo, na Terceira, com centros produtores que dão continuidade à olaria tradicional dos Açores. Produções que necessitam de salvaguarda dos seus saberes e de garantir a sua transmissão para que de futuro não se tornem apenas memórias bibliográficas e fotográficas. Muitas destas produções têm ainda núcleos de produção ativos e significativos, quer para as suas economias locais, quer para o seu turismo. Algumas já com estudo das suas produções que se podem aproveitar para iniciar processos de produções, e outras que é necessário que os seus responsáveis locais queiram manter as tradições vivas e que possam no tempo não se perder. A melhor forma de garantir a preservação das produções é delinear medidas de salvaguarda das mesmas, sendo que uma dessas medidas passa pela certificação das produções, pois cumprindo os seus principais objetivos só assim se pode garantir a autenticidade da produção, a sua qualidade, o saber fazer tradicional, bem como diferenciar e singularizar um produto com características próprias no quadro de determinada região ou localidade, que fará com que cada vez mais se possa informar o consumidor promovendo a sua confiança quando pretender adquirir uma peça artesanal tradicional.
Esta marca da certificação tem levado os seus mentores, leia-se artesãos a verem as suas produções em espaços privilegiados para a comercialização, em que o consumidor/público encontram num só lugar uma panóplia de peças de mais de 25 “mestres” diferentes, em que para além de apreciar podem adquirir, como acontece por exemplo com o Grupo do Valor do Tempo que em 2021 decide abrir ao público aquela que é a primeira loja de Figurado de Barcelos só com produção certificada. Por outro lado, cada vez mais vemos designes e marcas a querer ter parcerias com os artesãos para produzir peças únicas tradicionais contemporâneas que não descaracterizam o produto e não deixam de ser certificadas. Só podemos concluir que uma das maiores armas para salvaguarda de todas as produções em geral e da cerâmica em particular é sem dúvida a sua certificação.
LOUÇA DE CONÍMBRIGA – CONDEIXA CRIATIVA
por Ana Teresa Manaia, Vereadora da Câmara Municipal Condeixa
O Município de Condeixa-a-Nova é fortemente reconhecido pela importante tradição, que se mantém até aos nossos dias, ligada à produção e pintura artesanal de louças. A “Louça de Conímbriga” é uma arte inspirada na tradição oriental, mas também é influenciada pelo estilo árabe, é aqui que os desenhos patentes nos mosaicos Romanos das Ruinas de Conímbriga inspiram esta tradição artesanal. Esta atividade que ainda emprega algumas dezenas de pessoas no concelho está alicerçada no segredo do saber fazer e assume um carácter de excelência, onde cada peça é única. A decoração da louça artesanal é feita integralmente à mão e é sempre da responsabilidade de cada artesão que a concebe e assina, originando assim peças exclusivas com elevado valor. Focado no que são as suas raízes e com o intuito de potenciar o seu património único, o Município adquiriu em 2018 a antiga fábrica “Cerâmica de Conímbriga” e em parceria com o Instituto Pedro Nunes lança o “Condeixa Criativa”, um projeto apoiado pelo programa INOV-C e que posteriormente viu aprovada uma candidatura no âmbito do Programa PT2020 que visa a execução de obras de recuperação e conversão da antiga fábrica num centro de desenvolvimento cerâmico e de promoção de indústrias criativas onde, de acordo com o presidente da Câmara Municipal Nuno Moita, se procurará "mostrar e preservar a tradição da pintura à mão da cerâmica". Esta arte tradicional que nos últimos tempos tem apostado no desenvolvimento não só de louça decorativa mas também de louça utilitária, mantendo o processo manual quer na moldagem quer nos acabamentos e pintura, tem vindo a crescer e a sua capacidade de exportação para mercados fora da Europa são neste momento uma aposta dos empresários que ainda operam no sector. É aqui que o Município pretende ser um parceiro deste setor industrial importante para a dinâmica empresarial do concelho, criar condições para que o sector cresça apostando na diferenciação, na inovação, mas mantendo a identidade dos produtos. É assim que nasce o projeto Condeixa Criativa, um centro de desenvolvimento cerâmico que pretende dinamizar o empreendedorismo local através da criação de espaços de incubação e de Co-Work para produção (ateliers), comer-
Foto 1 . Pintura manual de Louça – in “Turismos do Centro”
cialização e demonstração. Este centro surge como uma solução para o lançamento de novas iniciativas empreendedoras de base artística e cultural, especialmente alicerçadas na temática da cerâmica tradicional e que possa servir de pólo de dinamização de atividades empreendedoras no município.
Por outro lado, é também objetivo que o Condeixa Criativa seja um espaço de saber e de inovação que potencie novas tecnologias de produção aliadas ao Eco-design que estejam estritamente aliadas com a transição digital das empresas e a sustentabilidade ambiental. Pretende-se que este espaço fomente a criação de parcerias entre empresas, universidades, politécnicos e centros tecnológicos com vista à dinamização do sector e ao seu crescimento económico. O centro terá também espaço para exposições e espaços de laser abertos a toda a população. Tendo em consideração a aposta do Município na valorização do setor é com este objetivo que em 2021, o Município aderiu à Associação Portuguesa de Cidades e Vilas de Cerâmica (APTCVC). A APTCVC é constituída por 22 municípios portugueses, Alcobaça, Aveiro, Barcelos, Batalha, Caldas da Rainha, Condeixa-a-Nova, Estremoz, Fundão, Ílhavo, Leiria, Loures, Mafra, Montemor-o-Novo, Oliveira do Bairro, Porto de Mós, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Tondela, Viana do Alentejo, Viana do Castelo, Vila Nova de Poiares e Vila Real. No âmbito desta associação são dados a conhecer todos os artesãos existentes no concelho e os seus trabalhos. Trata-se de uma parceria em rede que dissemina a louça de Conímbriga em Portugal e em outras redes Europeias de Cerâmica. No âmbito desta associação todos os Municípios promovem atividades de disseminação para celebrar o Bom dia Cerâmica, este ano integrado na VII Exposição de Cerâmica que decorreu no dia 15 de maio. O Município de Condeixa levou o turismo e a cerâmica de Conímbriga à Expo Dubai, no âmbito da participação da CIM-Região de Coimbra, a convite da AICEP, naquela feira mundial, que decorreu nos Emirados Árabes Unidos. “Para além de promover o turismo, nomeadamente Conímbriga e o Museu PO.RO.S, a nossa participação centrou-se estrategicamente num dos nossos setores mais tradicionais, o da cerâmica, em particular o da cerâmica artística e decorativa, nomeadamente a louça de Conímbriga, pelo facto de os Emirados Árabes Unidos serem um mercado interessante, em termos de oportunidades de negócio”, afirmou Nuno Moita, edil de Condeixa. Para efeito, foi realizado e produzido um vídeo promocional sobre as empresas, os profissionais e as técnicas de produção da cerâmica de Conímbriga, que servirá de suporte à promoção e divulgação daquele setor tradicional em futuras feiras e outros eventos. Na Expo Dubai, onde o presidente Nuno Moita esteve acompanhado pelo presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Luís Castro Henriques, foram ainda oferecidas diversas peças de louça de Conímbriga a visitantes e empresários.