Caderno de Resumos do XIX Congresso Internacional de Filosofia da PUCPR 2021

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Caderno de Resumos do XIX Congresso Internacional de Filosofia da PUCPR 2021 Subjetividade, Tecnologia e Meio Ambiente


APOLODORO VIRTUAL EDIÇÕES Direção editorial: Charles Feldhaus (UEL/Brasil) SÉRIE “ÉTICA, POLÍTICA E CIDADANIA” Editor da série: Evandro Oliveira de Brito (UNICENTRO/Brasil) Comitê Editorial • Aline Medeiros Ramos (UQAM e UQTR/Canadá) • Alexandre Lima (IFC/Brasil) • Arthur Meucci (UFV/Brasil) • Caroline Izidoro Marim (PUC-RS/Brasil) • Cleber Duarte Coelho (UFSC/Brasil) • Elizia Cristina Ferreira (UNILAB/Brasil) • Ernesto Maria Giusti (UNICENTRO/Brasil) • Fernando Mauricio da Silva (FMP/Brasil) • Flávio Miguel de Oliveira Zimmermann (UFFS/Brasil) • Gilmar Evandro Szczepanik (UNICENTRO/Brasil) • Gislene Vale dos Santos (UFBA/Brasil) • Gilson Luís Voloski (UFFS/Brasil) • Halina Macedo Leal (FSL-FURB/Brasil) • Héctor Oscar Arrese Igor (CONICET/Argentina) • Jason de Lima e Silva (UFSC/Brasil) • Jean Rodrigues Siqueira (UNIFAI/Brasil) • Joedson Marcos Silva (UFMA/Brasil) • Joelma Marques de Carvalho (UFC/Brasil) • José Cláudio Morelli Matos (UDESC/Brasil) • Leandro Marcelo Cisneros (UNIFEBE/Brasil) • Lucio Lourenço Prado (UNESP/Brasil) • Luís Felipe Bellintani Ribeiro (UFF/Brasil) • Maicon Reus Engler (UFPR/Brasil) • Marciano Adílio Spica (UNICENTRO/Brasil) • Marilia Mello Pisani (UFABC/Brasil) • Paulo Roberto Monteiro de Araujo (Mackenzie/Brasil) • Renato Duarte Fonseca (UFRGS/Brasil) • Renzo Llorente (Saint Louis University/Espanha) • Rogério Fabianne Saucedo Corrêa (UFPE/Brasil) • Vanessa Furtado Fontana (UNIOESTE/Brasil)


Ana Paula Martins de Souza Camila Batista Carlos Tiago da Silva Jeferson da Costa Vaz Thayná de Castro Saczuk (Orgs.)

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Apolodoro Virtual Edições 2021


APOLODORO VIRTUAL EDIÇÕES Coordenadora Administrativa: Simone Gonçales Revisão Organizadores Capa Ana Paula Martins de Souza Concepção da Série Grupo de Pesquisa “Ética, Política e Cidadania” GPEPC/UNICENTRO Concepção da obra

Grupo de Pesquisa em Filosofia da Psicanálise (GPF da P) Grupo de Pesquisa em Filosofia Francesa Contemporânea (GPFFC) Grupo de Pesquisa Hans Jonas (GPHJ)

Atribuição: Uso Não-Comercial Vedada a Criação de Obras Derivadas APOLODORO VIRTUAL EDIÇÕES editora@apolodorovirtual.com.br Rua Margairda Virmond Lustosa, 274, Mirante da Serra Guarapuava/PR, 85022-620


De sol e tudo, o senhor pode completar, imaginado; o que não pode, para o senhor, é ter sido, vivido. Guimarães Rosa



Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................ 21 A GUERRA CONTRA OS MËBÊNGÔKRE-KAYAPÓ – OS IMPACTOS DA COLONIZAÇÃO AO ETNOCÍDIO Alberto da Silva Amaral; Profª. Drª. Claudia Leonor López Garcés ....................................................................................... 23 OS INSTITUTOS FEDERAIS E O SEU CÓDIGO TÉCNICO Alexandre Chiarelli; Mario Lopes Amorim................................ 24 DA FANTASIA A ALIENAÇÃO: A IMPOSSIBILIDADE DA UTOPIA NA TEORIA DE JACQUES LACAN Allysson Anhaia......................................................................... 27 ANDY CLARK E O SELF ESTENDIDO: QUEM É ESSE A QUEM CHAMAMOS DE EU CONSCIENTE? Amanda Luiza Stroparo ............................................................ 28 CONVIVÊNCIA COM ROBÔS A PARTIR DO CONTO “ROBBIE” Ana Júlia Cioato; Roberta Marina Cioatto ................................ 31 A FENOMENOLOGIA E O DESIGN: UMA EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL Ana Paula Martins de Souza ..................................................... 33 NOTAS PARA O TRABALHO COM AS NOÇÕES DE ÉTICA E POLÍTICA EM MICHEL FOUCAULT: UMA ANÁLISE DAS PESQUISAS NO CAMPO ACADÊMICO FILOSÓFICO BRASILEIRO Ms. Antônio Alex Pereira de Sousa .......................................... 35


A PAIXÃO SEGUNDO G.H. DE CLARICE LISPECTOR: UMA LEITURA A PARTIR DO DIVÃ Antônio de Pádua Santos Rodrigues ........................................ 36 CONSIDERAÇÕES SOBRE O INCONSCIENTE DELEUZIANO Arion Keller ............................................................................... 38 A DATAFICAÇÃO E SUA INTERFERÊNCIA NA POLÍTICA E NA ORDEM SOCIAL Arthur Lamounier Mendonça ................................................... 40 LIBERTAÇÃO NACIONAL E REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA Breno Augusto da Costa ........................................................... 42 O COMPLEXO DE HERODES NA ATUALIDADE Breno Augusto da Costa ........................................................... 44 A SAÚDE MENTAL DAS MULHERES INDÍGENAS DA ETNIA GUARANI DA ILHA DA COTINGA: UMA DISCUSSÃO ATRAVÉS DO PERSPECTIVISMO AMERÍNDIO Bruna Leticia Stahlschmidt Fiala ............................................... 47 PENSANDO A TECNOLOGIA A PARTIR DA VALORIZAÇÃO MODERNA DO CONTROLE Bruno Camilo de Oliveira .......................................................... 51 SUBJETIVIDADE COMO FORMAÇÃO INTERSUBJETIVA Bruno Fonseca Ortega .............................................................. 53 DO DOMÍNIO DA NATUREZA À SUBMISSÃO TÉCNICA DO SER HUMANO: UMA REFLEXÃO ACERCA DA PROPOSTA TRANSUMANISTA Caio Fernando de Castro .......................................................... 55

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VEGANISMO, ECOSSOCIALISMO E DEMOCRACIA RADICAL: UM PARALELO Camila Batista ........................................................................... 57 PORQUE AS MÁQUINAS SÃO PERIGOSAS, MAS PORQUE NÃO PRECISAMOS TEMÊ-LAS Camila da Cruz Silva .................................................................. 59 SUBJETIVIDADE E ALTERIDADE EM MERLEAU-PONTY Carlos Henrique Carvalho Silva ................................................. 61 A INTERPRETAÇÃO DO EMPIRISMO NA CONSTITUIÇÃO DE DIFERENÇA E REPETIÇÃO (1968) DE GILLES DELEUZE Carlos Tiago da Silva ................................................................. 63 ENTRE INDIVÍDUOS E FAMÍLIAS – NEOLIBERALISMO ENQUANTO DESTRUIÇÃO DO SOCIAL Caroline Santos da Silva ............................................................ 65 OS IMPACTOS DA CIVILIZAÇÃO TECNOLÓGICA NA NATUREZA: PRESERVANDO O ETHOS DA ARAUCÁRIA PARANAENSE Claudemir Stanqueviski; Prof. Dr. Roberto Franzini Tibaldeo .. 67 ANÍBAL QUIJANO: O CONTROLE DA SUBJETIVIDADE COMO UM DOS EFEITOS DA COLONIALIDADE DO PODER Claudionor Soares Muniz.......................................................... 71 DIGITAL: MAIS-VALIA COMPORTAMENTAL, GOVERNAMENTALIDADE ALGORÍTMICA E PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO Prof. Dr. Daniel Filipe Carvalho ................................................. 73 A INEFICÁCIA DO SUICÍDIO CONTRA O SOFRIMENTO EM SCHOPENHAUER Derijones Leandro Silva Júnior ................................................. 74 11


A ORDEM MORAL DO MUNDO SEGUNDO F.K FORBERG E J.G FICHTE Douglas William Langer ............................................................ 76 GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA: UMA ANÁLISE DA PROPOSTA DE POLÍTICA SUPRANACIONAL EM JÜRGEN HABERMAS Edielmo de Jesus Oliveira ......................................................... 78 CAPITALISMO, INDÚSTRIA 4.0, PANDEMIA E SUBALTERNIDADE: A DEVASTAÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL Prof. Dr. Eliesér Toretta Zen ..................................................... 81 A DINÂMICA DE RECONHECIMENTO INTERPESSOAL ENTRE O PERSPECTIVISMO AMERÍNDIO E A TESE DE SEGUNDA PESSOA Emanuelly Nakaryn; Felipe Eleutério........................................ 84 O MANIFESTAR-SE DO OUTRO NAS MEDITAÇÕES CARTESIANAS DE EDMUND HUSSERL Ezequiel Barros Barbosa de Jesus ............................................. 87 O PROBLEMA DA CAUSALIDADE À LUZ DE HANS JONAS: IMPLICAÇÕES ÉTICAS NA DEFESA DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL Fábio André Frizzo .................................................................... 89 POPPER: QUO VADIS NOSSA SOCIEDADE DEMOCRÁTICA? Francisco da Costa .................................................................... 92 ANÁLISE PSICOSSOCIAL SOBRE A INFLUÊNCIA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA SUBJETIVDADE NO SUJEITO CONTEMPORÂNEO Guilherme Almeida de Lima ..................................................... 94 TÉCNICA, CONDIÇÃO HUMANA E MUNDO COMUM: ENTRE HANNAH ARENDT E GILBERT SIMONDON Heloisa Helena Schmaedecke ................................................... 98

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MITOFÍSICAS: QUESTÕES PARA O FIM DO MUNDO Hugo Renan Pizzato ................................................................ 100 A PARTEIRA, O MOSCARDO, A ARRAIA ELÉTRICA: SÓCRATES COMO O PARADIGMA DO CIDADÃO REFLEXIVO SEGUNDO HANNAH ARENDT Lara França da Rocha .............................................................. 102 BIOPOLÍTICAS AFIRMATIVAS: UMA ANÁLISE A PARTIR DO MODO DE VIDA QUILOMBOLA Isabela Simões Bueno ............................................................. 106 O ENCONTRO DA ANTROPOLOGIA DE EDUARDO VIVEIROS DE CASTRO E A FILOSOFIA DE GILLES DELEUZE Iziquel Antonio Radvanskei .................................................... 108 DEUS É MÃE: A VISÃO EM DEUS COMO RESPOSTA AO PROBLEMA DA COMUNICAÇÃO ENTRE AS DIMENSÕES SUBJETIVA E OBJETIVA Jeferson da Costa Vaz ............................................................. 110 COGNIÇÃO ANIMAL E QUESTÕES ÉTICAS Jessyca Eiras Jatobá Santos .................................................... 113 O SUJEITO NO PENSAMENTO FOUCAULTIANO: PERCURSOS ENTRE SABER, PODER E ÉTICA João Jânio da Silva Lira ........................................................... 120 A QUEDA DO CÉU: UM ANTÍDOTO PARA O NIILISMO Jordão Vieira Carrijo ............................................................... 122 CIBER-BRICOLAJES DE SEGUNDO ORDEN ONTOLOGÍA DELEUZOMARXISTA BASTARDA CONTRA EL ACELERACIONISMO Y EL FIN DE LA HISTORIA Prof. Dr. Jorge León Casero .................................................... 124

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NATUREZA HUMANA E NOVAS BIOTECNOLOGIAS: NOSSA RESPONSABILIDE AMPLIADA José Carlos Moreira ................................................................ 127 DO SAGRADO AO PROFANO: O PARADIGMA MECANICISTA E A LEGITIMAÇÃO DA EXPLORAÇÃO DA MULHER E DA NATUREZA Juliana Fonseca da Silva Linhares Bueno ................................ 129 HOSTILIDADE E FRATERNIDADE EM TORNO DO PARRICÍDIO PRIMORDIAL Julio Alexandre Fachini ........................................................... 131 MODOS DE VIVER, FORMAS DE SOFRER: O SOFRIMENTO E SUAS TRANSFORMAÇÕES NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA Keilane Ferreira de Araújo ...................................................... 132 NECROPOLÍTICA AMBIENTAL NO BRASIL: A RESPONSABILIDADE COMO UMA ALTERNATIVA À GARANTIA DA VIDA Kellen Smak ............................................................................ 134 A NECESSIDADE DO RESGATE DE UM MUNDO COMUM OU DE UMA ATMOSFERA ENRAIZADA EM HANNAH ARENDT E SIMONE WEIL Kleys Jesuvina dos Santos ....................................................... 137 MODIFICAÇÃO GENÉTICA EM ANIMAIS SOB A PERSPECTIVA DO CREDO BIOÉTICO DE POTTER Letícia Maria Lima Sampaio Figueiredo; Roberta Marina Cioatto .................................................................................... 139 O LADO OBSCURO DA TECNOLOGIA: OS EFEITOS PREJUDICIAIS DAS TICS NA TRÍADE DE FUNÇÕES MENTAIS DA APRENDIZAGEM Ligia Costa Manhães de Oliveira............................................. 142

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MINAS E SUA TRISTE SINA – UMA REFLEXÃO INICIAL Profa. Dra. Lilian S. Godoy Fonseca ........................................ 146 O CONCEITO DE TEMPO EM SAMBAS DE COMPOSITORES E INTÉRPRETES DA GRES PORTELA ................................................ 148 Lucas Lipka Pedron ................................................................. 148 DA PASSAGEM DO FUNDAMENTO METAFÍSICO AO ONTOLÓGICO NO CONCEITO DE DIGNIDADE; UM DIÁLOGO ENTRE IMMANUEL KANT E HANS JONAS Lucas Miguel Gonçalves Bugalski ........................................... 150 BREVES NOTAS SOBRE MEIO AMBIENTE E TECNOLOGIA NA FILOSOFIA PRÁTICA DE GERD BORNHEIM Lucas Taufer ............................................................................ 152 A BIOPOLÍTICA COMO DESTRUIÇÃO DA SUBJETIVIDADE EM ACHILLE MBEMBE Lucilene Gutelvil ..................................................................... 155 SUBJETIVIDADE E LIBERDADE EM BYUNG-CHUL HAN Prof. Dr. Lúcio Vaz .................................................................. 157 BIOPOLÍTICA E INJUSTIÇA AMBIENTAL: EXPRESSÕES RACIAIS DA FUNÇÃO ASSASSINA DO PODER Marcelo Henrique de Souza Carvalho .................................... 159 SUBJETIVIDADES COMPARTILHADAS – PARA UMA COMPREENSÃO DOS DIAS VIVIDOS Marcelo Santana dos Santos .................................................. 161 SUBJETIVAÇÃO E DESSUBJETIVAÇÃO EM GIORGIO AGAMBEN Marcílio Medeiros Silva .......................................................... 165

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DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E RESISTÊNCIA ANCESTRAL NOS TEMPOS DO ANTROPOCENO Dr. Márcio Antônio Farias de Freitas ...................................... 167 TÉCNICA E TECNOLOGIA: UMA ABORDAGEM ECOSSISTÊMICA NO PROCESSO PEDAGÓGICO Dra. Maria José Menezes Lourega Belli; Dr. Lindomar Wessler Boneti ..................................................................................... 168 A RELAÇÃO ENTRE SUBJETIVIDADES E FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS NA RELAÇÃO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NO ENSINO REMOTO EMERGENCIAL Mariane Farias de Oliveira; Leticia Domiciano; Mariana Alves de Carvalho .................................................................................. 171 SOBRE AS CONCEPÇÕES DE HISTÓRIA EM NIETZSCHE E HEIDEGGER PARA A POTENCIALIZAÇÃO DA EXISTÊNCIA: UM AVANÇO PARA O INÍCIO Marianne Conceição de Souza Girard .................................... 173 O CONCEITO DE RESPONSABILIDADE NA CONCEPÇÃO DE ELENA PULCINI Michelle Ferreira de Lima ....................................................... 178 PROBLEMAS DE SEGURANÇA EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL Nicholas Kluge Corrêa............................................................. 181 TRANSGRESSÕES ÉTICAS COM WALTER BENJAMIN Pablo Vinícius Dias Siqueira .................................................... 184 ÉTICA E ECOLOGIA INTEGRAL NA AMAZÔNIA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL Paulo Fernando Campagnolli.................................................. 187

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DELEUZE-GUATTARI E OS HUNI KUIN - TECNOECOLOGIAS: CARTOGRAFIAS DE UM COMBATE NA IMANÊNCIA Paulo Jorge Barreira Leandro ................................................. 190 O MEIO AMBIENTE COMO POLÍTICA DE ESTADO E FATOR DE PRESERVAÇÃO DAS LIBERDADES INDIVIDUAIS: ENTRE J. RAWLS E R. NOZICK Pércio Davies Schmitz ............................................................. 191 GUIMARÃES ROSA E WITTGENSTEIN: ENTRE O DIZER E O MOSTRAR EM A TERCEIRA MARGEM DO RIO Rafael Araújo Leal ................................................................... 194 A NATUREZA DA MOBILIDADE BERGSONIANA PELO FILME “MÃE” Rafaela de Lima Zerbini .......................................................... 196 OS LIMITES DA LIBERDADE JURÍDICA DE AXEL HONNETH COMO BARREIRAS PARA A FORMAÇÃO DE SUBJETIVIDADES MAIS SOLIDÁRIAS Rahra Carvalho de Araújo ....................................................... 198 SOCIEDADE DO CANSAÇO E MODOS DE SUBJETIVAÇÃO: ARTE E VIDA NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL Renato Nogueira de Freitas .................................................... 200 PSICOLOGIA DE MASSAS DO FASCISMO E A NEGAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS A PARTIR DE REICH E DELEUZE E GUATTARI Prof. Dr. Rodrigo Alvarenga .................................................... 203 PREVENÇÃO DO SUICÍDIO NA INTERNET: EM BUSCA DE UMA SUPERINTELIGÊNCIA SUICIDOLÓGICA NAS REDES SOCIAIS Roger Vinícius da Silva Costa .................................................. 206

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TOLERÂNCIA RELIGIOSA EM PERSPECTIVA: DE THOMAS HOBBES A JOHN LOCKE Ronaldo Candido dos Santos .................................................. 208 PERSPECTIVAS BIOPOLÍTICAS CONTEMPORÂNEAS: LIAME ENTRE O RACISMO ESTRUTURAL E O ENCARCERAMENTO EM MASSA Rosa Maria Pinho Campos ...................................................... 209 INTERVENÇÕES DEMOCRATIZANTES E TRANSFORMAÇÃO TECNOLÓGICA NA FILOSOFIA DE ANDREW FEENBERG: SUBVERSÃO, REGULAMENTAÇÃO E PARTICIPAÇÃO Ruan Pedro Gonçalves Moraes .............................................. 212 A INVISIBILIDADE DA MULHER NEGRA NO ESPAÇO POLÍTICO REPRESENTATIVO: A IMPORTÂNCIA DO FEMINISMO INTERSECCIONAL COMO MECANISMO DE INCLUSÃO DEMOCRÁTICA Sâmia Souza Santos ................................................................ 214 A EPISTEME DA COLONIALIDADE E SUA RELAÇÃO COM O COLONIALISMO: UMA ANÁLISE SOB O CONTEXTO DA IDEIA DE RAÇA Sarah Francine Schreiner ........................................................ 217 A IDEIA DE PROGRESSO NA FILOSOFIA DA TECNOLOGIA DE FEENBERG Prof. Dr. Sidney Reinaldo da Silva ........................................... 219 REDES SOCIAIS: MICROPODER DOS ALGORITMOS SOB OS USUÁRIOS Sylvan Bessa dos Reis ............................................................. 221 MARÍA ZAMBRANO E A RAZÃO POÉTICA: NOTAS SOBRE UM CONCEITO Thaise Maria Dias ................................................................... 225 18


O IMPERATIVO POLÍTICO DA ADAPTAÇÃO E A GOVERNAMENTALIDADE NEOLIBERAL Thayná de Castro Saczuk ........................................................ 227 O LUGAR DO TRANSCENDENTAL – UMA EXPLICAÇÃO DO PRINCÍPIO HERMENÊUTICO NA FENOMENOLOGIA DE HEIDEGGER Thiago Ehrenfried Nogueira ................................................... 230 CIBORGUE NÃO VAI AO DIVÃ Vanderson R. Teixeira ............................................................. 232 FREUD E BOLHAS SOCIAIS DIGITAIS: O MAL-ESTAR NA DEMOCRACIA DO BRASIL Vinícius Montovani de Camargo Sgarbe................................. 234 HONRA E DIGNIDADE KANTIANAS EM BAYEFSKY: REFLEXÕES E MÚLTIPLAS VISÕES EM UMA ANÁLISE DO FILME HARAKIRI (1962) Vitor Emanuel Pinto Cardoso ................................................. 237 “NADA É VERDADE, TUDO É PERMITIDO”: LIBERDADE E VERDADE EM ASSASSIN’S CREED Vitor Emanuel Pinto Cardoso ................................................. 239 A IMPLÍCITA CONSTATAÇÃO DA ESFERICIDADE DA TERRA PRESENTE NO POEMA DE PARMÊNIDES Viviane Veloso Pereira Rodegheri; Wilson Franck Junior; Francisca Cecília de Carvalho Moura Fé ................................. 243 AS SUBJETIVIDADES DOS POVOS BANTU NO ENSINO DE FILOSOFIA: A LEI FEDERAL 10.639/03 E NO CHÃO DA ESCOLA Wudson Guilherme de Oliveira .............................................. 246 A SUBJETIVIDADE EM TEMPOS DE CAPITALISMO PARASITÁRIO Yago Bezerra Pessoa ............................................................... 250

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APRESENTAÇÃO O presente documento reúne os trabalhos submetidos, aprovados e apresentados no XIX Congresso Internacional de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, sob o tema “Subjetividade, Tecnologia e Meio Ambiente”, que ocorreu no período de 22 a 24 de setembro de 2021. Os trabalhos, desenvolvidos por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento e por meio de metodologias diversas, visam refletir sobre a temática do Congresso, cujo objetivo foi promover um espaço de debate tendo em vista a compreensão dos vínculos ontológicos, epistemológicos e éticos que envolvem a expansão dos poderes tecnológicos sobre o meioambiente e seus efeitos na formação de subjetividades. Diante disso, aproveitamos para agradecer à Comissão Organizadora, pela oportunidade de reunir essas pesquisas neste documento, à Comissão Científica, pela avaliação dos trabalhos, e, também, ao coletivo de discentes cujo auxílio foi indispensável para a condução das atividades nas Mesas de Comunicação, nas quais esses trabalhos foram apresentados.

Organizadores



A GUERRA CONTRA OS MËBÊNGÔKRE-KAYAPÓ – OS IMPACTOS DA COLONIZAÇÃO AO ETNOCÍDIO Alberto da Silva Amaral Universidade Estácio Graduando em Psicologia e Serviço Social Profª. Drª. Claudia Leonor López Garcés Pesquisadora, Coordenação de Ciências Humanas/MPEG A presente comunicação visa analisar a questão da Guerra entre Mëbêngôkre-Kayapó, falantes de uma língua do tronco Jê, que habitam no território Las Casas, situado na região Sudeste do Pará, abrangendo os municípios de Redenção, Pau D’arco e Floresta do Araguaia, região fortemente marcada pelos conflitos fundiários presentes até hoje. A Pesquisa teve como método a revisão bibliográfica, tendo como principal fonte de análise o Relatório Circunstanciado de reconhecimento do TI Las Casas (Melo,2003), além de livros e artigos de cunho etnológico. O objetivo central desta reflexõe, é compreender a dinâmica da Guerra entre os Kayapó de Las Casas pois, desde o início de nossas análises percebemos a relevância dessa temática para aquele povo. Desde o início do século XX os combates entre indígenas e não indígenas marcam a história dos Kayapó daquela região, período de forte avanço da colonização no entorno da cidade de Conceição do Araguaia, onde os Irã Amrãnh, povo Mëbêngôkre-Kayapó, foram dizimados a partir do contato com os não indígenas. Essa guerra se intensificou ao longo dos anos, afetando os povos indígenas dessa região. Investigamos o impacto da guerra fortemente marcada pelas disputas pela terra e a, ausência do Estado, resultando em um Etnocídio, como podemos verificar nas consequências da Colonização em nome da


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“civilização” e do “desenvolvimento”, discursos e práticas que marcam de forma dolorosa os povos indígenas no século XXI. Palavras-chave: Mëbêngôkre-Kayapó. Guerra. Etnocídio. Colonização.

OS INSTITUTOS FEDERAIS E O SEU CÓDIGO TÉCNICO Alexandre Chiarelli UTFPR Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade (PPGTE) alexandre.chiarelli@ifpr.edu.br Mario Lopes Amorim UTFPR Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade (PPGTE) marioamorim@utfpr.edu.br Este trabalho realiza uma discussão sobre os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) e a sua legislação de criação, a lei n° 11.892/2008, para esse nortear esse processo de estudo adotou-se como metodologia a Teoria Crítica, situada no espaço da Filosofia da Tecnologia, com destaque para a concepção de Andrew Feenberg sobre o denominou de código técnico (FEENBERG 2010, 2015). Para realizar o diálogo torna-se necessário traçar, mesmo que brevemente, o processo histórico da rede de educação profissional brasileira, das origens em 1909 até a atualidade, para apresentar que a educação profissional no Brasil sempre consistiu de um espaço disciplinador (AMORIM, 2004; CUNHA, 2005), dissociando da concepção de criar uma 24


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mão-de-obra minimamente qualificada como se redigia em documentos oficiais e projetos de ensino (MANFREDI, 2002). No período a partir da década de 1980 tem início um embate de concepções hegemônicas, navegando entre o Neoliberalismo e o Neodesenvolvimentismo, que resultaram na consonância de forças sociais para criação dos IFs, em 2008. No documento de criação dos IFs pode-se identificar no art. 6 (BRASIL, 2008), os seus objetivos institucionais, é neste espaço de reorientação tecnológica que usamos da aderência advinda dos estudos da Escola de Frankfurt, teve como instrumento metodológico a concepção de código técnico, que descreve uma solução técnica coerente para a resolução de um problema, considerando que essa solução carrega determinados valores em sua essência (FEENBERG 2010, 2015). A solução técnica apresentada, a lei n° 5.154/2004, foi uma reorientação tecnológica que implemtava a educação profissinal e tecnológica através do ensino médio técnico na modalidade integrado, possibilitando a interligação entre o conteúdo propedêutico e o conteúdo técnico no processo formativo, em contraposição à antiga lei vigente, a n° 2.208/1997, que impedia a integração desses dois núcleos de conteúdos. Porém aqui também se cabe a crítica ao código estabelecido, pois ao integrar o corpo da lei não existe um direcionamento pactuado ao sistema integrado, na verdade o código se constitui enquanto instrumento aberto, possibilitando um sistema politécnico, mas também permitindo a manutenção de uma educação com viés tecnicista. Desta maneira, caracterizase que, para realizar um processo de estudo da efetivação do código técnico dos IFs, seria necessária a adoção de determinados recortes e critérios de estudo, de viés empírico. Palavras-chave: Institutos Federais. Código Técnico. Reorientação Tecnológica. Educação profissional e tecnológica. Contradição.

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Referências bibliográficas AMORIM, M. L. Da Escola Técnica de Curitiba à Escola Técnica Federal do Paraná: projeto de formação de uma aristocracia do trabalho (1942-1963). 2004. Tese – Doutorado em Educação. Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, 2004. Disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-02052016-143400/pt-br.php> acessado em 25/08/2021 BRASIL, Lei n. 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 2008. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm> acessado em 10/08/2021 CUNHA, L. A. O Ensino de ofícios nos primórdios da industrialização. São Paulo: Editora UNESP/FLACSO, 2005 FEENBERG, A. Racionalização democrática, poder e tecnologia. Brasília: Observatório do Movimento pela Tecnologia Social na América Latina/ CDS/UnB/Capes, 2010. p.67-97. Disponível em: < https://aprender.ead.unb.br/pluginfile.php/125220/mod_resource/content/1/textos/LivroArteFinal_baixa.pdf> acessado em 06/08/2021 FEENBERG, A. Tecnologia, Modernidade e Democracia. Lisboa, IN+ Center for Innovation, Technology and Public Policy, 2015. Disponível em: < https://www.sfu.ca/~andrewf/TECNOLOGIA_MODERNIDADE_DEMOCRACIA.p df> acessado 14/08/2021 MANFREDI, S. M. Educação profissional no Brasil. São Paulo: Cortez, 2002.

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DA FANTASIA A ALIENAÇÃO: A IMPOSSIBILIDADE DA UTOPIA NA TEORIA DE JACQUES LACAN Allysson Anhaia Mestre em Filosofia pela PUCPR zubualves@gmail.com Esta comunicação tem como objetivo explicar a impossibilidade da utopia política a partir dos ensinos de Jacques Lacan. Ainda que o psicanalista parisiense não tenha se dedicado diretamente ao tema, é possível identificar, a partir de seus escritos, o pensamento utópico como aquele que se assenta necessariamente sobre uma fantasia que nega o real prometendo realizá-lo. Em outros termos, as utopias são promessas de uma positividade absoluta, que só seriam alcançadas com o retorno a um estado pré-linguístico, uma vez que, em Lacan, é a linguagem que instaura por meio do simbólico tanto a falta quanto a possibilidade de identificação do sujeito e da sociedade. Isso se faz importante frente a necessidade de alternativas políticas para a democracia liberal que se fez cooptada e não consegue conter os avanços dos discursos autoritários, do populismo de direita e do neoliberalismo por todo o globo. Assim, falar da impossibilidade do pensamento utópico impede que os aqueles que tentam construir alternativas políticas para a atualidade caiam naquilo que Yannis Stavrakakis (2007, 2074-75) enxerga como uma melancolia que faz com que os grupos se tornem incapazes de processar o luto acerca da revolução proletária ou mesmo das utopias, se voltando sempre à um estado de fixação melancólica ao passado. Sendo assim, com o objetivo de pensar a política desde a atualidade e auxiliar na busca de alternativas políticas, será discutido a distância do registro do real e da constituição da realidade do sujeito com o intuito de evidenciar a função da fantasia e da falta como elementos constituintes e fundamentais para a experiência, identidade e subjetividade do

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sujeito. Após isso, será tema de discussão a passagem da fantasia para a alienação a partir dos registros do imaginário e do simbólico como forma de evidenciar a impossibilidade de uma experiência utópica, e como ela se dá na verdade como uma experiência subjetiva de alienação. Isso porque, de acordo com a teoria lacaniana, justamente por prometer um retorno a efetividade do mundo e o fim da alienação imaginaria a utopia se solidifica ainda mais como uma alienação que separa o ser humano da efetividade do mundo e se distância daquilo que promete. Desta forma, pretende-se evidenciar que antes de uma alienação política e social, a partir da fantasia, as utopias se dão como alienações subjetivas. Palavras-chave: Utopia. Fantasia. Alienação. Real. Falta. Referências Bibliográficas STAVRAKAKIS, Yannis. The lacanian left: Psychoanalysis, theory, politics. Edinburgh: Edinburgh University Press Ltd, 2007.

ANDY CLARK E O SELF ESTENDIDO: QUEM É ESSE A QUEM CHAMAMOS DE EU CONSCIENTE? Amanda Luiza Stroparo PUCPR Doutoranda em Filosofia als.stroparo@gmail.com A filosofia da mente inclui as denominadas teses da mente situada, que, de modo geral, argumentam que não é possível conceber a mente de modo isolado do contexto, mais precisamente, por exemplo, da cultura ou de interações sociais.

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Atribuir processos mentais à processos cerebrais seria, portanto, um grande equívoco. Nessa perspectiva insere-se igualmente a mente estendida de Andy Clark, autor cuja defesa avança mais um passo: a mente não é somente situada, mas também se estende sobre o corpo e o mundo, posto que é constituída por eles. O aparato cognitivo apresenta a propriedade natural e intrínseca de se misturar com o mundo. Sendo assim, como o filósofo afirma, somos “ciborgues naturais” (naturalborn cyborgs) (CLARK, 2003). A partir dessa premissa, surge, no entanto, o questionamento acerca daquilo que chamamos de “eu” (self): somos estendidos no corpo e no mundo também referentemente à nossa tradicional noção de identidade? Se o self for estendido também, como poderemos conceber uma concepção de consciência de ou, ainda, de autonomia? Nesse âmbito, Clark afirma, por um lado, que o “eu” é ilusório. Afinal, não possuiríamos um centro organizador, mas sim apenas o conceito de tal entidade, conceito esse possibilitado pela linguagem. Também apresentaríamos um self narrativo, já que, através da linguagem, elaboramos narrativas sobre nós mesmos. Por outro lado, todavia, tratar-se-ia de um “microgerenciador” que estabelece objetivos. Destarte, argumenta-se no presente trabalho que as formulações propostas pelo autor da mente estendida originam lacunas, na medida em que assume esgotar a pergunta pelo self afirmando apenas que é um conceito, embora afirme que existe uma porção consciente da mente cuja função é organizar. O que o filósofo aduz é, em outras palavras: o eu consciente possui determinadas funções de administração em relação ao sistema cognitivo como um todo, mas o eu não existe. Esse trabalho visa debater, por conseguinte, os seguintes tópicos: se ele não existe, como é capaz de exercer funções? Quem gerencia o quê? Os critérios para determinar quando o self se estende seriam os mesmos daqueles enumerados em relação à mente? Se o self é estendido, então nosso eu consciente é uma porção específica do self? Argumentar-se-á, nesse momento, que o conceito de eu consciente não poderá ser concebido sem 29


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considerar o desenvolvimento da linguagem e de sua atuação como extensão cognitiva, o que não se configura como uma divergência em relação à Clark, uma vez que ela se refere à linguagem como o “artefato supremo” (the ultimate artefact) (CLARK, 2008). A linguagem, tratando-se de um artefato com potência não somente para substituir, otimizar, complementar e potencializar processos cognitivos diversos, também apresenta a possibilidade de criar novos encadeamentos. Como Clark (2003, p. 197) afirma, constituímo-nos em uma “magia” semeada pela linguagem, a partir desse desenho, “redesenho da mente e re-redesenho da mente”. Propomos um breve complemento, no entanto: é esta magia que nos equipa de um eu consciente, cuja necessidade e importância para a vida e sobrevivência é primordial. Palavras-chave: mente estendida. Self estendido. Consciência. Eu consciente. Andy Clark. Referências bibliográficas CLARK, A. Natural-born cyborgs: Minds, technologies, and the future of human intelligence. New York: Oxford University Press, 2003. CLARK, A. Supersizing the mind: embodiment, action, and cognitive extension. New York: Oxford University Press, 2008. CLARK, Andy. Surfing uncertainty: prediction, action, and the embodied mind. New York: Oxford University Press, 2016. CLARK, Andy. Replies to critics: in search of the embodied, extended, enactive, predictive (EEE-P) mind. In: COLOMBO, Matteo; IRVINE, Elizabeth; STAPLETON, Mog. Andy Clark and his critics. New York: Oxford University Press, 2019.

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CONVIVÊNCIA COM ROBÔS A PARTIR DO CONTO “ROBBIE” Ana Júlia Cioato UFSC Graduanda em Ciência da Informação anajuliacioato22@gmail.com Roberta Marina Cioatto UFSC Doutoranda em Direito roberta.cioatto@fapce.edu.br Os robôs são alvos de discussão desde 1920, quando um dramaturgo chamado Karl Capek desenvolveu uma peça chamada “R.U.R – Rossum’s Universal Robots", na qual aparece pela primeira vez o termo Robot (em tcheco significa trabalho árduo). No entanto, o conceito recebeu mais notoriedade quando o escritor russo, Isaac Asimov, aventurou-se no mundo da ficção científica e desenvolveu histórias extraordinárias sobre um possível mundo em que houvesse robôs. Em uma de suas mais famosas obras, “Eu Robô”, encontra-se o conto “Robbie” que apresenta Glória, uma menina que tem como babá um robô. Enquanto ela nutre admiração por Robbie, a babá, a vizinhança acredita na existência de um risco enorme para a garota e para as outras pessoas, assim como a mãe de Glória. Após muitas reviravoltas, Robbie mostrou capacidade do cumprimento das três Leis da Robótica. Assim, tem-se o problema desta pesquisa: Como seria possível a convivência entre robôs cuidadores e humanos a partir do exame do conto “Robbie”? O objetivo geral do trabalho é demonstrar a possibilidade de convivência entre robôs e humanos a partir do funcionamento das três leis escritas por Asimov. Entender como um robô pode auxiliar e suprir as necessidades humanas sem prejudicar a

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sociedade é importante, bem como estudos relacionados ao desenvolvimento da robótica e os reflexos sociais, para que, caso o contato humano-robô venha a acontecer no futuro, a sociedade esteja mais preparada. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, com estudo de caso a partir de uma narrativa literária. Resultados: Robbie salvou a vida de Glória quando esta esteve em situação de perigo. A primeira lei diz que um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano venha a ser ferido, e foi exatamente o que Robbie fez. Já para a segunda lei, um robô deve obedecer às ordens dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei. A partir da Segunda Lei, entendese o motivo de Robbie cuidar e obedecer Glória. Como nos momentos em que brincam logo no começo do conto, o robô deixa a menina ganhar a corrida, seguindo a ideia de que os humanos devem ser protegidos de qualquer ação que lhes cause algum mal, o que neste caso pode ser entendido como as emoções da menina caso perdesse a brincadeira. A Terceira Lei afirma que um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou a Segunda Lei. Assim, entende-se o funcionamento dos robôs a partir das Leis de Asimov: as três estão em sintonia e o funcionamento de uma está diretamente relacionado com a outra. Conclusão: Há possibilidade de coexistência entre os robôs e a sociedade, desde que a fabricação dos mesmos respeite às Leis desenvolvidas por Asimov, a partir da delimitação do que não é prejudicial e, igualmente, que as pessoas ajam de maneira consciente frente ao avanço da tecnologia. Palavras-chave: Robôs. Leis da Robótica. Tecnologia. “Eu, robô” Referências bibliográficas ASIMOV, ISAAC. Eu, robô. Editora Aleph: São Paulo, 2014. 32


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A FENOMENOLOGIA E O DESIGN: UMA EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL Ana Paula Martins de Souza PUCPR Mestrado em Filosofia anapaulla.msouza@gmail.com Há muito se questiona, o futuro da educação no Brasil com a chegada de mais e mais recursos tecnológicos. Esse debate, se intensificou como a instalação da pandemia do novo Corona vírus (COVID-19), o qual fez o mundo parar e se adaptar a uma nova rotina, dentre elas, trabalhos e estudos dentro de casa. A linha pedagógica aplicada ainda hoje nas escolas é a tradicional. Ela teve início no século XVII e coloca a professora como detentora do conhecimento, com aulas expositivas e atividades de repetição sobre determinado assunto e o aluno enquanto reprodutor desse conteúdo. O aluno não é protagonista nesse processo, não há atividades práticas que permitam o aluno criar e construir seu próprio repertório, respeitando sua individualidade. Geralmente, as aulas consistem em exposição de conteúdo com atividades para memorização de conteúdo. A partir desse cenário, essa pesquisa busca analisar a experiência educacional durante o processo de ensino aprendizagem a partir de uma perspectiva fenomenológica, tomando como ponto de partida a seguinte questão: como melhorar a experiência do processo de ensino aprendizagem a partir do design? Para responder essa questão, precisamos entender a fenomenologia no contexto educacional, no que se relaciona a experiência do aluno. Logo, assumir uma postura fenomenológica na Educação é considerar o âmbito educacional em toda a sua complexidade e refletir sobre os modos como cada um age e sente (MONDINI; PAULO; MOCROSKY, 2018. p. 06). Entender onde o aluno está inserido socialmente e toda sua multiplicidade, é

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fundamental para que o processo de ensino aprendizagem seja efetivo, pois esse processo vai respeitar sua experiência dentro e fora da escola. Segundo Filatro e Cavalcanti, uma das principais contribuições do design está no desenvolvimento de soluções fazendo o uso de um tipo de abordagem experimental (FILATRO; CAVALCANTI, 2017. p. 14). Sendo assim, o design em sua multiplicidade de processos, pode ajudar o processo de ensino aprendizagem adaptando e aplicando ferramentas diversas ao contexto educacional, colocando o estudante no centro do processo, levando em conta toda sua experiência enquanto sujeito social. Palavras-chave: Design. Fenomenologia. Experiência do aluno. Ensino-aprendizagem. Referências Bibliográficas FILATRO, Andrea; CAVALCANTI, Carolina Costa. Design thinking na educação presencial, a distância e corporativa. 1. São Paulo Saraiva 2017. "Linha Tradicional" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2021. Disponível < em http://www.pedagogia.com.br/conteudos/tradicional.php > Acesso em 10 de setembro de 2021. MONDINI, Fabiane; PAULO, Rosa Monteiro; MOCROSKY, Luciane Ferreira. As Construções da Fenomenologia à Educação. Disponível em < https://sepq.org.br/eventos/vsipeq/documentos/98629980087/11 > Acesso em 10 de setembro de 2021.

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NOTAS PARA O TRABALHO COM AS NOÇÕES DE ÉTICA E POLÍTICA EM MICHEL FOUCAULT: UMA ANÁLISE DAS PESQUISAS NO CAMPO ACADÊMICO FILOSÓFICO BRASILEIRO. Ms. Antônio Alex Pereira de Sousa UFC Doutorando em Filosofia alexsousa.filosofia@gmail.com O presente trabalho visa apresentar os resultados iniciais da pesquisa que está sendo realizada no PPG Filosofia da UFC em torno do pensamento de Michel Foucault (1926-1984), especialmente acerca dos seus estudos sobre a ética e a potencialidade política que venha a ter. Como primeira etapa da nossa pesquisa, buscou-se refinar o que se chama estado da arte, a fim de compreender a produção sobre a temática no Brasil para um refinamento do problema de pesquisa. Como recorte, foram analisadas as revistas acadêmicas de Filosofia qualificadas com extrato qualis A1 e A2 pela CAPES, especialmente nos cinco últimos anos de publicações, e as dissertações e teses publicadas em cursos de mestrado ou PPG de Filosofia de Instituições de Ensino Superior brasileiras. Diagnosticou-se que no Brasil há produções sobre o tema desde a década de 90 do século passado, intensificadas nas décadas seguintes em decorrência da publicação, em português, dos cursos ministrados por Michel Foucault no Collège de France na década de 80. Serão apresentados os dados em torno da pesquisa com Foucault no campo filosófico brasileiro que foram extraídos da primeira parte da pesquisa: o refinamento do estado da arte. Dos resultados, pontua-se que grande parte dos estudos sobre o pensamento de Foucault associam uma ética no filósofo às suas pesquisas sobre o cuidado de si greco-romano. Também foi observado que, referente a política em Foucault, muitos dos trabalhos lançam

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mão de textos sobre as participações políticas de filósofo para falar sobre a questão. Dessas observações, pode-se confirmar que nossa tese de pesquisa do doutorado tem, efetivamente, um caráter de novidade, pois busca falar de uma ética com Foucault não limitada às análises de sua genealogia da ética na antiguidade greco-romana, mas alinhada a algo que perpassa toda a sua produção filosófica e que chama de experiência. Do mesmo modo, para se pensar a potencialidade política de uma ética com Foucault, é preciso abordar outros elementos que não somente as experiências de militância do pensador francês. Palavras-chave: Michel Foucault. Ética. Política. Estado da Arte. Pesquisa Filosófica no Brasil.

A PAIXÃO SEGUNDO G.H. DE CLARICE LISPECTOR: UMA LEITURA A PARTIR DO DIVÃ

Antônio de Pádua Santos Rodrigues PUCPR Mestrando em Filosofia antoniopsr@gmail.com

Este trabalho busca trazer uma leitura de uma obra literária brasileira, o romance de Clarice Lispector, A paixão segundo G.H., de 1964, com uma abordagem aproximada ao pensamento de Sigmund Freud, sobre alguns textos de literatura. Esses textos freudianos são principalmente (não somente) O delírio e os sonhos na Gradiva de W. Jensen, de 1907, e O infamiliar (Das Unheimliche), de 1919. Assim, com Freud surge uma noção que nos é sugerida como bastante condizente ao

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pensamento com a forma de escrita em Lispector, trata-se da distinção entre duas realidades, sendo uma externa e imediata, compartilhada e autenticada pelo mundo que cerca o ser humano; enquanto a outra, interna ou psíquica, encontrada a partir de ações e reações partindo do psiquismo, como nas imagens e sensações que emergem do inconsciente, em sonhos e em forma de expressão artística, como na escrita, no caso em estudo. Apesar disso o presente trabalho não traz como pretensão uma análise de um texto literário, exatamente nos moldes freudianos e, da mesma forma, não visa a sistematização dos trabalhos do pai da psicanálise apontados acima. Tem o ensejo delimitado em apresentar uma possível leitura do romance de Lispector com alguns dos elementos próprios aos vivenciados em um processo psicanalítico. Sendo este discurso elaborado a partir do divã, ou seja, do sujeito analisando que vivencia, não passivamente, tal processo. De forma conclusiva, tem-se ainda, que a escrita pode servir, a partir dos literatos, como importante ferramenta nos mais diversos processos de conhecimento da psique humana. Por conseguinte, proporciona vivências expressas nas formas de vida, a partir de universos íntimos, o que serve como precedente para pesquisas, tanto no que concerne à filosofia, quanto em análises de fundo psicanalítico. Nesse sentido, há uma provocação especialmente para com a estreita relação entre palavra e silêncio. Ao trazer o romance de Clarice Lispector, A paixão segundo G.H., com uma leitura que a aproxima do processo psicanalítico, vivenciado pelo analisando, se torna impossível dizer que tal analisando é inteiramente alheio a uma certa capacidade conceitual freudiana, ou pelo menos, um grau mínimo de um pensar com tais conceitos. . Palavras-chave: Freud. Lispector. Literatura. Psicanálise. Analisando.

