Basilicata O presépio, realizado pelo Mestre Franco Artese, mostra a Natividade no cenário sugestivo dos Sassi di Matera (Pedras de Matera). A obra foi doada ao Santo Padre Bento XVI pela Região Basilicata, no Natal de 2012. O presépio do Mestre Artese é inspirado na paisagem cultural do Parque Rupestre de Matera. Um paisagem enriquecida pela obra de religiosos (monges ítalo-gregos e beneditinos) que escolhendo viver naquele contexto, transformaram aqueles lugares numa morada humana plena de sacralidade, com mais de 150 igrejas, monastérios e santuários. Uma paisagem onde as casas, as igrejas, os santuários, escavados na rocha, uma sobre as outras, dão vida a um corpo único, conforme uma linha dinâmica e envolvente, que acolhe num abraço a Natividade e o olhar do visitante. O ambiente é aquele da antiga civilização rural lucana, a “civilização das mãos”, baseada no trabalho nos campos e nos antigos mistérios, caracterizada por uma dimensão laboriosa e frugal, por uma humanidade fortemente permeada por um espírito de sacrifício e sentido religioso. É a representação de um mondo ligado aos valores essenciais da família, do trabalho, da solidariedade e por uma concepção da vida aberta ao Mistério. A representação da Natividade concentra-se na imagem da Madona empenhada em mostrar e “oferecer” o Menino Jesus às mulheres que se lhe aproximam e que em uma troca simbólica lhe confiam os próprios filhos, em um gesto de profunda familiaridade e compartilhamento de destinos. E é assim que a Basilicata se oferece ao mundo como destinação surpreendente, como uma terra autêntica, preservada, rica de tradições, um local onde busca espiritual, dimensões culturais e cenários naturais geram uma atmosfera única, uma experiência inesquecível.
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Terra de encantamento e santidade
Basilicata Terra de encantamento e santidade Por Radici Cristiane
por Gianandrea de Antonellis
© Copyright APT Basilicata 2013 Editor: Acies srl - Roma Impressão: Ambientes & Costumes Editoria Ltda - São Paulo
Basilicata, terra de encantamento e santidade
conteúdo
Prefácio de Wolmir Therezio Amado
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Uma entrevista com Gianpiero Perri Basilicata religiosa: um turismo possível? por Gianandrea de Antonellis
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A História do Presépio por Gianandrea de Antonellis
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Entrevista com o Mestre Franco Artese Um presépio para refletir sobre a Natividade
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O sentido e o significado no Natal na vida Cristã Dom Washington Cruz, cp
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Prefácio Wolmir Therezio Amado Reitor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás
O Presépio do Vaticano em Goiânia
O
mundo inteiro pode admirar, presencialmente ou pelos meios de comunicação, o belíssimo presépio instalado na Praça de São Pedro em Roma, no Natal de 2012. Naquela obra de arte se encontraram a memória do evento originário da fé cristã e a milenar tradição da arte de fazer presépios, hoje difundida no mundo inteiro. O presépio é, sem dúvida, uma manifestação artística e religiosa zplural, porque fala diretamente ao coração das pessoas, levando sua mensagem de paz e esperança a todas as culturas, através da
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Basilicata, terra de encantamento e santidade
linguagem universal da beleza e da arte. Em especial, aquele presépio assumiu um valor universal, porque atraiu mais de dois milhões de pessoas de todos os continentes. Reconhecendo a importância desta obra de arte e de fé, a Arquidiocese de Goiânia, a Pontifícia Universidade Católica de Goiás e o Governo de Goiás se empenharam para tornar realidade sua instalação em nossa cidade. A direção dos Museus Vaticanos e o Governador do Estado da Cidade do Vaticano, ao conceder o empréstimo, reconheceram a relevância da iniciativa.
Para dar ampla oportunidade à população goianiense e goiana de admirar o Presépio do Vaticano, a Arquidiocese estabeleceu parceria com o Governo do Estado, que por meio da Organização das Voluntárias de Natal. de Goiás, promove a Campanha Show Desde 1999, a Praça Cívica, no centro de Goiânia, recebe uma decoração natalina especial e se torna uma atração para as famílias goianas. Neste cenário festivo, o presépio se destaca como novidade que convida à reflexão e à interiorização. As apresentações, as tradicionais cantatas na marquise do Palácio das Esmeraldas e as demais manifestações culturais e religiosas criam um ambiente de intensas emoções, no qual o Presépio do Vaticano representa o ponto culminante. Que a luz e a paz do Santo Natal, irradiando da beleza deste Presépio, ilumine e preencha os corações das milhares de pessoas que terão a oportunidade de se emocionar com esta singular obra de arte e espiritualidade. R
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Uma entrevista com Gianpiero Perri
Basilicata religiosa: um turismo possĂvel?
