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Em Aterramento
O ATERRAMENTO E AS PERTURBAÇÕES EM INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
Sergio roberto SantoS
Écomum que profissionais da eletricidade sejam consultados para eliminar através de alterações no sistema de aterramento falhas em sistemas eletroeletrônicos. Mesmo que na maioria das vezes o aterramento não seja a causa do problema, ou tenha influência no que esteja acontecendo, nele se concentram os esforços para eliminação dessas falhas. Por isso é necessário entender qual a influência do aterramento na ocorrência de perturbações, ruídos e sobretensões transitórias em instalações eletroeletrônicas de energia ou sinal.
Um sistema de aterramento é formado basicamente por elementos metálicos, eletrodos e cabos, mais os componentes do solo onde ele está localizado ― argila, areia, pedra e partes orgânicas. Dessa forma, o aterramento em si não gera nem é perturbado por interferências eletromagnéticas, sendo o seu papel na Compatibilidade Eletromagnética (EMC) o de meio de transmissão entre a fonte de perturbações, o vilão, e o equipamento que sofrerá as suas consequências, a vítima.
Antes de qualquer intervenção no aterramento para eliminação de falhas, temporárias ou definitivas, na instalação, é necessário estudar o problema em seus vários aspectos. O aterramento cumpre várias funções em uma instalação elétrica, sendo a principal delas proteger as pessoas contra tensões de passo e toque. Eliminar perturbações à custa do comprometimento da segurança é inaceitável e na maioria das vezes desnecessário.
Um sistema de aterramento ideal deve fornecer um caminho de impedância nula para sinais de qualquer intensidade ou frequência que tenham ele como referência. Caso fosse possível implementá-lo na prática, as correntes dos Equipamentos de Tecnologia da Informação (ETI) existentes na instalação retornariam às suas respectivas fontes sem a ocorrência de acoplamentos indesejados entre circuitos ou equipamentos. As interferências eletromagnéticas ocorrem porque muitos profissionais da área elétrica enxergam o aterramento como algo ideal, não dando a devida atenção ao seu comportamento real. Como essa visão é válida para correntes de baixa frequência, o comportamento do sistema de aterramento para frequências mais altas só é considerado quando equipamentos de automação, controle ou telecomunicações são instalados mas alterações na infraestrutura de aterramento se tornaram difíceis de realizar.
Uma solução ainda hoje adotada, ao menos recomendada, por fabricantes de equipamentos para eliminar falhas em seus produtos é a instalação de um sistema de aterramento exclusivo para eles, o que além de mais complexo do que se acredita na prática, pode torná-los muito perigosos, comprometendo a atuação dos dispositivos de proteção contra sobrecorrentes, fusíveis ou disjuntores.
Um equipamento só terá um aterramento realmente independente se sua alimentação também for independente da alimentação principal da edificação. Além disso, os eletrodos do aterramento principal e do aterramento independente deverão estar separados a uma distância suficiente para evitar acoplamentos galvânicos, indutivos e capacitivos que podem ocorrer entre eles, principalmente devido às correntes de maior frequência, onde a impedância, e não apenas a resistência, deve ser avaliada.
O sistema de aterramento é parte fundamental da infraestrutura da instalação, devendo ser projetado levando-se em conta aumentos de carga e a introdução de sistemas eletrônicos. Pela sua importância, não é aceitável uma desvalorização do aterramento, como acontece, com a utilização de barras de equipotencialização com dimensões reduzidas, cabos com seção transversal abaixo do mínimo necessário ou eletrodos de aterramento inadequados. Após o término da construção, torna-se difícil acessar os eletrodos e parte-se para improvisações, na maioria das vezes ineficazes para a qualidade da instalação elétrica.
Sempre será necessário reforçar a multiplicidade de finalidades de um sistema de aterramento. O uso da eletricidade em nossas vidas se acentuará e os sistemas de aterramento serão cada vez mais importantes para o uso correto da eletricidade, sendo necessário por isso desconstruir equívocos e ilusões sobre o tema aterramento.
Engenheiro eletricista da Lambda Consultoria, instrutor da Termotécnica ParaRaios e mestrando do Instituto de Energia e Ambiente da USP, Sergio Roberto Santos apresenta e analisa nesta coluna aspectos de aterramento e proteção contra descargas atmosféricas e sobretensões transitórias, temas aos quais se dedica há mais de 20 anos. Os leitores podem apresentar dúvidas e sugestões ao especialista pelo e-mail em_aterramento@arandaeditora.com.br.