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CONSIDERAÇÕES SOBRE O INCONSCIENTE DELEUZIANO Arion Keller Mestre em Filosofia pela PUCPR arionkeller@hotmail.com O presente trabalho tem como objetivo principal uma apresentação geral da problemática em torno do conceito de “inconsciente” tal como ele é desenvolvido por Gilles Deleuze (1925-1995) em sua obra solo assim como em sua obra conjunta com Felix Guattari (1930-1992). Para tal apresentação, faremos alguns contrapontos da compreensão deleuziana deste conceito em relação ao cânone psicanalítico, sobretudo com Sigmund Freud (1856-1939), tendo como pedra de toque a problemática nosográfica, ou seja, o contraponto se dará a partir das diferentes compreensões das neuroses, das perversões e das psicoses por parte dos autores. Em primeiro lugar, sabemos que o paradigma geral de Freud com relação à descoberta do inconsciente são as neuroses, particularmente a histeria. Deleuze, já em Nietzsche e a Filosofia (1962), vê a necessidade de contrapor esse paradigma, por definição “ressentido”, expressão mesma da moral do fraco (posteriormente assimilada ao sujeito burguês), a uma outra estrutura metapsicológica, que ele afirma encontrar justamente na teoria nietzscheana das forças. Em segundo lugar, já em 1961 no artigo De Sacher-Masoch ao Masoquismo, que serviu de base para o posterior Apresentação de SacherMasoch (1967), Deleuze vê a necessidade de destruir a conjunção sadomasoquista da psiquiatria e da psicanálise clássica através de uma leitura dos próprios autores que dão nome às doenças. Através da leitura de Sade e de Masoch, Deleuze propõe um funcionamento outro para estas perversões, sobretudo por suas operações absolutamente diferentes com relação à lei, ao desejo e ao gozo. Já neste texto, fica evidente a desconfiança

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deleuziana com relação à “edipianização universal” promovida por Freud, mas tal tarefa é levada à cabo, de fato, somente após o encontro com Guattari n’O Anti-Édipo: Capitalismo e Esquizofrenia (1972). Este é o terceiro momento do nosso percurso, justamente o momento em que as psicoses, terceira patologia do cânone analítico, ganham ênfase. A estratégia deleuzo-guattariana é clara: uma mudança do paradigma neurótico do inconsciente (expressão já patologizada de um socius determinado) para um paradigma “psicótico”, esquizo. Com essa mudança, abandona-se o intuito de descobrir o que quer dizer o inconsciente, ou seja, sua inscrição simbólica ou codificada (e aqui é Lacan o alvo maior), e busca-se descrever como o inconsciente funciona, como produz. Essa é, para os autores, a virada do inconsciente teatral para o inconsciente compreendido como usina do mundo, inconsciente já não mais estritamente psicológico, mas ontológico, gênese de toda a cadeia produtiva do desejo e do socius. Palavras-chave: Gilles Deleuze. Felix Guattari. Sigmund Freud. Inconsciente. Desejo. Referências bibliográficas DELEUZE, G. Nietzsche e a Filosofia. São Paulo: n-1 edições, 2018. ______. De Sacher-Masoch ao Masoquismo. In: ______. Cartas e Outros Textos. São Paulo: n-1 edições, 2018. ______. Sacher-Masoch – O Frio e o Cruel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. DELEUZE, G; GUATTARI, F. O Anti-Édipo – Capitalismo e Esquizofrenia. São Paulo: 34, 2010.

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A DATAFICAÇÃO E SUA INTERFERÊNCIA NA POLÍTICA E NA ORDEM SOCIAL

Arthur Lamounier Mendonça PUC-Minas Graduando em Ciências Sociais almendonca@sga.pucminas.br O desenvolvimento das técnicas midiáticas tem modificado de forma direta as relações sociais e de poder e gerado, a cibercultura (LÉVY, 1999). A produção e difusão de formas simbólicas e transmissão de informação no ambiente digital criaram uma nova maneira de se comunicar, de fazer cultura e política. Dentro do ambiente social, a cibercultura e as tecnologias digitais têm influenciado na formação do cidadão e nas práticas democráticas de forma positiva e negativa. O ambiente virtual foi usado como ferramenta pelo capitalismo para descodificar, des-territorializar e re-territorializar os códigos do espaço real, permitindo assim a captura e um maior controle da vida humana como geração de lucros (DELEUZE; GUATTARI, 2010). Sabe-se que a internet tem facilitado as interações remotas e o acesso a todo tipo de conhecimento disponível, seu alcance tem dado maior autonomia aos indivíduos. Entretanto, a tecnologia e os algoritmos alteraram a governança do poder soberano do Estado-nação e sua atuação nas pessoas, causando assim uma cisão profunda entre o “nós” e os “outros”, dando espaço para o surgimento de fenômenos como o populismo. A confiança dos indivíduos tem diminuído em relação à política e ao regime democrático, abrindo uma lacuna para a atuação de movimentos populistas de extrema-direita. As propagandas e as fake news, utilizam das redes digitais de conexão para inflamar discursões políticas e introduzir ideias radicais na ordem social. As Big Tech com sua rede inteligente e com números cada vez

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maiores de amostra das pessoas no ciberespaço, transformam os atores sociais e suas ações em dados quantificáveis, além de conseguirem analisar e rastreá-los – dataficação (MAYERSCHOENBERGER; CUKIER, 2013). O objetivo delas é alcançar uma predição de comportamento e modelagem de escolha mais próxima da realidade (COULDRY; MEJIAS, 2019). Os dados passam a ser os símbolos de potência do capital, como o dinheiro, no qual se tornam um corte possível sobre o fluxo de consumo ou como possibilidade de rearticulação da estrutura econômica. No capitalismo, a dataficação passar a ser um axioma, uma vez que é descodificado e depois sobrecodificado até se tornar axiomatizado (DELEUZE; GUATTARI, 2010). A metodologia usada no trabalho passa pela revisão bibliográfica e pelo método dedutivo, utilizando da dialética para demonstrar os conflitos da cibercultura e da internet e como eles têm influenciado na disseminação de ideais radicais de extrema-direita que culminam na erosão da democracia. Consequentemente, percebe-se como as tecnologias digitais, mesmo com os avanços na democracia e nos processos participativos, têm alterado de maneira significativa as fronteiras sociais e políticas. Procura-se assim encontrar possibilidades para diminuir o fluxo de informação e a comunicação cibermediada que impulsionam a crise democrática. Palavras-chave: Dataficação. Cibercultura. Extrema-direita. Democracia. Referências bibliográficas DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia. Tradução de Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Ed. 34, 2010. GILLESPIE, T. The politics of “platforms.” New Media & Society, v. 12, p. 347-364, 2010. Disponível em:

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https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1601487. Acesso em: 8 set. 2021. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999 MAYER-SCHÖNBERGER, Viktor; CUKIER, Kenneth. Big Data: A revolution that will transform how we live, work, and think. New York: Houghton Mifflin Harcourt, 2013. MUDDE, Cas. Populist radical right parties in Europe. New York: Cambridge University Press, 2007. COULDRY, Nick; MEJIAS, Ulises A. The Costs of Connection: How Data Is Colonizing Human Life and Appropriating It for Capitalism. Stanford, California: Stanford University Press, 2019. SADIN, Éric. La Vie Algorithmique: Critique De La Raison Numérique. Paris: Éditions L'échappée, 2015.

LIBERTAÇÃO NACIONAL E REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA Breno Augusto da Costa UFU Doutorando em Filosofia brenobac@gmail.com O objetivo desta apresentação é defender a tese de que ainda que a revolução tecnológica seja axiologicamente prioritária para a libertação nacional, trata-se de um dos momentos mais difíceis deste processo. O fundamento metodológico é a lógica negativa de Julio Cabrera, usada para empreender um percurso argumentativo que possui diferentes passos. O primeiro argumento parte da condição ontológica do ser humano como ser no mundo. Defende que concretamente, ou sociologicamente, isso equivale a estar na nação, e que o grau de

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desenvolvimento da nação equivale às condições existenciais que afetam seus habitantes, tal como concebeu Álvaro Vieira Pinto. Deduz-se daí que a libertação do trabalho nacional possui seu correlato no âmbito tecnológico. O segundo argumento propõe uma aproximação a uma axiologia da libertação. A partir da ética do desenvolvimento e da ética da libertação é proposto que a revolução tecnológica tem caráter prioritário, ainda que, de acordo com a teoria da revolução vieirista, tal prioridade não negue esforços ou obnubile a importância da acumulação causal sobre outras contradições. O terceiro argumento centra-se na apreensão da posição do Brasil na conjuntura geopolítica atual: ainda que em permanente mobilidade, ela se funda na distinção entre Norte e Sul global, determinando politicamente e economicamente o Sul a afastar-se do progresso tecnológico revolucionário. O Sul, exportador de matériaprima, tende a exportar junto o quantum de trabalho virtual que lhe é inerente. O quarto argumento parte de uma tese de Álvaro Vieira Pinto: a de que historicamente a filosofia tem efluído do centro politicamente dominante. Ora, se nas últimas décadas os Estados Unidos têm exercido dominância mundial (ainda que cada vez mais esteja ameaçada pela China), então surgem dificuldades teóricas e práticas a partir da situação de dominação que os EUA exercem sobre o Brasil: um país sem uma filosofia da tecnologia crítica é incapaz de apreender sua realidade autenticamente. O quinto argumento parte da cisão da sociedade em grupos com interesses antagônicos: os grupos e estratos sociais dotados de recursos financeiros tendem a se acomodar com a situação de dominação imperialista, portanto recusam a comprometer-se com a libertação. Ademais, a libertação, em última análise, corresponderia a uma ameaça à sua condição de dominação social. O sexto argumento centra-se nos efeitos da política de cunho neoliberal: através do espontaneísmo mercadológico revolução tecnológica alguma pode acontecer. A conclusão é que se a revolução tecnológica depende da vontade política de uma coletividade, tal como concebe Enrique Dussel, o 43


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esforço de libertação encontra sua máxima eficiência, na realidade atual, a partir do âmbito nacional. A política, porém, deve expressar-se não apenas no âmbito formal, no exercício estrito do kratos, mas também nas ações comunitárias e populares. É junto ao povo e para o povo, motor da história, que deve ser eliciada a revolução tecnológica libertadora. Palavras-chave: Filosofia da Tecnologia. Filosofia da Libertação. Álvaro Vieira Pinto. Enrique Dussel. Referências bibliográficas CABRERA, J. Mal-estar e moralidade: situação humana, ética e procriação responsável. Brasília: Editora da UnB. DUSSEL, E. Ética da libertação: na idade da globalização e da exclusão. Petrópolis: Vozes, 2012. VIEIRA PINTO, A. Curso Regular de Filosofia. Ministério da Educação e Cultura. Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), 1958. VIEIRA PINTO, A. O conceito de tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. VIEIRA PINTO, A. A sociologia dos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008. VIEIRA PINTO, A. Consciência e realidade nacional. Rio de Janeiro: Contraponto, 2020.

O COMPLEXO DE HERODES NA ATUALIDADE Breno Augusto da Costa UFU Doutorando em Filosofia brenobac@gmail.com

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O conceito de complexo de Herodes foi elaborado na teoria política tardia do filósofo brasileiro Álvaro Vieira Pinto (1909-1987). O objetivo desta apresentação é compreender sua manifestação na realidade atual. O percurso reflexivo partiu de uma reconstituição de sua elaboração conceitual para, em seguida, com base em seu pensamento crítico e na lógica negativa de Julio Cabrera, defendermos a tese de que a ética herodiana foi assumida especialmente pelos grupos mais esclarecidos da sociedade. Vieira Pinto argumenta que se, inicialmente, o malthusianismo restringia-se aos países mais desenvolvidos como uma doutrina encarregada de minimizar a multiplicação dos trabalhadores e suas implicações políticas, a partir de determinado momento da história mundial os países subdesenvolvidos foram suas vítimas. Isto ocorreu, pois, segundo ele, o aumento quantitativo de seus habitantes culminaria na mudança qualitativa de sua consciência, que passaria a ser libertadora, eventualmente. O complexo de Herodes, mais uma das metáforas teológicas de Álvaro Vieira Pinto, surge como conceito da teoria política para exprimir o estado de espírito, a ética, os interesses e procedimentos da mentalidade imperialista ou de seus cúmplices nos países rapinados. Caracterizado pelo horror à vida em perspectiva, sua função é tentar paralisar um processo histórico universal: a libertação política e econômica das massas espoliadas, que tende a acompanhar as gerações novas. O autor combate o antinatalismo de cunho imperialista e defende que o problema da fome é uma contradição do ser humano contra a natureza, primordialmente, e posteriormente uma contradição mediada pelo entorno social, caracterizada pela falta de soberania política de uma comunidade nacional. Quanto à manifestação do complexo de Herodes na atualidade, uma analítica existencial da consciência popular mostraria um predomínio do discurso herodiano junto às camadas mais ilustradas da sociedade, estando presentes elementos que indicam uma inobservância da apreensão crítica da atividade. O povo, isto é, o bloco social dos oprimidos, tende a aferrar-se ao discurso teológico e 45


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moralista das religiões cristãs, predominantes no Brasil, portanto afastando-se das práticas herodianas. O discurso mediano sobre a fome enquanto fenômeno político é marcado por uma ideologia neoliberalista e meritocrática, ou então moralista e assistencialista, que encobre as verdadeiras raízes políticas e econômicas desse problema: a falta de soberania dos países subdesenvolvidos, que produzem comida, porém não para si, mas para o outro; e a dualidade de classes, que faz com que haja uma desigualdade no acesso a quaisquer dos bens produzidos por dada comunidade. Por outro lado, o discurso neomalthusiano tem cada vez mais lançado mão do ambientalismo ingênuo. Como conclusão, ressaltamos a justeza da tese de Vieira Pinto, de que o processo histórico suscitou o crescente envolvimento da mediação social no decorrer da constante contradição do ser humano com a natureza, porém uma das teses dela decorrente, de que o progresso da racionalidade implica, um incremento quantitativo da população humana merece ser melhor investigada. Vale questionar: a diminuição da taxa de natalidade equivale a um argumento contrário à sua tese ou o sucesso do neomalthusianismo denunciado por ele? Ademais, o complexo de Herodes parece suscitar uma forma ação necropolítica. Palavras-chave: Álvaro Vieira Pinto. Complexo de Herodes. Demografia. Filosofia política. Geopolítica da fome. Referências bibliográficas CABRERA, J. Mal-estar e moralidade: situação humana, ética e procriação responsável. Brasília: Editora da UnB. VIEIRA PINTO, A. O conceito de tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. VIEIRA PINTO, A. A sociologia dos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008. VIEIRA PINTO, A. Consciência e realidade nacional. Rio de Janeiro: Contraponto, 2020. 46


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A SAÚDE MENTAL DAS MULHERES INDÍGENAS DA ETNIA GUARANI DA ILHA DA COTINGA: UMA DISCUSSÃO ATRAVÉS DO PERSPECTIVISMO AMERÍNDIO Bruna Leticia Stahlschmidt Fiala PUCPR Graduanda em Psicologia brunafiala@hotmail.com O perspectivismo ameríndio, proposto pelo antropólogo Viveiros de Castro, afirma haver um modo único dos povos originários enxergarem suas vivências e sua relação com o meio, com o outro e consigo mesmo. Dessa forma, falar sobre saúde mental dentro do universo indígena brasileiro é um desafio que necessita a ruptura de paradigmas e o diálogo constante com o saber tradicional ancestral considerando a diversidade de povos, suas crenças e suas referências quanto a ser e estar no mundo. Frente a isso, as mulheres indígenas são, muitas vezes, as principais guardiãs de sua cultura, reproduzindo seus conhecimentos tradicionais e estão cada vez mais ocupando diferentes espaços para a reivindicação de seus direitos. Entretanto, além de muitas ainda se encontrarem em grande vulnerabilidade social sendo vítimas de diversos problemas psicossociais, existe uma escassez em materiais dirigidos exclusivamente para mulheres, tanto dentro do âmbito acadêmico, como em relação a políticas públicas, sendo estas muito recentes. Portanto, esse trabalho teve como objetivo discutir acerca dos aspectos da saúde mental da mulher indígena do povo Guarani Mbyá localizado na Ilha da Cotinga englobando suas significações próprias de saúde e adoecimento. Para isso, foi feita uma análise de documentários trazendo falas da cacique Juliana Kerexu, da comunidade Tekoa Takuaty da Ilha da Cotinga e também falas dos mais velhos, aqueles que de acordo com a cacique carregam

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o conhecimento ancestral Mbyá. Com isso, foi possível perceber que o processo de subjetivação no âmbito do povo Guarani Mbyá deriva de lógicas distintas das que produzem os indivíduos nas sociedades ocidentais, em que se herda concepções biomédicas de saúde e doença. Assim, ao se discutir sobre saúde mental a partir dos saberes tradicionais ancestrais Guarani Mbyá, é imprescindível adentrar dentro de seu universo cosmológico, espiritual e entender a importância da manutenção de sua cultura, das suas cerimônias sagradas, de remédios das florestas e de curas feitas pelos líderes espirituais para os processos de subjetivação e significação de saúde e adoecimento. Palavras-chave: Saúde Mental. Guarani Mbyá. Povos Originários. Perspectivismo Ameríndio. Referências bibliográficas AMORIM, Marcelly Olívia Fernandes; DE FREITAS ARVELOS, Érika. Intermezzo: o xamã e o médico, uma análise sobre doença e cura. Revista Ñanduty, v. 6, n. 9, p. 42-63, 2018. BATISTA, Marianna Queiróz. Saúde mental indígena: um desafio interdisciplinar. 2010. Disponível em: <https://repositorio.uniceub.br/jspui/handle/123456789/2699>. Acesso em: 20 abril 2020 BATISTA, Marianna Queiróz; ZANELLO, Valeska. Saúde mental em contextos indígenas: Escassez de pesquisas brasileiras, invisibilidade das diferenças. Estud. psicol., Natal, v. 21, n. 4, p. 403-414, 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413294X2016000400403&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 abril 2020 BONI, Valdete; QUARESMA, Sílvia Jurema. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais. Em Tese, v. 2, n. 1, p. 68-80, 2005. 48


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PENSANDO A TECNOLOGIA A PARTIR DA VALORIZAÇÃO MODERNA DO CONTROLE Bruno Camilo de Oliveira UFERSA Graduado em Filosofia bruno.camilo@hotmail.com

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O objetivo deste trabalho é apresentar algumas reflexões filosóficas sobre a tecnologia com base na tese de Hugh Lacey em torno da valorização moderna do controle (VMC). Para tanto, será realizada uma análise e interpretação de trechos selecionados da obra de Lacey intitulada Valores e atividade científica 2. Segundo Lacey, a VMC é o conjunto de valores racionalmente criados para o controle dos objetos naturais e para o avanço tecnológico. Tais valores são: o valor instrumental dos objetos naturais per se; a difusão institucional da capacidade humana para controlar objetos naturais e criar novas tecnologias; e o exercício do controle mediante o desenvolvimento de projetos de pesquisa que trazem resultados tecnológicos úteis à vida humana. Com base na noção de VMC busca-se refletir até que ponto os valores sociais são subordinados aos avanços tecnológicos, na medida em que parecem sofrer certa perturbação de acordo com os avanços tecnológicos. Palavras-chave: Valorização moderna do controle (VMC). Tecnologia. Valores. Referências bibliográficas BUNGE, M. Scientific materialism. Dordrecht: Reidel, 1981. DOUGLAS, H. Inductive risk and values in science. Philosophy of science, Chicago, v. 67, n. 4, p. 559-579, dec. 2000. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/188707. Acesso em: 14 set. 2021. DUPRÉ, J. Human nature and the limits of science. Oxford: Clarendon Press, 2001. LACEY, H. Valores e atividade científica 2. São Paulo: Associação Filosófica Scientiae Studia/Editora 34, 2010. LACEY, H.; SCHWARTZ. B. The formation and transformation of values. In: O’DONOHUE, W.; KITCHENER, R. (ed.). The philosophy of psychology. London: Sage, 1996. 52


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SUBJETIVIDADE COMO FORMAÇÃO INTERSUBJETIVA Bruno Fonseca Ortega PUCPR Graduando em Filosofia bruno.ortegaaa@gmail.com O presente trabalho relata a importância do desenvolvimento da subjetividade como processo conciliador do bem comum na educação. A problemática a ser levantada nesse trabalho é sobre como que a educação deve formar o sujeito aluno, que se encontra em formação, para a sua individualidade e coletividade. Assim, gostaria de abordar acerca da formação humana e ética do sujeito perante uma realidade das diferenças. Logo o objetivo em respectivo é apontar questões filosóficas e educativas a respeito da formação da individualidade do sujeito perante o tecido intersubjetivo da pessoa e a pluralidade existencial, cultural e religiosa do mundo atual. Para isso foi feito um levantamento bibliográfico e uma análise crítica de obras e artigos que complementam o tema em questão do ponto de vista filosófico, antropológico, pedagógico, sociológico e psicológico. De certo, é encontrado essa possibilidade da subjetividade como formação intersubjetiva, através dos preceitos que são abordados nas obras selecionadas para a pesquisa. Tais preceitos estes, como a da noção de uma educação a partir de uma comunidade de investigação que instigue os estudantes a pensarem e usarem das habilidades cognitivas aprendidas em sala; a da ideia de uma aprendizagem em cooperação com os seus colegas a base do diálogo e da participação; a da formação do autoconhecimento individual e coletivo do sujeito; a do aprofundamento crítico e recreativo; a da composição de jovens acerca de uma ética crítica universal humana, de uma competência científica e de uma amorosidade autêntica, com base num engajamento político-ideológico educativo. Como resultado, as

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reflexões em cima da temática da formação da subjetividade fornecem diretrizes para: a) geração de um sujeito autônomo; b) formação de um sujeito ético; c) a fundamentação de um indivíduo razoável e reflexível guiado por valores democráticos e capaz de cuidar do futuro; d) a produção de um ser intersubjetivo e aberto a ouvir e respeitar a alteridade dos outros indivíduos. Nesse caso, conclui-se assim que a formação subjetiva como intersubjetiva é eficaz para o processo formativo humano em geral. Palavras-chave: Subjetividade. Pluralidade. Intersubjetividade. Educação. Humanização. Referências bibliográficas BENHABIB, S. Situating the Self. Gender, Community and Postmodernism in Contemporary Ethics. New York: Polity Press, 1992. BIESTA, G. J. Para além da aprendizagem: educação democrática para um futuro humano. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013 BIESTA, G. Reconquistando o coração democrático da educação. Educação Unisinos, v.25, p.1-7, Mar. 2021. Disponível em: <http://revistas.unisinos.br/index.php/educacao/article/view/edu.2021.251.01/60748370> Acesso em: 12 jul. 2021 FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2011. LIPMAN, M. Thinking in Education. 2.ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. SHARP, A. M. The Development of Personhood and Philosophy for Chldren. Analytic Teaching, La Crosse, v.6, no.2, jun. 2014. Disponível em: <https://journal.viterbo.edu/index.php/at/article/view/348/142> Acesso em: 30 ago. 2021. SHARP, A. M. Philosophical Teaching as Moral Education. Journal of Moral Education, Londres, v.13, no.1, p.3-8, jan. 54


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1984. Disponível em: <https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/0305724840130101> Acesso em: 30 ago. 2021. WALDENFELS, B. Phenomenology of the Alien. Basic Concepts. Evanston: Northwestern University Press, 2011.

DO DOMÍNIO DA NATUREZA À SUBMISSÃO TÉCNICA DO SER HUMANO: UMA REFLEXÃO ACERCA DA PROPOSTA TRANSUMANISTA Caio Fernando de Castro PUCPR Mestrando em Filosofia caiodcastro86@gmail.com A técnica, enquanto objeto de análise filosófica, remonta à Grécia antiga e possui diferentes abordagens de reflexão, como seu sentido antropológico, instrumental e até mesmo epistemológico. Visto que, técnica grega (techné) se refere ao fazer humano, a uma atividade da práxis humana de produzir (poiésis) algo ou alguma coisa; enquanto, o produzir é fazer algo presente a partir de uma não-presença. Portanto, é imperativo compreender – para uma adequada reflexão proposta aqui – o significado de técnica no pensamento da filosofia contemporânea, mais precisamente, no conceito compreendido por Martin Heidegger (1889 – 1976). O filósofo alemão, ao questionar a técnica, não descarta as suas definições já existentes, contudo, afirma que para compreender melhor a técnica moderna, se deve ir além de sua definição antropológica (um fazer humano) e sua definição instrumental (um meio para fins), afirmando, portanto, que a técnica moderna é também um modo de manifestação de mundo e um modo de manifestação do ser dado em um sentido destinal de sua época, além de ser também

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um modo de desvelamento ou de desabrigar da verdade (aletheia). Heidegger traz a técnica para uma perspectiva ontológica, por onde a abertura de ser (Dasein) se dá enquanto modo de manifestação do ente. Não obstante, há outra compreensão acerca da técnica moderna enquanto um saber humano que, uma vez aplicado no cálculo da ciência, busca dominar e pôr (stellt) a natureza na exigência de uma disponibilidade de seus recursos naturais. É a partir dessa concepção que se faz possível o início desta reflexão acerca de como a técnica moderna (também a contemporânea) se apresenta como um fenômeno que se desenvolve cada vez mais com um propósito de superar a existência natural do ser humano. A segunda proposta de reflexão desse texto é demonstrar como a técnica – por meio da sua essência, a armação (Ge-stell) - põe em disponibilidade também o ser humano, fazendo com que a sua abertura de ser (Dasein) se manifeste unicamente pela técnica. Isto posto, é possível refletir acerca do fenômeno do Transumanismo, sendo este, uma proposta científica de melhoramento humano por meio do uso da ciência e tecnologia; portanto, o pensamento de Heidegger auxilia na compreensão desse fenômeno científico da evolução humana, uma vez que tal análise nos permite compreender como sua filosofia da técnica apresenta argumentos que demonstram, por um lado, o domínio da natureza pelo homem que detém o saber técnico, por outro, a submissão deste homem dependente da tecnologia para prolongar seu estado de existência ôntica. Palavras-chave: Martin Heidegger. Ontologia. Filosofia da Técnica. Filosofia Contemporânea. Referências Bibliográficas BOSTROM, Nick. A history of transhumanist thought. Journal of Evolution and Technology. Nova Iorque: Pearson Longman. 2011.

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HARRISON, Peter; WOLYNIAK, Joseph. The History of Transhumanism. Notes and Queries. 2015. HEIDEGGER, Martin. A questão da técnica. Scientiae Studia, São Paulo, v.5, n. 3, p.375-398, 2007. RÜDIGER, Francisco. Martin Heidegger e a questão da técnica: perspectivas acerca do futuro do homem. 2ª edição. Porto Alegre: Sulina, 2006. WERLE, Marco A. Sujeito, ciência e técnica em Heidegger. ConfMarcosWerle.pdf (ufg.br). Acesso em: 03/09/2021.

VEGANISMO, ECOSSOCIALISMO E DEMOCRACIA RADICAL: UM PARALELO Camila Batista PUCPR/UniFE Doutoranda em Filosofia e Ciências Humanas camitangerine@gmail.com O objetivo desta apresentação é demonstrar de que modo o veganismo popular, pensado a partir do ecossocialismo, pode ser uma saída contra-hegemonica ao capitalismo enquanto sistema de divisão social que precariza a qualidade alimentar das pessoas pobres enquanto sistema de manutenção da desigualdade. A partir da teoria da democracia radical de Ernesto Laclau (1935-2014) e Chantal Mouffe apresentada em Hegemonia e Estratégia Socialista (1985), propomos uma leitura do ecossocialismo de Michael Löwy que estabeleça um paralelo com a prática do veganismo popular, movimento independente que ganha força no Brasil devido às atuais condições que o governo de direita impõe ao país. O veganismo popular põe em discussão não somente a ética animal, de testes e consumo, mas propõe saídas de combate a agrotóxicos, fetichização da carne e melhoria da saúde e acesso da população a comida de verdade.

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Nesse sentido, abordar um veganismo popular, pensado a partir da urgência da mudança climática afetada diretamente pela produção da carne e, consequentemente, do capitalismo, é uma estratégia socialista que se apresenta como ponto nodal de equivalência entre diferentes lutas que atravessam tanto ativistas ambientais quanto anticapitalistas, tendo seu ponto de inflexão no combate à desigualdade social e melhor qualidade de vida seja para os animais, seja para a grande parcela da população que é marginalizada e morta diariamente pelo descaso alimentar que o consumo atual da carne gera no país. Palavras-chave: ecossocialismo. Veganismo. Democracia radical.

Referências bibliográficas

LACLAU, Ernesto; MOUFFE, Chantal. Hegemonia e estratégia socialista: por uma política democrática radical. Tradução de Joanildo A Burity, Josias de Paula Jr e Aécio Amaral. São Paulo: Intermeios, 2015. LÖWY, Michael. O que é ecossocialismo? 2.ed. São Paulo: Cortez, 2014. KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. _______. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

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PORQUE AS MÁQUINAS SÃO PERIGOSAS, MAS PORQUE NÃO PRECISAMOS TEMÊ-LAS Camila da Cruz Silva PUCPR Mestranda em Filosofia camilamingroni1993@gmail.com Partindo do fato que máquinas inteligentes fazem parte do cotidiano dos seres humanos tomando decisões e realizando tarefas que um dia foram reservadas apenas às pessoas, este trabalho tem como objetivo apresentar e discutir noções centrais para o entendimento do funcionamento e da aplicabilidade de certos sistemas de Inteligência Artificial tais como aprendizado de máquina e aprendizado profundo de máquina. Após a conceituação inicial, nosso objetivo consistirá em questionar e problematizar o funcionamento do processo decisório maquínico e se sistemas de inteligência artificial podem ser considerados imparciais ou se são sistemas inerentemente enviesados. Desde que foi colocada em prática, a inteligência artificial supera os seres humanos em diversos aspectos, e a potência maquínica em crescente expansão e aprimoramento -, aplicada a diversos setores da sociedade, vem causando temor e apreensão aos seres humanos. Inquietações como: perderei meu emprego? Não serei mais útil à sociedade? As máquinas dominarão o mundo? parecem ser recorrentes quando algum aspecto da inteligência artificial é apresentado ao público. Considerando uma perspectiva de quem consome e faz usos de certas tecnologias, e não daqueles que as produzem, devemos nos questionar se as inquietações mencionadas são motivos de preocupações reais e embasadas, ou se causam alvoroço porque os modos como as tecnologias operam nos parecem ininteligíveis e sem explicação possível como que um truque de mágica. Pretendemos enfatizar que ainda que uma máquina possa operar com algum grau

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de autonomia e independência, seu funcionamento se dá a partir de dados que são coletados através de registros de atividades humanas. De forma resumida os dados podem ser entendidos enquanto pegadas digitais, ou seja, informações registradas que correspondem à atividade humana em contextos e ambientes digitalizados e conectados através de diferentes funcionalidades tecnológicas. Entendemos que os dados são elementos fundamentais para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da inteligência artificial, e ressaltamos que ainda que seja interessante compreender o funcionamento interno das atividades de uma máquina, o entendimento de como e de quais dados são coletados e aplicados às tecnologias com capacidade de aprendizado parece ser uma questão mais urgente, uma vez que a relação entre inteligência artificial e dados indica que os tipos de decisões que uma máquina pode tomar está diretamente ligado ao tipo de dado com os quais esta máquina é alimentada. Assim, a partir de tais considerações, é possível questionar se as máquinas são neutras e imparciais ou se elas têm uma capacidade intrínseca de proferir discursos de ódio, de exibir condutas violentas, ideias e atitudes sexistas e racistas, ou se tal comportamento se dá porque os dados, enquanto espelhos das atividades humanas, carregam certos juízos e tendências que nem sempre apontam para uma conduta humana boa quando esta é pensada em relação aos seus semelhantes. Palavras-chave: Filosofia da Inteligência Artificial. Aprendizado de máquina. Dados. Imparcialidade. Conduta enviesada.

Referências bibliográficas BRIDLE, J. Cognição. In: A nova idade das trevas: a tecnologia e o fim do futuro. Tradução de Érico Assis. São Paulo: Todavia, 2018. p. 156-184.

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TAULLI, T. Introdução à Inteligência Artificial: Uma abordagem não técnica. Tradução de Luciana do Amaral Teixeira. São Paulo: Novatec Editora Ltda, 2020.

SUBJETIVIDADE E ALTERIDADE EM MERLEAU-PONTY Carlos Henrique Carvalho Silva UFG Doutorando em Filosofia carlosmachiavelli1@gmail.com Este trabalho busca mostrar o sentido e a relevância do outro na fenomenologia de Merleau-Ponty. Para tanto é essencial formular alguns questionamentos: como se torna possível elucidar a natureza do outro? Como Merleau-Ponty vai desatar este nó (o esquecimento) no pensamento a ponto de esclarecer a gênese do outro enquanto ser vivo humano? Qual o papel crucial que o outro vai ocupar na experiência com a subjetividade? As questões levantadas constituem-se desafiante na medida em que procura elevar o papel do outro como elemento inerente ao mundo humano e natural, uma vez que a natureza e tudo o que se encontra nela está visível para a subjetividade. Embora, a ressonância sobre o tema ocupe a segunda parte da Fenomenologia da Percepção, capítulo IV intitulado, Outrem e o mundo humano, é importante frisar que tanto em A estrutura do comportamento quanto, A natureza e O visível e o invisível este tema é recorrente. Para elucidar o tema, o autor recorre ao estudo da natureza, precisamente, mostrando como a subjetividade constrói uma história em meio a um tempo natural e nesse desdobramento encontra o outro. No entanto, é preciso questionar como se dá esta relação, ou melhor, a aparição de uma natureza na qual no entremeio das coisas, o eu e o outro fazem parte. O

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pressuposto essencial de que a presença do outro deve afetar a existência da subjetividade é tido como algo relevante e que deve desembocar mais adiante numa perspectiva intersubjetiva, uma vez que a visibilidade do outro corrobora tanto na evidência de sua concretude (embora, ainda estruturada na noção de sua corporeidade) quanto na quebra do seu suposto anonimato. Como importante contribuição ao problema, destacamos a obra de Waelhens, La philosophie et le expérinces naturelles, a partir de uma análise bem construída no capítulo 6, Autrui, estabelece a mesma preocupação de reconhecimento de que uma perspectiva viável acerca do outro perpassa uma tarefa intelectual integralmente árdua. Palavras-chave: Outro. Subjetividade. Natureza. Mundo. Merleau-Ponty.

Referências bibliográficas MERLEAU-PONTY. Maurice. A estrutura do comportamento. Trad. Márcia Valéria Martinez de Aguiar. São Paulo: Martins Fontes, 2006. MERLEAU-PONTY. A natureza. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 2000. MERLEAU-PONTY. O visível e o invisível. Trad. José Artur Gianotti e Armando Mora d’Oliveira. São Paulo: Perspectiva, 2009. MERLEAU-PONTY. O mundo percebido. In: Fenomenologia da percepção. Trad. Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 2006. WAELHENS, Alphonse. Cap. VI: Autru. In: La philosophie et les experiences naturelles. La Haye: Martinus Nijhoff, 1961.

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A INTERPRETAÇÃO DO EMPIRISMO NA CONSTITUIÇÃO DE DIFERENÇA E REPETIÇÃO (1968) DE GILLES DELEUZE Carlos Tiago da Silva PUCPR / UniFE Doutorando em Filosofia e Ciências Humanas carlos_tiago_@hotmail.com A interpretação que Gilles Deleuze faz da filosofia de David Hume nega, pelo menos, dois pressupostos elementares do modo como esta foi recepcionada e apresentada historicamente: por um lado, ela evita a ênfase epistemológica e defende que o empirismo humeano não pode ser simplesmente reduzido à questão do estatuto e origem do conhecimento. Neste sentido, o problema fundamental é o da constituição da subjetividade ou, nos termos em que Deleuze a apresenta, como a mente devém uma natureza humana? Por outro lado, mas de modo complementar, ela interpreta de maneira peculiar a distinção fundamental associada ao empirismo, qual seja: entre impressões e ideias com base em seus respectivos graus de vivacidade. O que Deleuze propõe como estratégia de leitura é enfatizar não a relação entre impressões e ideias, mas a própria emergência da subjetividade enquanto emergência de um sistema que dá às próprias impressões regularidade, constância e finalidade ou, segundo o termo que Deleuze utiliza, tendência. É uma leitura que envolve uma visão construtivista do empirismo humeano, no sentido em que a subjetividade não será interpretada como elemento ou polo privilegiado deste processo de organização, mas como uma das partes ativas desta própria organização que envolve princípios mais profundos que, justamente, a fazem passar de um estado de passividade a atividade. Ainda que no rol das influências mobilizadas por Deleuze, Hume seja uma ocorrência rara, seria ingênuo admitir, sem um exame detido,

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que o seu primeiro livro, Empirismo e Subjetividade (1953), não produziu qualquer tipo de influência na constituição do projeto de filosofia da diferença levado a cabo em Diferença e Repetição (1968). Este trabalho se inscreve neste horizonte, tendo como dado básico de análise a importância que o empirismo adquire na configuração e designação do próprio projeto filosófico deleuzeano na paradoxal fórmula “Empirismo Transcendental”. Nosso objetivo é investigar e identificar o impacto ou influência da interpretação da filosofia de Hume no projeto filosófico peculiar de Deleuze, em especial no modo como foi formulado em Diferença e Repetição. Palavras-chave: Gilles Deleuze. David Hume. Empirismo. Diferença e Repetição.

Referências bibliográficas DELEUZE, Gilles. Diferença e Repetição. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz & Terra, 2018. ______. Empirismo e Subjetividade. São Paulo: Editora 34, 2001. HUME, David. Tratado da natureza humana: uma tentativa de introduzir o método experimental de raciocínio nos assuntos morais. Tradução de Débora Danowski. São Paulo: UNESP, 2009.

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ENTRE INDIVÍDUOS E FAMÍLIAS – NEOLIBERALISMO ENQUANTO DESTRUIÇÃO DO SOCIAL Caroline Santos da Silva UFPE Mestranda em Filosofia caroline.santoss@ufpe.br O neoliberalismo se opõe à existência da sociedade e à justiça social. Ao promover o desaparecimento dos poderes sociais, fragiliza as reivindicações críticas neles enraizadas. A ascensão da política antidemocrática foi promovida através de ataques à sociedade – compreendida como algo experimentado e zelado de forma comum – e à legitimidade e à prática da vida política democrática (BROWN, 2019). O ataque neoliberal ao social é fundamental para gerar uma cidadania que, além de não democrática, é antidemocrática, e que está cada vez mais disposta a autorizar um Estado crescentemente antidemocrático. Não há igualdade política, já que a composição e o exercício do poder político deixam de servir ao todo, para serem subjugados aos interesses de uma elite. A sistematização da violência ou da miséria coletiva leva ao fim da democracia. “À medida que o ataque ao social derrota a compreensão democrática de sociedade zelada por um povo caracterizado pela diversidade e habilitado a governar a si de forma igualitária e compartilhada, a política se torna um campo de posicionamento extremo e intransigente, e a liberdade se torna um direito de apropriação, ruptura e até mesmo destruição do social – seu inimigo declarado” (BROWN, 2019). Assim, é possível afirmar que o neoliberalismo modificou essencialmente o capitalismo, através de mudanças sociais profundas. Não se trata tão somente de uma ideologia, de um tipo de política econômica, mas “é um sistema normativo que ampliou a sua influência ao mundo inteiro, estendendo a lógica do capital a todas as relações sociais e a todas

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as esferas da vida.” (DARDOT; LAVAL, 2016). Este trabalho se propõe a investigar os mecanismos pelos quais a racionalidade neoliberal atua de modo a minar o imaginário político do social. Em seu desenvolvimento, toma como referencial teórico principal a contribuição filosófica de Wendy Brown acerca do tema. O neoliberalismo, ao promover uma realidade constituída tão somente por indivíduos e famílias, obedientes ao mercado e à moral, fragiliza a noção de social e de sociedade. No entanto, é pelo domínio do social que desigualdades se tornam manifestas, que as sujeições, abjeções e exclusões geradas pelos legados da escravidão, do colonialismo e do patriarcado se tornam visíveis. Isso legitima a privação efetiva de direitos, autoriza a desigualdade e permite ataques, em nome da liberdade, ao que ainda reste da tessitura social (BROWN, 2019). A subjetivação neoliberal traz sofrimento, opera mutilação na vida comum, no trabalho e fora dele. As mutações subjetivas provocadas pelo neoliberalismo que atuam no sentido do egoísmo social, da negação da solidariedade e da redistribuição, por sua vez, podem ser apontadas como motivadoras de movimentos reacionários ou neofascistas (DARDOT; LAVAL, 2016). A solidariedade como afeto sociopolítico central se opõe ao neoliberalismo (SAFATLE, 2020). A afirmativa de Margaret Theatcher é emblemática quanto a isso: “Não existe tal coisa como a sociedade”, mas “há apenas indivíduos e suas famílias”. Palavras-chave: Neoliberalismo. Racionalidade política. Democracia. Social. Wendy Brown. Referências bibliográficas BROWN, Wendy. Cidadania Sacrificial. Neoliberalismo, capital humano e políticas de austeridade. Rio de Janeiro: Zazie, 2018. BROWN, Wendy; DENVIR, Daniel. Explicando nossos sintomas mórbidos políticos. Entrevista à Revista Jacobin em 30 66


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de junho de 2021. Tradução de Letícia Cesarino. Disponível em: <https://jacobin.com.br/2021/06/explicando-nossossintomas-morbidos-politicos/> Acesso em 13 de agosto de 2021. BROWN, Wendy. Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no Ocidente. Traduzido por Mario A. Marino e Eduardo Altheman C. Santos. São Paulo: Editora Filosófica Politeia, 2019. BROWN, Wendy. Undoing the Demos: neoliberalism’s Stealth Revolution. First edition. Zone books, 2015. DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo. Ensaio sobre a sociedade neoliberal. Tradução de Mariana Echalar. Boitempo, 2016. FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica: curso dado no Collège de France (1978-1979). Tradução Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2008. SAFATLE, Vladimir. Bem-vindo ao estado suicidário. n-1, 2020. Disponível em: <https://n-1edicoes.org/004>. Acesso em 19 de agosto de 2020.

OS IMPACTOS DA CIVILIZAÇÃO TECNOLÓGICA NA NATUREZA: PRESERVANDO O ETHOS DA ARAUCÁRIA PARANAENSE Claudemir Stanqueviski PUCPR Doutorando em Filosofia stanqueviski@gmail.com Prof. Dr. Roberto Franzini Tibaldeo PUCPR Programa de Pós-graduação em Filosofia

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A contemporaneidade nos traz, entre outras, uma grande dívida com o planeta, configurada pela emergência ambiental. A retidão no agir, na atualidade, tem sua temporalidade revisada. A ação humana, aumentada pela técnica moderna, não tem por efeito somente a intervenção sobre a biosfera, mas também, traz a ideia de que perdurará no tempo, podendo trazer, como aspecto causal de efeito futuro, quando mal-empregada, danos irreversíveis à possibilidade de vida terrena. A técnica moderna empregada massivamente, legitimada pela ideia da dominação da natureza na busca de uma vida cada vez mais confortável, tomou ares de ameaça quando não limitada pela Ética e, ainda, para além do domínio dos elementos naturais, a racionalidade tecnológica tem sido usada para a dominação dos homens sobre os próprios homens influenciando e alterando o mundo do trabalho, acentuando a exploração e a alienação. A complexidade contemporânea alcança dimensões planetárias e as consequências dos efeitos da ação tecnológica humana se estendem imprevisivelmente, para o futuro. A iminência catastrófica dos resultados desse poder da técnica exige uma forma totalmente nova e original de pensar. O temor dos piores cenários possíveis advindos dessa era tecnológica irrefreada, pode se apresentar como o despertar de um primeiro motivo para a realização da ação responsável. A crise ambiental, configurada como o descompasso entre o agir e o cuidado com o planeta encontra-se amplamente difundida. (LEFF, 2010; BOFF, 2000; MORIN e KERN 2003; SAUVÉ, 2016; JONAS, 2006; HOTTOIS, 2002; LATOUCHE, 1989). O poder ilimitado da ação tecnológica e o domínio baconiano sobre a natureza tomou proporções catastróficas. A dialética do poder humano pela técnica nos colocou em nossa mais cruel antítese, exigindo um poder conciliador superior, que nos faça reconectar com nossa realidade natural, com cuidado do local onde nos encontramos e somos. A Ética baseada na responsabilidade e assumindo o temor pelos efeitos futuros do uso indiscriminado da técnica, se apresenta como importante conceito a ser desenvolvido e internalizado 68


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para gerar o cuidado, como um novo princípio ordenador. Nossa pesquisa busca, diante do instinto de se apropriar, defender e bem administrar um território, descobrir o ethos, ou seja, estar em paz em um lugar que nos protege e com isso devolvermos em forma de cuidado e proteção mútua do lugar onde moramos, para manter a vida e a possibilidade de permanência dos seres. Para esse local específico, escolhemos a araucária, a árvore pré-histórica, como símbolo e demarcação (landmark) do local do cuidado e do bem viver. Reconectarmos com nossa realidade socioambiental e gerar um cuidado pela vida e sua preservação. O método a adotarmos será exploratório analítico descritivo, no intuito de realizar o levantamento bibliográfico e determinar categorias e conceitos filosóficos com um problema específico, a ser analisado de maneira crítica. Estamos em fase inicial da pesquisa, reformulando o projeto para o doutoramento. Palavras-chave: Cuidado. Responsabilidade. Ethos. Araucária. Paisagem. Landmark. Referências bibliográficas ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2007. BOFF, L. Ethos mundial. Brasília: Letraviva, 2000. FRANCISCO, P. CARTA ENCÍCLICA Laudato si. Roma: Vaticano, 2015. HOTTOIS, G. Species Technica. Paris: Vrin. 2002. JONAS, H. O princípio responsabilidade: Ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: PUC - Rio, 2006. JONAS, H. O princípio vida: fundamentos para uma biologia filosófica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

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LATOUCHE, S. L'Occidentalisation du monde: Essai sur la signification, la portée et les limites de l'uniformisation planétaire. Paris: La Découverte, 1989. LEFF, E. A Complexidade Ambiental. 2ª ed . São Paulo: Cortez, 2010. MORIN, E. & KERN, A.-B. Terra-Pátria. Porto Alegre: Sulina, 2003. PHELAN CASANOVA, L. M.; GUILLÉN GARCÍA, M. A. Construyendo el buen vivir. Cuenca: Universidad de Cuenca, 2012. DE JAEGHER, C. S. Dialogando la dignidad para la Naturaleza a través del Suma Kawsay, Suma Qamaña y Kvme Moge. RIDH , pp. 129-148. Acesso em: https://www3.faac.unesp.br/ridh/index.php/ridh/article/view/470: 12 ago. 2021. TIBALDEO, R. F. The Heuristics of Fear: Can the Ambivalence of Fear Teach Us Anything in the Technological Age? Ethics in Progress. Vol. 6. pp. 225-238. 2015. HOUTART, F. El concepto de sumak kawsai (buen vivir) y su correspondencia con el bien común de la humanidad. ALAI, América Latina en Movimiento , pp. 10-25. Acesso em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=4235814: 12 ago. 2021. OLIVEIRA, J. R. A heurística do temor e o despertar da responsabilidade. 2011. Acesso em IHU On-line: http://www.ihuonline.unisinos.br/edicao/371: 12 de agosto de 2021. SAUVÉ, L. Viver juntos em nossa Terra: Desafios contemporâneos da educação ambiental. Contrapontos, 288-299, 2016. Acesso em: https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/8697: 12 de agosto de 2021.