por Gianandrea de Antonellis
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«B
asilicata é o lugar da alma». É assim que um famoso cineasta italiano, em contato com as paisagens lucanas, descreve o fascínio místico que essa terra exprime. Perfeitamente compreensível que, ao longo dos séculos, o tenham sentido os monges que, assim como os eremitas e os anacoretas orientais ou seguindo a regra de São Benedito, fundaram na Basilicata incontáveis monastérios. Sobre isso, falemos com Gianpiero Perri, diretor geral da Agência de Promoção Territorial da Região Basilicata e especialista em desenvolvimento local, que idealizou e realizou museus de nova concepção (como o Historiale di Cassino) e inovadores projetos de comunicação cultural (como o espetáculo de reconstituição histórica sobre o banditismo pósunitário que ocorre durante o verão no Parco della Grancia). Quais são as belezas da Basilicata que podem atrair o turismo religioso e cultural? Primeiramente, o Parque das Igrejas rupestres de Matera, não por acaso reconhecido pela UNESCO como patrimônio mundial da humanidade: é constituído por ao menos 150 entre igrejas, monastérios, santuários escavados na montanha, a partir da Alta Idade Média até o século XIX. Trata-se de um pa-
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Basilicata, terra de encantamento e santidade
Santa Lucia, esta também muito bem afrescada com cenas da vida da Santa, perto de Melfi.
trimônio excepcional que por dimensão, qualidade e valor pode competir com as igrejas rupestres da Capadócia. A Cripta do Pecado Original apresenta uma beleza singular, uma gruta natural que os monges beneditinos adaptaram admiravelmente em igrejagruta no século IX d.C., com 42 metros quadrados de afrescos que mostram o tema da criação e do pecado original, que fornecem uma chave cultural, teológica e histórica, além de artística, desta admirável expressão da civilização cristã.
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Mas as igrejas rupestres não são encontradas apenas em Matera. De fato, essa herança cultural está presente em diversas partes da região: no Parco del Pollino e ao longo do rio Sinni. À história de dois Santos monges, São Vitale de Castronuovo e São Luca de Armento (ambos do século X), estão ligadas as igrejas rupestres de Monte Sant’Angelo em San Chirico Raparo e aquelas de Armento. Enquanto outros vestígios estão presentes em Melfi e nas proximidades dos lagos de Monticchio. Podemos definir a Basilicata como uma encruzilhada da Idade Média cristã? Certamente, pois não temos apenas as igrejas rupestres, mas numerosos castelos e palácios de patrícios. Prendamos uma cidade como Melfi, embelezada pelo seu castelo e que na Idade Média era importante o suficiente para hospedar ao longo de um século Igreja de quatro concílios, ocorridos sob o pontificado de quatro diferentes São João, em Monterrone. papas: Nicolau II (1059 – quando foi confirmado o celibato eclesiástico), Alexandre II (1067), Urbano II (1089 – que nesta ocasião
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proclamou a Primeira Cruzada e confirmou a “trégua de Deus”, a “paz de Deus” que previa a proteção da população inerme e a renúncia às armas durante os dias santos) e Pascoal II (1101). É esta a terra do imperador Frederico II e de uma sequência de castelos que se desenvolve em continuidade no território. De Melfi à Lagopesole, de Cavello e Laurenzana, à Brienza, Lauria, de Matera à Miglionico, para citar alguns exemplos. Sem dúvida, o período áureo é aquele normando-suábio que viu erigir, de Venosa à Acerenza em Melfi (centro impulsor da expansão normanda) e em outros centros, catedrais, igrejas, monastérios. Ainda é visível em grande parte aquela densa rede de vigias e presídios, castelos e residências imperiais que caracterizou a re-
Igreja rupestre da Madona das Virtudes, Matera.
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gião no período que vai de Roberto de Altavila à Frederico II. É nesta Abadia beneditina da Trindade que foi sepultado Roberto de Altavila juntamente com parte de sua família. E também existem igrejas ligadas às ordens de cavalaria e às ordens religiosas. Como ponto de transição para as Cruzadas, é natural que tenham surgido muitos assentamentos de cavalaria, dos Cavaleiros Hos-
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pitalários (a atual Ordem de Malta) aos Teutônicos, dos Templários ao Santo Sepulcro. E ao lado dos monges guerreiros estavam os monges franciscanos; lembrarei apenas o santuário de Santa Maria d’Orsoleo em Santarcangelo, onde foi realizada uma montagem multimédia sobre a aventura humana e espiritual dos monges no Ocidente: um percurso de introdução ao significado da escolha religiosa, à espiritualidade e às suas quedas sociais, culturais e artísticas. O senhor falou muito sobre a idade Média: e nos nossos tempos? Vários são os exemplos de piedade popular que se exprime nas grandes peregrinações a santuários em particular, nas festas dos patronos, nas escolas de arte sacra e, certamente não por último em ordem de importância, a tradição do Presépio artístico. Sobre isso, devemos ir a Tursi ou voltar em Matera, onde estão alojados os presépios artísticos do século XVI de Altobello Persio. E agora, meio milênio depois, esta tradição encontrou em Franco Artese, que de Grassano foi chamado pela Unesco para trabalhar em Belém, um rival digno de Persio. 13
A História do
Presépio por Gianandrea de Antonellis
Um tema artístico tão antigo quanto o Evangelho A história da arte é repleta de representações da Natividade: o acontecimento do nascimento do Rei dos Reis numa humilde manjedoura (do latim praesepium, do qual deriva o termo italiano presepe ou presepio) está representado em inumeráveis quadros, afrescos, baixos-relevos… Os primeiros exemplos remontam às catacumbas: de fato, encontramos uma pintura existente em uma arquitrave nas catacumbas de Priscila que representa o Menino Jesus, a Virgem Maria, um personagem masculino (talvez São José, talvez um Profeta) e uma estrela de oito pontas. A pintura remonta, conforme a data mais antiga, ao II século (portanto, à apenas cem anos da morte do Senhor). Sucessivamente, são várias as atestações de obras semelhantes: em especial, nas catacumbas de São Sebastião, é representado um Menino Jesus incomum, ladeado pelo burro e pelo boi, que remonta ao IV século (citação de Isaías 1.3). 14