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ANÍBAL QUIJANO: O CONTROLE DA SUBJETIVIDADE COMO UM DOS EFEITOS DA COLONIALIDADE DO PODER Claudionor Soares Muniz UNIR Mestrado Acadêmico em Filosofia claudionormuniz@hotmail.com O presente trabalho parte do questionamento: “como se (re)produz o controle da subjetividade latino-americana conforme a teoria da colonialidade do poder de Aníbal Quijano?”. O citado pensador peruano apresentou a referida teoria em sua obra intitulada Colonialidade e Modernidade/Racionalidade (1992) e utilizada por outros filósofos latino-americanos do Grupo Latino-americano de Estudos Subalternos em discussões a respeito do colonialismo, da colonialidade, da decolonialidade e do giro descolonial, como contraposição à modernidade eurocêntrica. Essa teoria apresenta-se como um dos pilares para alçar a América ao debate pós-colonial, expressando a constatação de que as relações de colonialidade nas esferas política, social, cultural, econômica não cessaram com a destruição do colonialismo, e que exercem forte influência na uniformização das subjetividades. A produção/controle da subjetividade, ou seja, do imaginário social, da memória histórica e das perspectivas centrais do conhecimento se expressavam, se configuravam e, ainda, se perpetuam na figura ontológica do eurocentrismo (Quijano, 2007, p. 136), com a incorporação/redução de diversas e heterogêneas histórias culturais, experiências, recursos e produtos culturais a um único mundo hegemônico: a Europa, onde o controle da autoridade coletiva e a dominação política seriam realizados em seguida por meio do Estado (Quijano, 2007, p. 135). Para que esse poder pudesse atuar, fez-se necessária a classificação social da população em torno da ideia de

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“raça”, possibilitando o controle de sexo, da intersubjetividade e da autoridade, produzindo e reproduzindo a escravidão e a servidão (Quijano, 2007, p. 134), sustentadas nas supostas diferenças fenotípicas entre os conquistadores e os conquistados (Quijano, 2005, p. 117). Posteriormente, iniciou-se uma nova ordem mundial, a construção de um poder global articulador, com a concentração de recursos a fim de beneficiar a minoria europeia e suas classes dominantes, em uma estrutura colonial de poder, de construção intersubjetiva, com discriminações sociais, raciais, étnicas, antropológicas ou nacionais, sob a falsa fundamentação científica e objetiva de significação a-histórica. No campo do domínio colonial epistemológico, os europeus estabeleceram uma imagem mistificada, impondo seus próprios padrões de produção de conhecimentos e significações. A metodologia utilizada consistia inicialmente no afastamento do acesso dos dominados, depois permitiu-se os ensinamentos de forma parcial e seletiva, selecionando pontualmente alguns dominados, gerando o efeito da sedução ao acesso ao poder. Assim, a “europeização” cultural converteu-se de sedução à aspiração, gerando o desejo dos cooptados em participar do poder colonial para alcançar benesses materiais ou para conquistar o mesmo “desenvolvimento” dos dominantes (Quijano, 1992, p. 439). Para Quijano, para superar o reducionismo de subjetividades, se deve respeitar a “ideia do outro”, não somente à suposta “natureza desigual do outro”, a “exterioridade absoluta das relações”, a “desigualdade hierárquica”, a “inferioridade social”, mas a “heterogeneidade histórico-estrutural”. Assim, perderia o sentido do “reducionismo”, da “metafísica de um macro-sujeito histórico” suficientemente capaz de impor a “racionalidade própria” ou a “teleologia histórica” (Quijano, 1992, p. 447). Palavras-chave: Colonialidade. Racismo. Subjetividade. Eurocentrismo. Outro.

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Referências bibliográficas DUSSEL, Enrique. 1492: o encobrimento do outro: a origem do mito da modernidade: conferências de Frankfurt. Petrópolis: Vozes, 1993. QUIJANO, Aníbal. Colonialidade e modernidade-racionalidade. In: H. Bonilla, Os conquistados: 1942 e a população indígena das Américas. Bogotá: Tercer Mundo, 1992, pp. 437447. ______. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: E. L. (org), A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais: perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005, pp. 107-130. ______. Colonialidade, poder, globalização e democracia. Diplomacia, Estratégia e Política, 2007, p. 132-161. ______. Colonialidad del poder y clacificación social. Edgardo Lander. (Organizador), Cuestiones y horizontes: de la dependencia historico-estrutural a la colonialidad/descolonialidad del poder. Buenos Aires: CLACSO, 2014, pp. 285-327.

DIGITAL: MAIS-VALIA COMPORTAMENTAL, GOVERNAMENTALIDADE ALGORÍTMICA E PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO Prof. Dr. Daniel Filipe Carvalho CEFET-MG Doutor em Filosofia daniphilos@gmail.com Resumo: A partir das reflexões de Antoinette Rouvroy, Shoshana Zuboff e Philipp Staab, o objetivo da comunicação é discutir os processos de subjetivação na era do capitalismo digital (Staab). O ponto de partida da análise é a descoberta da

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mais-valia ou superávit comportamental pelas empresas do Vale do Silício no início dos anos 2000, suas implicações para a compreensão dessa nova fase do capitalismo (Zuboff), a progressiva conversão de tal descoberta em um novo regime de produção de subjetividades e na formação de um novo tipo de governamentalidade, a governamentalidade algorítmica (Rouvroy). Palavras-chave: mais-valia comportamental. Governamentalidade algorítmica. Subjetivação. Neoliberalismo. Referências bibliográficas ROUVROY, Antoinette. Governamentalidade algorítmica e perspectivas de emancipação: o díspar como condição de individuação pela relação? Revista Eco Pós. Dossiê Tecnologias e Vigilância. Vol. 18, nº 2, Rio de Janeiro: UFRJ, 2015, p.36-56. STAAB, Philipp. Digitaler Kapitalismus: Markt und Herrschaft in der Ökonomie der Unknappheit. Berlin: Suhrkamp, 2019. ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Rio de Janeiro: Íntrínseca, 2021.

A INEFICÁCIA DO SUICÍDIO CONTRA O SOFRIMENTO EM SCHOPENHAUER Derijones Leandro Silva Júnior UECE Graduando em Psicologia deri_jr@hotmail.com O sofrimento é um dos eixos centrais da obra magna de Schopenhauer. O filósofo apresenta que a vida, principalmente

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a humana, tem o sofrimento como elemento de sua essência, nesse sentido, não há vida sem que nela a Vontade enfrente contrariedades dela mesma, não há vida sem sofrimento. Tal elemento da vida individuada (o sofrimento), além de estar presente na doença, no pensamento e no processo da morte e nas dores, marca sua presença também no desejo, que para Schopenhauer (2019) por natureza é um sofrimento. Apesar de o sofrimento ter esta posição central em sua obra, Schopenhauer (2019) se posiciona contra o suicídio como solução frente às dores da existência como se pode concluir ao se estudar o parágrafo 69 do primeiro tomo de “O mundo como vontade e representação” (2019). O autor apresenta que, tentando eliminar a dor, o sujeito movido pela vontade de querer-viver uma outra vida sem seu sofrimento e baseado no conhecimento intuitivo de que a Vontade jamais cessará de produzir fenômenos, acaba por destruir a vida em nome de um querer-viver, na esperança de encontrar um alívio. No entanto, tal tentativa desesperada não o faz alcançar o alívio da dor, pois a Vontade em estado inconsciente nada pode conhecer nem experienciar. A superação em parte do sofrimento só pode ser alcançada em vida, com a Vontade iluminando a si mesma com a luz do conhecimento; que em parte pode agir como um modesto quietivo da Vontade, com a luz da arte; como é possível notar em sua “Metafísica do Belo” (2003) na contemplação das Ideias do belo e por meio do sentimento do sublime, e pela renúncia ao regime ditatorial do desejo cego e insaciável: não querer, para o filósofo, é já estar satisfeito e liberto, pelo menos em parte das dores de uma Vontade frustrada, nesse sentido o querer levado às últimas consequências pode levar a Vontade individuada destruir a vida motivada por um querer. Palavras-chave: Sofrimento. Suicídio. Vontade. Conhecimento. Arte. Referências bibliográficas 75


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SCHOPENHAUER, A. Metafísica do Belo. Tradução de Jair Barboza. São Paulo: UNESP, 2003. SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e como representação. Tradução de M. F. Sá Correia. 6ª reimpressão. Rio de Janeiro: Contraponto, 2019. SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e como representação, tomo 2. Tradução de Jair Barboza. São Paulo: UNESP, 2015.

A ORDEM MORAL DO MUNDO SEGUNDO F.K FORBERG E J.G FICHTE

Douglas William Langer PUCPR Doutorando em Filosofia douglas.wla@gmail.com Essa comunicação tem como tarefa analisar a maneira como J.G Fichte recepciona o texto de F.K Forberg, Desenvolvimento do conceito de Religião no seu artigo Sobre a nossa fé numa ordem moral do mundo, ambos publicados no mesmo número da revista Jornal Filosófico de uma sociedade de estudiosos alemães, com especial atenção à noção apresentada por Forberg e retomada por Fichte de uma ordem moral do mundo (Weltriegerung). O valor dessa análise reside em mostrar os problemas aos quais essa noção suscita à filosofia de Fichte. Em Forberg a ordem moral do mundo corresponderia a um artigo de fé no qual o ser racional deve acreditar quando age sob o desejo de fazer o bem prevalecer sobre o mal no mundo. Essa ordem corresponde, portanto, a um arranjo do mundo sob o qual o sujeito pode depositar suas esperanças de que aquela sua

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ação em conformidade com esse desejo e em concordância com a sua consciência moral (Gewissen) leve à efetivação do bem. Fichte retoma essa concepção em seu artigo, agora fazendo dela não apenas um arranjo moral em prol da efetivação do bem dependente em sua organização de um Deus pessoal como fizera Forberg, mas enquanto sendo esse arranjo, ele próprio, Deus. Fazendo isso, ele mostra como a Doutrina da Ciência rompe com a noção kantiana de um ser divino responsável pela harmonia entre moralidade e felicidade na natureza consequente da promoção do sumo bem, uma vez que a filosofia transcendental tal qual apresentada por Fichte em seu artigo, tem de lidar unicamente com o mundo para o Eu, isto é, um mundo de aparências, permanecendo a natureza em completa alteridade. Por outro lado, porém, concordando com Kant, uma vez que a questão da existência de Deus acaba reconduzida a conceitos morais, isto é, deus deve existir, enquanto no campo especulativo sua existência permanece incerta, visto que a especulação como mera razão teórica não pode senão buscar compreender a Deus no interior dos seus conceitos de um ser racional finito. Essa mesma certeza conquistada no que refere à existência de Deus, estende-se à realidade do mundo sensível, fazendo dele um campo fundado na moralidade. Palavras-chave: Religião. Deus. Moral. Ordem. Transcendental.

Referências Bibliográficas ESTES, Y; BOWMAN, C. J.G Fichte and the Atheism Dispute (1798 – 1800). Farnham/Burlington: Ashgate, 2010. 281 p. FICHTE, J.G; NIETHAMMER, F.I. Philosophisches Journal einer Gesellschaft Teutscher Gelehrten. Jena/Leipzig: Christian Ernst Gabler, 1798.364 p. GASPAR, F. P. A distância do olhar: Síntese e liberdade na doutrina da ciência de Fichte. São Paulo: Loyola, 2019. 462 p. 77


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KANT, I. Kritik der Praktischen Vernunft. Hamburg: Felix Meiner, 2003. 277 p. RAMETTA, G. Fichte. Roma: Carocci, 2017. 315 p. ZÖLLER, G. Fichte’s Transcendental Philosophy: The original duplicity of intelligence and will. Cambridge: Cambridge University Press, 1998. 168 p.

GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA: UMA ANÁLISE DA PROPOSTA DE POLÍTICA SUPRANACIONAL EM JÜRGEN HABERMAS

Edielmo de Jesus Oliveira UNIR Mestrado Acadêmico em Filosofia predielmo@advir.com

Esta pesquisa tem como temática “Globalização e Política: uma análise da proposta de política supranacional em Jürgen Habermas”. A globalização econômica deveria ser um motor para o crescimento dos Estados-nacionais, e ainda poderia trazer grandes benefícios para todos os grupos, se guiada através de princípios éticos e de uma de regulação política ampla, porém, atuando livremente, tem se demonstrado justamente o oposto. Desregulação política ampla, desnacionalização e enfraquecimento do papel regulatório dos Estados-nação. Gonçalves (2008) entende a globalização como um fenômeno que poderia ser definido através de vários processos, processos estes que afetam os Estados-nacionais, onde sua soberania, sua identidade, suas redes de comunicação, suas chances de poder e suas orientações sofrem a interferência de atores transnacionais. Assim, a presente pesquisa pretende analisar como a globalização 78


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econômica tem impactado a sociedade contemporânea, o conceito teórico principal é como uma regulação supranacional de caráter político conforme defendida pelo filósofo alemão Jürgen Habermas poderia contrapor os impactos causados pela globalização econômica, uma vez que, para o autor é a extensão supranacional de instituições políticas democráticas a única solução para os problemas sociopolíticos originados e reproduzidos pela globalização econômica, “hoje atingiu-se um ponto no qual a densa rede horizontal que perpassa o mercado é complementada por uma regulação política fraca.” (HABERMAS, 2001, p. 125). Para Danner (2014, p. 633) “não há justiça social sem regulação econômica e democratização ampliada”, a globalização econômica atuando livremente causa danos aos Estados-nacionais, quanto mais fraco economicamente o Estado, mais sofre, chegando a uma condição de subserviência, levando, portanto, à crise não só do Estado-nação, como também da própria política. Para Habermas, a ausência de instituições políticas com poder de regulação a nível global tem provocado consequências danosas. É claro nos textos Habermasianos a ideia da necessidade de instituições políticas com poder de regulação supranacional afim de fazer frente aos mercados mundiais, uma vez que, os mesmos têm pressionado de maneira desigual os Estados-nacionais, não priorizando a justiça social e a democracia política. Portanto, o objeto central dessa proposta de regulação política supranacional consiste em garantir um equilíbrio no “xadrez” geopolítico e econômico mundial, evitando assim uma verdadeira anomia. Em se tratando de uma discussão sobre democracia pós-nacional, Habermas (2001, p. 114-115), faz diferenciação entre quatro posições quanto ao grau de concordância, sendo: “os eurocéticos, os pró-mercado europeu, os eurofederalistas e, por fim, os partidários de um global governance”, o que evidentemente também deverá ser estudado e, claro, aprofundado ao longo da pesquisa. Palavras–chave: Globalização. Política. Supranacional. 79


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Referências bibliográficas ANJOS, Márcio Fabri dos. Ética e direito: um diálogo. 1 ed. São Paulo. Editora Santuário, 2001. DANNER, Leno Francisco. HARBERMAS: da globalização da economia à globalização da política. Caderno CRH, Salvador, v. 27, n. 72, p 629-642, Set/dez. 2014. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ccrh/v27n72/12.pdf>. Acesso em 17.07.2019. EAGLETON, Terry. Capitalismo, modernismo e pós-modernismo. Crítica Marxista. São Paulo, Brasiliense, v.1, n.2, 1995. GEUSS, Raymond. Teoria Crítica: Habermas e a escola de Frankfurt. Tradução de Bento Itamar Borges. Campinas, SP, Papirus, 1998. HABERMAS, Jürgen. O ocidente dividido. Tradução de Luciana Villas Bôas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006. ______. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Tradução de Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, v. 2, 2003a. ______. Era das transições. Tradução e Introdução de Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003b. HOBSBAWM, Eric. Globalização, democracia e terrorismo. Tradução de José Viegas. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. IANNI, O. Teorias da globalização. 11. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. LASTRES, H. M. M.; ALBAGLI, S. Informação e globalização na era do conhecimento. São Paulo: Campus, 1999. NOBRE, Marcos. A teoria crítica: Filosofia passo a passo. 3ed São Paulo: Zahar, 2009. THERBORN, Göran. Globalização e desigualdade: questões de conceituação e esclarecimento. Tradução: Roberto Costa. Sociologias, Porto Alegre, ano 3, nº 6, jul/dez 2001, p. 122-169.

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Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/soc/n6/a07n6.pdf> Acesso em> 17.07.2019

CAPITALISMO, INDÚSTRIA 4.0, PANDEMIA E SUBALTERNIDADE: A DEVASTAÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL Prof. Dr. Eliesér Toretta Zen Ifes Ensino Médio para Jovens e Adultos Trabalhadores Proeja elieserzen@hotmail.com Este trabalho tem como objetivo analisar as relações sociais capitalistas no contexto da quarta revolução tecnológica ou indústria 4.0 e da pandemia da covid19 e dos impactos da mesma na vida, saúde e trabalho dos grupos subalternos (as). A indústria 4.0 ou a quarta Revolução Industrial, pode ser compreendida, como um conjunto de tecnologias inovadoras, como a nanotecnologia, as plataformas digitais, a inteligência artificial, a robótica, a internet das coisas, que representam um salto na forma de organizar e controlar o trabalho. Essas novas formas de gerir e controlar o trabalho na Indústria 4.0, têm como consequências para os trabalhadores/as, desemprego, subemprego, terceirização, uberização e precarização do trabalho. Nesse sentido, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou os dados de desemprego no Brasil no segundo trimestre de 2021, atingindo o índice 15,9%, o maior nível em três anos. De acordo com a pesquisa realizada pelo IBGE, o desemprego tem um recorte de gênero e cor, atingindo de forma desigual as mulheres em relação aos homens e os negros em relação aos brancos. Desse modo, conforme indicado por Antunes, o capital põe em movimento a sua engrenagem destrutiva 81


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que vai devastando tanto as condições de trabalho, de organização, de direitos e de vida dos trabalhadores em todo o mundo, não apenas na periferia do sistema, como é o caso do Brasil. Além, de sua ação destrutiva em relação aos direitos do trabalho, o capital, atua também para explorar e exaurir todas as potencialidades de bens que a natureza oferece, por isso, também se converte, guiado pela lógica do lucro, no verdadeiro satã da Terra. Assim, tão vital quanto lutar por um trabalho digno para todos os trabalhadores(as) do mundo, é a defesa da mãe Terra que está sendo devastada pela ganância dos que consideram donos do mundo. Para realizar tal intento realizamos um estudo bibliográfico a partir do referencial teórico marxiano e gramsciano. A partir desse aporte teórico buscou-se analisar o contexto da pandemia da covid-19, como decorrente da ação destrutiva da ação humana sobre a natureza e de seus impactos na vida, saúde e trabalho dos grupos subalternos. O estudo revelou, que os impactos da covid-19, se abateu de forma mais profunda nos trabalhadores (as), devido as condições desiguais de acesso a saúde, desemprego, moradia e condições dignas de trabalho e salário, engendradas pela desigualdade estrutural produzida pelas relações sociais capitalistas. Palavras-chave: Capitalismo. Trabalho. Subalternos. Covid19. Antonio Gramsci.

Referências bibliográficas ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1998. ANTUNES, Ricardo. Coronavírus: o trabalho sob fogo cruzado. 1.ed. São Paulo: Boitempo, 2020.

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Temos por objetivo abordar o conceito de reconhecimento interpessoal no contexto de duas abordagens distintas sobre o conceito de pessoa: (1) o perspectivismo ameríndio (Viveiros de Castro, 2011, 2013) e (2) a tese de segunda pessoa (Gomila, 2001, 2002; Pérez e Gomila, 2022), e refletir sobre a possível reverberação desse conceito no estabelecimento de condutas empáticas. No primeiro caso, a pessoalidade/personitude é descrita como uma propriedade quase universal, de todos os seres vivos, cada qual do seu ponto de vista, interligados por um passado comum e que atualmente se conservariam em uma rede ecológica de interdependência (Viveiros de Castro, 2013). No segundo caso, a pessoalidade é atribuída em função do reconhecimento/percepção direta de estados mentais de seres humanos; o reconhecimento se dá em segunda pessoa porque os agentes sociais não se tratam uns aos outros como objetos inertes, cujo acesso se daria em terceira pessoa (no caso dum escrutínio laboratorial), nem como sujeitos cujos atributos individuais seriam indiferentes aos encontros sociais, vai-se além da dicotomia subjetivo/objetivo, natureza/cultura (Pérez e Gomila, 2022). Assumimos, nesse sentido, que, na gênese dessas perspectivas, aparentemente divergentes, se assentariam visões de mundo mais gerais que serviriam ao convívio, de um lado, dos nativos amazônicos e, de outro, a uma visão de senso comum Ocidental, intelectualista. E diante disso, questionamos até que ponto podemos dizer que a pessoalidade opera universalmente, a despeito dessas visões de mundo contrastantes, uma antropomórfica e a outra antropocêntrica. É possível que cada forma de atribuição de pessoalidade (mais ampla ou mais restrita) direcione o modo como os agentes (atribuintes) atuam no mundo? O que visamos investigar, mediante o contraste entre essas perspectivas é se, considerando apenas os processos cognitivos e perceptuais diretamente ligados à alteridade (que, sim, seriam universais), podemos compreender a atribuição de pessoalidade por excelência. Explicamos: parece-nos que, na linha da tese de segunda 85


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pessoa, o aspecto do outro como uma pessoa segue o princípio kantiano de que a dignidade de pessoa é reconhecida em alguém na medida em que é tratado como um fim em si mesmo, e não como um meio para os demais, ideia a qual parece encontrar vazão no perspectivismo ameríndio também, só que mais amplamente (todos os seres que compõem a rede da vida teriam um valor intrínseco). Ao mesmo tempo, na linha do que o perspectivismo ameríndio alimenta, pragmaticamente, relações ecológico-interpessoais mais duradouras não estariam apenas centradas na boa convivência social humana. Palavras-chave: reconhecimento interpessoal. Pessoalidade. Empatia. Perspectiva da segunda pessoa. Perspectivismo ameríndio.

Referências bibliográficas GOMILA, A. La perspectiva de segunda persona: mecanismos mentales de la intersubjetividad. Contrastes, vol. 6, p. 65-86, 2001. GOMILA, A. La perspectiva de segunda persona de la atribución mental. Azafea: Revista de Filosofia, Ed. Universidad de Salamanca, vol. 4, p. 123-138, 2002. PÉREZ, D; GOMILA, A. The Second Person: Social Cognition in Human Interaction, no prelo, 2022. MAIBOM, H. The Routledge handbook of philosophy of empathy. Nova York: Routledge, 2017. VIVEIROS DE CASTRO, E. B. O medo dos outros. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, v. 54, n. 2, 2011. VIVEIROS DE CASTRO, E. B. La mirada del jaguar: introducción al perspectivismo amerindio. Buenos Aires: Tinta limón, 2013.

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O MANIFESTAR-SE DO OUTRO NAS MEDITAÇÕES CARTESIANAS DE EDMUND HUSSERL Ezequiel Barros Barbosa de Jesus PUCPR Mestrando em Filosofia ezequielbarrosbarbosa@gmail.com Desde a modernidade, precisamente após o racionalismo cartesiano do século XVII, pensar as condições de manifestação da existência do outro para além da condição de uma mera produção de um eu (ego) se tornou um relevante problema filosófico. Na contemporaneidade, esta questão foi retomada pela fenomenologia transcendental de Edmund Husserl. Em sua obra Meditações Cartesianas (1931), Husserl apresentou um complexo experimento de pensamento que articulou tanto uma descrição do processo genético da consciência do eu (ego), como também descreveu os modos de apercepção do outro, constituído este a título de outro-eu (alter ego). No entanto, ao desenvolver o relacionamento de alteridade da consciência com o outro de si, foi necessário ao filósofo lidar com o clássico problema do solipsimo da consciência. Diante disto, a fenomenologia husserliana buscou na noção de corpo um fenômeno capaz de servir de conteúdo material à existência concreta do eu e do outroeu, assim não estando ambos postos apenas em um mero jogo de conceitos vazios, isto é, sendo estes pensados enquanto meras ideias (eidos) de uma consciência atuante, não tendo necessariamente uma existência concreta. Assim, ao expor a viabilidade de uma consciência subjetiva frente a existência concreta de uma consciência alheia, Husserl não só propôs uma reelaboração teórica acerca de uma filosofia da subjetividade, como também pretendeu ir além dos limites solipsistas de uma “filosofia do sujeito” ao desenvolver uma posição teórica acerca das possibilidades de uma intersubjetividade da consciência,

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empreendimento máximo da quinta de suas cinco Meditações. Diante do exposto, o presente trabalho tem por objetivo apresentar a tese husserliana da manifestação do outro mediante os modos de aparecimento de seu corpo. Metodologicamente, tomaremos como literatura fundamental a obra Meditações Cartesianas, em específico os §§ 50 ao 54. Para tanto, primeiro analisaremos o processo de apercepção do outro pelo eu, partindo da definição husserliana de corpo fundada no jogo conceitual Körper e Leib (§§50-52). Depois, investigaremos o modo de ocorrência (Gegebenheitsweise) do corpo do outro-eu mediante sua orientação espacial, definida pelo filósofo a partir da distinção do modo do “aqui” e do “ali” (§53-54). Palavras-chave: Fenomenologia. Edmund Husserl. Ego. Alter Ego. Corpo. Referências bibliográficas BALBONTÍN, Cristóbal. El problema de la constitucíon de la intersubjetividad en el pensamiento de Husserl. Alpha, n. 41, p. 251-268, 2015. HUSSERL, Edmund. Meditações Cartesianas: uma introdução à fenomenologia. São Paulo: Edipro, 2019. LOMBANA, Cesar Augusto Delgado. Yo y tú, la misma alma: sobre la aporía de la intersubjetividad en la fenomenologia de Husserl. Civilizar, v. 11, n. 21, p. 119-132, 2011. SANCHEZ, Devair Gonçalvez. Estranheza e propriedade: a experiência de empatia em Edmund Husserl. Ekstasis: revista de hermenêutica e fenomenologia, v. 3, n. 2, p. 99-111, 2014. ZAHAVI, Dan. Husserl's Intersubjective Transformation of Transcendental Philosophy. The Journal of the British Society for Phenomenology, v. 27, n. 3, p. 228-245, 1996. ZAHAVI, Dan. Husserl’s Phenomenology. California: Stanford University Press Stanford, 2003. 88


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O PROBLEMA DA CAUSALIDADE À LUZ DE HANS JONAS: IMPLICAÇÕES ÉTICAS NA DEFESA DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL Fábio André Frizzo UCS Doutorando em Filosofia Fabiofrizzo_@hotmail.com O presente artigo tem como objetivo principal analisar uma possível resposta ao problema da causalidade à luz do pensamento filosófico de Hans Jonas e verificar suas implicações éticas na questão da preservação do meio ambiente. O empenho para solucionar essa problemática é um aspecto relevante na epistemologia e na ontologia de Jonas na medida em que ele promove uma reflexão profunda na busca por uma causa final que possa fundamentar eticamente a ação humana. Pretende-se sublinhar esse ponto na teoria da responsabilidade de Jonas porque, se bem explorado, acredita-se que ele pode suscitar novas possibilidades de fundamentação ética e de enfrentamento à temática atual que versa sobre os efeitos e os limites do avanço tecnológico humano sobre o meio ambiente. Questiona-se inicialmente se o homem está autorizado, no uso de sua liberdade e de seu poder tecnológico, a alterar o meio ambiente a tal ponto de colocar a vida futura em risco. A resposta parece simples, mas, sua fundamentação é complexa e requer de Jonas um apelo à metafísica. O filósofo defende a tese de que a vida tem valor em si mesma, portanto, é um bem que deve ser preservado. Para o autor, o esforço e o desejo dos seres vivos para se manterem na existência são algumas das evidências de que a vida é um bem valoroso. Ao longo de sua argumentação, Jonas faz uma crítica às noções de causalidade postuladas pelos filósofos modernos Immanuel Kant e David Hume. Distintamente desses dois pensadores, ele acredita que

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(1) a consciência humana é incapaz de interpretar e entender a causalidade e que (2) esse fenômeno tem a sua origem em um fato natural. Do ponto de vista do pensamento biológico filosófico fenomenológico jonaseano, expresso em O princípio vida: fundamentos para uma biologia filosófica, não cogitar a existência de causas naturais é um erro. Hume, em Tratado da natureza humana defende que a causalidade é contingente e que o homem apreende e estabelece mentalmente as relações de causa e efeito através do hábito e da experiência. Kant, em sua obra Crítica da razão pura, na Segunda analogia da experiência, assim como Hume, também afirma que a causalidade é uma determinação da mente, porém, dada a priori, pelo entendimento racional e não pelo hábito. Jonas vai refutar essas duas versões e defender que a causalidade está condicionada a um fim da natureza e não à uma experiência da percepção ou à uma razão dada a priori e, por isso, ela ocorre através de uma relação necessária. Nesse ponto, pretende-se aprofundar a noção jonaseana de que a causalidade se mostra ao homem forçosamente através dos sentidos e não da observação. Se assim for, pode-se concluir que o homem, no exercício de seu poder e diante de sua condição ontológica - como ser vivo de maior grau de subjetividade e de liberdade - deve atender ao sentimento de responsabilidade que surge, antecipadamente à sua ação, a partir de um chamamento da natureza que se impõem com vistas à perpetuação da vida. Palavras-chave: Causalidade. Meio ambiente. Necessidade. Liberdade. Ética da responsabilidade. Referências bibliográficas BARRA, E. S. O. As Duas Respostas de Kant ao Problema de Hume. Princípios: Revista de Filosofia (UFRN), Natal, v. 9, n. 11-12, p. 145-178, 2 out. 2010. Disponível em:

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POPPER: QUO VADIS NOSSA SOCIEDADE DEMOCRÁTICA?

Francisco da Costa PUCPR Mestrando em Filosofia francesco.ftby@gmail.com

Quo vadis (latim): para onde vai nossa sociedade democrática? Tomamos como base de nosso trabalho a análise da indagação acima escrita, que possui como objetivo analisar o significado da democracia no pensamento filosófico de Karl Popper (1902-1994). A referência principal desta indagação será extraída da obra A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos (1945), o texto pode apresentar dois objetivos: o primeiro é uma indagação de sua originalidade, proveniente do tempo passado, onde Popper nos responderá que a sociedade democrática veio de uma transição da sociedade fechada (tribal). No capítulo 10 desta referência, Popper descreve: “Nossa civilização ocidental teve origem com os gregos. Foram eles, os primeiros a dar o passo do tribalismo para o humanitarismo” (POPPER, 1973, p.187). Ficou claro que a transição da sociedade fechada para a aberta pode ter sido descrita como uma das maiores revoluções pelas quais passou a humanidade (POPPER, 1973, p.191). A sociedade aberta é uma conquista da civilização, que corresponde ao sistema concebido e praticado pelo homem maduro, que recusou ser tratado como criança pelo Estado, aceitando todas as suas responsabilidades, entre as quais inclui não apenas direitos, mas também deveres, e reconhece a impossibilidade do paraíso terrestre e desdenha das utopias socialistas. Ao pensar

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sobre a passagem da sociedade fechada para a sociedade aberta, Popper apresenta três etapas primordiais: o reconhecimento da racionalidade, a superação da necessidade emocional, e a aceitabilidade das responsabilidades individuais (SOUZA; VALLE, 2017, p. 8). No segundo objetivo da obra, o autor perguntaria acerca do progresso e da futurologia. Sobre o último, Popper sustenta dizendo, para que haja a sociedade democrática (aberta), se faz necessário, em primeiro lugar, o embasamento em “O sistema Legal e Social”, isto é, o Estado deveria construir as instituições legais e sociais, para que pelas quais os cidadãos, de modo especial os fracos economicamente, pudessem ser protegidos e garantidos pela Lei dos abusos dos fortes exploradores. Numa entrevista a Frank Stark, Popper retoma a sua abordagem sobre “O sistema legal e social” (POPPER, 2020, p.141159) e apresenta as características para uma sociedade aberta, presumidamente em dois pontos importantes: primeiro, que seja possível discutir livremente em uma sociedade e que a discussão exerça uma influência na política, segundo, que existam instituições para a defesa da liberdade e dos fracos (POPPER, 1981, p. 51). Portanto, as democracias sempre estão abertas às ideias, especialmente às da oposição. Longe de serem ditaduras encobertas, as democracias estão sempre dispostas a duvidarem de si mesmas. No entendimento popperiano, a discussão livre consiste na luta crítica das ideias que perpassam na sociedade. Todos querem ser protegidos e garantidos pela lei para viver livremente e em sociedade. O ideal da sociedade aberta é a construção das instituições democráticas, legais-sociais e a importância da liberdade de discussão. Estes elementos são essenciais para o progresso, da preservação e da futurologia no sistema político: a democracia. Nas quais, o Estado será capaz de controlar e limitar a libertinagem dos governos totalitários, com a atuação de homens capazes, justos e críticos na liderança. Palavras-chave: Karl Popper. Democracia. Sociedade Democrática. 93


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Referências bibliográficas

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ANÁLISE PSICOSSOCIAL SOBRE A INFLUÊNCIA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA SUBJETIVDADE NO SUJEITO CONTEMPORÂNEO

Guilherme Almeida de Lima PUCPR Mestrando em Filosofia guialmeidadelima@gmail.com

Considera-se as inovações tecnológicas como a potência que caracteriza uma terceira revolução industrial, fenômeno assim denominado devido as contribuições sofisticadas das evoluções em diversos campos, como a informática, microeletrônica, bioenergética, nanotecnologia, inteligência artificial, entre outros. A mudança no panorama social e subjetivo, nesse 94


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sentido, é decorrente dessa transfiguração paradigmática, uma vez que a tecnologia se insere no contexto político-econômico como um determinante das modificações atribuídas às relações de organização de trabalho, influenciando a díade homem-natureza. Justifica-se a presente pesquisa na análise do teor evolucionário da inteligência artificial aplicado à subjetividade do sujeito contemporâneo e suas implicações na concepção de existência moderna, no qual modifica os comportamentos que coexistem em relação ao panorama tecnológico na área da saúde, por exemplo. Decorrente da imersão da tecnologia nos diversos meios do cotidiano, contemplando a saúde, educação e trabalho, pode-se conduzir à um raciocínio lógico fundamentandose na teoria das representações sociais, ou seja, sob o viés psicossocial é possível observar e identificar a articulação comportamental de como os indivíduos de uma sociedade compartilham a concepção de tal fenômeno. Desse modo, considerando a constituição do fenômeno tecnológico e sua rede interdisciplinar, é possível relacioná-lo à saúde por meio das percepções e manifestações psicossociais que os sujeitos dela terão, utilizando como referencial teórico a teoria das representações sociais proposta por Serge Moscovici, psicólogo francês do Século XX. Fundamentando-se, então, nas abordagens psicossociais, busca-se estabelecer os constituintes das representações sociais, ou seja, o conjunto de significados e concepções que os sujeitos utilizam para contemplar o fenômeno tecnológico. Percebe-se, como resultado, que um determinado fenômeno efetivará a articulação da conduta em um meio cultural, no qual a tecnologia surge como um determinante de concepções e interpretações em relação à mesma, conduzindo à constituição de vários símbolos, imagens, categorias e conceitos elaborados socialmente, repercutindo nas esferas sociais, culturais, econômicas, políticas e sobretudo, subjetivas. As abordagens psicossociais são de extrema importância no âmbito psicológico, uma vez que concebe o fenômeno sujeito-sociedade como duas esferas intrinsecamente vinculadas. Além disso, visto que a teoria das 95


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representações sociais emerge como um método de pesquisa nas abordagens psicossociais, torna-se possível estabelecer um elo entre os comportamentos em relação ao desenvolvimento tecnológico, exclusivamente dos equipamentos e instrumentos advindos da inteligência artificial, induzindo às reformulações conceituais no imaginário social (coexistência de um conjunto de informações socialmente articulados) de uma sociedade e que impactam a subjetividade. Observa-se que vários são os fenômenos subjetivos decorrente do desenvolvimento do panorama tecnológico, uma vez que incita à sentimentos e emoções diversas: adoração, estranhamento, medo, curiosidade, expectativa e o questionamento acerca de sua finalidade. Desse modo, por meio de uma interação dialética, os agentes sociais transfiguram o conceito da tecnologia, alterando seu modo de concebê-la e de interpretá-la, conduzindo à uma reconfiguração nas relações interpessoais, uma vez que o fenômeno tecnológico está imergido nos diversos meios de comunicação. Palavras-chave: Subjetividade. Tecnologia. Contemporaneidade. Sociedade.

Referências bibliográficas

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TÉCNICA, CONDIÇÃO HUMANA E MUNDO COMUM: ENTRE HANNAH ARENDT E GILBERT SIMONDON Heloisa Helena Schmaedecke PUCPR Doutoranda em Filosofia schmaedeckepucheloisa@gmail.com O presente trabalho tem por objetivo esboçar um diálogo entre a perspectiva arendtiana e simondoniana, a fim de lançar luz sobre as possibilidades de relação entre técnica, condição humana e mundo. Em A Condição Humana (1958) Arendt analisa as três atividades que correspondem às condições de possibilidade da existência humana: trabalho, fabricação e ação. Arendt diagnostica a supremacia da atividade do trabalho na modernidade sobre as demais atividades da vida activa e as consequências danosas da interpretação da fabricação sob o modo do trabalho para a continuidade e preservação de um mundo comum. Já Simondon debruça-se sobre a técnica e a tecnologia trazendo à luz em Do modo de existência dos objetos técnicos (1958) o aspecto relacional dos objetos técnicos cujo processo de individuação e concretização é capaz de criar novas realidades, novos mundos. Arendt e Simondon recusam uma visão substancial do humano e denunciam como o modo do trabalho transfigura a relação com a obra (Arendt), com os objetos técnicos (Simondon). Se por um lado, a visão de Arendt sobre a técnica moderna – a fabricação regida pela categoria do processo –, diferentemente de Simondon, é crítica, por outro, a autora afirma que tudo que toca a vida humana transforma-se em condicionante desta vida e, portanto, a técnica não está aí excluída como se fosse estrangeira, alheia ao humano. Simondon, por sua vez, alerta para o fato de que uma visão alienada da técnica, uma cultura que exclui a técnica é perniciosa: ela obscurece aquilo que é humano nos objetos técnicos, que é da ordem da

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invenção, da concretização e que, portanto, é capaz de criar novas realidades e novas relações. Consideramos, pois, que colocar em diálogo o pensamento de Simondon e de Arendt longe de ressaltar uma tensão irreconciliável traz à luz uma complementariedade, por assim dizer, divergente muito profícua para refletirmos sobre novas possibilidades de relação entre técnica, condição humana e mundo. Palavras-chave: Técnica. Condição Humana. Mundo. Arendt. Simondon. Referências bibliográficas ARENDT, H. A condição humana. Tradução de: Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. _________. Trabalho, obra e ação. In: Hannah Arendt e a condição humana. Org. Adriano Correia. Tradução de: Adriano Correia. Salvador: Quarteto, 2006b, p. 341-368. CRAIA, E; GIRALDO, F. Da racionalidade tecnologia a partir de la ontologia de la técnica em Simondon. Pensando. Revista de filosofia, vol 11, n. 23, 2020. Disponível em: https://revistas.ufpi.br/index.php/pensando/article/view/11179. Acesso em 08/2021. LOEVE, S. Technique, travail et anthropologie chez Arendt e Simondon, Cahiers Simondon, 2011, p. 31-49. Disponível em: https://www.academia.edu/9185090/Technique_travail_et_anthropologie_chez_Arendt_et_Simondon. Acesso em: 08/2021. OLIVEIRA, D. A técnica como modo de existência em Gilbert Simondon: tecnicidade, alienação e cultura. Dois pontos: revista do departamento de Filosofia da UFPR e da Universidade Federal de São Carlos, vol 12, n.1, p 83-98, abril, 2015. SIMONDON, G. El modo de existencia de los objectos técnicos. Buenos Aires, Prometeo, 2007.

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MITOFÍSICAS: QUESTÕES PARA O FIM DO MUNDO Hugo Renan Pizzato PUCPR Graduando Direito hugopizzato@gmail.com Trata-se aqui no aprofundamento no conceito de mitofísica desenvolvido em contraposição à metafísica tradicional no texto Há mundo por vir? Ensaio sobre os meios e os fins (2015) Da filósofa Deborah Danowiski e do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro. Compreendendo a reflexão sobre a nova era geológica chamada de Antropoceno, e as indagações sobre o fim do mundo, ligando este termo a uma crítica e a uma retomada, das proposições levantadas por Levi-Strauss (1908 – 2009), em O pensamento Selvagem (1969), de levar a sério as perspectivas dos pensadores indígenas, isto se trata de observar o conceito de mitofísica relacionando-o as considerações dos pensamentos das “sociedades quentes”. Compreendemos que este conceito significa o encontro de mundos que foram ontologicamente distintos, mas que hoje retornam em um misto de natureza e cultura. As reflexões escatológicas se misturam aos mitos que narram o fim do mundo enquanto operam em um caráter imaginativo, na proporção em que às ciências empíricas que expõe com impotência – pelo menos nove motivos –, para o final do mundo como conhecemos. A filosofia sempre olhou para o mito com estranhamento, entretanto, sempre teve que recorrer a ele para representar e dar sentido a muitas de suas noções. O problema da catástrofe é algo que aparece tardiamente — talvez já seja tarde demais para enfrentar ou recuperar-nos da catástrofe — mas é certo que o “apocalipse” é uma narrativa imaginária, pelo menos até que ocorra. Para realizar uma reflexão efetiva sobre o fim dos tempos é necessário reorganizar nosso sistema ontológico, de maneira que não separemos mais

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natureza e cultura, ou ciência e política, quando falamos sobre o fim do mundo falamos das exigências políticas da terra, ou seja, a natureza não está mais em um campo em que é dominada pelos seres humanos, ela não é mais isolada nos laboratórios sendo observada e medida pelos cientistas. Quando os seres humanos se vêm massacrados pela natureza através de um vírus, da explosão vulcânica, do aumento das temperaturas, veremos uma natureza atuando como sujeito político, exigindo seu lugar na cultura e isto muda ontologicamente nosso mundo. É certo que, tudo o que falamos sobre o fim do mundo antes que ele ocorra é fabulação, imaginação, ou mito, entretanto, são essas narrativas que nos orientam na procura por compreender esse fenômeno, a mitofísica é uma fabulação real que, aos poucos, podemos observar seus efeitos e hoje já conseguimos imaginar de fato, a maneira de Hollywood, o apocalipse, a fome, os desabrigados, as mudanças climáticas acentuadas conforme o passar do tempo. Isto alimenta a nossa imaginação em relação modo como o mundo vai acabar, também as preocupações com nossa vida futura, trazendo à tona novas relações de afetos, políticas, jurídicas, filosóficas e antropológicas. Palavras-chave: Antropoceno. Mitofísica. Perspectivismo. Fim do mundo. Pensamento selvagem. Referências bibliográficas CASTRO, Viveiros de. Metafísicas canibais: Elementos de uma antropologia pós estrutural. São Paulo: Cosac Naif, 2015. _____. 2016. “Metaphysics as mythophysics, or, why I have always been an anthropologist”. In: P. Charbonnier, G. Salmon & P. Skafish (eds.). Comparative Metaphysics: Ontology After Anthropology. London: Rowman & Littlefield International, 2016, pp. 249-273. LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem.12ª edição, Campinas: Papirus, 2012. 101


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A PARTEIRA, O MOSCARDO, A ARRAIA ELÉTRICA: SÓCRATES COMO O PARADIGMA DO CIDADÃO REFLEXIVO SEGUNDO HANNAH ARENDT Lara França da Rocha UFC Doutoranda em Filosofia larafr87@gmail.com Apesar de aparecer como discussão transversal em outras obras e escritos de Hannah Arendt, foi em A vida do espírito que o pensamento se fundamentou como objeto central de investigação. Após constatada a influência que os diálogos platônicos exerceram na conceitualização feita por Arendt do pensamento como o dois-em-um, o diálogo entre eu e eu mesmo, no final do capítulo dedicado a esta atividade, a partir da figura de Sócrates e de uma leitura exegética dos diálogos platônicos, a autora comprova sua hipótese inicial: a defesa de que o pensamento não se reduz a uma atividade meramente contemplativa, abissalmente desassociada dos assuntos políticos, ou ainda o fruto unívoco da meditação, mas que, ao contrário, possui importância fulcral para a preservação da esfera pública. Assim, se a formação de cidadãos-reflexivos seria o maior bem que 102


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Sócrates poderia legar para a polis, por outro lado a conformação social e a irreflexão tornadas correntes seriam a maior ameaça para a política – cuja inspiração para a própria concepção da obra, o burocrata nazista Adolf Eichmann, comprova esta tese. Então, seguindo a trajetória proposta pela autora sobre a figura de Sócrates contida na obra supracitada e defendida em outros textos, como A dignidade da política, nos seus Diários filosóficos e Responsabilidade e julgamento, e corroborada por comentadores como Adriano Correia, Catherine Valeé e Richard Bernstein, a conferência arrazoará sobre a importância da figura de Sócrates para a conceitualização arendtiana do pensamento. A hipótese que justifica este recorte defende que antes da temática desvelar a interpretação de Arendt sobre os diálogos platônicos responsáveis por pintar o retrato de Sócrates que conhecemos, situa-se na posição privilegiada que permite considerar o filósofo grego como o paradigma do cidadão que possui como habitus refletir sobre o que presencia na esfera pública, além de apontar para algumas características desta atividade. Para fundamentar tal argumentação, a conferência se dividirá em duas partes principais. Inicialmente exporemos, a partir dos autorretratos de Sócrates presentes nos diálogos Apologia de Sócrates (como moscardo), no Teeteto (como parteira) e no Mênon (como arraia-elétrica), porque Arendt identificou no filósofo a metáfora ideal do ego pensante. A seguir, a partir de duas afirmações contidas no Górgias, “é melhor sofrer o mal do que o cometer” (469d-e) e “é melhor estar em desacordo com a multidão do que, sendo um, estar em desacordo comigo mesmo” (482b) apontaremos como é possível, a partir de Sócrates, indicar um elogio à pluralidade e constatar que a conduta dos homens se relaciona basilarmente com a relação que eles estabelecem consigo mesmos. Nesse tocante, identificaremos, pari passu com Arendt, como o filósofo grego pode auxiliar nos direcionamentos consequentes da atualíssima questão: com que outro eu desejo conviver?

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Palavras-chave: Pensamento. Sócrates. Hannah Arendt. Doisem-um. Outro-eu. Referências bibliográficas ARENDT, Hannah. A dignidade da política. Tradução de Helena Martins et. al. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1993. ARENDT, Hannah. A promessa da política. Tradução de Pedro Jorgensen Jr. 6ª ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2016. ARENDT, Hannah. A vida do espírito. Tradução de Cesar Augusto de Almeida, Antônio Abranches e Helena Martins. 4ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. ARENDT, Hannah. Compreender. Formação, Exílio e Totalitarismo. Tradução de Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. ARENDT, Hannah. Diários filosóficos. Tradução de Raúl Gabás. Barcelona: Herder Editorial, 2006. ARENDT, Hannah. Homens em Tempos sombrios. Tradução de Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. ARENDT, Hannah. Responsabilidade e julgamento. Tradução de Rosaura Einchenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. ASSY, Bethânia. Ética, responsabilidade e juízo em Hannah Arendt. São Paulo: Perspectiva, 2015. BERNSTEIN, Richard. Arendt on thinking. In: VILLA, Dana (Org.). The Cambridge Companion to Hannah Arendt. Cambridge: Cambridge University Press, 2006. CANOVAN, Margaret. Hannah Arendt. A reinterpretation of her political thought. New York: Cambridge University Press, 1992. CORREIA, Adriano (Org.). Transpondo o abismo. Hannah Arendt entre a filosofia e a política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002. DEUTSCHER, Max. Judgment after Arendt. Hampshire: Ashgate, 2007. 104


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BIOPOLÍTICAS AFIRMATIVAS: UMA ANÁLISE A PARTIR DO MODO DE VIDA QUILOMBOLA Isabela Simões Bueno UFPR Mestranda em Filosofia contato@isabelabueno.com.br A presente comunicação almeja investigar o conceito de biopolítica afirmativa, na esteira do pensamento de Esposito (2017) e Lemm (2020), a partir do modo de vida quilombola enquanto resistência e alternativa às políticas de morte e genocídio em curso no Brasil desde a colonização. Conforme enfatizado por Bispo (2015), o quilombo, que outrora figurou na legislação brasileira como denominação de uma organização criminosa, com o advento da Constituição Federal de 1988 reaparece como uma organização de direito a partir da reivindicação dos sujeitos quilombolas. Assim o é, vale destacar, pelo êxito da resistência daqueles que usaram subverter a ordem político-jurídica da plantation e a colonialidade do poder que persiste até os dias de hoje. A visão quilombola, além opor-se à política que instrumentaliza a vida, parece apresentar uma possibilidade de construção de biopolíticas afirmativas: ao resgatar "a memória e a atitude de quem resistiu à assimilação forçada dos negros escravizados na Colônia e no Império e dos negros libertos na República racista" (2015, p. 11), traz à tona uma alternativa. Bispo a narra através de sua escrita biográfica enquanto quilombola e baseado no modelo de biointeração, o qual é descrito como uma possibilidade de convivência harmoniosa entre diversos povos humanos e outros que humanos. A elaboração do pensamento negro e quilombola, bem como a ressignificação de conceitos como os de "quilombo" propostas por tais comunidades, demonstra que, se podemos versar sobre políticas de morte

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e de extermínio, também podemos – e devemos – versar sobre políticas de vida e políticas afirmativas. Palavras-chave: Biopolítica. Roberto Esposito. Michel Foucault. Quilombos. Colonialidade. Referências bibliográficas DUARTE, André. De Michel Foucault a Giorgio Agamben: a trajetória do conceito de biopolítica. In: Ricardo Timm de Souza; Nythamar Fernandes de Oliveira. (Org.). Fenomenologia Hoje III - Bioética, biotecnologia, biopolítica, Porto Alegre: Editora da PUCRS, 2008, v. 3, p. 63-87. ESPOSITO, Roberto. Bios: biopolítica e filosofia. Belo Horizonte: UFMG, 2017. FOUCAULT, Michel. Em Defesa da Sociedade. Tradução: Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2005. FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de saber. São Paulo: Paz e Terra, 2015a. GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Racismo e Antirracismo no Brasil. São Paulo: 34, 1999. LEMM, Vanessa. Nietzsche e a biopolítica: quatro leituras de Nietzsche como pensador biopolítico. Estudos Nietzsche, Espírito Santo, v. 11, n. 2, p. 182-205, jul./dez. 2020. MBEMBE, Achille. O Fardo da Raça. Coleção Pandemia. Trad. Sebastião Nascimento. São Paulo: n-1 edições, 2018b. MBEMBE, Achille. Necropolítica. Arte e Ensaios, Rio de Janeiro, n. 32, p. 123-151, dez. 2016. MBEMBE, Achille. Políticas da inimizade. Lisboa: Antígona, 2017. QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005.

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SANTOS, Antônio Bispo dos. Colonização, quilombos, modos e significados. Brasília: INCTI/UnB, 2015.

O ENCONTRO DA ANTROPOLOGIA DE EDUARDO VIVEIROS DE CASTRO E A FILOSOFIA DE GILLES DELEUZE

Iziquel Antonio Radvanskei PUCPR Doutorando em filosofia iziquel.antonio@pucpr.br

Este trabalho tem como objetivo discutir o conceito de "Rizoma" de Gilles Deleuze e Felix Guattari (1995) e sua articulação com o "Perspectivismo" de Eduardo Viveiros de Castro (2018). Nesse sentido, propõe um diálogo possível e necessário entre a filosofia e a antropologia para o entendimento de novas formas de subjetivação na sociedade contemporânea. Além disso, busca promover novos aportes epistemológicos para a discussão das ontologias dos povos originários brasileiros e combater o epistemicídio promovido por uma concepção de mundo limitadora. A discussão centra-se nas obras escolhidas de Gilles Deleuze e Felix Guattari: "Introdução de Capitalismo e esquizofrenia" (2008) e comentadores como F. Zourabichvili (2016) e A. Gualandi (2003); e de Eduardo Viveiros de Castro: Metafísicas Canibais (2018) e A inconstância da alma selvagem (2017), entre outras pesquisas desse autor. O conceito de Perspectivismo, criado por Eduardo Viveiro de Castro e Tânia Stolze, é oriundo do encontro etnológico com os povos amazônicos. A visão perspectivista dos povos indígenas não permite uma separação da natureza humana na superfície do mundo: a humanidade está 108


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nos humanos e nos animais, assim, amplia-se o conceito de humanidade para os terranos. O perspectivismo, neste aspecto, é a possibilidade da ampliação de sociedades e a ampliação do mundo conhecido. Percebe-se que o perspectivismo aponta possibilidades de uma ontologia diferencial presente nos estudos de Gilles Deleuze e que se revela a partir de uma abordagem rizomática, uma abordagem imanente, geradora de infinitas possibilidades de entendimento dos encontros entre humanos e terranos. Uma característica do rizoma é permitir múltiplas entradas e, a partir deste conceito emprestado da botânica, discute-se a possibilidade de multiplicação de subjetivações em um plano de superfície. O encontro entre rizoma e perspectivismo revela a possibilidade de novos desenhos de mundo, os encontros imanentes são geradores de novos mapas. A nova Cartografia rizomática e perspectivista, pode repensar a geografia das subjetivações no planeta. Palavras-chave: Rizoma. Perspectivismo. Deleuze. Viveiros de Castro.

Referências bibliográficas DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Trad. R. Machado e L. Orlandi. Rio de Janeiro: Graal, 2009. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, vol. 1 [tradução de Aurélio Guerra e Célia Pinto Costa]. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995a. GUALANDI, Alberto. Deleuze. São Paulo: Estação Liberdade, 2003. STOLZE, Tania. O dois e seu múltiplo: reflexões sobre o perspectivismo em uma cosmologia tupi, MANA 2(2):21-47, 1996. VIVEIROS de CASTRO, E. Araweté: os deuses canibais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1986.

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___________ Metafisicas Canibais: elementos de antropologia pós-estrutural. São Paulo: Cosac Naify, 2015. ___________ Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. Mana. Estudos de antropologia social, v.2 nº2, pp. 115-144. 1996. ___________ Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena. O que nos faz pensar, n. 18, p. 225-254, set. 2004. ZOURABICHVILI, François. Deleuze: uma filosofia do acontecimento. Tradução e prefácio de B. L. Orlandi. São Paulo: Editora 34, 2016. ____________ O vocabulário de Deleuze. Tradução André Telles Rio de Janeiro, 2004.

DEUS É MÃE: A VISÃO EM DEUS COMO RESPOSTA AO PROBLEMA DA COMUNICAÇÃO ENTRE AS DIMENSÕES SUBJETIVA E OBJETIVA

Jeferson da Costa Vaz PUCPR Doutorando em Filosofia jeferson.2004_@outlook.com

O presente trabalho tem o de objetivo investigar como Malebranche pensou o vínculo entre a alma e Deus, no intento de dar conta do problema cartesiano acerca da heterogeneidade entre as substâncias pensante e material. Nossa hipótese é a de que, ao invés de ter pensado esta relação nos moldes de um parasitismo, como sugeriu Pricladnitizky (2015), especialista precursor nos estudos malebrancheanos no Brasil; ele a pensou tal como a relação de uma criança nascitura na barriga de sua mãe. 110


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Ao propor que « nous voyons toutes choses en Dieu », Malebranche sugere que nossa experiência com a realidade é mediada por Deus, apresentando assim um realismo indireto, que parte do princípio de que dependemos de Deus para estabelecer uma relação epistêmica com o mundo. O padre oratoriano argumenta que não podemos ver o mundo material, mas apenas as ideias deste mundo em Deus. Visão em Deus, não é visão de Deus e tampouco visão mediante Deus. A preposição indica que o sujeito epistêmico está situado em Deus, e vê nele as ideias que permitem as sensações. Tal situação se desenha tal como na relação entre uma criança nascitura e sua mãe gestante – segundo o entendimento de Malebranche. Ao refletir sobre as influências das experiências sensíveis de uma mãe, no/a bebê que se acomoda em seu ventre, Malebranche sugeriu que “[…] as mães são capazes de imprimir em suas crianças todos os mesmos sentimentos pelos quais elas são tocadas e todas as mesmas paixões pelas quais elas são agitadas” (MALEBRANCHE, 1837, p. 53), de modo que “[...] as paixões e os sentimentos [do bebê], e geralmente todos os pensamentos cujo corpo é a ocasião, são comuns à mãe.” (MALEBRANCHE, 1837, p. 53). Assim, as ocorrências do corpo são as ocasiões para que a mãe veja uma ideia e, ao vê-la, imprima estas ideias no cérebro do bebê, fazendo com que assim o bebê veja tais ideias na mãe. Da mesma forma, ao pensar o ocasionalismo Malebranche sugere que a ocasião corpórea, ou seja, a ocorrência de um fenômeno no âmbito da matéria, não é percebida pelo sujeito; porém, tal ocasião faz com que Deus imprima determinada ideia no sujeito, a fim de que ele tenha uma sensação em Deus. Deus estaria, neste sentido, para o sujeito assim como a mãe estaria para a criança nascitura. Tal como a criança que está na mãe e, por isso mesmo, têm experiências sensíveis em sua mãe; nós teríamos as experiências sensíveis em Deus. Para cumprir com nossa meta geral, dividimos este trabalho em três partes, cada qual com um objetivo específico. Na primeira delas a nossa intenção é discutir como Malebranche estabelece sua doutrina da Visão em Deus, para 111


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compreender sob quais pressupostos ele sustenta esta tese. No segundo momento, o objetivo é debater a relação entre mãe e nascituro na compreensão do filósofo, para examinar como a suposta experiência sensível do bebê ocorre no ventre de sua mãe. Por fim, nosso intento é estimar as possíveis semelhanças entre a experiência sensível ocorrida na relação entre mãe e criança nascitura e tal experiência na relação entre ser humano e Deus. Com isso, pretendemos sustentar a hipótese de que, ao invés de ser pensado como hospedeiro de um parasita, Deus pode ser pensado como uma mãe. Palavras-chave: Subjetividade. Visão em Deus. Sujeito. Objeto. Malebranche.

Referências bibliográficas MALEBRANCHE, Nicolas. A busca da verdade (textos escolhidos). 1ªed. São Paulo: Discurso editorial, 2004 _______. Entretiens Métaphysique. In : SIMON, Par M. Jules (org). Œuvres de Malebranche. Paris : Charpentier, 1846, p. 39-78 ; 142-165. _______. Méditations chrétiennes et métaphysiques. In : SIMON, Par M Jules (org). Œuvres de Malebranche. Paris : Charpentier, 1871, p. 63-92. _______. Recherche de la Vérité. (L’Entendement ; Des inclinations ; Des Passions) In : MM. de Genoude ; Lourdeux (org). Œuvres complètes. Paris : Libraire de Sapia, 1837, p. 93-199. _______. Traité de la Nature et de la Grace. Roterdã: Reinier Leers, 1712, p. 197-224. MONZANI, Luiz Roberto. Desejo e prazer na idade moderna. 2ªed. Curitiba: Champagnat, 2011. PRICLADNITZKY, Pedro Falcão. A natureza das ideias segundo Nicolas Malebranche. Controvérsia, São Leopoldo, v. 11, n. 02, p. 83-90, mai.-ago. 2015. 112


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COGNIÇÃO ANIMAL E QUESTÕES ÉTICAS Jessyca Eiras Jatobá Santos Unesp/Marília Mestranda em Filosofia jessycaeiras@gmail.com O objetivo do presente trabalho é analisar o viés ideológico de análises sobre cognição animal e suas implicações éticas. Em primeiro lugar, investigaremos como a tese de predominância da espécie humana em relação ao restante dos animais se funda em uma suposta superioridade cognitiva, que não se daria em termos de grau, mas de diferença de natureza. Em segundo lugar, investigaremos como essa tese se constrói culturalmente, infiltrando-se, inclusive, na produção científica, separando a espécie humana dos animais não humanos, sendo as éticas antropocêntricas excludentes derivadas dessa construção. Buscamos neste trabalho novas perspectivas sobre cognição que possam levar a uma visão ética mais inclusivas, ressaltando que o antropocentrismo ético excludente tem, principalmente o propósito de camuflar interesses de dominação. Pesquisamos como se constrói a ideia de predominância humana em sua origem cultural e em como ela se infiltra na metodologia científica, marcando a cisão entre formas de existência animal: a humana e a não-humana. Buscando ressaltar o fato de que tal concepção é ideológica. Apresentamos alternativas à forma dominante de compreensão da cognição, em especial em relação aos conceitos de consciência e autoconsciência, na medida em que eles são determinantes para inclusão ou exclusão de seres da esfera ética – tanto em relação às suas habilidades sociais/morais, quanto em no que diz respeito às considerações éticas que teremos em relação à esses seres. Ressaltamos compreensões da dimensão ética que não partam de conceitos à priori excludentes e que, partindo da experiência e do fato de que

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empatizamos com animais, Tragam uma perspectiva mais afinada com estudos neurobiológicos e evolucionários. Apresentamos uma elaboração teórica para a forma como a ideologia que exclui animais de considerações éticas se sustenta e se mantém tão persistente a despeito de todo o conhecimento que tem se desenvolvido sobre a cognição de animais não humanos, que torna cada vez menos cindido o universo animal, humano e não humano. Palavras-chave: Cognição animal. Antropocentrismo. Antropomorfismo. Empatia. Referências Bibliográficas ADAMS, C., J. A política sexual da carne: relação entre o carnivorismo e a dominância masculina. São Paulo: Alaúde, 2012. ADES, César. Para além da dicotomia inato-aprendido. Ribeirão Preto: Associação Brasileira de Psicologia, 2018. ALLEN, Colin & TRESTMAN Michael. "Animal Consciousness", The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Winter 2017 Edition), Edward N. Zalta (ed.), URL = <https://plato.stanford.edu/archives/win2017/entries/consciousness-animal/>. ALLEN, Colin & BEKOFF Marc, 1997, Species of Mind: The Philosophy and Biology of Cognitive Ethology, Cambridge, MA: MIT Press. ADREWS, Kristin, "Animal Cognition", The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Summer 2016 Edition), Edward N. Zalta (ed.), URL = <https://plato.stanford.edu/archives/sum2016/entries/cognition-animal/>. _____, 2018, “Do Apes Attribute Beliefs to Predict Behavior?: A Mengzian Social Intelligence Hypothesis”, The Harvard Review of Philosophy, 25: 89–110. doi:10.5840/harvardreview201892117

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Sujeito e Identidade Pessoal: estudos de filosofia da mente, 1, 95-112. GOODALL, J. Reasons for Hope. New York:Warner Books, 1999. HUME, D. Investigações sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral. (Tradução de José Oscar de Almeida Marques) São Paulo: Editora UNESP, 2004. HUME, D. Tratado da Natureza Humana. (Tradução Serafim da Silva Fontes). Lisboa: Fundação Calouste GulbenKian, 2001. HUME, D. Tratado da Natureza Humana: uma tentativa de introduzir o método experimental de raciocínio nos assuntos morais. (Tradução Débora Danowski) São Paulo: Editora UNESP, 2009. HUME, D. Uma Investigação sobre os princípios da moral. Campinas: Editora da UNICAMP, 1995 JOY, M. Porque amamos cachorros comemos porcos e vestimos vacas. São Paulo: Cultrix, 2014. JOY, M. Powerarchy: Understanding the psychology of oppression for social transformation. Oakland: Barret-Koehler Publisher, 2019. KLAUDAT, A. (2018) Motivação e valor em Hume e Kant. In:WILLIGES, F., & FISCHBORN, M. & COPP, D. O lugar das Emoções na Ética e na Metaética. Minas Gerais: Editora da UFPEL. pp 397 – 415. LUNARDI, G., M. Sinto logo decido: sensibilidade moral e normatividade na filosofia de Hume. Porto velho: EDUFRO, 2013. NACONECY C., M. Ética e animais: um guia de argumentação filosófica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006. PAIXÃO, R., L. Experimentação animal: razões e emoções para uma ética. [Doutorado] Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública; 2001. 189 p.

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PANKSEPP, J. (2004). Affective Neuroscience: The Foundations of Human and Animal Emotions. New York: Oxford University Press. ______. (2005). Affective consciousness: Core emotional feelings in animals and humans. Consciousness and Cognition, 14, 30–80. PANKSEPP, J. & SOLMS, M. (2012) The Id Knows more than the Ego admits: neuropsychoanalytic and primal consciousness perspectives on the interface between affective and cognitive neuroscience. Brain Sciences. Vol. 2, pp 147-175. PEPPERBERG, I., M. The Alex Studies: Cognitive and Communicative Abilities of Grey Parrots. Cambridge MA: Harvard University Press, 1999. ______. Alex e eu. Rio de Janeiro: Record, 2009. POLVINELLI, D., & VONK, J. (2003). Chipanzee minds: suspiciously human? Trends cognitive sciences, 7 (4), pp 157- 160. PRINZ, J., J. (2006) Is Emotion a Form of Perception. Canadian Journal of Philosophy, Vol. 36 Supplement [vol. 32], pp. 137160. ______. (2011). Is empathy necessary for morality? In: COPLAN, Amy e GOLDIE, Peter (Eds). Empathy: philosophical ans psychological perspectives. Oxford: Oxford University Press. ROGERS, J., L., Minds of their own: Thinking and Awareness in animals. United States of America: Westview Press, 1998. SANTANA, Heron José de. Espírito animal e o fundamento moral do especismo. Revista Brasileira de Direito Animal. v. 1, n.1, jan. 2006. Salvador: Instituto de Abolicionismo Animal, 2006. SILVA, D. C. M. & LOUREIRO M. F. (2008) Burnout em profissionais de enfermagem no contexto hospitalar. Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar, 6(1) 39-51. SILVA, J. O. M. Especismo: Porque os animais não humanos devem ter seus interesses considerados em igualdade de condições em que são considerados os interesses semelhantes de 118


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seres humanos. Ética: revista internacional de Filosofia da Moral, Santa Catarina, v. 8, n. 1, 2009. SINGER, P. Ética Prática. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. 2.a ed. São Paulo: Editora MartinsFontes, 1998. _________. Libertação Animal. Tradução de Marly Winckler. Ed.rev. - Porto Alegre, São Paulo: Editora Lugano, 2004. SOBER, E. (1998), “Morgan’s Canon”, in The Evolution of Mind, Denise Dellarosa Cummins and Colin Allen (eds.), New York: Oxford University Press, pp. 224–242. ______. (2005). Comparative psychology meets evolutionary biology: Morgan’s canon and cladistic parsimony. In: L. Dalston & G. Mitman (Eds.), Thinking with animals: New perspectives on anthropomorphism. New York: Columbia University Press. TRIGO, T. R., TENG, C T., & HALLAK, J. E. C. (2007) Síndrome de burnout ou estafa profissional e os transtornos psiquiátricos. Revista de Psiquiatria Clínica, 34(5), 223-233. WHITEHEAD H., & RENDELL, L. The cultural lives of whales and dolphins. Chicago and London: The university of Chicago press, 2015. WILLIGES, F. (2019). A atualidade e originalidade de Hume. Skepsis: Revista de Filosofia. Vol X (19), pp 30-46. ______. (2016) Abordagem sentimentalista em Ética: Histórico e perspectivas. In: WILLIGES, F., & SAUTER, K., T. Razão e emoção: ensaios em Ética normativa e Ética aplicada. Santa Maria: FACOS UFSM, pp 13-42.

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O SUJEITO NO PENSAMENTO FOUCAULTIANO: PERCURSOS ENTRE SABER, PODER E ÉTICA João Jânio da Silva Lira UFPE Mestrando em Filosofia joao.jlira@ufpr.br “O sujeito é uma variável, ou melhor, um conjunto de variáveis do enunciado” (DELEUZE, 2013, p. 64). Foucault empreendeu um modelo de investigação filosófica que o permitiu compreender as condições de possibilidades pelo qual o indivíduo/sujeito moderno passou a ser rotulado a partir dos processos de subjetivação no Ocidente. “Podemos dizer que o que ele pretendia era estudar as formas de constituição do indivíduo moderno” (PEZ, 2016, p. 1). Ao ser questionado sobre o “objeto de seu pensamento”, em uma entrevista em 1984, Foucault se posiciona quanto à noção de sujeito dentro de seus trabalhos. Para ele, mesmo embora tenha em diversas ocasiões formulado esse problema de maneira adversa, o que ele buscava era saber como o sujeito se relaciona com os “jogos de verdade” que o circundam (FOUCAULT, 1995). Esse problema, ademais, não se restringe às relações sujeito/instituição, mas também, e sobretudo, às relações de saber-poder que é onde se efetiva o caráter positivo do sujeito. No período da Arqueologia do saber o que está em análise é o sujeito como objeto que se forma e se transforma em relação mútua aos discursos ditos científicos; no segundo momento, denominado Genealogia do poder, Foucault se detém nas análises do poder e como ele atua através dos dispositivos disciplinares e dos mecanismos de regulação dos corpos; no seu último período de sua produção intelectual, denominado Genealogia da ética, Foucault se detém na "estética da existência”, conceito cuja reflexão direciona a noção de ética como “práticas de si” (FOUCAULT, 1984). Podemos notar, com

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isso, que a noção de sujeito é central nas análises de Foucault durante todo seu período de produção filosófica, mesmo que por vias distintas e com focos diferentes. Mas, como se estrutura o “deslocamento do sujeito” no pensamento foucaultiano? Como é possível em diferentes momentos o sujeito ser colocado como centralidade filosófica? Defendemos que isso só foi possível através da arqueo-genealogia, um caminho que é, ao mesmo tempo, um método e uma postura filosófica. Nosso objetivo aqui é a linearidade existente quando Foucault trata da questão do sujeito, observando a peculiaridade entre cada fase mencionada. Nosso foco se dirige a essa questão problematizando seu modelo arqueo-genealógico como postura filosófica. Este trabalho, portanto, propõe analisar o sujeito no percurso foucaultiano a partir da arqueogenealogia e apresentar como o tal conceito permite pensar a noção de sujeito moderno a partir das três fases do pensamento de Michel Foucault. Palavras-chave: Foucault. Arqueogenealogia. Sujeito.

Referências Bibliográficas DELEUZE, G. Foucault. Tradução Claudia Sant' Anna Martins; revisão da tradução Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Editora Brasiliense, 2013. FOUCAULT, M. O Sujeito e o Poder. In RABINOW, P; DREYFUS, H. Michel Foucault: uma trajetória filosófica. Para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. FOUCAULT, M. História da sexualidade II: o uso dos prazeres. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque; revisão técnica de José Augusto Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984. PEZ, T. D. P. A construção do sujeito em Michel Foucault. Entre Letras, v. 7, n. 1, p. 200 - 210, 30 out. Tocantins, Brasil, 121


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2016. Disponível em: <https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/entreletras/article/view/1488>. Acesso: 17 jun. 2021.

A QUEDA DO CÉU: UM ANTÍDOTO PARA O NIILISMO Jordão Vieira Carrijo PUCPR Graduando em Filosofia jordaovcarrijo@hotmail.com O presente trabalho busca compreender o operador conceitual niilismo, e pensar sua manifestação na cultura a partir da ação dos indivíduos. Entende-se que este operador não se consagra distante de nós, e que encontrar um indivíduo que se autodeclara niilista, talvez nunca tenha sido tão fácil, também que este termo não se aproxima de ideias positivas ou harmoniosas, mas muito pelo contrário, é visto como um sintoma da decadência da civilização ocidental. A partir disso, propõe-se a discussão da cosmovisão Yanomami apresentada por Davi Kopenawa (2015), como antídoto, a partir de outro operador conceitual, o perspectivismo, termo desenvolvido por Eduardo Viveiros de Castro e Tânia Stolze (2018). Este trabalho, ansia por um debate acerca de um possível antídoto, ou seja, uma reflexão que servisse de contraponto ao niilismo, a partir de uma interpretação desta cosmovisão Yanomami, já que, compreendendo o niilismo como um sintoma, é possível um debate entre onde supostamente estaria a "doença" causadora deste mal, e propor uma reflexão acerca dos Yanomami tendo como entrada para esta cultura tão rica, o perspectivismo proposto por Eduardo Viveiros de Castro e Tânia Stolze (2018), para entender a doença, analisando o conceito de niilismo. Esta pesquisa teve como objetivo identificar as faces do niilismo segundo uma

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ideia de narrativas proposta por Yurval Noah Harari (2018) e ao mesmo tempo realizar uma reflexão sobre o modo de vida atual, ansiando por abrir espaço para diferentes modos e expressões de ser, e diferentes interpretações da vida. Utilizando se de obras filosóficas e antropológicas, segundo os autores já citados, e outros como Georges Canguilhem (1966), que debate acerca do conceito de doença e patologia, e as discussões de Jelson Oliveira (2018). Os resultados apontam que vivemos em uma narrativa extremamente simplista (no sentido mais individual, que diz respeito as ações do indivíduo em relação a si e ao mundo) e repleta de uma interpretação niilista. E que o niilismo enquanto sintoma revela uma doença que reside em nossa narrativa atual, apresentada no texto, e enquanto operador conceitual ajuda a compreender melhor a realidade. Em contrapartida, os Yanomami enquanto outros, entendem o mundo a partir de seu conhecimento ancestral, que aparentemente não demonstra qualquer resquício de niilismo, uma vez que a partir dos estudos realizados, pode-se dizer que nunca houve para eles um deslocamento de sentido da vida e das coisas, pois segundo sua interpretação, viver significa cumprir seu papel natural de desempenhar sua função cosmológica. E talvez, a busca por um antídoto para o niilismo esteja atrelado a aprender ser, e aceitar as diversas expressões da vida. Compreendendo que a atual narrativa (liberal) rejeita expressões muito diferentes das que ela mesma cria, fazendo essa reflexão de forma que pudéssemos sair deste meio e nos libertássemos dessa visão unilateral. Palavras-chave: Doença; Narrativa. Niilismo. Perspectivismo. Yanomami. Referências bibliográficas ALVES, Rafael. Projeções da Terra-Floresta: O Desenho-imagem Yanomami. Laymet, 2014. Disponível em: 123


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<https://www.laymert.com.br/yanomami/> acesso em: dez. de 2020. CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. 7. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2011. HARARI, Yurval Noah. 21 lições para o século 21. Tradução de Paulo Geiger. –1ª ed. – São Paulo: Companhia das letras, 2018. KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Tradução de Beatriz PerroneMoisés. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. OLIVEIRA, Jelson R. Negação e poder: do desafio do niilismo ao perigo da tecnologia. Caxias do sul: Educs, 2018. PICELLI, Pedro. O Perspectivismo de Viveiros de Castro: Proposta de uma nova antropologia. Revista Alteridade, >, V. 2, n. 1, p.53/63, 2016. Disponível em: < https://testeprod.unimontes.br/alteridade/article/view/86>. (Acesso em 10/02/2021). VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafisicas canibais: elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Ubu Editora, 2018. NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. [S. l.]: Companhia de Bolso; Edição de bolso, 2012.

CIBER-BRICOLAJES DE SEGUNDO ORDEN ONTOLOGÍA DELEUZO-MARXISTA BASTARDA CONTRA EL ACELERACIONISMO Y EL FIN DE LA HISTORIA Prof. Dr. Jorge León Casero Universidad de Zaragoza (UNIZAR/Espanha) Facultad de Filosofía y Letras jleon@unizar.es

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Actualmente existen dos lecturas hegemónicas del Fin de la historia: La apocalíptica-aceleracionista y la caótico-estacionaria. La primera propone una tendencia capitalista hiper-acelerada irremediablemente abocada al colapso (Land, 2019). La segunda, ya antes que por Lyotard, fue delineada por Reinhart Koselleck, Lewis Mumford o Walter Benjamin, para quienes en todos los casos, el tiempo deja de tener dirección, convirtiéndose en un continuo y caótico cambio sin fin (Jeztzeit). Una concepción temporal que han vuelto a poner de relevancia tanto el materialismo especulativo de Quentin Meillassoux (2018) como los diversos materialismos “del acontecimiento” de Alain Badiou y Slavoj Žižek. El punto en común a ambas lecturas (apocalíptico-aceleracionista y caótico-estacionaria) es que mantienen una visión lineal, cronológica, trivial y jerárquica de la técnica en tanto que modo de relación de los seres humanos entre sí y con la naturaleza. En este tipo de sistemas, la aceleración de la repetición de los procesos (recursividad) conduce siempre a retroalimentaciones positivas homogéneas, normalmente catastróficas, incapaces de alterar la tendencia general del proceso. Un tipo de modelo organizativo basado en la cibernética y la teoría de sistemas, desarrolladas a partir de los años 40 y cuya aplicación al sistema tecno-industrial sería fuertemente criticado por Theodor Kaczynski mediante el concepto de self-expanded systems (2016). Por el contrario, la cibernética de segundo orden desarrollada por Gotthard Günther y Heinz von Foerster (2003) a mediados de los 60, se concibe como un sistema complejo (vs lineal), aiónico (vs cronológico), no-trivial (vs trivial) y heterárquico (vs jerárquico). Esto promueve que la implementación de procesos recursivos altere el modo de funcionamiento de los sistemas parciales en agenciamiento que constituyen las heterarquías, siendo concebidas estas últimas como com-posiciones (assemblages, agencements) de varias máquinas no-triviales con múltiples recursividades cruzadas. La presente comunicación utiliza el aparato conceptual de la cibernética de segundo orden para criticar y deslegitimar las actuales 125


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concepciones del Fin de la historia, sin caer por ello en “la vieja escatología revolucionaria, marxista” criticada por Eduardo Viveiros de Castro y Déborah Danowski (2019). En su lugar, interseccionaremos los conceptos de dicho tipo de cibernética con algunos de los desarrollados por Deleuze y Guattari con el objetivo de desarrollar los cimientos de una nueva filosofía de la historia compleja, aiónica, no-trivial y heterárquica que permita reformular un nuevo proyecto de emancipación marxista radicalmente interseccional en abierta contraposición al desarrollado por el aceleracionismo de izquierdas (Srnicek y Williams, 2017).

Palavras-chave: Aceleracionismo. Sistemas no-triviales. Recursividad. Agenciamiento. Natura naturans.

Referências bibliográficas DANOWSKI, D. y VIVEIROS DE CASTRO, E. ¿Hay mundo por venir? Ensayo sobre los miedos y los fines. Buenos Aires: Caja Negra, 2019. Foerster, H. Understanding Understanding: Essays on Cybernetics and Cognition. New York: Springer-Verlag, 2003. Kaczynski, T. Anti-Tech Revolution: Why and How. Chicago: Fitch & Madison Publishers, 2016. Land, N. Fanged Noumena. Barcelona: Holobionte, 2019. Meillassoux, Q. Hiper-Caos. Barcelona: Holobionte, 2018. Srnicek, N. y Williams, A., Inventar el futuro: Postcapitalismo y un mundo sin trabajo. Barcelona: Malpaso, 2017.

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NATUREZA HUMANA E NOVAS BIOTECNOLOGIAS: NOSSA RESPONSABILIDE AMPLIADA José Carlos Moreira UFMG Doutorando em Filosofia aspjosecarlos@hotmail.com Nosso objetivo aqui é buscar mostrar em que sentido as novas biotecnologias ampliam a responsabilidade humana, uma vez que com o seu advento, ao que nos parece, a fabricação de vidas torna-se uma possibilidade real. Se formas de vidas estão próximas de serem criadas em laboratórios pela biologia sintética, que é nada menos que a fabricação de vidas, entendemos ser oportuno levantar as seguintes questões: com a vontade de ilimitado poder das novas biotecnologias, será possível um dia erradicar no embrião as doenças genéticas, ou até eliminar o envelhecimento ou a morte, ao moldar uma nova espécie de humanos? E quanto a Deus, sua imagem estaria fragilizada? Que posição agora ocupa o Deus da tradição se historicamente, a ele sempre foi atribuído o papel de criador? A técnica e a razão moderna estariam agora, ocupando o lugar do Deus da tradição? Nessa linha especulativa, neste quadro específico, “pela primeira vez, Deus agora tem um rival” como bem lembrou Jean Pierre Dupuy, no ensaio Fabricação do homem e da natureza. Essa frase enuncia o estabelecimento da era das novas biotecnologias, cujo objetivo é: melhorar e corrigir falhas da natureza, incluindo a humana e possivelmente, até criar formas de vida. Diante desse quadro, nossa responsabilidade, se vê ampliada, porque agora precisamos não só preservar a essência da natureza humana, mas a própria imagem de Deus que nossa tecnologia põe em perigo. Como qualquer tecnologia poderosa, a promessa vem com risco. Por isso mesmo, é preciso desenvolver medidas protetoras contra acidentes e abusos da biologia

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sintética. Melhores práticas e melhor regulação devem ser estabelecidas para encorajar os bons usos da tecnologia e suprimir os negativos. Os benefícios potenciais são verdadeiramente extraordinários, mas eles podem esconder os riscos reais. Sendo assim, uma questão com a qual precisamos nos ocupar é: se a técnica através da biologia sintética, se habilita a fabricar a vida em geral, inclusive a humana, quais seriam as consequências disso para a vida extra-humana e, sobretudo, a humana? Caso essa possibilidade realmente se confirme, seriam a ciência e a técnica capazes de preencher o vazio de sentido que parece afetá-las? Não seriam elas as principais responsáveis por esse vazio? Palavras-chave: Biotecnologia. Responsabilidade. Natureza humana. Deus. Referências bibliográficas BONGARDT, Micael. Deus. In: OLIVEIRA, Jelson; POMMIER, Eric. (org.). Vocabulário Hans Jonas. Caxias do Sul, RS: Educs, 2019, p. 77-82. DUPUY, Jean Pierre. Fabricação do homem e da natureza. In: NOVAES, Adauto (Org.). MUTAÇÕES: Novas configurações do mundo. Edições Sesc, São Paulo 2ª edição 2017, p. 35-53. JONAS, Hans. O Princípio Responsabilidade: ensaio de uma ética para uma civilização tecnológica. Trad. Marijane Lisboa. Rio de Janeiro, Contraponto Ed. PUC Rio, 2006. ________. Técnica, Medicina e Ética: sobre a prática do princípio responsabilidade. Trad. Grupo de trabalho Hans Jonas da ANPOF. São Paulo, Paulus, 2013.

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DO SAGRADO AO PROFANO: O PARADIGMA MECANICISTA E A LEGITIMAÇÃO DA EXPLORAÇÃO DA MULHER E DA NATUREZA Juliana Fonseca da Silva Linhares Bueno UTFPR Programa de Pós-graduação em Tecnologia e Sociedade linhares.juliana@yahoo.com.br A conexão existente entre a mulher e a Natureza fazem parte do imaginário místico desde tempos remotos da sociedade. Ambas, associadas a fertilidade, onde uma passa a personificar a outra a partir de um processo incorporação. A representação cultural da Natureza como mãe provedora e benevolente, refletia diretamente na relação entre seres humanos e meio ambiente. Entretanto, com o advento da era Moderna e da filosofia mecanicista, ocorreu um processo de modificação no imaginário onde a metáfora do organismo foi substituída pela metáfora da máquina. A implementação de uma dicotomia entre o físico e o racional, atribuíram uma superioridade a razão e sucessivamente a desvalorização da Natureza e das características do feminino, ambas associadas ao físico. Assim sendo, a ciência mecanicista e a ciência reducionista, podem ser tidas como uma expressão do patriarcado capitalista que se legitimou através de um processo de constante exploração. Isto posto, tanto a mulher e quanto a Natureza, desprovidas de racionalidade, passaram a ser subjugadas e controladas para serem produtivas e reprodutivas, oprimidas e dominadas pelos homens. Pretende-se a partir de um levantamento bibliográfico, discutir sobre como as ideias sexistas estavam presentes no advento da ciência Moderna como instrumento de opressão e como sua implementação refletiu na mudança de representação da mulher e da natureza. A base teórica consiste em: Ecofeminismo enquanto movimento que busca denunciar a opressão

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das mulheres e do meio ambiente, assim como questionar o pensamento dualista presentes em diversas esferas da sociedade, Ciência, Tecnologia e Gênero que por sua vez, objetivam lutar contra a exclusão da mulher no campo da C.T e compreender como os preconceitos de gênero são/estão refletidos no processo de construção do conhecimento científico, ou seja, como o processo de produção do conhecimento científico reflete as relações de poder existentes na sociedade e História das Mulheres. As categorias de análise utilizadas na pesquisa, visam transformar paradigmas tradicionais em novos temas e buscase através de uma releitura da história dominante, ouvir a voz das minorias esquecidas pela história vigente. Palavras-chave: Ecofeminismo. C.T.G. História das Mulheres. Ciência Moderna. Referências bibliográficas FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Editora Elefante, 2017. GARCIA, Marta Gonzáles. Ciencia, tecnología y género. Consejo Nacional de Ciencia y Tecnología (CONACYT): Asunción, 2017. MERCHANT, Carolyn. The death of nature: Woman, Ecology and Scientific Revolution. San Francisco: Harper & Row, 1983. MIES, Maria e SHIVA, Vandana. Ecofeminismo. Tradução Fernando Dias Antunes. Lisboa: Instituto Piaget, 1993. TORRES, Maximiliano. O ecofeminismo: Um termo novo para um saber antigo. Revista Terceira Margem • Rio de Janeiro • Número 20 • pp. 157-75 • janeiro/julho 2009.

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HOSTILIDADE E FRATERNIDADE EM TORNO DO PARRICÍDIO PRIMORDIAL Julio Alexandre Fachini PUCPR Mestrado em Filosofia juliofachini@gmail.com Um assassinato marca a fundação da civilização. O mito primal descreve a moralidade, as leis e a religião como resultantes do parricídio: o ato do assassinato do pai primitivo pelas mãos de seus filhos. Na narrativa do mito científico freudiano, em tempos pretéritos, um pai tirano reprime os desejos de seus filhos com a finalidade de satisfazer os seus próprios desejos. A sequência dessas supressões o faz continuar como um soberano na horda primeva, uma soberania exercida pela força, um reinado que existe apenas devido à opressão dos demais, um subjugo decorrente de sua dominação sobre seus próprios filhos. O pai governa até a insurreição, os filhos erguem-se contra sua tirania e matam seu pai. O pai primordial, que impossibilitou a execução e satisfação dos desejos de seus filhos através do uso da repressão e da violência, morre pelas mãos de seus descendentes, antes privados, torturados e expulsos de seu bando. Buscaremos explorar no mito de Freud, as relações além da autoridade do pai sobre seus filhos, em especial as relações dos filhos entre si, ou seja, entre os “irmãos de horda”. Relações em torno do parricídio primordial possibilitaram o reconhecimento dos irmãos enquanto similares, como ao momento em que compartilham sentimentos hostis que culminam na deposição da figura de autoridade, ou após a morte do pai, na interiorização da lei ocorrida pela celebração da refeição totêmica, na qual os filhos e filhas se alimentam do cadáver do pai, “cru, carne, sangue e ossos” (FREUD, 2013, p. 214), tornando-se cúmplices do parricídio e fundando a civilização a partir da necessidade de

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repressão interna (individual) e mútua (social) de seus desejos sexuais e de poder (de tentar ocupar o lugar do pai). A cumplicidade pode ser observada como estado que possibilitou o reconhecimento dos irmãos como semelhantes e, apesar de originada da hostilidade, contribuiu para compreensões de sentimentos de fraternidade e solidariedade. Palavras-chave: Freud. Parricídio. Cumplicidade. Totem e Tabu. Civilização. Referências Bibliográficas FREUD, S. Totem e Tabu (1913). In: FREUD, S. Obras completas, v. 11. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. _________. Psicologia das massas e análise do eu (1921). In: FREUD, S. Obras completas, v.15. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. KOLTAI, C. Totem e Tabu: Um mito freudiano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2018. MONZANI, L. R. Totem e tabu: uma revisão. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba, v. 23, n. 33, p. 243-255, jul./dez. 2011.

MODOS DE VIVER, FORMAS DE SOFRER: O SOFRIMENTO E SUAS TRANSFORMAÇÕES NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA Keilane Ferreira de Araújo Universidade Federal do Piauí Graduada em Psicologia keifrr13@gmail.com Este ensaio tem como objetivo discutir e problematizar o sofrimento e suas transformações na sociedade contemporânea. 132


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Deste modo, o texto inicia com o percurso histórico realizando um recorte espaço-temporal das transformações sociais, culturais, econômicas e seus efeitos sobre a subjetividade e o sofrimento humano, compreendendo que transformações sociais se refletem sobre os modos de ser e, por conseguinte, nos modos de sofrer. Numa perspectiva histórica e dialética buscamos traçar as transformações sociais inerentes a cada período histórico alinhado ao objeto de discussão deste ensaio – o sofrimento e suas transformações, especialmente, como se mostra na contemporaneidade. Na modernidade, presencia-se uma série de transformações sociais, culturais, políticas e culturais culminado no advento da revolução industrial, ascensão capitalista e ideais Iluministas sedimentados numa concepção de sujeito esclarecido, baseado no uso da razão, do método e da ordem. Freud, em “O mal-estar da civilização” vai discorrer sobre o processo de civilidade ocorrido no período moderno ocidental com o sujeito abrindo mão de parte da sua felicidade frente ao regime civilizatório, com vistas a garantir preservação e segurança, constituindo-se o mal-estar. A passagem do período moderno ao pós-moderno é, notadamente, marcada pela crença no progresso e nos ideais iluministas. Historicamente, a partir do século XX, tem-se a chamada contemporaneidade, entendida aqui também como pós-modernidade, fundando novos paradigmas, valores sociais e culturais com a reconfiguração do tempo-espaço. Na pós-modernidade, o consumo, o imediatismo, o hedonismo, o individualismo e o crescente declínio da sociedade disciplinar expandem-se. Há um borramento entre os limites da esfera privada e pública, com predomínio do culto à exterioridade. Neste período, observa-se, sobretudo, o acentuado avanço científico-tecnológico que por si só trouxe consigo inúmeras mudanças na subjetividade, na cultura e no tecido social reconfigurando até então as noções de espaço-tempo, instituindo características efêmeras, aceleradas e imediatistas às experiências dos mesmos. Em tempos pós-modernos presenciamos o culto à liberdade, à autonomia, balizados, no entanto, por 133


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forças capitalistas, de mercado e neoliberais. Entendemos aqui que, transformações sociais e culturais, vão incidir sobre processos de sofrimento e, consequentemente, de adoecimento variados contornos. Partimos do pressuposto que, as dissonâncias provenientes dessa relação de contradição formulam os modos de sofrer ao longo da história humana, seja numa sociedade que passou da racionalidade para a fragmentação, da disciplina ao controle, de estruturas sólidas ao desenraizamento, do privado ao público; as origens dos sofrimentos são daí provenientes e, portanto, necessárias de reflexão crítica tendo em vista que na contemporaneidade o sofrimento adquire novas formas e é papel da Psicologia Social acompanhar esses processos. O campo teórico adotado, além de autores como Lipovetski, Birman e outros, optou-se por enriquecer a problematização fazendo-se uso da Psicologia Social de vertente crítica, justificada aqui por ser aquela que não se reduz à leitura da realidade ao que existe e por partir do pressuposto de que há alternativas às condições historicamente construídas e que nossas vivências não esgotam as possibilidades de existência e de produtora de mudanças transformadoras.