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Mas a ideia de realizar uma representação do nascimento de Jesus através de figuras propriamente ditas deverá esperar ainda por muito tempo. Entretanto, deve-se notar que as fontes da representação do nascimento de Cristo são, naturalmente, os Evangelhos: no segundo capítulo do Evangelho de Lucas se lembra de como foi aberto um recenseamento e de como José teve que ir a Belém a fim de alistar-se. A viagem também envolveu a esposa Maria, que esperava um filho: «Enquanto estavam em Belém, completaramse os dias para o parto. Ela deu a luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, poque não havia lugar para eles na hospedaria» (Lc 2,6-7). Sucessivamente, o Evangelista prossegue com a notícia dada pelos anjos aos pastores (Lc 2,8-21), mostrando também o canto angélico que é repetido no início da missa: «Glória a Deus nas alturas» (Lc 2,14). Mateus, da sua parte, lembra Belém como local do nascimento (Mt 2,1), sem mencionar o recenseamento nem a notícia dada aos 15
pastores, enquanto prossegue com a visita dos Magos, vindos do Oriente seguindo uma estrela (que nas representações modernas tornar-se-á uma estrela cometa) para trazer os seus presentes: ouro, incenso e mirra (Mt 2,1-11). Os outros dois Evangelistas não falam sobre o nascimento de Jesus, um tema que se repete, ao invés, em alguns Evangelhos apócrifos (Proto-Evangelho de Tiago, Evangelho da infância segundo Mateus, Evangelho da infância segundo Tomé, Evangelho armênio da infância, Evangelho árabe da infância, Livro sobre a natividade de Maria, História de José o carpinteiro), que, porém não acrescentam algum elemento que em seguida tenha entrado na Tradição (por exemplo, a incredulidade da parteira, inicialmente punida, mas em seguida curada graças ao contacto com o Menino Jesus), exceto o dos nomes dos três Reis Magos (Gaspar, Melquior e Baltazar), presente no Evangelho armênio da infância (cap. 11). Portanto, nos Evangelhos canônicos existe essencialmente todo o núcleo da representação: o nascimento em condições difíceis, a colocação do Menino Jesus numa manjedoura, a adoração dos pastores e dos Reis (ou seja, de todas as classes sociais). 16
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Se, como já mencionado, a arte paleocristã enfatiza os aspectos transcendentes do Mistério, ou seja, a divindade do Menino Jesus e a virgindade de Maria, em uma representação simbólica (pensemos na figura masculina que indica a Virgem Maria com o Menino Jesus na Catacumba de Priscila ou no Menino Jesus entre o burro e o boi em atitude de adoração na catacumba de São Sebastião), a mentalidade medieval tenderá a tornar o ambiente em que o mistério divino se cumpre mais humano e realista. Na narração evangélica é acrescentada a Tradição, que enriquece a “representação sagrada” de algumas particularidades: para aquecer o Menino Jesus na noite fria de inverno se fazem emprestar dois animais (como mencionado, trata-se de uma interpretação de Isaías), aliás, perfeitamente coerentes com um nascimento ocorrido em um estábulo (ou em uma gruta: o texto evangélico não especifica o local exato e, portanto, qualquer interpretação é igualmente aceitável, sem ter que escandalizar os críticos de formação filológica, prontos para achar erros graves – e, portanto falsidade – em qualquer mínima variação do tema). Além disso, os Reis Magos tornam-se três (é o Papa Leão I, no século V, que estabelece este número); assumem um nome (Gaspar, rei da Índia, Melquior, rei da Pérsia e Baltazar, rei dos árabes) de um Evangelho apócrifo; uma idade diversa (e, claramente, simbólica): um jovem, um homem maduro e um ancião; e uma raça diferente (semítica, jafética e camítica, pelos três filhos de Noé), para simbolizar a universalidade do anúncio divino, não mais reservado apenas aos Israelitas: aliás, já de acordo com Orígenes (século III), o boi e o burro representavam o povo hebraico e o mundo dos Gentios. Também os presentes trazidos (e explicitamente citados pelo Evangelho de Mateus, 2, 11) referemse claramente à natureza dupla de Jesus e à sua função real: o incenso para a sua divindade, a mirra para a sua humanidade e o ouro para a sua realeza. A realeza de Jesus também é enfatizada pela atitude de adoração que apresentam para com o Menino Jesus, a Virgem Maria e São José. Uma vez saída das catacumbas, a arte cristã faz da Natividade um dos temas dominantes da iconografia religiosa: pensemos ao Díptico de Milão (ou “Díptico das cinco partes”, uma valiosa cobertura dos Evangelhos – a coleção dos Quatro Evangelhos – que remonta ao V século, realizada em marfim e pedras preciosas, conservada no Tesouro do Duomo de Milão) que representa a 17
Adoração dos Magos para com uma Virgem com o Menino no trono; um tema que também se repete – com poucas variantes– nas Basílicas de Santa Maria Maggiore e Santa Maria in Trastevere em Roma, sem esquecer o ciclo de pinturas murais de Castelseprio (Varese), datadas entre os séculos VI e X, presentes na igreja de Santa Maria Foris Portas, obra de um pintor anônimo indicado como Mestre de Castelseprio. Deve-se notar que nessas obras é cada vez mais evidente a influência oriental, com Maria e o Menino Jesus (e, no caso de Santa Maria in Trastevere, também José) retratados em atitude hierática, semelhantes à divindade. Outras vezes, os pais de Cristo são propostos como sujeitos secundários, quase estranhos ao evento representado. A partir do século XIV em diante, a Natividade é confiada à maestria figurativa dos artistas mais famosos, que se aventuram em afrescos, pinturas, esculturas, cerâmicas, artigos de prata, marfins e vitrais que adornam as igrejas e as casas da nobreza ou de ricos comitentes em toda a Europa: basta lembrar, entre os incontáveis artistas, os nomes de Giotto, do Beato Angélico, de Gentile da Fabriano, de Piero della Francesca, de Filippo Lippi, de Leonardo, do Perugino, de Dürer, de Rembrandt, de Murillo, de Botticelli, de Correggio, de Rubens, de Caravaggio, para não falar de muitos outros.