NECROPOLÍTICA AMBIENTAL NO BRASIL: A RESPONSABILIDADE COMO UMA ALTERNATIVA À GARANTIA DA VIDA Kellen Smak UTFPR Doutoranda em Tecnologia e Sociedade kellensmak@gmail.com A política instituída no governo de Jair Bolsonaro possui uma orientação fortemente marcada pela negação de direitos. Sendo assim, o contexto socioeconômico, político e cultural 134


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Brasileiro contribuiu para o avanço do ultraneoliberalismo com fortes tendências ultraconservadoras e protofascistas, configurando uma perspectiva necropolítica. Embora apresente uma aparência de desorganização, as ações políticas do governo buscam definir, de forma bastante clara, quem é relevante ou não no contexto que ora se estabelece, optando-se, de maneira deliberada, pela valorização da morte. A direção política adotada pelo governo impõe o extermínio a tudo que é percebido como ameaça a grupos de poder hegemônico, caracterizando a emergência de um biopoder de primazia da violência e atesta o descaso com a proteção e preservação de todas as formas de vida, podendo-se destacar as ações deliberadas para redução de terras indígenas, ataques sistemáticos a quilombolas e demais povos tradicionais, desmatamento da Amazônia, liberação de agrotóxicos potencialmente danosos à vida e ao meio ambiente e a garantia de armamento a proprietários de terras. O presente trabalho busca estabelecer uma correlação entre a necropolítica instituída no âmbito do meio ambiente pelo atual governo e e a necessidade de estabelecimento de políticas ambientais pautadas pela ética da Responsabilidade que oportunize a reflexão acerca de comportamentos e atitudes exercidos no presente e que tenham o compromisso com as futuras gerações. Considerando que Jonas (2006) faz uma defesa intransigente da vida, a ética da Responsabilidade caminha em uma direção diametralmente oposta à necropolítica e, por essa razão, configura-se como uma alternativa ao enfrentamento desta. Sendo assim, a existência de uma forma autêntica de vida sobre a terra é a principal diretriz do Princípio Responsabilidade e deve servir como balizador para uma moralidade que embase o agir político e que, por sua vez, seja capaz de mensurar as consequências do agir humano na sociedade tecnológica, sobretudo no que se refere à relação com a natureza, devendo acionar valores morais que oportunizem repensar as referências éticas no novo contexto das sociedades contemporâneas para que seja possível garantir a vida. Por fim, é necessário frisar que segundo Jonas 135


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(1985) mesmo que em última instância as decisões mais significativas (para o bem ou para o mal) se tomem (ou deixam de ser tomadas) no âmbito político, a atitude individual frente a esse contexto, aqui e agora, são fundamentais para que tais decisões possam ser tomadas em favor do bem comum. Palavras-chave: Necropolítica. Governo Bolsonaro. Política Ambiental. Responsabilidade. Referências bibliográficas ALENCASTRO, Mario Sérgio Cunha. A ética de Hans Jonas: alcances e limites sob uma perspectiva pluralista. Tese (Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento) - UFPR, 2007. Disponível em: <http://www.dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/1 0282/1/tese_made%5Bufpr%5D_alencastro_130607.pdf>. Acesso em: 06 abr. 2018. BENSUSAN, H. “Y qué? Todo el mundo muere”. La muerte después de la pandemia y la banalidad de la necropolítica. Textos N-1 105, 2020. Disponível em: https://www.academia.edu/43519435/_Y_qu%C3%A9_Todo_el_mundo_muere _ Acesso em 26 jun. 2021. CASTI, John. O colapso de tudo: os eventos extremos que podem destruir a civilização a qualquer momento. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2012 (edição digital). HARARI, Y. N. Na batalha contra o Coronavírus, faltam líderes à humanidade. São Paulo: Cia das Letras, 2020. JONAS, H. O princípio responsabilidade: Ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Trad. Marijane Lisboa, Luiz Barros Montez. Rio de Janeiro, Editora PUCRio/Contraponto: [1979] 2006. JONAS, H. Técnica, medicina y ética: la práctica del principio de responsabilidad. Barcelona, Ediciones Paidós Ibérica, 1985. 136


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A NECESSIDADE DO RESGATE DE UM MUNDO COMUM OU DE UMA ATMOSFERA ENRAIZADA EM HANNAH ARENDT E SIMONE WEIL Kleys Jesuvina dos Santos PUCPR Doutoranda em Filosofia kleys.santos@gmail.com O presente trabalho possui, em um primeiro momento, o objetivo de versar acerca dos diagnósticos pontuados pelas filósofas Hannah Arendt e Simone Weil a respeito das consequências práticas e, por que não dizer, devastadoras que teriam sido empreendidas por uma sociedade que se mostrou orientada pelas descobertas técnico-científicas e pela aplicação de meios de violência contra a humanidade. Na esteira do exposto, torna-se

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relevante esclarecer que Arendt e Weil constatam, cada uma a seu modo, que este mundo – a partir do momento em que passou a se caracterizar como algo que seria resultado do manuseio de artifícios orientados pelo critério da utilidade e pela violência – perdeu a capacidade de oferecer algo tangível, ou seja, uma morada que se mostrasse estável e segura para todos os seus moradores. A partir disso, as autoras começam a defender a necessidade do resgate de um “mundo comum” ou de “uma atmosfera enraizada”. Isso significa que Hannah Arendt e Simone Weil, cada uma a sua maneira, passam a escancarar a necessidade de que os seres humanos comecem a se preocupar com a construção de um espaço, de uma morada mais estável, onde seja possível a concretização da preservação de todos os corpos políticos, de todas as vidas que existem na Terra. Cabe frisar que estamos fazendo referência a uma morada, uma atmosfera que não leva em conta apenas a necessidade de alimento para o corpo, pois também se caracteriza como algo que leva em conta a garantia do alimento para a alma. Por essa razão, a segunda etapa de nossa pesquisa estará pautada justamente na consideração das contribuições das filósofas supracitadas no que diz respeito ao resgate de um mundo ou de uma atmosfera que seja capaz de congregar, reunir e fornecer tudo aquilo que possa se apresentar como fundamental para a preservação e garantia de uma vida autêntica na Terra. Palavras-chave: Sociedade devastada. Resgate. Mundo Comum. Atmosfera Enraizada. Referências bibliográficas ARENDT, H. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2020. ARENDT, H. Origens do totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

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MODIFICAÇÃO GENÉTICA EM ANIMAIS SOB A PERSPECTIVA DO CREDO BIOÉTICO DE POTTER

Letícia Maria Lima Sampaio Figueiredo Unifap Graduanda em Direito leticiamaria@aluno.fapce.edu.br Roberta Marina Cioatto UFSC Doutoranda em Direito roberta.cioatto@gmail.com

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A publicação da obra de Potter, em 1971, intitulada como “Bioética, ponte para o futuro” abriu as portas dando espaço para desenvolvimento da discussão acerca da bioética com relação ao ser humano e suas interações com o meio ambiente e os animais, assim dando início ao uso do termo “bioética”. Com outra obra sua, intitulada “Global Bioethics: building, on the Leopold Legacy”, publicada em 1988, tem-se a ideia acerca do conceito de bioética global em sua essência, tendo uma forte tendência para discussão sobre o campo ecológico. O autor teve como inspiração os conhecimentos de Aldo Leopold para levantar a pauta sobre a ética da vida e aprofundar a discussão sobre a preservação da vida selvagem. Potter apresentou três estágios da bioética: a bioética como ponte, a qual se divide em quatro: 1) a ponte entre o presente e futuro; 2) a ciência e o mundo dos valores humanos; 3) a natureza e a cultura; 4) o ser humano com o meio ambiente; a bioética global, trazendo uma preocupação mais voltada para a perspectiva das esferas antropológica, cósmica ecológica; e a bioética profunda, esta como a conexão mística que os ecologistas manifestavam com a natureza, tendo como inspiração a obra de Arne Naess. Sendo assim, o enfoque das questões que antes discutiam dominantemente sobre a bioética tradicional agora cedem espaço para que se discuta sobre tópicos relacionados com o mundo ecológico, abrangendo as plantas e os demais seres vivos, incluindo agora a esfera antropológica, cultural e ambiental. Destarte, é cabível adentrar no assunto das mutações genéticas sofridas por animais que podem ocorrem mediante a presença de erros durante o processo de replicação do material genético. Nesse caso, até que ponto o melhoramento genético em animais pode ser considerado uma ação ética sob a perspectiva do credo bioético de Potter? O objetivo geral da presente pesquisa é evidenciar até que ponto o melhoramento genético em animais pode ser considerado uma ação ética sob a perspectiva do credo bioético de Potter. O método utilizado nesta pesquisa bibliográfica é de natureza indutiva. Como resultado deste trabalho tem-se a observação de 140


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casos em que a tentativa do melhoramento genético acaba por agregar resultados negativos, podendo desencadear até mesmo a morte do animal. Pesquisadores da UNESP, em Botucatu, por exemplo, descobriram um gene em um equino mediante uma mutação genética que pode ocasionar o nascimento de animais com problemas respiratórios, alimentares e de crescimento ósseo; até mesmo a morte do embrião. Em conclusão, há possibilidade de mutações genéticas como práticas éticas que possuem como intuito o melhoramento genético dos animais, assim como existem modificações que acabam prejudicando o desenvolvimento da vida animal e infringindo o compromisso que Potter estabelece no credo bioético afirmando que a humanidade deve aprimorar o desenvolvimento de sua espécie harmonicamente com meio ambiente natural. Palavras-chave: Bioética. Mutação Genética. Meio Ambiente. Potter.

Referências bibliográficas DESCOBERTA mutação genética responsável por nanismo em pôneis. labnetwork, 2021. Disponível em: Descoberta mutação genética responsável por nanismo em pôneis | LabNetwork. Acesso em: 14/09/2021. PESSINI, LEO. O que entender por bioética global. Rev. Bras. Educ: Brasília, ano 41, n. 155, p 12 - 25, jan./jun. 2018. Disponível em: Vista do O que entender por bioética global? (anec.org.br). Acesso em: 01/09/2021. PESSINI, LEO. As origens da bioética: do credo bioético de Potter ao imperativo bioético de Fritz Jahr. Revista Bioética Centro Universitário São Camilo: São Paulo, vol. 1, n. 21, p 9 - 19, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bioet/a/xNYLfqG6fTfhcgMTq3Q4WQd/?format=pdf. Acesso em: 01/09/2021. 141


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O LADO OBSCURO DA TECNOLOGIA: OS EFEITOS PREJUDICIAIS DAS TICS NA TRÍADE DE FUNÇÕES MENTAIS DA APRENDIZAGEM Ligia Costa Manhães de Oliveira UFJF Mestranda em Educação ligia.cmanhaes@gmail.com A ideia que norteia o presente estudo é a de que as reflexões sobre a tecnologia, principalmente as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), demandam maior profundidade e posturas mais críticas, que transcendam o deslumbramento. Essa necessidade se dá, pois cada vez mais esses recursos vêm se tornando onipresentes no cotidiano e eles não se resumem apenas a um conjunto de ferramentas que objetivam melhorar a vida dos seres humanos. O próprio conceito de tecnologia é amplo, assumindo múltiplas acepções, que se adequam aos objetivos daqueles que as utilizam, priorizando muitas vezes o benefício próprio em detrimento do coletivo. Essa imprecisão é muito utilizada pelas classes dominantes para manipular as massas, que deixam-se levar pela ilusória ideia de que a tecnologia é a panaceia da atualidade e que ela só tem coisas boas a trazer. Entretanto, uma série de pesquisas científicas vêm sendo produzidas, alertando para os possíveis efeitos prejudiciais do uso das TICs e indicando sua influência em instâncias profundas das funções mentais superiores – cognição, conação e execução – que compõem a tríade de aprendizagem humana, fundamental no processo de construção do indivíduo e da sociedade. Essa influência fica evidente ao observar a postura de executivos do Vale do Silício, que além de restringirem o uso de aparelhos em suas famílias, muitas vezes optam por colocarem seus filhos em escolas de pedagogias como a Waldorf, que prioriza o desenvolvimento mais harmonioso de tais funções,

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conectado mais diretamente à natureza e ao mundo social ao invés de prematuramente intermediado pelas TICs. Dessa forma, a investigação acerca desses efeitos negativos das TICs é feita no presente estudo, estabelecendo um diálogo entre variados campos do conhecimento, principalmente a Filosofia, a Psicologia e a Educação, com o intuito de: (i) contribuir para um posicionamento mais crítico acerca do que é a tecnologia – a partir de uma perspectiva filosófica; (ii) promover a conscientização a respeito dos possíveis efeitos deletérios das TICs nos processos cognitivos, conativos e executivos dos indivíduos; (iii) propiciar novas reflexões sobre o impacto das TICs na educação; e (iv) apresentar alternativas à adoção das TICs nas escolas, como proposto pela pedagogia Waldorf. Palavras-chave: Tecnologia. Educação. Psicologia. Funções mentais. Filosofia da tecnologia. Referências bibliográficas ALTER, A. Irresistível: por que você é viciado em tecnologia e como lidar com ela. Tradução de Cássio de Arantes Leite. Rio de Janeiro: Objetiva, 2018. CARR, N. A geração superficial: o que a Internet está fazendo com nossos cérebros. Tradução de Mônica Gagliotti Fortunato Friaça. Rio de Janeiro: Agir, 2011. CUPANI, A. Filosofia da tecnologia: um convite. 3. ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2016. DILEMA das Redes. Direção de Jeff Orlowski. Estados Unidos da América: Netflix, 2020. (89 min.). DUSEK, V. Filosofia da Tecnologia. Tradução de Luis Carlos Borges. São Paulo: Edições Loyola, 2009. Educação no Vale do Silício. Portal Mude, 2020. Disponível em: <https://www.portalmude.com.br/noticia/66/educacao-no-vale-do-silicio> Acesso em: 28 fev. 2021.

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MINAS E SUA TRISTE SINA – UMA REFLEXÃO INICIAL Profa. Dra. Lilian S. Godoy Fonseca UFVJM BCH/PPGCH godoylilian2@gmail.com

Os recorrentes desastres envolvendo a atividade minerária, sobretudo os mais recentes de Mariana (05/11/2015) e Brumadinho (25/01/2019), revelam que a mineração é uma das atividades, não só mais lucrativas, mas, lamentavelmente, mais perigosas realizadas pela humanidade, desde os primórdios da nossa História. Esse contexto evidencia a necessidade e urgência de uma reflexão filosófica sobre o tema; o que confirmou a sua possibilidade foi a leitura do notável livro Técnica e Civilização, publicado, em 1934, pelo historiador e humanista estadunidense Lewis Mumford que, precisamente no capítulo II, intitulado “Agentes da Mecanização”, aborda - em poucas, mas densas páginas -, a questão da mineração, desde uma das mais primitivas atividades humanas até a sua relação com o advento do capitalismo moderno. Com efeito, o contato com essa exposição de Mumford mostrou a viabilidade e relevância desta discussão e reforçou meu interesse em abordar este tema. O propósito inicial compreendia duas partes: 1º demonstrar que o elevado risco - não apenas para os seres humanos, mas também

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para o meio ambiente - é inerente à atividade de mineração; e 2º apontar que, em função dos altos lucros que ela proporciona, tais riscos são assumidos em favor dos ‘benefícios’, evidenciando que, a despeito das perdas irreparáveis, as grandes e, mesmo, as pequenas empresas optam por levar adiante seus projetos extrativistas, em detrimento das populações das regiões diretamente afetadas, da natureza e também do futuro de nossa espécie. Porém, dado o curto espaço disponibilizado, apenas a primeira parte foi, então, apresentada, ficando a segunda para um momento posterior. Ela foi intitulada: “Mineração: a espada de Dâmocles sobre os trabalhadores e o ambiente – Uma reflexão a partir de Lewis Mumford”. Nossa exposição limitouse, portanto, a demonstrar que o elevado risco - não apenas para os seres humanos, mas também para o meio ambiente - é inerente à atividade de mineração, com base em trechos do capítulo II - “Agentes da Mecanização” – mais precisamente no segundo tópico, intitulado De re metallica, homônimo da obra escrita no século XVI, por Georg Bauer, a quem Mumford dirige uma lúcida e mais que oportuna crítica. Palavras-chave: mineração. Riscos. Lewis Mumford. Georg Bauer.

Referências bibliográficas BAUER, Georg. De Re Metallica. Translated from the First Latin Edition of 1556, by Herbert Clark Hoover & Lou Henry Hoover. Disponivel em: https://www.gutenberg.org/files/38015/38015-h/38015-h.htm. Acesso em 9 set. 2021. MUMFORD, Lewis. Técnica e Civilização. Tradução Fernanda Barão e Isabel Fernandes. Lisboa: Antígona, 2018.

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O CONCEITO DE TEMPO EM SAMBAS DE COMPOSITORES E INTÉRPRETES DA GRES PORTELA

Lucas Lipka Pedron UFPR Doutorando em Filosofia llpedron1212@gmail.com

Nosso objeto aqui é a análise do conceito de tempo do samba que organiza o passado e renova a tradição, ao mesmo tempo que se adapta e renova as tradições em relação as mudanças dos ordenamentos sociais, políticos e econômicos. Para tanto, tomamos aqui o samba como a cultura popular de uma classe marginalizada, e que expressa, pelos diversos elementos que constituem o samba como um movimento cultural, uma filosofia popular dessa classe. Trata-se, no caso do samba, do embate entre uma cultura hegemônica da elite política e econômica, de um lado, e a cultura dos negros brasileiros como uma cultura opositora marginalizada e reprimida, de outro. Para pensar o tempo no samba, partimos da cosmovisão da cultura diaspórica africana, organizada no candomblé; é no candomblé que encontramos como esse conceito de tempo organiza a vida social. Essa cosmovisão está presente tanto na organização da música, como nas letras das canções. Na música, a organização do tempo começa com a sincopa – entendida como a deslocação do acento fraco para o acento forte de um compasso. Musicalmente, é o ritmo que ordena o tempo e a duração de uma canção. Mas, para o samba, essa organização do tempo é mais que simplesmente a disposição das durações do compasso na música: é o ritmo sincopado que estabelece a concepção e percepção do tempo para o samba. O tempo do samba é um tempo homogêneo e cíclico, em que o fim de cada compasso é já seu

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recomeço. Um tempo que tem na síntese das durações de cada compasso, que se sucedem e se intercalam, sua resolução no efeito material que causam: é um tempo que coloca o corpo em movimento, para completar a falta que a síncope suscita. Tal conjunção entre som e tempo desperta a ação dos corpos, ao mesmo tempo que organiza e constrói a percepção e concepção espaço-temporal no qual se estabelecem e se desencadeiam as relações sociais e metabólicas humanas. No entanto, essa costura de som, espaço e tempo não é uma construção do samba; antes, o samba expressa, pela música e pela dança, o conceito de tempo que abordaremos. O passado se apresenta como tradição e ancestralidade, e é o fundamento material das vivências do presente; presente e futuro articulam as novidades; mas essas não são compreendidas como rupturas com o passado. Assim como cada compasso sincopado, são as mudanças na organização social que renovam a tradição e ancestralidade. Palavras-chave: Marxismo. Crítica cultural. Tempo. Samba. Portela.

Referências bibliográficas LOPES, Nei; SIMAS, Luiz Antonio. Dicionário da história social do samba. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019. SODRÉ, Muniz. Pensar nagô. Petrópolis: Editora Vozes, 2017. SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: MAUAD, 1998. WILLIAMS, Raymond. Cultura e materialismo. Trad. André Glaser. São Paulo: Editora Unesp, 2011.

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DA PASSAGEM DO FUNDAMENTO METAFÍSICO AO ONTOLÓGICO NO CONCEITO DE DIGNIDADE; UM DIÁLOGO ENTRE IMMANUEL KANT E HANS JONAS Lucas Miguel Gonçalves Bugalski PUCPR Graduando em Filosofia miguelbugalski@gmail.com

O debate acerca do conceito de Dignidade aumentou nos últimos anos. Isso se dá devido aos novos desafios e dilemas que o conceito se depara na contemporaneidade. Além disso, podemos encontrar incursões que citam o conceito em áreas diversas, da filosofia até o Direito, das políticas públicas até à história. É evidente, todavia, que a maioria dos diálogos ocorrem dentro da área jurídica. Não só do ponto de vista teórico, buscando as fundamentações do conceito na tradição, mas principalmente do ponto de vista prático, focalizando as consequências dentro do ordenamento jurídico. Fazendo um esforço de sistematização, a apresentação se situa ligado ao primeiro ponto. Trata-se da tentativa de um diálogo com o mundo jurídico no que concerne ao conceito Dignidade, no qual usaremos Immanuel Kant e Hans Jonas. O recorte metodológico será a ideia de fundamentação. Ao decorrer dos séculos, a Dignidade buscou sua fundamentação em diversos pilares das subáreas da filosofia, seja na ontologia, na metafísica ou até mesmo na própria ética. O diálogo que há entre Kant e Jonas, portanto, se coloca no horizonte de mudança da base da fundamentação, da metafísica em Kant, para a ontologia em Jonas. Buscar-se-á demonstrar um pequeno mapa a respeito desse movimento, que representa uma das facetas desse diálogo profundo e frutífero. Nesse sentido, o mundo jurídico contemporâneo encontra em Kant sua base, seja para concordar ou discordar de sua filosofia.

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As influências epistemológicas na assim chamada metafísica dos costumes encontram-se em cada canto desse mundo, principalmente na contribuição dos princípios para uma doutrina do Direito. Dessa forma, ao dialogar com o sistema jurídico atual, dialoga-se invariavelmente com a filosofia de Kant. Mesmo as tentativas de ampliação ocorreram dentro da paradigmática apresentada pelo autor, numa espécie de reforma de dentro do sistema. Um ótimo exemplo - que trabalhou obliquamente o tema da Dignidade - é Habermas e sua tentativa neokantiana de ampliação do horizonte jurídico em prol de um horizonte discursivo. Entretanto, Jonas dialoga com uma tradição mais afastada de Kant, o qual apresenta um aparato conceitual diverso do filósofo de Konigsberg. Uma das diferenças mais fulcrais, abordada nessa apresentação, é a base, o ponto de partida. Para Kant é a filosofia primeira, metafísica; para Jonas, a ontologia. Parte da racionalidade do Ser humano, Jonas da vida em geral. O embate desses projetos propicia um diálogo mais amplo a respeito da Dignidade. Palavras-chave: Kant. Jonas. Dignidade. Jurídico. Fundamentação. Referências bibliográficas JONAS, Hans. O princípio vida: fundamentos para uma biologia filosófica. Trad. Carlos Almeida Pereira. Petrópolis: Vozes, 2004. JONAS, H. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Contraponto; Ed. PUC-Rio, 2006. KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Tradução de Fernando Costa Mattos. 4 ed. Petrópolis, RJ. Vozes, Bragança Paulista, SP; Editora Universitária São Franscisco, 2015 KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução: Paulo Quintela. Lisboa; Edições 70. 2007. 151


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BREVES NOTAS SOBRE MEIO AMBIENTE E TECNOLOGIA NA FILOSOFIA PRÁTICA DE GERD BORNHEIM Lucas Taufer UCS Mestrado Acadêmico em Filosofia ltaufer1@gmail.com

A finalidade desta comunicação é apresentar um estudo sobre filosofia prática na obra de Gerd Bornheim, especialmente suas abordagens que problematizam tópicos de meio ambiente e de tecnologia, bem como seus entrelaçamentos. Na primeira parte, nos ocuparemos de mostrar o impasse gestado ao longo da crise do projeto burguês e inscrito nos desígnios da crise da metafísica ocidental, entre duas categorias prima facie antitéticas de racionalidade e como cada uma delas apreende o sentido dos fenômenos naturais, o que será a base para a definição lançada pelo autor da configuração dos aspectos ambientais tomados enquanto um caso político, cujos desdobramentos, inclusive existenciais, são radicalizados pelas idiossincrasias epocais hodiernas. Logo depois, faremos um resgate conceitual do significado de natureza como tal compreendido nas diversas fases do desenvolvimento da história da filosofia ocidental, de modo a sustentar a íntima conexão entre o evolver da modernidade e da ciência e as concepções de natureza a ele respectivas. Em seguida, exporemos alguns dos apontamentos elaborados por Gerd sobre como essas vinculações entre o desempenho da tecnologia e suas interconexões com o meio ambiente emergem no cotidiano social e como transformam-se em demandas urgentes e efetivas de uma agência moralmente inteligente e responsável na contemporaneidade, fazendo com que a pedagogia anteriormente mencionada seja algo inexorável, uma questão elementar

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da própria condição humana atual. Na sequência, tentaremos mostrar como a tecnologia modifica, em seus próprios estatutos ontológicos, os âmbitos teóricos e práticos do viger do homem, seu pensamento e sua ação, de modo a restar claro o que o autor pretende com sua postulação de uma necessária “educação pela máquina”, ou seja, uma pedagogia que passe pelas linhas da compreensão dos sentidos da interação do homem e da natureza e dos homens entre si nessas complexas relações e que possa propiciar a construção de perspectivas de superação de formas de entendimento insuficientes e unilaterais, vinculadas estreitamente às noções de racionalidade anteriormente ilustradas. Em quinto lugar, realizaremos alguns apontamentos sobre as concepções de estudo da tecnologia, embora em tudo distintas, mas também, como quer Gerd, complementares de certo modo, ainda que ambas incompletas, que caracterizam-se no seio do emergir da filosofia contemporânea. E então, arriscaremos a demonstração do porquê de, para o autor, a expressão dos conflitos em tais âmbitos revelar a profundidade da crise dos próprios sentidos peculiares e atuais do ser do humano em situação, e cujas reverberações decorrentes acabam por fazer-se problema em toda a esfera da normatividade prática, especificando o caso da norma moral em uma singular analogia com a situação da norma estética ao longo do desenvolvimento histórico-social do ocidente. Finalmente, pretendemos problematizar a categoria da responsabilidade enquanto fundamento da normatividade prática, tal como argumentado por Gerd, com vistas à sua atribuição na mediação das conexões entre tecnologia e política na esteira dos problemas contemporâneos com os quais a humanidade imperativamente e inevitavelmente tem de lidar, sintetizando criticamente sua problematização dos aspectos apresentados nesta tentativa. Palavras-chave: Gerd Bornheim. Drama burguês. Tecnologia. Meio ambiente. Ontologia dialética.

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Referências bibliográficas BORNHEIM, Gerd A. A educação pela máquina. In: SCHUBACK, Márcia de Sá Cavalcante (org.). Ensaios de filosofia: homenagem a Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 201-206. BORNHEIM, Gerd A. A perplexidade do homem contemporâneo (e O conhecimento do conhecimento). In: O ENCONTRO: um olhar sobre a cultura, o cidadão e a empresa. Rio de Janeiro: Ayuri Editorial: SENAI – Departamento Nacional, 1995, p. 31-40; 83-92. BORNHEIM, Gerd A. A temática ambiental na sociedade contemporânea. Educação: teoria e prática, v. 9, n. 16, jan.-jun. e n. 17, jul.-dez. 2001c, p. 1-9. BORNHEIM, Gerd A. As medidas da liberdade. In: NOVAES, Adauto (org.). O avesso da liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2002a. BORNHEIM, Gerd A. Dialética: teoria, práxis: ensaio para uma crítica da fundamentação ontológica da dialética. Porto Alegre: Globo; São Paulo: EDUSP, 1977. BORNHEIM, Gerd A. Ecologia e revolução tecnológica. In: ______.; PAZ, Gaspar Leal (org.). Temas de filosofia. São Paulo: EDUSP, 2015e, p. 233-239. BORNHEIM, Gerd A. Ética, ciência e técnica: interfaces e rumos. In: COIMBRA, José de Ávila Aguiar (org.). Fronteiras da ética. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2002b, p. 147168. BORNHEIM, Gerd A. Filosofia e política ecológica. In: ______.; PAZ, Gaspar Leal (org.). Temas de filosofia. São Paulo: EDUSP, 2015c [1985], p. 213-225. BORNHEIM, Gerd A. Notas para o estudo de uma ética enquanto problema. In: ______. Metafísica e finitude: ensaios filosóficos. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001a [1997/1999], p. 15-35. 154


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BORNHEIM, Gerd A. O bom selvagem como philosophe e a invenção do mundo sensível. In: ______.; PAZ, Gaspar Leal (org.). Temas de filosofia. São Paulo: EDUSP, 2015b [1996], p. 51-69. BORNHEIM, Gerd A. O conceito de descobrimento. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1998. BORNHEIM, Gerd A. O homem e a ética. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1994. BORNHEIM, Gerd A. O sujeito e a norma. In: ______.; PAZ, Gaspar Leal (org.). Temas de filosofia. São Paulo: EDUSP, 2015a [1992], p. 35-50. BORNHEIM, Gerd A. Sentido e criatividade. In: ______. Metafísica e finitude: ensaios filosóficos. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001b [1969], p. 167-175. BORNHEIM, Gerd A. Tecnologia e política. In: ______.; PAZ, Gaspar Leal (org.). Temas de filosofia. São Paulo: EDUSP, 2015d [1993], p. 227-231.

A BIOPOLÍTICA COMO DESTRUIÇÃO DA SUBJETIVIDADE EM ACHILLE MBEMBE Lucilene Gutelvil PUCPR Doutoranda em Filosofia lucilenegutelvil@gmail.com O presente trabalho objetiva apresentar a perspectiva biopolítica de Achille Mbembe em relação à subjetividade. Considerando que a sua escrita se volta para as relações coloniais, perpassando pelo impacto que o capitalismo e as tecnologias digitais trazem para o mundo contemporâneo, pode-se captar a biopolítica como um trabalho de destruição da subjetividade. Pois o tráfico do sujeito negro de sua terra natal - a África - só

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foi possível mediante uma destruição de sua subjetividade, a sua redução a mero objeto e coisa a ser usada como lucro. A destruição da subjetividade não passa apenas pela via da força bruta, a saber, pela invenção da raça, pela ocupação do território ou pelo controle do espaço, mas também pelo aspecto psicológico, esse grande poço passível de fantasia e delírio. Neste sentido, podemos dizer que o trabalho de Mbembe é psicopolítico, pois trata-se de ver como o colonizado deixou-se habitar e viver como súdito. Para que o negro pudesse ser transformado em escravo, foi necessário dispositivos refinados de controle psicológico que o levaram a sentir-se menos que humano, um mero animal a serviço de um outro. Não bastava apenas o colonizador vê-lo assim, era preciso causar essa degradação naquilo que lhe era mais íntimo, mais subjetivo: seu desejo. Foi através da manipulação do desejo que a colonização se tornou um projeto elaborado e com grande extensão, pois inculcou no negro o desejo pela fantasia do branco e de todas as quinquilharias Ocidentais. A grande diferença da posição biopolítica de Mbembe em relação à filósofos como Foucault, Agamben e Esposito, por exemplo, é justamente os dispositivos psicológicos de destruição da subjetividade, que outrora, na leitura deste pensador, faziam parte das relações coloniais, mas que agora, com o avanço acentuado do capitalismo e das tecnologias digitais, inserem todos os sujeitos humanos em sua lógica de destruição. Palavras-chave: Biopolítica. Subjetividade. Relações Coloniais. Referências bibliográficas MBEMBE, A. Crítica da razão negra. São Paulo: n-1 Edições, 2018. MBEMBE, A. Políticas da inimizade. São Paulo: n-1 Edições, 2020.

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SUBJETIVIDADE E LIBERDADE EM BYUNG-CHUL HAN Prof. Dr. Lúcio Vaz UFES Departamento de Filosofia Lucio.oliveira@ufes.br Nessa comunicação, pretendo expor criticamente a configuração do sujeito (ou projeto) de desempenho tal como desenhada em várias obras de Byung-Chul Han. A partir de 2005, Han regular e quase exclusivamente passa a se ocupar do que ele entrevê como uma sociedade cujo regime de poder se distingue do poder disciplinar tal como analisado por Foucault. Essa sociedade configurada pelo neoliberalismo e efetivada mais claramente a partir da derrocada dos regimes socialistas da Europa, delineia-se nos anos 1990. Nessa sociedade, nem a ameaça constante de morte (própria do poder soberano), nem a modulação disciplinar seriam condutoras dos processos de centralização hegemônica, mas sim o estímulo constante para que um indivíduo se explore a si mesmo no intuito de consumir mais, de se expor mais e, em suma, de se sentir mais realizado. Sendo assim, o sujeito de desempenho é aquele que passou a ser explorador e explorado ao mesmo tempo. A nova subjetividade, segundo o filósofo sul-coreano marcada pelo excesso de positividade comportaria feições diversas sutis ou camufladas de restrição à liberdade. Minha exposição procura realçar alguns possíveis paradoxos e incongruências na exposição de Han sobre a liberdade na sociedade de desempenho bem como paradoxos da própria sociedade. Palavras-chave: Sujeito. Liberdade. Neoliberalismo. Sociedade de desempenho. Depressão.

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Referências bibliográficas CANALES FERNÁNDEZ, Juan Carlos. Suicidio y Modernidad: una meditación. Elementos 101, (2016): 29-37. CHOLBI, Michael. Suicide Intervention and Non-ideal Kantian Theory. Journal Of Applied Philosophy, Oxford, v. 19, n. 3, p. 245-259, dez. 2002. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1468-5930.t01-1-00221. Acesso em: 15 jun. 2021. COVINGTON, David. Is Suicide Really a Choice? Hope Inc.. 2016. 17 min., Col., Son. Disponível: Is Suicide Really a Choice? TED Style Talk - YouTube. Acesso: 14 set. 2021. FOUCAULT, Michel. [HS I] Histoire de la sexualité I: la volonté de savoir. Paris: Gallimard, 1976. GONZÁLEZ-PÉREZ, J. A. El suicidio como resistencia política: el mundo del empresario del yo. Revista Eleuthera, 21 (jul.dec. 2019): 51-65. DOI: 10.17151/eleu.2019.21.4. HAN, Byung-Chul. Heideggers Herz: zum Begriff der Stimmung bei Martin Heidegger. München: Wilhelm Fink, 1996. HAN, Byung-Chul. Todesarten: Philosophische Untersuchungen zum Tod. München: Wilhelm Fink, 1998. HAN, Byung-Chul. Müdigkeitsgesellschaft, Burnoutgesellschaft, Hoch-Zeit. Berlin: Matthes & Seitz, 2016a. HAN, Byung-Chul. Die Austreibung des Anderen: Gesellschaft, Wahrnehmung und Kommunikation heute. Frankfurt-am-Main: Fischer, 2016b. HAN, Byung-Chul. Topologie der Gewalt. Berlin: Matthes & Seiz, 2017, 3. Auflage. HAN, Byung-Chul. Vom Verchwinden der Rituale. Berlin: Ullstein, 2019. 4. Auflage. MBEMBE, Achille. Borders in the Age of Networks. The New School. 2019. 82 min., Col., Son. Disponível: Borders in the Age of Networks | Achille Mbembe - YouTube. Acesso: 13 set. 2021. 158


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MENNINGER, Karl. Man Against Himself. New York: Harcourt, Brace and Company, 1938. PERETZ, David. The Illusion of ‘Rational’ Suicide. Review of: BATTIN, M. Pabst.; MAYO, David. Suicide: The Philosophical Issues. New York: St. Martin’s Press, 1980. 292pp. Hastings Center Report, vol. 14, n. 6 (Dec., 1981): 40-42. SPINOZA, Benedictus de. Ethica ordine geometrico demonstrata et in quinque partes distincta… Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

BIOPOLÍTICA E INJUSTIÇA AMBIENTAL: EXPRESSÕES RACIAIS DA FUNÇÃO ASSASSINA DO PODER Marcelo Henrique de Souza Carvalho UFMA Graduando em Filosofia souza.marcelo@discente.ufma.br A proposta do presente trabalho é compreender os processos de desigualdade e injustiça socioambientais à luz do conceito foucaultiano de biopolítica, destacando como as formas pelas quais consequências ambientais negativas são distribuídas desigualmente no interior de um corpo social, afetando diferencialmente certas populações e grupos étnico-raciais, podem ser compreendidas como manifestações do racismo de estado, tal como pensado por Foucault, em sua expressão ambiental. Para isso, propõe-se analisar como o filósofo francês formula e utiliza a noção de biopolítica para se referir a uma modalidade de exercício do poder que emerge na modernidade, preocupada com a gestão planificada da vida, de modo que, a partir da constituição da biopolítica, a condição de mero ser vivente entra nos cálculos políticos da administração estatal.

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Entretanto, os dispositivos de regulação da vida, segundo Foucault, dispõem de uma função assassina que é legitimada pelo racismo. Mais do que um simples preconceito, o racismo é a tecnologia que distribui a morte e justifica o direito soberano de tirar a vida de alguém na economia do biopoder. Segundo Foucault, o racismo de Estado cumpre duas finalidades. A primeira é a de cindir uma população entre vidas que devem viver e vidas passíveis de serem eliminadas impunimente, fraturando o “contínuo biológico” de uma sociedade entre uma “sub-raça” e uma “super-raça”, ou seja, entre vidas puras e normais e vidas degeneradas e decaídas. A segunda finalidade é atribuir um sentido positivo nas mortes da “sub-raça”, tornando seu desaparecimento condição necessária para o fortalecimento biofísico da “super-raça”. Nesse sentido, o racismo institui uma íntima e solidária relação entre a promoção da vida de alguns e a eliminação material de outros. A partir disso, busca-se analisar até que ponto as contribuições foucaultianas, principalmente no que diz respeito à sua compreensão do racismo de Estado, são válidas para refletir sobre as injustiças ambientais e o modo pelo qual certas populações são afetas negativamente por danos no meio ambiente acarretados por operações econômicas predatórias. Com o conceito de “racismo ambiental”, busca investigar justamente as operação e mecanismos de poder responsável por expor deliberada e desproporcionalmente certos grupos étnico-raciais ao risco de contaminação por agrotóxicos ou poluentes químicos, às ameaças de rompimentos de barragens e deslizamentos de encostas, às infecções por doenças derivadas da falta de saneamento básico. Referindo-se também, através dessa noção, às técnicas políticas responsáveis pela expulsão de comunidades tradicionais de suas terras, inviabilizando o acesso digno delas aos recursos ambientais com o intuito de privilegiar empreendimento financeiros. Nesse sentido, o racismo ambiental revela dispositivos que operam visando induzir à morte certas vidas consideradas matáveis, a fim de fortalecer e majorar a vida do capital. Evidenciando como à gestão da vida 160


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é correlata uma produção sistemática de precariedade, definindo qual vida deve ser preservada e qual vida deve ser suprimida e abandonada, cabendo ao racismo a função de regular e legitimar a função criminosa dos exercícios do poder. Palavras-chave: Biopolítica. Injustiça ambiental. Racismo. Foucault. Referências bibliográficas ABREU, Ivy de Souza. Biopolítica e racismo ambiental no Brasil: a exclusão ambiental dos cidadãos. Opinión Jurídica, vol. 12, n. 24, p. 97-100, jul./dez., 2013. HERCULANO, Selene. O clamor por justiça ambiental e contra o racismo ambiental. InterfacEHS, v.3, n.1, jan./ abril, 2008. LAZZARATO, Maurizio. Fascismo ou revolução? O neoliberalismo em chave estratégica. Trad. Takashi Wakamatsu e Fernando Scheibe. São Paulo: n-1 edições, 2019. FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976) Tradução Maria Ermantina Galvão. 4ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

SUBJETIVIDADES COMPARTILHADAS – PARA UMA COMPREENSÃO DOS DIAS VIVIDOS

Marcelo Santana dos Santos Universidade Federal da Bahia Doutorando em Filosofia macellus@hotmail.com

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Há um primado do indivíduo sobre a comunidade que marca o axioma das teorias políticas modernas: o homem passa a ser considerado como indivíduo em si. Contudo, subordinado as dimensões temporais e espaciais, que de algum modo acabam por condicionar sua realidade – ainda que essa seja apenas num campo imaginário –, há uma construção social dessa mesma realidade que permeia a constituição de mundo dos indivíduos, de modo que suas crenças e ações estão limitadas pela contingência de sua existência na sociedade – e, em parte, isso é fato. Nos termos postos, o indivíduo perde-se e dissolve-se no social e, aquilo que poderia se configurar como uma dimensão de autonomia, configura-se como reflexo do contexto cultural ao qual está submetido – assim, sua subjetividade pode ser compreendida em termos das relações que existem na sociedade em que vive. A tese que se pretende defender aqui é que, a despeito de um consenso sobre a dominação social existente sobre os indivíduos, é possível pensar que os indivíduos, por seu turno, são determinantes da sociedade que os domina e, nesse sentido, constituem-se como pessoas autônomas e podem estabelecer dinâmicas de controle e domínio sobre a referida sociedade. O elemento chave que permite essa compreensão de relação entre indivíduo e sociedade parte do conceito de subjetividade compartilhada, que pretende-se defender e apresentar, e está ligada aos processos de criação e reflexividade que é constatado nos modos de ser de cada indivíduo – e é na comunicação que se observa esse processo, revelando-nos uma dimensão estética da existência que estabelece a diferença que específica um indivíduo dos demais indivíduos, consagrando sua liberdade e autonomia, seja nos aspectos internos, próprios de seus estados inalcançáveis, seja nas relações externas em que se firma com os outros (alteridades) no contexto social, que podem ser revelados ou não e, em todo caso, diz respeito as estratégias do PERMANCER. A diferença que especifica é a expressão que utilizaremos para reconhecer como determinadas dinâmicas imprimidas por indivíduos na sociedade fazem com que os 162


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mesmos se percebam, ou surjam, como alguém que possui uma compreensão de mundo diferenciada das demais pessoas. Trata-se de um processo interno que pode ou não ser externalizado, revelador, ao menos para si, de que há modos de se relacionar com o mundo que são diferentes daqueles que são hegemônicos em sociedade – é a singularização da singularidade. Esses modos de relação apontam para a constituição de um novo sujeito que, embora tenha sido constituído pelo meio em que vive, portanto, condicionado enquanto tal, percebe-se como condicionador desse mesmo meio. Novo aqui entendido como diferenciado, porque modificado em sua plasticidade e elasticidade – expressões que serão discutidas em momento oportuno. Vale aqui dizer apenas que uma vez que a dimensão da singularidade ganha expressão no mundo, pode-se, a partir do compartilhamento promovido, transformar-se em dimensões mais objetivas, que vão para além do indivíduo incorporado, forjando os alicerces de relações que são sociais em seu conjunto – no sentido de serem socialmente compartilhadas. Palavras-chave: Subjetividades Compartilhadas. Tecnologias da Comunicação. Interdisciplinaridade. Corporeidade. Reflexividade.

Referências bibliográficas BAUDRILLARD, Jean. A transparência do mal: Ensaios sobre os fenômenos extremos. 7ª Edição. Trad. por Estela dos Santos Abreu. Campinas, SP: Papirus, 2003. BAUDRILLARD, Jean. Tela Total: mito-ironias do virtual e da imagem. Trad. por Juremir Machado da Silva. 5ª ed. Porto Alegre: Sulina, 2011. BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. Trad. por Zulmira Ribeiro Tavares. São Paulo: Perspectiva, 2015.

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BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Trad. por Artur Morão. Portugal, Lisboa: Edições 70, 2018. BUCK-MORSS, Susan. A tela do cinema como prótese de percepção. Trad. por Ana Luíza Andrade. Deterro [Florianópolis]: Cultura e Barbárie, 2009. COUTRINE, Jean-Jaques. Decifrar o corpo: pensar com Foucault. Trad. por Francisco Morás. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. FOUCAULT, Michel. Subjetividade e Verdade: curso no Collège de France (1980-1981). Trad. por Rosemary Costhek Abílio. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2016. (Coleção obras de Michael Foucault) HAN, Byung-Chul. A salvação do belo. Trad. por Gabriel Salvi Philipson. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019. LE BRETON, David. Antropologia do corpo e modernidade. Trad. por Fábio dos Santos Creder Lopes. Petropólis, RJ: Vozes, 2011. LE BRETON, David. Antropologia dos senidos. Trad. por Francisco Morás. Petropólis, RJ: Vozes, 2016. LE BRETON, David. Rostos: ensaio de antropologia. Trad. por Guilherme João de Freitas Teixeira. Petropólis, RJ: Vozes, 2019. LÉVY, PIERRE. O que é o Virtual? Trad. por Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 1996. LÉVY, PIERRE. Cibercultura. Trad. por Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 2010. LÉVY, PIERRE. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. 2ª ed. Trad. por Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 2010. MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Trad. por Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 1994. MERLEAU-PONTY, Maurice. O visível e o invisível. Trad. de José Artur Gianotti e Armando d’Oliveira. São Paulo: Perspectiva, 2014.

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MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. Trad. por Paulo Neves. São Paulo: Cosac Naify, 2003. SERRES, Michel. Variações sobre o Corpo. Trad. por Edgard de Assis Carvalho e Marisza Perassi Bosco. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

SUBJETIVAÇÃO E DESSUBJETIVAÇÃO EM GIORGIO AGAMBEN Marcílio Medeiros Silva Graduado em Filosofia pela UECE marciliomedeiros12@hotmail.com A reflexão aqui proposta tem por objetivo mostrar que há, cada vez mais, um esvaziamento da vida em todas suas potencialidades, restando, com isso, o sobrevivencialismo que em grande medida caracteriza os dias atuais. Na sociedade de controle contínuo, afirmam-se processos de subjetivação e dessubjetivação que produzem sujeitos adaptáveis às demandas do poder vigente. Com isso, multiplicam-se por todos os lados os dispositivos de controle oriundos do direito, das mídias, do mercado. O que se quer ressaltar é que o sujeito, forjado pelos dispositivos tradicionais (próprios da sociedade disciplinar, com suas escolas, fábricas, prisões etc), resultava em uma identidade específica. É claro que não se faz aqui uma defesa dos dispositivos tradicionais: eles também operam na captura do vivente e lhe impõem uma subjetivação que atende aos poderes em curso. Já o que caracteriza os dispositivos na atual sociedade de controle é que eles atuam na produção de um tipo de sujeito sem subjetividade bem definida. Por isso, o que impera são os processos que se podem chamar de dessubjetivantes. Há, atualmente, um incessante processo de exploração, por meio dos mais variados dispositivos, que tenta transformar o sujeito num

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mero resíduo despotencializado, a serviço das diversas solicitações e variações do mercado. Isso reforça a hipótese aqui apresentada de que a produção de uma sobrevida é a tônica da atualidade. Há todo um investimento cotidiano numa vida reduzida a seu minimo biológico. Diante desse “ser espectral” e sem identidade bem demarcada, até mesmo o Estado encontra-se confuso. Em meio a essa indeterminação, busca-se cada vez mais aquilo que há de invariável no indivíduo para sua identificação (impressões digitais, códigos genéticos...). Toda uma biopolítica entra em cena para assegurar um controle mais preciso, numa sociedade em que a subjetividade parece ter sido reduzida ao corpo. Nesta problematizaçao, deve-se partir, principalmete, de alguns conceitos com que Giorgio Agamben olha para a contemporaneidade: biopolítica, dispositivo, campo, vida nua etc. Palavras-chave: Subjetivação. Dessubjetivação. Dispositivos. Campo. Vida nua. Referências Bibliográficas AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: O poder soberano e a vida nua I. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. __________. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Tradução de Vinicius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2010. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Trad. Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque, Rio de Janeiro: Graal, 1988. ________. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Trad. Raquel Ramalhete, Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2011.

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DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E RESISTÊNCIA ANCESTRAL NOS TEMPOS DO ANTROPOCENO Dr. Márcio Antônio Farias de Freitas CRIA/FCSH-NOVA m.ffreitas@hotmail.com O litoral do município de Aracruz, Estado do Espírito Santo, Brasil, onde vivem pescadores, ribeirinhos e povos indígenas Tupiniquim e Guarani, desde a década de 60 passa a sofrer com impactos causados pelo neoextrativismo, com a chegada da monocultura de eucalipto da Aracruz Celulose S/A. Esse processo transformou a configuração do município, iniciando a instalação de uma série de outros empreendimentos, o que vem gerando diversos impactos socioambientais aos coletivos locais integrados com a terra, matas, rios, manguezais e mar. E como já não bastassem tais impactos, esse cenário foi agravado em decorrência do crime ambiental da Samarco Mineração S/A (joint venture controlada pela BHP Billiton Ltd. e Vale S/A), ocorrido em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, Estado de Mina Gerais, com o rompimento da barragem de Fundão, com 62 milhões de m3 de rejeitos de minério. Além de causar vítimas humanas e não-humanas nesse município, a lama atingiu o rio Doce, Watu para o povo indígena Krenak, também atingido pela contaminação do mesmo, e, depois de percorrer mais de 650 km - cerca de 880 km desde Bento Rodrigues, passando por 35 municípios de Minas Gerais e 5 do Espírito Santo -,alcançou o oceano Atlântico através de sua foz - no município de Linhares - no Espírito Santo, espalhando-se pelo litoral capixaba, deixando para trás um rastro de destruição, matando a fauna do rio Doce (Watu), suspendendo o abastecimento de água para consumo humano, animais e culturas agrícolas, impactando diversos coletivos humanos que vivem ao longo do rio Doce e no litoral do Espírito Santo, atingindo

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também os rios Piraquê-açu e Piraquê-mirim, em Aracruz. Nessa paisagem de Antropoceno, pretendo apresentar os resultados de minha tese de doutoramento em Antropologia, onde busquei entender como os impactos causados pela chegada do eucalipto na década de 60, bem como a contaminação do rio pela lama da Samarco em 2015, afetaram a (re)produção material e simbólica de um coletivo humano imprensado entre o eucalipto e a lama, como se organizaram politicamente e reagiram a toda essa situação. Palavras-chave: Neoextrativismo. Antropoceno. Conflitos ontológicos. Conhecimentos tradicionais

TÉCNICA E TECNOLOGIA: UMA ABORDAGEM ECOSSISTÊMICA NO PROCESSO PEDAGÓGICO Dra. Maria José Menezes Lourega Belli Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR História e Educação loubelli@utfpr.edu.br Dr. Lindomar Wessler Boneti Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR Sociologia, Educação e Direitos Humanos lindonar@boneti.com Este artigo objetiva refletir sobre os processos de ensinoaprendizagem que abordam a história da técnica e da tecnologia, inspirados em propostas curriculares decoloniais. Neste fluxo de experiências, o currículo estará em permanente construção devido à importância de atualizar o debate sobre colonialidade do poder, que ao sobrepor a linguagem mercantil sobre “as diferentes linguagens que o organismo Terra utiliza para se 168


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comunicar conosco” (KRENACK,2020,p.19) desafia a ética socioambiental, enraizada em práticas comunitárias recompondo a teia da vida, pois “todos os seres vivos, são interdependentes e expressão da vitalidade do Todo, que é o sistema Terra” (BOFF,2016,p.176). Reconhecer estas disjunções propicia a formulação da seguinte questão norteadora: como a técnica e a tecnologia são reconstruídas nas dinâmicas configurações sociais ao interpenetrar nas conexões constituidoras dos domínios da natureza? Abre-se, nesta abordagem, a demarcação da história da técnica e da tecnologia perpassada pela força diagonal do racionalismo ambiental como campo investigativo que se fortalece por meio do “diálogo como palavra-ação, além de fazer a crítica em forma de discurso, se compromete com aquilo que denuncia e/ou anuncia” (LOUREIRO, TORRES,2014, p.173). Por meio desta dinâmica interacional, a comunidade educativa cria “circuitos da regeneração que possibilita a nutrição do sistema para que este possa voltar ao estado de equilíbrio e se auto-regenerar” (MORAES,2004, p.268). Neste ambiente investigativo foi adotado uma abordagem histórica e qualitativa, constituída de pesquisa bibliográfica, revigoradas por diálogos crítico-dialéticos O aporte teórico tornou possível pensar a técnica sendo movimentos desenvolvidos por canais de comunicação, ancorados em espaços e tempos históricos. Nestas múltiplas formas de fazer as diferenças culturais são configuradas e cartografias mentais passam a expressar formas de ser e de estar no mundo. Imbricado nesta reflexão também é importante buscar compreender a tecnologia como dinâmicos mecanismos modelados em experiências sociais tensionadas por classe, gênero e raça. Nos processos de materialização das tecnologias é possível reconhecer correlações de força desiguais, campos de pesquisa, circulação e antagonismos de conhecimento e saberes, bem como, visibilizar a submissão das relações de trabalho e a exploração da natureza. Estas multidimensionalidades quando investigadas pelo método materialista permite decifrar como o “movimento reificado do capital reorganiza o metabolismo 169


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transitório entre humanos e a natureza e nega a condição material fundamental para o desenvolvimento humano sustentável” (SAITO,2021, p.171). Nestas interdependências, os processos entrópicos são fomentados pelo logocentrismo da tecnociência e a linguagem monetária entrecruzada com a linguagem administrativa institucional transformando as pessoas em recursos humanos e a natureza em commodities. Para semear transições nestes contextos socioambientais degradados é fundamental que a racionalidade ambiental organize “as vias para a sustentabilidade a partir da existência de seres culturais que reconstituem seus mundos de vida a partir de um “outro” conhecimento, a partir de seus saberes ambientais e seus imaginários sociais da sustentabilidade” (LEFF,2015, p.291). Entender estas reconexões entre os seres humanos e a natureza coloca a vista o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu e as construções da Warka Tower, na Etiópia. Estes cenários nos levam a respostas pedagógicas compromissadas em construir transições que venham a vitalizar os vínculos restauradores da complexidade ambiental. Palavras-chave: Capitalismo. Técnica. Tecnologia. Socioambiental. Ecopedagogia. Referências bibliográficas BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é: o que não é. Petrópolis, R.J.: Vozes, 2016. KRENACK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis, R.J.: Vozes, 2015. LOUREIRO, Carlos F.B. e TORRES, Juliana R. (orgs.) Educação ambiental: dialogando com Paulo Freire. São Paulo: Cortez, 2014.

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MORAES, Maria C. Pensamento eco-sistêmico: educação, aprendizagem e cidadania no século XXI. Petrópolis, R.J.: Vozes, 2004. SAITO, Kohei. O ecossocialismo de Karl Marx: capitalismo, natureza e a crítica inacabada à economia política. São Paulo: Boitempo,2021.

A RELAÇÃO ENTRE SUBJETIVIDADES E FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS NA RELAÇÃO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NO ENSINO REMOTO EMERGENCIAL Mariane Farias de Oliveira USP Doutoranda em Filosofia oliveiramariane@usp.br Leticia Domiciano UFG Graduanda em Filosofia Mariana Alves de Carvalho UFG Graduanda em Filosofia O relato aqui apresentado baseia-se na experiência de uma professora universitária de contrato temporário em ERE (Ensino Remoto Emergencial) na Universidade Federal de Goiás, campus Goiás, no curso de Filosofia, face aos problemas surgidos em razão da pandemia de Sars-CoV-2. O relato visa descrever as dificuldades encontradas na relação professoraluno em dois momentos e dois aspectos: 1) as dificuldades materiais de alunos e da professora já presentes na região e 171


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dificultadas pelo momento histórico que vivemos e; 2) as dificuldades emocionais dos alunos diante da sensação de falta de acolhimento pela Universidade em um primeiro momento de pandemia da COVID-19 e as medidas tomadas em relação a isso. Tal relato é baseado no acompanhamento e no trabalho feitos entre o semestre equivalente a 2020/1 (ministrado entre agosto-dezembro de 2020) e o semestre equivalente a 2020/2 (ministrado entre final de fevereiro-final de junho de 2021), desde que a Universidade retomou suas atividades em ERE. A partir do relato e deste acompanhamento, pretendemos concluir que as (1) as dificuldades materiais dos alunos e da professora afetaram, em um primeiro momento (primeiro semestre), de maneira extremamente negativa a relação professor-aluno, promovendo dificuldades emocionais muito grandes, principalmente a falta de confiança gerada por problemas de comunicação com a professora e com a Universidade, que dificultaram o andamento do aprendizado destes alunos e grande número de evasão do curso. Contudo, no semestre seguinte, houve uma adaptação positiva e relativamente expressiva em relação às ferramentas ERE (Google Meet, Moodle, Zoom, maiores convênios da universidade etc.) quanto à metodologia abordada e demanda de trabalho por parte da professora e de seus alunos, bem como estudos das demandas estudantis sociodemográficas que permitiram a permanência maior na Universidade e uma melhora considerável na apreensão do conteúdo, notas e relação professor-aluno. Metodologia: pesquisa qualitativa e quantitativa realizada pelo corpo discente e respondida por discentes e docentes. Análise dessas pesquisas em consonância com relato de experiência docente. Ambos os questionários foram realizados pelas alunas que são coautoras dentro do Centro Acadêmico de Filosofia (DAFIL) da Regional Goiás.

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Palavras-chave: Ensino Remoto Emergencial. Subjetividades na relação de aprendizagem. Relação professor-aluno. Tecnologias de ensino. Pandemia COVID-19.

Referências bibliográficas BROUSSEAU, G. Introdução à Teoria das situações didáticas: conteúdos e métodos de ensino. Trad. Camila Bogea. São Paulo: Ática, 2008. GAUTHIER, C. et al. Por uma teoria da pedagogia. Ijuí: Unijuí, 1998. GHIRALDELLI, P. Filosofia da Educação. São Paulo: Ed. Ática, 2006. NOT, L. Ensinando a aprender: elementos de psicodidática geral. Trad. Carmen Sylvia e Claudia Signorini. São Paulo: Summus, 1993. RAATZSCH, R. Filosofia de la Filosofia. Trad. Witold Jacorzynski e Jose Maria Ariso. Mexico: Editora da Universidad Veracruzana, 1999. ROCHA, R. P. Ensino de Filosofia e Currículo. Petrópolis: Vozes, 2008. VEIGA, I. P. A. (Org). Projeto Político-Pedagógico da escola. 16º Ed. Campinas: Papirus, 2003.

SOBRE AS CONCEPÇÕES DE HISTÓRIA EM NIETZSCHE E HEIDEGGER PARA A POTENCIALIZAÇÃO DA EXISTÊNCIA: UM AVANÇO PARA O INÍCIO Marianne Conceição de Souza Girard Mestra em Filosofia pela UFPE marigirardg@gmail.com

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Desde a modernidade que o fenômeno da História se mostra pertinente para entender o que é a filosofia. A História enquanto chave de compreensão não apenas da filosofia, mas do que é propriamente humano é uma ideia que surge com intensidade no pensamento filosófico contemporâneo, principalmente no escopo da obra nietzschiana, na fenomenologia e na filosofia hermenêutica. Tendo isso em vista, a apresentação tem como proposta um diálogo (e talvez um confronto) entre as concepções de História em Nietzsche e Heidegger. O trabalho divide-se em duas partes: em um primeiro momento, haverá a exposição do que Friedrich Nietzsche compreende por história na Segunda Consideração Extemporânea – Sobre as sobre a utilidade e os inconvenientes da História para a vida (1874) e a interpretação heideggeriana desse escrito. Nesse primeiro texto em análise, Nietzsche divide em uma estrutura triádica os tipos de história: a monumental, a tradicionalista e a crítica. Falarei brevemente sobre esses tipos e mostrarei a diferença já presente nesse texto dos termos alemães Historie e Geschichte, traduzidos para o português apenas por "História". Em sua obra capital Ser e Tempo (1927), Martin Heidegger faz um retorno explícito a essa consideração nietzschiana no §76 (A origem existencial da historiografia a partir da historicidade do Dasein). Se inspirando em seu predecessor, o fenomenólogo alemão buscará dar uma unidade a ideia de História. A historiografia é apresentada como uma derivação da historicidade, que, por seu turno, está fundada na temporalidade ekstática de cada Dasein. Visando complementar Nietzsche, Heidegger descreve argumentativamente como os tipos de história outrora sistematizados estão unificados na temporalidade do ente humano. Após a apresentação das noções de História em Nietzsche e Heidegger, pretendo, na segunda parte do trabalho, desenvolver a questão: (1) de que maneira uma compreensão holística (e, ao mesmo tempo, perspectivista) do que é ser histórico e do que é a historiografia pode nos ajudar a aumentar nossa potência de ação no mundo? 174


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Palavras-chave: História. Potencialização da existência. Nietzsche. Heidegger. Referências bibliográficas FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011. GIACOIA JUNIOR, O. Nietzsche. São Paulo: Publifolha, 2000. HEIDEGGER, M. Interpretation of Nietzsche’s Second Untimely Meditation. Tradução: Ullrich Haase; Mark Sinclair. Bloomington: Indiana University Press, 2016. (Studies in Continental thought). HEIDEGGER, M. O conceito de tempo - A questão da técnica. Tradução: Marco Aurélio Werle. São Paulo: Cadernos de Tradução (USP), 1997. v. 2 HEIDEGGER, M. Os conceitos fundamentais da metafísica: mundo, finitude e solidão. Tradução: Marco Antônio Casanova. 2aed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011. HEIDEGGER, M. Os problemas fundamentais da fenomenologia. Tradução: Marco Antônio Casanova. 2aed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012b. HEIDEGGER, M. Sein und Zeit. Gesamtausgabe. Band 2. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1977. HEIDEGGER, M. Zur Auslegung von Nietzsches II. Unzeitgemässer Betrachtung: "Vom Nutzen und Nachteil der Historie für das Leben”. Gesamtausgabe. Band 46. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 2003b. KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. NIETZSCHE, F. Genealogia da moral: uma polêmica. Tradução: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

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NIETZSCHE, F. Segunda Consideração Extemporânea - Sobre a utilidade e a desvantagem da história para a vida. Tradução: André Luís Mota Itaparica. São Paulo: Hedra, 2017. NIETZSCHE, F. Segunda consideração intempestiva: da utilidade e desvantagem da história para a vida. Tradução: Marco Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003. NIETZSCHE, F. Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral. Tradução: Fernando de Moraes Barros. São Paulo: Hedra, 2007. BRUSOTTI, M. Heidegger su storia monumentale e ripetizione. La seconda Considerazione Inattuale di Nietzsche in Essere e Tempo. In: Metafisica e nichilismo. Löwith e Heidegger interpreti di Nietzsche. Bologna: Pendragon, 2006. p. 125–147. JENSEN, A. K. Geschichte or Historie? Nietzsche’s Second Untimely Meditation in the Context of Nineteenth-Century Philological Studies. In: DRIES, M. (ed.). Nietzsche on Time and History. Berlin, Nova York: Walter de Gruyter, 2008. p. 213–229. JENSEN, A. K. Typologies of Histories. In: JENSEN, A. K.; SANTINI, C. (ed.). Nietzsche on Memory and History. Berlin, Boston: De Gruyter, 2020b. p. 37–56. E-book. Disponível em: https://doi.org/10.1515/9783110671162-003. RIBEIRO, K.; RIBEIRO, S. Feminilidade preta: a força matricomuniária e matrogestora. In: Experimentos de filosofia póscolonial. São Paulo: Editora Filosófica Politeia, 2020. p. 162– 182. SALDANHA, R. Fazer filosofia a partir das instituições: uma questão de vergonha. In: Experimentos de filosofia pós-colonial. São Paulo: Editora Filosófica Politeia, 2020. p. 210–233. SCHURINGA, C. Critical History and Genealogy. In: JENSEN, A. K.; SANTINI, C. (ed.). Nietzsche on Memory and History. Berlin, Boston: De Gruyter, 2020. p. 17–36. E-book. Disponível em: https://doi.org/10.1515/9783110671162-002. 176


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BONACCINI, J. Em torno do conceito de sintoma: uma solução ao problema do historicismo?. Cadernos Nietzsche, [s. l.], v. 17, p. 15–25, 2004. CAVALCANTI, A. H. Nietzsche, a memória e a história; reflexões sobre a Segunda Consideração Extemporânea. Philósophos - Revista de Filosofia, [s. l.], v. 17, n. 2, p. 77–105, 2013. DENAT, C. A filosofia e o valor da história em Nietzsche. Uma apresentação das Considerações extemporâneas. Cadernos Nietzsche, [s. l.], v. 26, p. 85–96, 2010. DENAT, C. Nietzsche, pensador da história? Do problema do “sentido histórico” à exigência genealógica. Cadernos Nietzsche, [s. l.], v. 24, p. 7–42, 2008. FREZZATTI JR., W. A. As noções de história na II Consideração Extemporânea e em Humano, demasiado humano. Cadernos Nietzsche, [s. l.], v. 39, n. 1, p. 9–30, 2018. GILARDI, P. De la utilidad del olvido para la vida. ÉNDOXA: Series Filosóficas, [s. l.], v. 43, p. 227–247, 2019. ITAPARICA, A. Nietzsche e o sentido histórico. Cadernos Nietzsche, [s. l.], v. 19, p. 79–100, 2005. JENSEN, A. K. A visão afirmativa de Nietzsche na Segunda Consideração Extemporânea. Cadernos Nietzsche, [s. l.], v. 41, n. 3, p. 49–78, 2020a. KAHLMEYER-MERTENS, R. S.; DOS SANTOS, G. A. A influência de Nietzsche na concepção de historicidade e historiografia de Heidegger. Aufklärung: journal of philosophy, [s. l.], v. 7, n. 1, p. 67–78, 2020. LIMA, M. J. S. Nietzsche e a história: o problema da objetividade e do sentido histórico. Cadernos Nietzsche, [s. l.], v. 30, p. 159–181, 2012. MONTES JIMÉNEZ, S. L. Tiempo e historia: esbozos de la interpretación de Heidegger sobre la Segunda consideración intempestiva de Nietzsche. Theoría. Revista del Colegio de Filosofía, [s. l.], n. 39, p. 27–43, 2021.

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NASSER, E. Transfigurações do passado: aspectos do problema do tempo na segunda Consideração extemporânea. Cadernos Nietzsche, [s. l.], v. 38, n. 2, p. 57–95, 2017. SAMPAIO, A. Fronteiras da História. Cadernos Nietzsche, [s. l.], v. 18, p. 37–67, 2005. SANTOS MELO, D. A. História e memória como crença no futuro: esquecimento e superação do niilismo em Nietzsche. Cadernos Nietzsche, [s. l.], v. 29, p. 395–410, 2011. SCOLARI, P. Vita e storia. Nietzsche in Essere e Tempo. Aoristo: International Journal of Phenomenology, Hermeneutics and Metaphysics, [s. l.], v. 2, n. 1, p. 281–299, 2017.

O CONCEITO DE RESPONSABILIDADE NA CONCEPÇÃO DE ELENA PULCINI Michelle Ferreira de Lima PUCPR Mestranda em Filosofia filosofia.micchelle@yahoo.com.br A presente pesquisa traz uma reflexão sobre temas como responsabilidade, subjetividades e meio ambiente no pensamento de Elena Pulcini, para tanto, a principal obra utilizada será Care of the World Fear, Responsibility and Justice in the Global Age (2009), especialmente, a parte III onde a autora trata sobre a ideia de responsabilidade e cuidado com o mundo e do medo ao cuidado, além de artigos e entrevistas realizadas por parte da autora. Iniciando a parte III do capítulo anteriormente citado, é mencionada a ideia de que hoje não basta apenas mudar o mundo, é preciso preservá-lo, sendo que o aspecto principal não é mais sobre a autopreservação dos indivíduos, mas sim, da humanidade e da sobrevivência do mundo. Pois, para resolver as questões do pós-humano “é preciso encontrar as

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bases de uma ética do futuro que projeta o mundo dos efeitos indesejados do nosso poder”, ao observar o fato de que o indivíduo moderno se pensou como independente, soberano, legitimado a dominar a natureza em função da satisfação dos seus desejos, acabou por estabelecer uma relação puramente instrumental com o outro, e essa obsessão, de acordo com Elena Pulcini, pode levar “a humanidade e o mundo vivente ao perigo de uma irreparável degradação, senão à extinção”. E com o advento do avanço das nanotecnologias e a possibilidade de a humanidade perder o controle das suas criações, a autora afirma que não se pode deixar a ciência andar por si mesma desatrelada da ética e sim, estabelecer interações entre saberes especializados e o grande público no intuito de promover indivíduos cônscios do que acontece com o mundo. Entretanto, não se pode esperar por um apelo ao dever, para alcançar os indivíduos é preciso recordá-los da própria vulnerabilidade restituindo aos sujeitos o sentido de pertencimento a humanidade, ao mundo vivente e a percepção de sua dependência recíproca, é preciso então pensar sobre o mundo o qual o humano gostaria de habitar reconduzindo essa imaginação ao nível do poder da ação, de modo a reencontrar o sentido e a finalidade do agir. Pois, como afirma Elena Pulcini, “vivemos uma situação paradoxal em que o desenvolvimento vertiginoso de nosso poder coincide com a mesma ameaça à nossa sobrevivência, bem como à vida das futuras gerações ameaçadas pelos efeitos não intencionais e indesejados de nossa ação. Surge em Anders um conceito - o conceito de gerações futuras - que passaria a assumir cada vez mais importância na perspectiva normativa de uma ética para a era global. O desequilíbrio, a 'lacuna prometéica', entre o nosso poder de fazer e a nossa incapacidade de prever, produz efeitos distantes no tempo, mas ainda - precisamente porque se originam no nosso presente - inevitavelmente nos 'dizem respeito' e mudam radicalmente nossa relação com a dimensão temporal: Na verdade, eles acontecem agora porque dependem do tempo presente; e, como estão acontecendo agora, preocupam-nos, 179


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porque os estamos iniciando agora através do que estamos fazendo agora. Pela primeira vez na história da humanidade, a existência desta não é mais um dado; pela primeira vez e, ao contrário da modernidade, que se projetava com otimismo para um futuro cada vez melhor, o futuro não pode mais ser dado como certo, não é mais um dado com o qual não devemos nos preocupar: Porque o futuro já não ‘vem’; não o vemos mais como "vindo": nós o fazemos. E o fazemos de tal forma que contenha sua própria alternativa: a possibilidade de seu fim, possível ausência de futuro. (PULCINI, 2009, p. 140). Reconfigura-se assim, um modo de agir responsável, “um indivíduo capaz de cuidar do mundo, pois está consciente da fragilidade do mundo e do nexo que hoje liga indissoluvelmente cada ser ao destino da humanidade”. (PULCINI, 2009, p. 163 -164). Palavras-chave: Responsabilidade. Subjetividades. Meio ambiente.

Referências Bibliográficas PULCINI, Elena. Care of the World Fear, Responsibility and Justice in the Global Age. Translated by Karen Whittle. Bollati Boringhieri editore, Torino, 2009. __________. La cura del mondo Paura e responsabilità nell'età globale. Bollati Boringhieri editore s.r.l., Torino, 2009. __________. Educating Democracy in the Global Age. Quadranti – Rivista Internazionale di Fi losofia Contemporanea – Volume VI, nº 2, 2018 – ISSN 2282-4219. __________. Em busca da soberania humana. Para onde vamos? IHU On-Line. Patricia Fachin. Instituto Humanitas Unisinos – IHU. São Leopoldo, 16 de outubro de 2006 | Edição 200.

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PROBLEMAS DE SEGURANÇA EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL Nicholas Kluge Corrêa PUCRS Doutorando em Filosofia nicholas.correa@acad.pucrs.br A ansiedade gerada pela possível criação de inteligência artificial geral, algo profetizado desde a fundação do campo de pesquisa (i.e., Dartmouth's Summer Research Project on Artificial Intelligence) (MCCARTHY et al., 1955), é algo comumente investigado dentro dos círculos transhumanistas e singularistas (KURZWEIL, 2005; CHALMERS, 2010; TEGMARK, 2016; 2017; CORRÊA; DE OLIVEIRA, 2021). Por exemplo, em seu livro “Superintelligence: Paths, Dangers, Strategies”, Nick Bostrom (2014) apresenta uma série de argumentos para justificar a ideia de que precisamos ser cautelosos em relação a criação de inteligência artificial avançada ou inteligência artificial geral. Contudo, muito dos argumentos levantados, em suas versões originais (i.e., convergência instrumental e ortogonalidade) (OMOHUNDRO, 2008), são baseados em noções “vagas” de conceitos complexos (i.e., “inteligência”, “racionalidade”, “agência”). O objetivo deste resumo (apresentação) será introduzir o leitor/ouvinte ao campo de Segurança da Inteligência Artificial. Nesse campo, questões como o “Problema de controle” (i.e., evitar construir inadvertidamente uma inteligência artificial geral que prejudicará seus criadores) e o “Problema de Alinhamento” (i.e., criar sistemas de inteligência artificial que permaneçam seguros mesmo quando atuando de forma autônoma no ambiente real), que são questões muitas vezes debatidas apenas dentro da Filosofia ou Ficção Científica, ganham um aspecto muito mais real e formal (AMODEI et al., 2016, HUBINGER et al., 2019). A criação de alguns dos modelos de

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inteligência artificial mais avançados já criados (e.g., AlphaGo, GPT-3) (SILVER el al., 2016; BROWN et al., 2020), está ligado a utilização de dois paradigmas da área de Aprendizagem de Máquina, i.e., Aprendizagem Profunda e Aprendizagem por Reforço. Dentro deste contexto, podemos definir “um sistema autônomo inteligente” como “um sistema que implementa uma política ótima (tecnicamente "ϵ-greedy optimal") para alguma função de recompensa” (ORSEAU et al., 2018). Podemos também definir tais sistemas como “maximizadores de utilidade esperada” (VON NEUMANN; MORGENSTERN, 1944). Um sistema de IA maximizando uma função de recompensa (i.e., objetivo) especificada erroneamente pode vir a causar danos reais quando interagindo no ambiente real, seja por erros de especificação (i.e., Efeitos Colaterais Negativos, Hackeamento de Recompensa, Interrupção Segura), ou quando o domínio de treinamento é diferente do domínio de implantação (i.e., Exploração Segura e Mudança de Domínio). Ao mesmo tempo, especificar objetivos complexos (e.g., preferências e valores humanos) é uma tarefa extremamente complexa, e quando visamos a possibilidade de inteligência artificial avançada agindo no mundo real, é imperativo que tais sistemas estejam: (1) alinhados com nossos objetivos; e (2) desenvolvidos com um design que evite os problemas citados acima. Contudo, tais problemas permanecem em aberto. Por fim, gostaria de ressaltar que no cerne desta problemática, não temos apenas problemas técnicos de aprendizagem de máquina, mas uma importante questão de cunho “Moral”: “O que é a coisa ‘certa” a fazer”? “Qual o objetivo correto a ser perseguido”? “Como podemos especificar isso”? Perguntas como essas prometem um fértil campo para pesquisas interdisciplinares envolvendo inteligência artificial, aprendizagem de máquina, ciências da computação e filosofia moral. Palavras-chave: Inteligência Artificial. Segurança. Segurança da Inteligência Artificial. Aprendizagem de Máquina. Alinhamento. 182


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Referências Bibliográficas AMODEI, D.; OLAH, C.; STEINHARDT, J.; CHRISTIANO, P.; SCHULMAN, J.; MANÉ, D. Concrete problems in AI safety. Google Brain, Stanford University, UC Berkeley, OpenAI, 2016. Disponível em: https://arxiv.org/abs/1606.06565. Acesso em: 23 ago. 2021. BOSTROM, N. Superintelligence: Paths, Dangers, Strategies. UK, Oxford: OUP Oxford, 2014. BROWN, T.; MANN, B.; RYDER, N.; et al. Language Models are Few-Shot Learners. OpenAI, 2020. Disponível em: https://arxiv.org/pdf/2005.14165.pdf. Acesso em: 23 ago. 2021. CHALMERS, D. The singularity: A philosophical analysis. Journal of Consciousness Studies, 17(9-10), 2010. CORRÊA, N. K.; DE OLIVEIRA, N. Singularity and Coordination Problems: Pandemic Lessons from 2020. Upcoming in Journal of Future Studies, 2021. Disponível em: https://jfsdigital.org/singularity-and-coordination-problems-pandemiclessons-from-2020/. Acesso em: 23 ago. 2021. HUBINGER, E.; VAN MERWIJK, C.; MIKULIK, V.; SKALSE, J.; GARRABRANT, S. Risks from Learned Optimization in Advanced Machine Learning Systems. Machine Intelligence Research Institute, 2019. Disponível em: https://arxiv.org/abs/1906.01820. Acesso em: 23 ago. 2021. KURZWEIL, R. The Singularity Is Near: When Humans Transcend Biology. USA, New York: Viking Adult, 2005. MCCARTHY, J.; MINSKY, M.; ROCHESSER, N.; SHANNON, C. A Proposal for the Dartmouth Summer Research Project on Artificial Intelligence. Dartmouth College, 1955. Disponível em: http://jmc.stanford.edu/articles/dartmouth/dartmouth.pdf. Acesso em: 23 ago. 2021. OMOHUNDRO, S. The Basic AI Drives. In Proceedings of the First AGI Conference, Volume 171, Frontiers in Artificial 183


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Intelligence and Applications, P. Wang, B. Goertzel, S. Franklin (eds.), 483-492. Amsterdam: IOS Press, 2008. ORSEAU, L.; MCGILL S. M.; LEGG, S. Agents and Devices: A Relative Definition of Agency. Deep Mind and University of Sussex (UK), 2018. Disponível em: https://arxiv.org/abs/1805.12387. Acesso em: 23 ago. 2021. SILVER, D.; HUANG, A.; MADDISON, C. et al. Mastering the game of Go with deep neural networks and tree search. Nature, 529, 484–489, 2016. doi:10.1038/nature16961. TEGMARK, M. Benefits and risks of artificial intelligence. The Future of Life Institute, 2016. Disponível em: https://futureoflife.org/background/benefits-risks-of-artificial-intelligence/. Acesso em: 23 ago. 2021. TEGMARK, M. Life 3.0: Being human in the age of artificial intelligence. USA, New York: Alfred A. Knopf, 2017. VON NEUMANN, J.; MORGENSTERN, O. Theory of Games and Economic Behavior (1st Edition). Princeton, NJ: Princeton University Press, 1944.

TRANSGRESSÕES ÉTICAS COM WALTER BENJAMIN Pablo Vinícius Dias Siqueira Doutor em Teoria da Literatura pela Unicamp pablodiassi@gmail.com

A presente proposta busca uma dimensão ética para a histórica e obscena relação entre filosofia e literatura na obra de Walter Benjamin (1892-1940). A principal questão é pensar a escrita filosófica de Benjamin como transgressão ética que desmancha hierarquias e sujeições e estimula ações reflexivas voltadas para a desobediência e subversão. Nesse sentido, a escrita de Benjamin estabelece uma relação tão íntima quanto crítica

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com a técnica e a tecnologia. Ao mesmo tempo, filosofia e ficção são pensadas como lugar genuíno da contestação e de interconectividade. Com tais questões em cena, considerado, sobretudo, o ensaio como Rua de mão única – Infância berlinense: 1900 para evidenciar um esforço ético contínuo por parte de Benjamin em movimentar os lugares fixos e estabelecidos da ética e em desmanchar, aporeticamente, o rastro de certa tradição filosófica da ética enquanto ele mesmo reelabora tal rastro no limiar da filosofia com a literatura. Na obra benjaminiana a questão da exposição (Darstellung) ocupa um lugar de valor e também de crise indissociável das práticas críticas e do incomum projeto filosófico de Benjamin. Desse modo, o comprometimento com uma escritura filosófica não se faz sem um envolvimento ético-político com a questão. A presente proposta considera que, para Benjamin, o filósofo, se ético, é sempre transgressor das normas, das objetividades, das obediências. Igualmente, para escrever a filosofia que lhe cabe, o filósofo precisa transgredir, eticamente, as formas de escrita filosófica. E das tecnologias. Benjamin transgride a maneira de se pensar literatura e de se fazer e escrever filosofia estimulando transgressões no campo artístico, filosófico e no campo da vida. Para Benjamin transgressão é também transgressão das formas. Da mesma maneira que tenciona o pessoal e o político, Benjamin cria uma interseção metateórica entre pensamento, estilo e escrita no limiar da ética. A transgressão aqui é pensar o corpo e o conhecimento, pensamento e escrita como formas de prazer relacionais. Não há qualquer intuito de investigar um conceito, tema ou questão exaustivamente a ponto esgotá-lo. A proposta é simplesmente filosofar com Benjamin e com as transgressões que o pensamento desse filósofo provoca. Palavras-chave: Walter Benjamin. Ética. Políticas do Contemporâneo. Filosofia Pop. Subjetividades.

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Referências bibliográficas BENJAMIN, Walter. Rua de mão única: Infância berlinense: 1900. Trad. João Barreto. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. BENJAMIN, Walter. Origem do drama trágico alemão. Trad. João Barrento. Belo Horizonte: Autêntica, 2016. BERDET, Marc. “Como Walter Benjamin escrevia”. Revista Novos estudos – Cebrap, São Paulo, v.37, n. 03, p. 445-455, set./dez. 2018. BUCK-MORSS, Susan. Walter Benjamin, escritor revolucionário. Buenos Aires: Interzona Editorial, 2005. GAGNEBIN, Jeanne Marie. “Canteiro de obra”, in: Corpocidade: gestos urbanos. Fabiana Britto e Paola Jacques (Org.). Salvador: EDUFBA, 2017. Disponível em: http://www.corpocidade5.dan.ufba.br/wp-content/uploads/livro/002.pdf. Acesso: 19/04/2020. SELIGMANN-SILVA, Márcio. Ler o livro do mundo. Walter Benjamin: romantismo e crítica literária. São Paulo: Iluminuras/Fapesp, 1999. SELIGMANN-SILVA, Márcio. Leituras de Walter Benjamin (Org.). Fapesp: Annablume, São Paulo, 1999. SELIGMANN-SILVA, Márcio. A atualidade de Walter Benjamin e de Theodor W. Adorno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. SOUZA, Ricardo Timm de. Ética do escrever: Kafka, Derrida e a literatura como crítica da violência. Porto Alegre: Zouk, 2018. SOUZA, Ricardo Timm de. “Escrever como ato ético”. Letras de Hoje (Online), v. 48, p. 223-226, 2013. TIBURI, Marcia. “A escrita herege – o fim do texto e do sujeito filosófico”. In: Revista História Unissinos. Vol. 8, nº 10. São Leopoldo, 2004. TIBURI, Marcia. Filosofia prática: ética, vida cotidiana, vida virtual. Rio de Janeiro: Record, 2014.

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ÉTICA E ECOLOGIA INTEGRAL NA AMAZÔNIA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL Paulo Fernando Campagnolli UNIR Mestrando em Filosofia paulo.campagnolli@ifro.edu.br O trabalho que aqui se propõe tem como objetivo demonstrar a importância da educação ambiental na construção de uma ética ecológica fundamentada na teoria da responsabilidade de Hans Jonas, partindo da hipótese que os avanços tecnológicos mudaram a relação do homem com a natureza tornando as éticas tradicionais insuficientes para esse novo agir do homem, consequentemente para tal situação será investigado a ética da responsabilidade como uma saída filosófica engendrada por Hans Jonas. A pesquisa partirá de um viés bibliográfico afim de trazer os conceitos de ética da responsabilidade em diálogo com a ecologia integral para que tal reflexão possibilite despertar uma atitude filosófica sobre a Amazônia. Além do desafio da estruturação de uma ética voltada aos problemas ambientais, também nos deparamos com a dificuldade de tornar essa teoria acessível. Por este fato, considera-se relevante pensar no desenvolvimento de uma ética ecológica integral partindo do pressuposto que estamos todos interligados e que nossas ações são capazes de atingir toda a humanidade e afetar, inclusive, diversas gerações futuras. É notório que os avanços tecnológicos aliado ao consumismo exacerbado mudou radicalmente a maneira como o homem se relaciona com a natureza, levandoo a enfrentar a maior crise ecológica que o planeta já viveu. Decorrentes crimes ambientais vêm deixando rastros na Amazônia como o desmatamento desenfreado, garimpos ilegais e minerações, invasões de áreas indígenas, incêndios criminosos em área de preservação e o avanço da pecuária e cultivo de soja em

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áreas de reserva legal. Tais problemas ambientais nos levam a crer que, mais do que ameaça ao meio ambiente, há ameaças reais à própria preservação e manutenção da espécie humana. Quando falamos da Amazônia, não devemos pensar apenas em árvores e animais silvestres, mas na importância desse ecossistema para o equilíbrio ambiental, desde o equilíbrio dos volumes de chuva às partículas de oxigênio que são renovadas em contato com esta vegetação. No entanto, é notável a ausência do debate sobre essas questões para além das ciências biológicas, visto que tal problema não se restringe à uma área do conhecimento, mas a todo contexto científico, por isso a necessidade de uma ecologia integral, afinal “tudo está interligado” (LS, 91). Nesse sentido, “exige-se uma preocupação pelo meio ambiente, unida ao amor sincero pelos seres humanos e a um compromisso constante com os problemas da sociedade” (LS, 91). Diante dessa realidade que este estudo mostra-se relevante, por propor uma reflexão sistematizada sobre tais problemas bem como propor meios de, a longo prazo, formar indivíduos conscientes de sua responsabilidade pela integralidade da vida. Todavia, por ter pouco espaço nas instituições políticas e sociais, faz-se necessário que a filosofia pense em conjunto com a educação, trazendo essas questões à tona no ambiente escolar, possibilitando a reflexão e a estruturação de um pensamento ético integral que leve em conta as questões ambientais, despertando a consciência e a responsabilidade com a nossa geração e com aquelas que ainda estão por vir. Palavras-chave: Ética. Ecologia integral. Educação. Amazônia. Referências bibliográficas DALL’AGNOL, Darlei. Bioética: princípios morais e aplicações. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. DETTONI, Josenir Lopes. (Pós-)individualismo e meio-Ambiente: perspectivas de um olhar responsável para o futuro. 188


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Tese (Doutorado em Filosofia) Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Universidade do Vale do Rio dos Sinos. São Leopoldo: 2017. FERRER, Jorge José; ÁLVAREZ, Juan Carlos. Para Fundamentar a Bioética: teorias e paradigmas teóricos na bioética contemporânea. São Paulo: Loyola, 2005. FRANKENA, William K. Ética. 3ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981. FRANCISCO, Papa. Carta Encíclica Laudato Si’: sobre o cuidado da casa comum. São Paulo: Paulinas, 2015. GOERGEN, Pedro. Pós-modernidade, ética e educação. Campinas: Autores Associados, 2001. JONAS, Hans. Ética, medicina e técnica. Lisboa: Vega, 1994. JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. Puc-Rio, 2006. JONAS, Hans.O princípio vida: fundamentos para uma biologia filosófica. Petrópolis: Vozes, 2004. LOPES, W. E. S. Sobre a fundamentação da ética: o sentimento de responsabilidade em Jonas. In. SANTOS, R.; OLIVEIRA, J.; ZANCANARO, L. Ética para a civilização tecnológica: em diálogo com Hans Jonas. São Paulo: Centro Universitário São Camilo, 2011. SIQUEIRA, José Eduardo de. Ética e Tecnociência: uma abordagem segundo o princípio da responsabilidade de Hans Jonas. Londrina: Editora UEL, 1998. VAZ, Henrique C. de Lima. Escritos de Filosofia V: introdução à Ética Filosófica 2. São Paulo: Edições Loyola, 2000. ZANCANARO, L. O conceito de responsabilidade em Hans Jonas. 1998. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.1998.

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DELEUZE-GUATTARI E OS HUNI KUIN TECNOECOLOGIAS: CARTOGRAFIAS DE UM COMBATE NA IMANÊNCIA Paulo Jorge Barreira Leandro Mestre em Filosofia pela UFPB pjleandro2019@gmail.com Partimos de um duplo plano: das virtualidades e atualidades entre os mundiversos indígenas Huni Kuin da linha Pano e deleuze-guattariano, a fim de solavancar uma cartografia de um combate na imanência. Tendo em vista que em cartografia deleuze-guattariana busca-se atravessar a teia tecno-ecológica Huni Kuin e suas virtualidades a fim de transversarmos o combate político, ecológico e subjetivo traçados na atualidade. Fazendo usos abertos de o Anti-Édipo e Mil platôs, bem como, as Três ecologias e Revolução molecular, de Felix Guattari, conecta-se floresta e luta política sob a chave dos virtuais como encantados naquilo que este povo designa de o outro lado do céu. Pelos horizontes cartográficos como linhas de acesso à dimensão da encantaria indígena, ou seja, seres virtuais em devir que povoam uma dimensão transcendental - o outro lado do ceu - busca-se acionar diversos registros de contato desses seres virtuais não humanos na atualidade humana pelos trabalhos de cura com as medicinas da floresta - que adotamos aqui como tecno-ecologias - como bem aponta Alice Haibara em sua dissertação de Mestrado em Antropologia Social pela USP: Já me transformei!, para assim, percebermos nas brumas destes encontros os rastros incorporais nas ações indígenas de combate ao Estado e ao Capital Nesse sentido, o conceito de transversalidade encontrado em Revolução Molecular de Guattari nos fornece subsídios para pensarmos, dentro da relação virtual-atual (in. Diálogos) as teias de conexão ecológicas (mental, social e ambiental) presentes no povo Hui Kuin, que nos dão fios de

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metamorfoses para acompanharmos processos encantados como práticas de enunciação coletiva contra o capital. A ideiaforça é: as práticas de cura com as medicinas tradicionais da floresta acionam uma rede de seres não-humanos, próprios daquela geografia, daquele lugar, que passam, trocam, ensinam aos Huni Kuin uma série heterodoxa de ações, práticas de ®existência que ao insurgirem no seio da floresta redimensionam os virtuais capitalísticos rompendo seus circuitos fetichista estabelecidos na sociedade produtora de mercadorias. A resistência virtual indígena também é atual, e se configura nos novos modos de resistir da subjetividade ao Estado e as artimanhas do capital ao fazerem frente autônoma e direta numa luta antiga, mas sempre criadora de um duplo combate na imanência. Ecologia. Subjetividade. Combate. Huni Kuin.

O MEIO AMBIENTE COMO POLÍTICA DE ESTADO E FATOR DE PRESERVAÇÃO DAS LIBERDADES INDIVIDUAIS: ENTRE J. RAWLS E R. NOZICK Pércio Davies Schmitz Unisinos Doutorando em Filosofia pd.schmitz@gmail.com Desde que a obra Anarquia, Estado e Utopia de Robert Nozick foi publicada em 1974, na esteira do Objetivismo de Ayn Rand e como resposta à Uma Teoria da Justiça de John Rawls, se tem intensificado a discussão acerca da efetivação de uma anarquia libertária, livre de qualquer domínio estatal, ou ao menos reduzindo-o a um mínimo possível. As ideias libertárias defendem que o indivíduo tem direitos inalienáveis e o Estado ao tributar as suas atividades produtivas com fins sociais redistributivos, onera aquele que produz beneficiando aqueles que não

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produzem ou produzem insatisfatoriamente. Essa prática do Estado é arbitrária e imoral, segundo os libertários, e precisa ser combatida. Dois são os imperativos a serem defendidos: as liberdades individuais e a propriedade privada, ambos produtos dos direitos individuais inalienáveis. Nozick ainda concebe a possibilidade de existência do Estado, mas restrito a uma condição de mínima interferência. Atribui ao Estado apenas a função de proteção contra a força, contra o roubo, contra a fraude e de fiscalização de contratos. Como se daria a manutenção das garantias dessas liberdades individuais e da propriedade privada sem a interferência de um Estado com força suficiente ou com a sua atuação consideravelmente restrita? Existiriam essas garantias? É possível pensar a convivência humana em uma sociedade de direitos e liberdades individuais sem a presença do Estado como mediador da estabilidade social? A tributação, por parte do Estado, para fins de redistribuição de bens sociais é injusta e, portanto, imoral? O presente trabalho visa fazer uma análise dessas ideias e confrontá-las com pensadores liberais que buscam a construção de uma sociedade bem-ordenada, com princípios de justiça e instituições claramente estabelecidas bem como uma distribuição equitativa dos bens sociais, tendo o Estado como o fator de viabilidade dessa sociedade. John Rawls é o principal interlocutor de Nozick neste trabalho, tendo como base teórica a obra Liberalismo Político de 1993. A partir da obra O Custo do Direitos de S. Holmes e C. Sustein e à luz dos pensadores liberais da justiça como equidade, pretende-se também demonstrar nesse debate com os libertários que as liberdade básicas dos indivíduos dependem da arrecadação tributária pois os direitos têm custos e estes são altos, como bens sociais básicos e serviços públicos fundamentais que nem sempre podem ser providos pela iniciativa privada como é o caso de um corpo de bombeiros a socorrer contra eventos trágicos naturais ou causados por alguém, uma força nacional contra invasores estrangeiros ou a educação pública contra a barbárie social ampliando, assim, as atividades necessárias e justificáveis 192


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de um Estado e que mesmo o indivíduo de direitos inalienáveis não pode nem abrir mão e nem mesmo cobrir os custos se não por meio da tributação. Ademais, o Estado é produto da natureza gregária humana, que ao longo da sua história evolutiva sempre precisou associar-se aos outros membros de um grupo, pactuar, de alguma forma produzir, dividir, celebrar e protegerse junto com os demais. Palavras-chave: Robert Nozick. John Rawls. Estado. Liberdades. Custo dos direitos.

Referências bibliográficas COSTA, Hirdan Katarina de Medeiros. O princípio da justiça intra e intergeracional como elemento na destinação das rendas de hidrocarbonetos: temática energética crítica na análise institucional brasileira. Tese. São Paulo: Banco de teses USP, 2012. <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/86/86131/tde-21092012-181014/pt-br.php> acesso em: 11/12/2020. HARTWICK, John M. Intergenerational Equity and the Investing of Rents from Exhaustible Resources. The American Economic Review. Vol. 67, No. 5 (Dec., 1977), pp. 972-974. <https://www.jstor.org/stable/1828079 > Acesso em 05/01/2020. MORRESI, Sergio D. Robert Nozick e o liberalismo fora do esquadro. Revista Lua Nova nº 55-56, pp. 285-296, 2002. <https://www.scielo.br/pdf/ln/n55-56/a14n5556.pdf> Acesso em 14/12/2020. NOZICK, Robert. Anarchy, State and Utopia. Oxford: Blackwell Publishers, Reprinted 1999. ______________. Anarquia, Estado e Utopia. Tradução de Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991.

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RAWLS, John. A Theory of Justice. Revised Edition. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 1999. ____________. Uma Teoria da Justiça como Equidade. 3ª ed. Tradução de Jussara Simões. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2008. ____________. Political Liberalism. New York: Columbia University Press, 1996. ____________. Justiça e Democracia. Tradução de Irene A. Paternot. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2000a. ____________. O Liberalismo Político. Tradução de Dinah de Abreu Azevedo e revisão de tradução de Álvaro de Vita. 2a ed. 2a reimpressão. São Paulo: Ática, 2000b. _____________. O Direito dos Povos. Tradução de Luís Carlos Borges. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2001.

GUIMARÃES ROSA E WITTGENSTEIN: ENTRE O DIZER E O MOSTRAR EM A TERCEIRA MARGEM DO RIO Rafael Araújo Leal PUCPR Doutorando em Filosofia rafael.araujo.leal@gmail.com Se estas palavras que aqui escreverei tivessem som, ganhariam elas vida na forma de um grito de criança do sertão. Um grito que traz consigo a dor da perda, o espanto para com uma atitude silenciosa e a admiração por uma corajosa decisão. Esta estória é narrada através dos olhos de um filho abandonado pelo pai. Abandonado? (...). O pai, de família constituída e quase numerosa, que outrora fora um sujeito ordeiro, cumpridor, positivo, um dia resolve não mais sê-lo. Neste dia, manda fazer uma canoa e quando pronta, deixa a casa sem despedir-se de gente qualquer. De remo em punho, põe-se a viver dentro da

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canoa, e esta, dentro do rio. A decisão do patriarca causa assombro e perturbação. Padre, aparentados, jornalistas, soldados e até um netinho que acabara de nascer tentam em vão tirá-lo do rio. A família, ao perceber o caráter irrefreável da decisão, desiste e também o abandona. No entanto, o filho – criança pequena que tudo vira e nada entendera – fica para lá velar seu pai. No devagar e rápido da vida, o menino percebe que o tempo passou e que envelhecendo ele está. Um dia, resolve ir até a margem do rio e dizer ao pai para tomar terra ... e emenda: pai, eu fico no seu lugar! O pai, aparentemente, acolhe o pedido e segue rumo à margem. Assustado, o já velho menino foge, abandonando seu pai. Este ensaio, que ora se apresenta, tem a intenção de encontrar os fundamentos para afirmar que o texto literário é uma atividade filosófica, na medida em que brinca, sem pretensão de verdade, de dizer aquilo que somente pode ser mostrado. O contexto desta reflexão, portanto, será o conto A terceira margem do rio de Guimarães Rosa. E para fazê-la recorrei à crítica da linguagem elaborada por Wittgenstein em seu livro Tractatus Logico-Philosophicus, enfatizando a diferença irreconciliável entre o dizer e o mostrar. Palavras-chave: Guimarães Rosa. Wittgenstein. Dizer e mostrar. A terceira margem do rio.