Da pintura à escultura: surge o presépio Mas o “presépio” é outra coisa: caracteriza-se, como mencionado, por uma composição realizada com estátuas, possivelmente removíveis. Durante muito tempo, o primeiro presépio da história foi considerado aquele de Arnolfo da Cambio, encomendado ao artista toscano em 1288 pelo Papa Nicolau IV e preservado na basílica romana de Santa Maria Maggiore; trata-se de uma obra composta por sete peças: a Virgem Maria com o Menino Jesus, São José, os três Reis magos, o boi e o burro. A principal característica é que as sete esculturas estão separadas entre si, mas alguns estudos recentes mostraram como elas surgiram não como estátuas, mas como altos-relevos, completados em um segundo momento: em outras palavras, as figuras inicialmente foram concebidas para serem encaixadas em uma parede. Esta descoberta 18
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tirou a “primazia” da obra de Arnolfo: trinta anos antes, em 1196, Benedetto Antelami esculpiu um trabalho sobre o mesmo episódio evangélico inserindo-o na luneta do portal norte do Batistério de Parma e também em Forlì encontra-se uma obra semelhante (que junto com a Adoração ladeia o sonho dos Reis magos – está na luneta do portal da Abadia de San Mercuriale e é realizada pelo Mestre dos Meses de Ferrara por volta de 1230). Isso restitui então o prestígio pela realização do primeiro presépio à São Francisco de Assis, que não se aventurou em uma série de esculturas, mas organizou uma propriamente dita, embora simples e muda, sagrada representação em que os três personagens eram representados por seres vivos. Temos que voltar ao dia 24 de dezembro de 1223, quando no vilarejo de Greccio (atualmente na província de Rieti, no Lácio) o Santo de Assis decidiu reconstruir “ao vivo” o cenário do nascimento de Jesus a fim de reacender a devoção para com a Natividade. A Lenda maior de São Boaventura (X,7), a primeira biografia do Santo, revela que o projeto pareceu muito ousado até mesmo 19
para o seu próprio ideador e por isso, para que não fosse considerado como um desejo de novidade voltado para si mesmo (eram tempos em que a liturgia era rigorosamente respeitada), escreveu ao Papa para obter uma autorização1. Realizou então, num estábulo, a reconstrução do cenário, limitando-o à presença de um menino na manjedoura, aquecido por um boi e por um burro. Um dos maiores pintores medievais, Giotto di Bondone (1267-1337) em um afresco da Basílica Superior de Assis, pintou o episódio com tanta precisão de detalhes quanto de fantasia. De fato, por um lado ambienta a reconstrução da Natividade não em um estábulo, mas no presbitério de uma igreja (muito semelhante à basílica onde trabalhou), mas em compensação ressalta como o “presépio” franciscano limitava-se às figuras do Menino Jesus e dos animais que o aqueciam (por motivos de decoração, o boi e o burro que São Francisco tinha trazido para o estábulo são substituídos por Giotto com dois filhotes, um bezerro e um burrico, que aparecem menores do que o infante). 20
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A ideia de São Francisco obteve um enorme sucesso: desde então incontáveis foram os artistas que reproduziram estátuas de madeira ou de terracota de várias dimensões – obviamente muito mais leves do que as estátuas de pedra e, portanto, móveis – que eram colocadas dentro das igrejas durante o período natalício, geralmente com uma pintura ao fundo que reproduzia uma paisagem e uma noite estrelada. A palha no chão contribuía para dar um sentido de realismo ao cenário.