Referências bibliográficas WITTGENSTEIN, L. Investigações Filosóficas. Trad. José Carlos Bruni. (Os Pensadores). São Paulo: Nova Cultural, 1999. WITTGENSTEIN, L. Tractatus Logico-Philosophicus. Trad. L.H.L. dos Santos. São Paulo: Edusp, 1994. ROSA, João Guimarães. A terceira margem do rio. In: Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. p. 32-37.

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A NATUREZA DA MOBILIDADE BERGSONIANA PELO FILME “MÃE” Rafaela de Lima Zerbini PUCPR Mestranda em Filosofia rafaela.zerbini@gmail.com Há, para Bergson, duas diferentes formas de multiplicidade no vivo. Uma delas, apresentada com o conceito de Duração, a qual compreende uma ação vivida e impossível de ser apreendida. A natureza do vivo não é apreendida pois não se pensa o vivo sem mobilidade. Se assim o fizermos, consideraríamos o ente vivo como simples matéria, o que, por vezes, é confundido com o que se denomina “multiplicidade quantitativa”. Na multiplicidade quantitativa as movimentações do vivo são de fato compreendidas, porém considerando-as à própria maneira do vivo. Só há quantitativo em multiplicidade se este não é pré-estabelecido. A multiplicidade quantitativa também criase pela ação intuitiva. O presente trabalho tem como objetivo tratar da mobilidade apresentada por Henri Bergson na natureza da multiplicidade - quantitativa e qualitativa, fazendo uso da arte cinematográfica. A teoria bergsoniana, pode ser lida equivocadamente se vemos a vida em abstração ou justaposta. Esse erro é o que ocasiona falsos problemas ou a negação da experiencia vivida. Seria esse o equívoco para compreender a teoria de Bergson. Para nos aproximarmos do que o filósofo propõe, é referenciada a contínua mobilidade heterogênea da personagem de Jennifer Lawrence no filme “Mãe!”, de Darren Aronofsky. A cena de invasão e domínio de sua casa e a mobilidade própria da personagem para essas intercorrências é a base da escrita desse texto. Além da literatura bergsoniana, algumas referências a concepção de multiplicidade e rizoma, apresentados por Deleuze, serão tratados aqui como estratégia

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para expandir a compreensão sobre como o vivo intui sua mobilidade. Esse traçado se dá na sequência de cenas do filme, abrindo assim desdobramentos das condições e ações da personagem aqui mencionada como “Mulher” e sua interação com seu companheiro, espaço de habitação e visitantes. A intenção deste trabalho provoca para um lugar em realidade para a perspectiva de um Método Filosófico da intuição. Para que um conceito filosófico bergsoniano possa ser correspondido, faz-se necessário usar de suas aplicações para tanto – como é o caso da arte como meio de alcance vivido da Duração Pura. Palavras-chave: Henri Bergson. Multiplicidade. Multiplicidade Quantitativa. Multiplicidade Qualitativa. Experiencia vivida.

Referências bibliográficas BERGSON, Henri. Ensaio sobre os dados Imediatos da Consciência. São Paulo: Edipro, 2020. ______________. O que Aristóteles pensou sobre o lugar. Campinas: Editora da Unicamp, 2013. ______________. Matéria e Memória. São Paulo: Martins Fontes, 2010. ______________. Pensamento e o Movente. In: SILVA, F. L. Col. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979. DELEUZE, Gilles. Bergsonismo. São Paulo: Editora 34 Ltda, 1999. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995. v.1. GUIMARAES, V. Mãe! | No Brasil, Darren Aronofsky admite: “Não é filme de terror, mas ferra sua mente”. Observatório do cinema, 2018. Disponível em: https://observatoriodocinema.uol.com.br/artigos/2017/09/mae-no-brasil-darrenaronofsky-admite-nao-e-filme-de-terror-mas-ferra-sua-mente Acesso em 29/08/2021. 197


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OS LIMITES DA LIBERDADE JURÍDICA DE AXEL HONNETH COMO BARREIRAS PARA A FORMAÇÃO DE SUBJETIVIDADES MAIS SOLIDÁRIAS Rahra Carvalho de Araújo Mestra em Filosofia pela UFPI rahracar@gmail.com Neste artigo vamos nos centrar no modelo de liberdade jurídica (negativa), explicitada na obra O direito da liberdade (2015) de Axel Honneth, analisando seus déficits na formação de subjetividades mais solidárias. Para Honneth, esse modelo de liberdade não leva em consideração o outro nas tomadas de decisão, assim como a natureza, espaço extremamente relevante para manutenção da vida e das gerações futuras. Axel Honneth, em um primeiro momento, chama a atenção para o fato de que ideias e valores basilares são ferramentas de orientação comum nas reproduções das sociedades. São esses valores éticos que fundamentariam as estruturas sociais e consequentemente levariam ao ordenamento da vida social. Segundo Honneth, a ideia da liberdade enquanto valor que se destaca em relação aos outros, é compreendida pelo como um valor indispensável que, de certa forma, se fundiria a todos os outros princípios morais e, desse modo, corresponderia aos anseios dos indivíduos em vista de que na modernidade esse valor se torna elemento indispensável da formação e identidade do sujeito. O problema encontrado por Honneth na formação e identidade dos sujeitos é que eles são forjados dentro de uma perspectiva de liberdade egoísta e individualista que levam os indivíduos a agirem patologicamente na sociedade. O indivíduo acaba se tornando limitado aos seus próprios desejos; é inclinado ao individualismo e esquece do outro, mesmo sabendo que vive em comunidade. Tal comportamento acaba desenvolvendo uma sociedade doente, na qual temas que dizem respeito a uma

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coletividade são tratados com indiferença quando na realidade é a luta coletiva que permite a conquista e ampliação de direitos individuais. Nesse sentido, a construção do eu individual, os desejos e intenções de cada indivíduo, só é possível através do agir comunicativo, que tenha a solidariedade como parâmetro. Entretanto, temos um modelo baseado no direito individual (liberdade jurídica) que não garante essa interação. Na verdade, nele é constantemente proposto ao indivíduo uma autonomia pessoal utilizável em esfera apenas individual, livre de qualquer dever social. Palavras-chaves: Axel Honneth. Liberdade Jurídica. Solidariedade. Subjetividade. Referências bibliográficas HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil. Martins Fontes: São Paulo, 2003. HONNETH, Axel. Sofrimento de indeterminação: uma reatualização da filosofia do direito de Hegel. São Paulo: Singular, 2007. HONNETH, Axel. Luta por Reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo: Ed. 34, 2009a. HONNETH, Axel. O Direito da Liberdade. Trad. Saulo Krieger. São Paulo: Martins Fontes, 2015. OLIVEIRA, Manfredo A. de. Ética e Sociabilidade. São Paulo: Loyola, 1993. HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil. Martins Fontes: São Paulo, 2003.

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SOCIEDADE DO CANSAÇO E MODOS DE SUBJETIVAÇÃO: ARTE E VIDA NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL Renato Nogueira de Freitas Faculdade Evolução Alto Oeste Potiguar Graduando em Psicologia renato.nogueira55@gmail.com

O século XXI é marcado pelas doenças neuronais e psicológicas, como a depressão e a síndrome de burnout, que possuem ligação direta com a forma como a sociedade vem se organizando. Byung-Chul Han aponta para a mudança da sociedade disciplinar e proibitiva, do século passado, com sua dialética negativa, para a sociedade do desempenho, que valoriza o projeto, a iniciativa e a motivação, provocando transformações importantes nos modos de subjetivação do ser humano. Esse sujeito produtivo vive dentro da lógica da dialética positiva, que produz uma hiperatividade e uma hiperconectividade, desencadeando na aceleração cada vez maior da vida cotidiana. Essa necessidade de realizar uma enormidade de tarefas e de consumir exageradamente acarreta no que Baudrillard chamou de a “obesidade de todos os sistemas atuais”. Esse exagero de positividade vem resultando no esgotamento psíquico, na exaustão do sujeito e na sociedade do cansaço. Mas Byung-Chul Han nos traz uma alternativa esperançosa: a contemplação. Portanto, é a partir dessa análise histórica e filosófica e da aposta na atenção contemplativa que construo aproximações da obra do autor com o entendimento da relação entre arte e vida na perspectiva da psicologia histórico-cultural. O objetivo geral desse estudo é compreender os benefícios da arte para a vida na atual sociedade em que vivemos na perspectiva da psicologia histórico-cultural. O método de pesquisa utilizado nesse estudo

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foi a revisão bibliográfica narrativa. As plataformas de pesquisa acadêmica usadas foram: Google acadêmico e SciELO. Foram coletados livros, artigos científicos, teses e dissertações, que trouxeram valiosas contribuições para a realização desse estudo. Quanto aos resultados e discussão, procurei trabalhar, a partir do contexto da sociedade do cansaço e da categoria da arte na teoria histórico-cultural, especialmente a partir de Vygotsky, os benefícios e os demais envolvimentos da arte na vida de crianças, adolescentes e adultos em diversas situações cotidianas, como as do âmbito escolar e do trabalho. Foi possível encontrar fortes correlações entre o aumento do bem-estar físico e psíquico e o contato direto com a arte, como ação expressiva, seja por meio da sua criação ou contemplação. Pude perceber também o fortalecimento de vínculos em comunidades, como a escolar, a partir do uso da arte como ferramenta socioeducativa e promotora de saúde mental. Um conceito curioso encontrado durante os estudos foi o de catarse, como uma dialética entre identificação e distanciamento de sujeito e objeto proveniente de certas experiências estéticas. E para concluir, chamo atenção para as transformações históricas nos modos de subjetivação dos sujeitos, podendo ser observadas de diversas formas, como nas tentativas desse humilde estudo de destacar aspectos relacionados ao sofrimento da exaustão, mas também às possibilidades de promoção de saúde por meio do uso da arte como ferramenta lúdica, socioeducativa e de desenvolvimento pessoal e social. Nesse sentido, a arte mostra-se importantíssima para o enfrentamento dos problemas sociais e na construção subjetiva dos sujeitos. Como diria Vygotsky: “A arte dirá a palavra decisiva e de maior peso. Sem a nova arte não haverá o novo homem.” Palavras-chave: Sociedade. Subjetivação. Arte. Vida. Psicologia.

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Referências bibliográficas ANDRADA, Paula Costa. O professor de corpo inteiro: a dança circular como fonte de promoção e desenvolvimento da consciência. 2014. 238 f. Tese (Doutorado) - Curso de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, 2014. ARGILES, Carmen Terezinha et al. Processos de singularização no modo psicossocial. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, p. 61-77, 2017. BIAVATTI, Sandra Macanhão. O desenvolvimento do psiquismo na perspectiva do professor de arte: contribuições da psicologia histórico-cultural. 2021. 156 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel, 2021. HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Petrópolis: Editora Vozes, 2015. 53 p. Tradução de Enio Paulo Giachini. LEITE, Hilusca Alves; TULESKI, Silvana Calvo. Psicologia Histórico-Cultural e desenvolvimento da atenção voluntária: novo entendimento para o TDAH. Psicologia & Sociedade, São Paulo, p. 111-119, 2011. MASCARENHAS, Leonardo Balbino. Biopolítica, Educação e Resistência na Contemporaneidade. Educação & Realidade, Porto Alegre, p. 1537-1554, 2018. SANTOS, Anelise Schaurich dos; PERRONE, Claudia Maria. Produção da precariedade laboral: reflexões preliminares sobre a criação de novas formas de subjetivação. Psicologia & Sociedade, Recife, p. 1-9, 2017. SCHÜHLI, Vitor Marcel. A dimensão formativa da arte no processo de constituição da individualidade para-si: a catarse como categoria psicológica mediadora segundo Vigotski e Lukács. 2011. 184 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Psicologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2011. SOUZA, Vera Lúcia Trevisan de; MEDEIROS, Fernanda Pereira. Psicologia Histórico-Cultural e orientação profissional: 202


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vivências de jovens mobilizadas pela arte. Revista Brasileira de Orientação Profissional, Campinas, p. 155-165, 2018. VIGOTSKI, Liev Semionovitch. Psicologia da Arte. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda, 1999. 377 p. Tradução de: Paulo Bezerra. WEDEKIN, Luana Maribele; ZANELLA, Andrea Vieira. L. S. Vigotski e o ensino de arte: “A educação estética” (1926) e as escolas de arte na Rússia 1917-1930. Revista Pro-Posições, Campinas, v. 27, p. 155-176, 2016.

PSICOLOGIA DE MASSAS DO FASCISMO E A NEGAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS A PARTIR DE REICH E DELEUZE E GUATTARI Prof. Dr. Rodrigo Alvarenga PUCPR Programa de Pós-graduação em Direitos Humanos e Políticas Públicas alvarenga.rodrigo@pucpr.br Na abertura da 43ª sessão do Conselho de direitos humanos em Genebra, em fevereiro de 2020, o líder da Organização Mundial das Nações Unidas (ONU), Gustavo Guterres, afirmou que os direitos humanos estão sob ataque no mundo todo e alertou para a necessidade de mobilização internacional. (ONU, 2020). A alta-comissária para os direitos humanos, Michelle Bachelet, criticou diretamente os ataques contra defensores dos direitos humanos e no Brasil, destacando os retrocessos significativos nas políticas de proteção ambiental que culminam no ataque aos povos indígenas e quilombolas. (CHADE, 2020). Apesar disso, uma parte dos brasileiros segue irredutível em seu negacionismo com relação a pandemia e, também, em face dos direitos humanos, visto que a discussão sobre isolamento social

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reflete diretamente a proteção da vida dos mais vulneráveis à contaminação. A questão que se coloca é se esse fenômeno negacionista é simplesmente fruto da alienação política, marcados pelas relações de classe e pela desigualdade, ou se tem relação com algo mais profundo, um traço da personalidade humana que acaba se manifestando coletivamente em determinados períodos históricos. Esse estudo teve por objetivo analisar o sentido da negação dos direitos humanos e da identificação com o autoritarismo de Estado na sociedade brasileira, a partir da concepção de psicologia das massas do fascismo, de Whilhelm Reich (1982/1988), e da perspectiva esquizoanalítica de Gilles Deleuze e Feliz Guattari (1996/2010). Trata-se de investigar o modo como se estabelece a relação entre os dois autores, no que se refere à abordagem sobre fenômeno do fascismo, a fim de compreender por que as massas não reconhecem o valor ético e político dos direitos humanos e da democracia. De acordo com os estudos freudianos, o vínculo que integra os indivíduos na massa é de natureza libidinal, ela age como uma força integradora negativa. Manter a energia libidinal em um nível inconsciente é um dos princípios básicos da liderança fascista. Assim, num grupo atinge-se um grau de experiência agradável, perdese o senso de limites da individualidade levando o indivíduo a expressar traços arcaicos. “Portanto, a psicologia de massas trata o ser individual como membro de uma tribo, um povo, uma casta, uma classe, uma instituição, ou como parte de uma aglomeração que se organiza como massa em determinado momento, para um certo fim” (FREUD, 2011, p. 15). Partindo dos estudos freudianos Reich explica que as massas não foram enganadas, elas desejaram o fascismo num certo momento, mas sua compreensão se limita a conceber o comportamento fascista como resultado do mecanismo de repressão e recalcamento da sexualidade, enquanto Deleuze e Guattari concebem o fascismo como uma produção desejante. Desejar a repressão, nesse sentido, não é um sintoma de natureza psicanalítica, uma espécie de retorno do recalcado na forma do masoquismo, mas é a 204


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própria expressão de um desejo, um desejo fabricado que transforma os sujeitos em máquinas desejantes. Nesse caso, sujeitos que desejam a própria submissão. Palavras-chave: Desejo. Direitos humanos. Fascismo. Psicologia. Subjetividade. Referências bibliográficas CHADE, Jamil. Bachelet denuncia retrocesso no Brasil; governo insinua motivação política. Disponível em https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/02/27/bachelet-denuncia-retrocessos-em-direitos-humanos-no brasil.htm?cmpid. Acesso em: 01 mar. 2020. Deleuze, Gilles; Guattari, Felix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. v. 3. Tradução de Aurélio Guerra Neto et al. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1996 (Coleção TRANS) ______. 1925-1995. O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia. Tradução de Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Ed. 34, 2010. FREUD, Sigmund, 1856-1939. Psicologia das massas e análise do eu e outros textos (1920-1923). Tradução Paulo César de Souza, São Paulo: Companhia das Letras, 2011. NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Chefe da ONU diz que direitos humanos estão sob ataque no mundo. Disponível em <https://nacoesunidas.org/chefe-da-onu-diz-que-direitoshumanos-estao-sob-ataque-no-mundo/>. Acesso em: 15 mar. 2020. REICH, Wilhelm. Escuta, Zé Ninguém!. 10. ed. Lisboa: Martins Fontes, 1982. REICH, Wilhelm. Psicologia de massas do fascismo. 2. ed. Tradução de Maria da Graça M. Macedo. São Paulo, Martins Fontes, 1988.

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PREVENÇÃO DO SUICÍDIO NA INTERNET: EM BUSCA DE UMA SUPERINTELIGÊNCIA SUICIDOLÓGICA NAS REDES SOCIAIS Roger Vinícius da Silva Costa Mestre em Linguística pela PUC Minas roger.revisao@gmail.com O documentário The social dilemma (2020) confirmou que as redes sociais digitais utilizam inteligência artificial avançada mais para fins mercadológicos do que humanísticos. Além disso, não é claro o suficiente em que medida elas seriam capazes também de prevenir o suicídio. Diante desse cenário, pergunta-se: como interpretar o uso da inteligência artificial nas redes sociais digitais para fins de prevenção do suicídio? Essa problemática focaliza o aspecto tecnológico, porém articula os 3 eixos temáticos deste congresso de Filosofia, na medida em que aborda o impacto da tecnologia sobre a subjetividade no ambiente digital. Nesse sentido, o objetivo geral do estudo foi reavaliar o papel da inteligência artificial nas redes sociais digitais, à luz de uma articulação entre Suicidologia e Sociedade 5.0 (COSTA, 2021). A Suicidologia é o estudo interdisciplinar do suicídio, principalmente com fins de prevenção (WHITE et al., 2015). Já a Sociedade 5.0 é a proposta de uma sociedade superinteligente, que emprega inteligência artificial avançada para resolver problemas socioambientais (HITACHI-UTOKYO LABORATORY, 2020). Para cumprir o objetivo da investigação, realizou-se uma pesquisa qualitativa, exploratória e bibliográfica em livros teóricos e artigos científicos. Um livro acadêmico e uma revisão sistemática sobre suicídio e internet demonstram que a rede social é uma faca de dois gumes: possibilita espaço de compartilhamento de experiências para o autor, mas potencializa o risco de suicídio por parte dos leitores. Os estudos empíricos que analisaram redes sociais específicas (Facebook,

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Instagram, Twitter e Weibo) revelam que já é possível construir e aplicar modelos de aprendizado de máquina para analisar as postagens dos usuários e, com isso, calcular o risco de suicídio dos emissores. Conclui-se que a articulação da Suicidologia e a Sociedade 5.0 oferece um potencial interpretativo para o uso de inteligência artificial com fins de prevenção do suicídio em redes sociais. Essa conclusão implica expandir os objetivos de uso desse tipo de ferramenta, para além da conversão de interessados em compradores e/ou promotores. Palavras-chave: inteligência artificial. Saúde mental. Sociedade 5.0. Suicidologia. Tecnologia da informação.

Referências bibliográficas COSTA, R. V. S. Suicídio nas redes sociais: um diálogo entre Suicidologia e Sociedade 5.0. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS, 2, [online], 2021. Anais... [online]: Doctum, 2021. (no prelo) HITACHI-UTOKYO LABORATORY. Society 5.0: a peoplecentric super-smart society. Tokyo: Springer, 2020. THE SOCIAL DILEMMA. Jeff Orlowski. [online]: Netflix, 2020. Documentário. WHITE et al. (Eds.). Critical Suicidology: transforming suicide research and prevention for the 21st century. British Columbia: UBC Press, 2015.

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TOLERÂNCIA RELIGIOSA EM PERSPECTIVA: DE THOMAS HOBBES A JOHN LOCKE

Ronaldo Candido dos Santos UNIR Mestrado Acadêmico em Filosofia ronaldocsadvogado@gmail.com O presente trabalho parte do questionamento de qual o papel da tolerância dentro do contexto filosofia política moderna? O texto tem por objetivo reunir, analisar e sistematizar as ideias centrais de Thomas Hobbes e John Locke, bem como as respectivas bases filosóficas e conceituais utilizadas para fortalecer a ideia de separação entre o Estado Civil e o Estado Eclesiástico com relação a sua atuação, funcionalidades e objetivos. O tema da tolerância ganha o palco do século XVI/XVII em diante por causa da quebra da unidade religiosa. Com as reformas essa unidade deixa de existir, ocorre uma frontumaçção, a partir desse momento o grande problema com o qual tem de lidar os tronos é com o da PLURALIDADE RELIGIOSA, que até então era desconhecido, porque a religião que se praticava era a religião do Príncipe, do Rei, do soberano. E agora numa situação que não existe mais essa unidade? Para o Hobbes que diz claramente no LEVIATÃ que o bom governo consiste no bom governo das consciências – a questão era resolvida com base numa redução a unidade forçada. Como acima descrito, a tolerância religiosa já era tema central nas discussões de cunho políticoreligioso no Século XVII. Naquele período, não havia separação entre Estado e Religião e as ideias de John Locke (1632-1704) impulsionaram uma mudança de paradigma. Locke acreditava que uma das condições mais importantes para que a tolerância religiosa se estabelecer no seio social seria justamente a promoção da separação entre Igreja e Estado (REIS, 2012). Assim, é

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possível perceber a evolução do tema no pensamento de Hobbes e Locke, no que tange aos conceitos de liberdade, igualdade e propriedade, bem como a passagem do estado de natureza para um estado social. Palavras-chave: Tolerância. Religião. Política. Referências bibliográficas HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 2ª ed. Trad. João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo, SP: Abril Cultural, 1979. LOCKE, John. Carta acerca da tolerância (1969). Trad. De Anoar Aiex. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. São Paulo: Martins Fontes, 1998 REIS, Daniela Amaral dos. A separação igreja-estado na doutrina sobre a tolerância de John Locke. Kínesis, v. IV, n. 8, p. 97-105, 2012. .

PERSPECTIVAS BIOPOLÍTICAS CONTEMPORÂNEAS: LIAME ENTRE O RACISMO ESTRUTURAL E O ENCARCERAMENTO EM MASSA Rosa Maria Pinho Campos UNIR Mestrado acadêmico em Filosofia pinhorosamaria@hotmail.com Com o passar dos últimos anos, o Brasil fez uso de uma política preocupante, qual seja, a manipulação do Estado penal

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em comutação ao Estado de bem-estar social, mas esse fenômeno só foi experimentado em certos grupos de pessoas. O Estado utilizou-se de uma política social em conjunto com o direito penal para marginalizar e criminar determinados grupos de pessoas, e assim, tais pessoas foram contidas penalmente, ou seja, foram encarceradas. Essa política social utilizada com alhures proposito materializa-se em ações e procedimentos focadas para populações carentes as quais compõe as classes inferiores. Mencionadas ações permite a dominação e exercício do poder sobre os indivíduos de tais grupos. Quando se estuda o direito penal com mais profundidade é possível perceber que o direito penal, entre outras funções, é uma ferramenta para controlar certos grupos de pessoas, as quais são desprovidas de posses, honras e direitos. Todo esse fenômeno culmina na desigualdade racial. Os estudos do filósofo francês Foucault, corrobora com esse entendimento e permite compreender que o poder não está centralizado unicamente no Estado, antes percorre todo o corpo social, mediante diversos dispositivos, de modo que as manifestações de poderes estão intimamente ligadas ao racismo estrutural, que por sua vez possui elo com o encarceramento em massa. Diante dessa situação fica evidente a importância e a necessidade de estudar e compreender o assombroso evento do encarceramento em massa e sua relação com o racismo estrutural. Palavras-chave: Foucault. Biopolíticas. Racismo Estrutural. Referências bibliográficas BRASIL. STF. Plenário. ADPF 347 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/9/2015 (Info 798). Disponível em: < www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo798.htm>. Acesso em jun. 2017. CAMPOS, Carlos Alexandre de Azevedo. Devemos temer o “estado de coisas inconstitucional”?. In: Consultor jurídico. 210


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Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2015-out15/carlos-campos-devemos-temer-estado-coisas-inconstitucional>. Acesso em novembro de 2020. AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010 [1995]. ALEXANDER, Michelle. A nova segregação: racismo e encarceramento em massa. São Paulo: Boitempo, 2018. ANDRADE, Vera Regina P. de. Pelas Mãos da Criminologia: o controle penal para além da desilusão. Rio de Janeiro: Revan, 2012. BATISTA, Nilo. Punidos e Mal Pagos: violência, justiça, segurança pública e direitos humanos no Brasil de hoje. Rio de Janeiro: Revan, 1990. BORGES, Juliana. O que é: encarceramento em massa?. Belo Horizonte: Letramento/Justificando, 2018. BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto?. 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016 [2009]. FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: curso no Còllege de France (1975-1976). 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010 [1999]. FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. 38 ed. Petrópolis: Vozes, 2010. GÓES, Luciano. A "Tradução" de Lombroso na Obra de Nina Rodrigues: o racismo como base estruturante da criminologia brasileira. Rio de Janeiro: Revan, 2016. GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Tradução de Márcia Leite Nunes. 4.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008. MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. Trad: Renata Santini. São Paulo: n-1 edições, 2018. RABINOW, Paul; ROSE, Nikolas. O Conceito de Biopoder Hoje. Política & Trabalho, n, 24, p. 27-57, 2006.

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INTERVENÇÕES DEMOCRATIZANTES E TRANSFORMAÇÃO TECNOLÓGICA NA FILOSOFIA DE ANDREW FEENBERG: SUBVERSÃO, REGULAMENTAÇÃO E PARTICIPAÇÃO Ruan Pedro Gonçalves Moraes Mestre em Filosofia pela UFPI ruanpedro_m@hotmail.com No presente trabalho apresenta o conteúdo parcial de pesquisa de dissertação na qual buscamos apontar de que modo Andrew Feenberg compreende os movimentos de resistência e intervenções democratizantes como meio de transformação tecnológica. Para Feenberg, a estrutura tecnológica é marcada pela constante existências lutas de diferentes grupos pela efetivação de suas preferências. Esses conflitos se fazem no momento em que esses grupos refletem sobre seu lugar como atores sociais e identificam certas incoerências com seus interesses. Nesse processo, surgem demandas pela democratização, isto é, aqueles grupos cujos valores não se encontram concretizados nos dispositivos buscam formas de se fazerem ouvidos, essas exigências têm o objetivo de enfraquecer às formas de controle artificiais de controle a partir de cima. Os movimentos de resistências surgem com propostas alternativas às condições de controle tecnológico dominante. Esse ideal democratizante busca gerar atualizações no esquema tecnológico na via de superar as estratégias de obscurecimentos da relação entre sociedade e encaminhamento tecnológico. Diante disto, o presente artigo tem por objetivo identificar as formas de resistências tecnológicas que se fazem por meio de intervenções democráticas nas tecnologias. Uma primeira forma se realiza por meio da apropriação criativa pelos atores sociais. Isto é, nas mãos dos usuários as tecnologias aparecem como mais ou menos limitadas, mais ou menos adequadas aos interesses públicos e podem ter seu design

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ou programação inicial subvertido para atender as demandas em disputa. A segunda intervenção identifica a possiblidade de restrições ou parâmetros de regulamentação para o desenvolvimento tecnológico. Tais formas de regulação poderiam se dar tanto por pressões populares no próprio mercado, ou movimentos políticos buscando soluções nas instituições governamentais. O terceiro tipo de intervenção democratizante envolve as propostas de projeto participativos, isto é, a cooperação entre atores sociais e técnicos a partir de valores compartilhados. Uma proposta de desenvolvimento tecnológico cooperativo e participativo visa estabelecer a coerência entre a tecnologia dede o seu design e os grupos que com ela venham a interagir. Palavras-chave: Andrew Feenberg. Filosofia da Tecnologia. Resistência. Intervenção Democratizante. Referências bibliográficas FEENBERG, Andrew. Transforming Technology. A Critical Theory Revisited. Oxford: Oxford University Press, 2002. FEENBERG, Andrew. Tecnologia, Modernidade e Democracia. Tradução de Eduardo Beira. Portugal: MIT Press, 2015. FEENBERG, Andrew. Modernity and Technology. Cambridge, Masschusetts: MIT Press, 2003. FEENBERG, Andrew. Entre a razão e a experiência: ensaios sobre tecnologia e modernidade. Tradução de Eduardo Beira; Cristiano Cruz e Ricardo Neder. Portugal: MIT Press, 2017a. FEENBERG, Andrew. Technosystem: the social life of reason. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 2017b. CRUZ, Cristiano Cordeiro. Andrew Feenberg e a Teoria Crítica da Tecnologia. In: FEENBERG, Andrew. Entre a razão e a experiência: ensaios sobre tecnologia e modernidade. Tradução de Eduardo Beira; Cristiano Cruz e Ricardo Neder. Portugal: MIT Press, 2017.

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CRUZ, Cristiano Cordeiro. Andrew Feenberg: o desenvolvimento tecnológico é uma arena política. In: OLIVEIRA, Jelson (org.). Filosofia da Tecnologia: seus autores e seus problemas. Caxias do Sul, RS: Educs, 2020. DAGNINO, Renato. O pensamento latino-americano em ciência, tecnologia e sociedade (PLACTS) e a obra de Andrew Feenberg. In: NEDER, Ricardo T. (org.). A teoria crítica de Andrew Feenberg: racionalização democrática, poder e tecnologia. 2 ed. Brasília: Observatório do Movimento pela Tecnologia Social na América Latina / CDS / UnB / Capes. 2013, p. 25 – 43. FEENBERG, Andrew. Racionalização subversiva: tecnologia, poder e democracia. In: NEDER, Ricardo T. (org.) A teoria crítica de Andrew Feenberg: racionalização democrática, poder e tecnologia. 2 ed. Brasília: Observatório do Movimento pela Tecnologia Social na América Latina / CDS / UnB / Capes. 2013e p. 69 – 95.

A INVISIBILIDADE DA MULHER NEGRA NO ESPAÇO POLÍTICO REPRESENTATIVO: A IMPORTÂNCIA DO FEMINISMO INTERSECCIONAL COMO MECANISMO DE INCLUSÃO DEMOCRÁTICA Sâmia Souza Santos UNIR Mestrado Acadêmico em Filosofia samiasouzas@gmail.com O presente trabalho parte do questionamento de “como o feminismo interseccional pode orientar na visibilidade da mulher negra no cenário político mesmo diante do sexismo e do racismo?”. Busca estudar e entender as causas que levam a (sub) 214


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participação das mulheres negras no cenário político representativo e demonstrar a importância do feminismo interseccional mecanismo fortalecedor para criação de uma participação democrática mais igualitária. Neste viés, a formulação do feminismo interseccional veio a partir de uma experiência pessoal que Kimberlé Crenshaw vivenciou, fazendo com que voltasse suas atenções para o fato da mulher negra estar situada em uma esfera que não estava sendo nem problematizada pelo movimento feminista nem pelo movimento negro. Assim, Crenshaw começou a se dedicar na compreensão do fenômeno das formas de hierarquização entre gênero e raça, denominado de interseccionalidade, e como essas discriminações operam juntas, limitando as chances de sucesso. Destacando que a obra Mulheres, Raça e Classe (1981), de Angela Davis, foi um marco. Mesmo que a nomenclatura “interseccional” ainda não tivesse sido utilizada, o livro de Davis levou para o centro do debate a associação do gênero às categorias de raça e classe, de maneira a fragmentar o discurso da universalidade do conceito de mulher. A interseccionalidade não pode ser vista apenas sobre múltiplas identidades, a interseccionalidade é, antes de tudo, uma lente analítica sobre a interação estrutural em seus efeitos políticos e legais. Mostrando como e quando mulheres negras são discriminadas e estão mais vezes posicionadas em avenidas identitárias, que farão delas vulneráveis a colisão das estruturas e fluxos modernos. (AKOTIRENE, 2019, p. 43). O feminismo interseccional é de suma importância para a evolução dos identificadores das desigualdades que antes eram estudados de forma genérica e observados dentro de um molde que desconsideravam traços que apresentam os pontos primordiais para entender como funciona a exclusão mulher negra, podendo assim “exigir que a igualdade de oportunidades entre mulheres e homens não correspondesse a um silêncio sobre as mulheres que compartilham, com os homens que estão na base da pirâmide social, as desvantagens decorrentes de sua posição de raça e de classe”. (BIROLI e MIGUEL, 2014p. 8). Dessa forma, é 215


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importante pensamos por um viés filosófico argumentativo para conseguirmos atacar os pontos de rupturas existentes no processo de exclusão da mulher, e poderemos entender a partir de ideias como a de que “o homem é o Sujeito, o Absoluto; ela (a mulher) é o Outro” (BEAUVOIR, 2016, p. 13). Palavras-chave: Feminismo. Interseccionalidade. Invisibilidade. Política. Referências bibliográficas AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. Coord. Djamila Ribeiro. São Paulo: Pólen. ATKINSON, Neill. Adventures in democracy: A history of the Vote in New Zealand. Otago University Press, 2003. BETTY, Friedan. Feminine Mystique. 1963. BIROLI, Flávia; MIGUEL, Luis Felipe. Feminismo e política: uma introdução. Boitempo Editorial, 2015. CEDAW, U. Convention on the elimination of all forms of discrimination against women. Retrieved April, v. 20, p. 2006, 1979. CRENSHAW, Kimberlé. A intersecionalidade na discriminação de raça e gênero. VV. AA. Cruzamento: raça e gênero. Brasília: Unifem, p. 7-16, 2004. _____. Demarginalizing the intersection of race and sex: A black feminist critique of antidiscrimination doctrine, feminist theory and antiracist politics. u. Chi. Legal f., p. 139, 1989. _____. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista estudos feministas, v. 10, n. 1, p. 171-188, 2002. DAVIS, Angela. Mulher, classe e raça. São Paulo: Boitempo, 1981. DE BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. Nova Fronteira, 2014. 216


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MAGALHÃES, Lívia. (Org.). Lugar de Mulher (Pensar Político). Rio de Janeiro. Oficina Raquel. PATEMAN, Carole. O contrato Sexual (1988). Tradução de Marta Avancini. São Paulo: Paz e Terra, 1993. RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro?. Editora Companhia das Letras, 2018.

A EPISTEME DA COLONIALIDADE E SUA RELAÇÃO COM O COLONIALISMO: UMA ANÁLISE SOB O CONTEXTO DA IDEIA DE RAÇA

Sarah Francine Schreiner PUCPR Doutoranda em Filosofia sarahfrancine@yahoo.com.br Da estrutura de dominação de que se trata o colonialismo – um sistema manutenção da subordinação imposta pela colonização -, que com a colonização da América permitiu o surgimento da modernidade que se instala mediante o eurocentrismo como validador da cultura ocidental, apresentou-se a ideia de raça como definidora do indivíduo. O colonialismo consolidou desigualdades entre pessoas a partir da raça, estabeleceu subalternidades e delineou a quem cabe o exercício do comando, e a quem cabe à obediência. Essa forma de atuação do colonialismo estabelece um padrão de poder, e cria consigo o que Quijano (2002) chama de “colonialidade do poder”, pelo qual a raça passa a ser critério de classificação social básica e de dominação. É o pressuposto da raça, portanto, que institui a colonialidade. E ela - a colonialidade - é constitutiva da modernidade, porque não há esta última sem a primeira, como bem lembra Mignolo (2017). Aliás, para Quijano (2010), a colonialidade

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origina-se a partir da América, e passa a exercer suas práticas em todo o mundo. Com isso, o problema deste estudo envolve destacar uma episteme da colonialidade, e se esta episteme se dá a partir do colonialismo, tendo a ideia de raça como delimitador da análise. Como objetivos, conceitua-se colonialismo e colonialidade, e estabelece-se uma relação entre os termos, buscando se justificar uma episteme da colonialidade a partir do colonialismo. A metodologia é bibliográfica, construindo-se, especialmente a partir de Quijano e Fanon. Pelo estudo, ainda incipiente, já se possibilita delinear as diversas matizes sociais que recebem a afetação da colonialidade do poder. Percebe-se a colonialidade do poder definida por Quijano (2005), como efetivo fundamento do atual padrão de poder existente em sociedade, o qual utiliza-se da classificação das pessoas baseada na ideia de raça. A dualidade proposta pelo colonialismo, bem demarcada na obra de Fanon (1961, 2020), ao apontar a afetação deste para a construção da identidade da pessoa negra, porquanto suas subjetividades seriam constituídas tendo por parâmetro a pessoa branca, pode favorecer o reconhecimento da colonialidade como episteme, na medida em que ela é determinante na forma como as relações sociais se estabelecem, obedecendo a um padrão do exercício do poder. Palavras-chave: colonialismo. Colonialidade. Raça. Racismo. Referências bibliográficas ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2012. BOBBIO, Norberto et al. Dicionário de Política. vol. 1. Brasília: Unb, 2008. FANON, Frantz. Os condenados da terra. Lisboa: Ulissseia, 1961. ______. Pele negra, máscaras brancas. São Paulo: Ubu, 2020.

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MBEMBE, Achille. A universalidade de Frantz Fanon, ArtAfrica (Lisboa), 2012. MIGNOLO, Walter D. Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 32, 2017. NOGUERA, Renato. Dos condenados da terra à necropolítica: Diálogos filosóficos entre Frantz Fanon e Achille Mbembe. Revista Latino Americana do Colégio Internacional de Filosofia, n. 3, p. 59-73, 2018. QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder e classificação social. Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, p. 84-130, 2010. QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. CLACSO, 2005. Disponível em: <http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/sursur/20100624103322/12_Quijano.pdf>. Acesso em 10 set. 2021. QUIJANO, Anibal. Colonialidade, poder, globalização e democracia. Novos Rumos, 37. 2002. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/veiculos_de_comunicacao/NOR/NOR0237/NOR0237_02.PDF. Acesso em 10 set. 2021.

A IDEIA DE PROGRESSO NA FILOSOFIA DA TECNOLOGIA DE FEENBERG Prof. Dr. Sidney Reinaldo da Silva IFPR sidneyreinaldos@outlook.com O objetivo deste texto é mostrar como a partir das obras de Allen (2014) e Feenberg (2015) é possível articular uma

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concepção “pós-colonial” do progresso. A abordagem faz um contraponto entre ideário moderno de progresso e seus críticos como base para uma leitura da obra de Allen e Feenberg. A modernidade é marcada pela crença no ininterrupto aprimoramento das técnicas de produção e na autonomia dos indivíduos e dos povos como forma de autopreservação e desabrochar de potencialidades. A prioridade dos objetivos e meios para o progresso e a hierarquização das dimensões catalogadas dependem do que se entende por “ser desenvolvido” e quais valores disso decorrem. Conhecer o que pode progredir remete, portanto, à justificação das medidas a serem tomadas LOTTER, 2001). Contudo, a forma de vida moderna produziu um colapso das práticas tradicionais onde ela se afirmou, gerando “uma catastrófica desarticulação na vida das pessoas comuns” (POLANYI, 2000, 51). As contradições da modernidade levaram às mais diversas críticas e recusa da ideia de progresso, sobretudo nas suas figuras ligadas ao desenvolvimento (LATOUCHE, 2001). Numa perspectiva teórico-crítica, a ideia de progresso tem sido reafirmada como necessária para se investigar as sociedades contemporâneas, isto é, como crivo epistêmico, orientador de políticas públicas e avaliativo. Conforme Allen (2014), reconhecer as bases contingentes da normatividade do progresso é necessário para o diálogo pós-colonial. É via tal diálogo que se pode reconciliar a razão com a democracia, pluralismo cultural e o cosmopolitismo. A estratégia póscolonialista não significa a recusa do estrangeiro e seu legado, mas o exercício democrático da abordagem do outro. Está em jogo um processo de sintonização e engajamento aberto e recíproco para se construir um espaço de partilha e mapeamento de razões, sem a pretensão de disputar pelo melhor argumento para se sobrepor ao outro. Nesse processo, a um comprometimento de falar com outros e não contra os outros ou pelos outros. Isso remete a reelaboração do progresso com base no diálogo emergente entre a tecnologia e a experiência cotidiana, para pensar uma forma de democratização da técnica, como 220


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propõe Feenberg (2015). Trata-se da busca de um novo sistema “baseado num conceito diferente de prosperidade, que seja menos destrutivo do ambiente e mais fácil de partilhar”, mas tal modo de vida “só pode emergir da participação dos cidadãos na determinação da direção do progresso” (FEENBERG, 2015, 110). Palavras-chave: Progresso. Filosofia da Tecnologia. Teoria Crítica. Referências bibliográficas ALLEN, Amy. The End of Progress: Decolonizing the Normative Foundations of Critical Theory. New York: Columbia University Press, 2016. FEENBERG, Andrew. Tecnologia, modernidade e democracia. Lisboa: MIT Portugal, 2015. LATOUCHE, Serge. “En finir, une fois pour toutes, avec le développement".” Le Monde Diplomatique, may, 1-5, 2001. LOTTER, Konrad. “Fragen und Antworten zum Thema ‘Fortschritt.’” Münchner Zeitschrift für Philosophie 54: 13-22, 2011. POLANYI, Karl. A grande transformação. As origens de nossa época. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

REDES SOCIAIS: MICROPODER DOS ALGORITMOS SOB OS USUÁRIOS Sylvan Bessa dos Reis UNIR Mestrado Acadêmico em Filosofia sylvanlaw@hotmail.com

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O objetivo deste artigo é expor a existência do micropoder nos algoritmos das redes sociais, seu conceito sob o prisma de Michel Foucalt, a origem das redes sociais, seus efeitos sob seus usuários, o escopo da sua utilização e o mecanismo existente na estrutura dos seus algoritmos para propagar o micropoder em face dos usuários. Os avanças tecnológicos tem coexistido com a nossa civilização desde os tempos mais remotos, tendo a filosofia sido responsável direta pelas descobertas e evoluções em todas as áreas da nossa civilização. Das descobertas da eletricidade por Thales de Mileto, no Século VI a.C. até aos avanços das inteligências artificiais, I.A., tem a filosofia sido responsável por suas descobertas, evolução e aperfeiçoamento. Hoje vivemos em uma geração em que o desenvolvimento tecnólogo não para de incorporar em nossa sociedade equipamentos e conceito que as vezes não temos tempo nem aprender a usá-los que já se torna obsoleto com a criação de outro mais avançado. Sendo que uma das invenções mais relevantes para a sociedade nas últimas décadas foi a rede mundial de computadores, denominada internet, que teve seu surgimento em 1969, nos Estados Unidos, chamada inicialmente de Arpanet, pertencendo ao Departamento de Defesa Norte-Americano, e tinha como objetivos interligar laboratórios de pesquisa, visto o mundo naquela época viver o auge da Guerra Fria, e esse sistema garantiria a comunicação entre militares e cientistas, mesmo diante de bombardeiro, pois eram pontos que funcionavam independentes de um deles apresentar problemas. A Arpanet se propagou mais no âmbito acadêmico a partir de 1982, inicialmente era limitado aos Estados Unidos, e posteriormente se expandiu para Holanda, Dinamarca e Suécia, ganhando a denominação de internet. Somente em 1987 foi liberado para uso comercial nos Estados Unidos. Somente em 1992 foi que começou a surgir diversos provedores nos Estados Unidos, e naquele mesmo ano, o Laboratório Europeu de Física de Partículas (Cern ) criou a World Wide Web, possibilitando que qualquer usuário da internet 222


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pudesse acessar suas informações. Com o surgimento da internet, sociedade conheceu um subproduto da mesma, as redes sociais, que chegou a todos inicialmente com o objetivo de incentivar o contato com amigos e parentes, além de incentivar novas amizades. Hoje o número de usuários das redes social chegam a 4,33 bilhões de usuários , aumentando seu número a cada dia, nos levando a questionar e investigar, através da pesquisa bibliográfica, como as mesmas são feitas, quais seus objetivos e seus efeitos sob os usuários, para pôr fim expor os conceitos de Michel Foucalt sobre o micropoder exercido por elas, e os conceitos criados pelo filósofo, Byung-Chul Han, com relação aos efeitos dessa nova tecnologia, para buscarmos por fim compreender o micropoder que ocorrem em face aos usuários e as consequências do mesmo, para levar a sociedade a se conscientizar e buscar seguir um caminho seguro evitando danos irreparáveis e talvez indeléveis. Palavras-chave: Micropoder. Algoritmos. Rede Sociais. Michel Foucalt. Usuários. Referências bibliográficas BARNES, J.A. Social Networks. Cambridge: Module 26, p.1-29, 1972. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. A Era da Informática: Economia, Sociedade e Cultura. Rio de Janeiro, Ed. Paz e Vida, 1999. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. 238p. Duarte, Fábio e Frei, Klaus. Redes Urbanas. In: Duarte, Fábio; Quandt, Carlos; Souza, Queila. (2008). O Tempo Das Redes, p. 156. Editora Perspectiva S/A. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 4a ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984.

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FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008. __________________. A ética do cuidado de si como prática da liberdade. In: MOTTA, Manoel Barros da. Foucault: ética, sexualidade, política. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 264-287. HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2017. 128 p. ________________. Sociedade da transparência. Petrópolis: Vozes, 2017. 116 p. ________________. Psicopolítica. O neoliberalismo e as novas técnicas de poder. BH: Âyiné, 2018, p. 11. IBGE. Pesquisa nacional por amostra de domicílios – PNAD contínua. Ano 2017. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/sociais/trabalho/17270-pnad-continua.html?=&t=resultados. Acesso em 21 dez. 2018. MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos: o declínio do individualismo na sociedade de massa. Coleção Ensaio & Teoria. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2ª Edição, 1998. MACKENZIE, Adrian. Machine learners: archaeology of a data practice. Cambridge, MA: The MIT Press, 2017. 267 p. MITCHELL, Tom Michael. Machine Learning. United States: McGraw-Hill International Editions, 1997, 413 p. MUSE TV. THE SOCIAL DILEMMA | Talking with Director Jeff Orlowski. 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=gJcMB5U9tQM> Acesso em: 23 jul. 2021. MUSSO, Pierre. A Filosofia da Rede in PARENTE, André (org). Tramas da Rede: novas dimensões filosóficas, estéticas e políticas da comunicação. Editora Sulina, 1ª Edição, 2004. O Dilema das Redes — (The Social Dilemma); Direção: Jeff Orlowski. Elenco: Skyler Gisondo, Tristan Harris, Sophia Hammons, Kara Hayward, Chris Grundy, Vincent Kartheiser, Catalina Garayoa, Barbara Gehring. Roteiro: Jeff Orlowski,

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Davis Coombe, Vickie Curtis. Distribuído: Netflix; Estados Unidos, Netflix, 2020 (89 min.). O´NEIL, Cathy. Weapons of math destruction: how big data increases inequality and threatens democracy. New York: Crown Publishers, 2016. Disponível em https://we.riseup.net/assets/404114/Weapons+of+Math+Destruction+Cathy+O%27N eil.pdf. DIANA, Juliana. Redes Sociais. Toda Matéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/redes-sociais/. Acesso em: 30 de julho 2021. THE STATISTICS PORTAL. Global Social Networks Ranked by Number Users from 2021. Disponível em: https://www.statista.com/statistics/272014/global-socialnetworks-ranked-by-number-of-users/. Acesso em: 30 de julho 2021.