O presépio como forma de arte: o “presépio napolitano” A “pátria” do presépio, entendido no sentido moderno, provavelmente foi a Toscana, mas um grande impulso veio da difusão do chamado “presépio napolitano”, que se desenvolve por volta do século XVIII. O “presépio napolitano”, que possui a característica de vestir os “pastores” (assim são chamadas todas as figuras do presépio) com roupas de tecido, tende a afastar-se do misticismo do cenário da Natividade propriamente dita (a Madona com o Menino Jesus e São José, grupo chamado de “Mistério”) para espalhar-se sobre o restante da população, que não é aquela da Palestina dos tempos de Jesus, mas aquela de Nápoles do século XVIII. Se o “Mistério” é representado com roupas do I século e os anjos seguem a iconografia barroca, os Reis magos, ao contrário, são vestidos como dignitários orientais, o seu cortejo é composto por músicos turcos e a multidão de adoradores prevê não apenas pastores com calçados rústicos, mas também hussardos em dólmã, presilhas em culotes de veludo, sobrecasaca, bastão e tricórnio, damas em vestidos de seda, com rendas, músicos com oboés e fagotes, ou mulheres do povo com as roupas típicas das cidades do Reino de Nápoles… Além disso, incontáveis são os personagens que não participam da adoração, mas oferecem cenas da vida diária: em uma representação onde mendigos e gaiteiros se alternam com pastores e gente do povo, não falta a hospedaria com os seus fregueses jogando carta, há lojas de todos os tipos e vendedores de todos os tipos de mercadoria, com abundância de joias, equipamentos, instrumentos, utensílios e vários objetos, todos reproduzidos com precisão meticulosa até nos mínimos detalhes. 21
Geralmente, a cabeça e os membros visíveis de cada uma das incontáveis figuras são realizados em argila pintada (com exceção dos personagens não vestidos), enquanto que sob as roupas – sempre particularmente cuidadas – é colocada uma forma de estopa e arame. A característica, como mencionado, é de fazer crescer ao redor do “Mistério” a representação da existência comum, com portas e janelas que revelam quartos com quadros, camas, móveis e ornamentos, até uma proliferação de figuras e objetos tal a quase ofuscar o Nascimento de Jesus, às vezes “relegado” ao estábulo de um palácio ou frequentemente feito nascer entre as colunas de um templo clássico em ruínas, com invenção ao mesmo tempo afastada da narração evangélica e claramente anacronística, mas tão cheia simbolismo, com o verdadeiro Deus que marca o fim dos falsos deuses.
O presépio no Brasil O presépio napolitano, como alta forma artística, apreciada e promovida não mais apenas pelo clero, mas também pelos nobres e pelas autoridades, influenciou a arte presepial europeia: o Rei de Nápoles, Carlos de Bourbon (1735-1759), que se tornou Rei de Espanha com o nome de Carlos III (1759-1788), trouxe essa cultura para Madri e de lá a passou para as nações limítrofes: França e Portugal. Em especial em Portugal, onde já existia uma antiga tradição presepial, atestada por representações da Natividade em relevos de sarcófagos do século XV (e também em miniaturas de livros sacros da mesma época), na segunda metade do Século XVIII a arte do presépio plástico difunde-se em quantidade e qualidade, principalmente graças à genialidade criadora de um italiano, Alessandro Giusti (1715-1799), escultor romano que se transferiu para a corte de Lisboa e na cidade de Mafra, onde se tornou um verdadeiro mestre, fundando a escola do barro (argila). Entre os presépios portugueses mais célebres devem ser recordados os da Catedral e do Museu de Arte Antiga de Lisboa, bem como aquele monumental da Basílica da “Estrela”, superior a qualquer outro seja pela grandeza da composição, seja pelo número dos personagens (mais de quinhentos), obra-prima de um dos maiores escultores portugueses, Joaquim Machado de Castro (1731-1822), que foi aluno de Alessandro Giusti. Com a transferência da família real lusitana para o Rio de Janeiro a fim de escapar das tropas de Napoleão (1808), a moda do presépio “napolitano” também alcançou o Brasil, porém limitou-se 22
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essencialmente à Corte (aliás muito numerosa: com Dom João VI de Bragança, que tornou-se Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, vieram cerca de 15.000 pessoas), poi aquele tipo de presépio era uma obra de arte refinada e, portanto, não ao alcance de todos. Ao contrário, popularmente, o presépio foi difundido por conta dos missionários, que entre os séculos XVII e XVIII utilizaram-no muito para evangelizar os indígenas. Porém, deve ser dito que provavelmente o primeiro “presepista” no Brasil foi o Beato José de Anchieta (1534-1597), um jesuíta espanhol que já no Século XVI modelava pequenas estátuas de argila para presépio, com a ajuda dos índios. Era natural que a arte presepial se afirmasse seguindo modelos espanhóis e portugueses, para adquirir um caráter e um estilo próprios apenas em um próximo momento: o que acontece com a introdução de personagens tirados da mitologia indígena, como o lobisomem, o caipora (um gênio maligno da floresta, proveniente da mitologia tupiguarani) e a mula sem cabeça (um monstro que aparece nos vilarejos onde uma moça tenha uma relação om um sacerdote). Atualmente, o presépio de dois andares é característica do folclore brasileiro, que apresenta dois espaços temporais diversos: é sempre uma montanha, por sua vez muito realista, em cuja parte inferior encontra-se uma gruta com a Natividade, enquanto no topo é reconstruído o cenário da Crucificação, com a presença dos Santos dos quais o artista (ou os comitentes) são os maiores devotos. Outra particularidade brasileira é a lapinha (ou pastoril), difundida principalmente no nordeste do País, consistente numa construção simbólica em forma de monte (ou de pastoril, mas também pode ser simplesmente realizada com uma série de discos sobrepostos em ordem de grandeza decrescente, como uma torta nupcial) em cujo topo encontra-se o Menino Jesus em ricas roupas, tecidas com ouro e pedras preciosas. O Menino Jesus é circundado por flores, plantas, pássaros e animais de todas as espécies. É uma profusão de cores, mais do que natural para uma região em que o período do nascimento de Nosso Senhor coincide com a explosão do verão, ao contrário do hemisfério norte, onde é natural identificar o Natal com a neve. «Ne vero hoc novitatipossetadscribi, a SummoPontificepetita et obtentalicentia, fecitpraepararipraesepium, apportarifoenum, bovem et asinum ad locum adduci» (Leyendamayor, X,7).
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entrevista com o Mestre Franco Artese
Um presépio para refletir sobre a Natividade
O
mestre Artese Franco nasceu em 1957. Move os primeiros passos na construção de presépios a partir de 1976, realizando uma obra para o Convento dos Frades Franciscanos de Grassano, na qual a representação criava um sugestivo pendant entre o mundo do nascimento de Cristo e aquele da sociedade rural da sua cidade em uma perspectiva dos anos Cinquenta, com toda a sua experiência de sacrifício e de pobreza. Continuando nesse modo de ver a Natividade, outras duas obras suas são expostas nos próximos anos em Roma na Basilica di San Crisogno e na Via Veneto, onde realiza um presépio de tamanho extraordinário (120 m quadrados), tornando-se contorno da Natividade as Pedras de Matera. O sucesso ainda maior chama-o para a realização de uma obra imponente, desta vez a Grassano dos anos Cinquenta, de cerca de 140 m², na Igreja Our Lady of Pompei do bairro Greenwhich Village de New York, desejada pelo governo italiano e pelo Consulado italiano da metrópole americana, orgulho para a comunidade italiana e meta de cerca de um milhão de visitantes. Durante esses meses, completou outro presépio em Washington. Outras obras são expostas em diversas localidades italianas, entre as quais Assis, na Basílica Superior; em seguida, em 1999 é contatado pela UNESCO que lhe pede uma grande obra a ser preparada em Belém. Artese prepara uma obra de rara beleza: 90 m² de perspectiva dos Sassi Materani (Pedras de Matera). Depois esteve em Paris, Lublin, Lubiana, Milão, Spoleto, Loreto e novamente em Grassano.
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O presépio é uma das tradições mais importantes no Sul da Itália, talvez a mais importante: mas por que o senhor tornou-se um construtor de presépios? Quando eu era pequeno, no Natal em família era tradição preparamos o presépio todos juntos. Vivendo em uma família numerosa com 8 filhos, e sendo o penúltimo, eu era sempre “ultrapassado” pelos meus irmãos mais velhos que não me deixavam intervir na disposição das pequenas estátuas. Então eu me levantava durante a noite e, escondido, mudava a posição dos pastores, já seguindo uma certa veia artística. Logo após a morte do meu pai, o pároco convidou-me para fazer um presépio na paróquia e eu sugeri: “Por que não realizamos uma obra que possa transmitir a nossa realidade rural através do Mistério da Natividade?”, e aquele foi o primeiro presépio que realizei em Grassano em 1976. Desde então, passaram-se cerca de 35 anos. Em seguida, a partir de 1980, comecei a levar o presépio de Lucca seja para outras cidades da Itália que para o exterior, 25
primeiro para Roma, depois para New York, Washington, Paris, Belém e muitas outras localidades. O que o levou a escolher a paisagem de Luca como cenário da Natividade? Qual é a a mensagem que deseja transmitir Se inicialmente o presépio surgido com São Francisco buscava ser fiel à iconografia da Terra Santa, seja na paisagem que nos 26
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personagens, ao longo dos anos as diversas escolas que se desenvolveram – desde a napolitana até aquela da Puglia até a siciliana – realizaram a Natividade escolhendo como fundo, como cenografia, o próprio ambiente. Eu, como lucano, senti esta mesma exigência e decidi representar a natividade inspirando-me em algumas cenas rurais. Através das minhas obras busco dar emoções, transferir os valores típicos do ambiente rural que até 40, 50 anos atrás eram aqueles dos nossos vilarejos e que agora 27
são tão raros, como a humildade, a simplicidade, a vizinhança, a família. É esta a mensagem que desejo transmitir ao tornar protagonista a nossa gente, os nossos lugares. No presépio, as expressões dos personagens, a genuinidade e a ingenuidade dos camponeses para mim são sempre mais importantes do que a ambientação. Certamente a cenografia é de efeito e contribui para o objetivo, mas, fundamentalmente, permanece no meu objetivo a “Cena” que acontece e que representa o mistério da Natividade de Jesus. Sendo um artista e sendo a minha principal profissão aquela de pintor, eu transferi essa paixão também no presépio, principalmente prestando atenção no olhar, nas expressões das pessoas, buscando representar cenas da vida diária da gente lucana. Fui inspirado por algumas fotografias de Cesare Zavattini e Mario Carbone dos anos 50 e 60, que também marcaram a vida artística de Carlo Levi, cenas estupendas de vizinhança, de vida diária. Há os rostos resignados dos camponeses, mas também os rostos orgulhosos com o pouco que lhes basta para viver, em suma tanta humanidade. Quanto há da Basilicata nos seus presépios? Nas minhas realizações sempre existem cenografias nas quais se encontram “pedaços da Basilicata”. Todos os anos percorro os nossos vilarejos buscando descobrir becos, prédios, telhados, elementos que caracterizam o nosso patrimônio arquitetônico e cultural. Mas entre as paisagens mais importantes, e das quais me apaixonei, existe sem dúvidas Matera, seja porque reflete um pouco as casas típicas de Belém lembrando o lugar onde Cristo nasceu, seja porque a paisagem das Pedras é sempre fonte de inspiração para mim, não bastaria uma vida para representar as suas sugestões. Também gosto das Dolomitas lucanas, Venosa cidade natal de Horácio, conhecida pela Santíssima Trindade que me inspirou muito e da qual estou inserindo um detalhe próprio no presépio para a Praça São Pedro, bem como as cantinas de Barile e outros elementos recolhidos aqui e ali em outros vilarejos lucanos. Falemos de Franco Artese. Quanta fé há no seu trabalho? Para mim, criar um presépio não é apenas uma obra-de-arte. Sou um homem de fé e nas minhas simples atitudes busco fazer 28