MARÍA ZAMBRANO E A RAZÃO POÉTICA: NOTAS SOBRE UM CONCEITO

Thaise Maria Dias Mestra em Letras pela Unimontes thaisediaz@yahoo.com.br A presente proposta investiga a razão poética de María Zambrano como uma possível superação do paradigma platônico de poesia. Da junção entre conceito e metáfora, a razão poética surge como um desses conceitos delineados pela indecidibilidade, com raízes nômades, sempre no limiar. No entanto, o conceito de razão poética que Maria Zambrano funda não prima por nenhum irracionalismo, mas elabora uma forma de 225


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razão filosófica na qual não há uma censura prévia, histórica ou determinada da poesia, mas a proposta de um encontro imprescindível. Trata-se, em termos conceituais, da superação do paradigma platônico de poesia. Zambrano desautoriza a dualidade de Platão quando não apenas admite os poetas como também pensa filosoficamente uma relação entre filosofia e poesia de maneira tão incomum quanto contínua sem jamais perder de vistas as dimensões, as tensões e o limiar entre os dois fazeres. O resultado de tal procedimento é uma renovação original entre esses dois domínios, o filosófico e o poético, cuja confluência mútua deságua numa troca dialógica entre a linguagem poética e o pensamento não-binário. Portanto, não se pode perder de vista que não se trata de um conceito tradicional, marcado unicamente pela razão filosófica predominantemente sistemática. O sistema filosófico, com Zambrano, inclui o que não é sistema. A razão poética admite o que não é razão, a poesia; e, igualmente, inclui o que não é poesia, ou seja, a filosofia. Ao abandonar hierarquias de conteúdo em favor de um livre-pensar que, justo por ser livre, também se faz livre-sentir, Zambrano coloca em prática, a um só tempo, uma metacrítica filosófica e uma crítica da realidade e da experiência humana que se faz com valores e afetos liberados. Assim, a ousadia de María Zambrano consiste em demarcar na filosofia um caminho mais afetivo, cuja atenção reflexiva e cuidadosa não se rende a sistematicidade binária excludente. Portanto, os conceitos zambranianos não partilham de uma definição convencional com estrutura exata. São conceitos fluidos, que estão sempre em trânsito, escapando dos sistemas filosóficos e dos regimes autoritários.

Palavras-chave: María Zambrano. Razão Poética. Filosofia e Poesia. Subjetividades.

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Referências Bibliográficas MUÑOZ, Juan Fernando Ortega. Introducción al pensamiento de María Zambrano. México: Fondo de Cultura Econômica, 1994. PLATÃO. A República. Trad. Enrico Corvisieri. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2004. PLATÃO. Fédon. Trad. Enrico Corvisieri. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2004. ZAMBRANO, María. A Metáfora do coração e outros escritos. Trad. José Bento. Lisboa, Portugal: Assírio & Alvim, 2000. ZAMBRANO, María. Algunos lugares de la poesía. Madrid: Editorial Trotta, 2007. ZAMBRANO, María. O homem e o Divino. Trad. Cristina Rodrigues e Artur Guerra, Portugal: Relógio D`Água Editores,1995.

O IMPERATIVO POLÍTICO DA ADAPTAÇÃO E A GOVERNAMENTALIDADE NEOLIBERAL

Thayná de Castro Saczuk PUCPR Doutoranda em Filosofia thayna_castro@hotmail.com A partir das reflexões de Michel Foucault e de Barbara Stiegler, o presente trabalho pretende investigar a relação estratégica que se estabelece entre a adaptabilidade enquanto um imperativo político e a governamentalidade neoliberal, tendo em vista que a adaptação remete à seleção natural operada pela luta competitiva em torno da sobrevivência, havendo, portanto,

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uma ligação com a lógica concorrencial e com a empreendedorização, entendidas, respectivamente, como normatividade e modo de subjetivação no interior da racionalidade neoliberal. O argumento é de que, tendo em vista a governamentalidade neoliberal e a gestão biopolítica da população, a norma da adaptação responde à ordenação que estabelece uma separação política entre atraso e progresso e que, no interior de um jogo estratégico de poder, exerce uma força coercitiva que submete os sujeitos a práticas de dominação e assujeitamento, na medida em que, sobretudo, a adaptabilidade é imposta mesmo diante de condições em que há saturação das relações de poder. Nesse aspecto, considerando que, por meio das práticas de dominação, a biopolítica opera um corte biológico que incide sobre raças cuja superação reafirma a vitalidade daquelas que devem ser aperfeiçoadas, é possível pensar de que maneira a articulação entre adaptação, concorrência e empresa, enquanto tecnologias de exercício de poder, pode produzir e gerir ilegalismos – tais como a informalidade no âmbito das relações de trabalho em decorrência das crises de desemprego e das condições de miserabilidade e vulnerabilidade –, além de subjetividades governáveis, conduzidas em termos de produtividade, utilidade e desempenho. Nos cursos Sécurité, territoire, population e Naissance de la biopolitique, Foucault explica que a noção de racionalidade governamental deriva da combinação entre elementos técnicos e reflexivos a respeito de como governar, análise que denomina como analítica da política (FOUCAULT, 1994), de modo que os princípios do mercado não se restringem apenas ao âmbito econômico, sendo constitutivos dos regimes de verdade que atravessam as relações políticas e sociais, ligando-se à determinada ordenação (FOUCAULT, 1966). Nesse sentido, a ordem que dispõe sujeitos e objetos fixa uma separação política entre o verdadeiro e o falso e, com isso, incorpora à produção do real o modo de regulação do mercado (os mecanismos de concorrência, empreendedorização e de adaptação). Nesse sentido, em Il faut s’adapter: Sur un nouvel impératif politique, 228


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Stiegler propõe, a partir de um diálogo estabelecido entre as teses de Walter Lippmann e John Dewey, uma nova genealogia do neoliberalismo, a partir da qual procura analisar de que maneira ele se articula com o evolucionismo e o darwinismo, sobretudo no que diz respeito à crítica ao laissez-faire sustentada pela ideia de que a ação política deve ser pensada enquanto uma intervenção artificial que investe contra a vida dos governados em termos de desenvolvimento e adaptação às complexidades dos novos ambientes. Como argumenta, ao dar ênfase aos exemplos alemães, não há, nas análises de Foucault, um diagnóstico mais preciso a respeito de como os jogos de poder colocados em funcionamento pela racionalidade neoliberal são capazes de se articular com a normatividade da adaptação, de maneira que é a investigação dessas fontes históricas que torna possível a reflexão crítica em torno de uma contemporaneidade que impele os indivíduos a se adaptarem continuamente. Palavras-chave: Neoliberalismo. Governo. Atraso. Adaptabilidade.

Referências bibliográficas CANDIOTTO, Cesar. A dignidade da luta política: incursões pela filosofia de Michel Foucault. Caxias do Sul: Educs, 2020. DEWEY, John. Human nature and conduct: an introduction to social psychology. New York: The modern library, 1930. FOUCAULT, Michel. Les mots et les choses. Paris : Gallimard, 1966. FOUCAULT, Michel. La philosophie analytique de la politique. In : FOUCAULT, Michel. Dits et écrits : tome III. Paris: Gallimard, 1994. FOUCAULT, Michel. Les anormaux. Paris: Gallimard, 2001. FOUCAULT, Michel. Sécurité, territoire, population. Paris: Gallimard, 2004a. 229


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FOUCAULT, Michel. Naissance de la biopolitique. Paris: Gallimard, 2004b. LIPPMANN, Walter. The good society. Boston: Little, Brown, 1937. STIEGLER, Barbara. Il faut s’adapter: sur un nouvel impératif politique. Paris: Gallimard, 2019. STIEGLER, Barbara. De la démocratie en pandémie: santé, recherche, éducation. Paris: Gallimard, 2021.

O LUGAR DO TRANSCENDENTAL – UMA EXPLICAÇÃO DO PRINCÍPIO HERMENÊUTICO NA FENOMENOLOGIA DE HEIDEGGER Thiago Ehrenfried Nogueira PUCPR / UNIFE Doutorando em Filosofia e Ciências Humanas tenog@hotmail.com Pretende-se apresentar, a partir de uma carta de Heidegger à Husserl de 22 de outubro de 1927(cf. HEIDEGGER, 2007 p. 125 – 133) uma explicação do motivo de Heidegger constituir uma fenomenologia hermenêutica. O princípio compreensivo colocado no interior dos atos intencionais, dentro da filosofia de Heidegger, visa resolver um problema fenomenológico da fenomenologia husserliana o problema do transcendental. Ao apreender o transcendental fora da dimensão egologica, o Dasein teria que ser não o posicionador do transcendental, mas seu possibilitador, compreendendo seus envios históricos. Assim, o problema do lugar do transcendental é o problema que revela a importância da analítica existencial dentro do projeto filosófico heideggeriano, no sentido de que compreensão de ser teria que ser situacional e histórica, relativa à facticidade do Dasein, tornando impossível qualquer tipo de redução fenomenológica a 230


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uma origem transcendental do mundo a partir de si. Apreendido como ser-no-mundo e poder-ser, o Dasein explica a origem da filosofia como pergunta orientada por sua própria existência, essa pergunta é despertada de modo próprio por uma tonalidade afetiva, o afetador dessa tonalidade, o ser, não reside no Dasein, mas o provoca a respondê-lo, e este, o Dasein, compreendendo seu chamado, o deixa-ser. Longe da ação deliberada e autônoma da consciência de pensar a origem dos atos intencionais a partir de si pela redução (cf. HUSSERL, 2012), ainda fruto modernidade, na filosofia de Husserl, Heidegger explica a origem da filosofia a partir da situação concreta hermenêutica do Dasein, que só irrompe se este escuta o transcendental, o ser. Não sendo o ser, portanto, o Dasein é o transcendente mas não o transcendental (cf. HEIDEGGER, 2008, p. 134 188). Apreendendo o problema do transcendental como problema do transcender, um projetar-se do Dasein ao mundo, Heidegger estabelece que o lugar do transcendental seja o mundo e não mais a consciência, explicando a origem do princípio hermenêutico na fenomenologia heideggeriana. Palavras-chave: Transcendental. Hermenêutica. Fenomenologia. Dasein.

Referências bibliográficas HEIDEGGER, Martin. A essência do fundamento. In: Marcas do Caminho. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. p. 134 - 188. HEIDEGGER, Martin. Brief an Edmund Husserl. In: Gesamtausgabe Band 14. Vittorio Klostermann. Frankfurt, 2007. p. 125 – 133. HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Tradução de Fausto Castilho. Campinas, SP: Editora da Unicamp; 2014. HUSSERL, Edmund. Meditações Cartesianas. 1 ed. Rio de Janeiro. Forense, 2012. 231


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CIBORGUE NÃO VAI AO DIVÃ Vanderson R. Teixeira PUCPR Doutorando em Filosofia bichopensante@gmail.com O presente resumo é um esboço de um ensaio sobre o futuro do presente, dado que me proponho a investigar o sentido e a gênese de uma figura, um conceito, uma ideia, ou melhor, um ente que seduz e encanta, na mesma medida em que amedronta, a entidade em questão é ciborgue, termo cuja origem etimológica nasce nos anos de 1960, quando dois pesquisadores sobre as viagens espaciais criam em laboratório, de uma hibridização entre uma bomba osmótica e um camundongo, ciborgue, termo cunhado pelos médicos Clines e Kline, para definir um híbrido entre máquinas cibernéticas e organismos. Depois dos ratos de laboratórios foi a vez dos híbridos humanos e ciborgues humanos atualmente estão por toda parte, conforme apontam as mais variadas pesquisas, destacando que para tal amplitude e existência, o próprio termo e definição ganharam contornos substancialmente diferentes daqueles pensados por Clines e Kline. Mas, o que move minha investigação são as questões subjacentes aos híbridos ciborgues humanos. Isto por que, nesta hibridização, é altamente perceptivo que com a convivência e com a existência de ciborgues, chegamos ao limite da fronteira antropológica, nesta entidade, subjetividade e autenticidade se tornam ainda mais problemáticas e uma investigação sobre ciborgue exige uma ampliação do que a epistemologia, a antropologia e a filosofia forneceram enquanto método de compreensão do humano, agora o método deve abarcar uma ciberontologia e para tal empreitada, escolhi me apropriar dos métodos presentes nas obras de Benanti e Simondon com o único intuito de forjar um método de decodificação capaz de

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compreender as novas (e velhas?!) formas ciborgues, bem como pretendo com este novo procedimento lançar luzes nas questões da autenticidade, da subjetividade e dos problemas éticos, políticos, educacionais, econômicos, etc., que surgem no momento em que estes entes entram em cena na vida corriqueira, realizando com eficiência, produtividade e a custos atraentes, aquilo que outrora, com gastos, perdas e lentidão, os humanos puros faziam. Estas entidades que podem produzir ininterruptamente, ameaçam os trabalhadores e como podem viver, produzir e quiçá — reproduzirem —, sem dor, sem sensações, sem afetos e por controle (interno e/ou externo), é importante saber como lidar com elas e, se acaso eu for aquele hibridizado, acredito ser fundamental saber quem estará na central de comando, se minha mente humana ou um algoritmo, e então poderei responder o que sou ou o que são ciborgues. Palavras-chave: ciborgue. Autenticidade. Subjetividade. Decodificação. Ciberontologia.

Referências bibliográficas BENANTI, Paolo. The cyborg: corpo e corporeità nell'epoca del post-umano: prospettive antropologiche e riflessioni etiche per un discernimento morale, F. 288. 2011. 576 p. ______________. La condizione tecno-umana: Domande di senso nell’era della tecnologia. Edizioni Dehoniane Bologna, f. 75, 2017. 150 p. ______________. Le Macchine sapienti: Intelligenze artificiali e decisioni umane. Marietti 1820, f. 80, 2019. 160 p. ______________. Oracoli. Tra algoretica e algocrazia, f. 40. 2017. 80 p. CORMEN, Thomas H.; LEISERSON, Charles E; STEIN, Ronald L. Rivest E Clifford. Algoritmos: teoria e prática, f. 463. 2011. 926 p. 233


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CORMEN, Thomas. Desmistificando algoritmos. Elsevier Brasil, v. 2, f. 124, 2017. 248 p. DELEUZE, Gilles. Conversações. Editora 34, v. 1, f. 113, 1991. 226 p. DOMINGOS, Pedro. O Algoritmo Mestre: Como a busca pelo algoritmo de machine learning definitivo recriará nosso mundo. Novatec Editora, f. 172, 2017. 344 p. HARARI, Yuval Noah; GEIGER, Paulo. Homo Deus, f. 224. 2016. 448 p. ORTEGA Y GASSET, José. Meditação da técnica: vicissitudes das ciências: cacofonia na física, f. 68. 1962. 135 p. SIMONDON, Gilbert. Do modo de existência dos objetos técnicos. Trad. Vera Ribeiro. Contraponto Editora, v. 3, 2021. __________________. Du Mode d’Existence des Objets Techniques. Editions Aubier. 2001. 336p. SOUZA, Joyce. A Sociedade De Controle: manipulação e modulação nas redes digitais, f. 80. 2019. 160 p. SOUZA FILHO, Moacir Pereira de. Nanotecnologia Na Indústria Farmacêutica. In: ETIC - ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA - ISSN 21-76-8498. Disponível em: http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/issue/view/88. Acesso em 08/2021. ZAFRA, Juan Manuel López; MATAS, Ricardo A. Alquimia: Cómo los datos se están transformando en oro. Deusto, v. 2, 2019.

FREUD E BOLHAS SOCIAIS DIGITAIS: O MAL-ESTAR NA DEMOCRACIA DO BRASIL Vinícius Montovani de Camargo Sgarbe PUCPR Mestrando em filosofia vinicius@sgar.be

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Bocca (2021) registra uma ruptura na escolha do rei, na quebra da tradição dos soberanos de Hobbes e Rousseau, à luz da psicanálise. O mesmo autor nos provoca mais recentemente quando da sugestão de uma fase denominada animatismo, anterior ao animismo, porque nos leva a caminhar pela arqueologia psíquica. Embora tenham sido escritos em volumes diferentes, os textos têm uma relação íntima. Tentamos demonstrar tal relação a partir de dados de realidade, a partir do mundo da vida, quando se observa na participação política digital do Brasil tanto a referida quebra de tradição – uma vez que ministros do Supremo Tribunal Federal têm ocupado o mesmo posto de desgraça dos antigos reis, e o que poderia também ser elucidado a partir no normativismo –, quanto a observação de que uma parte considerável dos argumentos contra tais ministros pode estar motivada, pelo menos aparentemente, por camadas préracionais, uma vez que podem desprezar a realidade objetiva, ou ainda argumentar por meio de conexões difíceis de serem validadas em termos factuais. Para Da Empoli (2019), não há qualquer ingenuidade nesse tipo de funcionamento político. Pelo contrário, seria justamente no sentido de impulsionar coisas anímicas, e se afirmar que pornografia e teorias da conspiração disputam a atenção do usuário da internet, que alguns projetos de poder apostam. Há outros temas controversos além dos privilégios da Suprema Corte, como, quase que na contramão dessa última causa, uma superproteção à figura do presidente Jair Bolsonaro. Nem mesmo nos povos primitivos que Freud registra em Totem e tabu (2012) se encontram súditos tão fanáticos. Há também uma reorganização do que consideramos íntimo ou público, a partir da internet. Freud nos dá caminhos psicanalíticos que coincidem muitas vezes com o que tentamos explicitar neste trabalho, com proeminência do parricídio e da consequente resistência a uma nova autoridade a partir dele; e então a escolha de um soberano; e finalmente o mal-estar provocado pela cultura. Sem escrever sobre o assunto, mas em uma 235


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atitude editorial, quando se opõe a diferenciar “cultura” de “civilização”, Freud acaba por contornar o que são hoje as bolhas sociais digitais. Palavras-chave: Filosofia. Psicanálise. Democracia digital. Participação política. Referências bibliográficas BOCCA, Francisco Verardi. Animatismo – Antes e depois de tudo. Curitiba: Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2021. __________. Da representação política à normatividade social. Curitiba: Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2021. DA EMPOLI, Giuliano. Os engenheiros do caos: como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições. Vestígio Editora, 2019. FLUSSER, Vilém. Comunicologia: reflexões sobre o futuro. Tradução: Tereza Maria Souza de Castro. São Paulo: Martins Fontes, 2015. FREUD, Sigmund. Carta 271 [146] de Freud a Flieβ. In Amor, sexualidade, feminilidade. Tradução: Maria Rita Salzano Moraes. Belo Horizonte: Autêntica, 2020. __________. O mal-estar na cultura. In Cultura, sociedade, religião: O mal-estar na cultura e outros escritos. Tradução: Maria Rita Salzano Moraes. Belo Horizonte: Autêntica, 2020. __________. Totem e tabu (1912-1913). Algumas concordâncias entre a vida psíquica dos homens primitivos e dos neuróticos. In Sigmund Freud. Obras completas volume 11. Totem e tabu, Contribuição à história do movimento psicanalítico e outros textos (1912-1914). São Paulo: Schwarcz, 2012. IANNINI, Gilson; TAVARES, Pedro Heliodoro. Para ler o malestar. In FREUD, Sigmund. Cultura, sociedade, religião: O 236


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mal-estar na cultura e outros escritos. Belo Horizonte: Autêntica, 2020, pág. 7-31.

HONRA E DIGNIDADE KANTIANAS EM BAYEFSKY: REFLEXÕES E MÚLTIPLAS VISÕES EM UMA ANÁLISE DO FILME HARAKIRI (1962) Vitor Emanuel Pinto Cardoso UTP Mestrando em Comunicação e Linguagens vitoremanuel191@hotmail.com O filosofo Immanuel Kant é considerado um proponente de sistemas baseados em dignidade e critico aqueles políticosociais de base na honra, em seus estudos credita-se que Kant posiciona a Dignidade como um conceito em que o homem é um indivíduo moralmente autônomo e, portanto, não deve ser tratado como um meio para o fim, mas como um fim em si mesmo, dessa forma cada pessoa teria um valor incondicional e igualitário baseado na autonomia moral (BAYEFSKY, 2013). Quanto a Honra Kant a rejeitaria em absoluto em sua contribuição ao desenvolvimento dos direitos humanos modernos. No entanto Rachel Bayefsky em seu ensaio “Dignity, Honour, and Human Rights: Kant's Perspective” (2013) teoriza que os conceitos Kantianos sobre ambos esses temas, Honra e Dignidade, não são tanto antagônicos quanto a honra não seria completamente rejeitada por ele. Para Bayefsky Kant não via um conceito único de Honra, algo a parte da honra hierarquizada normalmente creditada, mas múltiplas interpretações paralelas, algumas inclusive vistas pela autora como que para Kant benéficas a autonomia moral, sendo esse último conceito de base para a liberdade (BAYEFSKY, 2013). O filme Harakiri (1962), dirigido por Masaki Kobayashi procura criticar o Bushido, código moral

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que ditava as regras de conduta de honra dos samurais. A sociedade no filme é conduzida pelo Bushido com uma rigidez e violência opressivas, a vida e dignidade são desconsideradas para se cumprir as regras do código e manter o status quo, chegando mesmo ao ponto da tortura e execução, ou seja, a dignidade é considerada grupalmente e menos pelo individuo (HARAKIRI, 1962). Kobayashi representa essa conduta por seu protagonista Tsugumo Hanshirō, um samurai empobrecido que vai ao castelo de seu senhor feudal pedindo o direito do suicídio ritual ou Harakiri, no contexto do filme o senhor feudal poderia persuadir o samurai dando-lhe uma recompensa, por esse motivo inquéritos eram estabelecidos para julgar o real propósito do samurai sendo dinheiro ou suicídio. Para provar seu desejo Hanshirō relata sua história de vida, uma jornada de honra e em busca de dignidade que termina criticando e rejeitando o Bushido, assim lutando contra ao sistema corrupto que está inserido (HARAKIRI, 1962). Portanto nesse estudo se irá utilizar as teorias sobre os conceitos Kantianos de Bayefsky para analisar o filme Harakiri, refletir a problemática: Como Kant via Dignidade e Honra? Dessa forma pretende-se criar um diálogo entre cinema e filosofia para se refletir sobre esses conceitos e sua relevância na atualidade. Palavras-chave: Immanuel Kant. Harakiri. Honra. Dignidade. Cinema.

Referências Bibliográficas BAYEFSKY, Rachel. Dignity, honour, and human rights: Kant’s perspective. Political Theory, v. 41, n. 6, p. 809-837, 2013. FILM, MARKET ARCADE; CENTER, ARTS. THE BUFFALO FILM SEMINARS.

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HARAKIRI. Direção de Masaki Kobayashi. Japão: Shochiku, 1962. 1 DVD (134 min.). KANT, Immanuel. Groundwork for the Metaphysics of Morals. Yale University Press, 2008. KANT, Immanuel. Kant: The metaphysics of morals. Cambridge University Press, 2017. MELLEN, Joan. Voices from the Japanese cinema. Liveright, 1975.

“NADA É VERDADE, TUDO É PERMITIDO”: LIBERDADE E VERDADE EM ASSASSIN’S CREED

Vitor Emanuel Pinto Cardoso UTP Mestrando em Comunicação em Linguagens psicologiavitor24@gmail.com A independência de agir sobre o mundo de forma política e social, é um dos elementos mais presentes na realidade atual em que os encontros de ideologias e pré-conceitos, ou seja, conceitos previamente acreditados, terminam por levar a conflitos. Muitos reivindicam seu direito pessoal de exercer sua verdade pessoal ou de grupos. Mas isso não significa no direito de expressar quaisquer comportamentos que quisermos (1981 apud FREITAS e CASTRO, 2013) (CARDOSO, 2019). Lançado em 2007 o primeiro jogo da franquia Assassin’s Creed tornou-se a pedra fundamental de uma das mais rentáveis e longas series de jogos da história. Seu tratamento da história humana, embora largamente modificada, termina por criar um conteúdo filosófico através de uma autoanalise das ações de seus personagens através da máxima do credo dos assassinos “Nada é verdade, tudo é permitido”. Apesar de superficialmente aparentar

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um relativismo absoluto em seu discurso o jogo discute uma interpretação dessa frase mais profundamente pela experiencia de seu protagonista, Altaïr Ibn-La'Ahad, um membro do grupo cuja interpretação pessoal dessa máxima serve de catalizador do enredo do jogo (ASSASSIN’S, 2007). Surpreendente ainda é que Friedrich Nietzsche mesmo tendo morrido mais de 100 anos antes do jogo discutiu esse mesmo problema da significação da verdade e sobre o credo dos assassinos, pois o jogo foi baseado em um grupo real. O presente artigo utilizará uma metodologia de estudo qualitativa descritiva com o objetivo de estudar como a significação da verdade e da liberdade no primeiro jogo Assassin’s Creed (ASSASSIN’S, 2007) no conceito da máxima do credo dos assassinos e como Nietzsche discute sobre esse conceito em a Genealogia da Moral (NIETZSCHE, 1996) e o Crepúsculo dos Ídolos (NIETZSCHE, 2020). Em suma pretende-se refletir a questão do que é verdade e a liberdade no contexto do jogo e sua relação com a nossa realidade. Serão também utilizados textos complementares para contextualização histórica e complementar seus conceitos filosóficos em especifico a coletânea Microfísica do Poder (FOUCAULT, 1989) e Os Inimigos Íntimos da Democracia (TODOROV, 2012). Palavras-chave: Liberdade. Verdade. Nietzsche. Assassin’s Creed. Referências Bibliográficas ASSASSIN’S Creed. 2nd. ed. Ubisoft, 2017. 1 jogo eletrônico. CARDOSO, Vitor Emanuel Pinto. REFLEXÕES SOBRE AS FRONTEIRAS ENTRE LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PRECONCEITO: O CASO DAS CHARGES DE CHARLIE HEBDO. In: Anais do VI Fórum Brasileiro de Pós-graduação em Ciência Política. Anais...Belém (PA) UFPA, 2019. Disponível em: <https//www.even3.com.br/anais/vifbcp/150704REFLEXOES-SOBRE-AS-FRONTEIRAS-ENTRE240


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LIBERDADE-DE-EXPRESSAO-E-PRECONCEITO—O CASO-DAS-CHARGES-DE-CHARLIE-HEBDO>. Acesso em: 26/06/2020 13:40. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 8. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1989. FREITAS, Rita Sobrado; CASTRO, Mateus Filipe. 2013. Liberdade de expressão e discurso do ódio: um exame sobre as possíveis limitações à liberdade de expressão. IN Revista Sequência, v. 34, n. 66, p. 327-355, jul, 2013. Acessado em 16 de abril de 2018. http://dx.doi.org/10.5007/21777055.2013v34n66p32. NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos ídolos: ou como filosofar com o martelo. EDIPRO, 2020. NIETZSCHE, Friedrich. Para a Genealogia da Moral. Segunda Dissertação. São Paulo: Editora Abril Cultural. Coleção Os Pensadores, 1996. TODOROV, Tzvetan. 1. ed. Os inimigos íntimos da democracia, trad. Joana Angélica d’Avila Melo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

A IMPLÍCITA CONSTATAÇÃO DA ESFERICIDADE DA TERRA PRESENTE NO POEMA DE PARMÊNIDES

Viviane Veloso Pereira Rodegheri UFRJ Doutoranda em filosofia vivianerodegheri@gmail.com

Parmênides foi o primeiro filósofo do ocidente a indicar, na contramão do que os dados sensíveis inicialmente levam a

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supor, que a Lua não era um objeto celeste que produzia luz. Os versos remanescentes do poema que lhe é atribuído são explícitos neste sentido: em DK 28 B 14, patentemente se discorre que a luz observada na Lua lhe era alheia (ἀλλότριον φῶς), tratandose, portanto, de um astro iluminado, e não luminoso. Esta descoberta pode ter sido concretizada, segundo defendem alguns comentadores, através da análise de determinados fenômenos astronômicos, como a observação da superfície lunar e, principalmente, a investigação mais pormenorizada dos eclipses da Lua. Mas, para endossar sua teoria, Parmênides muito provavelmente não se serviu apenas da contemplação destes fenômenos: existe uma elevada probabilidade de ele ter considerado, de maneira prévia, o formato da Terra como esférico. De certa forma, suas asserções sobre a Lua não contrariam esta possibilidade e não seria um exagero salientar que, na verdade, as contribuições astronômicas relacionadas à filosofia de Parmênides são até favorecidas pela suposição de que a Terra seja uma esfera. Não existem evidências empíricas de que o filósofo eleata sustentasse tal teoria; no entanto, alguns dos versos mais enigmáticos de seu texto (DK 28 B 1, 29 e DK 28 B8, 43), a depender da interpretação que lhes é dirigida, realçam justamente o quanto a esfera parece exprimir um maior equilíbrio – equilíbrio este de que o cosmos necessariamente se proveria (B 10), em conformidade com o que geralmente era ressaltado pelas principais teses pré-socráticas jônicas. A maioria dos filósofos antigos apoiou-se na hipótese de uma terra plana até que Erastótenes provasse matematicamente o oposto; entretanto, levando-se em consideração a escassez de testemunhos de que expia considerável parte dos pré-socráticos, não é de surpreender a ausência de relatos que melhor documentem as visões cosmológicas que vigoravam naquele período. Portanto, o presente trabalho pretende reivindicar, baseando-se principalmente nos exames de Graham, que existe uma alta probabilidade de Parmênides ter intuído o formato esférico da Terra, o que constitui

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mais um dos elementos que evidenciam o caráter pioneiro do legado astronômico deixado pelo eleata. Palavras-chave: Terra. Esfera. Astronomia. Cosmologia. Parmênides. Referências Bibliográficas GRAHAM, D. W. The Metaphysics of Parmenides’ Doxa and its Influence. Vol. 14, nº 28. Anais de Filosofia Clássica: Rio de Janeiro, 2020, pp. 36-58. KAHN, C. Algumas questões controversas na interpretação de Parmênides. Vol. 1, nº 2. Anais de Filosofia Clássica: Rio de Janeiro, 2007. LAÉRCIO, Diógenes. Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres. Tradução de Mário da Gama. 2ª ed. Brasília: editora Universidade de Brasília, 2008.

O ÉTICO E O MIMÉTICO NA EDUCAÇÃO DOS FILHOS: UMA LEITURA DA FUNÇÃO PEDAGÓGICA DA FAMÍLIA, NA FILOSOFIA DO DIREITO DE HEGEL, A PARTIR DO CONCEITO DE MÍMESIS DE RENÉ GIRARD

Wilson Franck Junior Doutor em Ciências Criminais pela PUCPR wilsonfranckjunior@gmail.com Francisca Cecília de Carvalho Moura Fé UFPI Mestranda em Direito ceciliamourafe@gmail.com

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Em sua Filosofia do Direito, Hegel, ao tratar da instituição da família e de seu papel na educação dos filhos, intuiu um traço característico da subjetividade infantil: no coração das crianças haveria um desejo de pertencer ao mundo dos adultos. Trata-se de um desejo que poderíamos qualificar de mimético, no sentido da teoria de René Girard, já que as crianças adotam os pais como seus primeiros modelos. Na teoria hegeliana, esse elemento mimético adquire, junto à educação infantil, uma importante função na formação da personalidade moral. A educação é uma exigência da própria criança, que possui de maneira inata o sentimento de não estar satisfeita em ser aquilo que é e o desejo de pertencer ao mundo adulto. Hegel, por isso, é um crítico da pedagogia que estagna as crianças na subjetividade infantil. Representando-as como perfeitas no estado de imperfeição em que se encontram, essa pedagogia perturba a espontânea carência do estado infantil, traço que impele naturalmente a criança ao autodesenvolvimento. O erro desse tipo de abordagem pedagógica está em não conceber o papel da mediação na formação da personalidade moral. Se o adulto, enquanto modelo, valoriza a criança em seu estado de infantilidade, é natural que ela adote essa mesma estima sobre si mesma, seguindo a opinião exterior. Logo, a valoração subjetiva, que deveria centrar-se no modelo ético, volta-se, pela mediação do modelo adulto, ao próprio Eu vazio da criança, que cresce concebendose como realidade autônoma, independente dos demais, gerando nela o desinteresse pelas relações substanciais do “mundo do espírito”. O narcisismo infantil seria, pois, uma decorrência da perda de referência ao modelo ético da vida adulta. Desse vazio “ontológico” da criança surge a necessidade de sua formação por meio do processo pedagógico. Os pais, que constituem o modelo imediato das crianças, não só devem estimular nelas a adoção do comportamento ético, como também punir as suas transgressões morais. A finalidade da punição não é a justiça enquanto tal. Trata-se, antes, de uma intimidação subjetiva e moral exercida contra a liberdade ainda encerrada na 244


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natureza, tendo como escopo elevar, na consciência e na vontade, a esfera da universalidade e da razão. Portanto, na educação dos filhos, o ético e o mimético são indissociáveis. Lendo Hegel a partir de René Girard, poder-se-ia usar o termo “mimeticidade” para designar essa unidade entre a imitação natural (subjetividade) e a promoção pedagógica e cultural de modelos comportamentais voltados ao Bem (moral objetiva). Pela adoção de modelos éticos, a criança tem a oportunidade de vivenciar a “eticidade” ainda sem oposição, como seu sentimento mais imediato, mais íntimo e “próprio”, vindo a adquirir, na vida adulta, a autonomia moral concreta de uma personalidade livre e racional, exercida em coerência com as demais. Palavras-chave: Hegel. Eticidade. Educação familiar. Mímesis. Subjetividade.

Referências bibliográficas FRANCK JUNIOR, Wilson. Crise mimética e evocação de ordem: uma interpretação da filosofia juspolítica de Hegel a partir da antropologia de René Girard. Tese (Doutorado em Ciências Criminais) – Escola de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2014. GARRELS, Scott R. Imitation, Mirror Neurons, and Mimetic Desire: Convergence Between the Mimetic Theory of René Girard and Empirical Research on Imitation. In: Contagion: Journal of Violence, Mimesis, and Culture. Vol. 12-13. Ano: 2005-2006, p. 47-86. Disponível em: https://muse.jhu.edu/article/237912. Acesso em: 14 de set. de 2021. doi:10.1353/ctn.0.0004. GALLESE, Vittorio, The Two Sides of Mimesis Girard’s Mimetic Theory, Embodied Simulation and Social Identification. Journal of Consciousness Studies, Volume 16, Number 4, 2009, pp. 21-44. Disponível em: 245


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https://www.ingentaconnect.com/content/imp/jcs/2009/00000016/00000004/art00002. Acesso em: 02 de ago de 2021. GIRARD, René. Mentira romântica e verdade romanesca. Tradução Lila Ledon da Silva. São Paulo: É realizações, 2009. GIRARD, René. A Violência e o Sagrado. Traduzido por Martha Conceição Gambini. 3ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008. HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Linhas fundamentais da filosofia do direito, ou, Direito natural e ciência do estado em compêndio. Trad. Paulo Meneses ... [et al.] São Leopoldo, RS: Ed. Unisinos, 2010. HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Princípios da filosofia do direito. Trad. Orlando Vitorino São Paulo: Martins Fontes, 1997.

AS SUBJETIVIDADES DOS POVOS BANTU NO ENSINO DE FILOSOFIA: A LEI FEDERAL 10.639/03 E NO CHÃO DA ESCOLA.

Wudson Guilherme de Oliveira UFRRJ Mestrando em Educação wudafrica@gmail.com

Este trabalho pretende apresentar as dinâmicas amparadas na implementação da Lei Federal nº 10.639 de 2003, que altera a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) na educação através do Artigo 26-A, avançando e conquistando resultados reivindicados pelos Movimentos Negros, onde torna obrigatório a inclusão de temáticas da História da África e Cultura Afro-brasileira, bem como da Lei Federal 11.645 de 2008, que determina 246


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também o ensino das Culturas dos Povos Indígenas, ambas propostas se apresentam como mecanismo possíveis para propor mudanças estruturais no sistema educacional brasileiro, em todos os currículos escolares da Educação Básica. Assim, com base na lei, o objetivo deste trabalho é apresentar reflexões da Filosofia Africana acerca da ancestralidade, da história, cultura e língua dos Povos Bantu e a necessidade de implementação dessas Leis, bem como do compromisso para que se consolide a sua efetivação no Ensino de Filosofia. Para o sucesso desta proposta, trabalhamos os valores morais e norteadores da Ética e as questões ligadas ao Respeito com uma turma do 1º Ano do Ensino Médio, composta por Alunados de jovens Pretos (as), Pardos (as) e Brancos (as) inseridos em uma instituição privada de educação na Baixada Fluminense, cidade metropolitana do Rio de Janeiro, onde evidenciamos uma Pedagogia Antirracista e Decolonial a partir das pesquisas de Filósofos e Filosofas Afroamericanos, Africanos e Afro-brasileiros, que produziram pensamentos filosóficos amparados na afroperspectiva. A metodologia utilizada foi gerada a partir de Oficinas, Rodas de Diálogos, Exposições de Livros de Literaturas Africanas, Indígenas e Afro-Brasileiros, apresentações sensibilizadoras de vídeos, textos e slides afrocentrados, onde serviram de subsídio para propor as discussões na Luta contra o Racismo. De modo democrático, os Alunados se organizaram em grupos para descolonizarem os olhares eurocêntricos, racistas, xenofóbicos, machistas, homofóbicos entre outros, em relação aos direitos humanos e a disseminação do respeito ao próximo. Os resultados alcançados, foram os surgimentos de pesquisas a partir de promoções de Rodas de Debates, onde os educandos entenderam sobre os problemas das violações dos Direitos Humanos, entre outras questões que também estavam sendo suprimidas, em especial o racismo e os olhares estereotipados aos grupos afrodescendentes. Graças a estas dinâmicas, foi possível aumentar a estima de alunos negros, proporcionar outros a reconhecerem a sua ancestralidade negra, ouvir a legitimidade de discente. 247


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Consideramos ser, de suma importância descolonizar os pensamentos baseados em moldes eurocêntricos, para que possamos revisar as correntes hegemônicas presentes em nossa sociedade e em especial nos currículos utilizados no chão da escola, que se articulam na Disciplina de Filosofia. Nesse sentido, este artigo levanta uma discussão acerca de uma educação étnico-racial, combatendo as reversões dos preconceitos, das discriminações nos espaços educacionais, traçando e construindo estratégias sólidas para a contribuição da valorização e a construção das identidades negras em prol da redução do Racismo. Palavras-chave: Ensino de Filosofia. Lei Federal 10.639/03. Povos Bantu. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2021. ASANTE, Molefi Kete. Afrocentricidade: notas sobre uma posição disciplinar. In NASCIMENTO, Elisa Larkin. Afrocentricidade: uma abordagem epistemológica inovadora. Tradução Carlos Alberto Medeiros. São Paulo: Selo Negro, 2009, p. 93110. ASANTE, Molefi Kete. The afrocentric idea. Philadelphia: Temple University Press, 1998. BEUDOIN, Marie-Nathalie e TAYLOR, Maurreen. Bullying e Desrespeito: como acabar com essa cultura na escola. Porto Alegre: Artmed, 2006. BRASIL. Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicoraciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana, 2009. FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Tradução de Renato da Silveira. Salvador: EdUFBA, 2008.

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GOMES, Nilma Lino. O movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação / Nilma Lino Gomes. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2017. LIMA, Mônica. História da África I. Oliveira, Iolanda (Org.) Educação das Relações Raciais. Rio de Janeiro/Niterói: CEAD/UFF, 2016, p. 65-96. LOPES, Nei. Enciclopédia brasileira da diáspora africana. São Paulo: Selo Negro, 2011. LOPES, Nei. História e cultura africana e afro-brasileira. São Paulo: Barsa Planeta, 2008. LOPES, Nei. SIMAS, Luiz Antônio. Filosofias africanas: uma introdução. Rio de Janeiro: Civilização Brasiliense, 2020. LWANGA-LUNYIIGO, Samwiri & VANSINA, jan. Os povos falantes de banto e a sua expansão. In: História Geral da África, Volume III: África do século VII ao X. Brasília: UNESCO, Secad/MEC, UFSCar, 2010. MACHADO, Adilbênia Freire. OLIVEIRA, Eduardo. Africanidades, Legislação e Ensino: Educação para relações étnico-raciais, lei 10.639, filosofia e ancestralidade. In: KOMINEK, Andrea Maila Voss; VANALI, Ana Crhistina (Orgs.) Roteiros temáticos da diáspora: caminhos para o enfrentamento ao racismo no Brasil [recurso eletrônico] / Andrea Maila Voss Kominek; Ana Crhistina Vanali (Orgs.) - Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2018, p. 49-76. MARQUES, Bruna. NOGUERA, Renato. Um olhar afro-centrado sobre os bantos: o perfil étnico dos aportados no Rio de Janeiro (1790-1800). In: BERINO, Aristóteles. (org.). Diversidade Étnico-Raciais e Educação Brasileira – Seropédica, UFRRJ: Evangraf, 2013, p. 147-169. MOORE, Carlos. Racismo e Sociedade: novas bases epistemológicas para entender o racismo / Carlos Moore. 2ª edição Belo Horizonte. Nandyala, 2012. NOGUERA, Renato. O ensino de filosofia e a Lei 10.639. Rio de Janeiro: Pallas: Biblioteca Nacional, 2014.

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NOGUERA, Renato. O ensino de filosofia e a Lei 10.639. Rio de Janeiro: CEAP, 2011. NOGUERA, Renato. Ubuntu como modo de existir: Elementos gerais para uma ética afroperspectivista. Revista da ABPN. v. 3, n. 6. nov. 2011 – fev. 2012, p. 147-150. RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala?. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019. SANT’ANA, Antonio Olímpio. História e conceitos básicos sobre racismo e seus derivados. In: MUNANGA, Kabengele (org.). Superando o racismo no Brasil. Brasília: Ministério da Educação / Secretaria de Educação Fundamental, 2004, p. 3967. WALSH, Catherine. Pedagogias Decoloniais: práticas insurgentes de resistir, (re)existir y (re)vivir. Tomo I Serie Pensamiento Decolonial. Equador: Editora Abya Yala, 2013.

A SUBJETIVIDADE EM TEMPOS DE CAPITALISMO PARASITÁRIO Yago Bezerra Pessoa UECE Mestrando em Linguística Aplicada y.bezerra@hotmail.com A configuração do mundo atual ensaia, com bastante dificuldade, a superação de tantas tragédias humanas acentuadas pela pandemia de Covid-19: vidas perdidas, precarização do trabalho, governos negacionistas, ataque às ciências, corrosão da democracia etc. Para além disso, inúmeras são as posturas de descaso para com as medidas sanitárias recomendadas (uso de máscaras, distanciamento social, higiene recuidada etc.), das festas clandestinas organizadas em casas de show luxuosas aos

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discursos negacionistas do chefe maior do estado nacional, Jair Messias Bolsonaro. A pandemia com seu lastro de apagamento das vaidades humanas conseguiu escancarar a fraqueza do nosso modelo de vida, desse precário e mortífero sistema econômico, por nós alimentado com sangue e suor. Ao mesmo tempo expôs a ausência de interesse de grande parcela da sociedade brasileira para com o conhecimento produzido pela ciência, ao passo que negamos a pandemia e a preservação dos recursos naturais, tão caros à vida humana. O total apego pelo que nos desumaniza e nos diferencia das demais formas de existência, constitui a marca do modelo econômico-social do sistema capitalista em vigor, alicerçando nas práticas humanas um modelo de subjetividade doente. Nas palavras de Weber (1999), o capitalismo torna-se mais perfeito enquanto sistema econômico, quanto mais consegue desumanizar os sujeitos. Como tão bem nos provoca Krenak (2020), precisamos abandonar todo e qualquer vestígio dessa visão de mundo antropocêntrica, afinal, isso tem historicamente nos custado a vida e comprometido as gerações futuras. Enquanto nós, seres humanos, permanecermos com a falsa ideia de que estaremos no centro da grande “roda viva” que é a vida planetária, pouco evoluiremos enquanto espécie, e muito menos ainda como seres integrados a todas as formas de vida e inteligência existentes. Como salienta Bauman (2013; 2015), a sociedade moderna precisar rever as formas de acesso aos bens materiais produzidos pelo capitalismo, afinal, muito é dado aos membros da elite dos proprietários, deixando à exclusão de bens e direitos os demais sujeitos, alimentando a desigualdade que cresce rapidamente em quase todos os países do mundo. Esse aprofundamento do fosso social resulta no alargamento da distância entre os mais ricos e os mais pobres dessas sociedades. Nesse retrato de sociedade, cabe-nos analisar como se manifestam os discursos e as subjetividades, investigando o papel que a elite do atraso tem desempenhado nesse atual contexto de desigualdade (FAIRCLOUGH, 2016; SOUZA, 2019). Os integrantes da elite do atraso são os 251


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verdadeiros propagadores de uma virulência para a qual não conseguimos tratamento efetivo. Esta “elite” tem disseminado a indiferença, decisivamente se isentando da corresponsabilidade social, auxiliando os ditames governamentais que aprofundam o fosso da desigualdade social e retrocedem os avanços e as conquistas das minorias silenciadas. Qual será o caminho de retomada a um futuro menos desigual? Como adiaremos o fim desse mundo natural e artificial? (KRENAK, 2019). São profundos e difíceis de cicatrização os danos colaterais causados pelas desigualdades sociais, fortemente potencializados pelo capitalismo parasitário. (BAUMAN, 2010). Palavras-chave: Pandemia. Subjetividade. Discurso. Capitalismo.

Referências bibliográficas BAUMAN, Zygmunt. A riqueza de poucos beneficia todos nós? Tradução de Renato Aguiar. 1 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2015. BAUMAN, Zygmunt. Capitalismo parasitário: e outros temas contemporâneos. Tradução de Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. BAUMAN, Zygmunt. Danos colaterais: desigualdades sociais numa era global. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. 2 ed. Brasília: Universidade de Brasília. 2016. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. KRENAK, Ailton. O amanhã não está à venda. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. SOUZA, Jessé. A elite do atraso. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2019. 252


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WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: Universidade de Brasília, 1999. v. 2.

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“Quando ligo o rádio e ouço que, na América, os pretos são linchados, digo que nos mentiram: Hitler não morreu; quando ligo o rádio e ouço que judeus são insultados, desprezados, massacrados, digo que nos mentiram: Hitler não morreu; quando ligo enfim o rádio e ouço que na África o trabalho forçado está instituído, legalizado, digo que, na verdade, nos mentiram: Hitler não morreu.” Aimé Césaire

CONCEPÇÃO: GP Filosofia da Psicanálise GP Filosofia Francesa Contemporânea GP Hans Jonas


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