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reviver a noite de Belém, seguindo a mensagem de São Francisco, buscando despertar os corações que se adormentaram e levá-los a realizar o presépio na própria casa. Entre tantos presépios realizados até agora, qual permanece como a sua melhor lembrança? A minha lembrança mais bela é, sem dúvidas, aquela ligada ao momento no qual, na vigília de Natal do ano passado, na Praça São Pedro, me foi pedido para “desvendar” aos olhos do mundo, que seguia a celebração pela televisão, e principalmente aos olhos de Sua Santidade Bento XVI, o presépio monumental que realizei. Em seguida, emoção renovada quando Sua Santidade Bento XVI, em oração na frente do mesmo presépio, me encheu o coração de alegria ao me pedir para explicar-lhe a minha obra. Creio realmente ter realizado o sonho da minha vida, entre outros, que me foi anunciado por um verdadeiro sonho feito numa noite fria de alguns meses atrás. 29
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Conte-nos sobre o presépio no Vaticano. Qual é a técnica de realização e quais são os tempos de execução? Da concepção à execução da obra, são necessários cerca de cinco meses, considerando que o presépio se desenvolverá numa dimensão de cerca 120-130 metros quadrados por uma altura de 6 metros, a partir do chão. O cenário é o dos Sassi di Matera com becos, capitéis, portais, cornijas que estudei em um mês de inspeções, efetuando milhares de fotos das quais tirar inspiração. É um pouco como preparar uma ceia para muitas pessoas, onde são preparados todos os ingredientes e depois são colocados juntos. Também através do estudo do aspecto histórico, eu busquei recriar a parte mais representativa de Sassi di Matera. No detalhe, na parte à direita eu representei uma igreja rupestre, o Convicino di Sant'Antonio com os seus afrescos em estilo bi32
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zantino, na parte central as grutas do Sasso Caveoso junto com elementos do Sasso Barisano. Ao fundo estão representados a Igreja de São João Batista em estilo românico (não a faixada principal, mas aquela lateral) e o campanário de São Pedro Barisano, já que representei a catedral de Matera no presépio de Belém e não podia me repetir. O artista deve inserir sempre algo novo em suas próprias obras. A estrutura é feita de polistireno revestido de argamassa na qual aplico pedras, telhas, decorações, etc... Fale-me sobre a Natividade A Sagrada Família é tradicional, de fato, os figurinos são aqueles típicos palestinos. A novidade está na atitude dos protagonistas, jé que reproduz o que eu chamo de “o sentido de vizinhança”. Nos anos 50, os nossos becos eram povoados por muitas famílias, famílias numerosas, assim se vivia sempre juntos. A cena de Maria é uma cena de acolhimento, onde a Virgem, mantendo ternamente o próprio menino no ventre, parece oferecê-lo às mulheres que se Lhe aproximam e que com troca simbólica Lhe confiam os próprios filhos. As crianças estão em atitude pensativa, meditativa, quase convidando os visitantes a refletir sobre o Mistério da Natividade. No encerramento do Ano da Fé e do Ano da Família, o que significou para Artese fazer o presépio do Vaticano? Esse é o sonho que tive desde quando, na década de oitenta, trabalhei no presépio de Roma. Frequentemente eu andava pela cidade e quando me encontrava na Praça São Pedro me perguntava “Por que não realizar um presépio aqui, na pátria do cristianismo?” E no ano passado, o sonho se tornou realidade e a minha mensagem de fé teve a possibilidade de entrar nos lares de todos. Eu tive a possibilidade de poder alcançar muitas famílias e de fazer redescobrir a beleza dos valores humanos que levam à própria fé. Praça São Pedro foi para mim o ponto de partida para levar o meu presépio em outras partes do mundo, como agora no Brasil, para que de uma pequena forma possa contribuir para a mensagem de evangelização que o Santo Padre exorta em difundir. 33
O sentido e o significado
no Natal na vida Cristã
Dom Washington Cruz, cp Arcebispo Metropolitano de Goiânia
O
Natal é, de certa maneira, a festa originária do cristianismo. Nela celebramos o início da vida humana de Nosso Senhor Jesus Cristo. É claro que o ponto alto e o centro da vida cristã é a Páscoa, a festa da Ressurreição. Porém, o Natal nos ajuda a sentir a presença de Jesus mais de perto, diríamos “em carne e osso”. A celebração do nascimento de qualquer pessoa é sempre ocasião de experiências densas e fortes, que não é possível esquecer pelo resto da vida. Ao reviver o nascimento de Jesus, a comunidade cristã, mesmo entre dificuldades e desafios, sente novamente a alegria e a força originária da mensagem da salvação. Nesta festa, que envolve todos, inclusive aqueles que não se reconhecem cristãos, a comunidade recebe o dom da esperança renovada pelo sorriso de uma criança. E este dom é para toda a humanidade.
O significado do presépio na história religiosa do Brasil A história religiosa do Brasil é profundamente marcada pelas características peculiares do processo de colonização desta região das Américas. O Brasil recebeu e recebe, ao longo de mais de cinco séculos, pessoas e culturas de todos os continentes. Cada grupo traz suas tradições e sua fé. As sementes do cristianismo vieram junto com os europeus. Inicialmente, foram os portugueses e os espanhóis. Logo recebemos franceses e holandeses. Mais tarde, com os processos migratórios, chegaram italianos, alemães, poloneses. Cada comunidade, cada grupo carregou suas formas de celebrar a fé e seus símbolos. Sem dúvida o presépio, com sua capacidade de renovar a esperança, foi um dos componentes mais significativos dessa herança plural. Nesse sentido, podemos ver na história do presépio no Brasil uma 34
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imagem da história da vivência cristã e de suas formas peculiares no nosso País. Se incialmente os presépios brasileiros reproduziam os modelos dos países de origem de seus autores, isto é, os modelos desenvolvidos nas tradições seculares da arte sacra europeia, aos poucos foi aparecendo o rosto autenticamente brasileiro. O índio, o negro, o caboclo, a fauna, a flora, costumes e cenas comuns da vida diária se integraram ao cenário do presépio, dando origem à nossa própria tradição. O presépio foi um instrumento privilegiado de evangelização. Os missionários o usavam para tornar mais palpável e concreta a profundidade da mensagem da Encarnação. Podemos dizer que os conteúdos da fé se encarnaram na cultura brasileira também graças à tradição do presépio. O presépio do Vaticano Hoje, em tempos em que o Natal corre o perigo de ser transformado em um evento comercial, a tradição do presépio mantém vivos os valores da origem genuinamente religiosa desta grande festa. Por isso, a vinda à Goiânia do belíssimo presépio do Maestro Francesco Artese, que foi admirado por milhões de pessoas no Vaticano em 2012, é um grande evento de evangelização. Com este gesto, queremos fortalecer e valorizar o empenho de tantas comunidades e famílias em fazer seu próprio presépio. Com certeza, o Presépio do Vaticano nos proporcionará intensas emoções. Mas, aquecem ainda mais nosso coração os pequenos presépios domésticos, que transformam cada lar no lugar em que o Menino Jesus se faz presente para renovar a esperança na vida que renasce. 35
Sassi di Matera - Patrimônio da UNESCO
Tradução de: Iara Jurema de Andrade Sechting Impresso em dezembro de 2013
Basilicata O presépio, realizado pelo Mestre Franco Artese, mostra a Natividade no cenário sugestivo dos Sassi di Matera (Pedras de Matera). A obra foi doada ao Santo Padre Bento XVI pela Região Basilicata, no Natal de 2012. O presépio do Mestre Artese é inspirado na paisagem cultural do Parque Rupestre de Matera. Um paisagem enriquecida pela obra de religiosos (monges ítalo-gregos e beneditinos) que escolhendo viver naquele contexto, transformaram aqueles lugares numa morada humana plena de sacralidade, com mais de 150 igrejas, monastérios e santuários. Uma paisagem onde as casas, as igrejas, os santuários, escavados na rocha, uma sobre as outras, dão vida a um corpo único, conforme uma linha dinâmica e envolvente, que acolhe num abraço a Natividade e o olhar do visitante. O ambiente é aquele da antiga civilização rural lucana, a “civilização das mãos”, baseada no trabalho nos campos e nos antigos mistérios, caracterizada por uma dimensão laboriosa e frugal, por uma humanidade fortemente permeada por um espírito de sacrifício e sentido religioso. É a representação de um mondo ligado aos valores essenciais da família, do trabalho, da solidariedade e por uma concepção da vida aberta ao Mistério. A representação da Natividade concentra-se na imagem da Madona empenhada em mostrar e “oferecer” o Menino Jesus às mulheres que se lhe aproximam e que em uma troca simbólica lhe confiam os próprios filhos, em um gesto de profunda familiaridade e compartilhamento de destinos. E é assim que a Basilicata se oferece ao mundo como destinação surpreendente, como uma terra autêntica, preservada, rica de tradições, um local onde busca espiritual, dimensões culturais e cenários naturais geram uma atmosfera única, uma experiência inesquecível.
www.basilicataturistica.com
www.aptbasilicata.it
Terra de encantamento e santidade